13.04.2013 Views

Profª Drª Regina Maria Przybycien - ICHS/UFOP

Profª Drª Regina Maria Przybycien - ICHS/UFOP

Profª Drª Regina Maria Przybycien - ICHS/UFOP

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Os antropólogos costumavam começar seus livros com uma narrativa que<br />

contava sua chegada ao local da sua pesquisa e seu primeiro encontro com os nativos.<br />

As narrativas de chegada revelam o estranhamento do recém-chegado frente à cultura<br />

com a qual se depara, cultura para a qual ele é um outsider, um estrangeiro. Um<br />

exemplo clássico está na introdução à obra Os argonautas do Pacífico Ocidental de<br />

Bronislau Malinowski, na qual o autor confessa sua frustração, ao chegar à Nova Guiné,<br />

pela dificuldade de se comunicar com os nativos. 2<br />

Ao modo dos antropólogos, gostaria de começar estas reflexões com uma<br />

narrativa de chegada: a minha chegada a <strong>Maria</strong>na e ao <strong>ICHS</strong> lá se vão vinte e tantos<br />

anos. A marca mais visível da minha estrangeiridade está num sobrenome que, para os<br />

brasileiros, é impossível pronunciar. O seguinte diálogo se repete indefinidamente na<br />

minha vida:<br />

− Nome?<br />

− <strong>Regina</strong>.<br />

− <strong>Regina</strong> de quê?<br />

− Vou soletrar: P-R-Z-Y-B-Y-C-I-E-N<br />

− Como é que se pronuncia isso?<br />

− Pchebêchien.<br />

− Como???<br />

No sul do Brasil meu sobrenome pelo menos compete com outros tantos esquisitos<br />

(Przybylowski, Blaszczyk, Hrechorowicz, Heisenhoffen) que abundam na lista<br />

telefônica. Em <strong>Maria</strong>na, ele só competia com o de minha colega Ida Lewkowicz, que foi<br />

professora de história no <strong>ICHS</strong> durante um breve período de tempo.<br />

Minhas primeiras incursões por Ouro Preto me conscientizaram de minha<br />

estrangeiridade. Para os que atraem os turistas para as lojas, eu deveria ser abordada em<br />

inglês: “Precious stones? Want to buy precious stones?” Outros falavam comigo em<br />

português, mas num tom alto e pausado, pronunciando bem as palavras, porque as<br />

pessoas têm a estranha noção de que assim o estrangeiro os entende.<br />

Um dia, diante da insistência de um menino em me mostrar uma igreja, respondi<br />

impaciente que não precisava de guia, que eu era de <strong>Maria</strong>na.<br />

− É nada, dona!<br />

− Sou sim!<br />

2 MALINOWSKI, Bronislaw. The argonauts of Western Pacific. London: Routledge, 2002.<br />

2

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!