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Profª Drª Regina Maria Przybycien - ICHS/UFOP

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permanecido no Egito. Entretanto, essa argumentação é falaciosa, porque as posições de<br />

margem e centro não são assim tão facilmente demarcáveis. Além do mais, Said poderia,<br />

se quisesse, ter se limitado à sua especialidade de professor e crítico de literatura<br />

comparada na Universidade Columbia, sem se comprometer com as causas políticas que<br />

abraçou, e que lhe granjearam inúmeras inimizades. Essa posição teria sido certamente<br />

mais cômoda para ele.<br />

Como meu tema é a condição de estrangeiro, não me deterei nas discussões do<br />

papel do intelectual defendido por Said. Interessa-me mais a sua explicação do lugar do<br />

exilado. Para ele o exilado se situa num “estado intermediário, nem de todo integrado ao<br />

novo lugar, nem totalmente liberto do antigo, cercado de envolvimentos e distanciamentos<br />

pela metade”. 7 O lugar do estrangeiro, portanto, é sempre um entre-lugar entre o aqui e o<br />

acolá, entre o passado e o presente. Ou seja: ele nunca se sente em casa. Não é uma<br />

posição confortável, mas apresenta algumas vantagens, como, por exemplo, uma espécie<br />

de dupla visão que permite certo distanciamento de ambos os mundos. O sentimento de<br />

pertencimento, relativizado, pode causar dor, mas o olhar ganha em amplitude.<br />

Os deslocamentos da nossa contemporaneidade têm menos o caráter de exílio<br />

político e mais de busca por melhores condições materiais. Com esse fim, centenas de<br />

milhares de pessoas deixam seus locais de origem e se dirigem principalmente para as<br />

metrópoles da Europa e da América do Norte. O estrangeiro aos poucos se naturaliza,<br />

absorvendo, muitas vezes inconscientemente, os modos nativos, mas a metrópole também<br />

se estrangeiriza e adquire novas feições. As comunidades de estrangeiros vão constituindo<br />

diásporas que ultrapassam as fronteiras nacionais, fenômeno cada vez mais comum nas<br />

cidades européias e norte-americanas. O escritor diaspórico é aquele que circula entre o<br />

centro metropolitano e os espaços periféricos de onde provém. 8 Ele escreve sobre a<br />

periferia, mas para um público na metrópole ou para um público internacional, para quem<br />

“traduz” a sua cultura de origem. Hoje há um grande contingente de escritores procedentes<br />

de países do Caribe, da Ásia e da África que moram nos Estados Unidos, Inglaterra, França<br />

e Portugal e escrevem em inglês, francês e português. Seu público não está “em casa” nas<br />

comunidades de origem, para as quais os temas abordados podem parecer ou distantes ou<br />

corriqueiros (já que descrevem costumes que para os nativos são absolutamente comuns).<br />

Muitas dessas comunidades falam, inclusive, outras línguas. Esses escritores funcionam,<br />

7 ibid, p.57.<br />

8 Muitos desses escritores são chamados de “pós-coloniais” porque provêm das ex-colônias européias e<br />

escrevem sobre as (difíceis) relações entre a ex-colônia e metrópole ou sobre os efeitos da colonização<br />

nos locais dos quais procedem.<br />

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