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IV Congresso Brasileiro de Publicidade - Abap

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2 3


C R I A N D O O F U T U R O<br />

4 5


8 . . . . . . Introdução<br />

10 . . . O <strong>IV</strong> <strong>Congresso</strong> é anunciado<br />

34 . Começa o <strong>IV</strong> <strong>Congresso</strong> <strong>Brasileiro</strong> <strong>de</strong> Publicida<strong>de</strong><br />

86 . . A <strong>de</strong>fesa da liberda<strong>de</strong> na voz <strong>de</strong> lí<strong>de</strong>res<br />

148 . . . . Encerramento<br />

164 . . . . . Anais<br />

6 7


O R G A N I ZAR U M CO N G R E S S O, C U J A , Ú LT I MA E D I Ç ÃO T I N H A T R I N TA A N O S<br />

foi tarefa que exigiu mais do que consciência profissional, espírito <strong>de</strong> li<strong>de</strong>rança e<br />

capacida<strong>de</strong> realizadora. Foi preciso, antes <strong>de</strong> tudo, bom senso suficiente para lidar<br />

com o fato <strong>de</strong> que para a imensa maioria dos potenciais participantes do evento<br />

aquele seria, <strong>de</strong> fato, o seu primeiro congresso. Da massa <strong>de</strong> jovens empresários e<br />

executivos que domina o mercado, poucos tinham claro que o <strong>de</strong>senho da ativida<strong>de</strong><br />

publicitária, como profissão e negócio, fora <strong>de</strong>finido em três congressos anteriores.<br />

E que cada um <strong>de</strong>les teve a função <strong>de</strong> a<strong>de</strong>quar a ativida<strong>de</strong> publicitária às mudanças<br />

promovidas pela dinâmica do mercado <strong>de</strong> então. De 1978, data do III <strong>Congresso</strong>,<br />

até 2008, as mudanças se dariam num ritmo muito mais acelerado, movidas por<br />

tecnologias que encurtaram as distâncias e otimizaram o uso do tempo <strong>de</strong> maneira<br />

jamais experimentada. Basta lembrar que em 1978 sequer existia o prosaico fax.<br />

Havia, portanto, muito para ajustar, reformatar e, principalmente, ampliar em termos<br />

<strong>de</strong> percepção do negócio e organizar os inúmeros aportes que a ativida<strong>de</strong> vinha<br />

recebendo. Somente o congresso seria o foro legítimo para isso. O <strong>de</strong>safio era juntar<br />

profissionais <strong>de</strong> todas as gerações em torno <strong>de</strong> um objetivo comum: salvaguardar a<br />

ativida<strong>de</strong>, através <strong>de</strong> uma exposição clara e consistente <strong>de</strong> seu significado.<br />

A publicida<strong>de</strong> que, nos congressos anteriores, ganhou contornos nítidos como<br />

profissão e ativida<strong>de</strong> empresarial, agora precisava <strong>de</strong>monstrar que, mais do que um<br />

negócio que intercambiava com outros negócios, integrava um conceito muito maior:<br />

a indústria da comunicação. Ou assumia-se essa condição, <strong>de</strong> uma vez por todas, ou<br />

se agravaria a impressão <strong>de</strong> vulnerabilida<strong>de</strong>, que vinha encorajando alguns setores<br />

a questionar o papel e o valor da publicida<strong>de</strong>, sob as mais diversas alegações. Era<br />

preciso estimular mulheres e homens, que mantinham uma disputa acirrada pelo<br />

mercado em seu cotidiano, a se reunirem, solidariamente, na construção do futuro.<br />

E, assim, foi feito. O <strong>IV</strong> <strong>Congresso</strong> <strong>Brasileiro</strong> <strong>de</strong> Publicida<strong>de</strong>, prometido <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1980,<br />

foi realizado em 2008 unindo as agências <strong>de</strong> publicida<strong>de</strong> <strong>de</strong> todas as disciplinas<br />

<strong>de</strong> comunicação, fornecedores <strong>de</strong> todas as áreas e veículos <strong>de</strong> comunicação, num<br />

verda<strong>de</strong>iro pacto <strong>de</strong> resistência contra os inimigos da liberda<strong>de</strong> e da <strong>de</strong>mocracia.<br />

8 9


2 0 0 7<br />

O <strong>IV</strong> CONGRESSO é ANUNCIADO<br />

10 11


O <strong>IV</strong> CONGRESSO GANHA O APOIO DE TODOS<br />

A formalização do lançamento do <strong>IV</strong> <strong>Congresso</strong> <strong>Brasileiro</strong> <strong>de</strong> Publicida<strong>de</strong> ocorreu em 22 <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong> 2007, durante<br />

jantar oferecido pelo presi<strong>de</strong>nte da <strong>Abap</strong>, Dalton Pastore, aos dirigentes das entida<strong>de</strong>s da indústria da comunicação.<br />

Pastore passaria o dia inteiro ao telefone, confirmando os convites enviados com antecedência e consultando sobre a<br />

12 13<br />

2n o v0 e m0 b r7o a<strong>de</strong>quação da proposta: “Liguei para todos os presi<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> entida<strong>de</strong>s, para todos os capítulos da <strong>Abap</strong>, perguntando<br />

se julgavam o momento oportuno para a realização do <strong>IV</strong> <strong>Congresso</strong>. Da minha parte, <strong>de</strong>fendia que o mercado estava<br />

maduro para isso e, assim, obtive o apoio <strong>de</strong> todos.”


A ESCOlHA DO lOCAl<br />

Aprovada a realização <strong>IV</strong> <strong>Congresso</strong>, a <strong>Abap</strong> começa a<br />

trabalhar na escolha do local do evento. Segundo Dalton<br />

Pastore, “mesmo tendo <strong>de</strong>finido que o congresso seria<br />

realizado em São Paulo, não dispúnhamos <strong>de</strong> muitas<br />

opções <strong>de</strong> locais para aten<strong>de</strong>r ao porte que queríamos:<br />

o Centro <strong>de</strong> Convenções do Anhembi não tinha arcondicionado,<br />

o Hotel Transamérica, o Expocenter e a<br />

Bienal não tinham datas...” Quem propôs uma solução<br />

que, ao final, agradaria a todos, foi José Victor Oliva, do<br />

Banco <strong>de</strong> Eventos, empresa contratada para cuidar <strong>de</strong><br />

dar forma e organizar a logística do congresso. Oliva<br />

sugeriu o Gol<strong>de</strong>n Hall do Hotel World Tra<strong>de</strong> Center<br />

(WTC) que, em breve, seria inaugurado. Após uma visita<br />

ao local, Pastore foi taxativo: “Na minha cabeça ficou<br />

claro, não servia outro lugar.”<br />

De fato, o espaço é espetacular - uma área livre <strong>de</strong><br />

3.500 m2 e um foyer <strong>de</strong> 1.000 m2, dotados <strong>de</strong> uma<br />

mo<strong>de</strong>rníssima infra-estrutura. Após uma intensa<br />

negociação, a fim <strong>de</strong> enquadrar os custos ao orçamento<br />

do congresso, Dalton Pastore, Luiz Lara, José Victor<br />

Oliva e João Nagy (WTC) celebraram o fechamento do<br />

negócio e reservaram as datas <strong>de</strong> 14, 15 e 16 <strong>de</strong> julho<br />

para a realização <strong>IV</strong> <strong>Congresso</strong> <strong>Brasileiro</strong> <strong>de</strong> Publicida<strong>de</strong>.<br />

14 15<br />

2 0 0 8<br />

O CONVITE AOS PRESIDENTES DAS COmISSõES<br />

Imediatamente, o presi<strong>de</strong>nte da <strong>Abap</strong> passa a cumprir<br />

uma rotina <strong>de</strong> telefonemas e uma intensa troca <strong>de</strong><br />

e-mails, além <strong>de</strong> manter encontros frequentes com<br />

profissionais do mercado, para fechar as presidências<br />

das comissões. O objetivo é juntar um grupo preparado,<br />

<strong>de</strong>terminado e comprometido com o sucesso do <strong>IV</strong><br />

<strong>Congresso</strong>. Os convites são sempre acompanhados da<br />

advertência <strong>de</strong> que aceitá-los exigirá muita <strong>de</strong>dicação e,<br />

trabalho exaustivo. Àqueles que queixavam-se <strong>de</strong> que<br />

per<strong>de</strong>riam as férias <strong>de</strong> julho com suas famílias, Dalton<br />

lembrava que “férias são muitas, o <strong>IV</strong> <strong>Congresso</strong> é um só.”<br />

Os profissionais que aceitam presidir as comissões<br />

assumem suas tarefas com afinco.


O COmITE ORGANIZADOR<br />

Viabilizar um <strong>IV</strong> <strong>Congresso</strong> à<br />

altura <strong>de</strong> seu significado, trinta<br />

anos <strong>de</strong>pois, exigia muito<br />

trabalho, mas, principalmente,<br />

só seria possível com a garantia<br />

<strong>de</strong> uma organização impecável.<br />

Com o objetivo <strong>de</strong> aten<strong>de</strong>r a<br />

essa necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong>terminante<br />

para o futuro do evento, foi<br />

criado o Comitê Organizador<br />

do <strong>IV</strong> <strong>Congresso</strong> <strong>Brasileiro</strong> <strong>de</strong><br />

Publicida<strong>de</strong>. Ele foi composto por<br />

Dalton Pastore, Luiz Lara, Raul<br />

Nogueira, Raul Dória e Sérgio<br />

Amado. Seria a instância <strong>de</strong>cisória,<br />

incumbida <strong>de</strong> encaminhar as<br />

providências indispensáveis para<br />

a preparação do <strong>Congresso</strong>, a<br />

elaboração <strong>de</strong> seu regimento<br />

interno e a administração<br />

financeira do evento.<br />

16 17


O COmITE DE NOTÁVEIS<br />

Havia consenso geral do significado da realização<br />

do <strong>IV</strong> <strong>Congresso</strong> e da proprieda<strong>de</strong> da sua realização<br />

naquele momento, e a <strong>Abap</strong> enten<strong>de</strong>u como <strong>de</strong> suma<br />

importância dar corpo a essa coesão histórica, formando<br />

um Comitê <strong>de</strong> Notáveis, para o seu fortalecimento<br />

instucional. Composto por profissionais <strong>de</strong> todas as<br />

áreas <strong>de</strong> abrangência do <strong>Congresso</strong>, o Comitê <strong>de</strong><br />

Notáveis alinhou personalida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> diferentes gerações,<br />

cujo <strong>de</strong>sempenho contribuiu e vem contribuindo<br />

para o brilho e para a respeitabilida<strong>de</strong> da história da<br />

propaganda brasileira.<br />

18 19


N e l s o n M a n d e l a<br />

N e l s o n<br />

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M a n d e l a<br />

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20 21<br />

2 0 0 8<br />

A IDENTIfICAçãO DE<br />

PAlESTRANTES INTERNACIONAIS<br />

Foi consenso entre os publicitários que o <strong>IV</strong> <strong>Congresso</strong>,<br />

nascendo num ambiente tomado por propostas <strong>de</strong><br />

cerceamento aos anúncios, focasse na <strong>de</strong>fesa da liberda<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> expressão. Inspirada nessa conclusão, a <strong>Abap</strong> dá início à<br />

busca <strong>de</strong> uma celebrida<strong>de</strong> internacional para abrir o evento.<br />

O importante era que os nomes sinalizassem a gran<strong>de</strong>za do<br />

congresso, ao mesmo tempo em que indicassem a firme<br />

<strong>de</strong>terminação do setor em <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r sua liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> expressão<br />

no foro que for necessário. Para Dalton Pastore, era fundamental<br />

que as indicações fossem nomes que “não precisassem<br />

<strong>de</strong> legendas”. O presi<strong>de</strong>nte da <strong>Abap</strong> tinha em mente duas<br />

personalida<strong>de</strong>s: Nelson Man<strong>de</strong>la e Kofi Annan. Mas também<br />

tinha consciência do nível <strong>de</strong> dificulda<strong>de</strong> em trazê-los ao Brasil:<br />

“Man<strong>de</strong>la, pela ida<strong>de</strong> avançada, era uma opção dificílima e Kofi<br />

Annan havia recusado, recentemente, <strong>de</strong>zoito convites para<br />

proferir palestras.” Mesmo assim, <strong>de</strong>cidiu-se tentar.<br />

A mARATONA ATRÁS DE PERSONAlIDADES<br />

Coube ao Banco <strong>de</strong> Eventos buscar a viabilização da vinda<br />

<strong>de</strong> algum dos personagens internacionais que compunham<br />

uma lista prévia. Estavam ali, além <strong>de</strong> Man<strong>de</strong>la e Annan, Tony<br />

Blair, José Maria Aznar, Al Gore, Vicente Fox, Alan Greenspan,<br />

Judith Miller e Michael Aisner, presi<strong>de</strong>nte da Disney. A<br />

McCann, agencia internacional da Microsoft, também se<br />

mobilizaria, na tentativa <strong>de</strong> trazer Bill Gates, o que esteve<br />

muito próximo <strong>de</strong> se realizar.<br />

Em vinte <strong>de</strong> fevereiro, menos <strong>de</strong> quatro meses antes da<br />

abertura do <strong>IV</strong> <strong>Congresso</strong>, os trâmites para a formalização<br />

dos convites estão a todo vapor. O processo é, naturalmente,<br />

complexo e <strong>de</strong>morado: as assessorias das personalida<strong>de</strong>s<br />

questionam a infraestrutura, quem promove diretamente<br />

e quem mais está associado à realização do evento, como<br />

se posicionam no mercado, quem é o público que vai<br />

participar, qual o objetivo e, principalmente, qual é a<br />

reputação dos envolvidos.


A “CONquISTA” DE KOfI ANNAN<br />

O contato com o agente <strong>de</strong> Kofi Annan tem início com a checagem <strong>de</strong> uma informação obtida pela Máquina <strong>de</strong><br />

Comunicação Corporativa Integrada, contratada pela <strong>Abap</strong> para a divulgação do congresso. Havia rumores <strong>de</strong><br />

que Annan já estaria comprometido com uma vinda ao Brasil para participar <strong>de</strong> evento promovido pelo jornal<br />

Valor Econômico, <strong>de</strong> que participaria, inclusive o presi<strong>de</strong>nte Lula. A informação não se confirma e as negociações<br />

para trazer o ex-secretário geral da ONU para o <strong>IV</strong> <strong>Congresso</strong> têm início. O Banco <strong>de</strong> Eventos recebe um extenso e<br />

<strong>de</strong>talhado questionário, que <strong>de</strong>ve justificar a vinda <strong>de</strong> Kofi Annan. Dalton Pastore recorda que, no documento, havia<br />

um gran<strong>de</strong> espaço em branco para que se <strong>de</strong>finisse o tema <strong>de</strong> que ele <strong>de</strong>veria tratar em sua palestra: “escrevi uma<br />

única palavra: freedom.”<br />

Em 7 <strong>de</strong> março, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> um período consi<strong>de</strong>rável <strong>de</strong> trocas <strong>de</strong> e-mails, o Banco <strong>de</strong> Eventos envia uma mensagem<br />

perguntando se, afinal, Kofi Annan tem interesse na proposta. No domingo, chega a uma resposta concisa e<br />

entusiasmada: “Yes!” As exigências <strong>de</strong> Annan são singelas: pe<strong>de</strong> três passagens e dois quartos, pois vem com a<br />

esposa e uma amiga.<br />

" f r e e d o m "<br />

A CONfIRmAçãO DE JuDITH mIllER<br />

Depois <strong>de</strong> quase um mês <strong>de</strong> tratativas com a Harry Walker, a maior agência <strong>de</strong><br />

palestrantes do mundo, a jornalista norte-americana Judith Miller, premiada com o<br />

Pulitzer e que se tornara mundialmente conhecida por ter se submetido a passar 85 dias<br />

na prisão, já que se recusou a revelar a fonte <strong>de</strong> uma <strong>de</strong> suas reportagens, aceita o convite<br />

para participar do <strong>IV</strong> <strong>Congresso</strong> <strong>Brasileiro</strong> <strong>de</strong> Publicida<strong>de</strong> sem fazer nenhuma exigência.<br />

A PRESENçA DE JACK mYERS<br />

22 23<br />

2 0 0 8


A indústria da comunicação obteve receitas que<br />

totalizaram R$ 54 bilhões em 2005;<br />

106 mil empresas têm o total ou parte <strong>de</strong> suas<br />

receitas oriundas da indústria da comunicação;<br />

A receita das agências no Brasil aumentou em<br />

24,62% em 2005 em relação a 2004. No mesmo<br />

período, o número <strong>de</strong> agências aumentou 7,4%;<br />

Em 2005, o IBGE contabilizou 14.636 agências <strong>de</strong><br />

publicida<strong>de</strong> no Brasil e 8.852 agências <strong>de</strong> serviços<br />

especializados. totalizando 23.488 empresas;<br />

Do total acima, 301 agências <strong>de</strong> publicida<strong>de</strong> e<br />

300 agências <strong>de</strong> serviços especializados tinham<br />

mais <strong>de</strong> 15 funcionários.<br />

O ANúNCIO à ImPRENSA<br />

Em 25 <strong>de</strong> março acontece a coletiva, convocada para<br />

o anúncio da realização do <strong>IV</strong> <strong>Congresso</strong> <strong>Brasileiro</strong> <strong>de</strong><br />

Publicida<strong>de</strong>. A fim <strong>de</strong> estimular a presença da gran<strong>de</strong><br />

imprensa, além dos veículos especializados, a <strong>Abap</strong><br />

promete divulgar, na ocasião, os primeiros números da<br />

pesquisa encomendada ao IBGE, relativa ao tamanho da<br />

indústria da comunicação.<br />

Na entrevista, na presença <strong>de</strong> jornalistas <strong>de</strong> alguns dos<br />

mais importantes veículos <strong>de</strong> comunicação, o presi<strong>de</strong>nte<br />

da <strong>Abap</strong> confirma que a remuneração das agências<br />

é um dos temas do congresso. “Minha <strong>de</strong>claração <strong>de</strong><br />

que abriríamos espaço para discutir remuneração<br />

provocou polêmica no meio. Minha intenção, no<br />

entanto, não era estabelecer como obrigatorieda<strong>de</strong> o<br />

assunto no congresso, já que isso po<strong>de</strong>ria provocar certo<br />

esvaziamento do Cenp, a quem cabia a discussão, mas<br />

apenas colocar o tema em evidência e <strong>de</strong>ixar claro que<br />

não teríamos nenhuma dificulda<strong>de</strong> em discutir o assunto<br />

publicamente”, afirma Dalton Pastore.<br />

SAI “PREçO” E ENTRA VAlOR COmO TEmA.<br />

A proposta <strong>de</strong> discutir-se a questão da remuneração<br />

no <strong>IV</strong> <strong>Congresso</strong> encontra resistência no mercado.<br />

Depois <strong>de</strong> diversos telefonemas e encontros entre<br />

o presi<strong>de</strong>nte da <strong>Abap</strong> e presi<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> agências<br />

associadas, acorda-se que o congresso não tratará <strong>de</strong><br />

“preços”. O setor precisava discutir seu valor mais do que<br />

seus preços. Dalton Pastore lembra que ao ser anunciada<br />

a substituição do tema, houve nova repercussão na<br />

mídia, mas a posição da <strong>Abap</strong>, como representante<br />

das agências <strong>de</strong> publicida<strong>de</strong>, ficou bem evi<strong>de</strong>nte:<br />

"não tínhamos nenhum medo assunto, discutiríamos<br />

o que fosse necessário.” Em consenso, ficou <strong>de</strong>cidido<br />

que o tema “O mo<strong>de</strong>lo brasileiro <strong>de</strong> remuneração<br />

<strong>de</strong> agências" seria substituído. Em seu lugar, entrou<br />

“A valorização, a prosperida<strong>de</strong> e a rentabilida<strong>de</strong> da<br />

indústria da comunicação”, como tema da comissão a<br />

ser presidida por Luiz Lara. Em entrevista à imprensa<br />

especializada, publicada em 11 <strong>de</strong> maio, Dalton Pastore<br />

<strong>de</strong>clararia que “o tema da remuneração foi sugerido<br />

por agências ligadas à <strong>Abap</strong> e à ABP. As <strong>de</strong>mais<br />

entida<strong>de</strong>s que apóiam o congresso argumentaram<br />

que este é um tema muito específico da publicida<strong>de</strong>,<br />

enquanto que no evento teremos também agências <strong>de</strong><br />

promoção, marketing direto, relações públicas, entre<br />

outras especialida<strong>de</strong>s. Alem disso, há uma revisão das<br />

regras <strong>de</strong> remuneração sendo feita oficialmente no<br />

âmbito do Cenp, e nós confiamos que lá a questão será<br />

resolvida.” Já Luiz Lara afirmava, em 16 <strong>de</strong> maio, no site<br />

do <strong>IV</strong> <strong>Congresso</strong>: “mais importante do que nos atermos<br />

às questões <strong>de</strong> remuneração, é mensurarmos o valor<br />

dos resultados obtidos graças ao trabalho criativo das<br />

agências, construindo cases <strong>de</strong> sucesso, com inovação<br />

e criativida<strong>de</strong>. é o resgate <strong>de</strong>sse valor que vai permitir<br />

nosso gran<strong>de</strong> salto para o futuro.”<br />

24 25<br />

2 0 0 8


A buSCA DE PATROCINADORES<br />

Se<strong>de</strong> escolhida, palestrantes contratados e presi<strong>de</strong>ntes<br />

das comissões <strong>de</strong>finidos, o próximo passo era buscar<br />

recursos financeiros para a viabilização <strong>de</strong> um<br />

acontecimento <strong>de</strong> tamanha magnitu<strong>de</strong>. O presi<strong>de</strong>nte<br />

da <strong>Abap</strong> assume pessoalmente o compromisso <strong>de</strong><br />

conquistar os patrocinadores do <strong>IV</strong> <strong>Congresso</strong>. Depois<br />

<strong>de</strong> exaustivas exposições do projeto e <strong>de</strong> uma <strong>de</strong>fesa<br />

consistente da sua realização, Pastore fecha cotas<br />

<strong>de</strong> patrocínio com Re<strong>de</strong> Globo, Re<strong>de</strong> Record, Editora<br />

Abril, Grupo RBS, Cyber SBT, Grupo Ban<strong>de</strong>irantes,<br />

Terra, Elemídia.<br />

Assim, obtém um aporte robusto não apenas <strong>de</strong><br />

recursos financeiros, mas <strong>de</strong> prestígio, através da<br />

associação do congresso à marcas consagradas da<br />

indústria da comunicação.<br />

A ESTREIA DO SITE DO <strong>IV</strong> CONGRESSO<br />

O site do <strong>IV</strong> <strong>Congresso</strong> <strong>Brasileiro</strong> <strong>de</strong> Publicida<strong>de</strong> po<strong>de</strong><br />

ser consi<strong>de</strong>rado uma das mais inteligentes ferramentas<br />

<strong>de</strong> inter-relação <strong>de</strong> um evento com seu público. Além<br />

<strong>de</strong> todas as informações inerentes ao próprio congresso,<br />

através do site foi possível manter-se permanentemente<br />

atualizado sobre cada assunto tratado e interferir nos<br />

temas, contribuindo com as discussões. Os mecanismos<br />

interativos foram uma das principais características<br />

do en<strong>de</strong>reço do congresso na internet e atestaram<br />

o espírito <strong>de</strong> total transparência e <strong>de</strong>mocracia que<br />

impregnou o evento <strong>de</strong>s<strong>de</strong> sua proposta. Foram 50.000<br />

visitações apenas no dia <strong>de</strong> estreia, 14 <strong>de</strong> abril.<br />

26 27<br />

2 0 0 8<br />

www.congresso<strong>de</strong>publicida<strong>de</strong>.com.br


Belo Horizonte O <strong>IV</strong> CONGRESSO “VISITA” O bRASIl<br />

A <strong>Abap</strong> trabalhava com uma meta <strong>de</strong> cerca <strong>de</strong> 1.200 participantes e os custos <strong>de</strong><br />

inscrição po<strong>de</strong>riam ser consi<strong>de</strong>rados altos para uma gran<strong>de</strong> parte do Brasil. Fazia-se<br />

necessária, portanto, uma explanação clara do custo/benefício da participação <strong>de</strong><br />

cada um num evento que se pretendia se tornasse histórico. Ou seja, da mesma<br />

forma que o <strong>IV</strong> <strong>Congresso</strong> foi “vendido” com sucesso para os patrocinadores, agora<br />

ele tinha que ser “vendido” aos publicitários. Daí a i<strong>de</strong>ia da realização <strong>de</strong> road-shows,<br />

Florianópolis<br />

com a presença do presi<strong>de</strong>nte da <strong>Abap</strong> em mercados com importante potencial<br />

<strong>de</strong> inscrições. A partir <strong>de</strong> 8 <strong>de</strong> maio, Dalton Pastore cumpre uma agenda que inlcui<br />

Rio <strong>de</strong> Janeiro, Porto Alegre, Florianópolis, Recife, Belo Horizonte e Salvador, em<br />

algumas ocasiões visitando duas cida<strong>de</strong>s no mesmo dia. Em cada uma <strong>de</strong>las, é<br />

cumprida uma rotina <strong>de</strong> encontros e entrevistas à imprensa. Os resultados aparecem,<br />

imediatamente, no site, através <strong>de</strong> um número expressivo <strong>de</strong> inscrições.<br />

Porto Alegre<br />

Recife<br />

Rio <strong>de</strong> Janeiro<br />

Salvador<br />

28 29<br />

2 0 0 8


30 31<br />

2 0 0 8


A mONTAGEm DO <strong>IV</strong> CONGRESSO<br />

Em 10 <strong>de</strong> julho, tem início a montagem da infraestrutura do <strong>IV</strong> <strong>Congresso</strong> <strong>Brasileiro</strong> <strong>de</strong> Publicida<strong>de</strong>.<br />

São mobilizados mais <strong>de</strong> 350 profissionais para cuidar das inscrições, do cre<strong>de</strong>nciamento, da<br />

alimentação, do suporte aos palestrantes, da logística e da comunicação visual. Dez balcões são<br />

dispostos para o atendimento dos congressistas. São criados os espaços da <strong>Abap</strong>, financeiro, <strong>de</strong><br />

cre<strong>de</strong>nciamento, secretaria, <strong>de</strong> achados e perdidos, <strong>de</strong> entrega <strong>de</strong> certificados e para retirada<br />

e entrega <strong>de</strong> formulários das emendas dirigidas às comissões. No piso C, principal acesso ao<br />

32 33<br />

2 0 0 8<br />

congresso, foram instaladas as salas das comissões, com outras seis salas <strong>de</strong> apoio. No plenário<br />

Gol<strong>de</strong>n Hall, recém-inaugurado, que abriga um palco <strong>de</strong> 25 metros <strong>de</strong> cumprimento, foram<br />

instaladas duas telas <strong>de</strong> projeção, com 6 x 4 e 3 x 2 metros. O presi<strong>de</strong>nte da <strong>Abap</strong>, que mudou-se<br />

para o WTC nas vésperas do evento, conta que percorreu muitos quilômetros para assegurar-se <strong>de</strong><br />

que tudo correria à perfeição: “nada me escapou; até os arranjos e as toalhas, aprovei pessoalmente.<br />

Percorri o plenário, contando as ca<strong>de</strong>iras, estimando se batia com o número <strong>de</strong> participantes...”


21 4 d0 e j0u l h8o CO M E Ç A O I V CO N G R E S S O B R A S I L E I R O D E P U B L I C I DA D E<br />

34 35


36 37<br />

2 0 0 8<br />

1 4 d e j u l h o<br />

O CREDENCIAmENTO<br />

Às 10h30 tem início a recepção dos participantes. De maneira organizada<br />

e eficiente, <strong>de</strong>zenas <strong>de</strong> colaboradores i<strong>de</strong>ntificam e cre<strong>de</strong>nciam os<br />

congressistas. Ao ingressar no ambiente do <strong>IV</strong> <strong>Congresso</strong>, todos já se <strong>de</strong>param<br />

com a gran<strong>de</strong>za e o profissionalismo com que tudo foi pensado e realizado e<br />

passam a dispor <strong>de</strong> uma vasta gama <strong>de</strong> conveniências nos recintos comuns e<br />

nas salas <strong>de</strong> acolhida dos diversos patrocinadores.


38 39<br />

21 4 d0 e j0u l h8o A AbERTuRA<br />

Exatamente às 14h00, no cenário <strong>de</strong>slumbrante do Gol<strong>de</strong>n Hall do World<br />

Tra<strong>de</strong> Center, uma platéia <strong>de</strong> 1.461 congressistas testemunha a estreia <strong>de</strong><br />

um dos gran<strong>de</strong>s momentos da publicida<strong>de</strong> brasileira. Trinta anos <strong>de</strong>pois, a<br />

indústria da comunicação volta a reunir-se em gran<strong>de</strong> estilo para escrever<br />

um novo capítulo da sua história.


DISCuRSO DO PRESIDENTE DA AbAP, DAlTON PASTORE.<br />

Boa tar<strong>de</strong>, sejam todos bem-vindos. Era assim o congresso com o qual eu sonhei nos últimos seis meses.<br />

Que grupo impressionante temos aqui hoje! Entre congressistas, estudantes, professores, convidados,<br />

palestrantes, componentes das comissões e profissionais <strong>de</strong> imprensa, somos um total <strong>de</strong> 1.426 pessoas. Estão aqui<br />

representadas 31 entida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> classe que participam da realização <strong>de</strong>ste <strong>Congresso</strong>: a ABDOH, Abemd, Abep, Abert, ABMN,<br />

ABP, Abra, Abrafoto, ABTA, Ampro, Anatec, Aner, ANJ, APP, Apro, Aprosom, Clube <strong>de</strong> Criação, Cenp, Central <strong>de</strong> Outdoor, CNP,<br />

Conar, ESPM, FAC, Fenapex, Fenapro, FGV, Grupo <strong>de</strong> Mídia, IAB, <strong>IV</strong>C, Sindsom e, naturalmente, a <strong>Abap</strong>. Registro ainda o<br />

importante apoio institucional que recebemos da ABA, da CACB Fecomércio e Fiesp. Meu muito obrigado a todos.<br />

Tenho muito prazer em começar esta abertura agra<strong>de</strong>cendo e tenho muito a agra<strong>de</strong>cer: primeiro, à equipe da <strong>Abap</strong>, que<br />

trabalhou arduamente comigo na empreitada <strong>de</strong> organizar um evento <strong>de</strong>ssa magnitu<strong>de</strong>. Vocês têm todo o direito <strong>de</strong> sentir<br />

orgulho. Merecem <strong>de</strong>staque entre os construtores <strong>de</strong>sse evento os presi<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> Capítulos da <strong>Abap</strong> que comandam<br />

comigo esta entida<strong>de</strong> e que são os responsáveis pelo fato extraordinário <strong>de</strong> termos aqui representados 22 estados da<br />

União, além do Distrito Fe<strong>de</strong>ral. Através <strong>de</strong> meus <strong>de</strong>vidos agra<strong>de</strong>cimentos a dois amigos que estiveram o tempo todo<br />

ao meu lado — Luiz Lara e Sérgio Amado —, agra<strong>de</strong>ço a todos os companheiros que, com a sua confiança e a força do<br />

seu apoio, tornaram este evento realida<strong>de</strong>. Agra<strong>de</strong>ço às agências associadas à <strong>Abap</strong>, que, honrando a sua vocação <strong>de</strong><br />

acreditar em i<strong>de</strong>ias, investiram na i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> fazer um congresso quando ela era bem pequenininha e frágil e a financiaram<br />

até que ela estivesse forte e pu<strong>de</strong>sse caminhar sozinha. Agra<strong>de</strong>ço também às nossas três agências, a DPZ, a Máquina<br />

da Notícia e o Banco <strong>de</strong> Eventos, que, como sempre, fizeram um trabalho <strong>de</strong> primeira classe. Finalmente, agra<strong>de</strong>ço aos<br />

nossos patrocinadores: Terra, Re<strong>de</strong> Globo, Re<strong>de</strong> Record, Grupo Abril, Grupo RBS, Elemidia, Folha <strong>de</strong> S.Paulo, Skincariol,<br />

Grupo Totalcom, Grupo Meio & Mensagem e Grupo Propaganda e Marketing.<br />

Espero que os seus clientes e prospects aqui presentes reconheçam o comprometimento com o futuro que vocês<br />

<strong>de</strong>monstram ao patrocinar este evento. Algumas vezes, ao longo <strong>de</strong>sses quase seis anos nos quais tenho andado pelo<br />

Brasil a serviço da <strong>Abap</strong> e da publicida<strong>de</strong> brasileira, algum companheiro pergunta o que ele ganha ao associar-se à <strong>Abap</strong>.<br />

Eu sempre respondo: ganha o direito <strong>de</strong> trabalhar ao lado <strong>de</strong> seus pares, a serviço <strong>de</strong> sua classe, hoje, amanhã e <strong>de</strong>pois.<br />

Ao nos inscrevermos nesse congresso, todos nos <strong>de</strong>claramos dispostos a trabalhar pela nossa classe, ao lado <strong>de</strong> nossos<br />

pares. Ninguém que tenha a sua forma <strong>de</strong> vida ligada à comunicação tem coisa mais importante nem mais nobre a<br />

fazer nestes três dias. Vamos aproveitar em sua plenitu<strong>de</strong> esta oportunida<strong>de</strong> histórica, entregando o melhor <strong>de</strong> nós. Que<br />

possamos tornar nossa indústria cada vez mais eficiente para os nossos clientes, cada vez mais valorizada e respeitada<br />

pela socieda<strong>de</strong>, cada vez mais digna e rentável para os seus sócios, os veículos, as agências <strong>de</strong> todas as disciplinas e os<br />

fornecedores <strong>de</strong> serviços especializados.<br />

A gran<strong>de</strong>za <strong>de</strong>ste <strong>IV</strong> <strong>Congresso</strong> não será revelada na beleza e na magnitu<strong>de</strong> das instalações em que ele ocorre, ou nos<br />

recursos tecnológicos que ele revele, mas na atitu<strong>de</strong> libertária que ele consiga promover. Que <strong>de</strong>ixemos este <strong>Congresso</strong><br />

mais livres em pensamentos e atitu<strong>de</strong>s, para dar ao nosso ofício o futuro que lhe impõem as contínuas mudanças dos<br />

novos tempos. E que a comunicação <strong>de</strong>ixe este evento mais livre das tutelas presunçosas, do paternalismo arrogante, dos<br />

filtros i<strong>de</strong>ológicos e da hipocrisia <strong>de</strong> seus críticos.<br />

é o exercício da livre escolha que forma o bomsenso das populações. Espero que durante este <strong>Congresso</strong>, nós sejamos<br />

inspirados pela sabedoria dos que nos antece<strong>de</strong>ram; que sejamos motivados pelos milhares <strong>de</strong> jovens que estão se<br />

preparando para nos suce<strong>de</strong>r e para os quais temos a obrigação <strong>de</strong> legar uma profissão lastreada pela dignida<strong>de</strong> e pela<br />

relevância <strong>de</strong> seus serviços prestados ao <strong>de</strong>senvolvimento econômico e social do país.<br />

Em nome das 31 entida<strong>de</strong>s que apoiam esse gran<strong>de</strong> evento e que me fizeram seu presi<strong>de</strong>nte, <strong>de</strong>claro<br />

instalado o <strong>IV</strong> <strong>Congresso</strong> <strong>Brasileiro</strong> <strong>de</strong> Publicida<strong>de</strong>. Muito obrigado.<br />

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21 4 d0 e j0u l h8o


DISCuRSO DO<br />

Ex-SECRETÁRIO-GERAl<br />

DA ORGANIZAçãO<br />

DAS NAçõES uNIDAS,<br />

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Quero dizer a vocês da minha alegria e <strong>de</strong> minha esposa Nane, por estarmos aqui nesta tar<strong>de</strong>.<br />

Ontem tive a oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> conversar com o Sr. Pastore e outros organizadores <strong>de</strong>ste<br />

evento. Antes <strong>de</strong> começar, quero dizer-lhes que <strong>de</strong> alguma forma, sou um verda<strong>de</strong>iro <strong>de</strong>safio<br />

para sua profissão, que trata <strong>de</strong> marcas: vocês dão marcas a produtos e indivíduos. Quando eu<br />

<strong>de</strong>ixei minha segunda <strong>de</strong>signação para as Nações Unidas, minha esposa e eu <strong>de</strong>cidimos que<br />

precisávamos <strong>de</strong> um pequeno <strong>de</strong>scanso. Assim, <strong>de</strong>cidimos passar três meses fora e viajamos<br />

para um lugar pequeno e retirado na Itália. Após seis semanas escondidos, apenas nós dois<br />

dando longas caminhadas, sem televisão, jornais ou rádio, sugeri sairmos e comprarmos um<br />

jornal, pois estávamos ficando entediados. Fomos a uma loja e vimos um grupo <strong>de</strong> homens<br />

parados, olhando para nós. Eu olhei para minha esposa e disse: “Ah, meu Deus, estragamos<br />

nosso disfarce. Agora todos sabem que estamos aqui.”<br />

Naquele momento, um <strong>de</strong>les se aproximou e disse: “Morgan Freeman, você me dá um<br />

autógrafo?”. Eu disse: “Claro!”. E assinei: K. Freeman. Ele ficou feliz, eu fiquei feliz. Naquele<br />

momento eu era um cruzamento entre Kofi Annan e Morgan Freeman. Mas fiquei satisfeito,<br />

pois estava livre (freeman, em Inglês, significa homem livre) e sem as responsabilida<strong>de</strong>s que<br />

vinha carregando havia <strong>de</strong>z anos.<br />

Quero agra<strong>de</strong>cer-lhes também por virem em tão gran<strong>de</strong> número. Vou começar dizendo<br />

algumas palavras sobre o programa Global Compact, que lancei no Fórum Econômico Mundial<br />

<strong>de</strong> 1999. Naquela ocasião, convi<strong>de</strong>i o setor privado, ONGs e grupos da socieda<strong>de</strong> civil para<br />

se juntarem a mim no programa para respeitar nove princípios da área <strong>de</strong> leis trabalhistas,<br />

direitos humanos e o meio ambiente. Um ano ou dois mais tar<strong>de</strong>, inserimos o 10º princípio, o<br />

combate à corrupção, que, todos nós sabemos, mina os governos e o bem-estar dos pobres. é<br />

algo sobre o que todos <strong>de</strong>vemos ficar atentos.<br />

Lancei o programa Global Compact num momento em que a globalização estava começando<br />

a toda velocida<strong>de</strong>; muitos se beneficiavam <strong>de</strong>la, mas bilhões também estavam sendo<br />

<strong>de</strong>ixados para trás. Assim, eu lancei um <strong>de</strong>safio às corporações, nações e todos nós, para nos<br />

sensibilizarmos em relação às necessida<strong>de</strong>s dos <strong>de</strong>safortunados. Argumentei que precisávamos<br />

dar à globalização características humanas e que tínhamos que dar a chance <strong>de</strong> todos se<br />

beneficiarem com a prosperida<strong>de</strong> que a globalização traz. Argumentei também que existe<br />

uma gran<strong>de</strong> distância entre ricos e pobres; que um mundo on<strong>de</strong> os homens ricos vivem lado<br />

a lado na pobreza não é sustentável e precisávamos realmente fazer alguma coisa sobre isso.<br />

Além disso, há bens do povo que as forças do mercado nunca po<strong>de</strong>rão produzir. é preciso unir<br />

forças para lidar com essas questões.<br />

Foi uma iniciativa voluntária, nada foi obrigatório e uniu o setor privado, sindicatos patronais e<br />

ONGs. No lado institucional, os parceiros foram a Organização Internacional Liberal, o Programa<br />

Ambiental das Nações Unidas e o Escritório do Alto Comissariado <strong>de</strong> Direitos Humanos. Devo<br />

dizer que me surpreendi pelo entusiasmo com o qual o mundo corporativo reagiu. Começamos<br />

nossas negociações e conversas. Algumas ONGs foram críticas quanto ao processo; elas diziam<br />

que a i<strong>de</strong>ia era boa, mas foram críticas porque achavam que não funcionaria, a menos que<br />

fosse obrigatório, que se estabelecessem sanções a serem aplicadas às corporações que não<br />

se comprometessem. Expliquei que como secretário-geral da Organização das Nações Unidas,<br />

eu não tinha autorida<strong>de</strong> para impor às corporações ou sindicatos patronais qualquer sanção,<br />

mas, sim, para levá-las ou inspirá-las a assumir o <strong>de</strong>safio. Também senti que a transparência<br />

funcionaria para nós — transparência no sentido <strong>de</strong> que cada corporação <strong>de</strong>veria transmitir ao<br />

seu Conselho o que fora feito para cumprir aqueles nove princípios, e também disponibilizar<br />

as informações em seus sites.<br />

Assim, com a transparência, teríamos uma forma <strong>de</strong> os envolvidos verificarem e controlarem<br />

suas atuações. Além <strong>de</strong> a transparência ser po<strong>de</strong>rosa, se uma empresa alegasse ter feito<br />

uma coisa que não fez, seu próprio staff saberia que aquilo não estava correto. Ao usar a<br />

transparência, também criamos uma forma eficaz <strong>de</strong> nos certificarmos <strong>de</strong> que aqueles que<br />

foram <strong>de</strong>signados para algo estavam cumprindo com seu compromisso. Também foi animador<br />

o fato <strong>de</strong> os trabalhadores <strong>de</strong>ssas corporações terem ficado muito felizes por se associarem,<br />

pois perceberam que fazer o bem também é bom para os negócios. Eles se entusiasmaram<br />

com a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> que seus lí<strong>de</strong>res estavam abraçando esses <strong>de</strong>safios. Quando anunciei, algumas<br />

pessoas duvidaram que as corporações realmente se comprometeriam e cumpririam com<br />

suas obrigações. A maior parte <strong>de</strong>las cumpriu.<br />

Vocês enten<strong>de</strong>riam todas as dificulda<strong>de</strong>s que partilhamos juntos, ao pensar em seus<br />

próprios esforços. O que vocês fariam com as corporações que se comprometeram, mas<br />

com nenhuma intenção <strong>de</strong> honrar seus compromissos, ou que começassem a fraquejar e<br />

<strong>de</strong>sistissem após um ou dois anos? Tivemos que lutar com essa questão, e não estou bem<br />

certo se conseguimos encontrar a resposta. Saí viajando pelo mundo e encontrei algumas<br />

das quatro mil empresas ao redor do mundo que se juntaram ao Global Compact na China,<br />

na Rússia, na Ásia, na Índia. Todas estavam fazendo ajustes, para serem vistas tentando fazer<br />

o certo.<br />

Nesta oportunida<strong>de</strong>, tenho a satisfação <strong>de</strong> ver que sua organização, a Associação Brasileira<br />

<strong>de</strong> Agências <strong>de</strong> Publicida<strong>de</strong>, estabeleceu sua própria linha <strong>de</strong> conduta num contexto ético.<br />

Ao longo do processo, vocês po<strong>de</strong>m concluir que escolheram algumas das lições que o<br />

programa Global Compact ensinou, partilharão nossa experiência e tenho certeza <strong>de</strong> que<br />

mesmo num contexto local, ambas as organizações po<strong>de</strong>m apren<strong>de</strong>r uma com a outra e<br />

reforçar os esforços mútuos.<br />

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21 4 d0 e j0u l h8o


Vou falar um pouco sobre parceria, a forma por meio da qual o mundo está vivendo hoje.<br />

Quando me tornei secretário geral das Naçoes Unidas, em janeiro <strong>de</strong> 1997, fiz a mim mesmo<br />

algumas perguntas: o que a ONU <strong>de</strong>ve fazer? O que ela não <strong>de</strong>ve fazer? O que ela <strong>de</strong>ve e<br />

po<strong>de</strong> fazer sozinha? O que ela <strong>de</strong>ve fazer com outros e o que ela <strong>de</strong>ve <strong>de</strong>ixar outros fazerem?<br />

Os recursos não são ilimitados e é preciso ser realmente seletivo quanto ao que se po<strong>de</strong><br />

fazer sozinho e contar com parceiros. Ao contar com eles e com a união <strong>de</strong> esforços, somos<br />

capazes <strong>de</strong> expandir nossa capacida<strong>de</strong> ao lidar com os <strong>de</strong>safios que enfrentamos. No mundo<br />

<strong>de</strong> hoje, enfrentamos problemas que nenhum país — não importa o quão po<strong>de</strong>roso ele seja<br />

— po<strong>de</strong> enfrentar sozinho. Isto requer que trabalhemos em parcerias: os governos, o setor<br />

privado, sindicatos, ONGs, organizações empresariais. Muitos governos hoje perceberam<br />

que não po<strong>de</strong>m tratar <strong>de</strong>sses problemas sozinhos. Eu acredito que eles não chegaram a essa<br />

conclusão escon<strong>de</strong>ndo suas cabeças na areia. Não tenho certeza <strong>de</strong> que eles po<strong>de</strong>riam lidar<br />

com qualquer outro problema como os que enfrentamos hoje: pobreza, mudanças climáticas,<br />

doenças. Precisamos trabalhar em parcerias, juntando nosso conhecimento e recursos, para<br />

maximizar nosso impacto sobre os <strong>de</strong>safios que enfrentamos.<br />

Nas últimas décadas, tenho visto coisas inacreditáveis sobre parcerias, como no caso do H<strong>IV</strong>/<br />

Aids. Lembro-me <strong>de</strong> uma reunião com os presi<strong>de</strong>ntes das sete maiores indústrias farmacêuticas<br />

<strong>de</strong> medicamentos para H<strong>IV</strong>/Aids. Estávamos em um hotel em Amsterdã e no início, eles estavam<br />

bem relutantes até para discutir a questão que eu tinha a tratar com eles — achar uma forma<br />

<strong>de</strong> reduzir os custos dos medicamentos, para que os pobres pu<strong>de</strong>ssem ter acesso a eles. Fiz<br />

um acordo <strong>de</strong> que não seria algo sustentável a longo prazo, mas que trabalharia o ponto <strong>de</strong><br />

vista <strong>de</strong> relações públicas, moral, para que tivéssemos remédios que pu<strong>de</strong>ssem salvar as vidas<br />

das pessoas. Porém, como elas são pobres, não têm acesso à medicação.<br />

Eu e minha esposa costumamos viajar ao redor do mundo visitando hospitais e alguém sempre<br />

olha nos seus olhos, como se dissesse: “o que você vai fazer por mim?”. Sabemos que em outras<br />

partes do mundo as doenças não são uma sentença <strong>de</strong> morte; há medicação. Assim, minha<br />

proposta para os fabricantes <strong>de</strong> remédios era muito simples: se vocês pu<strong>de</strong>rem manter seus<br />

direitos <strong>de</strong> proprieda<strong>de</strong> intelectual, precisamos encontrar uma forma <strong>de</strong> obter a medicação<br />

para os pobres, fazendo com que seja acessível. Já se opuseram a Man<strong>de</strong>la, porque ele procurou<br />

a licença dos compostos dos medicamentos para produzi-los na África do Sul. Eu disse que<br />

os nossos profissionais não são <strong>de</strong> relações públicas ou <strong>de</strong> comunicação, mas não é preciso<br />

ser um gênio <strong>de</strong> relações públicas para saber que, ao ver Man<strong>de</strong>la na África do Sul tratar <strong>de</strong><br />

uma questão como a do H<strong>IV</strong>/Aids, é preciso encontrar uma maneira <strong>de</strong> resolver a questão<br />

em silêncio. Por que prosseguir? Por que não encontrar uma forma para resolver o problema<br />

em silêncio? Ao final, trabalhamos juntos e tudo foi resolvido pacificamente. Mas eles não<br />

estavam conseguindo diminuir o custo da medicação e alguns <strong>de</strong>sses remédios preveniam<br />

a mais cruel das formas <strong>de</strong> transmissão, que é a <strong>de</strong> mãe para filho. No fim, conseguiram nos<br />

fornecer sem custo e realmente <strong>de</strong>ram sua contribuição.<br />

Presenciei situações em que empresas se reuniram para trabalhar para o programa <strong>de</strong> alimentos<br />

<strong>de</strong> agências da ONU ao redor do mundo, com o objetivo <strong>de</strong> ajudar os pobres, transportando a<br />

comida pelo mundo. Consegui anúncios <strong>de</strong> serviços públicos sem qualquer ônus. Ao longo da<br />

negociação <strong>de</strong> preços no Quênia, explicamos que estávamos em negociações francas e abertas,<br />

e que eu tornaria público cada acordo que assinássemos a portas fechadas. Quando assinamos<br />

nosso primeiro acordo e quisemos publicá-lo nos jornais, eles queriam que pagássemos os<br />

anúncios. Algumas pessoas disseram que aquilo era muito caro, mas precisávamos ir a público<br />

e seguir em frente; <strong>de</strong>víamos <strong>de</strong>ixá-los publicar e discutir os preços e quem pagaria mais<br />

tar<strong>de</strong>. Ao final, a maior parte <strong>de</strong>les o fez através <strong>de</strong> anúncios públicos, o que foi extremamente<br />

responsável, e ao longo das negociações, chegou-se a um preço extremamente viável.<br />

Outro exemplo foi a erradicação da pólio. Com o passar dos anos, as agências internacionais da<br />

ONU arrecadaram cerca <strong>de</strong> US$ 1 bilhão em parcerias para erradicar a doença e hoje estamos<br />

prestes a atingir esse objetivo.<br />

Neste ano, a Declaração Universal dos Direitos Humanos completa 60 anos e quero dizer<br />

algumas palavras sobre ela. Enquanto comemoramos, cada um <strong>de</strong> nós <strong>de</strong>ve se comprometer<br />

mais uma vez com os direitos fundamentais para todos. Os valores da paz, liberda<strong>de</strong>, progresso<br />

social, igualda<strong>de</strong> para todos e dignida<strong>de</strong> humana contemplados na Declaração são válidos<br />

hoje como eram há 60 anos. Esse gran<strong>de</strong> documento expressa uma visão otimista do mundo<br />

e não uma <strong>de</strong>scrição da realida<strong>de</strong> ou da condição existente. Sim, o sonho ainda não foi<br />

completamente realizado, aliás, estamos longe disso, mas o mundo melhorou. A Declaração<br />

Universal foi aceita em sistemas legais em todo o mundo, tornando-se um ponto <strong>de</strong> referência<br />

para as pessoas que ansiavam por direitos humanos em todos os países.<br />

Em 2005, no Encontro Mundial em Nova York, foi aceita a responsabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> proteger que<br />

existe na Declaração. Ela implica em limites à soberania. Os governos não po<strong>de</strong>m mais se<br />

escon<strong>de</strong>r atrás <strong>de</strong> fronteiras nacionais, vendo seu povo sendo brutalizado e não fazendo nada<br />

a respeito; eles têm responsabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> proteger seu próprio povo. E on<strong>de</strong> eles falharem<br />

em protegê-los, a Comunida<strong>de</strong> Internacional, por meio do Conselho <strong>de</strong> Segurança, tem a<br />

responsabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> agir através <strong>de</strong> pressão diplomática, econômica, e como último recurso,<br />

usando a força.<br />

Acho que é um passo muito importante da legislação internacional, que diz que a soberania<br />

do estado vem com responsabilida<strong>de</strong>, mas diz também ao resto <strong>de</strong> nós, que vive fora do país,<br />

que não po<strong>de</strong>mos cruzar os braços; que alguns crimes são tão vergonhosos que isso nos<br />

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envergonha a todos e precisamos agir. Na minha opinião, é um passo importante no que tange à<br />

lei. Temos que admitir também que a luta pelos direitos civis e humanos está se tornando uma só. é<br />

uma luta para a qual temos que acordar todas as manhãs, prontos para a nova batalha, se necessário.<br />

Quero partilhar com vocês outro problema que diz respeito a todos nós, na minha opinião,<br />

o maior <strong>de</strong>safio que nossa geração terá que enfrentar: as mudanças climáticas. é um <strong>de</strong>safio<br />

importante, que exige toda nossa energia e criativida<strong>de</strong>, pois as mudanças climáticas são uma<br />

ameaça à economia, à saú<strong>de</strong>, à coesão social e política, e à segurança. Não po<strong>de</strong>mos continuar<br />

a consumir os recursos do mundo, pois nesse ritmo, não haverá amanhã.<br />

Há um provérbio africano que vou partilhar com vocês: “a Terra não nos pertence; ela é um<br />

tesouro que nos foi confiado para as gerações futuras”. Este é o verda<strong>de</strong>iro <strong>de</strong>safio: mudar os<br />

padrões da floresta tropical com extensos <strong>de</strong>smatamentos faz as colheitas diminuírem e a vida<br />

para <strong>de</strong> florescer. Tempesta<strong>de</strong>s mais frequentes <strong>de</strong>stroem casas e infraestruturas, ameaçando<br />

o progresso econômico e os investimentos produtivos. é uma ameaça à nossa saú<strong>de</strong>, porque<br />

as temperaturas mais altas propiciam doenças trazidas por insetos, como a malária e a <strong>de</strong>ngue,<br />

que viajam mais longe e mais rapidamente. é uma ameaça à estabilida<strong>de</strong> social, como vimos<br />

recentemente nas <strong>de</strong>monstrações sobre a crise dos alimentos.<br />

As mudanças climáticas não são a única razão para os protestos em alguns países contra<br />

a alta nos alimentos, mas, certamente, contribuíram, transformando nossas terras, antes<br />

férteis, no mundo todo, em terras impróprias para o plantio e a colheita. Elas também são<br />

ameaças à estabilida<strong>de</strong> política, social e à segurança, pois impõem uma alta competitivida<strong>de</strong><br />

sobre os recursos, gerando tensões potencialmente <strong>de</strong>sestabilizantes, ansieda<strong>de</strong> e migração,<br />

especialmente em regiões voláteis. Acredito que no futuro, a migração ambiental será um<br />

verda<strong>de</strong>iro <strong>de</strong>safio para nós. Um exemplo: digamos que no país A, a falta <strong>de</strong> água seja tal,<br />

que seus cidadãos <strong>de</strong>ci<strong>de</strong>m se mudar em massa para sobreviver. Se eles chegarem à fronteira<br />

do país B, vão parar ali, porque o país B também estará enfrentando problemas. Como<br />

vamos protegê-los? O que faremos por aqueles que virão em massa? Recentemente, quando<br />

Barcelona ficou sem água, tiveram que importá-la em navios. Outros países não têm essa<br />

opção. Eles vão se mudar e essa é uma questão na qual temos que pensar e nos antecipar.<br />

Em cenários mais sombrios, povos per<strong>de</strong>rão suas vidas; em estados localizados em pequenas<br />

ilhas, elas serão inundadas. Lembro-me <strong>de</strong> uma reunião em Genebra, on<strong>de</strong> o presi<strong>de</strong>nte das<br />

Ilhas Malvinas disse que por anos, gerações, seu povo consi<strong>de</strong>rou o mar como amigo, e hoje<br />

ele é visto como inimigo, tirando vidas, fazendo as nossas ilhas <strong>de</strong>saparecer, pois seu país foi<br />

atingido pelo tsunami. Outras pequenas ilhas foram varridas do mapa. E agora, num método<br />

<strong>de</strong> adaptação, as pessoas se concentram nas ilhas que restaram, construindo reforços contra<br />

a chuva ao seu redor.<br />

As mudanças climáticas têm profundas implicações em praticamente todos os aspectos <strong>de</strong><br />

nosso bem-estar. Da agricultura à saú<strong>de</strong>, da segurança à paz para todas as nações, e <strong>de</strong>vemos<br />

consi<strong>de</strong>rá-las as forças mais <strong>de</strong>strutivas que a humanida<strong>de</strong> está enfrentando. Os países mais<br />

industrializados têm sido os responsáveis pelo aumento da poluição e pela mudança climática<br />

e acredito que para enfrentarmos esse <strong>de</strong>safio, precisamos diminuir o efeito estufa, além <strong>de</strong><br />

nos adaptarmos. A adaptação vai permitir que mais comunida<strong>de</strong>s fiquem mais resistentes,<br />

que sejam adotadas medidas <strong>de</strong> proteção e redução dos riscos. Isso, é claro, vai custar muito<br />

dinheiro, e temos que estabelecer o conceito básico <strong>de</strong> como cobrir os custos essenciais.<br />

Primeiro, é preciso que haja justiça e moralida<strong>de</strong> nessa luta contra o meio ambiente. Aqueles<br />

que poluem <strong>de</strong>vem saber que há um custo; que partilhamos esse planeta, e eles não vão<br />

estragar tudo para todos sem pagar por isso. Parte <strong>de</strong>sses recursos <strong>de</strong>ve ser usada para ajudar<br />

os pobres, que nada têm a ver com o meio ambiente, particularmente aquelas pequenas ilhas<br />

<strong>de</strong> países pobres on<strong>de</strong> vivem 1,6 bilhão <strong>de</strong> pessoas sem acesso à eletricida<strong>de</strong>, que não estão<br />

causando nenhuma emissão e mesmo assim, serão as mais afetadas.<br />

Espero que mu<strong>de</strong>mos, que façamos uma aliança pela justiça no que diz respeito às questões<br />

climáticas. Precisamos nos guiar pelo princípio <strong>de</strong> que a poluição tem um preço, e os<br />

poluidores precisam ter condições <strong>de</strong> ajudar aqueles que nada têm a ver com ela. Temos que<br />

enten<strong>de</strong>r, também, que todos temos parcelas <strong>de</strong> responsabilida<strong>de</strong>. Aqueles que poluem mais<br />

têm que pagar mais; aqueles que têm sido responsáveis pelo aumento da poluição <strong>de</strong>vem<br />

estar prontos para prestar contas. Todos os outros <strong>de</strong>vem tomar medidas para assegurar que<br />

façamos a nossa parte, já que o clima é problema <strong>de</strong> todos.<br />

Espero que os países industrializados se unam e possam ajudar os países em <strong>de</strong>senvolvimento,<br />

transferindo-lhes tecnologia ver<strong>de</strong>, viabilizando recursos para que eles possam se adaptar ao<br />

verda<strong>de</strong>iro impacto das mudanças climáticas que já estão sentindo. Espero que possam ajudálos<br />

a plantar as sementes certas para resistir às pragas e que não precisem <strong>de</strong> muita água. Que<br />

possam proporcionar ajuda financeira a pequenos agricultores ao redor do mundo e seguros<br />

para garantir a colheita. Os pequenos agricultores são os únicos que assumem todos os riscos:<br />

eles não contam com serviços financeiros, nem seguro e também obtêm pouca ou nenhuma<br />

ajuda <strong>de</strong> seus governos. Portanto, afundam ou nadam por conta própria, uma situação terrível<br />

para se viver.<br />

Precisamos tratar da justiça. Se trabalharmos com base nessas conclusões, isso facilitará um<br />

acordo. Temos que compreen<strong>de</strong>r que estamos todos no mesmo barco. Precisamos trabalhar<br />

juntos, abordar nossos problemas <strong>de</strong> forma igual, e estou convencido <strong>de</strong> que a única resposta<br />

para este mundo dividido são nações realmente unidas. As mudanças climáticas, H<strong>IV</strong>/Aids,<br />

comércio justo, migração, direitos humanos, todas essas questões e muitas mais nos levam<br />

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<strong>de</strong> volta àquele ponto: tratar <strong>de</strong> cada um <strong>de</strong>sses problemas é indispensável a cada um <strong>de</strong><br />

nós, em nossas comunida<strong>de</strong>s, em nossa vizinhança e em nosso país. Uma questão globalizada<br />

só po<strong>de</strong> ser tratada por meio <strong>de</strong> uma ação global acordada e coor<strong>de</strong>nada no universo das<br />

instituições.<br />

O que importa, na minha opinião, é que o forte, tanto quanto o fraco, concor<strong>de</strong>m em utilizar as<br />

mesmas regras, tratando uns aos outros com o mesmo respeito. O que importa é que todos os<br />

povos aceitem a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ouvir, <strong>de</strong> se comprometer, <strong>de</strong> levar o ponto <strong>de</strong> vista do outro<br />

em consi<strong>de</strong>ração; que eles se reúnam, não com objetivos conflitantes, mas com objetivos<br />

comuns, partilhando um <strong>de</strong>stino comum. E isso só po<strong>de</strong> ser feito se as pessoas se unirem para<br />

algo que transcen<strong>de</strong> o mercado ou as regras globais. Cada um <strong>de</strong> nós <strong>de</strong>ve partilhar a dor <strong>de</strong><br />

todos os que sofrem, e a alegria daqueles que anseiam por um mundo no qual possam vier.<br />

Cada um <strong>de</strong> nós <strong>de</strong>ve confiar nos homens e mulheres, não importando sua raça, cor ou credo.<br />

Eles também precisam confiar. Este é o fundamento em que as Nações Unidas acreditam, é<br />

nisto que eu acredito, e o que os povos ao redor do mundo querem acreditar. Obrigado.<br />

50 51<br />

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N izan Guanaes, Octávio Florisbal, Angelo Franzão, Rober to Duailibi, I van Marques, Jayme Sirotsk y,<br />

52 53<br />

21 4 d0 e j0u l h8o Willy Haas, Kofi Annan, Ricardo Nahban, Dalton Pastore, Jens Olesen, Sérgio Amado, Nelson Sirotsky, Luiz Lara.


54 55<br />

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21 4 d0 e j0u l h8o


58 59<br />

21 4 d0 e j0u l h8o


60 61<br />

21 4 d0 e j0u l h8o


62 63<br />

21 4 d0 e j0u l h8o I N S T A l A ç ã O D A S


64 65<br />

21 4 d0 e j0u l h8o


1COmuNICAçãO INTEGRADA<br />

Presi<strong>de</strong>nte: Eduardo Fischer<br />

Secretário: Mentor Muniz Neto<br />

Relator: Júlio Anguita<br />

Palestrante (via conference call): Jack Myers<br />

(presi<strong>de</strong>nte da Myers Publishing LLC)<br />

Debatedores: Paulo Giovanni, Alberto Pecegueiro,<br />

Isabelle Perelmuter, Mário D’Andrea e Ulisses Zamboni<br />

66 67<br />

21 4 d0 e j0u l h8o Após produtivas reuniões <strong>de</strong> trabalho em que li<strong>de</strong>ranças<br />

representativas do mercado (agências, anunciantes,<br />

fornecedores e veículos, meios/programadores <strong>de</strong><br />

conteúdo) trocaram suas experiências, inquietações,<br />

anseios e objetivos, a Comissão <strong>de</strong> Comunicação<br />

Integrada <strong>de</strong>cidiu pautar seus trabalhos no <strong>Congresso</strong> a<br />

partir do enfoque em “Gente”.<br />

Enten<strong>de</strong>mos que a tão <strong>de</strong>sejada integração das múltiplas<br />

ferramentas da comunicação, para ser colocada em<br />

prática com eficácia, especialmente em tempos <strong>de</strong><br />

explosiva fragmentação das mídias e multiplicação<br />

dos pontos <strong>de</strong> contato entre marcas e consumidores,<br />

<strong>de</strong>pen<strong>de</strong> fundamentalmente <strong>de</strong> pessoas.<br />

São as pessoas que fazem a Comunicação Integrada<br />

acontecer.<br />

é do capital humano que <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m as i<strong>de</strong>ias criativas,<br />

o pensamento estratégico, a execução dos trabalhos, a<br />

li<strong>de</strong>rança <strong>de</strong> pessoas e <strong>de</strong> processos, o movimento das<br />

marcas. E gente só faz isso acontecer com resultados<br />

quando bem amparada por 3 pilares:<br />

1. Competência - formação e treinamento;<br />

2. Avaliação <strong>de</strong> <strong>de</strong>sempenho / métrica.<br />

3. Remuneração a<strong>de</strong>quada.<br />

Nesse contexto, a Comissão recomenda:<br />

1) a criação <strong>de</strong> uma ca<strong>de</strong>ira <strong>de</strong> Comunicação Integrada<br />

a ser adotada por todas as instituições <strong>de</strong> ensino <strong>de</strong><br />

Comunicação Social. Para isso sugerimos a formação<br />

<strong>de</strong> uma Comissão Mista constituída por Profissionais<br />

<strong>de</strong> Comunicação, Acadêmicos e Autorida<strong>de</strong>s do setor<br />

educacional, que vai <strong>de</strong>finir os critérios, padrões e<br />

diretrizes <strong>de</strong>sta disciplina, que <strong>de</strong>verá ser incluída <strong>de</strong>s<strong>de</strong><br />

o primeiro ano dos cursos regulares.<br />

2) que todo esforço <strong>de</strong> Comunicação Integrada seja<br />

precedido do estabelecimento <strong>de</strong> objetivos claros e<br />

assumidos por todas as partes, com o intuito <strong>de</strong> serem<br />

mensurados a partir <strong>de</strong> critérios préestabelecidos.<br />

3) que, sem abdicar dos critérios <strong>de</strong> remuneração<br />

já existentes, como o CENP por exemplo, mas,<br />

consi<strong>de</strong>rando que este novo mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> Comunicação<br />

<strong>de</strong>ve estimular a integração entre processos/serviços/<br />

empresas, é fundamental adotar um mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong><br />

remuneração, para os projetos <strong>de</strong> Comunicação<br />

Integrada, baseado em resultados. Estes resultados<br />

<strong>de</strong>verão ser avaliados com regras específicas para cada<br />

caso, pré<strong>de</strong>finidas pelas partes.


’OS RElACIONAmENTOS ESTãO muDANDO’,<br />

DIZ mYERS<br />

Palestrante na Comissão <strong>de</strong> Comunicação Integrada,<br />

Jack Myers diz que é preciso buscar uma conexão<br />

emocional com as pessoas.<br />

Gente: esse foi o ponto <strong>de</strong> partida dos integrantes da<br />

Comissão <strong>de</strong> Comunicação Integrada, que se reuniram<br />

no primeiro dia do <strong>IV</strong> <strong>Congresso</strong> <strong>Brasileiro</strong> <strong>de</strong> Publicida<strong>de</strong><br />

sob a presidência <strong>de</strong> Eduardo Fischer, chairman do<br />

Grupo Total. Segundo Fischer, a Comunicação Integrada<br />

é feita por pessoas e <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> do capital humano para<br />

ser enriquecida com i<strong>de</strong>ias criativas: 'E gente só faz isso<br />

acontecer quando bem amparada por competência,<br />

remuneração a<strong>de</strong>quada e avaliação <strong>de</strong> <strong>de</strong>sempenho',<br />

disse.<br />

O palestrante Jack Myers foi apresentado por Fischer<br />

como 'a mais bem-informada e mais valiosa fonte <strong>de</strong><br />

informações do segmento editorial', autor <strong>de</strong> livros que<br />

se tornaram referências no mercado <strong>de</strong> mídia, consultor<br />

<strong>de</strong> mais <strong>de</strong> 200 empresas, redator e editor <strong>de</strong> mais <strong>de</strong> 50<br />

publicações e websites empresariais.<br />

Myers falou via satélite, <strong>de</strong> Nova York, e abordou os<br />

<strong>de</strong>safios que a mídia <strong>de</strong>verá enfrentar nos próximos<br />

anos em busca <strong>de</strong> um novo mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> negócios. 'Os<br />

relacionamentos estão mudando, e em nenhum lugar<br />

tão rapidamente quanto na mídia e na publicida<strong>de</strong>, por<br />

causa do avanço na área tecnológica', disse.<br />

Segundo Myers, as agências <strong>de</strong> mídia trabalham hoje<br />

com base em mo<strong>de</strong>los criados há 50 anos, que precisam<br />

ser reformulados: 'Temos <strong>de</strong> criar novas formas <strong>de</strong><br />

fazer negócio, pois o mundo e a comunicação estâo se<br />

fragmentando'.<br />

Destacou em seguida a <strong>de</strong>cisão da <strong>Abap</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>bater<br />

comunicação integrada e as múltiplas ferramentas <strong>de</strong><br />

comunicação: 'Parabéns a vocês a vocês por enfrentarem<br />

o problema, como os Estados Unidos <strong>de</strong>veriam fazer<br />

e não fazem. O Brasil <strong>de</strong>ve usar <strong>de</strong> forma integral a<br />

oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> atuar globalmente, com foco nas<br />

pessoas, na busca <strong>de</strong> uma conexão emocional com as<br />

pessoas', acrescentou.<br />

68 69<br />

21 4 d0 e j0u l h8o


2RESPONSAbIlIDADE SOCIOAmbIENTAl<br />

DA PublICIDADE<br />

Presi<strong>de</strong>nte: Hiran Castello Branco<br />

Secretária: Rosa Alegria<br />

Relator: Francisco Socorro<br />

Palestrante: Francisco Gracioso<br />

Debatedores: Christina Carvalho Pinto,<br />

Percival Caropreso, Clóvis <strong>de</strong> Barros, Ismael Rocha,<br />

Emmanuel Publio Dias<br />

70 71<br />

21 4 d0 e j0u l h8o 1. Intensificar o trabalho voluntário <strong>de</strong> criação <strong>de</strong><br />

campanhas educacionais a favor <strong>de</strong> causas comunitárias<br />

e <strong>de</strong> utilida<strong>de</strong> pública.<br />

2. Adotar as melhores práticas <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento<br />

sustentável. Contratar consultoria técnica para<br />

diagnóstico e plano <strong>de</strong> ação <strong>de</strong> gestão sustentável<br />

dos nossos negócios. A<strong>de</strong>rir a pactos socioambientais<br />

(meioambiente, relações trabalhistas, ética, direitos<br />

humanos universais).<br />

3. Estimular nossos parceiros comerciais para também<br />

assumirem as melhores práticas <strong>de</strong> responsabilida<strong>de</strong><br />

socioambiental em seus negócios.<br />

4. Fomentar uma cultura <strong>de</strong> consumo consciente e<br />

responsável. Forjar valores e incentivar práticas.<br />

5. Apoio ao Código <strong>de</strong> ética para os Profissionais<br />

<strong>de</strong> Marketing aprovado em 1999 pela Associação<br />

Brasileira <strong>de</strong> Marketing e Negócios e Escola Superior <strong>de</strong><br />

Propaganda & Marketing.<br />

6. Criar um Grupo <strong>de</strong> Trabalho, a partir da coor<strong>de</strong>nação<br />

da ESPM, incumbido da elaboração do futuro Pacto<br />

<strong>de</strong> Responsabilida<strong>de</strong> Socioambiental da Indústria da<br />

Propaganda.


72 73<br />

21 4 d0 e j0u l h8o 3PRESTADORES DE SERVIçOS ESPECIAlIZADOS E<br />

SuA RElAçãO COm AGENCIAS E ClIENTES<br />

Presi<strong>de</strong>nte: Zezinho Mutarelli<br />

Relator: João Paulo Morello<br />

Palestrante: Washington Olivetto<br />

Debatedores: Thomas Roth, Leyla Fernan<strong>de</strong>s, Paulo<br />

Gomes e Antonio Baltazar Júnior<br />

1. Recomenda-se que, nas contratações através das<br />

mesas <strong>de</strong> compras e pools, as mesmas sempre sejam<br />

acompanhadas pelas agências <strong>de</strong> publicida<strong>de</strong> e por<br />

profissionais que tenham conhecimento e expertise<br />

sobre os trabalhos contratados, e <strong>de</strong>verão seguir as leis<br />

vigentes, as normas da Ancine e as normas dos II e III<br />

Fóruns da Produção Publicitária.<br />

2. Pleiteia-se que o relacionamento comercial entre<br />

produtores <strong>de</strong> serviços especiais e agências/anunciantes<br />

seja também regulamentado e fiscalizado pelo Cenp,<br />

que <strong>de</strong>verá conce<strong>de</strong>r aos prestadores <strong>de</strong> serviços<br />

especiais, assento no órgão diretivo da entida<strong>de</strong>;<br />

3. Recomenda-se que qualquer obra publicitária<br />

(adaptada) veiculada no Brasil fomente,<br />

obrigatoriamente, no mínimo, uma diária <strong>de</strong> filmagem<br />

que <strong>de</strong>verá ser realizada por produtora brasileira<br />

cadastrada na Ancine e uma nova trilha sonora, realizada<br />

por produtora <strong>de</strong> som brasileira. Obrigatoriamente, a<br />

adaptação <strong>de</strong>verá contemplar os aspectos <strong>de</strong> imagem e<br />

<strong>de</strong> som.<br />

4. Para as obras publicitárias importadas, recomendase<br />

o aumento real da Con<strong>de</strong>cine - Contribuição para o<br />

Desenvolvimento da Indústria Cinematográfica Nacional.<br />

5. Recomenda-se que as agências <strong>de</strong> publicida<strong>de</strong><br />

forneçam aos prestadores <strong>de</strong> serviços especializados<br />

toda informação, 'briefing' necessário e condições para<br />

a boa realização dos trabalhos, inclusive em relação<br />

a prazos. E <strong>de</strong>vem ser pagos em dia e a justo preço.<br />

Os pedidos <strong>de</strong> trabalho e/ou orçamentos <strong>de</strong>verão ser<br />

necessariamente formulados por escrito.<br />

6. Reconhece-se a titularida<strong>de</strong> dos direitos autorais<br />

e conexos das agências, produtores <strong>de</strong> serviços<br />

especializados, técnicos e atores.<br />

7. Em relação aos direitos das produtoras <strong>de</strong> imagem,<br />

<strong>de</strong> som, dos fotógrafos e elenco, recomenda-se que<br />

sejam negociados e remunerados pelo prazo inicial <strong>de</strong><br />

até 180 dias.<br />

8. Não será admitido pedido <strong>de</strong> orçamento ou qualquer<br />

outra solicitação <strong>de</strong> serviços que exclua direitos das<br />

agências e dos prestadores <strong>de</strong> serviços especializados;<br />

9. Recomenda-se que os direitos emergentes das trilhas<br />

sonoras sejam também pagos em <strong>de</strong>corrência <strong>de</strong><br />

execução pública, por número <strong>de</strong> inserções, e que sejam<br />

recolhidos através das socieda<strong>de</strong>s arrecadadoras nos<br />

termos da lei autoral.<br />

10. Recomenda-se que os litígios <strong>de</strong>correntes da relação<br />

comercial entre os 'players' da indústria da comunicação<br />

sejam levados a Câmara Nacional <strong>de</strong> Arbitragem na<br />

Comunicação, para <strong>de</strong>cisão<br />

11. Recomenda-se que se atue junto ao po<strong>de</strong>r legislativo,<br />

bem como à agências reguladoras, inclusive Ancine,<br />

para que as normas legais que digam respeito, <strong>de</strong> forma<br />

direta ou indireta, à ativida<strong>de</strong> publicitária, sejam revistas<br />

e aprimoradas, <strong>de</strong> forma a:<br />

a. Incentivar a produção nacional, incrementar o<br />

trabalho criativo e <strong>de</strong> produção especializada.<br />

c. Reduzir encargos fiscais, tributários e sociais relativos<br />

à prestação <strong>de</strong> serviços publicitários <strong>de</strong> forma geral,<br />

à contratação <strong>de</strong> profissionais especializados, à<br />

importação <strong>de</strong> equipamentos <strong>de</strong>stinados à produção<br />

cinematográfica, fotográfica e <strong>de</strong> som.<br />

A pedido do plenário, foi retirada da proposta a<br />

recomendação da letra 'b' do item 11, que havia sido<br />

aprovada pela Comissão: 'Impedir ou restringir que obras<br />

publicitárias <strong>de</strong>stinadas à veiculação no Brasil sejam<br />

criadas e/ou produzidas no exterior'.


74 75<br />

21 4 d0 e j0u l h8o 4mARKETING PROmOCIONAl<br />

Presi<strong>de</strong>nte; João Carlos Zicard<br />

Secretário: Gaspar Brandão<br />

Relator: Elsa Tsumori<br />

Palestrante: Eugene Lee<br />

Debatedores: Cristina Paslar, Gilberto Strunck, Marcelo<br />

Heidrich, Fernando Figueiredo, Geraldo Rocha Azevedo e<br />

José Victor Oliva<br />

1. Certificação por competência: a Ampro consi<strong>de</strong>ra <strong>de</strong><br />

fundamental importância oferecer ao mercado, uma<br />

chancela aceita pelos anunciantes e as agências <strong>de</strong><br />

marketing promocional sobre a competência na sua área<br />

<strong>de</strong> atuação, e que a sua legitimida<strong>de</strong> seja conseguida<br />

através da observância rigorosa aos padrões <strong>de</strong> ética e<br />

qualida<strong>de</strong> (criativa e execução). Essa certificação básica<br />

envolve promoção e merchandising, marketing <strong>de</strong><br />

incentivo, marketing <strong>de</strong> relacionamento e fi<strong>de</strong>lida<strong>de</strong>,<br />

evento e web promotions.<br />

2. Padrão <strong>de</strong> remuneração: um bom planejamento<br />

e uma i<strong>de</strong>ia bem executada gera benefícios <strong>de</strong><br />

venda e imagem ao cliente. E a agência <strong>de</strong>ve ser<br />

proporcionalmente bem remunerada pelo seu trabalho.<br />

A proposta é obter um padrão <strong>de</strong> remuneração que<br />

<strong>de</strong>ve partir <strong>de</strong> 15% sobre o investimento do anunciante<br />

no projeto. Porém, o success fee <strong>de</strong>ve ser instituído,<br />

quando a agência for completamente envolvida nos<br />

processos e será peça fundamental para o sucesso ou<br />

fracasso <strong>de</strong> uma ação (consultar também a Tabela <strong>de</strong><br />

Preço Referencial da Ampro).<br />

3. Concorrência: concorrências <strong>de</strong>vem ser estabelecidas<br />

para criar relacionamentos duradouro entre agência e<br />

cliente. Isso representará <strong>de</strong>dicação e profundida<strong>de</strong> no<br />

planejamento. E, para que esse processo seja legítimo e<br />

saudável para ambas as partes, estabeleceremos alguns<br />

pontos como padrão <strong>de</strong> concorrência (consultar as<br />

Recomendações sobre Relacionamento da Ampro).<br />

4. Direito autoral: a i<strong>de</strong>ia criada e planejada pela agência<br />

é sua por direito e <strong>de</strong>ve ser reconhecido pelo mercado.<br />

Em todo processo <strong>de</strong> briefing, ao apresentar a proposta<br />

ao cliente, <strong>de</strong>ve ser assinado por ambas as partes um<br />

documento <strong>de</strong>nominado 'Protocolo <strong>de</strong> Criação', on<strong>de</strong><br />

consta a <strong>de</strong>scrição do que foi apresentado, que garante<br />

à agência a reserva <strong>de</strong> direitos autorais e intelectuais<br />

daquilo que foi apresentado.


5lICITAçõES PúblICAS E<br />

CONCORRêNCIAS PR<strong>IV</strong>ADAS<br />

Presi<strong>de</strong>nte: Roberto Vieira da Costa<br />

Secretária: Célia Maria Fiasco<br />

Relator: Alberto Cavalcanti<br />

Palestrante: Delcídio Amaral<br />

Deebatedores: Otoni Fernan<strong>de</strong>s, Geraldo Alonso,<br />

Sérgio Guerreiro e Izael Sinem<br />

76 77<br />

21 4 d0 e j0u l h8o 1. Propõe a aprovação <strong>de</strong> manifestação formal do<br />

<strong>IV</strong> <strong>Congresso</strong> <strong>Brasileiro</strong> <strong>de</strong> Publicida<strong>de</strong>, <strong>de</strong> apoio<br />

ao Projeto <strong>de</strong> Lei nº 3305, <strong>de</strong> 2008, <strong>de</strong> autoria do<br />

<strong>de</strong>putado José Eduardo Cardozo.<br />

2. Respeitando-se os diversos códigos <strong>de</strong> ética<br />

e condutas vigentes nas suas respectivas áreas<br />

<strong>de</strong> atuação, associações e entida<strong>de</strong>s, propõe a<br />

consolidação <strong>de</strong> um único e amplo Conselho<br />

<strong>de</strong> ética para toda a ca<strong>de</strong>ia da comunicação<br />

publicitária – à semelhança do que foi instituído<br />

no âmbito da <strong>Abap</strong> – como instância capaz<br />

<strong>de</strong> dirimir conflitos <strong>de</strong> natureza concorrencial,<br />

respeitando-se obviamente as normas, regras<br />

e especificida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> cada setor, bem como os<br />

respectivos códigos <strong>de</strong> ética, se existentes. E, por<br />

fim, que esse Conselho <strong>de</strong> ética, venha a fazer<br />

parte integrante do Cenp.<br />

3. Desincentivar a prática do “alinhamento” e<br />

recomendar às empresas multinacionais que<br />

abram oportunida<strong>de</strong>s em suas contas publicitárias<br />

também para as agências <strong>de</strong> capital nacional.<br />

4. Recomendar às agências que não participem <strong>de</strong><br />

concorrências privadas não remuneradas.<br />

5. Recomendar aos anunciantes que não peçam<br />

sugestões grátis às agências, mesmo que algumas<br />

se proponham a fazê-lo.<br />

6. Orientação aos governos, nas esferas fe<strong>de</strong>ral,<br />

estadual e municipal, para que exijam <strong>de</strong> todos<br />

os participantes <strong>de</strong> concorrências públicas<br />

a comprovação <strong>de</strong> que <strong>de</strong> fato compram as<br />

pesquisas a que dizem ter acesso.<br />

7. Recomendar, nas concorrências privadas<br />

<strong>de</strong> fornecedores <strong>de</strong> serviços <strong>de</strong> comunicação<br />

publicitária, que:<br />

a) sejam convidadas no máximo 5 (cinco)<br />

empresas para apresentarem propostas;<br />

b) o briefing fornecido seja simples e focado,<br />

contendo: b1) o que se espera especificamente da<br />

empresa (serviços, abrangência, etc.); b2) critérios<br />

<strong>de</strong> avaliação claros, justos e transparentes; b3)<br />

verba disponível;<br />

c) a <strong>de</strong>finição dos critérios <strong>de</strong> remuneração seja<br />

feita no início do processo;<br />

d) prevaleça o julgamento técnico e profissional<br />

das propostas;<br />

e) a escolha seja feita em resposta específica<br />

ao briefing, <strong>de</strong>sconsi<strong>de</strong>rando apresentações<br />

“espetaculosas” e fora do contexto solicitado;<br />

f ) caso o cliente <strong>de</strong>cida solicitar campanhas<br />

especulativas, recomenda-se o estabelecimento<br />

prévio <strong>de</strong> remuneração para os per<strong>de</strong>dores;<br />

g) haja total respeito aos direitos autorais e regras<br />

para remuneração <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ias apresentadas e<br />

posteriormente utilizadas, no caso dos per<strong>de</strong>dores.


78<br />

<strong>de</strong><br />

21 4 d0 e j0u l h8o


80 81<br />

21 4 d0 e j0u l h8o Às 20h00 tem início o jantar <strong>de</strong> abertura do <strong>IV</strong> <strong>Congresso</strong>, com a<br />

presença <strong>de</strong> mais <strong>de</strong> mil pessoas, tendo como anfitrião o presi<strong>de</strong>nte<br />

do Grupo Ban<strong>de</strong>irantes, Johnny Saad.


82 83<br />

21 4 d0 e j0u l h8o A fRENTE PARlAmENTAR DA COmuNICAçãO SOCIAl<br />

Ainda durante o jantar <strong>de</strong> abertura, o mercado foi informado do<br />

lançamento da Frente Parlamentar da Comunicação Social, em<br />

pronunciamento do <strong>de</strong>putado fe<strong>de</strong>ral Milton Monti. O grupo, que<br />

reúne 198 <strong>de</strong>putados fe<strong>de</strong>rais e 38 senadores <strong>de</strong> 17 partidos políticos,<br />

tem como missão o estudo e a <strong>de</strong>fesa da comunicação social. Trata-se<br />

<strong>de</strong> uma resposta às inúmeras iniciativas do governo e das agências<br />

reguladoras <strong>de</strong> impor restrições à publicida<strong>de</strong>. Segundo Monti,<br />

“a Constituição <strong>de</strong>fine que <strong>de</strong>terminados produtos, como álcool,<br />

tabaco e medicamentos, tenham cuidados especiais em sua<br />

divulgação, mas precisamos garantir que ela continue cumprindo<br />

seu outro papel, <strong>de</strong> garantia da liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> expressão”.


DISCuRSO DE JOãO CARlOS SAAD<br />

Boa noite, sejam muito bem-vindos. Obrigado por estarem conosco nesta noite mágica<br />

e especial. é uma alegria estarmos juntos após incríveis trinta anos. Não <strong>de</strong>veríamos mais<br />

<strong>de</strong>ixar que essa <strong>de</strong>mora volte a acontecer. O timoneiro <strong>de</strong>ste evento, Dalton Pastore, teve<br />

muita coragem e persistência, muita garra, para que todos nós estivéssemos aqui hoje,<br />

para que Kofi Annan viesse <strong>de</strong> longe fazer essa palestra importante e brilhante.<br />

Vamos tratar o nosso setor com a mesma importância e periodicida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma Copa do<br />

Mundo. A cada quatro anos, acho que <strong>de</strong>veríamos nos unir, para que as mentes brilhantes<br />

<strong>de</strong>sse setor possam discutir, questionar, avaliar e lutar por nosso setor e dignificar<br />

nossa profissão. Uma sugestão: em 2012, façamos o V <strong>Congresso</strong> <strong>de</strong> Comunicação e<br />

Publicida<strong>de</strong>.<br />

Falarei sobre a revolução que o Brasil vem atravessando, com a ascensão das classes C, D<br />

e E, pois acho que isso altera profundamente a vida dos anunciantes, das agências, dos<br />

veículos. é um fenômeno sobre o qual todos temos que saber mais, do qual <strong>de</strong>vemos<br />

cuidar mais. Essa é a maravilhosa revolução que vem acontecendo em nosso país. é uma<br />

revolução fantástica <strong>de</strong> novos mercados e <strong>de</strong> pessoas que estão se incorporando a ele. Elas<br />

não querem somente bens e serviços, eletrodomésticos, mas <strong>de</strong>sejam participar, discutir,<br />

e não vão continuar a ser emergentes, nem voltar para on<strong>de</strong> estavam. Elas querem evoluir.<br />

Temos uma avenida enorme; falta acreditarmos mais em nós mesmos.<br />

Outro ponto é a conquista do Oeste, do Noroeste. Estamos começando a olhar para cima,<br />

para a Amazônia verda<strong>de</strong>ira e legal. Já temos aí uma gran<strong>de</strong> confusão. Eu tenho visto muita<br />

informação errada na mídia, inclusive na nossa. Conversei com o ministro da Agricultura,<br />

que gravou um programa que vai ao ar no próximo domingo. Solicitei, num encontro<br />

que tive com ele há pouco tempo, que fizesse um mapa com todas as proteções que<br />

fizemos ao longo das últimas décadas. Temos quase 95% <strong>de</strong>sta região protegida, ou seja,<br />

cometemos uma insanida<strong>de</strong>. Nós po<strong>de</strong>mos explorar menos <strong>de</strong> 6% <strong>de</strong> toda região Norte<br />

e Noroeste do Brasil. Houve um exagero. é preciso que voltemos a colocar isso na pauta<br />

e nas discussões. A confiança em nós mesmos é fundamental. Se tivermos confiança no<br />

Brasil, como sempre tivemos, voltaremos a fabricar navios, a exportar, e não seremos mais<br />

importadores.<br />

Essa é nossa vocação <strong>de</strong> superpotência, <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> nação, que joga em dois oceanos —<br />

com a Ásia, com o Atlântico, com o Pacífico. E é preciso que nós, brasileiros, acreditemos<br />

nisso, porque os empreen<strong>de</strong>dores farão essa revolução.<br />

Fiquei feliz ao ouvir sobre a Frente Parlamentar. Tenho visto muita coisa contra a liberda<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> expressão, a liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> anunciar, <strong>de</strong> empreen<strong>de</strong>r, com pseudo<strong>de</strong>mocratas que<br />

querem nos tutelar, dizer, como se fôssemos imbecis, o que <strong>de</strong>vemos ou não fazer, o que<br />

<strong>de</strong>vemos ou não comer, sem a humilda<strong>de</strong> <strong>de</strong> perguntar. Cabe a todo este grupo brilhante<br />

que aqui está, lutar verda<strong>de</strong>iramente por isso. E quando ocorrer algo errado, que afete o<br />

setor, que impeça a <strong>de</strong>mocracia, a liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> expressão, <strong>de</strong> anunciar (como tenho visto<br />

seguidamente), acho que não <strong>de</strong>vemos mais aceitar; <strong>de</strong>vemos lutar legitimamente, como<br />

se luta em um regime <strong>de</strong>mocrático.<br />

Estou muito feliz com as presenças do senador e ex-governador Alvaro Dias, <strong>de</strong> Delcídio<br />

Amaral e do <strong>de</strong>putado Milton Monti. Começa a se constituir uma frente para reverter<br />

esse quadro, para que voltemos a po<strong>de</strong>r divulgar isso. Brigamos entre nós e sabemos<br />

fazer autoregulamentação; sabemos cuidar das pessoas. Se não soubermos fazê-lo, nossos<br />

veículos e anunciantes não ven<strong>de</strong>m, não têm audiência, nossas agências não produzem<br />

suas peças. O que fazemos está baseado em pesquisa, em estudos profundos. Investe-se<br />

muito dinheiro nisso, para permitir que uma lei sem discussão suficiente afete todo o<br />

setor. Devemos ficar atentos a isso.<br />

Hoje não é um dia para reclamar, mas para comemorar. Juntos, os publicitários,<br />

anunciantes e veículos formam uma força muito po<strong>de</strong>rosa e jamais serão vencidos. Viva<br />

todos vocês, profissionais <strong>de</strong> comunicação e publicida<strong>de</strong>! Em nome da família Saad, do<br />

Grupo Ban<strong>de</strong>irantes, quero agra<strong>de</strong>cer a presença <strong>de</strong> vocês, e antes <strong>de</strong> encerrar, gostaria<br />

<strong>de</strong> chamar o Luiz Lara e o Sérgio Amado, que prepararam uma pequena modinha, que<br />

vamos cantar.<br />

Vou passar a palavra a a estes dois generais que, junto com o Dalton Pastore, lutaram para<br />

que este evento acontecesse. Dando os parabéns a eles, darei também a todos vocês, que<br />

lutaram por isso. Também quero agra<strong>de</strong>cer à Renata Fan, que além <strong>de</strong> ser nossa ex-Miss<br />

Brasil é advogada, jornalista e enten<strong>de</strong> muito <strong>de</strong> esporte. Renata, muito obrigado por sua<br />

apresentação e por seus elogios.<br />

84 85<br />

21 4 d0 e j0u l h8o


21 5 d0 e j0u l h8o A DEFESA<br />

DA<br />

LIBERDADE<br />

NA VOZ<br />

DE LÍDERES<br />

RObERTO C<strong>IV</strong>ITA<br />

JOãO RObERTO mARINHO<br />

JuDITH mIllER<br />

86 87


Ci<br />

v<br />

ti a<br />

88 89<br />

21 5 d0 e j0u l h8o


é uma honra e uma imensa satisfação participar <strong>de</strong>ste <strong>IV</strong> <strong>Congresso</strong> <strong>Brasileiro</strong> <strong>de</strong> Publicida<strong>de</strong>, reencontrando<br />

tantos amigos; eu estive presente nos quatro. A imaginação e a competência dos múltiplos<br />

talentos aqui presentes têm garantido para a propaganda brasileira o respeito e o reconhecimento<br />

do mundo inteiro. Acredito ser esta uma oportunida<strong>de</strong> única para refletirmos sobre algumas questões<br />

que são a essência <strong>de</strong> tudo o que fazemos, não apenas como profissionais do mundo da comunicação,<br />

mas também como cidadãos responsáveis. São reflexões sobre a <strong>de</strong>mocracia, a liberda<strong>de</strong> e<br />

a livre-iniciativa; sobre a liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> imprensa e da publicida<strong>de</strong>; sobre a interligação entre todas elas,<br />

seus limites, as ameaças que sofrem e a responsabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> cada um <strong>de</strong> nós nesse processo.<br />

A <strong>de</strong>mocracia implica no direito <strong>de</strong> escolher os governantes sem coação, no predomínio da vonta<strong>de</strong><br />

da maioria, na <strong>de</strong>fesa da diversida<strong>de</strong>, dos direitos das minorias e do respeito à dignida<strong>de</strong> humana. Ela<br />

garante a liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> ir e vir, pensar, falar, opinar, concordar e discordar, fazer e não fazer, comprar e<br />

ven<strong>de</strong>r, e tomar <strong>de</strong>cisões a respeito do <strong>de</strong>stino individual.<br />

A liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> manifestação do pensamento, além <strong>de</strong> se constituir num direito natural do homem,<br />

é o pressuposto básico <strong>de</strong> todas as <strong>de</strong>mais liberda<strong>de</strong>s: política, religiosa, econômica, <strong>de</strong> imprensa, <strong>de</strong><br />

associação e todas as outras. Quando alguém começa a exercer uma <strong>de</strong>ssas liberda<strong>de</strong>s, torna-se cada<br />

vez mais difícil negar-lhe as outras. Como disse há muitos anos o gran<strong>de</strong> publicitário norte-americano<br />

Bruce Barton: “O direito do povo <strong>de</strong> escolher livremente seus alimentos, roupas, livros e casas é a<br />

própria essência da <strong>de</strong>mocracia. Não é por aci<strong>de</strong>nte que, no regime totalitário, não há propaganda<br />

comercial. Des<strong>de</strong> o momento em que se permite ao povo escolher livremente a qualida<strong>de</strong>, o estilo e<br />

o tipo <strong>de</strong> artigos que cercam sua vida, não se po<strong>de</strong> mais impedi-lo, permanentemente, <strong>de</strong> caminhar<br />

para o supremo objetivo, que é a escolha dos seus governantes e do seu regime <strong>de</strong> vida”.<br />

Para exercer e manter esses direitos, é condição indispensável que a informação também seja livre,<br />

como, aliás, garante a nossa Constituição. Precisamos lembrar, entretanto, que a livre manifestação<br />

do pensamento e sua corolária, a liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> imprensa, não constituem um fim em si mesmas, mas<br />

sim um meio imprescindível para garantir a sobrevivência <strong>de</strong> uma socieda<strong>de</strong> livre e <strong>de</strong>mocrática.<br />

é igualmente fundamental levar em conta que a livre-iniciativa, associada a um bom sistema educacional,<br />

é a fonte principal da geração <strong>de</strong> riquezas e progresso <strong>de</strong> qualquer país no mundo <strong>de</strong> hoje.<br />

E a publicida<strong>de</strong>, parte integrante e essencial das economias livres, ajuda a incentivar a inovação, estimular<br />

a concorrência, ampliar mercados e gerar empregos, alargando assim os horizontes e o futuro<br />

das nações.<br />

Como já afirmei inúmeras vezes, existe uma indissolúvel inter<strong>de</strong>pendência entre <strong>de</strong>mocracia, liberda<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> imprensa e livre-iniciativa, o conhecido tripé que envolve uma das mais extraordinárias<br />

simbioses do mundo mo<strong>de</strong>rno. Não custa lembrar que a <strong>de</strong>mocracia e a liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m, para<br />

se manter, das informações e da fiscalização que somente uma gama diversificada <strong>de</strong> veículos in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes<br />

po<strong>de</strong> assegurar. Por sua vez, os meios <strong>de</strong> comunicação não subsistiriam sem a publicida-<br />

<strong>de</strong>, que não existiria se não houvesse competição, que não teríamos sem um sistema <strong>de</strong> mercado<br />

livre, que <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> — fechando esse circulo virtuoso e admirável — da <strong>de</strong>mocracia e da liberda<strong>de</strong><br />

para garanti-lo.<br />

Assim, a publicida<strong>de</strong> é um dos pilares da imprensa livre e in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte; sem ela, seria impossível<br />

manter a quantida<strong>de</strong> e o pluralismo dos meios <strong>de</strong> informação que divulgam i<strong>de</strong>ias, <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>m pontos<br />

<strong>de</strong> vista diferentes, <strong>de</strong>nunciam a corrupção, estimulam o <strong>de</strong>bate político e assim se tornam, nas<br />

palavras <strong>de</strong> Ruy Barbosa, “as vistas da nação”. Sem publicida<strong>de</strong>, repito, não existiria uma imprensa<br />

vigorosa, uma imprensa que — sabemos todos, e os ditadores mais do que nós — é o alicerce do<br />

primado da lei e <strong>de</strong> uma socieda<strong>de</strong> aberta.<br />

O principal compromisso dos meios <strong>de</strong> comunicação não é com o governo, políticos, anunciantes,<br />

amigos e nem com seus acionistas, mas sim com seus diferentes públicos: seus leitores, telespectadores,<br />

ouvintes e internautas. E com a verda<strong>de</strong>. é obrigação do jornalista verificar os fatos, ser responsável,<br />

zelar pela ética, procurar manter a isenção. E, sempre, fazer o melhor do que é capaz.<br />

Quem “elegeu” os meios <strong>de</strong> comunicação, quem lhes outorgou o direito <strong>de</strong> informar, criticar, opinar,<br />

investigar, <strong>de</strong>nunciar, divertir e servir? De um lado, ninguém os elegeu, da mesma maneira que<br />

ninguém elege a igreja em que rezamos, a universida<strong>de</strong> em que estudamos ou o supermercado<br />

on<strong>de</strong> nos abastecemos. Do outro lado, todos os elegem a cada instante; a imprensa não é um po<strong>de</strong>r<br />

estruturado, erigido institucionalmente. O mercado livre, este sim, é a fábrica das eleições, usina<br />

permanente <strong>de</strong> opções. O mercado aberto e sem constrangimentos gera uma multiplicida<strong>de</strong> <strong>de</strong> estímulos<br />

e <strong>de</strong>mandas, que levam à concorrência interna e constantemente renovada. Esta é a eleição<br />

permanente, dia a dia, programa por programa, edição por edição <strong>de</strong> cada jornal, revista, canal <strong>de</strong><br />

TV, emissora <strong>de</strong> rádio.<br />

é também fundamental lembrar que a imprensa não é mais o único meio <strong>de</strong> acesso à informação.<br />

Com a chegada da internet, da digitalização <strong>de</strong> todos os conteúdos e da telefonia celular, a multiplicação<br />

e a pulverização dos meios <strong>de</strong> comunicação mudaram tudo e tornaram virtualmente impossível,<br />

felizmente, regular ou controlar a disseminação da informação e da propaganda.<br />

Apesar disso, por mais estranho que possa parecer, continuam surgindo ameaças às liberda<strong>de</strong>s conquistadas<br />

e garantidas pela Constituição. Um exemplo é o excesso <strong>de</strong> legislação que o <strong>Congresso</strong><br />

Nacional tenta impor à publicida<strong>de</strong>. Tramitam hoje mais <strong>de</strong> 200 proposições para introduzir travas<br />

on<strong>de</strong> não <strong>de</strong>veriam existir. São projetos que, <strong>de</strong> diferentes maneiras, buscam estabelecer restrições<br />

crescentemente mais rigorosas à liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> expressão comercial. Atenção, por favor: não são restrições<br />

à produção, distribuição, consumo ou mesmo à extração da carga tributária adicional <strong>de</strong> uma<br />

<strong>de</strong>terminada lista <strong>de</strong> produtos. Trata-se apenas <strong>de</strong> impedir que se faça publicida<strong>de</strong> <strong>de</strong>sses produtos<br />

fabricados, comercializados e consumidos legalmente, como se, sem a publicida<strong>de</strong>, o problema percebido<br />

<strong>de</strong>ixasse <strong>de</strong> existir.<br />

90 91<br />

21 5 d0 e j0u l h8o


Evi<strong>de</strong>ntemente, não <strong>de</strong>vemos, a priori, con<strong>de</strong>nar toda e qualquer restrição à publicida<strong>de</strong>, nem equacioná-la<br />

com tentativas <strong>de</strong> limitar a liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> imprensa. Há restrições à publicida<strong>de</strong> que fazem<br />

sentido, como aquela referente à propaganda <strong>de</strong> cigarros adotada em praticamente todos os países<br />

<strong>de</strong>senvolvidos. A própria Constituição estabelece que é da alçada das leis fe<strong>de</strong>rais impor eventuais<br />

restrições — e não proibições — à propaganda comercial <strong>de</strong> tabaco, bebidas alcoólicas, agrotóxicos,<br />

medicamentos e terapias.<br />

Mas não se po<strong>de</strong> admitir que o <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> proteger as pessoas contra si mesmas, ou <strong>de</strong> sanear todos<br />

os males da socieda<strong>de</strong> com novas leis, leve a absurdos como o da Anvisa ter <strong>de</strong>cidido, por conta<br />

própria, legislar sobre a publicida<strong>de</strong> <strong>de</strong> bebidas alcoólicas e <strong>de</strong> medicamentos. O conteúdo <strong>de</strong> suas<br />

propostas é igualmente preocupante; basta dizer que o regulamento da Anvisa preten<strong>de</strong> agir sobre<br />

“a propaganda, publicida<strong>de</strong>, informação e outras práticas” a respeito <strong>de</strong> alimentos com quantida<strong>de</strong>s<br />

elevadas <strong>de</strong> açúcar, gorduras saturadas, gordura trans, etc. Outro regulamento se refere à propaganda<br />

e informação sobre medicamentos, “quaisquer que sejam as formas e meios <strong>de</strong> sua veiculação”.<br />

Ou seja, temos aqui embutidas tanto a limitação da publicida<strong>de</strong> como da informação. Isso significa<br />

que Veja teria que submeter previamente à Anvisa uma reportagem sobre o Viagra ou a Coca-Cola?<br />

Certamente, ninguém <strong>de</strong>u esses po<strong>de</strong>res à agência regulatória em questão.<br />

Outros projetos <strong>de</strong> lei empenhados na <strong>de</strong>fesa da língua portuguesa propõem que toda palavra em<br />

língua estrangeira venha acompanhada da expressão em português, tanto na mídia como na publicida<strong>de</strong>.<br />

Teríamos <strong>de</strong> estar preparados, portanto, para explicar palavras como software, marketing ou<br />

até sayonara cada vez que fossem mencionadas.<br />

Há ainda projetos que proíbem a publicida<strong>de</strong> em telefone celular, <strong>de</strong> produtos infantis e até anúncios<br />

que vêm do exterior, mesmo traduzidos. Para não cansar, há um longuíssimo et cetera.<br />

Precisamos, portanto, <strong>de</strong> uma maneira melhor para encontrar o equilíbrio necessário entre a liberda<strong>de</strong><br />

absoluta e a vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> proteger todos contra tudo. Isso exige bom-senso e responsabilida<strong>de</strong>.<br />

Para mim, a melhor resposta que já encontramos nessa frente espinhosa é aquela do Conar. O Conselho<br />

<strong>de</strong> Autoregulamentação Publicitária já nos dá, há trinta anos, uma esplêndida <strong>de</strong>monstração<br />

<strong>de</strong> que os publicitários, veículos, anunciantes e, finalmente, o cidadão, têm juízo. A autorregulação<br />

publicitária é um <strong>de</strong>sses casos on<strong>de</strong> há o triunfo da cultura da boa-fé, que po<strong>de</strong>ria ser apresentada<br />

como um brilhante exemplo <strong>de</strong> convivência pacífica e <strong>de</strong>mocrática <strong>de</strong> interlocutores que, ao enfrentarem<br />

problemas comuns ou terem interesses conflitantes, sentam à volta <strong>de</strong> uma mesa e resolvem<br />

suas pendências, em benefício <strong>de</strong> todos e da comunida<strong>de</strong>.<br />

é um prece<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> na gestão <strong>de</strong> conflitos socialmente relevantes que funciona muito<br />

bem há algumas décadas. Por que, afinal, <strong>de</strong>veríamos trocar isso por algumas leis a mais? Como o<br />

país ficaria melhor com isso? Como os cidadãos em geral e os grupos <strong>de</strong> risco em particular — cujos<br />

interesses são frequentemente invocados — teriam qualquer garantia adicional que nossa experiên-<br />

92 93<br />

21 5 d0 e j0u l h8o cia do Conar já não lhes dê? São perguntas incômodas que merecem respostas pon<strong>de</strong>radas.<br />

Como disse a respeito da mídia, o exercício da liberda<strong>de</strong> na publicida<strong>de</strong> pressupõe o reconhecimento<br />

da sua responsabilida<strong>de</strong> para com a socieda<strong>de</strong>: quanto mais <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>mos a liberda<strong>de</strong> — e temos<br />

que ser veementes nessa <strong>de</strong>fesa —, maior o compromisso <strong>de</strong> sermos responsáveis.<br />

Felizmente, a gran<strong>de</strong> maioria dos meios <strong>de</strong> comunicação, dos anunciantes e das agências brasileiras<br />

vêm dando <strong>de</strong>monstrações crescentes e repetidas <strong>de</strong> que não apenas sabem disso, como também<br />

o praticam no seu dia a dia.<br />

Numa socieda<strong>de</strong> que ainda guarda na memória os tempos negros da ditadura e da censura, o futuro<br />

<strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>de</strong> que o exercício <strong>de</strong>ssas liberda<strong>de</strong>s por todos nós, como jornalistas, publicitários, homens<br />

<strong>de</strong> comunicação, leitores, eleitores e cidadãos, seja dosado pelo bom senso, pelo autocontrole<br />

e, principalmente, pela responsabilida<strong>de</strong>, ainda que isto custe — sobretudo se custar, como dizia<br />

Beuve-Méry, fundador do Le Mon<strong>de</strong>. Só assim será reforçado esse círculo virtuoso da <strong>de</strong>mocracia,<br />

da livre-iniciativa e da liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> imprensa, fundamental para o país melhor com que todos nós<br />

sonhamos. Muito obrigado.


João<br />

Roberto<br />

Marinho<br />

94 95<br />

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Boa tar<strong>de</strong>. Agra<strong>de</strong>ço pela oportunida<strong>de</strong> e gran<strong>de</strong> honra à organização <strong>de</strong>ste <strong>Congresso</strong> e às empresas<br />

que apoiaram sua realização. O <strong>Congresso</strong> é um sucesso: basta olhar para esta sala.<br />

Pela manhã o Roberto Civita disse que um país mo<strong>de</strong>rno se <strong>de</strong>senvolve com <strong>de</strong>mocracia, liberda<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> expressão e livre-iniciativa. Estes são temas que <strong>de</strong>vem estar sempre presentes.<br />

Hoje falarei sobre a <strong>de</strong>mocracia e a liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> expressão. Des<strong>de</strong> a revolução francesa <strong>de</strong> 1789, com<br />

a <strong>de</strong>claração dos direitos do homem, a liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> expressão está consagrada. Dizia aquele documento<br />

<strong>de</strong> importância histórica incalculável, em seu artigo onze: “A livre comunicação das idéias e<br />

das opiniões é um dos mais preciosos direitos do homem. Todo cidadão po<strong>de</strong>, portanto, falar, escrever,<br />

imprimir livremente, respon<strong>de</strong>ndo, todavia, pelos abusos <strong>de</strong>ssa liberda<strong>de</strong> nos termos previstos<br />

na lei”.<br />

Em 1948, a Declaração Universal dos Direitos do Homem da ONU dava nova redação ao tema: “Toda<br />

pessoa tem direito à liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> opinião e <strong>de</strong> expressão; esse direito inclui a liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong>, sem<br />

interferências, ter opiniões e receber e transmitir informações e idéias por quaisquer meios, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente<br />

<strong>de</strong> fronteiras”. Aqui já havia um conceito novo: além <strong>de</strong> se expressar, todo cidadão tem<br />

o direito <strong>de</strong> receber informações e i<strong>de</strong>ias.<br />

Em 1994, a Declaração <strong>de</strong> Chapultepec, da qual o Brasil é signatário, foi mais simples, mas não menos<br />

verda<strong>de</strong>ira. “Não há pessoas nem socieda<strong>de</strong>s livres sem a liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> expressão e <strong>de</strong> imprensa”. Esse<br />

pensamento clássico <strong>de</strong>ixou raízes em todos nós.<br />

A Constituição <strong>de</strong> 88 estabelece amplas garantias à liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> expressão em vários momentos.<br />

Cito aqui as mais eloquentes: inciso 9º do artigo 5: “é livre a expressão da ativida<strong>de</strong> intelectual artística,<br />

científica e <strong>de</strong> comunicação, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente <strong>de</strong> censura ou licença”; e o inciso 2º do artigo<br />

220, o capítulo da comunicação social: “é vedada toda e qualquer censura <strong>de</strong> natureza política, i<strong>de</strong>ológica<br />

e artística” (está na nossa Constituição).<br />

O presi<strong>de</strong>nte Lula, no <strong>Congresso</strong> da Associação Nacional dos Jornais, em 2006, foi muito feliz quando<br />

disse: “sou comprometido com a liberda<strong>de</strong> em todas as suas dimensões essenciais; com a liberda<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> expressão em seu sentido mais amplo (cultural), e em particular com a liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> imprensa,<br />

essa ferramenta que ajudou a criar, manter e aperfeiçoar a <strong>de</strong>mocracia mo<strong>de</strong>rna em que vivemos”.<br />

Apesar disso, hoje em dia temos visto muitas tentativas <strong>de</strong> relativizar a liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> expressão. Quando<br />

não vêm <strong>de</strong> segmentos francamente anti<strong>de</strong>mocráticos, essas iniciativas po<strong>de</strong>m ser explicadas por<br />

uma propensão a ver o cidadão como alguém que necessita <strong>de</strong> tutela, incapaz <strong>de</strong> discernir entre o<br />

bem e o mal, entre o certo e o errado, entre o ético e o sem escrúpulo.<br />

O <strong>de</strong>mocrata <strong>de</strong>ve ter a convicção <strong>de</strong> que, do mais humil<strong>de</strong> ao mais culto dos homens, cada indivíduo<br />

é perfeitamente capaz <strong>de</strong> guiar sua vida, e assim <strong>de</strong>ve ser compreendido e respeitado. Todos<br />

somos aptos a fazer escolhas no campo pessoal, político ou social; isso não quer dizer que façamos<br />

sempre a melhor escolha. Quanto mais livremente os cidadãos pu<strong>de</strong>rem se expressar e ter acesso à<br />

informação, mais chances terão <strong>de</strong> acertar. é exatamente o exercício da liberda<strong>de</strong> que faz com que<br />

as possíveis escolhas se tornem mais consistentes, pois a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> avaliar alternativas é que<br />

estimula a reflexão e nos permite amadurecer a <strong>de</strong>cisão.<br />

Quando aqueles que <strong>de</strong>veriam zelar pela liberda<strong>de</strong> passam a querer enquadrá-la, resumindo as opções<br />

<strong>de</strong> escolha, o resultado é sempre a tutela, a infantilização dos cidadãos. Consi<strong>de</strong>rando-se conhecedores<br />

privilegiados da moral vigente ou imaginando que sabem o que é o bem comum, essas<br />

pessoas acabam usurpando um po<strong>de</strong>r que os cidadãos não lhes <strong>de</strong>ram. é preciso ter em mente que<br />

não há <strong>de</strong>mocracia com tutela e que a liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> expressão jamais é excessiva. Alguma regulamentação<br />

é necessária quando alguém sem discernimento pleno po<strong>de</strong> ser atingido, por <strong>de</strong>finição<br />

crianças e adolescentes. Mesmo nesses casos, todo esforço <strong>de</strong>ve ser feito para que a legislação não<br />

tenha como objetivo tutelar, mas dar condições para que pais e responsáveis possam julgar por si o<br />

que suas crianças <strong>de</strong>vem ou não fazer.<br />

Porém, o que vemos cada vez mais é uma sanha reguladora em que alguns poucos acreditam que po<strong>de</strong>m<br />

julgar por muitos, nas mais diversas áreas. No campo político eleitoral, em que a livre circulação<br />

<strong>de</strong> i<strong>de</strong>ias e a informação são essenciais, as restrições ainda são expressivas. O exemplo mais recente e<br />

esdrúxulo foi vivido pela Folha <strong>de</strong> S.Paulo, Estado <strong>de</strong> S.Paulo e revista Veja. O Ministério Público enten<strong>de</strong>u<br />

que ao entrevistarem pré-candidatos, os veículos <strong>de</strong> comunicação fizeram propaganda eleitoral<br />

antecipada, o que é proibido. Um juiz <strong>de</strong> primeira instância acolheu esse entendimento, apesar <strong>de</strong> a<br />

simples confusão semântica entre propaganda e matéria jornalística ser em si assustadora.<br />

Uma entrevista é feita <strong>de</strong> forma crítica, <strong>de</strong> maneira a expor os pontos fortes e fracos <strong>de</strong> um entrevistado,<br />

a confrontá-lo diante <strong>de</strong> seus erros e acertos, e <strong>de</strong> tentar enten<strong>de</strong>r suas propostas, com um único<br />

objetivo: <strong>de</strong>ixar o cidadão mais bem-informado. O objetivo da propaganda igualmente legítima é convencer<br />

o consumidor, ou o eleitor, das qualida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> um produto ou <strong>de</strong> um candidato. Este é o ponto:<br />

a entrevista tem a função <strong>de</strong> informar; a propaganda dá um passo além e também quer convencer.<br />

O TSE acabou com o equívoco <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> muito <strong>de</strong>bate, mas em plena <strong>de</strong>mocracia, como uma confusão<br />

<strong>de</strong>ssas po<strong>de</strong> acontecer? Parece uma sintonia <strong>de</strong> <strong>de</strong>sapreço pela liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> expressão. Somente<br />

alguém que não se dá conta do direito inalienável do povo à informação po<strong>de</strong> acreditar que<br />

seja possível ignorar toda agitação política pré-convenções, até mesmo porque toda essa movimentação<br />

faz parte do processo eleitoral. Acompanhar as idas e vindas <strong>de</strong> seus candidatos também ajuda<br />

o público a formar opinião, apesar <strong>de</strong> suas escolhas.<br />

Como eu disse, o que está por trás <strong>de</strong>sse tipo <strong>de</strong> pensamento é a crença <strong>de</strong> que o eleitor é incapaz <strong>de</strong><br />

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21 5 d0 e j0u l h8o


julgar por si, <strong>de</strong> constatar se <strong>de</strong>terminado candidato mente ou fala a verda<strong>de</strong>, e também <strong>de</strong> julgar se<br />

um jornal fez propaganda ao invés <strong>de</strong> jornalismo, e <strong>de</strong> puni-lo com <strong>de</strong>scrédito. A mídia impressa teve<br />

que ser atingida para que muitos se <strong>de</strong>ssem conta das restrições que há anos sofrem as emissoras <strong>de</strong><br />

rádio e TV, restrições até há pouco vistas como naturais.<br />

Um erro generalizado é acreditar que sendo concessões públicas, as emissoras possam ter os seus<br />

direitos constitucionais à liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> expressão cerceados pelo po<strong>de</strong>r público; no nosso entendimento,<br />

não po<strong>de</strong>m. Elas são concessões porque as frequências por on<strong>de</strong> trafegam os seus sinais são<br />

escassas. Por isso, é preciso fazer uma licitação para escolher que empresas oferecem as melhores<br />

condições <strong>de</strong> operação.<br />

Des<strong>de</strong> o Governo Fernando Henrique, o processo <strong>de</strong> concessão <strong>de</strong> um canal <strong>de</strong> televisão é feito<br />

por meio <strong>de</strong> uma licitação pública da qual participam todas as empresas que se cre<strong>de</strong>nciam, e é<br />

feita com um leilão; assim tem sido até hoje. Realizado o leilão, uma televisão tem que ter a mesma<br />

liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> um jornal para opinar, cobrir, enfim, fazer o que bem enten<strong>de</strong>r, mas uma vez obtidas<br />

as concessões, as empresas <strong>de</strong>vem <strong>de</strong>sfrutar plenamente da liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> expressão garantida<br />

pela Constituição.<br />

Mesmo assim, as emissoras ainda são submetidas a constrangimentos a nosso ver anti<strong>de</strong>mocráticos.<br />

São, por exemplo, obrigadas por lei a chamar para <strong>de</strong>bates candidatos <strong>de</strong> todos os partidos que<br />

tenham conquistado ca<strong>de</strong>iras na Câmara dos Deputados na eleição anterior, não importando se<br />

no momento do <strong>de</strong>bate o partido estiver sem um <strong>de</strong>putado sequer. Trata-se <strong>de</strong> uma intervenção<br />

grosseira no fazer jornalístico, pois impõe que um candidato sem expressão, ao participar do <strong>de</strong>bate,<br />

tenha um tratamento <strong>de</strong> notícia, ou seja, tenha a mesma relevância. O curioso é que isso só ocorre<br />

em relação aos <strong>de</strong>bates; na distribuição da propaganda gratuita no horário eleitoral obrigatório, os<br />

espaços não são iguais, e aos “nanicos” sobram alguns poucos segundos.<br />

Há outras restrições: as emissoras não po<strong>de</strong>m emitir juízos <strong>de</strong> valor sobre os candidatos, criticá-los ou<br />

elogiá-los. Essa regra dá aos políticos <strong>de</strong> má-fé a chance <strong>de</strong> questionar na Justiça qualquer reportagem<br />

sobre programas <strong>de</strong> Governo, por mais isentas que sejam. Por exemplo, no <strong>de</strong>correr da cobertura,<br />

uma emissora analisa pontos <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminada proposta eleitoral e, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> ouvir técnicos daquele<br />

setor, se concluir que a medida é inaplicável ou ineficaz, exibir tal reportagem é uma obrigação;<br />

mas a emissora estaria sujeita a sanções, porque ao pé da letra, ela não po<strong>de</strong> criticar candidatos.<br />

Por trás disso, há um misto <strong>de</strong> proteger mais o elegível do que o eleitor, sob a justificativa paternalista<br />

<strong>de</strong> que o cidadão não será capaz <strong>de</strong> julgar se a reportagem foi feita <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> bons padrões jornalísticos.<br />

é uma situação bem diversa da que vive a <strong>de</strong>mocracia americana, já madura.<br />

Peço licença para lembrar o episódio das primárias <strong>de</strong>mocratas, que traduz com perfeição o que<br />

acabo <strong>de</strong> explicar. Barak Obama surgiu como uma novida<strong>de</strong> cativante no cenário político: jovem,<br />

brilhante orador, com um carisma que lembrava o Presi<strong>de</strong>nte Kennedy. No início da campanha, sem<br />

que ninguém notasse claramente, ele recebeu tratamento con<strong>de</strong>scen<strong>de</strong>nte da imprensa em geral.<br />

Foi então que um humorístico, o Saturday Night Live, colocou no ar uma sátira que <strong>de</strong>spertou a<br />

atenção <strong>de</strong> todos, ao criticar a isenção da mídia. Humoristas representando mo<strong>de</strong>radores <strong>de</strong> <strong>de</strong>bates<br />

comportavam-se como fãs <strong>de</strong> Obama e algozes <strong>de</strong> Hillary.<br />

O efeito foi imediato; no <strong>de</strong>bate seguinte, <strong>de</strong>pois do programa Saturday Night Live, Hillary Clinton<br />

disse a um dos entrevistados: “Vocês viram o Saturday Night Live? Daqui a pouco vocês vão perguntar<br />

ao Obama se ele precisa <strong>de</strong> mais uma almofada”.<br />

A partir daí, toda a imprensa americana <strong>de</strong>bateu o tema. Um exemplo foi o New York Times. O que<br />

fez, então, uma das criticadas? A CNN chamou o autor do esquete, para que o assunto fosse longamente<br />

<strong>de</strong>batido. No fim, como fez mais dois esquetes no mesmo tom, o próprio Saturday Night Live<br />

recebeu questionamentos: estaria o programa sendo pró-Hillary? Como resultado, o humorista se<br />

apressou a apresentar esquetes que questionavam também a ação política <strong>de</strong> Hillary.<br />

Conto esse episódio, porque é um exemplo claro <strong>de</strong> como uma <strong>de</strong>mocracia com uma imprensa livre<br />

tem os pesos e contrapesos necessários para lidar com possíveis <strong>de</strong>svios — no caso, a cobertura<br />

con<strong>de</strong>scen<strong>de</strong>nte com Obama, no início da campanha.<br />

No curto espaço <strong>de</strong> duas semanas, o assunto estava sendo <strong>de</strong>batido e todos se esforçavam para<br />

mostrar como era praticado o tratamento mais equilibrado em relação aos candidatos. Ninguém<br />

precisou apelar para a justiça e os partidos não <strong>de</strong>nunciaram nenhum complô da mídia; a própria<br />

liberda<strong>de</strong> levou a um maior equilíbrio.<br />

No Brasil, isso seria impossível: o artigo 45 da Lei Eleitoral proíbe que emissoras <strong>de</strong> rádio e TV usem<br />

trucagem, montagem ou outro recurso <strong>de</strong> áudio ou ví<strong>de</strong>o que, <strong>de</strong> qualquer forma, <strong>de</strong>gra<strong>de</strong> ou ridicularize<br />

um candidato, partido ou coligação, ou que produza/veicule programa com esse efeito. Em<br />

outras palavras, durante a campanha, programas <strong>de</strong> humor não po<strong>de</strong>m satirizar candidatos. Qual a<br />

razão? Eu não encontro outra a não ser, novamente, que o legislador consi<strong>de</strong>ra o eleitor incapaz <strong>de</strong><br />

julgar se um programa faz humor ou campanha.<br />

Em nosso país, é frequente que o Estado olhe os meios <strong>de</strong> comunicação com <strong>de</strong>sconfiança, o que dá<br />

origem a esse excesso <strong>de</strong> regulamentação. A Lei <strong>de</strong> Imprensa, por exemplo, herança do regime militar,<br />

ainda está em vigor, apesar da suspensão <strong>de</strong> 22 <strong>de</strong> seus artigos por uma liminar do STF. Ela <strong>de</strong>veria<br />

ser totalmente extinta, pois os crimes que a imprensa po<strong>de</strong> cometer <strong>de</strong> calúnia, injúria e difamação<br />

já estão previstos no Código Penal, e o Código Civil permite que o atingido pleiteie in<strong>de</strong>nização por<br />

danos morais.<br />

Por que uma lei especial para a imprensa? Se <strong>de</strong>vemos ter uma, que seja a <strong>de</strong> liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> imprensa,<br />

regulamentando somente o direito <strong>de</strong> resposta e a in<strong>de</strong>nização por danos morais. A lei <strong>de</strong> imprensa<br />

atual acaba dando espaço para que entida<strong>de</strong>s com pouco apreço pela <strong>de</strong>mocracia se utilizem <strong>de</strong>la<br />

para tentar inibir a prática jornalística.<br />

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21 5 d0 e j0u l h8o


Recentemente, os jornais Folha <strong>de</strong> S.Paulo, A Tar<strong>de</strong> <strong>de</strong> Salvador e Extra do Rio publicaram reportagens<br />

bem apuradas com <strong>de</strong>núncias contra a igreja Universal do Reino <strong>de</strong> Deus. Em represália, tribunais <strong>de</strong><br />

todo o país foram inundados com ações <strong>de</strong> supostos fiéis, dizendo-se ofendidos em sua fé. O curioso<br />

é que o texto das ações era quase sempre o mesmo, não importando se o fiel fosse do Acre ou do<br />

Rio Gran<strong>de</strong> do Sul, o que <strong>de</strong>notava clara orquestração.<br />

Os autores da reportagem foram intimados a estar presentes em pessoa, na mesma hora, nos mais<br />

distantes tribunais, uma impossibilida<strong>de</strong> física. O objetivo <strong>de</strong>ssas ações era não somente constranger<br />

os três jornais, mas servir <strong>de</strong> alerta para que outros não voltassem os olhos para a ativida<strong>de</strong> da Igreja,<br />

uma forma abjeta <strong>de</strong> impedir o trabalho jornalístico. Os juízes têm recusado as ações, classificandoas<br />

<strong>de</strong> litigância <strong>de</strong> má-fé. Mas além <strong>de</strong> lutarmos no campo jurídico, nós, jornalistas, precisamos estar<br />

unidos para <strong>de</strong>nunciar tais manobras com veemência, porque só assim ataques <strong>de</strong>sse tipo serão<br />

<strong>de</strong>sencorajados.<br />

Às vezes, porém, cada setor ou cada mídia preocupa-se mais com as ameaças diretas que enfrenta,<br />

e <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> dar atenção a problemas que aparentemente atingem apenas outros setores. é um erro.<br />

O limite à liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> um é um limite para todos. é o caso das ameaças à publicida<strong>de</strong>. Um exemplo<br />

foi esta reportagem do jornal O Globo sobre a proposta da Anvisa <strong>de</strong> regulamentar a propaganda <strong>de</strong><br />

alimentos. Talvez não haja setor mais adulto no Brasil que o da propaganda. A prova disso é o Conar,<br />

uma experiência <strong>de</strong> autorregulamentação com o objetivo <strong>de</strong> coibir abusos, da qual tanto nos orgulhamos.<br />

Mas não adianta; uma certa mentalida<strong>de</strong> não consegue ver a propaganda como ela <strong>de</strong> fato<br />

é: um motor fundamental para o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> um país, que promove a competição, diminui<br />

os preços e aumenta a qualida<strong>de</strong> dos produtos. No último <strong>Congresso</strong> da Associação Brasileira <strong>de</strong> Rádio<br />

e Televisão, o ministro Palocci apresentou um trabalho que ele conduziu junto com a consultoria<br />

Tendências sobre o efeito da televisão local nos municípios.<br />

Eles compararam o índice do <strong>de</strong>senvolvimento humano nos municípios com televisão e sem televisão<br />

no município, só com repetidores. O fato <strong>de</strong> ter uma televisão no município, como todos sabem,<br />

abre um mercado local para a publicida<strong>de</strong>, o que é formidável. E ficou absolutamente <strong>de</strong>monstrado<br />

que o índice <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento humano das comunida<strong>de</strong>s que contam com estação local é maior<br />

que o <strong>de</strong> outros municípios.<br />

Nós, como indústria da comunicação, meios <strong>de</strong> comunicação e publicida<strong>de</strong>, precisamos nos orgulhar<br />

do trabalho que fazemos. é a publicida<strong>de</strong> que informa o público tentando convencê-lo das qualida<strong>de</strong>s<br />

<strong>de</strong> um bem ou serviço, e é o publico que, diante das muitas escolhas, conscientemente <strong>de</strong>ci<strong>de</strong><br />

consumir aqueles que mais correspondam às suas expectativas. Porém, na visão paternalista, o consumidor<br />

é um <strong>de</strong>savisado que precisa ser protegido; surgem então propostas <strong>de</strong> proibir a propaganda<br />

<strong>de</strong> alimentos, bebidas e inúmeras outras, como já foi mencionado por Roberto Civita nesta manhã. é<br />

preciso confiar no indivíduo; não se consegue mudar hábitos com menos, mas com mais propaganda.<br />

O impulso <strong>de</strong> se tutelar o cidadão também acontece com um mecanismo que na prática se parece<br />

muito com a censura. A Constituição <strong>de</strong> 88 estabeleceu que nenhuma forma <strong>de</strong> censura seria<br />

mais permitida em nosso país. Foi uma resposta à ditadura quando uma minoria ditava o que os<br />

brasileiros podiam ou não ver em suas TVs. Há pouco tempo, lançamos o site Memória Globo, uma<br />

iniciativa para dar acesso aos fatos que marcaram a história da nossa emissora. Ao aprovar a campanha<br />

<strong>de</strong> lançamento, nos surpreen<strong>de</strong>mos com o linguajar do antigo Departamento <strong>de</strong> Censura, que<br />

nos pareceu tristemente contemporâneo. Num <strong>de</strong>spacho <strong>de</strong> 1972, a censura tornou imprópria para<br />

menores <strong>de</strong> 16 anos a inesquecível Selva <strong>de</strong> Pedra, <strong>de</strong> Janete Clair; o <strong>de</strong>spacho justificava assim a<br />

medida: “Pelo exposto, é notório que o tema da presente telenovela foge totalmente à capacida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> compreensão do mesmo”. O absurdo da <strong>de</strong>cisão fica ainda mais evi<strong>de</strong>nte quando lembramos<br />

que a novela contava os altos e baixos <strong>de</strong> dois apaixonados, Cristiano Vilhena e Simone Marques,<br />

interpretados por Francisco Cuoco e Regina Duarte. Foi para evitar medidas arbitrárias como aquela<br />

que a Constituição criou mecanismos <strong>de</strong> classificação indicativa. As emissoras <strong>de</strong>vem dizer do que<br />

trata o programa que vai ao ar, informando ao telespectador se há violência ou sexo e em que nível.<br />

Com isso, a Constituição baniu a censura, sem privar os cidadãos das informações necessárias, para<br />

que possam julgar se um programa fere seus valores ou se é a<strong>de</strong>quado à formação <strong>de</strong> seus filhos. é<br />

um mecanismo simultaneamente adulto e <strong>de</strong>mocrático.<br />

Ao longo dos anos, legislações infraconstitucionais e até mesmo portarias ministeriais tornaram impositiva<br />

uma classificação que <strong>de</strong>veria ser simplesmente indicativa, ao vincular faixas etárias a horários<br />

<strong>de</strong> exibição. A diferença entre uma coisa e outra é abissal: a classificação indicativa trata o cidadão<br />

como adulto, como responsável.<br />

A emissora informa a<strong>de</strong>quadamente para que o cidadão <strong>de</strong>cida. A classificação impositiva trata os<br />

cidadãos e as emissoras como subalternos. Ao estabelecer os horários <strong>de</strong> exibição, rotula o cidadão<br />

como alguém incapaz <strong>de</strong> fazer suas próprias escolhas e classifica as emissoras como empresas incapazes<br />

<strong>de</strong> atuar <strong>de</strong>ntro dos limites que a socieda<strong>de</strong> <strong>de</strong>seja. é verda<strong>de</strong> que o Ministério da Justiça aceitou<br />

um sistema <strong>de</strong> autoclassificação, mas tudo acaba sendo mera formalida<strong>de</strong>, porque duas coisas<br />

não mudaram: a imposição da faixa horária e a possibilida<strong>de</strong> que o Ministério reclassifique a qualquer<br />

momento o programa. A emissora tem o direito <strong>de</strong> recorrer; na prática, isso é apenas protocolar.<br />

Nos países on<strong>de</strong> a <strong>de</strong>mocracia não tem adjetivos, a punição só po<strong>de</strong> advir <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> tramitar pela<br />

esfera judicial, garantindo amplo direito <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa às emissoras. Num país como o nosso, on<strong>de</strong> o<br />

conceito <strong>de</strong> gra<strong>de</strong> é vitorioso e adotado por todas as re<strong>de</strong>s, ver um programa mudar <strong>de</strong> horário é um<br />

risco que nenhuma emissora po<strong>de</strong> correr. No entanto, é o que está em vigor, com um agravante: os<br />

encarregados do Ministério da Justiça <strong>de</strong> aceitar a classificação dos programas ou <strong>de</strong> reclassificá-los<br />

se julgam sabedores do que é ou não tolerado pela socieda<strong>de</strong>, <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> um padrão estreito que em<br />

tudo faz lembrar a censura.<br />

100 101<br />

21 5 d0 e j0u l h8o


Com base em que mandado um pequeno grupo po<strong>de</strong> <strong>de</strong>cidir se uma trama ou um personagem são<br />

ou não convenientes para o público? Hoje, chegamos ao ponto em que numa novela das 7 não po<strong>de</strong>m<br />

haver assassinatos por arma branca e nem por armas <strong>de</strong> fogo; é ridículo, mas a única opção que<br />

nos resta é o envenenamento. Do contrário, a coisa se passará assim: o assassino fará a menção <strong>de</strong><br />

pegar a arma, sem que ela apareça. No instante que ele for sacar a arma, a câmera corta a sequência,<br />

mostrando alguém que está no ambiente e só se po<strong>de</strong> ouvir o barulho do tiro. O telespectador que<br />

imagine que houve um revólver, um tiro, um assassinato.<br />

Não se trata <strong>de</strong> uma situação hipotética; isso, <strong>de</strong> fato, aconteceu: vejam esta cena <strong>de</strong> Sete Pecados,<br />

com a Giovanna Antonelli trancada num porão, on<strong>de</strong> o vilão mata alguém em outro ambiente. A<br />

cena foi ao ar reeditada, sem que se veja o assassinato.<br />

é evi<strong>de</strong>nte que uma novela das 7 não exibiria uma cena <strong>de</strong> assassinato realista, como nos filmes do<br />

Tarantino, mas nós achamos que temos a sensibilida<strong>de</strong> capaz <strong>de</strong> fazer o assassinato a<strong>de</strong>quado para<br />

o horário. Pensem no pessoal do Ministério da Justiça lendo a seguinte sinopse: uma mulher inescrupulosa,<br />

viúva, é amante <strong>de</strong> um fazen<strong>de</strong>iro viúvo e igualmente sem escrúpulos, capaz <strong>de</strong> matar os<br />

seus <strong>de</strong>safetos. O casal costuma se divertir sexualmente, quando a viúva obriga o coronel a se fingir<br />

<strong>de</strong> cachorro, para que, <strong>de</strong> quatro e ganindo, ele dê umas lambidas em suas mãos.<br />

Se aceita pelo Ministério da Justiça, uma sinopse assim só seria liberada para as 23h00. Mas, em 89, foi<br />

uma das novelas das 8 <strong>de</strong> maior sucesso, Roque Santeiro, <strong>de</strong> Dias Gomes, escrita por Aguinaldo Silva,<br />

e que divertiu o Brasil com a viúva Porcina e o Sinhozinho Malta. Um primor <strong>de</strong> atuação.<br />

O que hoje não se percebe é que o artista sabe ser audacioso sem ser ofensivo; ser engraçado sem<br />

constranger; ser corajoso sem afrontar. Aos que acreditam que sem controle rígido haverá abusos,<br />

mais uma vez, repito: isso é menosprezar o público e os mecanismos <strong>de</strong> punição da própria Justiça.<br />

Além disso, não há a menor possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma emissora <strong>de</strong> TV aberta obter sucesso afrontando a<br />

moral vigente; qualquer coisa que ultrapasse os limites que a socieda<strong>de</strong> se impõe é rechaçada pelo<br />

público: ou a emissora se corrige, ou per<strong>de</strong> o público.<br />

A chave do sucesso, quando se tem em mente o gran<strong>de</strong> público, é saber andar no tempo presente,<br />

nem à frente, nem atrás. O cidadão eleitor e o cidadão telespectador são a mesma pessoa; se nós, <strong>de</strong>mocratas,<br />

acreditamos que estamos aptos a votar — e estamos —, temos que admitir que também<br />

estamos aptos a julgar os programas que vemos. Emissoras que ultrapassam os limites <strong>de</strong> forma rotineira,<br />

quando não morrem, sobrevivem em nichos com audiência próxima <strong>de</strong> zero. Quando o po<strong>de</strong>r<br />

constituído passa a tutelar o público e a criação, o resultado nunca é bom; o risco é a infantilização<br />

do público. Repito: infantilização do público e da programação. é exatamente o que acontece com<br />

esta postura do estado brasileiro.<br />

Nossa teledramaturgia é um dos artigos brasileiros que mais fazem sucesso no exterior e isso nos dá<br />

um enorme orgulho. Por que colocar tudo isso em risco? é preciso que se diga claramente: o cercea-<br />

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21 5 d0 e j0u l h8o mento à liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> expressão não ameaça apenas a audiência ou a vida financeira das emissoras.<br />

A ameaça mais cruel para o país é a redução da qualida<strong>de</strong> criativa da nossa teledramaturgia, até aqui<br />

um setor que só nos trouxe reconhecimento internacional. E não são poucos os exemplos.<br />

Resumindo: não existe <strong>de</strong>mocracia sem a liberda<strong>de</strong> plena <strong>de</strong> expressão; é o exercício <strong>de</strong>ssa liberda<strong>de</strong><br />

que nos faz amadurecer como cidadãos e são cidadãos amadurecidos e bem-informados que<br />

tornam possível um país culturalmente rigoroso, economicamente forte e socialmente mais justo.<br />

Todos nós, que temos consciência disso, <strong>de</strong>vemos lutar em todos os fóruns para que as distorções<br />

que hoje ocorrem <strong>de</strong>ixem <strong>de</strong> existir. Muito obrigado.


104 105<br />

21 5 d0 e j0u l h8o


A PAlESTRA DE JuDITH mIllER<br />

Às 19h00, Judith Miller é convidada ao palco do Gol<strong>de</strong>n Hall para sua palestra. Seu pronunciamento<br />

é seguido por um <strong>de</strong>bate com a participação <strong>de</strong> Ricardo Gandour, diretor <strong>de</strong> conteúdo<br />

do jornal O Estado <strong>de</strong> S.Paulo, <strong>de</strong> Carlos Eduardo Lins e Silva, ombudsman do jornal<br />

Folha <strong>de</strong> S.Paulo e <strong>de</strong> Rodolfo Fernan<strong>de</strong>s, diretor <strong>de</strong> redação do jornal O Globo.<br />

João Dória Jr.<br />

A ganhadora do Prêmio Pulitzer, Judith Miller, ganhou notorieda<strong>de</strong> mundial pela luta em<br />

<strong>de</strong>fesa da liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> expressão e preservação das fontes, o que é fundamental para a<br />

qualida<strong>de</strong> do trabalho jornalístico em qualquer parte do planeta.<br />

Quando trabalhava em um dos principais jornais do planeta, o New York Times, Judith Miller<br />

<strong>de</strong>u início a um novo rumo ao jornalismo americano, ao se recusar a revelar a fonte que<br />

havia dado a informação a um tribunal <strong>de</strong> justiça: a i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> <strong>de</strong> um agente da CIA. Hoje,<br />

ela luta pela aprovação <strong>de</strong> uma lei que protege o sigilo da fonte, o que existe no Brasil, mas<br />

não nos Estados Unidos.<br />

Após a palestra, vamos conferir a reflexão <strong>de</strong> três gran<strong>de</strong>s jornalistas que representam três<br />

jornais importantes no Brasil, sobre os limites da liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> expressão. Para tanto, temos<br />

conosco três das maiores expressões do jornalismo nacional. São eles Carlos Eduardo Lins<br />

e Silva, ombudsman da Folha <strong>de</strong> S.Paulo, um dos mais brilhantes jornalistas que eu já tive o<br />

privilégio <strong>de</strong> conhecer. Carlos Eduardo também foi correspon<strong>de</strong>nte da Folha <strong>de</strong> S. Paulo em<br />

Washington, nos Estados Unidos. é um gran<strong>de</strong> profissional, que faz orgulho ao jornalismo<br />

brasileiro. Outro gran<strong>de</strong> profissional, que dirige conteúdo do jornal O Estado <strong>de</strong> S.Paulo<br />

Ricardo Gandour, um jornalista experiente, com gran<strong>de</strong> respeito <strong>de</strong>ntro do jornalismo, e<br />

imprimiu uma nova página na vida <strong>de</strong>ste centenário jornal, O Estado <strong>de</strong> S.Paulo. Também<br />

gostaria <strong>de</strong> convidar o diretor <strong>de</strong> redação do jornal O Globo, Rodolfo Fernan<strong>de</strong>s, que também<br />

tem uma história brilhante e competente <strong>de</strong> jornalismo e <strong>de</strong>fesa da liberda<strong>de</strong> do jornalismo<br />

do Brasil, e dirige o conteúdo <strong>de</strong> um dos principais jornais do nosso país.<br />

Antes <strong>de</strong> chamarmos a nossa convidada, gostaria <strong>de</strong> dizer que vocês terão a exposição<br />

<strong>de</strong> Judith Miller, haverá uma intervenção <strong>de</strong> cinco minutos <strong>de</strong> cada um dos nossos convidados,<br />

que po<strong>de</strong>rão dirigir perguntas, assim como a plateia, a Judith Miller, sempre por<br />

escrito. Temos uma mesa <strong>de</strong> apoio que seleciona as perguntas, encaminha e elas serão<br />

formuladas.<br />

Com essas informações e com a presença <strong>de</strong> todos, gostaria <strong>de</strong> chamar, com uma salva <strong>de</strong><br />

palmas, nossa convidada especial, Judith Miller.<br />

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21 5 d0 e j0u l h8o Judith miller<br />

Estou encantada por estar com vocês aqui esta noite em São Paulo, cida<strong>de</strong> que eu nunca<br />

tive o prazer <strong>de</strong> visitar antes. E quero parabenizar esta organização e Dalton Pastore, que<br />

organizou este ambicioso encontro, com um tópico tão importante.<br />

Nesta noite, falarei sobre a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma imprensa verda<strong>de</strong>iramente livre, num mundo<br />

cada vez mais global e complexo. Venho até vocês esta noite <strong>de</strong> Nova York, uma cida<strong>de</strong><br />

um pouco cínica, cujos habitantes estão passando por uma fase particularmente difícil, por<br />

causa do <strong>de</strong>sempenho recente do mercado <strong>de</strong> ações. Acrescento que é uma fase que não<br />

difere da sombria manhã que vi sobre São Paulo hoje, por causa do <strong>de</strong>sempenho <strong>de</strong> seu<br />

próprio mercado <strong>de</strong> ações.<br />

Em Nova York, adoramos histórias sobre más e piores notícias, e vou contar-lhes uma esta<br />

noite, sobre um advogado chamado Sam, que vai a seu médico fazer seu check-up anual.<br />

Um dia mais tar<strong>de</strong>, Sam volta ao médico para saber do diagnóstico, e o médico diz: “Sam,<br />

tenho notícias más e piores. Qual <strong>de</strong>las você quer primeiro?” Sam pensa por um minuto e<br />

diz: “Que tal contar a má notícia?” E o médico diz: “Sam, o<strong>de</strong>io dizer-lhe, mas você contraiu<br />

um vírus mortal e tem pouco tempo <strong>de</strong> vida.” E Sam exclama: “Oh, meu Deus, doutor! Isso é<br />

terrível! O que po<strong>de</strong> ser pior do que isso?” O médico olha para ele e diz: “Bem, Sam, na verda<strong>de</strong>,<br />

você tem 48 horas <strong>de</strong> vida e eu <strong>de</strong>veria ter dito isto a você ontem.”<br />

As condições da mídia não são tão tenebrosas assim. Há algumas boas notícias sobre a mídia<br />

no Brasil e nos EUA, mas sobre o equilíbrio, eu <strong>de</strong>vo dizer que as más notícias recentes<br />

sobrepujam os <strong>de</strong>senvolvimentos positivos com relação à liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> imprensa em todo<br />

mundo. No levantamento anual, liberado no início <strong>de</strong>ste ano, a Freedom House, uma fundação<br />

privada <strong>de</strong> Washington, concluiu que a imprensa livre mundial <strong>de</strong>caiu muito em 2007,<br />

com os jornalistas lutando em ambientes cada vez mais hostis no mundo todo. A Freedom<br />

House <strong>de</strong>scobriu que os contratempos da imprensa livre ocorreram tanto em países sob o<br />

regime do autoritarismo quanto em países <strong>de</strong>mocráticos. E esse <strong>de</strong>clínio continua nessa<br />

tendência negativa há seis anos. Jennifer Windsor, diretora do grupo, disse recentemente:<br />

“Para cada passo à frente que a liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong>u este ano, houve dois passos para trás”. E ela<br />

comentou que quando a liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> imprensa está se retraindo, logo po<strong>de</strong>m se seguir<br />

restrições a outras liberda<strong>de</strong>s.<br />

Mais <strong>de</strong> 195 países e territórios foram pesquisados pela Freedom House e apenas 72 <strong>de</strong>les<br />

(cerca <strong>de</strong> 37%), foram consi<strong>de</strong>rados realmente livres. Concluiu-se que 59 (ou 30%) <strong>de</strong>les<br />

foram consi<strong>de</strong>rados parcialmente livres, e 64%, ou 33% não eram livres, o que significa que<br />

63%, a esmagadora maioria dos estados, impõem restrições severas sobre esse indicador vital<br />

da liberda<strong>de</strong> política e social. E o Grupo expressou preocupação especial em relação aos


meus colegas da Rússia, on<strong>de</strong> jornalistas têm sido sequestrados, mortos e presos, e o resto<br />

da antiga União Soviética, na Ásia e na África subsaariana.<br />

A propósito, o levantamento classificou os EUA em 24º lugar na categoria dos livres, e Brasil<br />

na categoria dos apenas parcialmente livres. Mas dois países em nossas Américas estavam<br />

na categoria dos piores entre os piores. E não <strong>de</strong>verá ser surpresa para vocês <strong>de</strong>sta sala, que<br />

são Cuba, com aquele que parece ser seu eterno lí<strong>de</strong>r Fi<strong>de</strong>l Castro, e Venezuela, com Hugo<br />

Chávez, cunhado <strong>de</strong> Fi<strong>de</strong>l Castro, no po<strong>de</strong>r — como disse Kofi Annan ontem, Chavez é um<br />

“Castro mais jovem e mais rico”.<br />

Eu não sou profunda conhecedora da evolução da imprensa no Brasil, mas quero cumprimentar<br />

sua Corte Suprema por sua <strong>de</strong>cisão em fevereiro <strong>de</strong> suspen<strong>de</strong>r a aplicação <strong>de</strong> 20<br />

artigos da Lei <strong>de</strong> Imprensa <strong>de</strong> 1967, por ter consi<strong>de</strong>rado que não estavam mais em vigor,<br />

pois eram inconsistentes com os valores <strong>de</strong>mocráticos e com a imprensa livre adotada após<br />

o final da ditadura militar, há 23 anos atrás.<br />

Meus distintos colegas e eu iremos discutir mais tar<strong>de</strong> os problemas que a imprensa brasileira enfrenta.<br />

Mas nesta noite, falarei sobre alguns assuntos da mídia americana, que eu acredito serem<br />

partilhados por muitos países, inclusive o seu, o que me preocupa muito como jornalista. Acredito<br />

que isso <strong>de</strong>veria preocupar a todos, como cidadãos comunicadores <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ias e informação.<br />

Alguns <strong>de</strong> vocês nesta sala <strong>de</strong>vem saber que há três anos, nesta mesma época, eu fiquei<br />

na prisão por 85 dias, por evitar violar o compromisso da confi<strong>de</strong>ncialida<strong>de</strong> que <strong>de</strong>i a um<br />

funcionário sênior da Casa Branca. Fui para a prisão, embora eu não tenha escrito uma só<br />

palavra sobre o que ele me contou, mas achei que era a única coisa honrada que eu po<strong>de</strong>ria<br />

fazer como jornalista. Felizmente para mim, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> 85 dias, minha fonte, Scooter Libby,<br />

o chefe <strong>de</strong> gabinete do vice-presi<strong>de</strong>nte, concordou por escrito e também num telefonema<br />

pessoal para mim na prisão, em me liberar do compromisso <strong>de</strong> confi<strong>de</strong>ncialida<strong>de</strong>, e só então<br />

eu me senti livre para <strong>de</strong>ixar a prisão e aparecer perante o Gran<strong>de</strong> Júri e testemunhar.<br />

Gostaria <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r dizer que fui a única jornalista americana presa por ter esse tipo <strong>de</strong> atitu<strong>de</strong>,<br />

mas não é esse o caso. Logo após eu ter sido liberada, um jovem jornalista free-lancer chamado<br />

Josh Wolf passou quase um ano na penitenciária fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Dublin, Califórnia, perto da<br />

bela São Francisco, por se recusar, em 2005, a entregar aos promotores fe<strong>de</strong>rais as tomadas<br />

<strong>de</strong> ví<strong>de</strong>o que ele havia filmado em protesto contra a guerra do Iraque. E Josh concordara em<br />

apresentar o ví<strong>de</strong>o, mas não em testemunhar. Após sua liberação, ele colocou as tomadas <strong>de</strong><br />

ví<strong>de</strong>o que inicialmente havia se recusado a dar ao Governo em seu próprio website.<br />

Outros repórteres americanos também estão correndo perigo em meu país. O número <strong>de</strong><br />

jornalistas que estão sendo intimados em investigações civis e criminais na América a revelar<br />

informações vitais para eles está crescendo <strong>de</strong> forma dramática. Um gran<strong>de</strong> levanta-<br />

108 109<br />

21 5 d0 e j0u l h8o mento feito por emissoras <strong>de</strong> TV e jornais diários encontrou um aumento <strong>de</strong> <strong>de</strong>z vezes em<br />

2001 no número <strong>de</strong> jornalistas intimados a revelar suas informações. O estudo concluiu que<br />

cerca <strong>de</strong> 40% <strong>de</strong> um total <strong>de</strong> 200 agências <strong>de</strong> notícia pesquisadas receberam cerca <strong>de</strong> 3.000<br />

intimações fe<strong>de</strong>rais e estaduais em 2006.<br />

Quando o Departamento <strong>de</strong> Justiça diz “só intimamos jornalistas como último recurso”, eu<br />

lhes digo: sejam muito céticos e peguem suas carteiras. Por que as relações entre a imprensa<br />

e o Governo tornaram-se tão tensas hoje em dia? Na minha opinião, por duas razões: a<br />

primeira e mais óbvia resi<strong>de</strong> nos ataques ao World Tra<strong>de</strong> Center em 11 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 2001<br />

e na morte <strong>de</strong> cinco americanos que abriram cartas que receberam com o vírus mortal antraz,<br />

menos <strong>de</strong> um mês <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> vermos aqueles dois aviões colidindo nas duas torres e<br />

no Pentágono.<br />

Eu recebi uma daquelas cartas em outubro <strong>de</strong> 2001, mas a minha, felizmente, continha um<br />

organismo inofensivo no lugar dos esporos realmente letais. Aquele ataque não matou apenas<br />

cinco pessoas; na verda<strong>de</strong>, outras 17 foram infectadas e quase 30.000 americanos foram<br />

obrigados a tomar antibióticos, porque po<strong>de</strong>riam ter sido expostos ao antraz. Os ataques<br />

resultaram em gastos <strong>de</strong> centenas <strong>de</strong> milhares <strong>de</strong> dólares para <strong>de</strong>scontaminar os prédios<br />

on<strong>de</strong> as cartas foram abertas, inclusive o escritório do senador Tom Daschle. Esses ataques<br />

fizeram com que as pessoas exigissem mudanças em nossas leis e práticas, que acabaram<br />

dificultando as questões da nossa segurança nacional <strong>de</strong>s<strong>de</strong> então.<br />

Acredito que a segunda razão para as relações tensas seja o fato <strong>de</strong> a administração Bush<br />

tratar os segredos do Governo ao extremo, em nome da segurança nacional. O presi<strong>de</strong>nte<br />

Bush tem exigido para a Casa Branca po<strong>de</strong>res que não po<strong>de</strong>m ser verificados pelo <strong>Congresso</strong>,<br />

nosso braço legislativo, pelos tribunais e, certamente, também não pela imprensa. Todos<br />

os Governos americanos, republicanos, <strong>de</strong>mocratas e similares — e suspeito que o seu<br />

também — <strong>de</strong>ixam vazar segredos que servem aos interesses nacionais. Apesar disso, eles<br />

con<strong>de</strong>nam o mal que jornalistas causam ao revelar os segredos que eles nos contam, mas<br />

acredito exatamente no oposto. Muito mais mal têm feito os Governos com seus segredos e<br />

conluios do que a imprensa revelando essas informações supostamente secretas.<br />

O diretor <strong>de</strong> um programa jornalístico da Universida<strong>de</strong> George Washington, em Washington,<br />

D.C., argumentou com o testemunho do Governo recente <strong>de</strong> que nunca na História Americana<br />

foram encontradas evidências <strong>de</strong> que a segurança americana tenha sido comprometida<br />

pela publicação <strong>de</strong> informações secretas pelos repórteres. Em tempos <strong>de</strong> segredos sem<br />

garantia, os sussurradores se voltavam para nós, para nos contar a verda<strong>de</strong> quando ela era<br />

suprimida. E ao invés disso ser uma ameaça à <strong>de</strong>mocracia, creio que o vazamento seja um<br />

mecanismo saudável e autocorretivo.


Porém, hoje, no nosso mundo pós-11 <strong>de</strong> setembro, quando um ataque terrorista envolvendo<br />

armas <strong>de</strong> <strong>de</strong>struição em massa pô<strong>de</strong> matar literalmente centenas <strong>de</strong> milhares <strong>de</strong> nossos<br />

cidadãos, precisamos <strong>de</strong> um novo equilíbrio entre nossas liberda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> imprensa e a segurança<br />

nacional? Nós, nos EUA precisamos, e o Brasil também? Obviamente, nossas i<strong>de</strong>ias<br />

sobre aquele equilíbrio mudaram com o tempo, em resposta às diferentes circunstâncias.<br />

As vidas <strong>de</strong> todos mudaram <strong>de</strong>pois daquele 11 <strong>de</strong> setembro, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente do lugar<br />

em que vivemos. Em qualquer aeroporto, aqui em São Paulo, em Washington, D.C., ou Nova<br />

York; em um jogo <strong>de</strong> qualquer um <strong>de</strong> seus times prediletos, on<strong>de</strong> as mochilas agora são rotineiramente<br />

revistadas, vocês sentirão imediatamente a diferença entre antes e <strong>de</strong>pois do<br />

11 <strong>de</strong> setembro. Toda correspondência que enviamos po<strong>de</strong> ser monitorada pelo Governo e<br />

outros olhos à espreita.<br />

Falarei sobre minhas próprias opiniões em relação ao ponto em que esse equilíbrio <strong>de</strong>ve<br />

ficar. Apesar das muitas medidas para aumentar a segurança americana feitas pelo Governo<br />

americano após os traumáticos ataques <strong>de</strong> 11 <strong>de</strong> setembro, as liberda<strong>de</strong>s civis e particularmente<br />

algumas liberda<strong>de</strong>s essenciais da imprensa agora estão em perigo <strong>de</strong> serem sacrificadas<br />

em nome da segurança nacional, sem fortalecer <strong>de</strong> maneira visível nossa segurança<br />

coletiva. Em outras palavras, na América, pelo menos, talvez o pêndulo que oscila entre a<br />

segurança nacional e as liberda<strong>de</strong>s esteja oscilando muito entre nossa segurança e o caminho<br />

para nossa valiosa liberda<strong>de</strong>. E como resultado, agora corremos o risco <strong>de</strong> viver menos<br />

livres e menos seguros.<br />

De acordo com um relatório feito por um órgão <strong>de</strong> observação do Governo, o Governo<br />

Fe<strong>de</strong>ral investigou em 2005 15,6 milhões <strong>de</strong> documentos consi<strong>de</strong>rados secretos, com um<br />

aumento <strong>de</strong> 8% do número <strong>de</strong> páginas secretas antes <strong>de</strong> 11 <strong>de</strong> setembro. Os arquivos nacionais<br />

chamaram essa prática <strong>de</strong> intimidação, e o Arquivo Nacional é uma instituição conservadora.<br />

De acordo com os relatórios obtidos por aqueles que estavam engajados numa<br />

campanha para me tirar da prisão, o Governo Fe<strong>de</strong>ral estava classificando 125 documentos<br />

secretos por minuto! Na primeira vez que ouvi essa estatística, pensei que fosse impossível.<br />

Nenhum Governo consegue fazer uma coisa <strong>de</strong>ssas tão rapidamente. Mas, aparentemente,<br />

consegue. Porque, mais uma vez, <strong>de</strong> acordo com os arquivos, o Governo pô<strong>de</strong> limitar a publicação<br />

e distribuição <strong>de</strong> milhões <strong>de</strong> documentos que já estiveram disponíveis ao público<br />

através da criação <strong>de</strong> 60 novas categorias <strong>de</strong> informações secretas. E esse tipo <strong>de</strong> esforço do<br />

Governo não é barato. O Governo gastou US$ 7,2 bilhões em 2005 carimbando 15,6 milhões<br />

<strong>de</strong> documentos como confi<strong>de</strong>nciais, em todos os níveis <strong>de</strong> confi<strong>de</strong>ncialida<strong>de</strong>.<br />

Na minha própria área <strong>de</strong> segurança máxima e informações, particularmente o terrorismo<br />

biológico, no qual me especializei, coisas que antes eram abertas ao público agora não o<br />

110 111<br />

21 5 d0 e j0u l h8o são mais. Muito do que acredito que o público tenha direito <strong>de</strong> saber, agora é secreto. Tenho<br />

sérias dúvidas <strong>de</strong> que meu livro “Germes - as Armas Biológicas e a Guerra Secreta”, que<br />

atingiu o topo da lista dos mais vendidos após o ataque <strong>de</strong> 11 <strong>de</strong> setembro, que escrevi<br />

juntamente com dois colegas do Times, po<strong>de</strong>ria ter sido escrito hoje, dada a quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

informação atualmente consi<strong>de</strong>rada secreta. O excesso <strong>de</strong> informação secreta é, acredito,<br />

um dos <strong>de</strong>safios mais sérios que nossa <strong>de</strong>mocracia está enfrentando. A Casa Branca tentou<br />

classificar como secreto um menu para um jantar com um lí<strong>de</strong>r estrangeiro; ela classificou<br />

como secreto o motivo pelo qual o senador Ted Kennedy foi colocado sob observação por<br />

suspeita <strong>de</strong> terrorismo no aeroporto há sete anos.<br />

Em 2004, 64% <strong>de</strong> todas as reuniões do Conselho Consultivo Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> meu país foram<br />

completamente fechadas ao público, um aumento gran<strong>de</strong> após 11 <strong>de</strong> setembro. Eu sei que<br />

o Governo <strong>de</strong>ve proteger segredos, e que algumas informações <strong>de</strong>vem ser legitimamente<br />

mantidas em segredo. é compreensível que o Pentágono insista em proteger o cronograma<br />

e o <strong>de</strong>stino das tropas que estão no Afeganistão e no Iraque. Fui repórter no Iraque durante<br />

quatro meses no início da guerra e em abril <strong>de</strong>ste ano por outro período, e sei por que o<br />

Governo insistiu em manter as informações sobre esses planos. Mas por que ele insiste em<br />

proibir que as câmeras <strong>de</strong> TV mostrem imagens com a volta <strong>de</strong> caixões dos americanos mortos<br />

em ação? E por que estão evitando que os jornalistas se aproximem mais <strong>de</strong> 45 metros<br />

do funeral <strong>de</strong>stes soldados, mesmo quando eles são convidados pela família <strong>de</strong> um soldado<br />

morto, para relatar o que aconteceu com seu ente querido?<br />

Essa luta com o Governo chega num momento muito ruim para a principal corrente da imprensa.<br />

Nossa indústria — e muitos <strong>de</strong> vocês nesta sala sabem — está sofrendo uma enorme<br />

pressão econômica, numa época <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> transição. A boa notícia sobre essa transformação<br />

é a explosão dos blogs: a estimativa é <strong>de</strong> 100 milhões, junto com sites <strong>de</strong> notícias, sites<br />

<strong>de</strong> interesses especiais, publicações on-line, e impressos gratuitos, etc. São literalmente milhões<br />

<strong>de</strong> alternativas aos nossos meios tradicionais. Isso faz parte do que chamamos <strong>de</strong> nova<br />

mídia. é uma verda<strong>de</strong>ira revolução, como a boa e velha imprensa já foi, e oferece enormes<br />

possibilida<strong>de</strong>s.<br />

Ainda não esclareceram como essas novas alternativas financiarão a dispendiosa coleta e<br />

distribuição <strong>de</strong> notícias. E eu dou as boas-vindas aos que chegam à nossa comunida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

comunicadores, e me preocupo com quem pagará pela cara confirmação <strong>de</strong> histórias que<br />

todos nós damos como verda<strong>de</strong>iras sem os milhões <strong>de</strong> dólares vindos da propaganda, que<br />

tradicionalmente financia essa ativida<strong>de</strong>.<br />

Outra <strong>de</strong>svantagem da revolução tecnológica já está se tornando muito clara: a nova mídia<br />

tem contribuído para a falta <strong>de</strong> clareza no jornalismo americano, e suspeito que no seu


também ocorra o mesmo. é a falta <strong>de</strong> clareza entre o entretenimento e as notícias; entre<br />

a fofoca e o fato; entre jornalismo e jornalismo que é mera especulação mal-informada,<br />

comparando-se ao jornalismo que luta para ser preciso, justo e imparcial. Os padrões que os<br />

críticos da esquerda e da direita nos imputaram como antiga MSM (mainstream media), ou<br />

mídia da velha corrente, e não sei qual das expressões consi<strong>de</strong>ro mais digna <strong>de</strong> objeção: a<br />

expressão “antiga”ou a “corrente principal” (mainstream). Mas em qualquer dos casos, todos<br />

esses velhos padrões são consi<strong>de</strong>rados por muitos dos novatos como estranhos e fora <strong>de</strong><br />

moda; na TV, são os per<strong>de</strong>dores da audiência.<br />

Todos os repórteres cometem erros; cometi minha parcela, mas alguns blogueiros e alguns<br />

jornais da chamada mainstream estouraram sua cota em gran<strong>de</strong>s teorias da conspiração que<br />

amedrontaram e confundiram leitores tradicionais. Eles martelaram as publicações e os editores<br />

para os quais trabalhamos, dia após dia, até que os mais fracos escolheram esquivar-se<br />

<strong>de</strong> todos os assuntos problemáticos que po<strong>de</strong>riam causar controvérsia. Acho que essa é<br />

uma gran<strong>de</strong> ca<strong>de</strong>ia, porque a resposta para histórias que são erradas ou que não têm credibilida<strong>de</strong><br />

não é apenas a errata, nem as notas do editor. As principais ferramentas para informar<br />

reportagens insuficientes são mais histórias, melhores reportagens, reter a mensagem<br />

e continuar pesquisando, até ter certeza. Por todas as nossas falhas, é muito difícil trabalhar<br />

numa <strong>de</strong>mocracia bem-sucedida sem uma imprensa livre, agressiva e in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte. Isso<br />

vale para a velha e a nova mídias.<br />

Pensem nas histórias sobre as quais o público nunca saberia, não fosse por uma imprensa<br />

disposta a publicar informações contra a vonta<strong>de</strong> do Governo. Os nova-iorquinos contam<br />

com fontes confiáveis para falar, por exemplo, das torturas na prisão <strong>de</strong> Abu Dhabi, no Iraque.<br />

Sem esses vazamentos, nunca saberíamos como as prisões secretas da administração<br />

Bush estavam operando na Europa Oriental.<br />

Não saberíamos sobre o programa secreto comandado pela Administração Secreta da Segurança<br />

Nacional, que monitorou muitos dos mais <strong>de</strong> 9 trilhões <strong>de</strong> e-mails enviados nos EUA<br />

por ano, os bilhões <strong>de</strong> telefonemas <strong>de</strong> celulares e outros bilhões <strong>de</strong> telefones fixos que os<br />

americanos fazem a cada dia. Aqui no Brasil, os esforços dos repórteres para cobrir a violência<br />

urbana da milícia privada e suas ligações com a polícia, o efeito corrosivo do dinheiro das<br />

drogas e o alto nível <strong>de</strong> corrupção geraram perguntas importantes para vocês e seu Governo.<br />

Essas revelações são essenciais para qualquer <strong>de</strong>mocracia, pois sem elas, não po<strong>de</strong>mos<br />

ter uma cidadania informada, para <strong>de</strong>bater se o que Governo faz em nosso nome aperfeiçoa<br />

ou prejudica a segurança nacional.<br />

Por todas essas queixas, o Governo americano foi incapaz ou não quis mostrar até agora que<br />

qualquer programa ou fonte sensível foi comprometido pela publicação <strong>de</strong>ssas informa-<br />

112 113<br />

21 5 d0 e j0u l h8o ções. Ainda, <strong>de</strong>ve-se encontrar certo equilíbrio nesses tempos perigosos entre os direitos<br />

coletivos e os individuais, e as liberda<strong>de</strong>s em tempos <strong>de</strong> ameaça <strong>de</strong> terrorismo <strong>de</strong> massa.<br />

Alguns <strong>de</strong>les envolvem potencialmente armas <strong>de</strong> <strong>de</strong>struição em massa.<br />

As pessoas livres <strong>de</strong> todos os lugares do mundo precisam saber o que seus Governos estão<br />

fazendo em seu nome, para <strong>de</strong>bater on<strong>de</strong> o equilíbrio <strong>de</strong>ve ser reforçado. Sem esse conhecimento,<br />

nos encontramos na inconfortável posição <strong>de</strong> ter apenas que confiar no Governo,<br />

e nunca verificar o que ele está dizendo.<br />

Ronald Reagan, um ícone conservador em meu país, cunhou a expressão que <strong>de</strong>veria ser aplaudida:<br />

não há uma só solução na qual eu pense em relação ao atual dilema sobre a informação<br />

sensível nos EUA ou no seu país. Mas nos EUA, eu espero que possamos começar chamando<br />

o Senado para fazer o que a Câmara dos Deputados tem feito: aprovar uma lei <strong>de</strong> blindagem<br />

fe<strong>de</strong>ral, para proteger a habilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> jornalistas como eu <strong>de</strong> manter as fontes em segredo.<br />

Nenhum Governo <strong>de</strong> país que se consi<strong>de</strong>re livre <strong>de</strong>ve mandar um jornalista à prisão por<br />

proteger suas fontes. Sabemos por nossa história que todos os Governos, especialmente em<br />

tempos <strong>de</strong> guerra, temem o escrutínio público e resistem a prestar contas. Todos vão tentar<br />

fugir disso através dos segredos, e acham que o público vai permitir. Se <strong>de</strong>ixarmos, todos<br />

tentarão estabelecer medidas para restringir a informação na propaganda e na imprensa<br />

livre. Meu trabalho − e espero que o seu também − é fazer com que esse tipo <strong>de</strong> isolamento<br />

do escrutínio público seja inaceitável em socieda<strong>de</strong>s <strong>de</strong>nominadas livres, e que aspiram por<br />

ser livres. Muito obrigada por sua atenção esta noite, estou feliz por estar aqui. Po<strong>de</strong>m fazer<br />

suas perguntas.<br />

João Dória Jr.<br />

Judith, parabéns pela sua exposição clara, precisa e corajosa. Vamos ter três intervenções:<br />

Carlos Eduardo Lins e Silva, ombudsman do jornal Folha <strong>de</strong> S.Paulo; na sequência, Ricardo<br />

Gandour,, diretor <strong>de</strong> conteúdo do jornal O Estado <strong>de</strong> S.Paulo; e Rodolfo Fernan<strong>de</strong>s, diretor<br />

<strong>de</strong> redação do jornal O Globo. Cada um terá até cinco minutos <strong>de</strong> intervenção, po<strong>de</strong>ndo<br />

intervir comentando a sua exposição e também fazendo perguntas a Judith. Depois, abriremos<br />

as perguntas, que po<strong>de</strong>m vir da plateia ou dos três membros da mesa que aqui estão.<br />

Com a palavra, Carlos Eduardo Lins e Silva.<br />

Carlos Eduardo lins e Silva<br />

Muito obrigado pelo convite. Em primeiro lugar, quero saudar a realização <strong>de</strong>ste <strong>Congresso</strong>,<br />

que é muito importante. Acredito firmemente na liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> expressão, tanto jornalística<br />

quanto comercial. Atualmente, vivemos no Brasil um período <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s ameaças à liber-


da<strong>de</strong> <strong>de</strong> expressão comercial e sou inteiramente solidário com os publicitários e espero que<br />

eles consigam se organizar para fazer barragem a essa campanha.<br />

Em relação à liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> expressão jornalística, eu gostaria <strong>de</strong> ressaltar uma experiência<br />

recente que tive como ombudsman da Folha, e que acho um perigo para todos nós, jornalistas,<br />

em qualquer lugar do mundo. Uma parcela não <strong>de</strong>sprezível dos leitores <strong>de</strong> jornal, dos<br />

consumidores <strong>de</strong> informação jornalística, apoia a limitação da liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> expressão por<br />

motivos i<strong>de</strong>ológicos ou pragmáticos. Assim como eu acredito que nos Estados Unidos, muitos<br />

conservadores achem que os jornais não <strong>de</strong>vem ter liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> publicar documentos<br />

que possam contrariar o seu governo, não só por razões <strong>de</strong> convicção político-partidária,<br />

mas também porque acreditam que isso po<strong>de</strong> representar uma ameaça à segurança nacional,<br />

aqui no Brasil nós também temos situação similar, como tenho constatado diariamente,<br />

no meu contato com os leitores da Folha.<br />

Um número <strong>de</strong> leitores estatisticamente pequeno diante do 1 milhão que a Folha tem diariamente,<br />

mas que é representativo pela sua força <strong>de</strong> agregação, se manifesta diretamente a<br />

mim, apoiando possíveis ou eventuais restrições à liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> imprensa, ou até sugerindo<br />

que elas venham a existir, quando o jornal manifesta uma opinião, ou revela um fato que<br />

po<strong>de</strong> contrariar os interesses político-partidários ou i<strong>de</strong>ológicos daqueles leitores.<br />

A tarefa não é fácil. Apesar <strong>de</strong> vivermos hoje no Brasil uma situação excepcionalmente boa,<br />

com 23 anos <strong>de</strong> liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> expressão jornalística e <strong>de</strong> contarmos com aparatos legais que,<br />

por exemplo, impe<strong>de</strong>m que ocorra uma situação como a <strong>de</strong> Judith Miller, <strong>de</strong> um jornalista<br />

ser preso por não revelar a sua fonte, existe um caldo <strong>de</strong> cultura, inclusive entre os principais<br />

beneficiários da liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> expressão, que são os consumidores da informação, que po<strong>de</strong><br />

representar uma ameaça concreta, no momento em que algum lí<strong>de</strong>r político resolva iniciar<br />

– como já ocorreu num passado recente – algum tipo <strong>de</strong> ação com o objetivo <strong>de</strong> diminuir e<br />

constranger a liberda<strong>de</strong> jornalística.<br />

Estamos vivendo essa situação nesta semana, com a revolta <strong>de</strong> uma parcela não <strong>de</strong>sprezível<br />

<strong>de</strong> leitores por enxergarem na atuação da imprensa – especificamente da Folha <strong>de</strong> S.Paulo –<br />

uma proteção a uma pessoa que é acusada <strong>de</strong> crimes, que eles consi<strong>de</strong>ram culpada e acham<br />

que, por isso, ela <strong>de</strong>ve ser punida, mesmo sem o cumprimento dos ritos legais necessários<br />

e indispensáveis para uma situação <strong>de</strong> direito.<br />

A nossa resposta <strong>de</strong>ve ser, primeiro, a vigilância e segundo – e isto é muito importante –,<br />

um jornalismo <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> cada vez melhor. é muito ruim quando um jornal resolve fazer<br />

alguma revelação e comete erros <strong>de</strong> informação, imprecisão ou omite <strong>de</strong>terminadas informações.<br />

Portanto, temos que estar vigilantes e, principalmente, melhorar cada vez mais a<br />

qualida<strong>de</strong> do nosso trabalho. Obrigado.<br />

114 115<br />

21 5 d0 e j0u l h8o João Dória Jr.<br />

Muito boa a intervenção do Carlos Eduardo. Vamos agora ao Ricardo Gandour, diretor <strong>de</strong><br />

conteúdo do jornal O Estado <strong>de</strong> S.Paulo. Também são cinco minutos.<br />

Ricardo Gandour<br />

Obrigado. Eu também gostaria <strong>de</strong> saudar a iniciativa da <strong>Abap</strong> <strong>de</strong> realizar este gran<strong>de</strong> encontro,<br />

especialmente por incluir na sua programação uma discussão envolvendo a imprensa<br />

<strong>de</strong>ntro do conceito <strong>de</strong> liberda<strong>de</strong>, inclusive por meio do convite <strong>de</strong> uma importante<br />

jornalista americana que teve seriíssimos problemas <strong>de</strong>ntro do contexto da sua socieda<strong>de</strong>,<br />

com a questão da liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> imprensa. é muito louvável a iniciativa da <strong>Abap</strong>, porque eu,<br />

particularmente, acredito que a socieda<strong>de</strong> brasileira ainda tem algo significativo a construir<br />

em termos <strong>de</strong> conceituação e <strong>de</strong> valores relacionados à liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> expressão, à liberda<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> imprensa. é coisa que, no âmbito da associação nacional <strong>de</strong> jornais, temos discutido<br />

frequentemente.<br />

Temos uma <strong>de</strong>mocracia ainda muito jovem. O nosso recentíssimo passado ditatorial, o regime<br />

militar, faz com que na nossa socieda<strong>de</strong>, ainda permaneçam valores ligados ao controle<br />

e, <strong>de</strong> alguma forma, a restrições. Ainda permanece uma sensação <strong>de</strong> que o equilíbrio da<br />

socieda<strong>de</strong> será atingido pelo equilíbrio entre controles. Cada setor é muito bem controlado<br />

e a socieda<strong>de</strong> atinge o equilíbrio pelo equilíbrio <strong>de</strong> controles, enquanto o que a socieda<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>ve visar é o equilíbrio entre liberda<strong>de</strong>s. Cada setor com liberda<strong>de</strong>, com responsabilida<strong>de</strong><br />

– e aí eu colocaria a autorregulação –, possibilitaria que a socieda<strong>de</strong> alcançasse o seu<br />

equilíbrio entre liberda<strong>de</strong>s. Resumindo: não ao equilíbrio entre controles e sim ao equilíbrio<br />

entre liberda<strong>de</strong>s.<br />

No caso específico da imprensa, ainda temos muito a fazer. Recentemente, tivemos dispositivos<br />

<strong>de</strong> controle colocados pelo Governo. Quanto à TV pública, ele foi enviado ao <strong>Congresso</strong><br />

através <strong>de</strong> uma medida provisória e não um projeto <strong>de</strong> lei que tivesse audiências públicas<br />

e fosse discutido. Sabemos o quão mais difícil ficou a cobertura da violência urbana após<br />

o episódio do assassinato do jornalista Tim Lopes. Todos sabemos <strong>de</strong> quantos jornalistas<br />

brasileiros ainda são presos, agredidos; todos vivemos a questão das ações orquestradas por<br />

uma entida<strong>de</strong> religiosa contra jornalistas da Folha <strong>de</strong> S.Paulo.<br />

Repito: o evento é mais do que saudável, por saudar a liberda<strong>de</strong>. Nesse sentido, foi muito feliz<br />

uma entrevista publicada por O Globo no último domingo com o ex-ministro do STF, Célio Borja,<br />

sublinhando a questão do clamor público sobre o legislativo, e não sobre o judiciário. Célio<br />

Borja pontuou que o clamor público <strong>de</strong>ve ser direcionado ao legislativo, para que a socieda<strong>de</strong><br />

aprimore suas leis. Clamor público junto ao judiciário é um curto caminho para o linchamento.


Voltando à presença <strong>de</strong> profissionais da imprensa no <strong>IV</strong> <strong>Congresso</strong> <strong>Brasileiro</strong> <strong>de</strong> Publicida<strong>de</strong>,<br />

esse encontro importante, chega-se à equação que todos nós sabemos e na qual todos nós<br />

comungamos: é a máxima <strong>de</strong> que a in<strong>de</strong>pendência editorial vem inclusive da in<strong>de</strong>pendência<br />

financeira. Por isso, saudamos a iniciativa do mercado publicitário <strong>de</strong> conquistar uma<br />

in<strong>de</strong>pendência cada vez maior, porque sabemos que a in<strong>de</strong>pendência editorial <strong>de</strong> nossos<br />

veículos está baseada na in<strong>de</strong>pendência financeira e isso vem do mercado publicitário cada<br />

vez mais saudável e com in<strong>de</strong>pendência.<br />

Evi<strong>de</strong>ntemente – e aí, voltando à figura <strong>de</strong> construirmos uma socieda<strong>de</strong> em que o equilíbrio<br />

seja alcançado entre liberda<strong>de</strong>s e não entre controles –, cabe a nós, o lado jornalístico e o<br />

lado comercial, prosseguir nessa jornada com muita responsabilida<strong>de</strong>, com autorregulação<br />

e com transparência. Muito obrigado.<br />

João Dória Jr.<br />

Outra boa intervenção, exata e curta. Gostei em especial da observação que você fez sobre<br />

equilíbrio entre liberda<strong>de</strong>s. Vamos agora ao Rodolfo Fernan<strong>de</strong>s, diretor <strong>de</strong> redação <strong>de</strong> um<br />

dos mais importantes jornais do país, O Globo.<br />

Rodolfo fernan<strong>de</strong>s<br />

Boa noite. Gostaria <strong>de</strong> agra<strong>de</strong>cer pelo convite para participar <strong>de</strong> um evento tão importante<br />

e com um tema tão relevante, não só para o meio publicitário, mas para o jornalístico<br />

também, que discute a liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> imprensa e a liberda<strong>de</strong> comercial em todos os seus<br />

aspectos.<br />

Eu achava que a categoria dos jornalistas era complicada, mas quando soube que o último<br />

<strong>Congresso</strong> <strong>Brasileiro</strong> <strong>de</strong> Publicida<strong>de</strong> ocorreu há 30 anos, estou revendo meus conceitos sobre<br />

os jornalistas.<br />

Fiquei muito impressionado pela palestra <strong>de</strong> Judith Miller e cheguei à conclusão <strong>de</strong> que<br />

estamos vivendo num mundo muito estranho, em que bancos brasileiros valem mais do<br />

que bancos americanos; um mundo em que a liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> expressão no Brasil, sob algum<br />

aspecto, possa ser mais rigorosa do que nos Estados Unidos. é realmente um mundo em que<br />

os valores sobre os quais construímos nossas carreiras e nossa formação estão em xeque.<br />

Eu gostaria <strong>de</strong> trazer uma visão mais positiva em relação à situação que vivemos no Brasil,<br />

apesar <strong>de</strong> todas as ameaças reais <strong>de</strong>scritas aqui ao longo do dia.<br />

Comecei a trabalhar em jornal quando existia a censura prévia da imprensa; os censores ficavam<br />

<strong>de</strong>ntro da redação dos jornais, dizendo o que podia ou não ser publicado. Por isso, eu<br />

consi<strong>de</strong>ro que vivemos hoje no Brasil o período único <strong>de</strong> liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> imprensa e expressão.<br />

Des<strong>de</strong> que a imprensa foi implantada no Brasil, com a chegada da família real, há apenas<br />

200 anos, foi permitida a existência <strong>de</strong> jornais no país. Des<strong>de</strong> 1985 e com aperfeiçoamentos<br />

posteriores, temos vivido um período único <strong>de</strong> liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> expressão no nosso país. A<br />

minha geração não experimentou uma situação como a <strong>de</strong> hoje durante muitos anos <strong>de</strong><br />

ativida<strong>de</strong> profissional. Temos claramente algumas tentativas <strong>de</strong> ameaça à nossa liberda<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> expressão. Está para ser eleito o governo que goste <strong>de</strong> uma imprensa livre, e o governo<br />

atual do Brasil, neste sentido, não é diferente dos outros.<br />

Ocorreram algumas tentativas <strong>de</strong> controle da imprensa, mas a diferença é que hoje temos<br />

uma socieda<strong>de</strong> civil organizada, um mercado publicitário livre, forte e in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte, com<br />

jornalistas in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes e um Po<strong>de</strong>r Judiciário também in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> governos, o que<br />

permite que <strong>de</strong>senvolvamos nossas ativida<strong>de</strong>s, mesmo com ameaças.<br />

A recente manifestação do Supremo Tribunal Fe<strong>de</strong>ral, registrada na palestra <strong>de</strong> Judith Miller,<br />

revogando todos os artigos da Lei <strong>de</strong> Imprensa, que ainda é do tempo do regime militar e<br />

que se chocam com a Constituição, a partir <strong>de</strong> uma proposta do <strong>de</strong>putado Miro Teixeira, é<br />

algo <strong>de</strong> que <strong>de</strong>vemos nos regozijar.<br />

Numa entrevista, quando ainda estava no Governo, o ministro Gushiken fez uma constatação<br />

óbvia, mas que, partindo <strong>de</strong> alguém que estava <strong>de</strong>ntro do Governo, foi muito significativa:<br />

“a socieda<strong>de</strong> <strong>de</strong>u os limites ao Governo e ao PT”. Manifestações como essa me levam a<br />

essa conclusão sobre o estágio <strong>de</strong> liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> imprensa que vivemos no país.<br />

Judith Miller foi presa nos Estados Unidos por não revelar a fonte <strong>de</strong> uma informação importante<br />

que obteve. Para nós, do Brasil, isso é totalmente incompreensível, a partir do<br />

momento em que a nossa constituição é totalmente clara nesse sentido.Nenhum jornalista<br />

é obrigado a revelar sua fonte numa investigação. é um momento <strong>de</strong> saudar o estágio <strong>de</strong><br />

liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> imprensa que temos no Brasil.<br />

Eu gostaria <strong>de</strong> encerrar fazendo uma pergunta para a nossa palestrante. Seu país nos <strong>de</strong>u<br />

muito em termos <strong>de</strong> liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> imprensa, apren<strong>de</strong>mos muito com ele. Você acredita que<br />

essas ameaças, esse estado quase policial que você <strong>de</strong>screveu na sua palestra, sejam resultantes<br />

<strong>de</strong> problemas legais, <strong>de</strong> uma legislação que precisa ser aperfeiçoada?; Elas são<br />

criadas por um grupo que está momentaneamente no po<strong>de</strong>r e isso po<strong>de</strong>ria ser mudado no<br />

processo eleitoral? Como você situaria o passo seguinte que os Estados Unidos <strong>de</strong>vem dar<br />

no sentido <strong>de</strong> caminhar para aperfeiçoar a liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> imprensa?<br />

Judith miller<br />

Obrigada por estimularem um <strong>de</strong>bate sobre essa situação aqui no Brasil. Em primeiro lugar,<br />

gostaria <strong>de</strong> dizer que não estamos nem próximos <strong>de</strong> um estado policial nos Estados Unidos.<br />

116 117<br />

21 5 d0 e j0u l h8o


A imprensa <strong>de</strong>sfruta <strong>de</strong> uma imensa liberda<strong>de</strong>: po<strong>de</strong>mos escrever o que quisermos, sem<br />

censura. E, o mais importante é o ponto no qual vocês três estavam chegando: não há<br />

uma cultura <strong>de</strong> confi<strong>de</strong>ncialida<strong>de</strong> ou censura. Há pouquíssima autocensura interna no<br />

nosso país, pois lá não existe esse tipo <strong>de</strong> tradição. Porém, acredito que temos vivenciado<br />

alguns problemas <strong>de</strong>correntes do enorme choque sofrido após a tragédia <strong>de</strong> 11 <strong>de</strong> setembro.<br />

A reação das pessoas foi que elas precisavam dar mais atenção à segurança nacional,<br />

que não po<strong>de</strong>riam publicar ou dizer <strong>de</strong>terminadas coisas.<br />

Durante certo período, isso tirou os americanos do seu equilíbrio normal, rotineiro. De repente,<br />

os americanos, que são <strong>de</strong>stemidos e <strong>de</strong>srespeitam o governo em muitos assuntos,<br />

ficaram preocupados com sua segurança, com informações que po<strong>de</strong>riam ameaçar sua<br />

segurança. Resultado: ficou mais fácil para o governo Bush consi<strong>de</strong>rar mais informações<br />

como confi<strong>de</strong>nciais, manter em segredo o que <strong>de</strong>veria ser público.<br />

Creio que agora recuperamos nosso equilíbrio, e in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente <strong>de</strong> quem vencer<br />

nas eleições <strong>de</strong> novembro – John McCain ou Barak Obama –, a <strong>de</strong>claração da in<strong>de</strong>pendência<br />

e liberda<strong>de</strong> da imprensa, suas exigências por uma lei <strong>de</strong> proteção, sua retomada<br />

aos valores tradicionais, que são a marca registrada <strong>de</strong> uma socieda<strong>de</strong> livre, estarão mais<br />

onipresentes.<br />

A reação ao ocorrido em 11 <strong>de</strong> setembro foi natural. A recuperação é encorajadora e<br />

também natural em uma <strong>de</strong>mocracia. Estou impressionada pelo fato <strong>de</strong> que os jornalistas<br />

brasileiros progrediram muito, com incrível rapi<strong>de</strong>z, após um longo período <strong>de</strong> ditadura<br />

militar. é muito animador o que vejo sobre a explosão da mídia aqui. A maior parte dos<br />

americanos consi<strong>de</strong>ra o Brasil como uma história <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> sucesso. O país se <strong>de</strong>staca do<br />

bloco da América Latina, on<strong>de</strong> as histórias bem-sucedidas, hoje, são difíceis <strong>de</strong> ocorrer.<br />

Obrigada.<br />

João Dória Jr.<br />

Obrigado, Judith. Temos mais uma pergunta da mesa, do Carlos Eduardo Lins e Silva. Se<br />

vocês <strong>de</strong>sejarem, ainda temos alguns minutos e vocês po<strong>de</strong>m encaminhar perguntas à<br />

mesa para Judith ou qualquer integrante da bancada.<br />

Carlos Eduardo lins e Silva<br />

é uma pergunta muito objetiva: quais são os próximos passos para o projeto <strong>de</strong> lei que<br />

vai permitir a aprovação da secrecida<strong>de</strong> da fonte? Quanto tempo falta? Em que comissão<br />

está e quais são as chances <strong>de</strong> êxito na aprovação no Senado do projeto <strong>de</strong> lei que trata<br />

da proteção aos jornalistas?<br />

118 119<br />

21 5 d0 e j0u l h8o Judith miller<br />

Fico feliz em dizer que a lei <strong>de</strong> proteção já foi aprovada na Câmara dos Deputados e foi<br />

aprovada por maioria numa reunião <strong>de</strong> veto – o presi<strong>de</strong>nte Bush já votou para que essa<br />

lei fosse vetada. Está esperando pelos votos do senado e minha única preocupação ao vir<br />

para o Brasil foi a probabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> eu ter que ir embora rapidamente, para estar presente<br />

no senado durante a votação. Espero que seja aprovada neste ano, mas tenho certeza <strong>de</strong><br />

que será aprovada, porque 49 dos 50 estados <strong>de</strong> nossa União já legalizaram leis <strong>de</strong> proteção.<br />

João Dória Jr.<br />

Temos mais uma pergunta, <strong>de</strong> Paulo Castro, presi<strong>de</strong>nte do Terra, que solicita um comentário<br />

seu sobre o papel da internet ao abrir espaços mais livres para a publicação <strong>de</strong> informações,<br />

rompendo com controles inclusive em países como Venezuela e Cuba.<br />

Judith miller<br />

Isso nos dá uma gran<strong>de</strong> oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> superar as exigências e leis <strong>de</strong> censura impostas, a<br />

pressão que o jornalista enfrenta para não publicar informações importantes. Na Venezuela,<br />

os jornalistas que publicam tais informações são realmente corajosos.<br />

Acredito que o problema da internet, como vimos na China, é que ela também po<strong>de</strong> ser<br />

controlada. Ouvimos muito sobre as maravilhas do Google, do Yahoo e <strong>de</strong> tudo o que eles<br />

nos <strong>de</strong>ram, é importante que eu diga que essas ferramentas também estão sujeitas à censura<br />

na China e eles concordaram com isso. A única organização que não concordou e, como<br />

resultado, abandonou a China, foi a Wikipédia, uma enciclopédia on-line estruturada com<br />

base em comunida<strong>de</strong>s, um avanço notável. Porém, a maioria das organizações do setor <strong>de</strong><br />

notícias ce<strong>de</strong>u totalmente à pressão na China, pois não queriam ser retiradas do mercado.<br />

Somente a união <strong>de</strong> forças dos comunicadores convencerá os chineses do mundo que eles<br />

não po<strong>de</strong>rão continuar assim. Se nos unirmos, eles po<strong>de</strong>rão aumentar seus esforços na luta<br />

contra a censura e a restrição da imprensa e das informações.<br />

João Dória Jr.<br />

Ricardo Gandour, do jornal O Estado <strong>de</strong> S.Paulo.<br />

Ricardo Gandour<br />

Você enfrentou o seu processo no complicado contexto da guerra <strong>de</strong> informações nos Estados<br />

Unidos sobre a questão <strong>de</strong> quão verda<strong>de</strong>iras ou <strong>de</strong>talhadas eram as informações sobre


posse <strong>de</strong> armas no Iraque, com Saddam Hussein, conjuntura que <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ou a invasão dos<br />

Estados Unidos pelo Iraque. O que você teria feito <strong>de</strong> diferente hoje, se pu<strong>de</strong>sse voltar atrás?<br />

Judith miller<br />

Boa pergunta! é difícil pensar no que eu teria feito <strong>de</strong> diferente. Publiquei as informações<br />

quando as obtive. O New York Times é um jornal diário. Todas as empresas <strong>de</strong> notícias estavam<br />

sendo pressionadas para relatar o que estavam dizendo ao presi<strong>de</strong>nte assim que<br />

recebiam as informações.<br />

Na <strong>de</strong>cisão <strong>de</strong> ir à guerra, as informações sobre as armas <strong>de</strong> <strong>de</strong>struição em massa foram exageradas<br />

em termos <strong>de</strong> sua importância. Acredito que a administração <strong>de</strong> Bush <strong>de</strong>cidiu ir à<br />

guerra com o Iraque muito antes do início dos questionamentos sobre armas <strong>de</strong> <strong>de</strong>struição<br />

em massa. Não creio que a imprensa tenha sido responsável por esta <strong>de</strong>cisão. Nós contribuímos<br />

para isso, mas é difícil para mim pensar no que eu teria feito <strong>de</strong> diferente, pois assim<br />

que eu recebia as informações que contradiziam o que fora apresentado, eu publicava.<br />

Ao lidar com informações confi<strong>de</strong>nciais, é muito difícil <strong>de</strong>scobrir o que você não sabe. Você<br />

tenta fazer suposições on<strong>de</strong> há falhas, mas no fim, você busca as pessoas com as quais já<br />

esteve antes e em quem você confia.<br />

Eu não acredito que as pessoas que me <strong>de</strong>ram informações mentiram para mim <strong>de</strong>liberadamente.<br />

Acredito que elas estavam enganadas e, como resultado, eu errei. Somos tão bons<br />

quanto nossas fontes po<strong>de</strong>m ser. Mais uma vez, eu teria continuado a dar a notícia, com<br />

mais antecedência, com um pouco mais <strong>de</strong> tempo para questionar, avaliar o que me diziam.<br />

Foi uma difícil lição para todos, mas na próxima vez, seremos ainda mais céticos, se houver<br />

uma próxima oportunida<strong>de</strong>, e eu espero que não haja.<br />

João Dória Jr.<br />

Vamos fazer mais duas perguntas antes <strong>de</strong> encerrar este painel e os trabalhos <strong>de</strong> hoje. Aqui<br />

vai uma pergunta polêmica para o Carlos Eduardo Lins e Silva, da Folha <strong>de</strong> S.Paulo. Os colunistas<br />

<strong>de</strong> jornais têm hoje carta branca para <strong>de</strong>struir reputações. Publicam intrigas sem ouvir<br />

o outro lado. Quem protege as vítimas dos colunistas <strong>de</strong> jornais?<br />

Carlos Eduardo lins e Silva<br />

Os colunistas, como sabemos, têm na maioria dos jornais (na Folha eles têm) liberda<strong>de</strong> para<br />

expressar as suas opiniões e informações sem submetê-las ao controle editorial do jornal. A<br />

coluna é o espaço do colunista e ele escreve o que <strong>de</strong>sejar.<br />

Quem protege as vítimas dos colunistas é a socieda<strong>de</strong>. Na medida em que um colunista –<br />

usando as expressões da pergunta – <strong>de</strong>strói várias vezes a reputação <strong>de</strong> um indivíduo ou <strong>de</strong><br />

120 121<br />

21 5 d0 e j0u l h8o uma empresa com informações falsas ou opiniões não substanciadas em fatos, a socieda<strong>de</strong><br />

perceberá e exigirá uma reparação.<br />

Existe a justiça para que essa reparação seja feita e o jornal – no caso da Folha, eu tenho certeza<br />

– não ficará indiferente à repercussão negativa que essa coluna trará para o colunista<br />

e para o jornal.<br />

A proteção é dada pela reação da socieda<strong>de</strong> e das próprias pessoas prejudicadas. Eu não<br />

acredito que seja necessário ou bom para o país algum tipo <strong>de</strong> censura prévia contra o<br />

colunista.<br />

João Dória Jr.<br />

Vamos agora à última pergunta <strong>de</strong>ste painel. é uma mesma pergunta formulada por duas<br />

pessoas: Carolina Levi, da Pontifícia Universida<strong>de</strong> Católica do Rio <strong>de</strong> Janeiro e Henrique Neves,<br />

do SBT. Em quem Judith Miller vai votar para presi<strong>de</strong>nte dos Estados Unidos?<br />

Judith miller<br />

Esta não é uma pergunta fácil para mim, pois ainda não <strong>de</strong>cidi. Como mulher, eu estava inclinada<br />

a votar em Hillary Clinton. Acreditava que ela era uma candidata surpreen<strong>de</strong>nte, Diferente<br />

<strong>de</strong> alguns colunistas do jornal on<strong>de</strong> trabalhei, acredito que ela sofreu discriminação por ser<br />

do sexo feminino e acho que seu marido, ex-presi<strong>de</strong>nte, também foi responsável em parte.<br />

Tenho visto o Sr. McCain e o Sr. Barak Obama e estou muito in<strong>de</strong>cisa. Tenho fortes preocupações<br />

sobre a segurança nacional e o que po<strong>de</strong> acontecer e sei que agora todos estão apostando<br />

no Sr. Barak Obama. Peço que vocês prestem atenção e esperem, porque quando se trata<br />

das eleições nos Estados Unidos, nunca se sabe o que acontecerá.<br />

Como cidadã americana, sinto-me muito orgulhosa <strong>de</strong> que pela primeira vez no meu país, temos<br />

um afro-americano, uma mulher e um republicano como candidatos li<strong>de</strong>rando a disputa.<br />

é algo <strong>de</strong> que os americanos po<strong>de</strong>m se orgulhar, não importa quem ganhe em novembro.<br />

Como vocês, vou prestar atenção, esperar e torcer para que o melhor aconteça. De uma coisa<br />

estou certa: quem for eleito enfrentará uma imprensa tão zangada quanto ela esteve na administração<br />

<strong>de</strong> Bush. Obrigada.<br />

João Dória Jr.<br />

Vamos fazer o encerramento <strong>de</strong>ste painel. Gostaria <strong>de</strong> informar que amanhã vocês conhecerão<br />

as teses que foram discutidas nos grupos. As comissões <strong>de</strong> trabalho serão apresentadas<br />

neste plenário. Um agra<strong>de</strong>cimento e um cumprimento muito especial ao Dalton Pastore,<br />

presi<strong>de</strong>nte da <strong>Abap</strong> <strong>de</strong>ste <strong>Congresso</strong>. Conforme lembrou o jornalista Rodolfo Fernan<strong>de</strong>s, não


é fácil construir um congresso trinta anos <strong>de</strong>pois. Também agra<strong>de</strong>ço a Carlos Eduardo Lins<br />

e Silva, ombudsman do jornal Folha <strong>de</strong> S.Paulo; ao Rodolfo Fernan<strong>de</strong>s, diretor <strong>de</strong> redação do<br />

jornal O Globo; ao Ricardo Gandour, diretor <strong>de</strong> conteúdo do jornal O Estado <strong>de</strong> S.Paulo, e a<br />

Judith Miller, pela sua corajosa exposição, pela sua trajetória como jornalista. A todos vocês<br />

que aqui estão, muito obrigado. Encerro com uma salva <strong>de</strong> palmas a esse <strong>Congresso</strong>.<br />

122 123<br />

21 5 d0 e j0u l h8o


Comissões<br />

I N S T A l A ç ã O D A S<br />

124 125<br />

21 5 d0 e j0u l h8o


126 127<br />

21 5 d0 e j0u l h8o


6A CRIAT<strong>IV</strong>IDADE bRASIlEIRA<br />

Presi<strong>de</strong>nte: Nizan Guanaes<br />

Relator: Flávia Faugeres<br />

Palestrante: P.J. Pereira<br />

Debatedores: João Daniel, Pedro Cruz,<br />

Rony Rodrigues e Mauricio Magalhães<br />

128 129<br />

21 5 d0 e j0u l h8o 1. Construir através <strong>de</strong> uma ABP forte e entida<strong>de</strong>s como<br />

Cenp, Conar, Aba, Clube <strong>de</strong> Criação, Anj, Abert, Grupo<br />

<strong>de</strong> Mídia, etc. um mercado com essa visão, essa ambição<br />

mundial e preparado para ela.<br />

2. Articular com a área acadêmica a revisão dos<br />

currículos e a padronização das disciplinas básicas<br />

à luz das necessida<strong>de</strong>s mundiais. Criar e padronizar<br />

programas <strong>de</strong> estágios, para garantir as formações <strong>de</strong><br />

novos talentos e o justo reconhecimento a eles.<br />

3. Estimular o intercâmbio nacional e internacional <strong>de</strong><br />

talentos <strong>de</strong> profissionais <strong>de</strong> comunicação.<br />

4. Atrair para o mercado outros talentos como<br />

antropólogos, sociólogos e historiadores que<br />

contribuam para turbinar nossa criativida<strong>de</strong>.<br />

5. Articular com órgãos como Apex, Ministério <strong>de</strong><br />

Relações Exteriores, Ministério da Indústria e Comércio,<br />

etc. a venda da criativida<strong>de</strong> brasileira como um Emerging<br />

Creative Lea<strong>de</strong>r, por meio <strong>de</strong> seminários, feiras, eventos<br />

no exterior e outras manifestações; e criar um selo<br />

brasileiro <strong>de</strong> criativida<strong>de</strong>, 'Created in Brasil', que possa ser<br />

usado amplamente pelo mercado.<br />

6. Dar uma agenda mundial à <strong>Abap</strong> e às nossas<br />

principais entida<strong>de</strong>s, <strong>de</strong> forma a que elas não só<br />

<strong>de</strong>fendam nossos interesses no Brasil, mas também<br />

construam nossa imagem e oportunida<strong>de</strong>s para nossa<br />

criativida<strong>de</strong> lá fora.<br />

7. Conscientizar e mobilizar os profissionais <strong>de</strong> todas<br />

as áreas criativas na <strong>de</strong>fesa intransigente <strong>de</strong> todas as<br />

entida<strong>de</strong>s que evitam a 'commoditização' da criativida<strong>de</strong><br />

e garantem liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> expressão − como <strong>Abap</strong>, Aba,<br />

Cenp, Conar etc. −, inclusive mobilizando a publicida<strong>de</strong><br />

para que seja engajada na justa remuneração <strong>de</strong> toda a<br />

ca<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> comunicação integrada e dos prestadores <strong>de</strong><br />

serviços especializados. Já que a comunicação é 360º, o<br />

respeito profissional <strong>de</strong>ve ser 360º.<br />

8. Desenhar um projeto <strong>de</strong> conscientização do<br />

empresariado brasileiro, mostrando que a força da<br />

criativida<strong>de</strong> é um instrumento fundamental para<br />

construir marcas mundiais e preços premium.


7EfICÁCIA NO PlANEJAmENTO<br />

E COmPRA DE míDIA<br />

Presi<strong>de</strong>nte: Ângelo Franzão<br />

Secretário: Paulo César Queiroz<br />

Relator: Oscar Matos<br />

Palestrante: Fausto Silva (Faustão)<br />

Debatedores: Luca Cavalcanti, Alexandre Gama<br />

e Flávio Ferrari.<br />

130 131<br />

21 5 d0 e j0u l h8o A Comissão conclui que:<br />

1. A maior eficácia do Planejamento e na Negociação<br />

<strong>de</strong> Mídia começa, obrigatoriamente, no melhor<br />

entendimento do briefing, nas informações do<br />

consumidor, na geografia da marca, na análise da<br />

atuação da concorrência, nas oportunida<strong>de</strong>s do<br />

período da campanha, na receptivida<strong>de</strong> da marca à<br />

comunicação, entre outras.<br />

2. A maior eficácia das negociações e das compras <strong>de</strong><br />

mídia só po<strong>de</strong>rá ser adquirida por meio <strong>de</strong> estudos que<br />

<strong>de</strong>terminam o potencial <strong>de</strong> consumo e distribuição<br />

da marca, avaliação dos custos absolutos e relativos da<br />

mídia, consi<strong>de</strong>ração das oportunida<strong>de</strong>s e propostas<br />

específicas para a marca, etc.<br />

3. A maior eficácia do Planejamento e das negociações e<br />

Compras <strong>de</strong> Mídia ocorre exatamente no atual mo<strong>de</strong>lo<br />

brasileiro <strong>de</strong> agências <strong>de</strong> publicida<strong>de</strong>, com Mídia e<br />

Criação trabalhando integradas.<br />

4. Tanto o planejamento como a negociação <strong>de</strong> mídia,<br />

para que sejam realmente eficazes, <strong>de</strong>vem consi<strong>de</strong>rar<br />

o instrumental básico <strong>de</strong> mídia, ou seja, pesquisas,<br />

informações proprietárias, ferramentas, avaliações<br />

pertinentes aos objetivos mercadológicos da marca, etc.<br />

5. O aperfeiçoamento da ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> mídia exige a<br />

maior conscientização da importância e do valor do<br />

profissional <strong>de</strong> mídia e sua integral participação em todo<br />

o processo da comunicação e do marketing.<br />

Portanto, <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>u e recomendou a Comissão, com<br />

a aprovação unânime do plenário do <strong>IV</strong> <strong>Congresso</strong><br />

<strong>Brasileiro</strong> <strong>de</strong> Publicida<strong>de</strong>, os seguintes princípios básicos:<br />

a. a obrigatorieda<strong>de</strong> da existência <strong>de</strong> um profissional,<br />

área ou <strong>de</strong>partamento <strong>de</strong> mídia nas agências <strong>de</strong><br />

publicida<strong>de</strong>, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente do seu tamanho, raio<br />

<strong>de</strong> ação ou localida<strong>de</strong> do país.<br />

b. a certificação formal e oficial do profissional <strong>de</strong> mídia,<br />

a ser feita pelo Grupo <strong>de</strong> Mídia <strong>de</strong> São Paulo e pelos<br />

Grupos <strong>de</strong> Mídia <strong>de</strong> outros Estados e outras Associações,<br />

como a <strong>Abap</strong>, APP, etc.<br />

c. que pelo menos um entre os profissionais <strong>de</strong> mídia<br />

que trabalhem nos anunciantes seja certificado pelo<br />

Grupo <strong>de</strong> Mídia <strong>de</strong> São Paulo, <strong>de</strong> acordo com os padrões<br />

adotados no item 2.<br />

d. a aplicação mínima <strong>de</strong> 1% das receitas das agências<br />

<strong>de</strong> publicida<strong>de</strong> em pesquisas e ferramentas <strong>de</strong> mídia.<br />

e. a unificação dos currículos dos cursos <strong>de</strong> mídia<br />

realizados nas universida<strong>de</strong>s/faculda<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />

comunicação social <strong>de</strong> todo o país, com a inclusão <strong>de</strong><br />

matérias como tecnologia e serviços <strong>de</strong> marketing.<br />

f. o maior intercâmbio do Grupo <strong>de</strong> Mídia <strong>de</strong> São Paulo<br />

com os <strong>de</strong>mais Grupos Estaduais e Internacionais,<br />

objetivando a transferência e <strong>de</strong> informações.


8A REAlIDADE DOS mERCADOS REGIONAIS<br />

Presi<strong>de</strong>nte: Ricardo Nabhan.<br />

Secretário: Gláucio Bin<strong>de</strong>r<br />

Relator: Saint’Clair <strong>de</strong> Vasconcelos<br />

Palestrante: George Vidor<br />

Debatedores: Antonio Ricardo A. Ferreira,<br />

Cláudio Vignattie Ricardo Esturaro<br />

132 133<br />

21 5 d0 e j0u l h8o 1. Propõe a aprovação formal do <strong>IV</strong> <strong>Congresso</strong> <strong>Brasileiro</strong><br />

<strong>de</strong> Publicida<strong>de</strong> <strong>de</strong> apoio ao Projeto <strong>de</strong> Lei nº 3305/2008,<br />

<strong>de</strong> autoria do <strong>de</strong>putado José Eduardo Cardozo.<br />

2. Recomenda-se que se oficie ao <strong>de</strong>putado José Eduardo<br />

Cardozo no sentido <strong>de</strong> verificar a possibilida<strong>de</strong> legal<br />

<strong>de</strong> inserir no Projeto <strong>de</strong> Lei que:<br />

a) contemple a modalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> "Consórcio <strong>de</strong> Agências"<br />

para as licitações das contas publicitárias nos casos em<br />

que haja interesse estratégico e/ou comercial da administração<br />

pública direta ou indireta, pela contratação <strong>de</strong><br />

mais <strong>de</strong> uma agência para uma mesma conta;<br />

b) nas licitações on<strong>de</strong> houver a contratação <strong>de</strong> agências<br />

<strong>de</strong> propaganda na modalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> "Consórcio <strong>de</strong> Agências",<br />

os itens "Capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Atendimento", I<strong>de</strong>ia Criativa"<br />

e "Estratégia <strong>de</strong> Mídia", que compõem a Proposta<br />

Técnica tenham suas avaliações e pontuações consi<strong>de</strong>rando<br />

também o número <strong>de</strong> agências que componham<br />

os referidos consórcios;<br />

c) nas licitações <strong>de</strong> contratação <strong>de</strong> serviços publicitários<br />

on<strong>de</strong> houver empate, que o <strong>de</strong>sempate favoreça a proposta<br />

do consórcio que tiver o maior número <strong>de</strong> agências<br />

em sua formação.<br />

3. Os anunciantes da iniciativa privada contratem fornecedores<br />

<strong>de</strong> serviços <strong>de</strong> comunicação e agências <strong>de</strong> propaganda<br />

com se<strong>de</strong> nos mercados regionais em que atuam.<br />

4. As empresas que se instalarem através <strong>de</strong> projetos <strong>de</strong><br />

incentivos fiscais em outros estados ou região fora da<br />

sua se<strong>de</strong>, contratem fornecedores <strong>de</strong> serviços <strong>de</strong> comunicação<br />

e agências nestes mercados regionais.<br />

5. O “tra<strong>de</strong> regional” composto pela ca<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> fornecedores,<br />

agências e veículos invista na sua maior profissionalização,<br />

bem como no aprimoramento dos seus<br />

serviços, garantindo assim a segurança <strong>de</strong> retorno dos<br />

investimentos dos anunciantes.<br />

6. Os jornais e revistas regionais se filiem a entida<strong>de</strong>s<br />

como o <strong>IV</strong>C, garantindo transparência e segurança nas<br />

informações técnicas disponibilizadas ao mercado.<br />

7. Sejam aprimorados os mecanismos <strong>de</strong> controle, auditagem<br />

e checking nos meios rádios, televisão, cinema e<br />

mídia on-line nos mercados regionais.<br />

8. Os sindicatos <strong>de</strong> agências <strong>de</strong> propaganda, capítulos da<br />

<strong>Abap</strong> e outras entida<strong>de</strong>s que congregam a indústria da<br />

comunicação se unam para comprar informações <strong>de</strong> pesquisa<br />

<strong>de</strong> mídia regionais em benefício do mercado local.<br />

9. As agências, os veículos e os diversos prestadores <strong>de</strong><br />

serviço ampliem os investimentos em treinamento e<br />

aprimoramento <strong>de</strong> seus profissionais, visando incentivar<br />

e valorizar os talentos regionais.<br />

10. Os Tribunais <strong>de</strong> Contas fiscalizem com rigor os Municípios,<br />

Câmaras Municipais, Assembleias Legislativas, governos<br />

e outros órgãos públicos visando o cumprimento<br />

da Lei <strong>de</strong> Licitações, não aprovando as contratações <strong>de</strong><br />

serviços <strong>de</strong> propaganda sem a <strong>de</strong>vida licitação.<br />

11. Os Tribunais <strong>de</strong> Contas não aprovem a realização<br />

<strong>de</strong> pregões para contratar os serviços <strong>de</strong> agências <strong>de</strong><br />

propaganda.<br />

12. Os anunciantes passem a contratar agências <strong>de</strong> propaganda<br />

com base no Guia <strong>de</strong> Boas Praticas elaborado<br />

pela ABA e Fenapro.<br />

13. O “tra<strong>de</strong> do setor” estu<strong>de</strong> as necessida<strong>de</strong>s conjuntas<br />

entre agência, anunciante e fornecedores, visando o<br />

aprimoramento dos mercados regionais.<br />

14. O Cenp instale capítulos regionais ou estabeleça<br />

acordos com os Sindicatos <strong>de</strong> agências <strong>de</strong> propaganda<br />

nos estados, capítulos da <strong>Abap</strong>, veículos regionais <strong>de</strong><br />

comunicação e entida<strong>de</strong>s regionais <strong>de</strong> anunciantes, visando<br />

fiscalizar e fortalecer os mercados regionais.<br />

15. As universida<strong>de</strong>s e faculda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> comunicação incluam<br />

em sua gra<strong>de</strong> curricular o estudo sobre a legislação<br />

da ativida<strong>de</strong> publicitária.<br />

16. A assinatura <strong>de</strong> convênios entre as universida<strong>de</strong>s e<br />

faculda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> comunicação com as entida<strong>de</strong>s do setor<br />

visando incentivar o estágio dos alunos nas empresas<br />

prestadoras <strong>de</strong> serviços <strong>de</strong> comunicação.<br />

17. Sejam realizados esforços no sentido <strong>de</strong> diminuir a<br />

carga tributária que penaliza o setor.<br />

18. A ABA − Associação Brasileira <strong>de</strong> Anunciantes -, a<br />

Fenapro e outras entida<strong>de</strong>s do setor, realizem um amplo<br />

seminário nacional para discutir a regionalização da ativida<strong>de</strong><br />

publicitária nos clientes privados que operam em<br />

mercados regionais.<br />

19. Os litígios <strong>de</strong>correntes do relacionamento comercial<br />

entre anunciantes, agências, produtores <strong>de</strong> serviços<br />

especializados, profissionais <strong>de</strong> comunicação, atores e<br />

outros profissionais sejam dirimidos através da câmara<br />

nacional <strong>de</strong> arbitragem na comunicação.<br />

20. Os sindicatos estaduais e outras entida<strong>de</strong>s do setor<br />

encaminhem nomes <strong>de</strong> parlamentares fe<strong>de</strong>rais <strong>de</strong> sua<br />

relação para compor a Frente Parlamentar <strong>de</strong> Comunicação<br />

criada no VI <strong>Congresso</strong>.<br />

21. As entida<strong>de</strong>s do setor em conjunto <strong>de</strong>senvolvam<br />

campanhas publicitárias para incrementar a captação <strong>de</strong><br />

novos anunciantes, bem como para apresentar as oportunida<strong>de</strong>s<br />

regionais como fator <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento.


9A EDuCAçãO, A PROfISSãO E O mERCADO<br />

Presi<strong>de</strong>nte: Francisco Gracioso<br />

Secretário: Luiz Fernando Dabul Garcia<br />

Relator: José Roberto Whitaker Penteado<br />

Palestrante: Julio Ribeiro<br />

Debatedores: Jean Charles Zozzoli, Luiz Fernando Dabul<br />

Garcia, Mário Chamie e Wilma <strong>de</strong> Moraes Stri<strong>de</strong>r.<br />

134 135<br />

21 5 d0 e j0u l h8o 1. Mercado e escola <strong>de</strong>vem incentivar estudos mais<br />

aprofundados sobre a ca<strong>de</strong>ia produtiva da comunicação<br />

com o mercado - como o que está em execução pelo<br />

CAEPM/ESPM -, visando compreen<strong>de</strong>r suas <strong>de</strong>mandas<br />

presentes e futuras.<br />

2. As escolas <strong>de</strong>vem se aproximar mais das entida<strong>de</strong>s<br />

<strong>de</strong> classe, visando aprimorar o aperfeiçoamento da<br />

formação e orientação oferecidas aos estudantes.<br />

A comissão aconselha que sejam adotados<br />

mo<strong>de</strong>los pedagógicos que incentivem os alunos ao<br />

embasamento teórico e prático mais sofisticado e à<br />

busca <strong>de</strong> soluções diferenciadas (...) Também propõe<br />

que se valorize, por todos os meios possíveis, a função<br />

do professor.<br />

3. A comissão propõe a sua manutenção, sob a égi<strong>de</strong><br />

da <strong>Abap</strong>, após o encerramento do <strong>IV</strong> <strong>Congresso</strong>, como<br />

instituição permanente, tendo por objetivo o estudo<br />

mais aprofundado dos temas aqui levantados, por<br />

agências, prestadores <strong>de</strong> serviços, veículos e outros<br />

participantes do universo da comunicação <strong>de</strong> mercado.<br />

Recomenda, ainda, que o texto da palestra <strong>de</strong> Julio<br />

Ribeiro, apresentada neste congresso, sirva <strong>de</strong> referência<br />

para os trabalhos da futura comissão.


10<br />

CARGA TRIbuTARIA E RENTAbIlIDADE<br />

DAS AGêNCIAS, fORNECEDORES E VEíCulOS.<br />

Presi<strong>de</strong>nte: Cyd Alvarez<br />

Relator: João Luiz Faria Netto<br />

Palestrante: Paulo Aragão<br />

Debatedores: Roberto Tourinho, Antonio Lino,<br />

Luiz Leite e Leandro Zancan.<br />

136 137<br />

21 5 d0 e j0u l h8o A Comissão enten<strong>de</strong>u que o sistema tributário nacional<br />

penaliza as empresas prestadoras <strong>de</strong> serviços, como é o<br />

caso específico das agências <strong>de</strong> publicida<strong>de</strong> que têm na<br />

mão <strong>de</strong> obra a base <strong>de</strong> <strong>de</strong>spesas operacionais. A mesma<br />

penalização ocorre nas outras ativida<strong>de</strong>s correlatas às<br />

<strong>de</strong> agência, notadamente nas chamadas produtoras e<br />

<strong>de</strong>mais fornecedores.<br />

Há, ainda, no caso das empresas que atuam por conta<br />

e or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> seus clientes, dúvidas permanentes relacionadas<br />

com a interpretação <strong>de</strong> textos legais, gerando,<br />

em razão disso, confusão quanto à base <strong>de</strong> cálculo dos<br />

tributos.<br />

A chamada reforma tributária, que começa a ser discutida<br />

no <strong>Congresso</strong> Nacional, é a oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> inclusão<br />

no novo texto legal, a ser discutido após a criação do<br />

<strong>IV</strong>A − Imposto <strong>de</strong> Valor Agregado e a consequente eliminação<br />

das chamadas contribuições sociais (PIS/Cofins,<br />

CSLL) e a resistência legítima da socieda<strong>de</strong> à recriação da<br />

contribuição sobre movimentações financeiras, a CSS, <strong>de</strong><br />

normas que não gerem dúvidas <strong>de</strong> interpretação.<br />

é fundamental a <strong>de</strong>finição clara da hipótese tributária,<br />

com indicação inquestionável da base <strong>de</strong> cálculo dos<br />

tributos que incidam sobre a ativida<strong>de</strong> publicitária, com<br />

a <strong>de</strong>fesa da manutenção sem restrições da imunida<strong>de</strong><br />

tributária que protege os meios impressos <strong>de</strong> comunicação<br />

e dos benefícios <strong>de</strong> isenção <strong>de</strong> impostos dos meios<br />

eletrônicos – o que assegura a circulação <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ias, informações<br />

e difusão cultural.<br />

Deve ser questionada, também, a imposição <strong>de</strong> ônus parafiscais<br />

à ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> produção, mostrando que o país<br />

tem atraído investimentos internacionais <strong>de</strong> produção<br />

em razão da qualida<strong>de</strong> artística <strong>de</strong> seu áudiovisual e das<br />

virtu<strong>de</strong>s paisagísticas.<br />

O setor <strong>de</strong> publicida<strong>de</strong> <strong>de</strong>seja ser tributado, mas, <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>,<br />

como outros setores da socieda<strong>de</strong> brasileira, que<br />

os impostos tenham relação com a sua capacida<strong>de</strong><br />

contributiva, existindo, com relação ao setor, distorções<br />

que inibem a ativida<strong>de</strong>. Como exemplo, as agências que<br />

vivem exclusivamente <strong>de</strong> receitas relativas à prestação<br />

<strong>de</strong> serviços, recolhem diretamente o total <strong>de</strong> tributos <strong>de</strong><br />

15,75% (5% <strong>de</strong> ISS, 9,25% <strong>de</strong> PIS-Cofins e 1,5% <strong>de</strong> IRRF).<br />

Sem falar que é a publicida<strong>de</strong> ativida<strong>de</strong> que existe na<br />

razão direta do número <strong>de</strong> pessoas que emprega e que<br />

no país a folha <strong>de</strong> pagamento é altamente onerada por<br />

tributos.<br />

Preocupa o futuro com as dúvidas sobre o que será a<br />

reforma tributária e a criação do <strong>IV</strong>A, que, no primeiro<br />

momento, conviverá com o ISS, tributo que continuará a<br />

ter alíquotas fixadas pelo po<strong>de</strong>r público municipal.<br />

A Comissão recomenda rigor contábil fiscal às empresas<br />

do setor <strong>de</strong> comunicação, <strong>de</strong>monstrando que <strong>de</strong>seja ser<br />

espelho <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong>. Reclama, no entanto, tratamento<br />

justo por parte dos entes públicos que estabelecem e<br />

recolhem os tributos.<br />

A Comissão recomenda ainda, por ser atribuição dos<br />

sindicatos e <strong>Abap</strong>s regionais, a luta pela redução da alíquota<br />

do ISS <strong>de</strong> 5% para 2%, que enten<strong>de</strong> seja o justo e<br />

razoável para a ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> inteligência e promotora do<br />

mercado, instrumento <strong>de</strong> circulação <strong>de</strong> mercadorias e<br />

prestação <strong>de</strong> serviços, fontes da riqueza nacional.<br />

é <strong>de</strong>ver do setor a luta pela inclusão das pequenas e médias<br />

empresas <strong>de</strong>ssa área <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>, nos programas<br />

do Simples Nacional e nos <strong>de</strong> microempresas, porque<br />

talento também merece reconhecimento tributário.<br />

Por sugestão e aprovação dos participantes dos <strong>de</strong>bates<br />

na Comissão, foi recomendada a inclusão como <strong>de</strong>staque<br />

no relatório aprovado os seguintes pontos:<br />

1. A permissão legal <strong>de</strong> <strong>de</strong>dução do valor da Folha <strong>de</strong><br />

Pessoal na base <strong>de</strong> cálculo para o recolhimento do PIS/<br />

Cofins. A medida vai eliminar uma injustiça e valorizar a<br />

criação <strong>de</strong> novas vagas no mercado <strong>de</strong> trabalho publicitário.<br />

Da mesma forma, a permissão legal <strong>de</strong> <strong>de</strong>dução<br />

dos valores pagos por obras protegidas pela lei <strong>de</strong> direitos<br />

autorais, na mesma base <strong>de</strong> cálculo.<br />

2. Apoiar a aprovação do PLC <strong>de</strong> autoria do <strong>de</strong>putado<br />

Luis Carlos Hauly, que altera a legislação do Super Simples<br />

com a inclusão da área <strong>de</strong> publicida<strong>de</strong>. O projeto<br />

<strong>de</strong>ve ser estudado para que contemple todos os espectros<br />

da área <strong>de</strong> comunicação, inclusive produtores e<br />

fornecedores.<br />

3. Respeito às empresas da área <strong>de</strong> comunicação que<br />

legitimamente contratem os chamados “free lancers”,<br />

em trabalhos efetivamente eventuais, sem que sofram<br />

punições como se estivessem burlando a CLT. O trabalho<br />

in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte é opção legítima do cidadão que exerce<br />

ativida<strong>de</strong> intelectual.<br />

4. Redução da carga tributária que inci<strong>de</strong> sobre a folha<br />

<strong>de</strong> salários. Salário foi criado para remunerar ativida<strong>de</strong><br />

laboral e não po<strong>de</strong> ser fonte <strong>de</strong> receita, mesmo que se<br />

<strong>de</strong>stine a fins sociais.<br />

5. Apoiar projeto <strong>de</strong> lei (PLP) <strong>de</strong> autoria do <strong>de</strong>putado<br />

Antonio Carlos Thame, que volta a incluir na relação do<br />

ISS a ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> veiculação <strong>de</strong> publicida<strong>de</strong> exterior. A<br />

ativida<strong>de</strong> está condicionada a licença municipal, presta<br />

serviço em base territorial certa, <strong>de</strong>vendo, em razão disso,<br />

como meio <strong>de</strong> comunicação social, ser tributada <strong>de</strong><br />

forma idêntica à <strong>de</strong> outras ativida<strong>de</strong>s a ela relacionadas.


11<br />

A VAlORIZAçãO, A PROSPERIDADE<br />

E A RENTAbIlIDADE DA INDúSTRIA DA<br />

COmuNICAçãO<br />

Presi<strong>de</strong>nte: Luiz Lara<br />

Secretário: Ivan Marques<br />

Relator: Abaeté Azevedo<br />

Palestrante: Antonio Jacinto Matias<br />

Debatedores: Roberto Lima, Petrônio Corrêa<br />

e Raul Dória.<br />

é <strong>de</strong>ver intransferível dos sócios da indústria – meios,<br />

agências <strong>de</strong> todas as disciplinas e fornecedores<br />

<strong>de</strong> serviços – trabalhar em conjunto para que a<br />

comunicação seja cada vez mais eficaz para os clientes,<br />

respeitada pela socieda<strong>de</strong> e próspera para os sócios e os<br />

profissionais empregados.<br />

A comunicação é a ferramenta mais efetiva não apenas<br />

para o incentivo <strong>de</strong> vendas, mas também para a<br />

construção e o fortalecimento <strong>de</strong> marcas; as quais são<br />

hoje, mais do que nunca, os ativos mais importantes<br />

e valiosos <strong>de</strong> uma empresa na sua interação com seus<br />

stakehol<strong>de</strong>rs.<br />

Talento e criativida<strong>de</strong> compõem a matéria-prima da<br />

comunicação, afastando-a da categoria das commodities<br />

e, por isso, precisamos criar uma re<strong>de</strong> <strong>de</strong> valor que<br />

<strong>de</strong>ve conseguir, <strong>de</strong> forma integrada, uma boa gestão<br />

na equação que começa no controle mais severo dos<br />

anunciantes sobre os seus investimentos e termina na<br />

garantia da boa rentabilida<strong>de</strong> para as agências, nossos<br />

parceiros <strong>de</strong> produção e os veículos <strong>de</strong> comunicação.<br />

Neste <strong>IV</strong> <strong>Congresso</strong> <strong>Brasileiro</strong> <strong>de</strong> Publicida<strong>de</strong>, numa<br />

época <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> transição rumo a um mundo<br />

digitalizado on<strong>de</strong> a comunicação exerce papel<br />

prepon<strong>de</strong>rante, nossa tese é criar o futuro com a<br />

implementação das seguintes medidas:<br />

138 139<br />

21 5 d0 e j0u l h8o 1. Criação do Fórum Anual da Indústria da Comunicação,<br />

do qual participarão todas as entida<strong>de</strong>s organizadoras<br />

<strong>de</strong>ste evento, com o objetivo <strong>de</strong> dar continuida<strong>de</strong><br />

às <strong>de</strong>cisões e recomendações surgidas durante o <strong>IV</strong><br />

<strong>Congresso</strong>, no sentido <strong>de</strong> valorizar a indústria e cuidar <strong>de</strong><br />

sua prosperida<strong>de</strong>.<br />

2. Nomeação <strong>de</strong> um Comitê Executivo para elaborar<br />

um plano estratégico, visando valorizar a comunicação<br />

comercial e o papel <strong>de</strong> todos os parceiros da nossa<br />

indústria.<br />

3. Criação <strong>de</strong> um código <strong>de</strong> ética comum a todas as<br />

entida<strong>de</strong>s e empresas componentes da indústria da<br />

comunicação, que será elaborado a partir dos códigos<br />

<strong>de</strong> ética já existentes em cada segmento, estabelecendo<br />

princípios <strong>de</strong> conduta unificados e capazes <strong>de</strong> bem zelar<br />

pela imagem da comunicação.


12<br />

míDIA E CONTEúDO<br />

Presi<strong>de</strong>nte: Johnny Saad<br />

Secretário: Fre<strong>de</strong>rico Nogueira<br />

Relator: José Roberto Maluf<br />

Palestrante: Joelmir Beting<br />

Debatedores: José Eustáchio, Orlando Lopes<br />

e Carla Affonso.<br />

140 141<br />

21 5 d0 e j0u l h8o A leitura da tese final da comissão Mídia e Conteúdo<br />

foi feita pelo presi<strong>de</strong>nte do Grupo Ban<strong>de</strong>irantes, João<br />

Carlos Saad. Seu discurso foi pautado pela i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> que<br />

não é permissível que o interesse comercial participe da<br />

gestão do conteúdo jornalístico, aquele que tem como<br />

missão informar e formar opinião pública. 'Há uma clara<br />

separação entre entretenimento e informação. Nosso<br />

trabalho se foca na relação <strong>de</strong>licada entre a formação<br />

editorial da área jornalística e os interesses comerciais<br />

publicitários'.<br />

A tese da Comissão foi aprovada por unanimida<strong>de</strong><br />

por todos os congressistas da assembleia. Ao final da<br />

votação, Saad sugeriu que uma nova recomendação<br />

fosse colocada para apreciação dos presentes. Incluiu<br />

em sua tese a busca pela união entre agências, clientes<br />

e veículos. 'Precisamos juntar nossas estruturas e travar<br />

um <strong>de</strong>bate unificado contra tudo aquilo que afeta nosso<br />

setor. Estamos todos <strong>de</strong>sarticulados, <strong>de</strong>vemos unir forças<br />

para <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r a indústria da comunicação', concluiu.


142 143<br />

21 5 d0 e j0u l h8o 13<br />

mARKETING DE RElACIONAmENTO<br />

Presi<strong>de</strong>nte: Efraim Kapulski<br />

Secretário: Alexandre Case<br />

Relator: Fernando Guimarães<br />

Palestrante: Aurélio Lopes<br />

Debatedores: Eduardo Souza Aranha, Márcio Salem,<br />

Marcelo Trípoli, Fernando Costa e Antonio Rosa.<br />

A Comissão expôs aos congressistas o relatório final <strong>de</strong><br />

seus trabalhos. Efraim Kapulski, presi<strong>de</strong>nte da Associação<br />

Brasileira <strong>de</strong> Marketing Direto, disse estar orgulhoso por<br />

ter participado <strong>de</strong> um congresso que verda<strong>de</strong>iramente<br />

discutiu <strong>de</strong> maneira profunda todos os principais problemas<br />

que afetam a indústria publicitária. 'Me sinto<br />

satisfeito, honrado e gratificado com os resultados <strong>de</strong>ste<br />

gran<strong>de</strong> evento'.<br />

Dentre os pontos principais <strong>de</strong>fendidos neste painel está<br />

a necessida<strong>de</strong> que os anunciantes sentem <strong>de</strong> mensurar<br />

seus esforços, buscando otimizar recursos e minimizar a<br />

dispersão da comunicação. Kapulski diz que a mensuração<br />

é o principal motor do processo <strong>de</strong> integração que<br />

vem transformando o papel das agências.<br />

Antes vistas apenas como prestadoras <strong>de</strong> serviços, passaram<br />

a ser consi<strong>de</strong>radas como 'autênticos parceiros estratégicos,<br />

com a capacida<strong>de</strong>, a competência e a vonta<strong>de</strong><br />

para interferir em todo o processo, do <strong>de</strong>senvolvimento<br />

do produto ao gerenciamento do relacionamento com<br />

o cliente, passando pela distribuição, pela precificação e<br />

pela comunicação'. Por unanimida<strong>de</strong>, todos os congressistas<br />

aprovaram a tese final da comissão.


144 145<br />

21 5 d0 e j0u l h8o 14<br />

NOVAS míDIAS<br />

Presi<strong>de</strong>nte: Daniel Barbará<br />

Secretário: Geraldo Leite<br />

Relator: Pyr Marcon<strong>de</strong>s<br />

Palestrantes: Paulo Castro, Waltely Longo,<br />

Terence Reis e Ari Meneghini.<br />

Debatedores: João Ciasco, Abel Reis<br />

e Orlando Marques.<br />

O publicitário Daniel Barbará, presi<strong>de</strong>nte da Comissão,<br />

apresentou a tese final <strong>de</strong> seu painel <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>ndo a idéia<br />

<strong>de</strong> explorar as novas mídias digitais em prol do mercado<br />

brasileiro como um todo. Disse que a ida<strong>de</strong> digital alterou<br />

profundamente o mundo em que vivemos, transformando<br />

os parâmetros básicos <strong>de</strong> como recebemos,<br />

armazenamos, <strong>de</strong>senvolvemos e trocamos informações.<br />

Esta nova era tecnológica introduziu na indústria da<br />

comunicação, uma série <strong>de</strong> novos <strong>de</strong>safios e oportunida<strong>de</strong>s.<br />

Dentre elas: a rapi<strong>de</strong>z da inovação tecnológica;<br />

a varieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> plataformas e <strong>de</strong>vices; a diversida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

públicos, sua extrema segmentação e multiplicida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> comportamento; a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> criar conteúdos<br />

e mensagens <strong>de</strong> relevância e a<strong>de</strong>quação a todos esses<br />

públicos; uma busca renovada pela rentabilização <strong>de</strong><br />

seus investimentos, mensuração e comprovação <strong>de</strong>sta<br />

rentabilida<strong>de</strong>; a inevitável constatação <strong>de</strong> que o consumidor<br />

é agora quem li<strong>de</strong>ra o processo <strong>de</strong> comunicação,<br />

não mais as corporações.<br />

Dentre os principais pontos do relatório estão:<br />

1. A criação <strong>de</strong> um Comitê Permanente <strong>de</strong> Novas Mídias<br />

em Plataformas Digitais<br />

2. A construção do Portal das Novas Mídias<br />

3. A realização do primeiro estudo <strong>de</strong> crossmídia do país<br />

4. A criação <strong>de</strong> um Comitê Permanente <strong>de</strong> Educação<br />

para Novas Mídias Digitais


146 147<br />

21 5 d0 e j0u l h8o 15<br />

lIbERDADE DE ExPRESSãO COmERCIAl<br />

Presi<strong>de</strong>nte: Gilberto Leifert<br />

Secretario: Edney Narchi<br />

Relator: Ricardo Kotscho<br />

Palestrante: José Antonio Dias Toffoli<br />

Debatedores: Gonzalo Vecina Neto e Ancelmo Góes.<br />

1. Proclamação das prerrogativas constitucionais da comunicação<br />

social. Aos operadores, liberda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> criação,<br />

expressão e informação, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente <strong>de</strong> licença.<br />

Aos cidadãos, o direito <strong>de</strong> receber informação, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente<br />

<strong>de</strong> censura, ressaltando-se a proteção assegurada<br />

à informação pela Constituição do Brasil.<br />

2. Consciência <strong>de</strong> que cidadãos responsáveis e consumidores<br />

conscientes <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m <strong>de</strong> informação, pois viver é<br />

fazer escolhas. Com informação e educação, a socieda<strong>de</strong><br />

estará apta tomar melhores <strong>de</strong>cisões.<br />

3. A publicida<strong>de</strong> tem valor social, político e econômico.<br />

Seu papel é vital para o estado <strong>de</strong>mocrático, na sustentação<br />

da liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> imprensa e na economia <strong>de</strong> mercado.<br />

inclusive assegurando a pluralida<strong>de</strong> e diversida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> meios <strong>de</strong> comunicação.<br />

4. Suportar o vitorioso sistema misto <strong>de</strong> controle da<br />

publicida<strong>de</strong> no Brasil, que é referência internacional e se<br />

fundamenta na legislação e autorregulamentação.<br />

5. As restrições legais e por autorregulamentação <strong>de</strong>vem<br />

aten<strong>de</strong>r aos princípios jurídicos <strong>de</strong> necessida<strong>de</strong>, a<strong>de</strong>quação,<br />

razoabilida<strong>de</strong> e proporcionalida<strong>de</strong>.<br />

6. Incentivar o incremento das ativida<strong>de</strong>s publicitárias<br />

<strong>de</strong> educação da socieda<strong>de</strong>, como obrigação do Estado,<br />

direito da socieda<strong>de</strong> e contribuição esperada da comunida<strong>de</strong><br />

da comunicação.


2 0 0 8<br />

1 6 d e j u l h o<br />

E N C E R R A M E N T O<br />

148 149


150 151<br />

21 6 d0 e j0u l h8o SESSãO PlENÁRIA DE APROVAçãO DAS TESES<br />

Dalton Pastore submete à plenária as teses das 15 comissões, que são<br />

aprovadas por aclamação.<br />

Pastore coloca, ainda, em votação, recomendações que não constavam<br />

das pautas das comissões. São aprovadas.<br />

Em seguida, pe<strong>de</strong> apoio ao Projeto <strong>de</strong> Lei 3.305/2008, do <strong>de</strong>putado<br />

fe<strong>de</strong>ral José Eduardo Cardozo, que reconhece o Cenp como entida<strong>de</strong><br />

certificadora das agências <strong>de</strong> publicida<strong>de</strong> e aperfeiçoa as licitações <strong>de</strong><br />

serviços publicitários no setor público.<br />

Na mesma oportunida<strong>de</strong>, os congressistas aprovam a proposta <strong>de</strong><br />

criação <strong>de</strong> um fórum anual da indústria da comunicação, cuja primeira<br />

reunião é programada para maio <strong>de</strong> 2009.


152 153<br />

21 6 d0 e j0u l h8o


154 155<br />

21 6 d0 e j0u l h8o


HOmENAGEm A HECTOR bRENNER<br />

A programação do dia do encerramento do <strong>IV</strong> <strong>Congresso</strong> tem início com uma<br />

homenagem ao ex-presi<strong>de</strong>nte do Conselho Nacional <strong>de</strong> Propaganda, que li<strong>de</strong>rou,<br />

a partir da década <strong>de</strong> 70, o Movimento Nacional pela Livre Iniciativa. Numa<br />

época em que o Brasil era regido pelo Ato Institucional nº 5, o movimento é<br />

avaliado como uma atitu<strong>de</strong> corajosa e uma gran<strong>de</strong> contribuição da publicida<strong>de</strong><br />

à socieda<strong>de</strong> brasileira. Durante a homenagem, foi lançado o livro “Movimento<br />

Nacional pela Livre Iniciativa”, organizado e comentado por Roberto Correa.<br />

156 157<br />

21 6 d0 e j0u l h8o


DAlTON PASTORE,<br />

DISCuRSO DE ENCERRAmENTO DO <strong>IV</strong> CONGRESSO bRASIlEIRO DE PublICIDADE<br />

158 159<br />

21 6 d0 e j0u l h8o


Quero agra<strong>de</strong>cer a todas as entida<strong>de</strong>s, aos<br />

patrocinadores, que possibilitaram este evento;<br />

também agra<strong>de</strong>ço aos presi<strong>de</strong>ntes das comissões,<br />

relatores, secretários, palestrantes, <strong>de</strong>batedores, pelo<br />

enorme volume <strong>de</strong> trabalho e pela qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ste<br />

trabalho. Ele começou muito antes da segundafeira:<br />

as Comissões se reuniram e trabalharam antes; por isso, já tínhamos<br />

as teses, que vieram amadurecidas. Isso facilitou todas as discussões.<br />

Muito obrigado a todos vocês, que trabalharam <strong>de</strong>mais para fazer este<br />

<strong>Congresso</strong> acontecer e ter a qualida<strong>de</strong> que tem.<br />

Como último agra<strong>de</strong>cimento, obrigado a todos que me <strong>de</strong>ram a honra<br />

<strong>de</strong> presidir um congresso <strong>de</strong>ste porte, <strong>de</strong>sta magnitu<strong>de</strong>. Senti-me<br />

honrado <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o primeiro momento e me sinto muito mais honrado<br />

no encerramento. Muito obrigado.<br />

Antes <strong>de</strong> <strong>de</strong>clarar o <strong>Congresso</strong> encerrado, quero ler a Car ta do<br />

<strong>IV</strong> <strong>Congresso</strong> <strong>Brasileiro</strong>:<br />

A comunicação é uma indústria formada por veículos, agências <strong>de</strong> todas<br />

as disciplinas e fornecedores <strong>de</strong> serviços, que, em conjunto, têm o <strong>de</strong>ver<br />

<strong>de</strong> fazê-la eficiente e atrativa para os clientes, rentável para as empresas<br />

que a compõem e respeitada pela socieda<strong>de</strong>.<br />

É <strong>de</strong>ver das empresas, inclusive as da indústria da comunicação, a busca<br />

da rentabilida<strong>de</strong> e do lucro, resultantes dos serviços que prestam e da<br />

justa remuneração recebida por eles, <strong>de</strong> forma a po<strong>de</strong>r cumprir com<br />

todas as suas obrigações empresariais, fiscais, contábeis, sociais, éticas,<br />

e a po<strong>de</strong>r investir no treinamento e <strong>de</strong>senvolvimento profissional <strong>de</strong><br />

seus colaboradores, oferecer a eles os benefícios comuns às empresas<br />

prósperas e a po<strong>de</strong>r bem recepcionar novos profissionais, formados<br />

pelas escolas <strong>de</strong> comunicação.<br />

160 161<br />

21 6 d0 e j0u l h8o O <strong>IV</strong> <strong>Congresso</strong> incentiva toda a socieda<strong>de</strong> ao <strong>de</strong>bate sobre a autoregulamentação<br />

da publicida<strong>de</strong> no âmbito do Conar.<br />

O <strong>IV</strong> <strong>Congresso</strong> <strong>de</strong>nuncia e repudia:<br />

a) todas as iniciativas <strong>de</strong> censura à liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> expressão comercial,<br />

inclusive as bem-intencionadas;<br />

b) os formatos e a freqüência das concorrências entre agências e entre<br />

fornecedores, que geram <strong>de</strong>sgastes e custos exagerados;<br />

c) os contratos leoninos, resultado do <strong>de</strong>sequilíbrio <strong>de</strong> forças entre<br />

contratantes e contratados, que imputam a agências e fornecedores<br />

responsabilida<strong>de</strong>s exageradas e condições injustas.<br />

O <strong>IV</strong> <strong>Congresso</strong> <strong>de</strong>fen<strong>de</strong> a livre-iniciativa, a liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> escolha do<br />

consumidor e a liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> expressão comercial.<br />

O <strong>IV</strong> <strong>Congresso</strong> apóia o Projeto <strong>de</strong> Lei 3305, <strong>de</strong> 2008, que reconhece<br />

o Cenp como entida<strong>de</strong> certificadora das agências <strong>de</strong> publicida<strong>de</strong> e<br />

aperfeiçoa as licitações <strong>de</strong> serviços publicitários no setor público.<br />

O <strong>IV</strong> <strong>Congresso</strong> apóia a Frente Parlamentar da Comunicação Social.<br />

O <strong>IV</strong> <strong>Congresso</strong> ressalta a importância fundamental da ética para<br />

o reconhecimento social da indústria da comunicação e para a sua<br />

prosperida<strong>de</strong> econômica, e recomenda a adoção <strong>de</strong> um código <strong>de</strong><br />

conduta único para todas as empresas que a compõem.<br />

A carta finaliza, dizendo que:<br />

A publicida<strong>de</strong> livre e responsável sustenta a liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> imprensa,<br />

assegura a diversida<strong>de</strong> das fontes <strong>de</strong> informação para a socieda<strong>de</strong> e a<br />

difusão <strong>de</strong> cultura e entretenimento para toda a população.<br />

Estando aprovada esta Carta e agra<strong>de</strong>cendo mais uma vez a todos vocês<br />

pela ajuda, pelo suporte e pela honra que vocês me <strong>de</strong>ram, <strong>de</strong>claro<br />

encerrado o <strong>IV</strong> <strong>Congresso</strong> <strong>Brasileiro</strong> <strong>de</strong> Publicida<strong>de</strong>.


162 163<br />

21 6 d0 e j0u l h8o


164 165


ANAIS<br />

166 167


168 169<br />

COMISSÕES<br />

1 COMUNICAÇÃO INTEGRADA . . .. . . . . . PÁG 174<br />

2 RESPONSABILIDADE SOCIOAMBIENTAL DA PROPAGANDA . . . . PÁG 179<br />

3 PRESTADORES DE SERVIÇOS ESPECIALIZADOS E SUA RELAÇÃO COM AGÊNCIAS E CLIENTES PÁG 193<br />

4 MARKETING PROMOCIONAL . . . . . . . PÁG 207<br />

5 LICITAÇÕES PÚBLICAS E CONCORRÊNCIAS PR<strong>IV</strong>ADAS . . . . PÁG 218<br />

6 A CRIAT<strong>IV</strong>IDADE BRASILEIRA . . . . . . PÁG 238<br />

7 A EFICÁCIA NO PLANEJAMENTO E COMPRA DE MÍDIA . . . . PÁG 251<br />

8 A REALIDADE DOS MERCADOS REGIONAIS . . . . . . PÁG 270<br />

9 A EDUCAÇÃO, A PROFISSÃO E O MERCADO . . . . . . PÁG 287<br />

10 CARGA TRIBUTÁRIA E RENTABILIDADE DAS AGÊNCIAS, FORNECEDORES E VEÍCULOS . PÁG 301<br />

11 A VALORIZAÇÃO A PROSPERIDADE E ARENTABILIDADE DA INDÚSRIA DA COMUNICAÇÃO PÁG 311<br />

12 MÍDIA E CONTEÚDO . . . . . . . . PÁG 323<br />

13 MARKETING DE RELACIONAMENTO . . . . . . . PÁG 328<br />

14 NOVAS MÍDIAS . . . . . . . . PÁG 335<br />

15 LIBERDADE DE EXPRESSÃO COMERCIAL . . . . . . PÁG 340<br />

PLENÁRIAS . . . . . . . . . PÁG 344


Em que pesem todas as precauções<br />

tomadas pela organização do <strong>IV</strong><br />

<strong>Congresso</strong> <strong>Brasileiro</strong> <strong>de</strong> Publicida<strong>de</strong>,<br />

eventuais problemas técnicos incontornáveis<br />

prejudicaram o registro <strong>de</strong><br />

partes das ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> algumas<br />

das comissões. Através <strong>de</strong> providências<br />

posteriores, buscou-se, junto às<br />

comissões, recompor, o quanto possível,<br />

a integrida<strong>de</strong> <strong>de</strong>stes trabalhos,<br />

em alguns casos com mais sucesso<br />

do que em outros.<br />

170 171


omissões<br />

172 173


Comissão1<br />

COmuNICAçãO INTEGRADA<br />

Nota: Os trabalhos <strong>de</strong>sta Comissão<br />

não estão reproduzidos na íntegra<br />

por problemas técnicos <strong>de</strong> gravação.<br />

Conclusões da Comissão<br />

1. A criação <strong>de</strong> uma ca<strong>de</strong>ira <strong>de</strong> Comunicação Integrada a ser adotada por todas as instituições <strong>de</strong> ensino <strong>de</strong> Comunicação<br />

Social. Para isso sugerimos a formação <strong>de</strong> uma Comissão Mista constituída por Profissionais <strong>de</strong> Comunicação, Acadêmicos<br />

e Autorida<strong>de</strong>s do setor educacional, que vai <strong>de</strong>finir os critérios, padrões e diretrizes <strong>de</strong>sta disciplina, que <strong>de</strong>verá ser incluída<br />

<strong>de</strong>s<strong>de</strong> o primeiro ano dos cursos regulares.<br />

2. Que todo esforço <strong>de</strong> Comunicação Integrada seja precedido do estabelecimento <strong>de</strong> objetivos claros e assumidos por todas<br />

as partes, com o intuito <strong>de</strong> serem mensurados a partir <strong>de</strong> critérios préestabelecidos.<br />

3. Que, sem abdicar dos critérios <strong>de</strong> remuneração já existentes, como o CENP por exemplo, mas, consi<strong>de</strong>rando que este novo<br />

mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> Comunicação <strong>de</strong>ve estimular a integração entre processos/serviços/empresas, é fundamental adotar um mo<strong>de</strong>lo<br />

<strong>de</strong> remuneração, para os projetos <strong>de</strong> Comunicação Integrada, baseado em resultados. Estes resultados <strong>de</strong>verão ser avaliados<br />

com regras específicas para cada caso, pré<strong>de</strong>finidas pelas partes.<br />

Palestra <strong>de</strong> Jack myers<br />

Sinto muito por não estar com vocês pessoalmente no <strong>IV</strong> <strong>Congresso</strong> <strong>Brasileiro</strong> <strong>de</strong> Publicida<strong>de</strong>. Gostaria muito <strong>de</strong> estar em São<br />

Paulo, mas mesmo assim, agra<strong>de</strong>ço pela oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> expor minhas idéias sobre o setor para vocês via satétile.<br />

Pretendo visitá-los no Brasil em breve.<br />

é uma honra estar aqui com vocês hoje, expondo minhas opiniões sobre o setor e os <strong>de</strong>safios que enfrentaremos na nossa<br />

indústria da mídia globalmente ao longo dos próximos anos.<br />

Po<strong>de</strong> parecer estranho falar com vocês sobre Las Vegas, já que estou aqui em Nova York e vocês, em São Paulo, mas acredito<br />

que Las Vegas seja um contexto a<strong>de</strong>quado para que eu exponha algumas idéias a vocês.<br />

Talvez, muitos <strong>de</strong> vocês, que já foram a Las Vegas, não saibam da existência <strong>de</strong> uma ferrovia que passa logo atrás das ruas da<br />

cida<strong>de</strong>, perto do Caesar Palace, do Mirage, do Circus Circus.<br />

Há muitos anos atrás, Las Vegas era apenas um ponto <strong>de</strong> uma estação ferroviária que movimentava bens e serviços passando<br />

pelo <strong>de</strong>serto, atravessando o país.<br />

A mídia e os serviços começaram da mesma forma, com bens e serviços, lazer, notícias, informações, sendo movimentados <strong>de</strong><br />

um ponto a outro. E quando o jogo cresceu em Las Vegas, a publicida<strong>de</strong> ajudou a melhorar a economia do local. Quando as<br />

pessoas perceberam uma oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> negócio, o jogo se espalhou ao redor da estação ferroviária e pequenas empresas<br />

<strong>de</strong> mídia e agências <strong>de</strong> publicida<strong>de</strong> cresceram on<strong>de</strong> havia cassinos e lazer.<br />

Quando Las Vegas cresceu e começou a se fragmentar, os cassinos passaram a ter a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> lançar novas idéias, novas<br />

maneiras <strong>de</strong> fazer negócios, <strong>de</strong> atrair os consumidores, o comércio, que iam além do jogo. O core business já não era mais<br />

suficiente; com a fragmentação, eles precisaram criar o New York New York, o Bellagio, o Venetian, ou seja, novas idéias, novas<br />

formas <strong>de</strong> fazer negócios.<br />

Eles passaram a oferecem boa comida, boas compras, boas galerias <strong>de</strong> arte, muitas outras formas <strong>de</strong> fazer negócios. E, <strong>de</strong> muitas<br />

formas, Las Vegas representa a situação em que nos encontramos hoje no negócio da mídia e da publicida<strong>de</strong>. Este negócio<br />

começou a era mo<strong>de</strong>rna com a linha <strong>de</strong> montagem <strong>de</strong> carros e a criação da produção em massa.<br />

Após 100 anos, a produção em massa virou propaganda em massa. Com a criação da televisão, vieram a mídia e o marketing<br />

em massa. Toda a base da nossa incrível indústria da mídia e da propaganda ainda está estruturada sobre aqueles princípios<br />

básicos da produção da linha <strong>de</strong> montagem: a movimentação <strong>de</strong> bens, serviços, lazer, informações <strong>de</strong> um ponto a outro.<br />

Agora, exatamente como Las Vegas, precisamos inventar novas formas <strong>de</strong> fazer negócios, pois o mundo e a indústria estão se<br />

fragmentando. Esses novos mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong> negócios são necessários para manter a economia, que está em crescimento há 100<br />

anos. Nosso negócio ainda se baseia nos mo<strong>de</strong>los fundamentais, criados em 1950, em função da indústria da televisão.<br />

Hoje, falarei um pouco sobre os problemas que estamos enfrentando aqui nos Estados Unidos e que vocês também estão<br />

atravessando no Brasil com as inúmeras mudanças tecnológicas nos mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong> core buisiness que conhecemos, sobre os<br />

quais nos baseamos para trabalhar e dos quais <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>mos.<br />

Meus amigos Alberto e Eduardo contaram que a Associação Brasileira <strong>de</strong> Agências <strong>de</strong> Publicida<strong>de</strong> (<strong>Abap</strong>) está organizando<br />

<strong>de</strong>bates hoje e eu gostaria <strong>de</strong> parabenizá-los pela organização. é uma pena eu não estar presente para trocar idéias com vocês.<br />

é um <strong>de</strong>bate <strong>de</strong> extrema importância:<br />

a integração das múltiplas ferramentas <strong>de</strong> comunicação colocada em prática <strong>de</strong> maneira eficiente;<br />

o foco nas pessoas; as pessoas fazem a comunicação integrada acontecer;<br />

a ativida<strong>de</strong> da marca <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> do capital humano;<br />

as pessoas só produzem resultados quando recebem um bom treinamento, uma compensação e a avaliação <strong>de</strong> <strong>de</strong>sempenho.<br />

Essa é uma questão fundamental para a indústria e, mais uma vez, eu os parabenizo pelo <strong>de</strong>bate. Vocês estão olhando para<br />

o futuro; os Estados Unidos, nos últimos anos, não lidaram com o futuro; não reconheceram as implicações da disseminação<br />

da internet nos país que, agora, alcançou 70%, e da televisão interativa que, ao fim <strong>de</strong> 2009, estará em cerca <strong>de</strong> 50 a 60% dos<br />

lares americanos.<br />

Esses temas estão começando a ser abordados com muitos anos <strong>de</strong> atraso, e já é hora <strong>de</strong> o Brasil agarrar essa oportunida<strong>de</strong><br />

e li<strong>de</strong>rar — não apenas em casa, mas <strong>de</strong> forma global — um movimento para a comunicação integrada e para o foco nas<br />

pessoas.<br />

Na verda<strong>de</strong>, as pessoas são a chave para o futuro; elas são a indústria, a oportunida<strong>de</strong>, e elas atuam na forma <strong>de</strong> organizações,<br />

grupos, relacionamentos. Os relacionamentos nos nossos negócios, no nosso mundo, nas nossas vidas pessoais, estão mudando<br />

e essa mudança é mais rápida na mídia e na publicida<strong>de</strong>, em virtu<strong>de</strong> do impulso da tecnologia.<br />

Antes <strong>de</strong> dividir com vocês algumas opiniões, quero enfatizar três pontos:<br />

A base dos relacionamentos e das comunicações integradas é o brand equity (valor <strong>de</strong> marca) e brand equity não é apenas<br />

o brand equity <strong>de</strong> negociantes e seu relacionamento com os consumidores; ele po<strong>de</strong> ser organizacional. Cada um <strong>de</strong> vocês,<br />

como indivíduos, po<strong>de</strong> estabelecer um valor <strong>de</strong> marca. Agências <strong>de</strong> publicida<strong>de</strong>, empresas <strong>de</strong> mídia, empresas <strong>de</strong> marketing,<br />

todos po<strong>de</strong>m ter seus valores <strong>de</strong> marca.<br />

Os principais atributos do brand equity são diferenciação e relevância, transmitidas <strong>de</strong> forma eficaz e cumpridas <strong>de</strong> forma<br />

consistente. Esta não é a base da publicida<strong>de</strong> atual.<br />

Tenho falado, escrito e estudado os relacionamentos ao longo <strong>de</strong> aproximadamente 30 anos, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> os meus tempos <strong>de</strong> CBS<br />

Television e como consultor <strong>de</strong> cerca <strong>de</strong> 200 empresas, incluindo agências <strong>de</strong> publicida<strong>de</strong>, empresas <strong>de</strong> mídia e <strong>de</strong> marketing.<br />

Há <strong>de</strong>z anos, escrevi o livro Reconnecting With Customers - Building Brands and Profits in the Relationship Age (Reconectando-se<br />

aos clientes – Como construir marcas e gerar lucros na era dos relacionamentos), enfatizando a importância da mudança dos<br />

mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong> relacionamentos na nossa indústria.<br />

Estudando esses relacionamentos, <strong>de</strong>scobri que existem dois principais mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong> negócios, que reconheci nos anos 1950,<br />

com o advento da televisão na nossa indústria:<br />

O mercado <strong>de</strong> transações baseado em precificação, um mercado que atua com base no custo por mil,GRP (Gross Rating Points,<br />

pontos brutos <strong>de</strong> audiência), impressos, páginas, circulação, uma medida quantitativa <strong>de</strong> audiência alcançada, a frequência<br />

com a qual estamos alcançando as audiências. é um mercado do tipo oferta e procura.<br />

O segundo mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> mercado com o qual todos trabalhamos é o <strong>de</strong> relacionamentos integrados <strong>de</strong> marketing do tipo<br />

Inovação/Criativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> marca premium. Para mim, o marketing significa mais do que múltiplos pontos <strong>de</strong> comunicação. O<br />

marketing integrado, as comunicações integradas também incluem a integração da promoção <strong>de</strong> venda aos consumidores,<br />

promoção <strong>de</strong> movimento comercial, eventos, negócios públicos, marketing <strong>de</strong> causas (cause related marketing), relações públicas;<br />

todos os pontos <strong>de</strong> comunicação que ocorrem entre um ven<strong>de</strong>dor e um consumidor estão incluídos na fórmula das<br />

comunicações integradas.<br />

Na história da publicida<strong>de</strong> e da mídia, a gran<strong>de</strong> maioria (cerca <strong>de</strong> 90%) <strong>de</strong> todas as verbas está comprometida com este primeiro<br />

mo<strong>de</strong>lo, o da transação com base na precificação, e uma porcentagem muito pequena está concentrada no mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong><br />

inovação da marca premium, o mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> negócios baseado na criativida<strong>de</strong>.<br />

Este é o ponto central da nossa conversa hoje. As mudanças que estão ocorrendo entre os mo<strong>de</strong>los tradicionais e os mo<strong>de</strong>los<br />

<strong>de</strong> negócios do tipo premium. São os primeiros e escassos cassinos, as empresas <strong>de</strong> mídia e as agências que surgiram nos<br />

primórdios da era industrial, e que impulsionaram o comércio e a nossa indústria, versus os novos mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong> negócios, que<br />

apresentam novas maneiras <strong>de</strong> trabalhar, atrair a audiência e os anunciantes.<br />

Durante os últimos 50 anos, fomos muito bem-sucedidos no nosso negócio. Temos um mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> negócio com o perfil transacional<br />

comoditizado <strong>de</strong> oferta e procura no qual tivemos uma crescente oferta <strong>de</strong> mídia e, ao mesmo tempo, um aumento<br />

suficiente na <strong>de</strong>manda, permitindo a constante elevação dos preços, aumentando nossos lucros por meio do aumento dos<br />

nossos preços, mesmo que a oferta crescesse.<br />

Também tivemos a maravilhosa oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> não ter os negociantes do mercado controlando se as ações estão gerando<br />

vendas ou não. Sabemos que a mídia funciona, sabemos que ela gera vendas, porém, a publicida<strong>de</strong> na mídia não exigia as<br />

medições <strong>de</strong> retorno do investimento que os outros tipos <strong>de</strong> comunicação e outros mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong> negócios executam.<br />

Porém, em 2004 isso começou a mudar, quando A. G. Lafley, presi<strong>de</strong>nte da Procter & Gamble, fez seu famoso discurso, dizendo:<br />

“Precisamos reinventar as nossas práticas <strong>de</strong> marketing para com os consumidores. Precisamos <strong>de</strong> um novo mo<strong>de</strong>lo, que não<br />

existe. Ninguém tem um, mas precisamos prosseguir agora.”<br />

Aqui estamos, nos Estados Unidos, após quase cinco anos do importante discurso do Sr. Lafley e ainda estamos numa árdua<br />

busca por esses novos mo<strong>de</strong>los.<br />

Temos gran<strong>de</strong>s agências – WPP, Interpublic Group, Omnicom, Publicis —, todas na árdua luta para encontrar novos mo<strong>de</strong>los<br />

<strong>de</strong> negócios capazes <strong>de</strong> substituir a compra e o planejamento <strong>de</strong> mídia, com baixa comissão e baixo retorno, que compõem<br />

o negócio e têm sido o núcleo <strong>de</strong> suas agências <strong>de</strong> mídia, e os componentes criativos que incentivaram a produção dos comerciais<br />

caros, anúncios em revistas, novos mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong> negócios ao redor da agência criativa.<br />

Nos Estados Unidos, tivemos a fragmentação da mídia, muito importante para ajudar a melhorar a rentabilida<strong>de</strong> das agências<br />

<strong>de</strong> mídia e a criação <strong>de</strong> novos mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong> mídia.<br />

Atualmente, essas agências estão começando a investir em proprieda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> mídia, em programação e conteúdo, novos tipos<br />

<strong>de</strong> negócios, e os componentes criativos da agência estão buscando novos mo<strong>de</strong>los que se aliem à tecnologia. Eles estão<br />

explorando <strong>de</strong> que maneira seus relacionamentos entre os componentes criativos, os componentes da mídia e os outros setores<br />

dos seus negócios po<strong>de</strong>m ficar unidos, integrados, e estão trabalhando muito para vencer esses <strong>de</strong>safios. Agora que eles<br />

estão separados, é um gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>safio tentar encontrar maneiras <strong>de</strong> reintegrá-los e este é o principal ponto. Além disso, temos<br />

o custo por mil no nosso negócio, que continua a ser importante, mas estamos no caminho <strong>de</strong> uma mudança na América.<br />

Kevin Roberts, presi<strong>de</strong>nte mundial da Saatchi & Saatchi, diz: “com toda essa empolgação em relação à convergência, novas<br />

tecnologias e oportunida<strong>de</strong>s, precisamos convergir sobre uma idéia: gerar ligações emocionais com as pessoas”.<br />

As ligações emocionais estão se tornando tão importantes no contexto da nossa indústria quanto a conexão da mídia daquela<br />

ferrovia, das proprieda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> mídia que movimentam as mensagens para as pessoas utilizando a tecnologia.<br />

Vamos analisar a nossa indústria mais adiante, afastando-nos dos últimos 50 anos. Novas dinâmicas estão ocorrendo:<br />

1. Pela primeira vez na nossa história nos Estados Unidos e cada vez mais no Brasil, na medida em que a tecnologia passa a ser<br />

mais impactante, pela primeira vez a oferta <strong>de</strong> mídia exce<strong>de</strong>rá a <strong>de</strong>manda. Isso já está acontecendo e como resultado, há uma<br />

tendência à redução <strong>de</strong> preços, uma pressão forte para a diminuição dos custos, exigências intensas por parte do investidor,<br />

e as empresas <strong>de</strong> mídia e agências não estão conseguindo atingir as exigências dos investidores e interromper a queda dos<br />

preços. Este é um gran<strong>de</strong> problema para a indústria.<br />

Também pela primeira vez, os negocientes <strong>de</strong> mercado estão exigindo informes <strong>de</strong>talhados que comprovem a eficácia e o<br />

retorno <strong>de</strong> seus investimentos.<br />

174 175<br />

COMISSÃO 1 - COMUNICAÇÃO INTEGRADA


Nesse contexto, permitam-me partilhar alguns pensamentos e algumas idéias sobre a mudança que estamos atravessando,<br />

esta gran<strong>de</strong> mudança dos mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong> negócios tradicionais <strong>de</strong> oferta e procura com os quais trabalhamos para os mo<strong>de</strong>los<br />

do tipo premium <strong>de</strong> inovação com foco na marca e <strong>de</strong> comunicações integradas, que serão utilizados no futuro.<br />

é nítido que a tecnologia muda todas as regras. Portanto, a tecnologia <strong>de</strong>sgasta relacionamentos – é o que vocês estão reunidos<br />

hoje para discutir no <strong>Congresso</strong>: os relacionamentos e as pessoas que a tecnologia está <strong>de</strong>sgastando. Esse <strong>de</strong>sgaste está<br />

gerando um caos no negócio e na medida em que a tecnologia da internet, a tecnologia interativa, a tecnologia móvel se<br />

tornam mais e mais dominantes no Brasil, essa erosão, esse caos, ficarão piores. Por isso, é muito importante vocês estarem aí<br />

hoje, falando sobre o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> estratégias para o futuro.<br />

Nestes mercados altamente competitivos e caóticos, os mo<strong>de</strong>los comoditizados ten<strong>de</strong>m a crescer. Na verda<strong>de</strong>, nos mo<strong>de</strong>los<br />

<strong>de</strong> negócios comoditizados, os preços têm a tendência a alcançarem a gratuida<strong>de</strong>. Pergunto: o que aconteceria se vocês<br />

pegassem seu mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> negócios mais importante, seu fluxo primário <strong>de</strong> retorno da publicida<strong>de</strong>, mídia, criação e, repentinamente,<br />

precisassem oferecê-lo <strong>de</strong> graça? Como vocês gerariam dinheiro?<br />

Se repentinamente o seu mercado passasse a ter a tendência da gratuida<strong>de</strong> e vocês olhassem na direção <strong>de</strong> novos mo<strong>de</strong>los<br />

<strong>de</strong> negócios, quais seriam eles? Estes mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong> negócios serão os responsáveis por fazer o seu negócio avançar no futuro.<br />

Nestes ambientes caóticos, se as gran<strong>de</strong>s empresas não oferecerem os serviços e capacida<strong>de</strong>s, os novos competidores o farão.<br />

São novos concorrentes nos Estados Unidos como o Google, a Microsoft (que está se tornando uma gran<strong>de</strong> força <strong>de</strong> mídia),<br />

que estão dominando novos mercados, mercados emergentes, porque as empresas tradicionais não conseguiram <strong>de</strong>senvolver<br />

esses mercados. Elas estão criando novos mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong> negócios e agora as empresas tradicionais <strong>de</strong> mídia estão lutando<br />

para atingir o mesmo patamar.<br />

A mudança cria oportunida<strong>de</strong>s para novos relacionamentos e novos nichos <strong>de</strong> clareza estratégica.<br />

Nesses mercados tradicionais, os mo<strong>de</strong>los tradicionais <strong>de</strong> negócios são importantes, assim como os novos mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong> negócios.<br />

A clareza e a diferenciação estratégica são tão importantes quanto a preservação dos mo<strong>de</strong>los tradicionais.<br />

O que mais importa enquanto vocês avançam por esse período caótico são os relacionamentos que ganharam valor.<br />

Voltando ao meu ponto <strong>de</strong> origem, a tecnologia está <strong>de</strong>sgastando os relacionamentos, então os relacionamentos são os mais<br />

valorizados. Entretanto, a tecnologia <strong>de</strong>sgasta os relacionamentos. O que fazer?<br />

é aqui que analisamos o ponto principal do seu <strong>de</strong>bate: o que fazer?<br />

Sugiro vários temas fundamentais que vocês <strong>de</strong>vem <strong>de</strong>bater, estudar, analisar, ao avaliar a importância das pessoas e dos<br />

relacionamentos. Cada relacionamento com valor adquirido possui quatro componentes básicos:<br />

é preciso cumprir o que você prometeu.<br />

é preciso aten<strong>de</strong>r às necessida<strong>de</strong>s e interesses dos seus clientes, consumidores, públicos, clientes.<br />

é preciso oferecer um valor mensurável.<br />

é preciso oferecer um relacionamento <strong>de</strong> confiança.<br />

Se vocês forem <strong>de</strong> uma empresa que ven<strong>de</strong> mídia, precisarão fazer com que seus anunciantes saibam com certeza que vocês<br />

estão oferecendo um ambiente excelente no qual eles po<strong>de</strong>m anunciar. Se vocês trabalharem em uma agência <strong>de</strong> publicida<strong>de</strong>,<br />

precisarão mostrar ao cliente que estão pensando no melhor para ele, atentos às suas necessida<strong>de</strong>s e que têm um<br />

relacionamento <strong>de</strong> confiança com eles.<br />

Se vocês seguirem um mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> negócios com base na precificação, se o seu principal foco é o preço, basta que ofereçam o<br />

melhor preço, sejam vocês negociantes <strong>de</strong> mercado, varejistas, uma agência, uma empresa que ven<strong>de</strong> mídia. Se o que vocês<br />

priorizam é o preço, ofereçam os quatro componentes <strong>de</strong> ambiente <strong>de</strong> confiança, aten<strong>de</strong>ndo às necessida<strong>de</strong>s das audiências,<br />

o valor e, então, ofereçam o preço.<br />

Porém, se vocês <strong>de</strong>sejam oferecer novos mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong> negócios, existem cinco oportunida<strong>de</strong>s básicas:<br />

Vocês oferecem um público emocionalmente mais envolvido com o produto dos seus clientes.<br />

Oportunida<strong>de</strong>s baseadas na criativida<strong>de</strong> que sejam integradas, inovadoras e não tradicionais.<br />

Interativida<strong>de</strong> e novas mídias.<br />

Criativida<strong>de</strong>, que po<strong>de</strong> ser mensurada <strong>de</strong> várias formas.<br />

Organizações integradas e o fim dos “silos” tradicionais, que não <strong>de</strong>ixam a integração da mídia e do marketing acontecer.<br />

Abordarei sete questões para as suas empresas, mas antes, respondam: que porcentagem dos seus lucros <strong>de</strong> hoje se baseia<br />

em preço, negociação, comissionamento, versus que porcentagem dos seus lucros vocês consi<strong>de</strong>rariam não tradicionais, premium,<br />

relacionamentos baseados na marca?<br />

Atualmente, a maioria das empresas da indústria da mídia e da publicida<strong>de</strong> nos Estados Unidos diria que em torno <strong>de</strong> 85%<br />

são tradicionais, com base nos preços, e <strong>de</strong> 10% a 15% são do tipo não tradicional. é raro alguma empresa ter um índice maior<br />

que 15%.<br />

Vamos à segunda pergunta: que porcentagem <strong>de</strong> lucros vocês preten<strong>de</strong>m ter em <strong>de</strong>z anos originárias do tradicional mo<strong>de</strong>lo<br />

por preço, versus o mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> relacionamentos rentáveis do tipo premium? Quais são as suas projeções para os próximos <strong>de</strong>z<br />

anos? Digamos que sejam 60% premium e 40% por precificação. Que porcentagem do seu talento, seus recursos, sua verba,<br />

está dirigida a esses mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong> relacionamento tradicionais comoditizados <strong>de</strong> oferta e procura, custo por mil, fee e comissionamento,<br />

versus que porcentagem dos seus gastos atuais, recursos, talentos são do tipo não tradicional, inovadores, premium?<br />

Existe um equilíbrio entre eles? Vocês estão investindo o suficiente para atingirem seus objetivos <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> <strong>de</strong>z anos?<br />

Se, <strong>de</strong> fato, vocês tiverem a intenção <strong>de</strong> fazer tais investimentos e tais mudanças, <strong>de</strong> que maneira estão realmente diferenciando<br />

suas empresas e seus talentos, hoje, do talento, do foco e das priorida<strong>de</strong>s dos seus concorrentes? Seus clientes pagam <strong>de</strong><br />

forma premium por esses serviços? Vocês os estão oferecendo <strong>de</strong> graça? De que forma vocês estabelecem os preços pagos<br />

por eles? Os clientes reconhecem sua força no trabalho com a marca e a sua diferenciação da mesma forma que vocês o fazem<br />

e eles os valorizam por esses serviços e por essas competências? Que mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> negócios vocês estão adotando para gerar<br />

lucros adicionais e crescimento além da publicida<strong>de</strong>?<br />

Se os seus ganhos em veiculação e fees fossem <strong>de</strong> zero, que mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> negócios vocês adotariam para gerar um crescimento<br />

dos lucros?<br />

Por fim, o quão fortes, <strong>de</strong> fato, são os seus relacionamentos? Qual é o nível <strong>de</strong> comprometimento da sua equipe, dos seus<br />

talentos, em relação aos objetivos estabelecidos? Suas intenções estão claras? Qual é a importância dos preços para esses<br />

relacionamentos? Se vocês aumentassem seus preços e oferecessem novos serviços, seus clientes continuariam com vocês,<br />

ou procurariam empresas que oferecessem preços menores?<br />

Mais uma vez, há quatro tópicos fundamentais com os quais todos estamos lidando no setor <strong>de</strong> mídia e publicida<strong>de</strong> hoje:<br />

A fragmentação da tecnologia da mídia e o foco na tecnologia.<br />

Criativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> “marca”, inovação, comunicações integradas.<br />

Mensuração <strong>de</strong> eficácia.<br />

Mo<strong>de</strong>los organizacionais/<strong>de</strong> talento.<br />

Essas são as quatro questões fundamentais que vocês estão <strong>de</strong>batendo no <strong>Congresso</strong> <strong>de</strong> Publicida<strong>de</strong> em São Paulo hoje. São<br />

os tópicos sobre os quais vocês <strong>de</strong>vem se concentrar e, mais uma vez, eu os parabenizo por direcionar suas atenções para as<br />

mudanças <strong>de</strong> mercado em curso.<br />

No caminho, existem obstáculos para o seu sucesso no <strong>de</strong>correr <strong>de</strong>sse <strong>de</strong>bate, que ocorrem com o fato <strong>de</strong> vocês <strong>de</strong>safiarem<br />

esses mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong> negócios com os quais estão lidando hoje.<br />

Muitos <strong>de</strong> vocês estão no mercado há bastante tempo, e já ouviram a frase antes: quanto mais as coisas mudam, mais elas<br />

permanecem iguais. Já ouviram também frases “o passado é prólogo” e “nada <strong>de</strong> novo sob o sol”. São frases que muitos <strong>de</strong> nós,<br />

neste setor, ouvimos durante anos, e percebemos que apesar das mudanças nos nossos negócios com o passar dos anos, das<br />

novas mídias colocadas acima das antigas, mesmo que os mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong> negócios parecessem ter mudado, nós continuamos a<br />

fazer negócios da mesma maneira. E ficamos muito confiantes nas nossas capacida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> fazer nossos negócios prosperarem,<br />

mesmo que o mundo ao nosso redor estivesse em processo <strong>de</strong> mudança.<br />

As mudanças que estão ocorrendo hoje na indústria da mídia e da publicida<strong>de</strong> não permitem mais que <strong>de</strong>pendamos <strong>de</strong> as<br />

coisas permanecerem iguais. Quanto mais as coisas mudam, mais elas mudam.<br />

Os lucros somente com a publicida<strong>de</strong>, que têm sido mais que suficientes para impulsionar nossos negócios nos últimos 50<br />

anos, já não bastam.<br />

O foco no investidor, mercado <strong>de</strong> ações, valor do acionista, venture capital, estão exercendo muita pressão para alcançar os<br />

objetivos <strong>de</strong> retornos em curto prazo e não permitem que a nossa indústria faça as mudanças necessárias para alcançar a<br />

estabilida<strong>de</strong>, o crescimento em longo prazo e a viabilida<strong>de</strong> da mídia e da publicida<strong>de</strong>.<br />

A qualida<strong>de</strong> dos nossos recursos humanos <strong>de</strong>ve ser aperfeiçoada. Precisamos nos concentrar numa educação <strong>de</strong> melhor<br />

qualida<strong>de</strong>, num melhor preparo e no reconhecimento <strong>de</strong> que os mo<strong>de</strong>los tradicionais <strong>de</strong> negócios já não são mais a base<br />

para o nosso crescimento futuro.<br />

E, por fim, falta paixão, emotivida<strong>de</strong> nos relacionamentos, e isso não é saudável nem na vida pessoal, nem na profissional. No<br />

setor da mídia e da publicida<strong>de</strong>, aceitamos por tempo <strong>de</strong>mais relacionamentos que passam <strong>de</strong> uma empresa para a outra.<br />

Quando o preço sobe, o cliente procura o concorrente. Precisamos <strong>de</strong> paixão na nossa indústria, precisamos acreditar no valor<br />

dos relacionamentos e colocar a paixão na publicida<strong>de</strong> e na mídia.<br />

A seguir, apresento os quatro pontos com os quais vocês estão envolvidos neste <strong>Congresso</strong>:<br />

1. Vocês <strong>de</strong>vem ter agências do tipo full service, ou elas <strong>de</strong>vem ser especializadas? A resposta é: ambas. Agências full<br />

service que po<strong>de</strong>m realmente integrar os mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong> marketing e comunicação serão o único veículo importante <strong>de</strong> crescimento<br />

para a publicida<strong>de</strong> no futuro. A especialização crescerá e ficará concentrada nos preços, e as agências especializadas<br />

terão a função <strong>de</strong> oferecer <strong>de</strong>terminados serviços, mas serão fragmentadas, focadas nos preços e também em pequenos<br />

nichos premium.<br />

Porém, o <strong>de</strong>safio para as agências full service será utilizar e integrar tais capacida<strong>de</strong>s.<br />

2. Execução multiplataforma ou “silos”? Acredito que a execução multiplataforma seja a visão do futuro. é algo em<br />

que tenho acreditado durante 30 anos. é preciso ter um ponto central <strong>de</strong> comunicação para o cliente, capaz <strong>de</strong> unificar todos<br />

os diferentes silos, todas as capacida<strong>de</strong>s e o po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão atuando nesses focos multiplataforma.<br />

3. Mudança nos mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong> pesquisa: o quê e como? Essa é uma questão importante. Várias formas <strong>de</strong> mensurar os<br />

novos <strong>de</strong>sempenhos estão sendo lançadas no nosso negócio:<br />

a. A internet/interativida<strong>de</strong> está conduzindo muitos dos novos mo<strong>de</strong>los.<br />

b. O comprometimento (ligações emocionais) e o retorno.<br />

c. Medidas criativas – a criativida<strong>de</strong> será cada vez mais mensurada no <strong>de</strong>sempenho do criativo para atingir os públicos-alvo.<br />

d. Mensurações <strong>de</strong> <strong>de</strong>sempenho baseadas em vendas reais e retorno <strong>de</strong> investimentos.<br />

e. Valor do investidor, com novas maneiras <strong>de</strong> <strong>de</strong>finir este valor além do dinheiro, além dos dólares gerados neste<br />

mês, trimestre ou ano. Quais são as potencialida<strong>de</strong>s e o retorno do investimento, além do retorno do dólar? Falo do retorno<br />

do investimento para a socieda<strong>de</strong>, do marketing <strong>de</strong> causas; o que vocês, como empresa, como executivos, <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>m? De que<br />

maneira seus investidores valorizam aquilo em que vocês acreditam e o que <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>m e representam, não apenas para gerar<br />

lucro, mas para criar boa vonta<strong>de</strong>, valor para a socieda<strong>de</strong>, para o país e para o mundo? De que maneira vocês estão contribuindo<br />

para as soluções do aquecimento global, a diminuição da pobreza, a melhora na atitu<strong>de</strong> mundial? Esses são os temas.<br />

4. E, por fim, como po<strong>de</strong>mos <strong>de</strong>senvolver o talento? Isso me leva <strong>de</strong> volta à cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Las Vegas. Vocês <strong>de</strong>vem estar<br />

se perguntando qual é a relação entre talento e Las Vegas, ou entre Las Vegas e todas essas questões.<br />

Mencionei a ferrovia que passa por trás das ruas <strong>de</strong> Las Vegas. Quero lembrá-los da piada sobre os magnatas do setor ferroviário<br />

no fim do século 19 e começo do século 20, quando havia uma visão para conectar a América, o Brasil e diferentes<br />

países ao redor do mundo através do trem. Eles acreditavam que estavam no setor <strong>de</strong> transporte <strong>de</strong> pessoas, bens e serviços.<br />

Mas quando a aviação surgiu para substituir muitos <strong>de</strong>sses mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong> negócios, também surgiu a pergunta era: por que os<br />

magnatas não se <strong>de</strong>ram conta <strong>de</strong> que não estavam no setor ferroviário, mas no setor <strong>de</strong> transportes?<br />

Quando olhamos para o nosso setor atualmente, po<strong>de</strong>mos fazer a mesma pergunta: e se aqueles magnatas da ferrovia tivessem<br />

ido para o setor <strong>de</strong> aviação? é assim que ficaria um avião hoje (imagem trem + avião). é claro, é apenas uma piada, mas o<br />

fato é que não se po<strong>de</strong> <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>r do talento que cresceu em meio aos mo<strong>de</strong>los passados tradicionais <strong>de</strong> negócios para criar<br />

176 177<br />

COMISSÃO 1 - COMUNICAÇÃO INTEGRADA


novos mo<strong>de</strong>los premium, baseados na experiência <strong>de</strong> marca. Para isso, é preciso ter talento novo, inovador, novas idéias.<br />

Mesmo nas instituições educacionais que treinarão a próxima geração <strong>de</strong> executivos, precisamos ter novas formas <strong>de</strong> lidar<br />

com eles. As pessoas <strong>de</strong>vem estudar as novas mídias, novos mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong> marketing e publicida<strong>de</strong>, <strong>de</strong> comunicação integrada,<br />

ensinando e treinando esses executivos. e aqui está o <strong>de</strong>safio: como po<strong>de</strong>mos <strong>de</strong>senvolver talento? Po<strong>de</strong>mos fazê-lo sem nos<br />

apoiar, sem <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>r das maneiras passadas, dos mo<strong>de</strong>los antigos <strong>de</strong> negócios para treinar nossas gerações futuras <strong>de</strong> executivos<br />

nos negócios. Caso contrário, estaremos presos aos mesmos conceitos da ferrovia e construiremos os novos mo<strong>de</strong>los<br />

em bases ina<strong>de</strong>quadas em relação às novas mídias e às novas oportunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> negócios.<br />

Então, perguntarei mais uma vez: que porcentagem dos seus negócios, hoje, se baseia na transação tradicional, e que porcentagem<br />

não é tradicional? Que porcentagem dos seus negócios, <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> <strong>de</strong>z anos, vocês querem que esteja operando<br />

nos mo<strong>de</strong>los tradicionais (fee, comissão), e que porcentagem vocês <strong>de</strong>sejam que seja premium, com base na marca, na diferenciação<br />

(mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong> negócios diferenciados)? Vocês estão investindo o suficiente para atingir o objetivo? Estão procurando<br />

novos mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong> negócios, construídos com base nas comunicações integradas, na paixão, no marketing, na promoção, no<br />

marketing das causas, em eventos, em novas maneiras <strong>de</strong> fazer negócios para chegar aos objetivos?<br />

Em Las Vegas, eles construíram restaurantes, galerias <strong>de</strong> arte, diversão, com o objetivo <strong>de</strong> atrair o público além do seu principal<br />

mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> negócios, o dos jogos.<br />

Se vocês continuarem a <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>r dos mo<strong>de</strong>los tradicionais <strong>de</strong> negócios, focados nos preços, será o mesmo que permitir que<br />

todos que visitem Las Vegas saiam <strong>de</strong> lá como vencedores dos jogos. Vocês esgotarão os recursos da indústria. Os clientes não<br />

po<strong>de</strong>m procurá-los apenas com base nos preços, no valor ou nas vendas, consi<strong>de</strong>rados individualmente. é preciso que vejam<br />

vocês e seus negócios pelo futuro, pelo crescimento, pela opportunida<strong>de</strong> em novas categorias, novas áreas <strong>de</strong> atuação e é<br />

neste ponto que está o seu futuro: nos relacionamentos que vocês construírem.<br />

Assim como perguntamos aos executivos do setor ferroviário em que área <strong>de</strong> atuação eles estavam — e eles respon<strong>de</strong>ram<br />

“ferrovia” no lugar <strong>de</strong> “transporte” —, qual é a sua área <strong>de</strong> atuação? Mídia? Publicida<strong>de</strong>? Marketing?<br />

Na minha opinião, vocês atuam na área <strong>de</strong> relacionamentos. A forma como vocês valorizam seus relacionamentos, como os<br />

diferenciam, como criam relevância para os clientes e públicos-alvo dos seus clientes, formará a base do relacionamento que<br />

eles terão com vocês. Essa é a pergunta importante.<br />

Mais uma vez, eu os parabenizo pelo seu <strong>Congresso</strong> <strong>Brasileiro</strong> <strong>de</strong> Publicida<strong>de</strong> e <strong>de</strong>sejo sucesso. Obrigado e espero vê-los<br />

pessoalmente em São Paulo muito em breve.<br />

Comissão 2<br />

RESPONSAbIlIDADE SOCIOAmbIENTAl DA PROPAGANDA<br />

Hiran Castello branco<br />

Boa tar<strong>de</strong> a todos que estão prestigiando a Comissão <strong>de</strong> Responsabilida<strong>de</strong> Socioambiental da Publicida<strong>de</strong> nesta tar<strong>de</strong>. Todos<br />

ouvimos as palavras do nosso Palestrante Kofi Annan há pouco, particularmente inspiradoras para os trabalhos que vamos<br />

fazer juntos neste final <strong>de</strong> tar<strong>de</strong>.<br />

Eu gostaria <strong>de</strong> chamar à mesa nossa secretária Rosa Alegria, nosso relator Francisco Socorro e o Prof. Francisco Gracioso, nosso<br />

palestrante principal nesta mesa. Chamo também nossos <strong>de</strong>batedores, o Prof. Ismael Rocha, Christina Carvalho Pinto e Percival<br />

Caropreso. Explicarei o roteiro dos trabalhos, para que todos possam acompanhar e participar. Todos po<strong>de</strong>m se inscrever para<br />

fazer comentários, se assim <strong>de</strong>sejarem, respeitando o que diz o regimento do <strong>Congresso</strong>: são apenas 90 segundos para uma<br />

intervenção verbal. Para tanto, existe um formulário que será distribuído a quem <strong>de</strong>sejar. A pessoa <strong>de</strong>ve colocar seu nome,<br />

o assunto que <strong>de</strong>seja abordar, encaminhar para a mesa aos cuidados da secretária e nós organizaremos as intervenções <strong>de</strong><br />

todos os <strong>de</strong>legados. Esse mesmo formulário po<strong>de</strong> ser usado para fazer perguntas. Esse é o sistema <strong>de</strong> participação dos <strong>de</strong>legados<br />

na segunda etapa dos nossos trabalhos.<br />

Farei uma rápida introdução que contextualiza os nossos trabalhos. Em seguida, vamos assistir a um <strong>de</strong>poimento do Percival<br />

Caropreso, especialista nesta matéria, amigo e companheiro <strong>de</strong> trabalho dos presentes, que está aqui conosco. O <strong>de</strong>poimento<br />

<strong>de</strong>le em ví<strong>de</strong>o ajuda a sinalizar o rumo dos trabalhos.<br />

Na seqüência vai falar o Prof. Gracioso. Em seguida, o Prof. Ismael Rocha fará uma síntese das contribuições que recebemos nas<br />

diversas teses que chegaram à nossa Comissão através do site. Depois, passaremos a ouvir os nossos <strong>de</strong>batedores pela or<strong>de</strong>m,<br />

sendo que ao final <strong>de</strong>ssas manifestações, nosso relator, Francisco Socorro, lerá uma <strong>de</strong>claração, que também é uma orientação<br />

para refletirmos e fazermos <strong>de</strong>pois a votação <strong>de</strong> tese. Gostaria <strong>de</strong> abrir esta sessão fazendo minhas — e estou certo que <strong>de</strong> todos<br />

vocês — as palavras do Paulo Nassar, presi<strong>de</strong>nte da Aberje e Prof. da ECA, que diz: “Na implantação <strong>de</strong> uma vida e <strong>de</strong> uma<br />

produção sustentável que respeite as pessoas, o meio ambiente e as formas como elas se organizam economicamente, os<br />

gran<strong>de</strong>s <strong>de</strong>safios para nós, para as corporações, governos e organizações da socieda<strong>de</strong> civil passam por transformar os hábitos<br />

<strong>de</strong> consumo <strong>de</strong> milhões <strong>de</strong> consumidores. A forma como esses consumidores se relacionam com as empresas passa também<br />

pela mudança dos processos industriais existentes, como realçou o próprio Kofi Annan, e também por repensar a educação e<br />

os comportamentos para o trabalho e para a vida”. Este é o norte para o qual nós temos que olhar.<br />

Dentro <strong>de</strong>sse contexto, nós nos opomos firmemente a todos que queiram tolher a liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> expressão em todas suas<br />

formas, incluindo a liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> expressão comercial, porque enten<strong>de</strong>mos que a transformação que o futuro nos cobra não<br />

implica em eliminar ou restringir a propaganda e as <strong>de</strong>mais formas <strong>de</strong> comunicação. Implica, sim, em refletirmos sobre o papel<br />

que lhe cabe neste mundo em mudança, e nós, aqui, precisamos pensar sobre o valor estratégico que tem o nosso setor para<br />

contribuir com o <strong>de</strong>senvolvimento dos negócios e o bem-estar da socieda<strong>de</strong> nesse contexto em que a sustentabilida<strong>de</strong> é<br />

uma premência. A comunicação tem que aten<strong>de</strong>r os interesses das marcas e empresas, dos governos e organizações da socieda<strong>de</strong><br />

civil, mas, acima <strong>de</strong> tudo, tem que aten<strong>de</strong>r os interesses das pessoas. E é com esse foco que nós vamos iniciar nossos<br />

trabalhos, e começaremos então por assistir em ví<strong>de</strong>o o <strong>de</strong>poimento do Percival Caropreso.<br />

Percival Caropreso<br />

O objetivo <strong>de</strong>sta comissão é provocar a reflexão, estimular o <strong>de</strong>bate e principalmente fazer com que nós, como classe publicitária,<br />

criemos e apresentemos propostas a serem discutidas no <strong>IV</strong> <strong>Congresso</strong>. Nosso tema é a Responsabilida<strong>de</strong> Social da<br />

Propaganda, e não na Propaganda. Qual é o papel da indústria da propaganda diante <strong>de</strong>sse mundo em transformação, para<br />

o qual todos os setores vêm trazendo suas contribuições, discutindo temáticas maiores <strong>de</strong> sustentabilida<strong>de</strong>, responsabilida<strong>de</strong><br />

social, ambiental, empresarial, corporativa?<br />

Muitas responsabilida<strong>de</strong>s vêm sendo colocadas em <strong>de</strong>bate e praticadas pelo primeiro setor, po<strong>de</strong>res públicos <strong>de</strong> diferentes<br />

governos no mundo inteiro, segundo setor, indústrias, empresas, nossos clientes, terceiro setor, socieda<strong>de</strong> civil organizada,<br />

ONG’s, institutos e fundações. Todos estão trazendo propostas concretas, cada um no seu ramo <strong>de</strong> atuação, sobre como levar<br />

adiante essa empreitada, que é <strong>de</strong> todos. A pergunta que temos que nos fazer, como início <strong>de</strong> reflexão, é: qual é o papel <strong>de</strong><br />

uma indústria — e não apenas das agências <strong>de</strong> propaganda — que sempre lidou com gran<strong>de</strong>s recursos financeiros e tem o<br />

privilégio <strong>de</strong> ter o talento da persuasão, do convencimento, da capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> mobilização para o consumo, para a formação<br />

<strong>de</strong> valores, para a mudança <strong>de</strong> comportamento? Uma indústria que sempre teve acesso, domínio das técnicas, dos meios <strong>de</strong><br />

comunicação mais eficazes. O que cabe a nós nesta discussão, como indústria? é isso o que queremos ouvir <strong>de</strong> todos nós,<br />

publicitários. Por favor, façam suas reflexões, <strong>de</strong>batam individualmente ou em grupo e enviem as suas propostas, suas recomendações<br />

concretas, pragmáticas. Qual é o papel socioambiental? Qual é a responsabilida<strong>de</strong> social e ambiental da nossa<br />

indústria, a propaganda?<br />

Hiran Castello branco<br />

Esse ví<strong>de</strong>o que nós acabamos <strong>de</strong> assistir esteve este tempo todo no site da nossa Comissão no <strong>Congresso</strong>, e nós recebemos<br />

várias contribuições. Ao longo da preparação dos trabalhos, essa Comissão se reuniu por diversas vezes — que eu me lembre,<br />

formalmente seis —, além das incansáveis trocas <strong>de</strong> e-mails e telefonemas. Vamos oferecer a este plenário uma tese subscrita<br />

coletivamente por esta Comissão, consubstanciada na apresentação que o Prof. Francisco Gracioso, nosso palestrante principal,<br />

vai nos fazer. Eu dou então a palavra ao Prof. Francisco Gracioso.<br />

francisco Gracioso<br />

As socieda<strong>de</strong>s primitivas há 10 mil anos tinham uma noção <strong>de</strong> responsabilida<strong>de</strong> socioambiental muito mais forte do que<br />

nós temos hoje. Elas se integravam com a natureza e sabiam que era seu <strong>de</strong>ver protegê-la e mantê-la como a receberam.<br />

Também tinham como norma, cuidar do bem-estar <strong>de</strong> todos os membros da comunida<strong>de</strong>, como responsabilida<strong>de</strong> dos que<br />

a governavam.<br />

178 179<br />

COMISSÃO 2 - RESPONSABILIDADE SOCIOAMBIENTAL DA PROPAGANDA


Infelizmente, esta noção per<strong>de</strong>u-se com o tempo e só agora, muito recentemente, em termos históricos, ela ressurge com uma<br />

força avassaladora. Há 30 anos, no nosso último <strong>Congresso</strong>, os anais não registram uma única palavra sequer sobre responsabilida<strong>de</strong><br />

socioambiental. Era a época em que o representante do governo brasileiro, em uma reunião <strong>de</strong> um organismo internacional,<br />

respon<strong>de</strong>ndo a um sueco dizendo que já não era possível montar mais fábricas <strong>de</strong> celulose na Suécia por causa da poluição, disse:<br />

“Man<strong>de</strong>-nos a sua poluição, man<strong>de</strong>-nos tudo que possa acelerar o nosso <strong>de</strong>senvolvimento, e nós cuidaremos da poluição”.<br />

A verda<strong>de</strong> é que não cuidamos — como o mundo não cuidou —, entretanto, as palavras do Kofi Annan que ouvimos nos mostram<br />

que houve uma revolução, uma mudança total nesta consciência e o mundo hoje sabe que é preciso salvar o mundo.<br />

é preciso cuidar da herança que recebemos e é preciso uma consciência maior <strong>de</strong> integração comunitária, <strong>de</strong> ética pessoal e<br />

corporativa e responsabilida<strong>de</strong> pelo que acontece para todos nós.<br />

Kofi Annan falou das parcerias que, ele acredita, serão cada vez mais necessárias entre a socieda<strong>de</strong> e os governos, se quisermos<br />

realmente resolver os problemas. Tentando trazer tudo isso para o nosso piccolo mondo da propaganda, qual é o papel, a<br />

oportunida<strong>de</strong> que a propaganda tem diante <strong>de</strong> sí neste momento? Todos sabem que somos mestres na construção e <strong>de</strong>fesa<br />

das imagens, das marcas, das empresas a quem servimos, mas “em casa <strong>de</strong> ferreiro, o espeto é <strong>de</strong> pau”. Nem sempre temos<br />

cuidado como <strong>de</strong>veríamos da imagem da nossa própria profissão. E isso, num mundo e num país que está cada vez mais hostil<br />

à propaganda. Não porque haja uma força diabólica maquinando contra nós; nada disso. Mas a socieda<strong>de</strong> procura auto-regulamentar-se,<br />

protegendo-se cada vez mais através <strong>de</strong> uma socieda<strong>de</strong> <strong>de</strong>mocrática, <strong>de</strong> direito público institucionalizado, como<br />

é a nossa. Haverá, sem dúvida, pressões, limitações que <strong>de</strong>veremos enfrentar. E enfrentaremos com mais êxito se tivermos do<br />

nosso lado uma imagem condizente com nossa realida<strong>de</strong>; se conseguirmos evitar que nos transformem em bo<strong>de</strong>s expiatórios<br />

<strong>de</strong> tudo <strong>de</strong> ruim que acontece no mundo do consumo, da comunicação.<br />

Temos agora a minha palestra. Peço ao Prof. Ismael que me aju<strong>de</strong> na leitura do texto, porque tenho problemas <strong>de</strong> leitura rápida.<br />

E eu, então, farei alguns comentários quando julgar apropriados, ao fim <strong>de</strong> cada período.<br />

Ismael Rocha<br />

No dia 18 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong>ste ano, na história da propaganda brasileira, o nosso conhecido Conar vetou pela primeira vez uma campanha<br />

<strong>de</strong> propaganda consi<strong>de</strong>rada enganosa, por fazer uma profissão <strong>de</strong> fé socioambiental que mantinha 100% <strong>de</strong> respaldo<br />

na realida<strong>de</strong> da atuação da empresa. Importante! A <strong>de</strong>núncia partiu da socieda<strong>de</strong> civil, não <strong>de</strong> concorrentes das empresas.<br />

No entanto, no mês <strong>de</strong> maio o Conar tornou pública a aprovação <strong>de</strong> um conjunto <strong>de</strong> normas éticas e profissionais que autoregulará<br />

a propaganda <strong>de</strong> bebidas alcoólicas no país, visando, acima <strong>de</strong> tudo, a proteção dos jovens. São dois exemplos magníficos<br />

<strong>de</strong> uma nova consciência <strong>de</strong> responsabilida<strong>de</strong> socioambiental que está avançando na propaganda brasileira. Outros<br />

exemplos <strong>de</strong>sse tipo serão apresentados mais adiante pela Rosa Alegria.<br />

Um breve retrospecto: <strong>de</strong> início, é preciso lembrar que a idéia <strong>de</strong> responsabilida<strong>de</strong> socioambiental não é nova entre as agências<br />

<strong>de</strong> propaganda. Só para citar um exemplo, há mais <strong>de</strong> meio século já havia agências que se recusavam a fazer propaganda<br />

<strong>de</strong> cigarros e bebidas alcoólicas. Já vem <strong>de</strong> longe também a preocupação com a ética e a verda<strong>de</strong> nos anúncios. Aqui no Brasil<br />

a propaganda foi uma das primeiras profissões a promulgar o seu código <strong>de</strong> ética e a criar um conselho <strong>de</strong> auto-regulamentação.<br />

Deve-se lembrar ainda a atuação do CNP, Conselho Nacional <strong>de</strong> Propaganda, na <strong>de</strong>fesa <strong>de</strong> causas <strong>de</strong> interesse comum.<br />

Não é por outra razão que a propaganda comercial sempre teve altos índices <strong>de</strong> credibilida<strong>de</strong> entre nós. No entanto, a imagem<br />

pública da propaganda em geral e dos publicitários em particular sempre sofreu distorções. Nossa profissão há muitas<br />

décadas foi consi<strong>de</strong>rada como uma arma do capitalismo, que é preciso combater. A essa realida<strong>de</strong>, somaram-se os últimos<br />

escândalos envolvendo agências <strong>de</strong> propaganda, muitas <strong>de</strong>las <strong>de</strong> fachada e órgãos do po<strong>de</strong>r público. Esta Comissão <strong>de</strong><br />

Responsabilida<strong>de</strong> Socioambiental da Indústria da Propaganda tem como coor<strong>de</strong>nadores o CNP, Conselho Nacional <strong>de</strong> Propaganda<br />

e a ESPM, Escola Superior <strong>de</strong> Propaganda e Marketing. Como formadores <strong>de</strong> profissionais, a ESPM e todo o mundo<br />

acadêmico têm a missão <strong>de</strong> contribuir para as bases futuras da indústria e para a criação <strong>de</strong> um novo mercado <strong>de</strong> trabalho<br />

que já <strong>de</strong>manda, e irá <strong>de</strong>mandar cada vez mais, consciência e responsabilida<strong>de</strong> na gestão dos negócios, inclusive na gestão<br />

<strong>de</strong> marketing e comunicação. Somos uma indústria forte <strong>de</strong> vanguarda, movimentamos recursos, multiplicamos riquezas, estimulamos<br />

o crescimento, o progresso, antecipamos e criamos tendências, inventamos o futuro. Nosso maior ativo é o talento<br />

que alcança, sensibiliza, persua<strong>de</strong> e mobiliza pessoas. Comunicamos conhecimento, abrimos perspectivas, criamos valores,<br />

estimulamos mudanças <strong>de</strong> atitu<strong>de</strong>, <strong>de</strong> comportamento.<br />

francisco Gracioso<br />

Em resumo, a propaganda não precisa que lhe dêem lições. Entre todas as ativida<strong>de</strong>s comerciais, empresariais, ela foi uma<br />

das primeiras a enxergar a ética como <strong>de</strong>ver. Comecei minha carreira numa agência que há muitas décadas, tinha como<br />

lema a verda<strong>de</strong> bem dita. Não se trata <strong>de</strong> procurar uma atitu<strong>de</strong> <strong>de</strong>fensiva diante <strong>de</strong>ssas ameaças, <strong>de</strong>ssas agressões, mas sim,<br />

aproveitar a oportunida<strong>de</strong> magnífica que se apresenta para nós neste novo mundo <strong>de</strong> responsabilida<strong>de</strong> socioambiental. é<br />

preciso que a propaganda se insira neste contexto na vanguarda <strong>de</strong>ste movimento que está transformando o mundo. E essa<br />

transformação <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>rá também <strong>de</strong> nós.<br />

Ismael Rocha<br />

Hoje, o mundo todo está revendo seus conceitos e fazendo reflexões. Todos buscamos um novo mo<strong>de</strong>lo. As questões socioambientais<br />

<strong>de</strong>ixaram <strong>de</strong> ser um nicho, um tema <strong>de</strong> especialistas. Elas dizem respeito a todos nós, inclusive nos negócios.<br />

Nossos clientes estão se comprometendo com elas. O que a indústria da propaganda tem a dizer? O que po<strong>de</strong>mos agregar<br />

a essas reflexões? O que po<strong>de</strong>remos, <strong>de</strong> fato, fazer como empresas e como profissionais-cidadãos? Qual nosso papel concreto<br />

e efetivo neste mundo em transformação? O impacto ambiental direto que produzimos é muito pequeno. O impacto<br />

ambiental indireto que ajudamos a promover é gigantesco. Contribuímos para provocar um impacto social imenso.<br />

1 Em busca <strong>de</strong> soluções mais abrangentes<br />

Como já dissemos, a preocupação com o conteúdo ético e a função social da propaganda não é nova. Ela está presente em<br />

nosso código <strong>de</strong> ética, respeitado e copiado até no exterior. No entanto, isso não impediu que a imagem pública da profissão<br />

fosse manchada recentemente pela participação <strong>de</strong> umas poucas agências em esquemas <strong>de</strong> <strong>de</strong>svio <strong>de</strong> dinheiro público. Será<br />

possível fazer alguma coisa para mudar esta situação?<br />

2 A formação da Comissão <strong>de</strong> Responsabilida<strong>de</strong> Socioambiental como parte do <strong>IV</strong> <strong>Congresso</strong> é uma <strong>de</strong>monstração <strong>de</strong> que os<br />

publicitários acreditam que sim. Há vários exemplos, inclusive no nosso país, <strong>de</strong> empresas e setores que procuraram projetar<br />

uma boa imagem através da adoção <strong>de</strong>ssas políticas. De modo geral, uma política <strong>de</strong> responsabilida<strong>de</strong> socioambiental se<br />

expressa pela a<strong>de</strong>são a quatro princípios:<br />

a) ética nas relações;<br />

b) transparência (também chamada <strong>de</strong> governança);<br />

c) cidadania;<br />

d) consciência socioambiental.<br />

De modo geral, as empresas que mais investem nessas práticas são as que estão em setores <strong>de</strong>licados que, por essa razão,<br />

atraem a atenção e a <strong>de</strong>sconfiança públicas.<br />

3 A responsabilida<strong>de</strong> socioambiental em nosso país suscita uma questão inusitada. Enquanto o setor privado procura apresentar-se<br />

como <strong>de</strong>tentor <strong>de</strong> normas éticas <strong>de</strong> conduta, o setor público — verda<strong>de</strong> seja dita, sempre com a participação <strong>de</strong><br />

pessoas e empresas do setor privado — mergulha cada vez mais em escândalos políticos e administrativos. Será possível<br />

conviver com uma situação como esta, que configura a existência <strong>de</strong> dois países cada vez mais distanciados entre si?<br />

francisco Gracioso<br />

Temos estudos freqüentes na ESPM e em outras fontes que mostram a gran<strong>de</strong> credibilida<strong>de</strong> pública em relação à propaganda<br />

comercial, e a baixa credibilida<strong>de</strong> em relação à partidária, política e governamental. Bastaria isso para ilustrar essa dicotomia,<br />

um dos problemas que <strong>de</strong>veremos enfrentar no aprofundamento <strong>de</strong>sta questão <strong>de</strong> responsabilida<strong>de</strong> socioambiental.<br />

Ismael Rocha<br />

4 Alguns estudos têm mostrado que há uma certa relação com a adoção <strong>de</strong> práticas sócioambientais e os bons resultados<br />

da empresa. O certo é que a responsabilida<strong>de</strong> socioambiental, se levada a sério, implica em custos elevados e até mesmo na<br />

perda <strong>de</strong> certas vantagens competitivas.<br />

5 Michael Porter, um dos primeiros autores a estudar este tema, disse em um artigo famoso que a responsabilida<strong>de</strong> socioambiental,<br />

como política da empresa, só é viável se integrar-se à cultura organizacional e às estratégias <strong>de</strong> competição <strong>de</strong>ssa<br />

empresa. Caso contrário, ela será um a<strong>de</strong>reço, um acessório dispensável em circunstâncias <strong>de</strong> crise e corte <strong>de</strong> orçamento.<br />

francisco Gracioso<br />

Isso é muito importante, é uma lição para todos nós, como publicitários, como empresários. Se <strong>de</strong>terminada agência, veículo<br />

ou qualquer tipo <strong>de</strong> organização <strong>de</strong>cidir engajar-se nesta filosofia, nesta empreitada, <strong>de</strong>ve compreen<strong>de</strong>r que o compromisso<br />

terá que ser profundo, e que toda a cultura organizacional <strong>de</strong>verá refletir esse compromisso.<br />

Ismael Rocha<br />

6 Portanto, no momento em que se discute a adoção das práticas <strong>de</strong> responsabilida<strong>de</strong> socioambiental pelo universo da propaganda,<br />

é preciso lembrar que existem prós e contras a consi<strong>de</strong>rar. Como alternativa, po<strong>de</strong>mos citar o exemplo <strong>de</strong> setores<br />

inteiros, hoje submetidos à execração pública e que, no entanto, preferem manter-se no silêncio. Finalmente, ressalta-se novamente<br />

que os exemplos já existentes <strong>de</strong> empresas que adotam essas práticas beneficiam a imagem <strong>de</strong>ssas empresas, e não a<br />

do setor ao qual elas pertencem. Com isso em mente, passamos agora a formular nossas propostas para discussão.<br />

7 Propostas da Comissão <strong>de</strong> Responsabilida<strong>de</strong> Socioambiental para o <strong>IV</strong> <strong>Congresso</strong> <strong>de</strong> Publicida<strong>de</strong>.<br />

a) Quais as contrapartidas que o nosso setor po<strong>de</strong>rá dar?<br />

Para serem legítimas, as contrapartidas têm que estar na essência da nossa ativida<strong>de</strong>, naquilo que produzimos profissionalmente,<br />

na comunicação comercial; respeitar a responsabilida<strong>de</strong> socioambiental, não apenas como um diferencial competitivo<br />

para marcas; enten<strong>de</strong>r que a responsabilida<strong>de</strong> socioambiental é um dos pilares da gestão <strong>de</strong> sustentabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> nossos<br />

clientes. é sua cidadania empresarial e comunicá-la como tal.<br />

b) Admitindo que o principal problema enfrentando pela propaganda seja sua imagem pública e reconhecendo que esta<br />

questão só po<strong>de</strong> ser enfrentada a longo prazo, organizar um programa permanente <strong>de</strong> catequese <strong>de</strong> grupos formadores <strong>de</strong><br />

opinião como políticos, jornalistas, estudantes e professores <strong>de</strong> cursos superiores, nos mol<strong>de</strong>s dos programas semelhantes<br />

executados pelo Advertising Council, nos Estados Unidos. Entre nós, esta tarefa po<strong>de</strong>ria ser centralizada no Conselho Nacional<br />

<strong>de</strong> Propaganda, com o total apoio das <strong>de</strong>mais entida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> classe.<br />

c) Reconhecendo que os <strong>de</strong>svios éticos que vêm a público ocorrem sempre no relacionamento entre as agências e o po<strong>de</strong>r<br />

público, promulgar pela criação do nosso Primeiro Código <strong>de</strong> ética da Comunicação do Setor Público, com sentido obrigatório<br />

e fiscalizado por um órgão também a ser criado, com po<strong>de</strong>res semelhantes ao do nosso Conar.<br />

d) Falando do Conar, tentar levar este organismo a ampliar o seu conceito <strong>de</strong> ética na análise da propaganda corrente, dando<br />

cada vez mais atenção aos aspectos socioambientais que sensibilizam a opinião pública.<br />

francisco Gracioso<br />

Verda<strong>de</strong> seja dita, o Conar já está fazendo isso. Este ano, por exemplo, o número <strong>de</strong> processos abertos pelo Conar é praticamente<br />

o dobro do ano passado, e muitos <strong>de</strong>les têm a ver com a ética, o respeito ao consumidor e os direitos das minorias.<br />

180 181<br />

COMISSÃO 2 - RESPONSABILIDADE SOCIOAMBIENTAL DA PROPAGANDA


Ismael Rocha<br />

e) As agências <strong>de</strong> propaganda — gran<strong>de</strong>s ou pequenas — <strong>de</strong>vem dar provas freqüentes <strong>de</strong> seu compromisso com a socieda<strong>de</strong>.<br />

Espera-se que sejam boas cidadãs, promovendo ou associando-se a causas ou eventos <strong>de</strong> interesse público. Devem<br />

também aceitar como norma o respeito à ética nas relações com os clientes e veículos, funcionários e a socieda<strong>de</strong> em geral.<br />

f ) No que se refere ao relacionamento com os funcionários, as agências <strong>de</strong>veriam profissionalizar o gerenciamento <strong>de</strong> recursos<br />

humanos e mudar a cultura atual, que faz <strong>de</strong>las ponto <strong>de</strong> passagem rápida <strong>de</strong> milhares <strong>de</strong> jovens que se <strong>de</strong>cepcionam<br />

rapidamente. Estudos feitos pela ESPM já mostraram que entre as empresas prestadoras <strong>de</strong> serviços, são as que pior pagam e<br />

têm o maior índice <strong>de</strong> rotação <strong>de</strong> pessoal.<br />

francisco Gracioso<br />

Em resumo, é preciso passar a limpo os programas <strong>de</strong> estágios e trainees nas agências, e, humil<strong>de</strong>mente <strong>de</strong>veríamos estudar<br />

o que fazem nossos gran<strong>de</strong>s clientes, que estão anos à nossa frente, neste particular pelo menos.<br />

Ismael Rocha<br />

g) Nas ativida<strong>de</strong>s próprias <strong>de</strong> uma agência, inclusive no relacionamento com clientes, veículos e fornecedores, o novo código<br />

<strong>de</strong> ética da <strong>Abap</strong> <strong>de</strong>ve servir <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>lo. Sua fiscalização terá <strong>de</strong> ser rigorosa e as agências que não cumprirem <strong>de</strong>vem per<strong>de</strong>r<br />

sua afiliação.<br />

h) No relacionamento com fornecedores, serviços e bens, as agências que a<strong>de</strong>rirem a estes princípios <strong>de</strong>verão ter preferência<br />

àqueles que proce<strong>de</strong>m da mesma maneira. Como exemplo singelo, contratar somente motoboys com carteira assinada e<br />

garantias sociais.<br />

i) Finalmente, as agências <strong>de</strong> propaganda <strong>de</strong>verão adotar práticas <strong>de</strong> sustentabilida<strong>de</strong> ambiental e <strong>de</strong> proteção ao meio ambiente<br />

e promoção do consumo responsável.<br />

j) Todas as práticas relacionadas até aqui po<strong>de</strong>rão ou não transformar-se em compromisso formal, fiscalizado por um órgão<br />

encarregado da certificação. Francamente, essa certificação não nos preocupa, pois aventureiros que cometem <strong>de</strong>slizes preferem<br />

manter-se na penumbra. De qualquer forma, se houver certificação, esta <strong>de</strong>veria ser dada por um órgão ligado à classe,<br />

e não por uma instituição <strong>de</strong> caráter geral.<br />

francisco Gracioso<br />

é o que tínhamos a dizer, senhor presi<strong>de</strong>nte.<br />

Hiran Castello branco<br />

Agra<strong>de</strong>ço muito a exposição do Professor Gracioso. Vamos agora, dar a palavra ao Professor Ismael, que vai fazer uma síntese<br />

dos trabalhos que recebemos como contribuição no site <strong>de</strong>sta Comissão do <strong>Congresso</strong>. Com a palavra, o Professor Ismael<br />

Rocha.<br />

Ismael Rocha<br />

A mim coube uma das tarefas mais difíceis <strong>de</strong>ssa Comissão: traduzir em pequenos parágrafos o material tão rico que esta<br />

Comissão recebeu durante este período em que as inscrições estiveram abertas. De início, peço <strong>de</strong>sculpas aos autores se, em<br />

algum momento, o que foi retratado aqui não estiver plenamente alinhado com as suas propostas, mas na verda<strong>de</strong>, essa é<br />

realmente uma pequena síntese e uma sinopse dos artigos enviados.<br />

O primeiro artigo que quero <strong>de</strong>stacar tem o título “A ação da cidadania e a comunicação para transformação”, <strong>de</strong> Nádia Rebouças,<br />

que nos dá o prazer <strong>de</strong> sua presença aqui. Esta tarefa se multiplica com uma dificulda<strong>de</strong> ainda maior.<br />

Alguns aspectos <strong>de</strong>ste primeiro texto que vou relatar para vocês: segundo a autora, a ação da cidadania contra a miséria pela<br />

vida, li<strong>de</strong>rada pelo Herbert <strong>de</strong> Souza — o Betinho — retrata o efeito transformador da comunicação na socieda<strong>de</strong>.<br />

Foi formado um Comitê <strong>de</strong> Idéias coor<strong>de</strong>nado por Nádia, que veiculou 28 comerciais nos mais variados veículos, 32 anúncios<br />

em jornais e revistas e 11 spots <strong>de</strong> rádio. A Campanha da Fome mobilizou a opinião pública e iniciou uma nova era no que diz<br />

respeito à formação <strong>de</strong> re<strong>de</strong>s <strong>de</strong> solidarieda<strong>de</strong> e ação voluntária. Segundo a autora, esse foi o exemplo da comunicação disseminando<br />

valores como fraternida<strong>de</strong>, solidarieda<strong>de</strong>, <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ando um movimento social sem prece<strong>de</strong>ntes. A campanha<br />

permanece na memória das pessoas e funciona como um marco para o Marketing Social, que se renova a cada dia. A participação<br />

da socieda<strong>de</strong> na construção <strong>de</strong> seu futuro consiste na conscientização dos indivíduos <strong>de</strong> seu papel transformador e <strong>de</strong><br />

seu meio. A comunicação amplifica as ações e dissemina idéias, assim como ven<strong>de</strong> produtos e reforça marcas. Essa é uma das<br />

principais conclusões <strong>de</strong>sse primeiro artigo <strong>de</strong> Nádia Rebouças.<br />

O segundo tem o título “Os publicitários e a cidadania”, e é mais um relato, escrito praticamente todo na primeira pessoa e, por<br />

isso, que não há o resumo, mas sim, um pincelar <strong>de</strong> algumas frases <strong>de</strong>sse artigo, que me pareceu importante. Os publicitários<br />

brasileiros se engajaram na Campanha da Fome, como ela veio a ser chamada, e têm uma história para contar. Foi quando o<br />

marketing e a comunicação criaram um produto social e utilizaram todas as ferramentas disponíveis em um trabalho para um<br />

novo mercado, o da cidadania. Participando da Ação da Cidadania, os publicitários, os veículos <strong>de</strong> comunicação, as produtoras<br />

e os fotógrafos perceberam seu potencial e a dimensão social <strong>de</strong> seu trabalho.<br />

Nos últimos anos as empresas <strong>de</strong>scobriram a impossibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> negar seu papel social. é inegável o avanço da consciência<br />

empresarial para o seu papel cidadão. Com tudo o que hoje acontece, a experiência da Ação da Cidadania parece o jardim<br />

da infância. O ato que se estruturou em São Paulo em 98 foi responsável por pegar essas idéias nascentes e seguir adiante,<br />

educando as empresas para o seu papel estratégico, construindo a nova civilização.<br />

O Conar na publicida<strong>de</strong> adquiriu novo papel, vai muito além do seu nascimento. Os publicitários avançam lentamente, mas<br />

avançam. Reinventei meu trabalho, que a cada ano passa a ser mais um motivo para viver. A comunicação integral, minha proposta<br />

<strong>de</strong>s<strong>de</strong> sempre, hoje é discurso frequente. Inúmeras palavras novas invadiram nosso vocabulário. A Ação da Cidadania<br />

está por aí. Betinho vive a cada ato e fato <strong>de</strong>ste novo tempo. O consumo consciente gera um interlocutor no lugar do velho<br />

consumidor. Nossas estratégias <strong>de</strong> comunicação para público-alvo viraram dinossauros; precisamos enten<strong>de</strong>r que os públicos<br />

são <strong>de</strong> relacionamento.<br />

Às vezes, sinto falta <strong>de</strong> um ingrediente daquela época, a paixão. As universida<strong>de</strong>s também estão longe <strong>de</strong> educar profissionais<br />

<strong>de</strong> comunicação para este novo tempo. Fica claro para mim que o mercado vai ter que se reinventar, e isso não vai <strong>de</strong>morar.<br />

Nádia Rebouças.<br />

O próximo texto é <strong>de</strong> um jovem surfista do Rio <strong>de</strong> Janeiro, que não é publicitário; ele ficou sabendo da existência do <strong>Congresso</strong>,<br />

entrou no espaço da nossa Comissão, resolveu fazer um comentário e eu também pincei algumas coisas do comentário<br />

do Rodrigo Salvador.<br />

Rodrigo Salvador<br />

Sendo um apaixonado, tanto por publicida<strong>de</strong> quanto pela natureza, fiquei extremamente entusiasmado ao saber que este<br />

assunto seria discutido no <strong>IV</strong> <strong>Congresso</strong> <strong>de</strong> Publicida<strong>de</strong>. Acredito que minha visão sobre este tema possa contribuir para a discussão,<br />

já que, diferentemente da gran<strong>de</strong> maioria dos integrantes do <strong>Congresso</strong>, não sou doutor, não sou expert, e ainda não<br />

sou sequer publicitário. Sou apenas um jovem que ingressará no curso <strong>de</strong> Publicida<strong>de</strong> e Propaganda no segundo semestre<br />

<strong>de</strong> 2008, e preten<strong>de</strong> ser um <strong>de</strong>staque no ramo. Porém, ainda sou apenas mais um adolescente, apenas mais um diante da<br />

socieda<strong>de</strong>, do mercado.<br />

Como jovem, vejo como a falta <strong>de</strong> preservação do nosso planeta me afeta <strong>de</strong> diversas formas. Muitas vezes, vou surfar em<br />

Grumari, que está a cerca <strong>de</strong> 30km da minha casa. Até aí, não há problemas. O fato perturbante, é que vivo ao lado da praia<br />

do Leblon, e a causa da minha pequena viagem não é a maior qualida<strong>de</strong> das ondas <strong>de</strong> lá, e sim, da água, que não é poluída.<br />

Com isso, em vez <strong>de</strong> caminhar até a praia, utilizo meu carro e aumento ainda mais a emissão <strong>de</strong> CO 2 para a atmosfera. Assim, é<br />

possível observar como a poluição gera mais poluição, e acredito que somente um setor da socieda<strong>de</strong> tão influente e criativo<br />

como o da propaganda po<strong>de</strong> reverter tal situação.<br />

Já que não somos políticos, não po<strong>de</strong>mos investir diretamente na melhoria da educação ecológica das escolas, mas po<strong>de</strong>mos,<br />

através <strong>de</strong> propagandas criativas, convencer as crianças <strong>de</strong>s<strong>de</strong> cedo <strong>de</strong> que não só o produto que ven<strong>de</strong>mos é o máximo, mas<br />

a natureza em si é o máximo.<br />

Publicitários, garanto que será cada vez mais complicado ven<strong>de</strong>r nosso peixe, se o mar continuar sujo como ele está. Como<br />

disse Confúcio, “uma jornada <strong>de</strong> mil milhas começa com um único passo”. E esse primeiro passo para uma nova era terá <strong>de</strong> vir<br />

<strong>de</strong> nós, publicitários, que tivermos uma vonta<strong>de</strong> autêntica e não somente uma ambição financeira <strong>de</strong> proporcionar benefícios<br />

para o meio ambiente.<br />

Rodrigo Salvador, carioca, 18 anos, surfista, futuro publicitário.<br />

Ismael Rocha<br />

A quarta contribuição veio do Milton Marlucio <strong>de</strong> Arruda e tem como tema “A sustentabilida<strong>de</strong> como posicionamento na<br />

estratégia <strong>de</strong> comunicação <strong>de</strong> empresas brasileiras”. Na verda<strong>de</strong>, Marlucio postou sua dissertação <strong>de</strong> mestrado. Ela está no site,<br />

disponível aos senhores, e foi <strong>de</strong>fendida na Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral Fluminense em fevereiro <strong>de</strong>ste ano. A comunicação surge<br />

como a gran<strong>de</strong> diferenciação competitiva; além <strong>de</strong> atuar <strong>de</strong> forma mais conscientizadora, enquanto ferramenta <strong>de</strong> gestão <strong>de</strong><br />

educação, cabe à comunicação o papel <strong>de</strong> influenciar os processos produtivos das organizações, para que as mesmas atuem<br />

<strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> um pensamento <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento sustentável. O problema da sustentabilida<strong>de</strong> passa necessariamente pelas<br />

formas <strong>de</strong> utilização da comunicação. Uma pesquisa do autor <strong>de</strong>sta dissertação feita junto aos publicitários trouxe a seguinte<br />

conclusão: Embora <strong>de</strong>monstrem domínio sobre o assunto e reconheçam a importância <strong>de</strong> sua utilização pelas empresas,<br />

admitem dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong> convencimento no <strong>de</strong>senvolvimento das campanhas mercadológicas. Percebem que a utilização do<br />

conceito <strong>de</strong> sustentabilida<strong>de</strong> e ações <strong>de</strong> comunicação ainda ocorrem <strong>de</strong> forma bem mais oportunista do que consciente ou<br />

i<strong>de</strong>ológica.<br />

O próximo trabalho é <strong>de</strong> Udo Bock e tem como tema: “Briefing básico <strong>de</strong> comunicação para processos <strong>de</strong> mobilização social”.<br />

Udo <strong>de</strong>fen<strong>de</strong> uma idéia, uma proposta <strong>de</strong> se criar um briefing básico <strong>de</strong> mobilização social, e esse briefing possa ser utilizado<br />

na construção <strong>de</strong> campanhas publicitárias. O objetivo <strong>de</strong>ste trabalho é registrar e difundir uma metodologia <strong>de</strong> planejamento<br />

<strong>de</strong> processos <strong>de</strong> mobilização social que envolvam a utilização <strong>de</strong> instrumentos <strong>de</strong> comunicação integrada, entre eles, a<br />

propaganda. Esta metodologia está fundamentada na elaboração pelos agentes <strong>de</strong> programas socioambientais, indivíduos,<br />

comunida<strong>de</strong>s, organizações da socieda<strong>de</strong> civil, empresariais e governamentais da criação <strong>de</strong>ste que ele chamou <strong>de</strong> “Um briefing<br />

básico <strong>de</strong> mobilização social”.<br />

Há um contexto atual que privilegia a priorização da função <strong>de</strong> planejamento da comunicação em processos <strong>de</strong> mobilização<br />

social, função essa que tem sido otimizada pela aplicação <strong>de</strong> metodologia <strong>de</strong> elaboração do briefing básico. O briefing básico<br />

é uma síntese, um tratamento orientado para informar apenas o essencial ao trabalho <strong>de</strong> planejamento, criação, produção e<br />

execução <strong>de</strong> ações <strong>de</strong> mobilização social, envolvendo instrumentos <strong>de</strong> comunicação, informação, propaganda, publicida<strong>de</strong>,<br />

relações públicas, assessoria <strong>de</strong> imprensa e outros, com o propósito <strong>de</strong> promover uma mudança social. O relato e <strong>de</strong>talhamento<br />

<strong>de</strong>ste briefing básico estão no material do Udo, que está postado no site.<br />

O sexto trabalho, “Transversalizando o campo da comunicação - enten<strong>de</strong>ndo os vínculos entre mídia, cultura e i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>”, da<br />

Oriana White, que também está presente, foi uma tarefa difícil pela complexida<strong>de</strong> do trabalho que ela apresenta. Em parte,<br />

é um resgate <strong>de</strong> algumas coisas que ela trabalhou em sua tese <strong>de</strong> doutorado. Selecionei dois parágrafos, Oriana, muito mais<br />

para dar um saborzinho <strong>de</strong> “quero mais” a todos os presentes, para que possam ler e verificar realmente a complexida<strong>de</strong> e a<br />

importância <strong>de</strong> seu trabalho.<br />

A autora constrói e <strong>de</strong>fen<strong>de</strong> o mapa cognitivo da mediação <strong>de</strong> idéias, a MCMI, que permite aprofundar as análises <strong>de</strong> pesquisa<br />

em comunicação. A contribuição <strong>de</strong>sta tese resi<strong>de</strong> em <strong>de</strong>linear uma estratégia prática para <strong>de</strong>senvolver instrumentos<br />

que possam ser aplicados, no sentido <strong>de</strong> tentar mapear o processo da mediação e permitir <strong>de</strong>senvolver produtos midiáticos,<br />

novelas, mini-séries, shows, propagandas, etc. que articulem processos específicos <strong>de</strong> mudança no intuito <strong>de</strong> construir uma<br />

socieda<strong>de</strong> brasileira cada vez melhor.<br />

182 183<br />

COMISSÃO 2 - RESPONSABILIDADE SOCIOAMBIENTAL DA PROPAGANDA


Senhor presi<strong>de</strong>nte, este foi um resumo das contribuições dos trabalhos, e eu convido a todos que visitem o site, para que possam<br />

realmente ter uma percepção um pouco mais consistente da riqueza dos trabalhos que ali estão postados. Obrigado!<br />

Hiran Castello branco<br />

Agra<strong>de</strong>ço o relato do Prof. Ismael e em especial àqueles que colaboraram com os propósitos <strong>de</strong>ssa Comissão, enviando trabalhos<br />

<strong>de</strong> tão boa qualida<strong>de</strong>. Vamos agora ouvir Rosa Alegria, do Instituto Millennium, do Núcleo Estudos do Futuro da PUC. Rosa<br />

foi responsável durante muito tempo pela Comunicação Social na Avon e hoje trabalha, juntamente com a Christina Carvalho<br />

Pinto, no mercado ético. Ao longo dos trabalhos da nossa Comissão, ela trouxe muita informação, muita luz à nossa reflexão e<br />

vai compartilhar um pouco disso com esse auditório.<br />

Rosa Alegria<br />

Quero agra<strong>de</strong>cer a todos pela presença, especialmente a você, Hiran, pelo convite, uma oportunida<strong>de</strong> infinita. é uma felicida<strong>de</strong><br />

enorme estar aqui e compartilhar esta mesa com esses amigos, tendo também na platéia amigos queridos.<br />

Estou aqui mais do que como alguém que vem apresentar alguma coisa, mas como alguém que representa muitos <strong>de</strong> vocês.<br />

Eu não sou publicitária, e nessa condição <strong>de</strong> “peixe meio fora d’água”, venho trazer uma diferença, mostrar o que faço na minha<br />

profissão, estudar o futuro.<br />

Estudo o futuro das mudanças inquietamente; o tempo todo estou buscando através <strong>de</strong> um radar <strong>de</strong> informações que tenho<br />

sempre na minha mente, na minha ativida<strong>de</strong> diária também. E eu vim trazer, no <strong>de</strong>safio <strong>de</strong> ocupar esses <strong>de</strong>z minutos, um pouco<br />

do que consi<strong>de</strong>ro um novo tempo que está nascendo. O tema do congresso é “A criação do futuro”, e está relacionado com<br />

a lógica do meu trabalho. Eu me pauto nessa premissa <strong>de</strong> que o futuro não é para ser previsto, mas para ser criado. Estamos<br />

falando com criativos, pessoas que têm essa natural habilida<strong>de</strong>.<br />

Nós vivemos no mundo que construímos. A questão é: que mundo é esse que estamos construindo através da comunicação<br />

comercial? Falo da comunicação comercial, a pauta do nosso <strong>Congresso</strong>. Outra questão importante que é preciso trazer à<br />

tona neste momento: são 30 anos em que não há nenhum outro congresso, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a 3ª edição, e eu queria que cada um <strong>de</strong><br />

vocês refletisse: o que aconteceu nesses últimos 30 anos? O que <strong>de</strong> importante aconteceu para o mundo? Como o mundo<br />

se reinventou nesse tempo, nessa história imensa? Nós não tínhamos há 30 anos tantas coisas que hoje fazem parte da nossa<br />

realida<strong>de</strong>, sem as quais nós não vivemos, como a Internet, as novas tecnologias — eu ficaria aqui meia hora falando. A globalização,<br />

a União Européia e principalmente, em 78, a data do último <strong>Congresso</strong>, ninguém sabia explicar o que era essa tal<br />

palavra “ecologia”. Direitos humanos não eram vistos como parceiros das responsabilida<strong>de</strong>s humanas. Principalmente agora,<br />

começamos a falar <strong>de</strong> responsabilida<strong>de</strong>s humanas. A mudança está aqui e é permanente, lembrando a própria filosofia grega,<br />

que diz que a única coisa que permanece na vida é a própria mudança.<br />

Vim mostrar que é o momento da publicida<strong>de</strong> e, como observadora das mudanças, pegar esse trem da história <strong>de</strong> gran<strong>de</strong><br />

oportunida<strong>de</strong>. Fui encarregada nesta Comissão <strong>de</strong> mostrar esses exemplos que só inspiram e mobilizam para a mudança, para<br />

esta reinvenção que está precisando nascer. O Hiran se referiu ao mercado ético, a Christina tem feito um trabalho incomparável<br />

nesse movimento da sustentabilida<strong>de</strong>, e ela vai falar <strong>de</strong>pois. é ela quem li<strong>de</strong>ra o projeto no Brasil, mas vou mostrar a vocês<br />

uma parte do que essa plataforma Ethical Market (mercado ético) no mundo faz. Vou mostrar um prêmio que está nascendo<br />

este ano, e que não apenas fala <strong>de</strong> auto-regulamentação e <strong>de</strong> responsabilida<strong>de</strong> socioambiental, mas celebra a vida, a mudança<br />

<strong>de</strong> perspectiva, do olhar que a comunicação <strong>de</strong>ve ter sobre aquilo que está traduzindo. Para economizar tempo, recorro ao<br />

audiovisual. A seguir, um texto que <strong>de</strong>screve o que é o prêmio Ethical Market, que está recebendo indicações este ano.<br />

Ví<strong>de</strong>o<br />

Essa é a idéia genial <strong>de</strong> Hazel Hen<strong>de</strong>rson, que também não é publicitária, mas uma futurista, uma pessoa ligada nas mudanças.<br />

Atualmente, é reconhecida por vários governos mundiais, por sua visão transformadora sobre a economia. Em parceria com<br />

a Christina, foi criadora <strong>de</strong>ssa idéia: ajudar a transformar a socieda<strong>de</strong> através da comunicação. E agora vou mostrar para vocês<br />

alguns dos indicados à premiação Ethical Market. A entrega do prêmio ocorrerá em São Francisco, e foi difícil escolher. Há vários<br />

indicados maravilhosos, muitos do Brasil.<br />

Escolhi quatro cases, dois internacionais e dois nacionais. O primeiro tem a ver com auto-estima e serve bastante a nós, mulheres,<br />

que vivemos amordaçadas pela ditadura da beleza, e que po<strong>de</strong> resultar em anorexia, doenças estéticas, gravi<strong>de</strong>z precoce,<br />

uma chaga social a ditadura da beleza. Mulheres tendo que ser iguaizinhas a mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong> capa <strong>de</strong> revista. é uma campanha<br />

genial da Unilever, lançada para a linha Dove. Vou mostrar o comercial criado pela Ogilvy, indicado para este prêmio Ethical<br />

Market.<br />

Ví<strong>de</strong>o<br />

A beleza produzida pela propaganda é distorcida. Agora vou partir para outra peça, que diz respeito ao relacionamento humano,<br />

e a beleza que existe na maternida<strong>de</strong>. é um comercial da Nestlé, da linha Juicy Juice internacional.<br />

Ví<strong>de</strong>o<br />

Vamos para dois cases nacionais. O próximo diz respeito a um tema do momento, pelo qual eu me apaixono. Desenvolvimento<br />

local, apreciação das culturas locais e da pequena economia, da economia agrícola local. é uma celebração ao po<strong>de</strong>r que<br />

existe na agricultura orgânica, na agricultura local, na economia dos pequenos. é um comercial feito pela Full Jazz, presidida<br />

pela nossa querida Christina, e um comercial feito para a Nossa Caixa.<br />

Ví<strong>de</strong>o<br />

Esse comercial foi criação do Luiz Lobo, diretor da Full Jazz. Para finalizar, o último é do Banco Real, que tem se <strong>de</strong>stacado<br />

pela coerência na sua gestão em adotar os princípios da sustentabilida<strong>de</strong> e também tem refletido isso na comunicação. Ele<br />

ven<strong>de</strong> seu produto, é claro, mas com uma proposta inserida <strong>de</strong> criar uma cultura no consumidor, <strong>de</strong> educá-lo no sentido <strong>de</strong><br />

aproximá-lo da importância <strong>de</strong> se preservar o planeta. Então é a última peça do Banco Real, chamada Yuri, feita pela Talent.<br />

184 185<br />

COMISSÃO 2 - RESPONSABILIDADE SOCIOAMBIENTAL DA PROPAGANDA<br />

Ví<strong>de</strong>o<br />

Estes são alguns exemplos <strong>de</strong> como a propaganda po<strong>de</strong> trabalhar em favor do mundo.<br />

Voltando ao tema do <strong>Congresso</strong>, que é criar o futuro, eu não acredito que o setor possa criar o seu futuro sem antes estar<br />

comprometido com o futuro do planeta, da humanida<strong>de</strong>. Não tem como passar para o futuro da profissão sem esse compromisso.<br />

Uma vez assumido esse compromisso <strong>de</strong> cuidar <strong>de</strong>ste futuro, <strong>de</strong> preservar a vida, aí sim, a comunicação comercial vai<br />

virar cultura, e o que uma cultura faz? Ela muda comportamentos, direciona as pessoas para o rumo que este mundo tem que<br />

tomar. é on<strong>de</strong> a publicida<strong>de</strong> terá, neste século XXI, sua mais completa e nobre proposta. Muito obrigada!<br />

Hiran Castello branco<br />

Muito obrigado por sua excelente exposição, Rosa. Vocês <strong>de</strong>vem estar achando nossa Comissão muito comportada pelo estilo<br />

<strong>de</strong> todos, a começar pelo meu, mas agora vamos ouvir a Christina Carvalho Pinto, nossa <strong>de</strong>batedora, que, como o Armando<br />

Ferrentini <strong>de</strong>fine, é uma força da natureza. Com a energia que tem, é presi<strong>de</strong>nte do Grupo Full Jazz e hoje li<strong>de</strong>ra um projeto<br />

que motiva a todos nós, o Mercado ético. Então, com certeza, ela vai contribuir para agitar esse auditório, por favor, Chris.<br />

Christina Carvalho Pinto<br />

Adoro ser consi<strong>de</strong>rada “mal comportada” nas mesas; na vida, não. Quero muito agra<strong>de</strong>cer a esta Comissão, porque me convidaram<br />

para estar nessa mesa juntos, neste momento tão importante para o setor publicitário e das comunicações como<br />

um todo. Percival, o que você colocou no seu <strong>de</strong>poimento, na minha opinião, é o verda<strong>de</strong>iro tema do <strong>Congresso</strong>. Se eu fosse<br />

o presi<strong>de</strong>nte da <strong>Abap</strong> repensaria um pouco a temática. Será que não está na hora <strong>de</strong> perceber, enten<strong>de</strong>r, refletir, questionar,<br />

<strong>de</strong>bater <strong>de</strong>mocraticamente o papel do universo das comunicações no cenário planetário atual?<br />

Então, eu estou adotando este como o meu tema do <strong>IV</strong> <strong>Congresso</strong> <strong>Brasileiro</strong> <strong>de</strong> Publicida<strong>de</strong>, e explico: nós, como bons publicitários,<br />

temos um domínio fantástico, inspirador e ao mesmo tempo perigoso sobre palavras, conceitos, imagens, mentes,<br />

sonhos, indivíduos, socieda<strong>de</strong>s. A nossa capacida<strong>de</strong> é tão fascinante que claramente nós ficamos um pouco parecidos com<br />

aquele poema lindíssimo do Fernando Pessoa em que ele diz, que “a máscara colou-se à face”. Acreditamos que po<strong>de</strong>mos,<br />

através das palavras, do conceito <strong>de</strong> sustentabilida<strong>de</strong> ou do conceito <strong>de</strong> práticas socialmente ou socioambientalmente responsáveis,<br />

arrumar a nossa casa.<br />

Sou uma otimista assumida e acho que estamos sendo conclamados a algo infinitamente mais forte, que <strong>de</strong>manda <strong>de</strong> todos<br />

nós, nesse exato momento, a verda<strong>de</strong>ira criativida<strong>de</strong>. é a reconstrução da história. Qual é o papel do setor <strong>de</strong> comunicações<br />

— e não só da propaganda? Num congresso como este, com certeza, estamos levando à reflexão toda a indústria <strong>de</strong> comunicações.<br />

Então, qual é o nosso papel? Seria assumir as práticas socialmente responsáveis <strong>de</strong>ntro da nossa casa? Isso seria o<br />

be-a-bá que nossos clientes vêm procurando fazer a duras penas; alguns com sincerida<strong>de</strong>, outros com hipocrisia, mas todos<br />

empurrados pela força maior, que é a auto<strong>de</strong>terminação <strong>de</strong> uma socieda<strong>de</strong> que se articula cada vez melhor aliás, muito melhor<br />

até do que nosso próprio setor.<br />

Na Full Jazz, escolhemos nossos relacionamentos; não nos entregamos aos braços <strong>de</strong> qualquer um — isso é tipicamente<br />

feminino. Gostamos <strong>de</strong> escolher o par, e meus clientes dão a resposta ali, em cima da letra. Por exemplo, aten<strong>de</strong>mos cinco<br />

shopping centers do grupo Sonae Sierra. Apesar <strong>de</strong> ser o templo do consumo, vocês precisam ver como eles tratam a questão<br />

do consumo; nos treinamentos internos, como <strong>de</strong>ve ser feita a difusão interna do consumo; na abertura <strong>de</strong> espaços para diálogos<br />

com a comunida<strong>de</strong> local; na questão da reciclagem, da responsabilida<strong>de</strong> assumida, e nos questionários que eles enviam<br />

a todos seus parceiros <strong>de</strong> negócios, fazendo-os parar, refletir, entregar a lição <strong>de</strong> casa.<br />

Estou falando <strong>de</strong> coisas muito pequenas; são apenas as primeiras lições <strong>de</strong> casa <strong>de</strong>ste mundo em macro-transição. é muito<br />

fácil sairmos fazendo discurso <strong>de</strong> sustentabilida<strong>de</strong>, da nossa parte, das nossas práticas. Nós somos muito mais po<strong>de</strong>rosos do<br />

que isso! Somos aqueles que realmente mexem com os cérebros, com a história, com a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> fazer acontecer.<br />

Temos que começar a fazer as perguntas do zero! Eu não gosto quando alguém diz que somos os bo<strong>de</strong>s expiatórios, que estão<br />

fazendo malda<strong>de</strong> conosco, pobres criancinhas! Isso ofen<strong>de</strong> minha inteligência. Eu não sou bo<strong>de</strong> expiatório <strong>de</strong> ninguém, não<br />

sou uma criancinha <strong>de</strong>samparada.<br />

O jornal da Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Harvard publicou um estudo em que eles — a terra do McDonald’s, do Burger King — chegaram<br />

à conclusão <strong>de</strong> que a tecnologia mais po<strong>de</strong>rosa que li<strong>de</strong>ra a epi<strong>de</strong>mia <strong>de</strong> obesida<strong>de</strong> é a televisão. Ora, se sou publicitária,<br />

tenho obrigação <strong>de</strong> ser informada. Se eu sei que isso está acontecendo, vou procurar saber um pouco mais. Pesquiso a fundo<br />

e vejo que há muitos anos, pressionadas pela socieda<strong>de</strong>, as 13 maiores e mais po<strong>de</strong>rosas empresas do setor <strong>de</strong> alimentos dos<br />

Estados Unidos resolveram começar o processo <strong>de</strong> auto-regulamentação e pararam <strong>de</strong> fazer uma série <strong>de</strong> coisas. Isso teve<br />

reflexo imediato na Comunida<strong>de</strong> Européia.<br />

Essas mesmas empresas — e outras que não são americanas, mas que são mega-empresas <strong>de</strong> alimentos, sediadas com suas<br />

matrizes na Comunida<strong>de</strong> Européia — também se viram pressionadas e resolveram fazer auto-regulamentação.<br />

Nós estamos paralisados. Não fosse pelo Conar, nosso órgão do qual muito me orgulho — fiz parte da direção do Conar e<br />

tenho o maior orgulho disso —, estaríamos todos parados. “Será que o Conar vai tirar do ar?” Nós é que temos que olhar o que<br />

estamos fazendo.<br />

Se meu cliente <strong>de</strong>ci<strong>de</strong> colocar no ar algo nocivo à saú<strong>de</strong>, ou se ele faz propaganda manipuladora <strong>de</strong> públicos absolutamente<br />

vulneráveis, como crianças e adolescentes, eu <strong>de</strong>vo assumir uma postura passiva? Devo pensar em não per<strong>de</strong>r meu faturamento<br />

por isso, ou <strong>de</strong>vo começar o diálogo com essa empresa, no sentido <strong>de</strong> mostrar que se ela não evoluir, morrerá?<br />

Não há mais espaço para essa “farra do boi”. Estamos caminhando para mais um confronto, agora sem prece<strong>de</strong>ntes, no Oriente<br />

Médio. O presi<strong>de</strong>nte Bush utilizou US$ 400 milhões no início do ano para infiltrar uma série <strong>de</strong> posições <strong>de</strong>ntro do Oriente<br />

Médio. é hora <strong>de</strong> assumirmos nosso papel <strong>de</strong> transformação. Se o sistema econômico está falido; se hoje 90% das Bolsas <strong>de</strong><br />

Valores — particularmente <strong>de</strong> investimentos em commodities e Bolsa <strong>de</strong> Futuros — são pura especulação, não há lastro, vocês<br />

acham que isso vai durar para sempre?


Devemos esperar o circo pegar fogo? Acho que <strong>de</strong>veríamos interagir, construir, dialogar com nossos pares, com a mídia, com<br />

os veículos, procurando construir plataformas mais éticas, seja do ponto <strong>de</strong> vista do conteúdo criativo do que produzimos,<br />

seja do ponto <strong>de</strong> vista da nossa capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ajudar com criativida<strong>de</strong> nossos clientes a saírem da encrenca em que todo<br />

mo<strong>de</strong>lo econômico se meteu.<br />

O diretor <strong>de</strong> marketing do seu cliente, o presi<strong>de</strong>nte recém-contratado (li numa pesquisa publicada no jornal Valor Econômico,<br />

que hoje os CEOs duram em média 1 ano) não <strong>de</strong>vem ser crucificados, pois são seres humanos absolutamente<br />

angustiados. Nós temos o po<strong>de</strong>r, já que eles nos entregam suas contas. Eles querem nos ouvir, querem sair da encrenca em<br />

que o planeta se meteu.<br />

Hoje, como crianças inocentes, nós olhamos para tudo e dizemos: “Dizem que não tem mais gelo no Ártico; dizem que os<br />

Estados Unidos vão invadir o Irã; dizem que a Bolsa está implodindo; dizem que <strong>de</strong>pois da crise imobiliária, virá a crise dos<br />

cartões <strong>de</strong> crédito…”. Quem diz não é a “dona Maricota na esquina”. O mundo está apontando para essa direção. Nós olhamos<br />

para tudo e dizemos: “Olha o que nós fizemos!”.<br />

Esse é meu lado criança, puro. Fiz muitas coisas na vida e não sabia que prejudicariam alguém. Se hoje eu tivesse filhos do<br />

zero, faria tudo diferente. Agora eles já estão criados, adultos. Eu só teria amado igual. Percebi que o que nós articulamos<br />

sobre práticas e conceitos não vai nos tirar do imobilismo. O que vai nos tirar do imobilismo é a coragem escandalosa <strong>de</strong><br />

“sentir”. é <strong>de</strong>sconfortável sentir que nós somos uma geração com uma missão e que não po<strong>de</strong>remos escapar <strong>de</strong>la. Dói, mas<br />

ao mesmo tempo, para guerreiros que somos, estimula.<br />

Aqui vai minha mensagem. Primeiro: que nós <strong>de</strong>ixemos <strong>de</strong> consi<strong>de</strong>rar o mercado publicitário como um cenário <strong>de</strong> pobres<br />

vítimas. Isso é muito pejorativo e não servimos para esse papel. Segundo: que nós perguntemos — não para o vizinho, nem<br />

para a lista <strong>de</strong> procedimentos do instituto — o que fazer. Perguntemos aos nossos corações. Perguntemos qual é o tamanho<br />

do amor que sentimos pela vida — pela minha, pela sua, pela <strong>de</strong> cada um, pela <strong>de</strong> tudo o que vive, e pelo todo. Nós estamos<br />

vivendo o Ano Internacional da Terra, porque ela está sangrando. Nossa responsabilida<strong>de</strong> não é fazer campanhas pelo Ano<br />

Internacional da Terra. é claro que nossa participação nas ativida<strong>de</strong>s sociais é importante; <strong>de</strong>vemos ser os arautos <strong>de</strong> um<br />

mundo em transformação. Mas qual é o nosso papel, se continuamos chamando os seres humanos <strong>de</strong> “consumidores”?<br />

Há 12 anos, fiz uma escolha muito difícil do ponto <strong>de</strong> vista profissional. Resolvi que continuaria amando a minha profissão,<br />

fazendo o melhor que eu pu<strong>de</strong>sse, mas que não faria concessões espúrias. Pelo menos, não que eu tivesse consciência <strong>de</strong><br />

estar fazendo. De lá para cá, percebi que an<strong>de</strong>i um passo micro a cada dia, micro! Continuo olhando e me vendo uma verda<strong>de</strong>ira<br />

tartaruga, diante da velocida<strong>de</strong> dos fatos que afetam o planeta e as diferentes socieda<strong>de</strong>s. Mas eu só sei andar como<br />

tartaruga. Queria convidar vocês todos a colocarem as patinhas para fora da casca e partir juntos para a construção <strong>de</strong> uma<br />

nova humanida<strong>de</strong>. Obrigada!<br />

Hiran Castello branco<br />

Christina, muito obrigado pelas palavras e acima <strong>de</strong> tudo pelo incentivo para nossa ativida<strong>de</strong>. Nós começamos ouvindo o<br />

Percival através dos instrumentos tecnológicos, e agora, vamos ouvir ao vivo e a cores o nosso Perci.<br />

Percival Caropreso<br />

Ouvindo o que todos estão falando e refletindo sobre o tema do <strong>Congresso</strong>, “Criando o Futuro”, olhando as primeiras teses<br />

nas diferentes Comissões, anotei uma recorrência muito gran<strong>de</strong> <strong>de</strong> frases como “resgatar o valor das agências”, “reconquistar<br />

a importância da indústria”, “trazer <strong>de</strong> volta isso e aquilo”.<br />

Acho que trazer o passado <strong>de</strong> volta é uma péssima maneira <strong>de</strong> criar o futuro, por isso, concordo com a Christina quando ela<br />

diz que a visão que vamos tentar construir juntos sobre a contribuição da nossa indústria em termos <strong>de</strong> responsabilida<strong>de</strong><br />

socioambiental, é fundamental. Se <strong>de</strong>morarmos quatro a cinco anos para realizar um próximo <strong>Congresso</strong>, cujo tema será<br />

baseado no atual, <strong>de</strong> criar o futuro, será que teremos conseguido criar um futuro melhor em quatro ou cinco anos, com todo<br />

o po<strong>de</strong>r que temos?<br />

Trabalho em propaganda há 38 anos e uma das coisas que mais me motivou a entrar neste ofício foi o comportamento <strong>de</strong><br />

agente transformador que os profissionais das agências <strong>de</strong> propaganda sempre tiveram. Eu tive a sorte <strong>de</strong> trabalhar com<br />

pessoas maravilhosas — o Francisco Gracioso é um <strong>de</strong>les. Geração após geração, nas décadas <strong>de</strong> 50, 60, 70, até a <strong>de</strong> 80, o<br />

incrível sempre foi essa capacida<strong>de</strong> que o ofício teve <strong>de</strong> inventar, criar, inovar, avançar em relação aos negócios dos clientes,<br />

do que então se chamava <strong>de</strong>senvolvimento do país e da contribuição para a socieda<strong>de</strong>. Isso sempre me encantou na profissão<br />

<strong>de</strong> publicitário.<br />

De uns tempos para cá, estou com a sensação <strong>de</strong> que a indústria se voltou excessivamente para ela mesma. O meu mercado,<br />

a minha operação, a minha agência, a minha rentabilida<strong>de</strong>. Temos uma tendência a nos classificarmos como vítimas injustiçadas.<br />

Na revista Meio & Mensagem da semana passada, o editorial seguia uma linha do que a Christina dizia. “Existe um viés<br />

na socieda<strong>de</strong> que insiste em vilanizar a publicida<strong>de</strong> como a culpada por todos os maus hábitos do consumo”. é a atitu<strong>de</strong> que<br />

ela mencionava, <strong>de</strong> nos colocarmos como caudatários da questão. De repente, se a nossa indústria, entre o último congresso<br />

e o <strong>de</strong> hoje, tivesse construído ou mantido a sua tradição <strong>de</strong> gerar progresso, negócios, <strong>de</strong>senvolvimento e uma socieda<strong>de</strong><br />

melhor, possivelmente, nós não estaríamos reclamando <strong>de</strong> sermos tachados <strong>de</strong> vilões.<br />

Por último, nessa mesma edição do Meio & Mensagem, havia um anúncio da DPZ celebrando 40 anos. O “D”, o “P” e o “Z”<br />

estavam jovens e o material tratava do ofício <strong>de</strong> ser publicitário. Se nós estivéssemos começando hoje, faríamos a mesma<br />

coisa, ou seja, faríamos diferente, porque sempre fomos diferentes, sempre inventamos.<br />

Temos um editorial que sugere uma atitu<strong>de</strong> <strong>de</strong> vítima injustiçada na nossa profissão e uma profissão <strong>de</strong> fé <strong>de</strong> uma das<br />

gran<strong>de</strong>s agências que contribuiu para inventar a propaganda do jeito que a conhecemos, dizendo que precisa ser diferente,<br />

mudar.<br />

Por último, na Veja <strong>de</strong> ontem — nas Páginas Amarelas —, na entrevista com o jurista Carlos Aires Brito, do Tribunal Superior<br />

Eleitoral, há uma citação que ele faz <strong>de</strong> Victor Hugo, escritor francês, que se encaixa, se nós adaptarmos apenas algumas<br />

palavras. O jurista Carlos Aires Brito diz: “O escritor francês, Victor Hugo, tem uma frase que consi<strong>de</strong>ro perfeita para ilustrar a<br />

dimensão do que está acontecendo no Brasil. Ele, Victor Hugo, dizia que ‘Nada é tão irresistível quanto a força <strong>de</strong> uma idéia<br />

cujo tempo finalmente chegou’. Nós, profissionais da indústria <strong>de</strong> comunicação comercial, <strong>de</strong> propaganda, <strong>de</strong>vemos recuperar<br />

esse tempo perdido, porque o tempo <strong>de</strong> valores diferentes já passou e nós estamos per<strong>de</strong>ndo esse bon<strong>de</strong>. Temos que<br />

parar <strong>de</strong> olhar tanto o micro da nossa indústria e da nossa ativida<strong>de</strong> e contribuir para a construção <strong>de</strong> uma socieda<strong>de</strong> melhor.<br />

Afinal, nós que vimos a construção <strong>de</strong> tudo o que está aí, por conta <strong>de</strong> todos os domínios que temos dos nossos talentos,<br />

das nossas competências, da nossa capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> criar mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong> pensamento, criar valores e forjar atitu<strong>de</strong>s concretas na<br />

vida. Então, vamos fazer <strong>de</strong> novo! é isso! Obrigado!<br />

Hiran Castello branco<br />

Vamos agora dar a palavra àqueles que se inscreveram e respon<strong>de</strong>r às perguntas que chegaram a esta mesa. Vamos começar<br />

dando a palavra, <strong>de</strong>ntro do tempo estabelecido pelo regimento, para o professor José Roberto Whitaker Penteado.<br />

José Roberto Whitaker Penteado<br />

A comunicação publicitária não existe in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente dos produtos e serviços que ela anuncia. E essa publicida<strong>de</strong> é<br />

frequentemente usada como bo<strong>de</strong> expiatório para <strong>de</strong>sviar a atenção da opinião pública <strong>de</strong> questões mais graves. Eu apresentei<br />

a sugestão <strong>de</strong> que este <strong>IV</strong> <strong>Congresso</strong> estimulasse a divulgação do código <strong>de</strong> ética do profissional <strong>de</strong> marketing, que<br />

eu tive a honra <strong>de</strong> coor<strong>de</strong>nar em 1999, por <strong>de</strong>legação da Associação Brasileira <strong>de</strong> Marketing, pela ESPM. Essa sugestão foi<br />

encaminhada à Comissão <strong>de</strong> Liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Expressão, composta principalmente por membros do Conar.<br />

Aquela Comissão, entretanto, achou que o tema não lhe cabia, mas sim a esta Comissão <strong>de</strong> Responsabilida<strong>de</strong> Socioambiental<br />

da Indústria da Propaganda, a quem, portanto, eu peço que acolha a minha sugestão, não <strong>de</strong> aprovar o código <strong>de</strong> ética,<br />

porque ele já existe; ele é dirigido aos profissionais <strong>de</strong> marketing, que estão, como nós sabemos, principalmente nos anunciantes,<br />

mas também em muitas empresas prestadoras <strong>de</strong> serviços. Preten<strong>de</strong>mos apenas que este <strong>Congresso</strong> tão importante<br />

aju<strong>de</strong> a divulgar e estimular essas boas práticas por parte dos profissionais <strong>de</strong> marketing. Muito obrigado!<br />

Hiran Castello branco<br />

Vamos agora dar a palavra ao Fernando Passos.<br />

fernando Passos<br />

Gostaria <strong>de</strong> fazer uma consi<strong>de</strong>ração sobre a questão das práticas socioambientais; essas práticas sociais são interessantes<br />

para nós muito mais pela intencionalida<strong>de</strong>. As razões que levam uma empresa a ser socialmente responsável são muito<br />

menos importantes do que ela ser efetivamente responsável socialmente. Nessa medida, gostaria <strong>de</strong> propor à Comissão a<br />

inclusão <strong>de</strong> uma sugestão: que os publicitários tomem para si a responsabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> incentivar que as empresas, suas clientes<br />

ou não, pratiquem a divulgação <strong>de</strong>ssas práticas sociais. Muitas empresas, por timi<strong>de</strong>z, ou por outras razões, não fazem<br />

isso. A divulgação da prática social é fundamental, porque gera um processo <strong>de</strong> competitivida<strong>de</strong> boa, do ponto <strong>de</strong> vista do<br />

exercício da prática socioambiental, sociocultural, etc. Nesse sentido, por outro lado, também gostaria <strong>de</strong> propor o repúdio<br />

à utilização da comunicação social em práticas não socialmente responsáveis, o que também é muito comum. A utilização<br />

da publicida<strong>de</strong>, da comunicação é uma atitu<strong>de</strong> que influencia o comportamento do consumidor. As empresas muitas vezes<br />

utilizam a comunicação — e só a comunicação —, porque não há contrapartida da prática social. Gostaria <strong>de</strong> propor que<br />

isso fosse incluído na proposta do relatório. Muito obrigado!<br />

Hiran Castello branco<br />

Muito obrigado pela sua contribuição. Vamos dar a palavra à Nádia Rebouças.<br />

Nádia Rebouças<br />

Po<strong>de</strong> ser que a minha pergunta, no início, não pareça estar relacionada ao nosso tema, mas acredito que esteja. Estamos<br />

inventando um mundo novo, por isso, estão nascendo mo<strong>de</strong>los muito diferentes <strong>de</strong> estrutura, <strong>de</strong> escritório, <strong>de</strong> posicionamento.<br />

Fiquei impressionada, há cerca <strong>de</strong> cinco anos, quando o Conselho Executivo das Normas-Padrão (Cenp) visitou minha agência<br />

no Rio <strong>de</strong> Janeiro, porque eu não podia mais classificar-me como agência. Teoricamente eu não sou mais publicitária e<br />

não tenho registro do Cenp, porque eu não veiculava. São questões complicadas que temos que enfrentar. Possivelmente,<br />

teremos novas estruturas, consultorias. Por exemplo, trabalho a mudança da mentalida<strong>de</strong> dos empregados da Vale, faço<br />

campanhas sociais — “On<strong>de</strong> você guarda o seu racismo” — e, em virtu<strong>de</strong> <strong>de</strong> eu não veicular, não ser agenciadora, também<br />

fiquei limitada como publicitária. Este tema <strong>de</strong>ve ser discutido.<br />

Hiran Castello branco<br />

Obrigado, Nádia. Vamos encaminhar esse tema para a Comissão que trata da matéria. Agra<strong>de</strong>ço a sua intervenção. Vamos dar<br />

a palavra ao Fernando Soares <strong>de</strong> Camargo.<br />

fernando Soares <strong>de</strong> Camargo<br />

Gostaria <strong>de</strong> fazer uma ressalva a respeito dos trabalhos <strong>de</strong>sta Comissão. Ouvindo o prólogo feito pelo companheiro Percival,<br />

para mim ficou evi<strong>de</strong>nte que seria discutido nesta Comissão o papel social da comunicação. Por isso, me inscrevi aqui.<br />

Constato que este tema muito genérico foi afunilando para a questão socioambiental. Muito justo, é uma preocupação<br />

universal.<br />

Todos precisamos preservar e, como disse o Kofi Annan, contribuir para uma melhoria socioambiental universal. Porém, na<br />

qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> portador <strong>de</strong> <strong>de</strong>ficiência, eu esperava po<strong>de</strong>r, nesta Comissão, discutir ou incluir na apresentação final dos trabalhos<br />

algumas recomendações sobre as ativida<strong>de</strong>s que agências, veículos e o universo da comunicação pu<strong>de</strong>ssem fazer para<br />

valorizar socialmente as pessoas portadoras <strong>de</strong> <strong>de</strong>ficiência através <strong>de</strong> campanhas ou <strong>de</strong> resoluções as mais variadas possíveis,<br />

começando pelo grave problema <strong>de</strong> incentivar a acessibilida<strong>de</strong> ao <strong>de</strong>ficiente, contribuir para a reintegração profissional<br />

<strong>de</strong>sse <strong>de</strong>ficiente, garantir a ele uma saú<strong>de</strong> positiva.<br />

Eu consulto a direção, para saber se no parágrafo final, po<strong>de</strong>ria caber essa recomendação ou se haveria a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

fazer essas recomendações a outra Comissão. Ao analisar as Comissões, aquela que achei mais indicada seria essa. Muito<br />

obrigado a vocês e parabenizo a <strong>Abap</strong>. Esse evento está maravilhoso.<br />

186 187<br />

COMISSÃO 2 - RESPONSABILIDADE SOCIOAMBIENTAL DA PROPAGANDA


Hiran Castello branco<br />

Muito obrigado pela sua intervenção. Todas as contribuições serão consi<strong>de</strong>radas no relatório final e a sua é bastante importante.<br />

Muito obrigado mais uma vez. Vamos dar a palavra a Oriana White.<br />

Oriana White<br />

Após 30 anos, aqui estamos novamente, discutindo a propaganda. Trabalho com isso há muitos anos, fazendo pesquisa para<br />

a Saari. Foi apresentado o tema <strong>de</strong> Udo Boch, um briefing <strong>de</strong> mobilização social. Entrem e utilizem essa ferramenta, porque<br />

ela é maravilhosa, con<strong>de</strong>nsa tudo que é um novo pensar da propaganda e eu posso afirmar isso, porque aplico seguidamente<br />

esse instrumental <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> uma ONG da qual o Udo também faz parte, a IPAZ, que trabalha com comunicação para<br />

ONG’s <strong>de</strong> forma voluntária. Vocês não sabem o quanto <strong>de</strong> criativo existe <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>ssas ONG’s que trabalham sem recursos<br />

e fazem peças e mobilizações incríveis. E este instrumento do Udo Boch, que está à disposição, é um caminho para que<br />

utilizemos uma nova comunicação. é isso! Obrigado!<br />

Percival Caropreso<br />

Mestre Fernando Camargo, nós aqui nos preocupamos, na nossa fala bastante breve, em listar algumas hipóteses e recomendações<br />

que já estão na nossa tese, postadas no site. Uma <strong>de</strong>las era exatamente incentivar a criação <strong>de</strong> campanhas, não no<br />

mo<strong>de</strong>lo meio assistencialista <strong>de</strong> favor do tipo “Vamos fazer uma campanha bacana para a causa A, B e C”, mas tratar profissional<br />

e seriamente temas e causas socioambientais, porque o homem e o meio ambiente são a mesma coisa. O problema <strong>de</strong> falar<br />

do social e do ambiental é que esquecemos que do ambiental veio o homem; ele é apenas mais uma das forças. é por isso que<br />

falamos tudo junto. O que é bom agora é nos aprofundarmos com exemplos como esse que você <strong>de</strong>u.<br />

Hiran Castello branco<br />

Vamos dar a palavra ao Humberto Men<strong>de</strong>s.<br />

Humberto men<strong>de</strong>s<br />

A rigor, eu não precisaria falar, pois escrevi o que pensava, já que só temos 90 segundos. Numa palestra em Porto Alegre, a<br />

Christina, dizia que nós somos coadjuvantes do nosso compromisso com o meio ambiente, com a preservação do mundo;<br />

nascemos para isso. Este compromisso é preocupante. Tenho duas netas que estão cobrando permanentemente que mundo<br />

<strong>de</strong>ixaremos para elas. Acho que nós, publicitários, temos um compromisso muito sério, não só <strong>de</strong> fazer campanhas voluntárias<br />

pela preservação e valorização do meio ambiente, mas, principalmente, <strong>de</strong> sermos ativistas permanentes da idéia <strong>de</strong> cuidar do<br />

meio ambiente, antes que acabe. Afinal, quem viver futuramente na esfera terrestre precisará encontrar um mundo habitável.<br />

é isso! Muito obrigado!<br />

Hiran Castello branco<br />

Obrigado, Humberto. Nós vamos agora dar a palavra a Maria José Vilafanha.<br />

maria José Vilafanha<br />

Eu sou professora do Centro Universitário Salesiano (Unisal) em Americana e dou aulas para o 3º e 4º anos <strong>de</strong> Comunicação<br />

Social. Já tive agência <strong>de</strong> propaganda e fico preocupada, pois conheço bem os vários lados: cliente, veículo, agência e, agora,<br />

professora — on<strong>de</strong> acho que a minha missão me inovou. Me preocupo porque os alunos entram para a faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> propaganda<br />

motivados por ilusões e, ao fazerem o curso, muitos <strong>de</strong>sistem e outros tantos se enveredam por vários caminhos<br />

nessa arena da comunicação, porém, principalmente no interior <strong>de</strong> São Paulo, somos carentes <strong>de</strong> disciplinas que apresentem<br />

a responsabilida<strong>de</strong> social e mostrem aos jovens que eles vão fazer a futura comunicação. é preciso que eles saibam qual o<br />

caminho a seguir enquanto profissionais responsáveis. Faltam movimentos estudantis. Aliás, sugiro que levem a palavra que<br />

estão trazendo aqui para estes alunos que não conseguem participar <strong>de</strong> eventos como este. Isso é muito importante, porque<br />

a comunicação está nas mãos <strong>de</strong>sses jovens; eles vão ocupar algumas ca<strong>de</strong>iras das agências <strong>de</strong> propaganda e da área <strong>de</strong><br />

comunicação como um todo. Essa é minha reflexão ao grupo, para que, a partir daí, possamos <strong>de</strong>senvolver um projeto para<br />

motivá-los a pensar <strong>de</strong> outra forma. Às vezes, somente o professor, com pouco tempo disponível em aula, não consegue.<br />

Obrigado!<br />

Hiran Castello branco<br />

Vamos levar a palavra até Pernambuco, com Jussara Freire.<br />

Jussara freire<br />

Minha sugestão é colocarmos uma ca<strong>de</strong>ira nas universida<strong>de</strong>s. Só no estado <strong>de</strong> Pernambuco, hoje, formam-se cerca <strong>de</strong> 700<br />

profissionais na área <strong>de</strong> publicida<strong>de</strong> por ano. Além <strong>de</strong>les, temos os próprios companheiros <strong>de</strong> trabalho que não têm a menor<br />

noção do que seja responsabilida<strong>de</strong> social, sequer imaginam o que é fazer campanha beneficente, ou não têm a menor noção<br />

<strong>de</strong> que um pouco mais <strong>de</strong> conhecimento nessa área po<strong>de</strong> ser uma importante ferramenta para os negócios <strong>de</strong> nossos clientes.<br />

Concordo com a Maria José; fica aqui a sugestão para incluir uma ca<strong>de</strong>ira ou ampliar o conhecimento do próprio mercado<br />

publicitário nessa área <strong>de</strong> responsabilida<strong>de</strong> social/comercial.<br />

Hiran Castello branco<br />

Obrigado, Jussara. Vamos dar a palavra brevemente ao professor Ismael, que quer fazer uma intervenção; peço <strong>de</strong>sculpas aos<br />

<strong>de</strong>legados aqui presentes e à Comissão. Como nós temos ainda várias perguntas a serem respondidas, vamos ter a intervenção<br />

do professor Ismael, vamos respon<strong>de</strong>r às perguntas que já estão aqui e vai fazer o uso da palavra também o Armando<br />

Ferrentini, que se inscreveu para isso, mas não vamos mais receber perguntas e nem disponibilizar a palavra, porque não<br />

conseguiremos cumprir o tempo. Tranqüilizo àqueles que tenham algo a dizer e não tiveram oportunida<strong>de</strong>, lembrando que<br />

estará no site amanhã, logo às 8h00, o relatório preparado por Francisco Socorro. Parte já existe; é uma síntese do que vocês<br />

encontraram sobre as ca<strong>de</strong>iras e também está naquele template <strong>de</strong> forma bem compactada, mas aqueles que <strong>de</strong>sejarem,<br />

po<strong>de</strong>m oferecer emendas ao trabalho final que vai ser levado ao plenário. O fato <strong>de</strong> não terem a oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> falar não<br />

elimina a participação. Realmente peço <strong>de</strong>sculpas em nome da mesa, por não recebermos outras perguntas.<br />

Ismael Rocha<br />

Vou comentar rapidamente sobre a experiência que a ESPM tem na construção <strong>de</strong>sse diálogo com os alunos em relação à<br />

responsabilida<strong>de</strong> social. Entendo que ela seja uma escola pioneira neste sentido. Existe na ESPM uma estrutura chamada ESPM<br />

Social. Nós temos disciplinas que estão trabalhando isso <strong>de</strong>ntro do currículo, não só como disciplinas, mas também como ativida<strong>de</strong>s<br />

praticamente obrigatórias em projetos <strong>de</strong> conclusão <strong>de</strong> curso. Estou vendo a professora Manuelita, é responsável pelo<br />

TCC da ESPM, on<strong>de</strong> é parte da estrutura do TCC uma ativida<strong>de</strong> ou uma proposta <strong>de</strong> ação voltada à responsabilida<strong>de</strong> social. A<br />

ESPM tem uma experiência e eu, como coor<strong>de</strong>nador da ESPM Social, me coloco à disposição dos professores aqui presentes<br />

que quiserem, <strong>de</strong>pois, trocar alguma informação neste sentido. Obrigado!<br />

Hiran Castello branco<br />

Obrigado, professor. Nós vamos dar a palavra ao Pierre.<br />

Pierre<br />

Tentarei ser breve e, antes, pedir <strong>de</strong>sculpas por qualquer incapacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> transmitir o que eu quero em função <strong>de</strong> tantas palavras<br />

já bem ditas aí. Ontem, vi uma matéria, acho que até do nosso presi<strong>de</strong>nte Pastore, questionando uma regulamentação<br />

que se queira fazer sobre a propaganda dirigida a crianças, a questão dos alimentos <strong>de</strong> açúcar, excesso <strong>de</strong> açúcar, excesso <strong>de</strong><br />

sal. Acho que a regulamentação é importante para isso e queria participar, dar força. O gran<strong>de</strong> questionamento que eu quero<br />

fazer é sobre como nós vamos, sem ainda prever o que faz mal, trabalhar uma publicida<strong>de</strong> que realmente pense no futuro, e<br />

que não seja um futuro apenas sustentável <strong>de</strong>sse be-a-bá <strong>de</strong> que tanto se fala. Nós sempre quisemos fazer com que as pessoas<br />

tivessem mais, e o futuro só será sustentável quando as pessoas precisarem ter menos e ser mais.<br />

Hiran Castello branco<br />

Obrigado! A Rosa Alegria quer fazer uma observação sobre o seu comentário.<br />

Rosa Alegria<br />

é preciso que a publicida<strong>de</strong> reoriente sua perspectiva temporal. Eu sempre uso uma metáfora: em vez <strong>de</strong> olhar para o retrovisor<br />

(porque ao olhar para o passado, você não mais constrói o futuro), é preciso acen<strong>de</strong>r os faróis, lá na frente; fazer com que<br />

as pessoas se mobilizem. No pós-guerra, um sociólogo holandês chamado Fred Pollack estudou como as culturas se mobilizavam,<br />

cresciam ou se <strong>de</strong>struíam, fragilizavam-se através das imagens que elas nutriam do futuro. A conclusão <strong>de</strong>ssa teoria foi<br />

que no <strong>de</strong>correr <strong>de</strong> toda essa história, as socieda<strong>de</strong>s que floresceram, foram as que nutriram imagens positivas do futuro, e as<br />

que acabaram foram as pautadas por imagens ruins, <strong>de</strong>ca<strong>de</strong>ntes. Essa questão é importante: a publicida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ve reorientar-se<br />

no seu limite temporal e ver a perspectiva adiante. Ela tem que ser um farol <strong>de</strong> mobilização, <strong>de</strong> esperança, mudar o foco. Peço<br />

que os profissionais <strong>de</strong> marketing me perdoem, porque talvez eu esteja ferindo a teoria do marketing, mas não <strong>de</strong>vemos nos<br />

pautar apenas na infelicida<strong>de</strong>, ou seja, aten<strong>de</strong>r <strong>de</strong>sejos insatisfeitos, mas sim na felicida<strong>de</strong>, celebrando aquilo que já temos.<br />

Essa é outra revolução importante.<br />

Hiran Castello branco<br />

Obrigado, Rosa. Vou dar a palavra à Christina, que também quer comentar esse tema e, na sequência, nós vamos respon<strong>de</strong>r<br />

às perguntas que já estão distribuídas e serão lidas pelo próprio painelista que vai respon<strong>de</strong>r. Como todos são publicitários<br />

habituados a passar suas mensagens em 30 segundos, acredito que vamos respon<strong>de</strong>r <strong>de</strong>ntro do nosso tempo.<br />

Christina Carvalho Pinto<br />

Eu gostaria <strong>de</strong> comentar as manifestações <strong>de</strong> Jussara Freire e a Maria José Vilafanha sobre a questão do ensino. Acho muito importante<br />

nós colocarmos a responsabilida<strong>de</strong> como um tema transversal. Sempre que colocamos alguma coisa que na verda<strong>de</strong><br />

é essência dos novos tempos como uma matéria extra, estamos acomodando conflitos entre o mo<strong>de</strong>lo econômico vigente<br />

e a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> fazer alguma coisa inovadora, que valha a pena. Tudo o que nós comunicarmos hoje aos estudantes tem<br />

que passar pelo crivo da nossa responsabilida<strong>de</strong> enquanto cidadãos. Se não agirmos assim, corremos o perigo <strong>de</strong> tapar o sol<br />

com a peneira. As empresas precisam entrar no âmago da questão.<br />

Quero agra<strong>de</strong>cer ao Pierre pela sua intervenção, porque ele inspira as pessoas a enten<strong>de</strong>rem <strong>de</strong> que maneira <strong>de</strong>vemos interagir<br />

com os nossos próprios clientes. Vou citar o exemplo <strong>de</strong> um cliente <strong>de</strong> telefonia (que não tenho no momento, para que<br />

sejamos isentos). Hoje, as telefonias são as empresas com mais reclamações <strong>de</strong> consumidores, são as mais vulneráveis, porque<br />

têm problemas enormes <strong>de</strong> atendimento, <strong>de</strong> prestação <strong>de</strong> serviços, etc.<br />

Se o meu cliente me dissesse que vai lançar um novo pacote, eu recomedaria que ele investisse a verba em um treinamento<br />

específico <strong>de</strong> telemarketing — por exemplo, no atendimento mais verda<strong>de</strong>iro, em uma presença maior junto ao seu cliente<br />

—, para ter uma vantagem competitiva maior do que só fazer mais propaganda. é a hora do publicitário parar <strong>de</strong> dizer sim<br />

para qualquer briefing. De vez em quando ele precisa apren<strong>de</strong>r a pensar, por exemplo: “não vou ficar com esse dinheiro e farei,<br />

junto com o meu cliente, um investimento mais útil a quatro mãos, que reforce mais a marca. Acredito que assim, po<strong>de</strong>remos<br />

manter vivo o negócio das comunicações. O planeta Terra não tem mais como dar recursos para esse avanço do consumo.<br />

Hiran Castello branco<br />

Obrigado, Christina. O Professor Gracioso <strong>de</strong>seja fazer uma intervenção.<br />

francisco Gracioso<br />

Se não me engano, foi o Fernando que manifestou a impressão <strong>de</strong> que em nosso trabalho, teríamos dado uma importância<br />

exagerada ao aspecto ambiental em <strong>de</strong>trimento do social. Creio que não foi bem assim. Na verda<strong>de</strong>, encaramos isso como um<br />

todo, um todo que já tem até nome. Recentemente, as pessoas mais envolvidas com esse assunto falam em “sustentabilida<strong>de</strong>”<br />

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COMISSÃO 2 - RESPONSABILIDADE SOCIOAMBIENTAL DA PROPAGANDA


como uma forma <strong>de</strong> resumir as preocupações sociais e ambientais que vão <strong>de</strong>cidir o futuro do planeta. Realmente, o futuro<br />

do planeta não <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> apenas da pureza da água ou do ar, mas das condições sociais das gran<strong>de</strong>s massas <strong>de</strong> população, do<br />

bem-estar da maioria, <strong>de</strong> um mercado ético.<br />

O outro exemplo que me vem à mente é o slogan que a Natura, pioneira nesta área, usa: ela se <strong>de</strong>fine como ética e estética; a<br />

ética, naturalmente, envolve até mesmo a relação com o meio ambiente, mas vai muito além disso, como é natural.<br />

Hiran Castello branco<br />

Muito obrigado, professor! Eu peço ao Percival que leia e responda à pergunta que está com ele.<br />

Percival Caropreso<br />

Pergunta <strong>de</strong> Ana Carolina Ramos <strong>de</strong> Oliveira<br />

é imprescindível que uma socieda<strong>de</strong> tenha governantes para administrar os recursos <strong>de</strong> cada região. Até que ponto será possível<br />

conseguirmos a<strong>de</strong>rir a ética à propaganda política e à credibilida<strong>de</strong> da publicida<strong>de</strong> governamental?<br />

Resposta<br />

é muito difícil, porque o produto que essa propaganda comunica é invariavelmente muito ruim — os homens públicos, o<br />

que o candidato <strong>de</strong>ve usar —, mas, aí, volta o nosso objetivo: dar dois passos para trás, olhar nosso papel diante <strong>de</strong>ste mundo<br />

no qual vivemos e, através <strong>de</strong> comunicações cívicas e <strong>de</strong> informação à socieda<strong>de</strong>, aumentarmos o nível <strong>de</strong> cidadania e <strong>de</strong><br />

pressão/cobrança que a socieda<strong>de</strong> <strong>de</strong>ve fazer.<br />

Li um trecho da entrevista do Carlos Aires Brito que falava exatamente sobre isso: ninguém aguenta mais essa corrupção e<br />

essa impunida<strong>de</strong>! Num crescendo, a indignação conseguirá agregar conteúdo — e não se trata <strong>de</strong> conteúdo político, mas <strong>de</strong><br />

conteúdo cidadão. A indignação cria pressão.<br />

Hiran Castello branco<br />

Professor Ismael, por favor, leia e responda às perguntas que estão em seu po<strong>de</strong>r. Na seqüência, Christina, vou pedir que você<br />

faça o mesmo.<br />

Ismael Rocha<br />

Primeira questão: A propaganda <strong>de</strong> cigarro foi proibida, as gerações vêm nascendo e a cultura do cigarro se prolifera. Não seria<br />

sensato uma aliança com o governo sugerindo o aumento dos impostos não só <strong>de</strong> cigarros, mas qualquer produto que possa<br />

trazer malefícios para a socieda<strong>de</strong>, como bebidas alcoólicas, refrigerantes, alimentos gordurosos, etc.?<br />

Resposta<br />

Eu não acredito na construção <strong>de</strong> uma aliança com o governo, mas naquilo que discutimos aqui: na construção <strong>de</strong> um papel<br />

ético da comunicação, que vai gerar uma consciência maior na população. Sim, é função da população influenciar o po<strong>de</strong>r<br />

público para que tome atitu<strong>de</strong>s para a melhoria da sua qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida. Entendo que a propaganda tem um papel, sim,<br />

mas não o <strong>de</strong> fazer alianças com o governo nesse sentido, e sim o <strong>de</strong> criar consciência social, para que as pessoas possam<br />

realmente influenciar o po<strong>de</strong>r público em mudanças nesse sentido.<br />

Pergunta <strong>de</strong> Gorgulho moreno (presi<strong>de</strong>nte – fiptur)<br />

Em seu relato, o professor Gracioso cita os po<strong>de</strong>res da publicida<strong>de</strong>, sugerindo que os publicitários utilizem a propaganda para<br />

formar uma mentalida<strong>de</strong> preservacionista, engajados na luta pela sustentabilida<strong>de</strong>.<br />

Resposta<br />

A partir do momento em que houver, por parte dos publicitários e das agências, uma preocupação cada vez mais em favor do<br />

coletivo do que do seu interesse próprio, certamente esse processo acontecerá e essa luta pela sustentabilida<strong>de</strong> vai se tornar<br />

cada vez mais clara e presente.<br />

Hiran Castello branco<br />

Obrigado, professor Ismael. Peço à Christina o favor <strong>de</strong> ler e respon<strong>de</strong>r as perguntas em seu po<strong>de</strong>r.<br />

Christina Carvalho Pinto<br />

Pergunta <strong>de</strong> Marcelo Diniz<br />

Salvo engano, a gran<strong>de</strong> maioria das campanhas publicitárias está voltada para o humor, o entretenimento, o espetáculo, etc.<br />

Não está na hora <strong>de</strong> um pacto pela educação, pela melhor consciência a partir dos conteúdos?<br />

Resposta<br />

Com certeza, Marcelo! O humor é uma linguagem, e nós, brasileiros, temos essa coisa maravilhosa <strong>de</strong> conseguir rir até <strong>de</strong> nós<br />

mesmos — a essência mais bonita do humor. Eu não acho que a dicotomia ocorra entre abrir mão do humor ou do entretenimento<br />

em prol da educação. A forma <strong>de</strong>ve estar sempre livre, seja ela feita com humor; levando-nos a chorar <strong>de</strong> emoção;<br />

com um soco no estômago que nos faz parar, pensar e mudar, ou que abre nossas “caixinhas <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>los mentais limitados”.<br />

A criativida<strong>de</strong> existe para isso, mas eu concordo totalmente com você: nos últimos <strong>de</strong>z anos, tenho insistido no fato <strong>de</strong> que<br />

precisamos parar e refletir sobre o conteúdo do que fazemos. Eu rejeito qualquer tipo <strong>de</strong> premiação que queiram me dar por<br />

causa <strong>de</strong> uma forma, porque forma também tem fórmula, mas conteúdo é a coisa em si. Acho que hoje a coisa mais importante<br />

<strong>de</strong> todos nós, criativos, é criar novas visões, é criar um mundo novo.<br />

Tem uma pergunta da Dora Zanin, mas como parece que ela já foi po<strong>de</strong>mos respon<strong>de</strong>r por escrito, pelo e-mail que ela colocou<br />

aqui.<br />

Hiran Castello branco<br />

A Rosa tem uma pergunta para respon<strong>de</strong>r e, por favor, aproveite para fazer aquela intervenção que você pediu.<br />

Rosa Alegria<br />

Pergunta <strong>de</strong> Alexandre<br />

Como estão sendo tratados os temas aqui abordados nas escolas, principalmente nas <strong>de</strong> ensino fundamental, no que envolve<br />

a responsabilida<strong>de</strong> socioambiental? Eles já chegaram às escolas?<br />

Resposta<br />

Eu não sou educadora, mas observadora e vejo que ainda estamos com passos <strong>de</strong> tartaruga. Esse tema nas escolas ainda<br />

está na periferia, como disciplina optativa. Por outro lado, existe também uma consciência muito gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>ssa nova geração.<br />

Crianças <strong>de</strong> ensino fundamental já estão alertas com relação a isso, em função da própria comunicação. é importante ter essa<br />

aliança da comunicação com as escolas. Temos casos muito interessantes, mas não vou relatá-los. Na minha opinião, ainda é<br />

muito pouco para o que o planeta precisa, para o futuro.<br />

Alexandre<br />

Essa pergunta foi inspirada na Alemanha. As empresas <strong>de</strong> engenharia trabalham muito com a juventu<strong>de</strong>, porque existe uma<br />

carência <strong>de</strong> engenheiros no mundo todo. O Brasil já está com essa carência. Na Alemanha, eles fazem um trabalho junto com<br />

as crianças para que elas se interessem pela engenharia. Seria interessante propormos algum trabalho especifico para as crianças<br />

no ensino fundamental sobre este painel que estamos <strong>de</strong>batendo hoje aqui. Muito obrigado!<br />

Rosa Alegria<br />

Eu gostaria <strong>de</strong> fazer a minha proposta rapidamente. A idéia veio da querida Hazel Hen<strong>de</strong>rson, essa mulher que mencionei<br />

antes, e do professor Ladislau Dowbor, um brilhante economista da PUC: 3% da verba publicitária <strong>de</strong>dicados à construção <strong>de</strong><br />

novos mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong> comunicação, ou a projetos-piloto <strong>de</strong> uma comunicação construtiva para causas humanitárias, <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m<br />

social, ambiental. A sugestão é que as empresas abracem esta idéia. Estou representando Hazel: 3% da verba publicitária para<br />

novos mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong> comunicação, que também envolvem educação (centros <strong>de</strong> ensino).<br />

Hiran Castello branco<br />

Estamos caminhando para o final dos nossos trabalhos. Quando eu era menino, estu<strong>de</strong>i no colégio alemão Porto Seguro. Tinha<br />

que chegar na hora, ficar na fila, entrar na sala na hora <strong>de</strong> começar e terminar na hora prometida. E isso fica internalizado. Nós<br />

temos um papel extremamente importante, como <strong>de</strong>legados, <strong>de</strong> votar as propostas colocadas. Nós temos a tese apresentada<br />

coletivamente pela mesa <strong>de</strong> trabalho, que está <strong>de</strong> forma mais extensa com as suas recomendações.<br />

O documento que for gerado foi distribuído. Está na forma <strong>de</strong> template do <strong>Congresso</strong>, que vai ser votado. Naturalmente, po<strong>de</strong>mos<br />

aprovar esta tese e ela po<strong>de</strong> receber emendas antes <strong>de</strong> ir ao plenário, na quarta-feira. Antes <strong>de</strong> nós aprovarmos a tese, o<br />

Francisco Socorro, nosso secretário, lerá uma <strong>de</strong>claração em nome <strong>de</strong> todos que trabalharam na preparação do evento. Antes,<br />

eu gostaria <strong>de</strong> dar a palavra ao Armando Ferrentini, para que faça a sua intervenção.<br />

Armando ferrentini<br />

Pedi para intervir em <strong>de</strong>fesa da tese apresentada pelo professor José Roberto Penteado, da ESPM, porque todos aqui buscamos<br />

sempre o império da ética. No meu enten<strong>de</strong>r, é a única disciplina que realmente resolverá os nossos problemas. Aparentemente,<br />

se todos tiverem ética, não teremos mais problemas.<br />

Eu não sei se vocês tiveram a oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ler; o Código <strong>de</strong> ética para os Profissionais <strong>de</strong> Marketing foi aprovado em 1999<br />

e está sendo disseminado, mas ainda é insuficiente. Participei <strong>de</strong> sua elaboração, que ocorreu entre duas entida<strong>de</strong>s — Associação<br />

Brasileira <strong>de</strong> Marketing e Negócios (ABMN) e ESPM — extremamente responsáveis, principalmente em se tratando <strong>de</strong><br />

ética. Vamos usar a absorção — a recomendação do plenário <strong>de</strong>ste <strong>Congresso</strong>, que levou 30 anos para ser feito. Que as suas<br />

<strong>de</strong>cisões, as suas recomendações, sejam atendidas, respeitadas. Elas estão mais fortalecidas ainda pelos congressos anteriores,<br />

que já foram muito fortes. Vamos lutar pelo fortalecimento do império da ética. Muito obrigado.<br />

Christina Carvalho Pinto<br />

Quero fazer minhas as palavras do Armando!<br />

José Roberto Whitaker Penteado<br />

O Código <strong>de</strong> ética dos Profissionais <strong>de</strong> Marketing está no site da ESPM (www.espm.br), no site da Associação Brasileira <strong>de</strong> Marketing<br />

e Negócios (www.abmn.com.br), no site do José Roberto Penteado (www.jrwp.com.br),<br />

Hiran Castello branco<br />

E no site da nossa Comissão (www.congresso<strong>de</strong>publicida<strong>de</strong>.com.br). O Armando trabalhou arduamente ao longo <strong>de</strong>sses 30<br />

anos para que o <strong>IV</strong> <strong>Congresso</strong> existisse. Depois, eu fiquei aqui pensando que eu podia fazer uma malda<strong>de</strong> com ele, que é meu<br />

amigo, e não dar a palavra a ele, porque faz 30 anos que ele está esperando para falar. Mas não fiz, não é Armando?<br />

Armando ferrentini<br />

Quando vocês saírem <strong>de</strong>sta sala, procurem assinar um bolão que está correndo: quem acertar hora, dia, mês e ano do próximo<br />

<strong>Congresso</strong>, vai ganhar o bolão.<br />

Hiran Castello branco<br />

Vamos agora ouvir a palavra do nosso relator, Francisco Socorro, que vai fazer uma <strong>de</strong>claração a respeito dos trabalhos da<br />

mesa.<br />

190 191<br />

COMISSÃO 2 - RESPONSABILIDADE SOCIOAMBIENTAL DA PROPAGANDA


francisco Socorro<br />

Fiz uma análise <strong>de</strong>talhada dos anais do III <strong>Congresso</strong>, há 30 anos, e não vi ali uma única linha, uma única menção ao problema<br />

ambiental. Como não sabemos quando será o próximo <strong>Congresso</strong>, eu gostaria <strong>de</strong> ressaltar a importância do tema que<br />

estamos discutindo hoje. Nós, da mesa, estamos convencidos <strong>de</strong> que, entre outras idéias, vamos construir neste evento uma<br />

antevisão, talvez uma profecia que acredito fértil e mobilizadora — mais importante ainda, uma idéia que veio para ficar.<br />

Essa idéia é especialmente <strong>de</strong>safiadora para os novos colegas que estão a<strong>de</strong>ntrando na profissão ou passarão a exercê-la nos<br />

próximos anos, pois tem tudo a ver com o futuro, que é o tema <strong>de</strong>ste <strong>Congresso</strong>. Nesta primeira década do novo milênio, surgiram<br />

na comunicação comercial umas poucas avenidas sólidas, pelas quais trafegam mensagens publicitárias e, em inevitável<br />

paralelo, surgiram também inúmeras ruas que ten<strong>de</strong>m a <strong>de</strong>saparecer no tempo, muitos modismos. Na minha avaliação, entre<br />

as avenidas remanescentes estarão: a “publicida<strong>de</strong> e entretenimento”, com chances evi<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> perenizar ou ter vida longa;<br />

a avenida brand contents, uma avenida ainda sem nome em português; a avenida dos “consumidores co-autores da publicida<strong>de</strong>”,<br />

que também tem muita chance <strong>de</strong> longa vida; a avenida da “publicida<strong>de</strong> viral”, ligada à internet, também tem gran<strong>de</strong>s<br />

chances <strong>de</strong> prosperar e se tornar uma avenida importante. Mas a gran<strong>de</strong> avenida — aquela que na nossa visão se prenuncia<br />

como <strong>de</strong>finitiva e sustentável — é a avenida da “responsabilida<strong>de</strong> socioambiental da publicida<strong>de</strong>”, não tenhamos nenhuma<br />

dúvida com relação a isso. Por quê? Por uma razão muito simples: é um belo caminho para a nossa profissão, para os negócios<br />

e, sobretudo, melhor ainda para a socieda<strong>de</strong>. Ela coloca o homem como seu centro e seu <strong>de</strong>stino. Por isso acreditamos<br />

firmemente que o futuro do nosso ofício passará inexorável por essa avenida em franca construção e nela fará trafegar volume<br />

expressivo <strong>de</strong> mensagens da comunicação comercial. E quanto antes fizermos nosso caminho, melhor para todos nós e para<br />

nossos clientes, que já sabem que a nova consciência social e ambiental é um caminho sem volta. Muito obrigado.<br />

Hiran Castello branco<br />

Obrigado. Peço a todos os <strong>de</strong>legados presentes que, ajudando a fazer história e a criar o futuro, aprovem a tese apresentada<br />

por essa mesa <strong>de</strong> trabalho e aprovem como emenda a proposta colocada por Armando Ferrentini.<br />

Hiran Castello branco<br />

Encerrando os nossos trabalhos, eu gostaria <strong>de</strong> agra<strong>de</strong>cer em especial ao Francisco Socorro, nosso relator; à Rosa Alegria, nossa<br />

secretária; aos professores Francisco Gracioso e Ismael Rocha; ao Percival, um publicitário <strong>de</strong> referência para todos nós e um<br />

especialista nesta temática da responsabilida<strong>de</strong> socioambiental; e à Christina Carvalho Pinto, nossa ativista.<br />

Agra<strong>de</strong>ço também a todos aqueles que colaboraram conosco, mas não estão nesta mesa e, igualmente, aos que nos ofereceram<br />

excelentes contribuições, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o surfista Rodrigo Salvador até o Professor José Roberto, passando pela Nádia, pela<br />

Oriana e pelo Udo. Muito obrigado a todos pela participação nesta tar<strong>de</strong>. Sairemos daqui fortalecidos. Gostaria <strong>de</strong> encerrar<br />

dizendo que, <strong>de</strong> fato, criar o futuro significa utilizar a propaganda como promotora do consumo consciente e responsável, e<br />

<strong>de</strong> valores que dão força à vida. Muito obrigado!<br />

Comissão 3<br />

PRESTADORES DE SERVIçOS ESPECIAlIZADOS E<br />

SuA RElAçãO COm AGêNCIAS E ClIENTES<br />

Zezinho mutarelli<br />

Boa tar<strong>de</strong> a todos. Gostaria <strong>de</strong> agra<strong>de</strong>cer em nome da Abrafoto, Abigraf, Apro e Aprosom pela oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> conversar com<br />

vocês sobre um tema <strong>de</strong> tamanha relevância para o mercado publicitário do Brasil. Eu pensei em improvisar alguma coisa, mas<br />

o assunto é complexo e me levou a refletir bastante para dar alguma contribuição para esta platéia tão especial. Fernando<br />

Pessoa dizia: “Para ser gran<strong>de</strong>, sê inteiro; nada teu exagera ou exclui, sê todo em cada coisa; põe quanto és no mínimo que<br />

fazes. Assim em cada lago a lua toda brilha, porque alta vive”. é <strong>de</strong> inteireza, grandiosida<strong>de</strong>, que precisa este mercado tão rico e<br />

tão pobre. Explico: rico em possibilida<strong>de</strong>s; rico em criativida<strong>de</strong>; rico em ousadia e pobre em <strong>de</strong>talhes que <strong>de</strong>safinam a relação<br />

entre os prestadores <strong>de</strong> serviços especializados, as agências e os clientes. O mais difícil, nós temos: potencial. O mais óbvio às<br />

vezes nos falta: respeito. Respeito pelo profissional que cria, produz e precisa ter a liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> transformar ações em realida<strong>de</strong>.<br />

é assim com a lua: sua vocação é brilhar em cada lago. Se não o fizer, <strong>de</strong>ixará <strong>de</strong> ser lua. E a lua <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> brilhar quando não<br />

se respeitam os i<strong>de</strong>ais no processo <strong>de</strong> criação; quando se confun<strong>de</strong>m ou se comparam coisas a processos distintos.<br />

A arte <strong>de</strong>ve enten<strong>de</strong>r o mercado e a<strong>de</strong>quar-se a ele, mas o mercado não po<strong>de</strong> <strong>de</strong>struir a arte, sob pena <strong>de</strong> não atingir a alma<br />

do auditório. O auditório é cada vez mais exigente, o que não atrapalha se houver respeito entre os criadores. Eu insisto na palavra<br />

respeito. Quem respeita, enten<strong>de</strong> o tempo necessário para o processo <strong>de</strong> criação. Quem respeita, paga o justo, o <strong>de</strong>vido,<br />

o correto. Quem respeita, dialoga. é como uma mesa <strong>de</strong> três pés: o cliente, a agência e o prestador <strong>de</strong> serviços especializados.<br />

A mesa fica bamba quando um dos pés é arrancado, e uma mesa bamba <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> ter eficiência. Po<strong>de</strong> até resistir por um tempo,<br />

se não utilizada, se não percebida, mas não resiste ao menor encosto. E é <strong>de</strong> mesa firme que precisamos; é para construir<br />

uma mesa firme que estamos aqui dispostos a emprestar nossos talentos e disposição.<br />

“O Brasil é o país da cordialida<strong>de</strong>”, dizia Gilberto Freire. Um país cujos contrastes foram capazes <strong>de</strong> gerar, ainda com mais<br />

intensida<strong>de</strong>, a criativida<strong>de</strong>. Em contrapartida, somos um país recheado <strong>de</strong> problemas. Nossas mazelas sociais são gritantes<br />

e é preciso sur<strong>de</strong>z em grau elevado para não ouvir, não enten<strong>de</strong>r. Nesse oceano <strong>de</strong> lama e possibilida<strong>de</strong>s, criadores geniais<br />

receberam prêmios significativos na publicida<strong>de</strong>. Sem cabotinice, exportamos talentos. Alguns pesquisadores internacionais<br />

se surpreen<strong>de</strong>ram, não apenas pelo resultado, mas pelo processo, pela capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> resolver e gerenciar situações difíceis,<br />

negócios e ações em tempo exíguo e orçamento diminuto. Contudo, com o aumento da competitivida<strong>de</strong> em todo o mundo,<br />

essa imagem vem ocasionando um verda<strong>de</strong>iro <strong>de</strong>sastre no setor publicitário. Um gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>sastre, que, no entanto, po<strong>de</strong> e<br />

<strong>de</strong>ve ter suas piores consequências revertidas. Dentre elas, a redução significativa das premiações das campanhas nacionais<br />

no exterior. Já fomos muito mais premiados e o motivo, claro, é a competência inquestionável <strong>de</strong> nossos profissionais. Não é<br />

à toa que os gran<strong>de</strong>s diretores do cinema brasileiro contemporâneo que vêm obtendo reconhecimento merecido em todo o<br />

mundo vieram, sem exceção, do mercado publicitário. Todos já estão cientes do quanto a tecnologia e as mudanças ocasionadas<br />

por ela transformaram nossas vidas, nosso tempo, nosso ritmo <strong>de</strong> trabalho.<br />

Se na área da publicida<strong>de</strong> tudo foi “para ontem”, atualmente e mais do que nunca, po<strong>de</strong>mos afirmar que estamos vivenciando<br />

uma verda<strong>de</strong>ira ditadura do tempo, um regime totalitário que con<strong>de</strong>na nossos criadores à produção sistemática <strong>de</strong> idéias, programas<br />

e projetos concluídos sem o <strong>de</strong>vido cuidado, comprometendo enormemente a qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> nossas produções. Em<br />

todas as agências vemos colegas angustiados, estressados, revoltados com os prazos <strong>de</strong> entrega exíguos que os obrigam a produzir<br />

tudo, menos aquilo que realmente po<strong>de</strong>riam fazer se tivessem mais tempo e melhores condições <strong>de</strong> trabalho. Associado<br />

a este contexto que, na verda<strong>de</strong>, também atinge em maior e menor grau os profissionais das mais diversas categorias, po<strong>de</strong>mos<br />

afirmar que estamos vivendo uma profunda transformação das relações entre os atores do mercado <strong>de</strong> propaganda no mundo.<br />

A globalização trouxe novas práticas e <strong>de</strong>safios ao universo da publicida<strong>de</strong>. Relações estáveis e até <strong>de</strong> nível pessoal foram<br />

substituídas por métodos múltiplos e muitas vezes falsamente evoluídos. Para nossa tristeza, existem inúmeros problemas<br />

que po<strong>de</strong>mos citar quando analisamos o relacionamento entre clientes, agências e fornecedores do mercado brasileiro. Estou<br />

convencido que com o auxílio <strong>de</strong> todos, po<strong>de</strong>mos amenizar substancialmente estes dramas vividos no dia-a-dia por inúmeros<br />

colegas. é o caso, por exemplo, do <strong>de</strong>srespeito aos direitos básicos dos profissionais que vivem da produção intelectual, uma<br />

situação terrível ocasionada pela falta <strong>de</strong> conhecimento e, consequentemente, pela total ausência <strong>de</strong> respeito à legislação<br />

<strong>de</strong> direitos autorais, por parte <strong>de</strong> clientes, atendimento e até mesmo órgãos governamentais. Em seguida, temos a queda da<br />

qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> nosso trabalho, um processo que é fruto das exigências absurdas por parte <strong>de</strong> clientes que, não raro, usam seu<br />

po<strong>de</strong>r <strong>de</strong>smedido através <strong>de</strong> mesa <strong>de</strong> compras, leilões on-line, etc. Como resultado, temos um produto final que não prima<br />

pela excelência, <strong>de</strong>squalificando a indústria nacional e prestando um <strong>de</strong>sserviço ao pobre cliente.<br />

Outra situação dramática é provocada pelo que chamamos Brasil x Competitivida<strong>de</strong>, uma equação complexa na medida em<br />

que a falta <strong>de</strong> controle a<strong>de</strong>quado <strong>de</strong> nossos negócios e processos somados ao custo Brasil, vem <strong>de</strong>struindo a competitivida<strong>de</strong><br />

da propaganda brasileira no mercado internacional. Taxas exorbitantes, necessida<strong>de</strong> constante <strong>de</strong> importação <strong>de</strong> material,<br />

ausência <strong>de</strong> uma indústria nacional consolidada, apta a aten<strong>de</strong>r à <strong>de</strong>manda por materiais e equipamentos necessários à<br />

produção das mais variadas etapas do mercado publicitário. Tudo isso prejudica sobremaneira os profissionais envolvidos no<br />

setor. é verda<strong>de</strong> que o quadro, a princípio, parece ser <strong>de</strong> difícil solução, mas acreditamos ser possível criar medidas capazes<br />

<strong>de</strong> contribuir para a melhora gradativa <strong>de</strong>stas questões <strong>de</strong> modo concreto e eficaz. A nosso ver, a priorida<strong>de</strong> neste momento<br />

é focada em duas ações:<br />

1) como quase tudo no Brasil, precisamos concentrar esforços em processos <strong>de</strong> formação e educação;<br />

2) ações <strong>de</strong> pressão por regularização e leis apropriadas: uma medida que exige doses excessivas <strong>de</strong> conscientização e comprometimento<br />

<strong>de</strong> nossa parte, mas que, sem dúvida, trará modificações extremamente positivas para o mercado.<br />

Quando usamos os termos formação e educação, gostaria <strong>de</strong> chamar a atenção para o verda<strong>de</strong>iro caos <strong>de</strong>corrente do <strong>de</strong>sconhecimento<br />

da Legislação dos Direitos Autorais. Um <strong>de</strong>sconhecimento que leva o cliente a pressionar a agência por procedimentos<br />

ilegais em licitações e concorrências, como no caso <strong>de</strong> exigências <strong>de</strong> cessão <strong>de</strong>finitiva <strong>de</strong> direitos. é uma prática que<br />

ocorre mesmo quando a agência e o fornecedor, atuando como organizador da obra coletiva, são proibidos <strong>de</strong> repassar os<br />

direitos <strong>de</strong> terceiros. Se tomarmos como exemplo o mercado editorial, veremos que o contrato entre o autor, que é o ce<strong>de</strong>nte<br />

192 193<br />

COMISSÃO 3 - PRESTADORES DE SERVIÇOS ESPECIALIZADOS E SUA RELAÇÃO COM AGÊNCIAS E CLIENTES


intelectual da obra, e a editora, responsável por formatar as idéias do autor em forma <strong>de</strong> livro para comercializá-lo, respeita um<br />

prazo <strong>de</strong>terminado após o qual o autor po<strong>de</strong>, se quiser, mudar a casa editorial. Se quiser fazê-lo antes disso, tem que arcar com<br />

uma multa que po<strong>de</strong> ser paga pela editora interessada. Mas, exceções à parte, no período em que vigora o contrato, é vedado<br />

à editora repassar, reproduzir ou comercializar textos, capítulos ou traduções daquela obra sem o prévio consentimento e<br />

negociação com o autor. Tudo muito simples e formal.<br />

Já no mercado da publicida<strong>de</strong>, isso não ocorre. Um exemplo é a exigência <strong>de</strong> cópias <strong>de</strong> veiculação sem remuneração. Isto,<br />

quando o cliente não gera as próprias cópias caracterizando, assim, ato <strong>de</strong> pirataria. Estas e outras atitu<strong>de</strong>s expõem todos os<br />

envolvidos, mas principalmente o próprio cliente, a po<strong>de</strong>r vir a sofrer ações na Justiça. Reafirmamos que uma das piores conseqüências<br />

da perpetuação <strong>de</strong>ssas e <strong>de</strong> outras práticas agressivas e ilegais, dada a simetria das negociações, é o sucateamento<br />

da indústria <strong>de</strong> produção, acompanhado da baixa qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> produtos gerados.<br />

Conforme já dissemos no início da nossa conversa, a propaganda brasileira já foi uma das mais premiadas e reconhecidas do<br />

planeta. Hoje, a redução drástica dos resultados das premiações internacionais <strong>de</strong>monstra o quanto este caminho é nocivo<br />

para todos, tanto do ponto <strong>de</strong> vista comercial quanto cultural. O talento não po<strong>de</strong> ser tratado como commodity. E se estivermos<br />

mesmo dispostos a ir fundo na questão, veremos que até o mercado <strong>de</strong> commodities tem regras mais claras <strong>de</strong> comercialização<br />

do que as praticadas na negociação da publicida<strong>de</strong> brasileira hoje.<br />

é claro que essa queda <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> vem acompanhada por uma invasão <strong>de</strong> produções internacionais das mais variadas espécies.<br />

Vivemos uma realida<strong>de</strong> tão surreal, que é possível um cliente internacional <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminada agência ou grupo multinacional,<br />

rentabilizar sua produção e exibir seu filme em nosso país sem nenhum tipo <strong>de</strong> controle. Basta executar o pagamento<br />

<strong>de</strong> uma mera contribuição à Ancine e provi<strong>de</strong>nciar alguns <strong>de</strong>talhes burocráticos. Feito isso, já é viável estas empresas obterem<br />

nacionalização <strong>de</strong> sua campanha. Até on<strong>de</strong> sabemos, essa verba se <strong>de</strong>stina a um fundo <strong>de</strong> fomento ao cinema nacional, mas<br />

fica a reflexão <strong>de</strong> que os profissionais e empresas prejudicadas não recebem nenhuma compensação.<br />

Temos consciência <strong>de</strong> que o cinema é estratégico, na medida em que ven<strong>de</strong> o Brasil no exterior, e conforme já dissemos,<br />

os maiores sucessos da era do cinema brasileiro serviam-se <strong>de</strong> profissionais oriundos da publicida<strong>de</strong>, mas ao se incentivar<br />

a internacionalização <strong>de</strong> comerciais estrangeiros, o que se faz é asfixiar a fonte <strong>de</strong> talentos bem treinados e preparados da<br />

publicida<strong>de</strong> nacional. Da mesma forma, ao usarmos trilhas sonoras internacionais e não garantirmos nenhum benefício aos<br />

produtores brasileiros, estamos matando as possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> competição num ramo em que, assim como o futebol, o Brasil<br />

é reconhecido como li<strong>de</strong>rança mundial.<br />

Caso não façamos algo rapidamente, o resultado será previsível e totalmente contrário ao que sonhamos para este mercado.<br />

Basta dizer que já estamos vivendo a era das produções realizadas fora do Brasil para serem exibidas aqui, cada vez mais, tendo<br />

também havido concorrência internacional <strong>de</strong> criação <strong>de</strong>ntro das agências.<br />

Sem radicalismo, mas com um tom <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> <strong>de</strong> nacionalismo, quando a criação e a produção forem feitas integralmente<br />

fora do país, teremos o fim <strong>de</strong> uma rica e promissora indústria. Lembrando um dos livros mais famosos do escritor Gabriel<br />

Garcia Marques, o que veremos é a “crônica <strong>de</strong> uma morte anunciada”. E o que se dará, é o que po<strong>de</strong>mos chamar <strong>de</strong> um verda<strong>de</strong>iro<br />

assassinato cultural.<br />

Como já mencionamos, existem fatores externos ao tripé cliente–agência–fornecedor; é o caso do “custo Brasil”, que tem o<br />

po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> agravar terrivelmente a situação no mercado. Tomemos como exemplo a trilha sonora <strong>de</strong> um filme comercial. A<br />

valorização cambial nos coloca em <strong>de</strong>svantagem enorme <strong>de</strong> concorrentes argentinos e mexicanos, por exemplo. Além disso,<br />

a taxação para importação <strong>de</strong> equipamentos <strong>de</strong> ponta para gravação chega a ser <strong>de</strong> até 100% no Brasil. Porém, ainda não são<br />

somente estes fatores <strong>de</strong> perda <strong>de</strong> competitivida<strong>de</strong>; pesa também uma carga tributária exorbitante que inclui outros <strong>de</strong>talhes.<br />

Dentre eles, o fato <strong>de</strong> que nem as prefeituras e seus fiscais, tampouco os financeiros das agências enten<strong>de</strong>m que a natureza do<br />

trabalho não seria <strong>de</strong> prestação <strong>de</strong> serviços, mas, sim, <strong>de</strong> concessão <strong>de</strong> direitos autorais, portanto, enquadrado na categoria <strong>de</strong><br />

locação <strong>de</strong> bens móveis. Tal classificação colocaria esta ativida<strong>de</strong> como isenta <strong>de</strong> emissão <strong>de</strong> nota fiscal e, consequentemente<br />

isenta <strong>de</strong> pagamento <strong>de</strong> ISS, PIS e Cofins. Há casos já transitados em julgamento pelo Supremo Tribunal Fe<strong>de</strong>ral; estamos<br />

falando <strong>de</strong> mais <strong>de</strong> 10% <strong>de</strong> tributação.<br />

Como se tudo isso não bastasse, em flagrante <strong>de</strong>srespeito ao que rege a lei do direito autoral, não há recolhimento <strong>de</strong> direitos<br />

<strong>de</strong> execução pública para a música associada a comerciais, por <strong>de</strong>cisão interna do Ecad. é evi<strong>de</strong>nte que tal receita se <strong>de</strong>svia<br />

aos compositores e gravadoras, criando artificialmente duas classes <strong>de</strong> criadores: os que recebem <strong>de</strong> acordo com a lei cada<br />

vez que ocorre a execução <strong>de</strong> sua obra, e os que não recebem, pois são vistos como os criadores mais bem remunerados, uma<br />

vez que atuam na propaganda. O fato é que parte significativa da receita <strong>de</strong> produtores musicais em países como Espanha,<br />

França, Inglaterra, Alemanha e Japão, entre outros, se compõe <strong>de</strong> direitos sobre a execução pública, seja em TV, rádio cinema<br />

ou eventos. Em outras palavras, esse dinheiro sairia do mesmo bolo <strong>de</strong> direitos autorais normais sem gerar custos adicionais<br />

ao cliente. Nossa proposta é criar uma ação educativa junto aos associados da ABA, com vistas a esclarecer a lei e os procedimentos<br />

corretos, sejam eles comerciais ou morais.<br />

Deveríamos começar com workshops <strong>de</strong>ntro da <strong>Abap</strong>, preparados para as entida<strong>de</strong>s dos fornecedores. Devemos <strong>de</strong>monstrar<br />

o quanto a visão selvagem do lucro imediato está solapando a credibilida<strong>de</strong> do próprio cliente. O passo seguinte é, <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong><br />

uma visão universal <strong>de</strong> mercado, inserir regras claras nas negociações <strong>de</strong> preços. A idéia é que as <strong>de</strong>cisões que influenciarão<br />

na escolha <strong>de</strong> um fornecedor não se baseiem somente nos valores financeiros, mas sim, na totalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> benefícios que ele<br />

oferece para a execução da tarefa criativa ocorra da melhor maneira possível.<br />

Em paralelo, é preciso criar condições <strong>de</strong> competições internacionais mais equilibradas. é curiosa a convivência <strong>de</strong> uma visão<br />

protecionista quanto da importação <strong>de</strong> equipamentos com uma visão liberalizante que permite a falta <strong>de</strong> controle e taxação<br />

<strong>de</strong> entrada <strong>de</strong> produções estrangeiras. O fato que ressaltamos impe<strong>de</strong> compensações dignas aos produtores nacionais <strong>de</strong><br />

cine, foto e áudio, ao contrário do que se faz em vários países. Proteger uma indústria inexistente no Brasil, que é a <strong>de</strong> equipamentos<br />

<strong>de</strong> filmagem, a gravação <strong>de</strong> alta performance e ao mesmo tempo que pune com uma liberalização excessiva <strong>de</strong> uma<br />

indústria <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> potencial exportador e geradora <strong>de</strong> valor cultural. Estamos convictos <strong>de</strong> que para mudar este quadro,<br />

precisaremos sensibilizar as autorida<strong>de</strong>s, alertando para o fato <strong>de</strong> que mudanças nas regras legais são imprescindíveis. Mas é<br />

necessário que em primeiro lugar estejamos conscientes <strong>de</strong> que esta luta coletiva exige aquela mesma sintonia sobre a qual<br />

já comentamos. A sintonia, o esmero, a inspiração e a capacida<strong>de</strong> técnica <strong>de</strong> boas e gran<strong>de</strong>s orquestras. Essa conversa é um<br />

convite para que possamos ir além, até porque já conhecemos os problemas do setor em profundida<strong>de</strong>. O que não po<strong>de</strong>mos<br />

é nos acostumar a eles a ponto <strong>de</strong> acreditar que não tenham mais solução.<br />

Está em nossas mãos mudar este cenário e conce<strong>de</strong>r às pessoas que fazem publicida<strong>de</strong> no Brasil os instrumentos necessários<br />

para que toquem suas obras com <strong>de</strong>senvoltura a<strong>de</strong>quada. é nosso <strong>de</strong>sejo que esse som possa se propagar e ganhar força,<br />

transformando-se numa sinfonia magistral. Usando as palavras que o Kofi Annan acabou <strong>de</strong> citar, “para atingir nossos objetivos,<br />

nós precisamos é <strong>de</strong> parceria”.<br />

Voltando ao início, e concluindo, é como Fernando Pessoa dizia: é preciso ser gran<strong>de</strong>. é preciso pensar gran<strong>de</strong>. é preciso agir<br />

gran<strong>de</strong>. Não queremos viver <strong>de</strong> lamúrias nem <strong>de</strong> migalhas; queremos apenas criar. Não queremos proteção exorbitante, nem<br />

tolerância exagerada; queremos respeito. Para ser gran<strong>de</strong>, sê inteiro. A nossa contrapartida é essa: a nossa inteireza no exercício<br />

<strong>de</strong> nosso ofício. Somos capazes <strong>de</strong> colocar, sim, tudo o que somos no mínimo que fazemos. Uma trilha muda uma imagem.<br />

Nossa imagem é a <strong>de</strong> um lago chamado Brasil, que precisa <strong>de</strong>sse brilho e <strong>de</strong> cada brasileiro com a esperança que é capaz <strong>de</strong><br />

dar. Se nos tirarem a esperança, nem sei o que dizer. Muito obrigado!<br />

Queria chamar agora nosso palestrante, que dispensa apresentações aqui ou em qualquer lugar do mundo. Washington<br />

Olivetto, por favor.<br />

Washington Olivetto<br />

Boa tar<strong>de</strong> a todos! Antes <strong>de</strong> começar vou fazer algo muito prático que tenho o hábito <strong>de</strong> fazer: vou contar até 3, e quando eu<br />

disser 3, quero que todos olhem para aquela pare<strong>de</strong>. é fácil. 1, 2, 3! Muito obrigado! Antes <strong>de</strong> falar em público, é sempre muito<br />

importante conhecer o perfil da platéia!<br />

Em outubro <strong>de</strong> 2000, fui convidado para fazer uma palestra nos Estados Unidos, na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Francisco, Califórnia, durante<br />

o <strong>Congresso</strong> da American Association of Advertising Agencies (AAAA). O evento, que também transcorria em dois dias, tinha<br />

duas palestras e <strong>de</strong>pois, papos. Eu fazia uma palestra no encerramento sobre criação e havia uma palestra na abertura sobre<br />

produção, feita pelo diretor inglês Tony Kay. Foi um ano em que os americanos optaram por ter profissionais <strong>de</strong> criação e produção<br />

não-norte-americanos falando. Minha palestra era na 4ª-feira à tar<strong>de</strong>, e a do Tony Kay era na 3ª.-feira <strong>de</strong> manhã.<br />

Para vocês terem uma idéia, em 2000, Tony Kay já era o mais badalado diretor <strong>de</strong> comerciais do mundo. Ele vinha daquela<br />

escola inglesa que tem uma certa similarida<strong>de</strong> com o que eu estava falando agora, por exemplo, dos hoje consagradíssimos<br />

Srs. Ridley Scott e Alan Parker, que começaram as suas vidas profissionais como diretores <strong>de</strong> comerciais.<br />

O Tony Kay vem <strong>de</strong>ssa escola: Ridley Scott, Alan Parker, Paul Ar<strong>de</strong>n e gran<strong>de</strong>s nomes. Em 2000, Tony Kay já tinha feito a maior<br />

parte das melhores campanhas, tinha dirigido boa parte das brilhantes campanhas <strong>de</strong> cervejas inglesas ou belgas — como<br />

a Stella Artois, que passava tanto nos noticiários —; já tinha feito praticamente toda a comunicação da empresa Virgin, do<br />

Richard Branson; inclusive, duas campanhas dos Estados Unidos muito conhecidas e muito notórias: a <strong>de</strong> preservação e cuidados<br />

com os homeless (moradores <strong>de</strong> rua) <strong>de</strong> Nova York, e a antidrogas.<br />

Tony Kay, naquele momento, era <strong>de</strong>cididamente uma gran<strong>de</strong> estrela da publicida<strong>de</strong> mundial e eu, sem nenhuma falsa modéstia,<br />

posso dizer que a palestra <strong>de</strong>le era muitíssimo mais esperada do que a minha, no outro dia. Eu já conhecia o Tony Kay<br />

há algum tempo.<br />

(Existe um livro muito bom publicado em <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong>ste ano chamado Adland, do inglês Mark Tungate, que relata a história<br />

dos diretores ingleses que, <strong>de</strong>pois, se transformaram em gran<strong>de</strong>s diretores <strong>de</strong> longas-metragens, como o Ridley Scott, Alan<br />

Parker, o Tony Kay, o nosso Walter Moreira Salles, o Andrucha ou o Fernando Meirelles, que saíram da publicida<strong>de</strong> como ele<br />

comentou.)<br />

Cheguei a São Francisco na 3ª-feira à tar<strong>de</strong> e notei que já tinha acontecido a palestra <strong>de</strong>le <strong>de</strong> manhã e que algumas pessoas<br />

estavam revoltadas; outras estavam verda<strong>de</strong>iramente maravilhadas. Os mais interessantes eram os maravilhados. Naquela<br />

noite, fui convidado para jantar com o organizador do evento, Andrew Jaffe, um jornalista norte-americano que, durante anos,<br />

dirigiu a revista Ad Week — e dirige uma editora muito competente, especializada em comunicação.<br />

(Há anos, Andrew Jaffe teve a iniciativa <strong>de</strong> publicar o ótimo livro <strong>de</strong> Jean-Marie Dru, Disruption. Jean-Marie não achava que o<br />

livro estava bem amarrado, e Andrew amarrou.) Fui convidado para jantar com Andrew Jaffe, que me contou o que tinha acontecido<br />

na palestra do Tony Kay, durante o período da manhã. A palestra que o Tony Kay tinha se proposto a fazer era sobre produção.<br />

O tema da palestra era “como agências e anunciantes po<strong>de</strong>m obter brilhantes trabalhos <strong>de</strong> diretores e produtoras”.<br />

Tony Kay foi apresentado naquela semana pelo Lee Klaus, que já era — e continua sendo — o mais talentoso nome em<br />

ativida<strong>de</strong> da publicida<strong>de</strong> norte-americana. Lee, obviamente, exaltou as qualida<strong>de</strong>s, o talento, a obra <strong>de</strong> Tony Kay e anunciou:<br />

“Agora, com vocês, o diretor inglês Tony Kay, que vai fazer a palestra ‘como agências e anunciantes po<strong>de</strong>m obter trabalhos <strong>de</strong><br />

altíssima qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> diretores e produtoras’”.<br />

O Tony Kay subiu ao palco acompanhado <strong>de</strong> dois enormes seguranças, pegou o microfone e disse: “Eu vou explicar a vocês<br />

como agências e anunciantes po<strong>de</strong>m obter brilhantes trabalhos <strong>de</strong> produtoras e diretores. Confiem!”. Virou as costas, foi embora<br />

e a palestra acabou.<br />

Eu me lembrei disso, porque na verda<strong>de</strong>, ele conseguiu, com uma palavra, resumir possivelmente tudo o que seja a ambição<br />

do momento que estamos vivendo agora, do dia que estamos fazendo, <strong>de</strong> um eventual documento que vá se gerar aqui e <strong>de</strong><br />

uma postura. Eu, obviamente, não ia ser maluco <strong>de</strong> terminar meu papo dizendo “confiem”, mas queria falar um pouquinho da<br />

sensação que tenho <strong>de</strong>sse momento. Eu tive que fazer algumas escolhas para falar hoje aqui. Primeira: é melhor eu ser cordial<br />

ou sincero? Optei por ser sincero. A outra escolha: é melhor eu ser político ou honesto? Optei por ser honesto, porque acho<br />

que se eu não for muito claro em tudo o que vou dizer, a minha vinda não tem muita função, e também não haveria por que<br />

dizer nada mais do que aquele “confiem”, da história que contei.<br />

Para falarmos dos dias <strong>de</strong> hoje, temos que fazer um retrospecto. Eu, particularmente, me sinto na obrigação <strong>de</strong> fazer isso. Há<br />

algum tempo, quando alguém me pergunta a respeito do futuro, digo: eu espero que <strong>de</strong>sses anos 2000 em diante, a publicida<strong>de</strong><br />

e a comunicação — não dá mais para usar só a palavra publicida<strong>de</strong>; estamos falando <strong>de</strong> uma coisa muito mais ampla<br />

que envolve uma série <strong>de</strong> outras, que, <strong>de</strong> fato, são a mesma — evoluam tanto nesses novos tempos, que consigam atingir os<br />

patamares <strong>de</strong> excelência e qualida<strong>de</strong> dos anos 80.<br />

Se progredirmos muito, conseguiremos alcançar esses patamares <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong>. O curioso é que não se trata só <strong>de</strong> um problema<br />

<strong>de</strong>ssa ativida<strong>de</strong>. As ativida<strong>de</strong>s criativas no mundo têm sofrido isso <strong>de</strong> maneira diferentemente problemática. Fiquei<br />

surpreso com uma entrevista do Paul McCartney em fevereiro <strong>de</strong>ste ano. Ele disse que todas as vezes em que perguntam para<br />

ele sobre o futuro da música, ele sonha que ela fique tão mo<strong>de</strong>rna quanto foi no início dos anos 1960. As ativida<strong>de</strong>s criativas<br />

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COMISSÃO 3 - PRESTADORES DE SERVIÇOS ESPECIALIZADOS E SUA RELAÇÃO COM AGÊNCIAS E CLIENTES


no mundo sofrem problemas que envolvem a área criativa e a área negocial — talvez a área criativa por causa da área negocial;<br />

talvez a área negocial, por causa da área criativa —, e é aí que precisamos chegar a um patamar mais interessante.<br />

Tive o privilégio <strong>de</strong> começar a trabalhar em publicida<strong>de</strong> exatamente no início dos anos 70. Muitas coisas boas aconteceram<br />

na minha vida profissional e isso se <strong>de</strong>ve fato <strong>de</strong>, quando comecei a trabalhar em publicida<strong>de</strong>, a geração anterior à minha ter<br />

profissionalizado a propaganda brasileira. Ela <strong>de</strong>ixou um espaço muito bom para que profissionais com a minha ambição, ou<br />

outros, encontrassem uma maneira <strong>de</strong> fazer um pouco mais a partir <strong>de</strong> algo que já tinha sido feito. Um exemplo muito claro<br />

das áreas <strong>de</strong> produção: até os anos 60, a publicida<strong>de</strong> brasileira sequer era cogitada como existente no mundo; na América<br />

do Sul, a melhor publicida<strong>de</strong> era a Argentina, que chegou a ter, nos anos 60, por exemplo, o maior laboratório <strong>de</strong> revelação<br />

cinematográfica do mundo — não da América do Sul — proprieda<strong>de</strong> da família Louw, cuja her<strong>de</strong>ira é Úrsula Louw, que mora<br />

em Buenos Aires.<br />

A publicida<strong>de</strong> Argentina tinha qualida<strong>de</strong>, bons diretores <strong>de</strong> arte, gran<strong>de</strong>s fotógrafos, alguns diretores vindos do cinema —<br />

caso <strong>de</strong> Luis Puenzo, diretor <strong>de</strong> comerciais que <strong>de</strong>pois ganhou um Oscar, com “A História Oficial”; caso do Andrés Bukowinski,<br />

que veio nos anos 70 para o Brasil e foi o único diretor latino-americano a receber o Grand Prix <strong>de</strong> Cannes nos anos 60, pela<br />

Argentina.<br />

A geração profissional dos anos 60, anterior à minha, profissionalizou a propaganda no Brasil, <strong>de</strong>ixando-a melhor do que a<br />

propaganda da Argentina. Precisamos imaginar também coisas que aconteceram nessa geração e que viabilizaram a minha<br />

geração; <strong>de</strong>pois, viabilizaram <strong>de</strong>terminados requintes <strong>de</strong> produção e uma série <strong>de</strong> coisas, filhas da geração anterior. Temos que<br />

imaginar esse pessoal dos anos 60, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a implantação da dupla <strong>de</strong> criação pelo Alex Periscinoto, na Alcântara Machado. Não<br />

po<strong>de</strong>mos conversar a respeito da relação com a produção, se não falarmos do todo. Estamos falando <strong>de</strong> um negócio no qual<br />

o conteúdo é fundamental. Se ele não for bom, não se po<strong>de</strong> acusar os produtores, responsáveis pela forma. Estes estão sendo<br />

responsabilizados, nos dias <strong>de</strong> hoje, por uma série <strong>de</strong> coisas, inclusive o pouco conteúdo, que é a gran<strong>de</strong> questão.<br />

A geração dos anos 60 fez coisas interessantíssimas. O profissional <strong>de</strong> rádio e TV —da Almap, do Alex Periscinoto — se chamava<br />

José Bonifácio <strong>de</strong> Oliveira Sobrinho, o Boni, que, sem dúvida transformou-se <strong>de</strong>pois no homem mais bem-sucedido e<br />

bem-pago da história da TV mundial. Naquele momento, já se começava a ter um requinte <strong>de</strong> produção. Não é <strong>de</strong> graça que<br />

o Boni é até da mesma família do Guga, que <strong>de</strong>pois o suce<strong>de</strong>u, e do Julinho Xavier da Silveira, primo do Boni.<br />

Nos anos 60, temos os primeiros anúncios fotográficos feitos pelo Brasil, para o lançamento do Ford Galaxy, pela Metro 3, dos<br />

mesmos Petit e Zaragoza, que <strong>de</strong>pois foram os fundadores da DPZ. O fotógrafo do momento era, por exemplo, Otto Stupakoff.<br />

O Miro era assistente e carregava as câmeras do Otto.<br />

Quando garoto, eu tinha um amigo cujos pais eram gran<strong>de</strong>s intelectuais. Ele era filho da Pagu; o pai <strong>de</strong>le era o Sr. Geraldo Ferraz,<br />

crítico <strong>de</strong> arte fantástico, amigo íntimo <strong>de</strong> figuras notáveis da cultura brasileira — ele era amigo da Semana <strong>de</strong> 22 inteira.<br />

Ele inclusive tomou a Pagu do Oswald <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong>; era amigo do Portinari.<br />

A casa do Sr. Geraldo Ferraz tinha a mais impressionante biblioteca que já vi na minha vida; havia um busto do Sr. Geraldo<br />

Ferraz feito por Vitor Brecheret; os móveis <strong>de</strong> Warchavchik da Semana <strong>de</strong> 22 estavam na sala <strong>de</strong>le. Eu estava com 18 anos <strong>de</strong><br />

ida<strong>de</strong> e adorava ir à casa do Sr. Geraldo para ver os livros e conversar com ele. Estava começando a trabalhar em publicida<strong>de</strong><br />

e o Sr. Geraldo me prestigiava muito, me achava legal.<br />

Paralelamente, eu tinha alguns amigos da cultura popular; já era amigo <strong>de</strong> um pessoal <strong>de</strong>z anos mais velho que eu — Caetano<br />

Veloso, Gilberto Gil, gente da poesia como Roberto Piva. Ganhei <strong>de</strong> um amigo um livro <strong>de</strong> poesias pelo qual eu fiquei fascinado.<br />

Ele tinha acabado <strong>de</strong> fazer o livro e <strong>de</strong>ntro das páginas, nos poemas, as palavras tinham tamanhos diferentes, <strong>de</strong> acordo<br />

com o sentido que ele queria dar a elas. Se ele queria a palavra mais agressiva, ela ficava gran<strong>de</strong>, <strong>de</strong>pois ficava pequena.<br />

Era uma coisa esteticamente revolucionária e eu adorei o meu livro, achei que meus amigos eram o auge da vanguarda. Fui à<br />

casa do Sr. Geraldo mostrar o meu livro e fui à biblioteca <strong>de</strong>le. Mostrei meu livro, orgulhoso. Ele pegou em sua biblioteca um<br />

livro do Maiakóvski, <strong>de</strong> 1923, que tinha esse efeito e uma lente encartada para fazer mais bem feito. O novo sempre existe, mas<br />

às vezes, para muitas pessoas, na verda<strong>de</strong>, é filho do <strong>de</strong>sconhecimento do já existente.<br />

Vamos falar em produção <strong>de</strong> conteúdo; é engraçado imaginarmos, no passado, a chamada <strong>de</strong> uma novela, com a seguinte<br />

frase: “Colgate Palmolive apresenta...”; isso era produção <strong>de</strong> conteúdo. Se olharmos os livros, jornais, e documentarmos o trabalho<br />

da Rhodia nos anos 60, encontraremos trabalhos integrados que envolviam mídia impressa, brilhante trabalho <strong>de</strong> rádio,<br />

patrocínio <strong>de</strong> televisão, <strong>de</strong>sfiles <strong>de</strong> moda e shows. Em 1968, a Rhodia foi patrocinadora do primeiro show dos Tropicalistas.<br />

Certamente, nenhum anunciante do mundo participou em lugar nenhum da implantação <strong>de</strong> um movimento cultural <strong>de</strong><br />

tamanha importância, e isso ocorreu em 1968.<br />

Estou contando tudo isso, porque aquela geração realmente <strong>de</strong>ixou as portas abertas para se fazer direito. Eu nasci em setembro<br />

<strong>de</strong> 1951, ano em que a televisão foi implantada no Brasil; já nasci assistindo televisão. Eu tinha uma relativa vocação<br />

natural, que <strong>de</strong>pois direcionei para a escrita; tinha um fascínio por escrever para todas as mídias e um não-preconceito com<br />

a mídia eletrônica.<br />

Na Lince Propaganda, a primeira agência <strong>de</strong> publicida<strong>de</strong> em que fui trabalhar, tive a sorte <strong>de</strong> encontrar Sérgio Graciotti, um<br />

profissional com uma vocação muito forte para mídia eletrônica, que percebeu que eu gostava daquilo e começou a me<br />

ensinar. Com o primeiro comercial que escrevi na vida, ganhei um Leão <strong>de</strong> Bronze no Festival <strong>de</strong> Cannes. Fiquei numa enorme<br />

dúvida: quem tinha errado, eu ou o júri? Na verda<strong>de</strong>, eu tinha escrito uma idéia cheia <strong>de</strong> complicações; o Sérgio Graciotti<br />

eliminou todas, transformando tudo num bom e premiado filme.<br />

Logo <strong>de</strong>pois, tive o privilégio <strong>de</strong> trabalhar na DPZ, que está fazendo 40 anos, oficialmente esta semana. Foi uma gran<strong>de</strong> escola<br />

para mim e para os profissionais <strong>de</strong> criação sob os pontos <strong>de</strong> vista estético e ético. A DPZ era um lugar on<strong>de</strong> havia muito a<br />

apren<strong>de</strong>r sobre o que eu estava com mais vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> fazer. Sou fascinado por todas as mídias, mas sempre tive um encantamento<br />

especial pela mídia eletrônica e era a parte <strong>de</strong> que a DPZ e seus fundadores não gostavam tanto assim.<br />

Na época, fazia-se uma piada malvada: a DPZ era chamada <strong>de</strong> “Os Guttenbergs”, pela forte qualida<strong>de</strong> gráfica do Petit e do<br />

Zaragoza. Naquele momento, a DPZ já tinha noções totais <strong>de</strong> que, seja num simples folheto para o pedágio, seja no mais<br />

digitalizado dos meios, uma coisa vai continuar sendo sagrada no negócio da comunicação: a presença da gran<strong>de</strong> idéia. E nós<br />

tínhamos consciência do óbvio: uma má produção po<strong>de</strong> estragar uma boa idéia. Sabíamos que não há produção que salve<br />

uma má idéia, já que a produção pura e simplesmente traveste, fantasia a idéia.<br />

Por isso, a nossa relação com o pessoal <strong>de</strong> produção naquele período já era muito exacerbada. Era muito importante para nós<br />

que toda e qualquer idéia nossa fosse produzida pelo melhor, o mais aparelhado, o mais talentoso e o mais feliz para fazer isso,<br />

porque no negócio da comunicação, a infelicida<strong>de</strong> fica impressa no trabalho; se não for feito por gente que se gosta, gente<br />

feliz, gente que respeita, po<strong>de</strong> até sair direito, mas não sai brilhante.<br />

Naquele momento, por exemplo, nós tínhamos profissionais como o David Zing, ícone da fotografia. O Otto já morava nos<br />

Estados Unidos; o Miro começava a fazer fotografias exuberantes. Quando o Andrés Bukowinski soube que um rapaz <strong>de</strong> 18<br />

anos no Brasil ganhara um prêmio em Cannes, ele percebeu que a propaganda na Argentina estava começando a cair e<br />

mudou para o Brasil. Ele fez seu primeiro filme no Brasil comigo. Quando ele foi me procurar, eu estava começando. Naquele<br />

momento, outras agências buscavam padrões <strong>de</strong> excelência e a DPZ se caracterizava por isso. Junto com isso, existiam coisas<br />

<strong>de</strong> respeito, fatores éticos.<br />

Para fazer direito, tenho que ser mais sincero do que cordial, mais honesto do que político: foi na DPZ que aprendi e pratiquei<br />

— pratico e praticarei isso a minha vida inteira, mesmo isso eventualmente me custando dinheiro — que é totalmente<br />

<strong>de</strong>scabida a prática dos BVs <strong>de</strong> produção e vou explicar, para não gerar confusões. Os BVs <strong>de</strong> veiculação estão atrelados a<br />

uma economia <strong>de</strong> escala, a uma somatória <strong>de</strong> negócios e foram inventados pelo Walter Clark, pelo Arce e pelo Boni, visando<br />

exatamente profissionalizar o negócio, na medida em que as agências — para investirem volumes <strong>de</strong> todos os seus clientes<br />

em <strong>de</strong>terminados veículos — precisam que esses veículos sejam extremamente eficientes e talentosos.<br />

Isso <strong>de</strong>sapareceu com as negociações informais ou amadorísticas e tem lógica: em qualquer ramo <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>, uma empresa<br />

que trabalha diversas vezes com <strong>de</strong>terminado negócio, é beneficiada. No caso da produção não, porque ela tem uma característica<br />

artesanal; cada caso é um caso. Quando isso acontece, este dinheiro vai sair <strong>de</strong> algum lugar, que po<strong>de</strong> ser da qualida<strong>de</strong><br />

do trabalho ou até do direito <strong>de</strong> recusa. Isso eu aprendi na DPZ e pratiquei a minha vida inteira.<br />

Foi na DPZ , por exemplo, que tive o privilégio <strong>de</strong> cismar, porque não gostava dos milicos, que nunca faria campanha política<br />

na minha vida — e continuo sem fazer até hoje. Fui respeitado porque tinha empregadores magníficos.<br />

Falando das áreas <strong>de</strong> produção, chegamos aos primórdios dos padrões <strong>de</strong> excelência da publicida<strong>de</strong> brasileira: a busca <strong>de</strong><br />

uma linguagem totalmente talentosa — isso vale para as mídias que tínhamos naquele tempo e continua valendo para todas<br />

as que temos hoje. Neste momento, existe uma luta <strong>de</strong> classes em andamento. Na área <strong>de</strong> comunicação, há quem diga: “Agora<br />

a coisa é só digital!” “Agora, eventos!”. As coisas são complementares. Existe um artigo muito bom do Boni no último Anuário<br />

<strong>de</strong> Propaganda, on<strong>de</strong> ele constata que o jornal não <strong>de</strong>sapareceu com o teatro; que o cinema não <strong>de</strong>sapareceu com o teatro;<br />

que televisão não <strong>de</strong>sapareceu com o rádio. As coisas são complementares, e se elas não tiverem talento empregado, não<br />

acontecem.<br />

Naquele momento, começou a se perceber que era preciso ter com nossos produtores — e em geral — uma relação <strong>de</strong><br />

profunda honestida<strong>de</strong> e cumplicida<strong>de</strong>, que precisa envolver o anunciante, a agência e o produtor. E temos que buscar uma<br />

linguagem brasileira. Foi on<strong>de</strong> eu comecei a me movimentar mais flagrantemente, porque tinha algumas ambições, sob o<br />

ponto <strong>de</strong> vista intelectual, em áreas que eu sabia que eu não teria bom <strong>de</strong>sempenho.<br />

Quando eu tinha 15 anos, eu queria ficar famoso para pegar umas mulheres — todos os meninos querem fazer isso, certo? —,<br />

e <strong>de</strong>scobri que não ia conseguir virar o Mick Jagger, ou o centroavante titular da Seleção Brasileira. Pensei que precisava fazer<br />

algum negócio on<strong>de</strong> eu tivesse bom <strong>de</strong>sempenho. Com o passar do tempo, <strong>de</strong>scobri outra coisa: apesar <strong>de</strong> eu ter muitos<br />

amigos em áreas que não eram a publicida<strong>de</strong> — mas era um realimento da publicida<strong>de</strong> —, eu não tinha o talento <strong>de</strong>les para<br />

virar um <strong>de</strong>les.<br />

Por outro lado, como eu tinha muito fascínio pela área <strong>de</strong> trabalho do meu pai, vendas, busquei on<strong>de</strong> seria possível trabalhar<br />

com criação e ven<strong>de</strong>r a publicida<strong>de</strong>. Naquele momento, começamos a buscar, junto com o pessoal <strong>de</strong> produção, um formato<br />

brasileiro. Não foi coincidência o primeiro Leão <strong>de</strong> Ouro da publicida<strong>de</strong> brasileira ter sido feito por um filme com um tema<br />

absolutamente brasileiro.<br />

Um problema que só acontecia no Brasil: os anúncios classificados <strong>de</strong> muitas empresas tinham uma restrição à ida<strong>de</strong> da pessoa.<br />

Por exemplo, “Procura-se engenheiro com ida<strong>de</strong> máxima <strong>de</strong> 40 anos”. Era como escrever: não aceitamos mulheres. Mais<br />

do que ganhar um Leão <strong>de</strong> Ouro em Cannes, aquele trabalho gerou um Projeto <strong>de</strong> Lei e a proibição daquilo. Foi algo efetivo<br />

no quadro social. A partir daquele momento, começou a se estabelecer uma linguagem brasileira.<br />

Vamos refletir sobre o sucesso internacional da propaganda brasileira durante muito tempo — e neste livro que citei, do Mark<br />

Tungate, o Adland, a propaganda brasileira é a única não anglo-saxã que tem dois capítulos. O que foi, no fundo, o Garoto<br />

Bombril, em 1978? A coloquialida<strong>de</strong> das ruas, um sujeito falando: “A senhora está careca <strong>de</strong> saber!”. Em 1981, um filme da<br />

agência Norton do Rio <strong>de</strong> Janeiro para a Telerj ganhou um Leão em Cannes com um samba chamado “Fala com ele, Elizabeth”,<br />

composto por Macalé, apaixonado pelo Moreira da Silva.<br />

Os mecanismos <strong>de</strong> produção já tiveram momentos <strong>de</strong> elegância muito fortes. Eu mesmo, na minha época <strong>de</strong> DPZ, tive o<br />

privilégio <strong>de</strong> contratar o Gutemberg Guarabira para ser o meu profissional <strong>de</strong> som, e o Tom Zé — este Tom Zé que está em<br />

todos os livros do MoMA —, por exemplo, para fazer um jingle para as máquinas <strong>de</strong> escrever Olivetti, cuja percussão era feita<br />

por máquina <strong>de</strong> escrever e que tinha exatamente os referenciais da cultura brasileira. Quando este trabalho ganhou um Clio<br />

em Cannes, o pessoal dizia que foi inspirado em Erik Satie.<br />

Esses prazeres todos foram fazendo da propaganda brasileira a propaganda que gerou o comercial Fiat–Lazaroni; a propaganda<br />

que permitiu que, em 1988, quando fizemos o filme “Passeata” da Staroup — que também ganhou um Leão <strong>de</strong> Ouro —, ele<br />

fosse totalmente referenciado no movimento estudantil <strong>de</strong> 1968 no Brasil que estava cumprindo 20 anos, e, por isso mesmo,<br />

este formato foi constituindo uma cara do Brasil visível, bacana.<br />

Tem <strong>de</strong> tudo: os Collor <strong>de</strong>pois do impeachment, até chegarmos ao trabalho brasileiro tido como o melhor dos últimos anos. é<br />

o próximo a entrar no The Hundred Best, o comercial para a revista época que fizemos em 2000. Se analisarmos aquela construção<br />

não-maniqueísta, veremos que ela é prima-irmã da cultura que está na música, por exemplo, do Arnaldo Antunes.<br />

Tudo foi andando muito bem e essas relações começaram a parecer muito boas. No caso da relação das agências e dos anunciantes<br />

com os mecanismos <strong>de</strong> produção em geral, é preciso analisar que ela é feita por seres humanos, portanto, quanto<br />

melhores forem estes seres humanos, melhor ela será. Ninguém fica ético ou com caráter por <strong>de</strong>cretos, como “a partir <strong>de</strong> amanhã,<br />

todos serão sérios e terão bom caráter”. Esses seres humanos têm que ser melhores e precisam ter, <strong>de</strong>pois, um profundo<br />

conhecimento da ativida<strong>de</strong>. Essa é a gran<strong>de</strong> questão.<br />

Seja nas áreas <strong>de</strong> relação com as produtoras eletrônicas, seja na mídia impressa, existem duas únicas alternativas para se fazer<br />

um bom trabalho. Um formato eficientíssimo é o <strong>de</strong> agências que tenham um brilhante profissional <strong>de</strong> rádio e TV, com noção<br />

do todo, da capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> negociação, do que se preten<strong>de</strong> da criação. Outro formato que funciona: brilhantes profissionais <strong>de</strong><br />

196 197<br />

COMISSÃO 3 - PRESTADORES DE SERVIÇOS ESPECIALIZADOS E SUA RELAÇÃO COM AGÊNCIAS E CLIENTES


criação que saibam eleger os mecanismos <strong>de</strong> produção e profissionais <strong>de</strong> atendimento suficientemente treinados para cuidar<br />

<strong>de</strong> negociações, para estruturar tudo, com consciência <strong>de</strong> todos os <strong>de</strong>talhes <strong>de</strong> produção.<br />

Ambos os formatos funcionam perfeitamente, mas não po<strong>de</strong>m ter qualida<strong>de</strong> mediana. A mesma coisa acontece com o material<br />

fotográfico. No caso do art buyer, se você tiver um bom profissional <strong>de</strong>ssa área, indubitavelmente ele po<strong>de</strong> cumprir essa<br />

função muito bem. Assim como bons diretores <strong>de</strong> arte e bons profissionais <strong>de</strong> atendimento que saibam negociar, cumprem<br />

bem. Também temos que pensar que a função da agência nisso é muito importante na origem do negócio. Nenhum gran<strong>de</strong><br />

diretor se sente magoado com este comentário, porque ele sabe que é verda<strong>de</strong>. Enquanto o cinema longa-metragem é um<br />

cinema <strong>de</strong> diretores, o cinema <strong>de</strong> publicida<strong>de</strong> é um cinema <strong>de</strong> scripters. O cinema longa-metragem é uma manifestação <strong>de</strong><br />

opinião. O cinema <strong>de</strong> publicida<strong>de</strong> é uma manifestação <strong>de</strong> opinião <strong>de</strong> um produto. Portanto, cabe aos criadores li<strong>de</strong>rarem o<br />

diretor e, <strong>de</strong>pois, pegarem a maior carga <strong>de</strong> talento que este diretor possa fornecer.<br />

Volto à palavra “confiança”. Passei este final <strong>de</strong> semana revisando um livro que pretendo lançar na próxima Bienal do livro em<br />

agosto. Esse livro tem uma história muito curiosa. Em 1988, foi feito o comercial Valisère, o primeiro soutien, o comercial brasileiro<br />

mais reconhecido na história da propaganda. é o único que ganhou todos os prêmios do Brasil e do mundo, enquanto<br />

alguns comerciais ingleses, por exemplo, só ganharam os prêmios do mundo. Ele é um fenômeno da cultura popular.<br />

Neste ano, ele está fazendo 21 anos. Contratei uma pesquisadora e ela levantou todas as utilizações da frase “O primeiro ... a<br />

gente nunca esquece” feitas <strong>de</strong>pois do comercial. Ela achou 78 mil. Eu passei todos os finais <strong>de</strong> semana e boa parte das minhas<br />

noites dos últimos 18 meses selecionando e encontrei coisas brilhantes: tem Arnaldo Jabor, “A primeira agarrada, a gente<br />

nunca esquece”; João Ubaldo Ribeiro; Hélio Gaspari; Agamenon Men<strong>de</strong>s Pedreira. Estou com um livro que conta tudo isso e<br />

é um produto cultural interessante.<br />

O livro começa comigo contando a história da criação e produção do comercial “O primeiro soutien”, e <strong>de</strong>pois seus <strong>de</strong>sdobramentos.<br />

Fui pesquisar até os custos da época e conto na abertura do livro que quando nós tivemos a idéia, tínhamos também<br />

consciência <strong>de</strong> que o cliente, a Valisère, jamais tinha feito um comercial na vida. Ela era uma empresa habituada — particularmente<br />

a família Rosset — a fazer propaganda em mídia impressa e com características <strong>de</strong> editorial, portanto, com fotos ao<br />

custo do mercado editorial, que é diferente do mercado impresso.<br />

Quando surgiu a idéia do filme, eu chamei a Rosa Jonas, que dirigia a Espiral Filmes, e falei: “Este filme eu quero fazer com o<br />

Julinho. Já tenho outros filmes <strong>de</strong> nível afetivo que fizemos juntos e <strong>de</strong>u muito certo. é um roteiro excepcional, é um cliente<br />

que não tem know-how <strong>de</strong> aprovar mídia eletrônica e qualquer orçamento vai ser um susto para ele, mas acho que vale a<br />

pena, sem vocês per<strong>de</strong>rem dinheiro, tentarmos viabilizar isso”.<br />

Naquela época, o filme foi orçado a um valor equivalente a US$ 88 mil atuais, o que não era nada. No mecanismo utilizado<br />

para produção — aí cabe treinamento nas áreas <strong>de</strong> agências, atendimento, clientes —, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo do ritmo em que você<br />

encaminha as coisas, os filmes custam mais caro ou mais barato. O gesto <strong>de</strong> produzir eletrônico, por exemplo, tem dois fatores<br />

fundamentais: tempo e dinheiro, e muitas vezes, se você tem mais tempo, economiza dinheiro; se você tem menos tempo,<br />

gasta mais dinheiro. Se tiver os dois e o fator confiança, não há dúvida nenhuma <strong>de</strong> que vai andar bem.<br />

Então, no livro “Valisère, primeiro soutien”, eu conto essa história, e conto uma anterior. Precisamos parar com essa coisa <strong>de</strong> uma<br />

produtora saber que ela vai investir o seu tempo fazendo 15 orçamentos dos quais ela possivelmente não vai ganhar nenhum.<br />

E aí, o que ela vai tentar fazer? Vai cobrar em outro. é mais do que humano isso! Obviamente que toda e qualquer reunião<br />

<strong>de</strong>snecessária entra na conta do filme. Então, se conseguir enxugar as reuniões, dá para fazer mais barato.<br />

Com o Valisère, primeiro soutien aconteceu uma coisa <strong>de</strong> uma profunda obvieda<strong>de</strong>. Eu fiz uma reunião com o Julinho e disse<br />

o que eu queria do filme. Eu <strong>de</strong>fendo que os trabalhos <strong>de</strong> produção ficam prontos na última reunião <strong>de</strong> produção. Se esta<br />

reunião tiver sido boa, o resto é <strong>de</strong>talhe, é só fazer, não vai dar problema. Eu sempre tive por hábito acreditar nas pessoas com<br />

quem eu trabalho. Quando o Julinho disse que tinha a menina, eu fiquei tranqüilo. Ele tinha 28 meninas testadas. Quando vi<br />

a Patrícia Lucchesi, eu falei: “Vamos fazer.” Curiosamente, quem estava nos testes era a apresentadora Eliana, que não era nossa<br />

preferida porque era três anos mais velha que a Patrícia, que tinha 11 anos, e tinha os cabelos lisos (nós queríamos cabelos<br />

encaracolados).<br />

Durante anos, nós conseguimos manter isso na publicida<strong>de</strong> brasileira. Então, aconteceu um problema muito sério e eu me<br />

sinto um pouco responsável por isso, sem querer ter sido. Em 1986, quando nós montamos a W/Brasil, eu vinha <strong>de</strong> uma situação<br />

atípica. Fui o único profissional bem-sucedido da minha geração que tinha se proposto a ficar sempre na mesma agência<br />

— fiquei 15 anos na DPZ. Então, pu<strong>de</strong> construir uma relação <strong>de</strong> trabalho com os anunciantes e apren<strong>de</strong>r.<br />

Quando montei a W/Brasil, eu tinha um projeto i<strong>de</strong>ológico muito bem estabelecido e uma visibilida<strong>de</strong> pública que me favorecia<br />

muito. Mas a minha visibilida<strong>de</strong> pública foi filha do meu trabalho. Primeiro, meu trabalho ficou famoso; <strong>de</strong>pois eu fiquei<br />

famoso e isso me favoreceu. A W/Brasil realmente foi muito bem, mas aconteceu algo que, infelizmente, foi característico do<br />

nosso negócio. Eu não tenho a mínima vocação política e nunca escondi isso. Sempre acreditei que o que eu podia fazer para<br />

a minha profissão, além <strong>de</strong> um bom trabalho, era dar <strong>de</strong>terminados exemplos no trabalho, no comportamento, mas nunca<br />

acreditei que eu pu<strong>de</strong>sse ser eficiente como um dirigente da classe. E não tenho dúvida <strong>de</strong> que eu seria um fracasso. Eu não<br />

acho que o Tom Jobim tenha que ser o presi<strong>de</strong>nte da Or<strong>de</strong>m dos Músicos, mas eu acho que a Or<strong>de</strong>m dos Músicos tem que ter<br />

presi<strong>de</strong>nte e ser estruturada. Infelizmente, por uma série <strong>de</strong> circunstâncias, não se criaram lí<strong>de</strong>res da característica do negócio<br />

como da geração anterior à minha. E, <strong>de</strong> repente, a li<strong>de</strong>rança das áreas criativas <strong>de</strong>ntro da agência, que é uma coisa maravilhosa,<br />

passou a ser também um <strong>de</strong>feito. E a W/Brasil, como spot light, gerou muito isso.<br />

Eis o maior problema que percebi e racionalizei em 1990: a visibilida<strong>de</strong> da W/Brasil ganha principalmente através <strong>de</strong> festivais e<br />

da minha pessoa, e eu sou muito grato aos festivais. Eles me <strong>de</strong>ram visibilida<strong>de</strong> pública. Começou a ser um pouco mal-interpretada<br />

a idéia <strong>de</strong> “faça um gran<strong>de</strong> trabalho e você será bem-sucedido e reconhecido”. Ela foi trocada por “fique conhecido e<br />

você vai conseguir trabalho”, o que é um problema. Isso começou a gerar distorções em todas as áreas e bateu na produção.<br />

Assim foi pensado o Festival <strong>de</strong> Cannes: em 1953, a família alemã Rothschild já era proprietária <strong>de</strong> todos os cinemas da Europa.<br />

Na Europa, particularmente naquela época, a televisão era incipiente na maior parte dos países e a publicida<strong>de</strong> eletrônica que<br />

existia era muito forte em cinema, e os Rothschild achavam que os comerciais incomodavam as pessoas que iam ao cinema<br />

para ver o filme. E eles resolveram fazer um festival <strong>de</strong> cinema publicitário, para incentivar a melhoria da qualida<strong>de</strong>: o Festival<br />

<strong>de</strong> Cinema Publicitário <strong>de</strong> Cannes. O primeiro não foi em Cannes, mas em Veneza, daí os prêmios serem os leões, réplicas da<br />

Piazza São Marco.<br />

Durante muitos anos, o festival não tinha fins lucrativos e os Rothschild pagavam a conta. O júri era a tropa <strong>de</strong> elite da publicida<strong>de</strong><br />

mundial, aqueles que não precisavam mais ganhar prêmio nenhum. O festival tinha como critério, mais do que ficar<br />

distribuindo medalhinhas para pessoas do mundo adulto, documentar a qualida<strong>de</strong> da profissão.<br />

Em 1989, a família Rothschild quebrou no mundo, o que prova que nenhuma fortuna é in<strong>de</strong>strutível. O último dos Rothschild<br />

suicidou-se, atirando-se do último andar <strong>de</strong> uma suíte no hotel Le Bristol, em Paris.<br />

O festival foi vendido e passou a ser administrado por Roger Hatchuel e pela Screenvision, com fins lucrativos. O evento era<br />

o único mecanismo para saber o que tinha acontecido <strong>de</strong> bom na publicida<strong>de</strong> mundial naquele ano. Hoje nós temos isso<br />

diariamente no computador <strong>de</strong> casa e a importância do festival passou a ser muito mais um evento social, palestra, etc., do<br />

que a disputa dos prêmios.<br />

Nos anos 90, a publicida<strong>de</strong> brasileira — que estava com uma forte i<strong>de</strong>ntificação negocial com a publicida<strong>de</strong> norte-americana<br />

e inglesa, e com uma forte i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> brasileira — cometeu o erro <strong>de</strong> se “espanholizar”. Explico: a publicida<strong>de</strong> espanhola e<br />

latino-americana nunca teve gran<strong>de</strong> disciplina negocial. E os espanhóis gostaram da idéia <strong>de</strong> ganhar prêmios com anúncios<br />

que não existiam. Os brasileiros começaram a fazer o mesmo. Na época, inventei o termo “propaganda fantasma”, na Folha <strong>de</strong><br />

S.Paulo, e as pessoas não gostaram. Depois, começou a se falar em ghost advertising. O negócio da propaganda tem um briefing,<br />

um anunciante com problema mercadológico, uma agência que sabe resolver, um veículo e um consumidor que recebe<br />

o material, aprova ou não; compra ou não. Se tirarmos um dos quatro pés da mesa, ela cai, e eu diria que é quase ingênuo<br />

não perceber isso.<br />

Paralelamente, temos os fenômenos <strong>de</strong> tecnologia. Na área <strong>de</strong> produção gráfica, existem coisas maravilhosas, como os scanners,<br />

práticos no cotidiano, como item contemporâneo. Porém, tudo o que é bom po<strong>de</strong> ser ruim. O scanner po<strong>de</strong> fazer um<br />

diretor <strong>de</strong> arte ficar preguiçoso, escaneando uma foto existente, reproduzindo o velho ao invés <strong>de</strong> criar o novo. Com isso, também<br />

se permite a feitura <strong>de</strong> anúncios que não são anúncios e, mesmo assim, vão para o festival. é a obsessão pela visibilida<strong>de</strong><br />

internacional, que faz com que se troque um ano <strong>de</strong> trabalho por uma semana <strong>de</strong> pseudo-sucesso; uma história construída<br />

por uma tragédia anunciada.<br />

Então, a propaganda brasileira começou a <strong>de</strong>sconfigurar sua estética. Para aquele entendimento <strong>de</strong> uma semana só, vamos<br />

fazer algo que seja traduzível, e não verda<strong>de</strong>iramente bom. Para isso, temos que produzir. E, para produzir, nós vamos quase<br />

extorquir nossos fornecedores, porque eles são pressionados a aten<strong>de</strong>r seus clientes. Tudo isso envolve dinheiro e acaba gerando<br />

um produtinho final <strong>de</strong> péssima qualida<strong>de</strong> para aquela semana, que inva<strong>de</strong> o resto do ano, o resto do tempo.<br />

Esse problema invadiu todas as áreas. é uma pena: produzimos brilhantes profissionais no Brasil na geração anterior à minha,<br />

na minha geração e na geração posterior. Nos últimos <strong>de</strong>z anos, eu tirei a W/Brasil da estrutura <strong>de</strong> festivais, mas vejo alguns<br />

profissionais muito bons obcecados por <strong>de</strong>terminados eventos. é como se o Caetano Veloso ou o Chico Buarque se inscrevessem<br />

em todos os festivais <strong>de</strong> música que aparecem todos os anos. Isso não acontece, é <strong>de</strong>scabido. é lógico que a ambição<br />

do jovem pelo reconhecimento é totalmente pertinente, mas tenho a sensação <strong>de</strong> que temos um problema mais grave a ser<br />

resolvido agora. A propaganda brasileira precisa recuperar sua auto-estima. Não é verda<strong>de</strong> que a publicida<strong>de</strong> Argentina já<br />

seja melhor que a nossa. A publicida<strong>de</strong> Argentina que está sendo inscrita nos festivais é melhor que a nossa. O cotidiano em<br />

qualquer veículo <strong>de</strong> comunicação, seja mais tradicional ou mais <strong>de</strong> vanguarda em Buenos Aires ou em qualquer lugar da Argentina,<br />

não é, mas há uma preocupação <strong>de</strong> auto-estima, <strong>de</strong> união do mercado e estão sendo recuperadas algumas coisas.<br />

Deveríamos pensar que do jeito e no ritmo em que estamos, é muito difícil que a propaganda no Brasil sobreviva sob o ponto<br />

<strong>de</strong> vista <strong>de</strong> negócio e <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong>, <strong>de</strong> maneira próspera. Po<strong>de</strong>m publicar quntos press-releases forem, dizendo que não é<br />

verda<strong>de</strong>; todo mundo po<strong>de</strong> dizer que está ficando rico, charmoso, bonito, mas não é a verda<strong>de</strong>, o cotidiano do negócio. E não<br />

é o cotidiano <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong>. Nós já estivemos muito próximos da tropa <strong>de</strong> elite da publicida<strong>de</strong> norte-americana e inglesa. Já<br />

caminhamos juntos e, às vezes, até com uma média mais alta que a norte-americana — nunca tão alta quanto a inglesa <strong>de</strong><br />

1970 para cá. Hoje não estamos nisso, e temos outro problema: não estamos sabendo criar novos talentos com serieda<strong>de</strong>, e<br />

estamos per<strong>de</strong>ndo antigos talentos por <strong>de</strong>sleixo.<br />

Annie Leibowitz, uma das mais bem-sucedidas fotógrafas do mundo, que começou na publicida<strong>de</strong> e faz publicida<strong>de</strong> até hoje,<br />

completará 60 anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong> em 2009 e está mais próspera, mais vanguarda, mais up-to-date do que nunca. Basta olhar a foto<br />

do Keith Richards que ela fez para a Louis Vuitton em todas as campanhas atuais. Seu talento é reconhecido e isso não impe<strong>de</strong><br />

o surgimento <strong>de</strong> novos talentos norte-americanos. é ótimo que existam bancos <strong>de</strong> imagem como fontes <strong>de</strong> informação, mas<br />

eles também não po<strong>de</strong>m se transformar numa via <strong>de</strong> mão única, on<strong>de</strong> só os fotógrafos internacionais ficam favorecidos. é<br />

importante que os jovens trabalhem com tecnologias <strong>de</strong> outro tipo <strong>de</strong> <strong>de</strong>finição, e certamente outra qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> impressão,<br />

mas profissionais <strong>de</strong> agência e anunciantes têm que estar preparados para julgar que o custo <strong>de</strong>ssas coisas é diferente, e a<br />

qualida<strong>de</strong> não é necessariamente igual. Se não pensarmos assim, não será possível construirmos mais Annies Leibowitz no<br />

futuro, nem mantermos as nossas do presente.<br />

Em abril passado, o MoMA, em Nova York, inaugurou uma exposição sobre George Louis que, além do exuberante diretor <strong>de</strong><br />

arte que fez a estética <strong>de</strong> Cutty Sark, a cara da MTV, fez também todas as capas da imprensa mundial consi<strong>de</strong>radas as melhores<br />

(revista Esquire <strong>de</strong> 62 a 72, incluindo aquela capa do Mohamed Ali como São Francisco <strong>de</strong> Assis, com as flechas). Essa exposição<br />

foi aberta no MoMA agora em abril e vai até março do ano que vem, e vale a pena ver. O Sr. George Louis está com 82 anos<br />

<strong>de</strong> ida<strong>de</strong> e foi convidado para reestruturar a marca da MTV, que ele mesmo fez no lançamento. Nós não estamos conseguindo<br />

manter nossos gran<strong>de</strong>s talentos <strong>de</strong> direção <strong>de</strong> arte e não estamos produzindo profissionais com esse padrão.<br />

Enfim, tenho a impressão <strong>de</strong> que eu não saberia recomendar que documento nós po<strong>de</strong>riamos fazer com base no que conversamos<br />

hoje. Não saberia dizer a vocês qual é o resumo disso que, objetivamente, possa ser colocado em prática. Eu posso<br />

passar uma sensação, pois um simples papel não faz isso; o que faz é uma atitu<strong>de</strong>, uma postura, um jeito, uma integração. Se<br />

eu tivesse que <strong>de</strong>finir o que imagino sobre as relações <strong>de</strong> produção da propaganda brasileira e o que elas são — e temos que<br />

responsabilizar as agências e os anunciantes, que representam a outra ponta —, eu diria que no todo, a propaganda brasileira<br />

me passa a sensação <strong>de</strong> precisar (e não é um jogo <strong>de</strong> palavras) <strong>de</strong> um pouco <strong>de</strong> “sangue velho”, mas não falo <strong>de</strong> faixa etária: é<br />

gente com espírito <strong>de</strong> companheirismo, respeito ao trabalho, ética, como muitos já tiveram e isso não é uma questão da ida<strong>de</strong><br />

que as pessoas têm, mas <strong>de</strong> como elas são. As pessoas <strong>de</strong> 18 anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong> po<strong>de</strong>m ser assim, e gente mais velha também.<br />

Esse espírito <strong>de</strong> nós pegarmos tudo o que foi feito <strong>de</strong> bom e tentar reavivar é a única coisa que vai nos permitir fazer coisas<br />

verda<strong>de</strong>iramente novas, verda<strong>de</strong>iramente interessantes.<br />

Obviamente, tenho uma agência <strong>de</strong> publicida<strong>de</strong> que não tem mais um paste-up; no entanto, tenho uma empresa <strong>de</strong> inter-<br />

198 199<br />

COMISSÃO 3 - PRESTADORES DE SERVIÇOS ESPECIALIZADOS E SUA RELAÇÃO COM AGÊNCIAS E CLIENTES


net chamada Parangolé e o mesmo discurso que faço para aquele pessoal, eu fazia para o paste-up anos atrás. A questão da<br />

preservação da gran<strong>de</strong> idéia, do respeito ao trabalho, da integração é a nossa gran<strong>de</strong> discussão. Eu já vi casos — e eu aprendi<br />

a ser ssim — on<strong>de</strong> sequer se permitia numa reunião que um layout fosse encostado no chão ou numa pare<strong>de</strong>, por ser uma<br />

peça digna, que teve a <strong>de</strong>dicação <strong>de</strong> muitas pessoas que pensaram, trabalharam, quer o cliente goste ou não. O material <strong>de</strong>ve<br />

ser mantido num local nobre, em cima da mesa. Esse espírito está <strong>de</strong>saparecendo. A aura <strong>de</strong> <strong>de</strong>scartabilida<strong>de</strong> está muito alta<br />

e não é um problema somente da propaganda, mas do quadro social.<br />

Andy Wharol dizia que no ano 2000 todos seriam famosos por 15 minutos. Po<strong>de</strong>mos dizer que em 2000, todos serão vulgares<br />

por algumas horas. Estamos vivendo numa socieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> muitas celebrida<strong>de</strong>s e poucas “cerebrida<strong>de</strong>s”, e eu não vou ser chato<br />

em afirmar que só uma coisa é boa: o fascinante é a mescla disso. é preciso ter um toque <strong>de</strong> vulgarida<strong>de</strong> também, um pouquinho<br />

<strong>de</strong> erro, mas é preciso ser, principalmente, digno e verda<strong>de</strong>iro. Muito obrigado.<br />

Zezinho mutarelli<br />

Vou chamar os <strong>de</strong>batedores. Tínhamos um ví<strong>de</strong>o que explicava o que acontece com os fornecedores. Estou exemplificando<br />

um mercado e não uma situação com um cliente. Hoje, quando um cliente vai lançar um produto, os passos são: pesquisar;<br />

criar a embalagem; colocar em pesquisa; e colocar em ponto-<strong>de</strong>-venda para avaliar a aceitação. Às vezes, passam-se dois anos<br />

para o cliente chegar com este produto na agência para ven<strong>de</strong>r e criar uma campanha e gastam-se milhões.<br />

Ultimamente, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> todo este dinheiro gasto — pegamos números reais e às vezes, chegam a ser R$ 100 milhões em dois<br />

anos <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento —, temos 20 dias para criar um filme com uma produtora <strong>de</strong> ví<strong>de</strong>o — consequentemente áudio<br />

ou fotógrafo —, gasta-se mais não sei quantos milhões para ficar seis meses no ar. Muitas vezes, a trilha é feita numa tar<strong>de</strong>,<br />

numa madrugada e, às vezes, não tem nem quem vá tocar, (nós arrumamos e não sabemos quem vai ser, pois será o músico<br />

que estiver disponível no momento). Sabemos muito bem que acabamos gerando um resultado ruim, economizando tempo<br />

e dinheiro (contratando atores ou locutores mais baratos) e veiculando em massa.<br />

O cliente gasta milhões para imprimir no mercado o produto que ele tanto namorou. Fizemos um paralelo com a gravi<strong>de</strong>z:<br />

quando o casal “fica grávido”, imagina o filho estudando em Harvard, pensa que será maravilhoso, eticamente correto, etc.<br />

Começa a escolher o quarto do bebê, o nome… que maravilhoso! Mas, na hora do parto, contratam alguém para cuidar do<br />

assunto, que sai em busca do parto mais barato.<br />

Chegou a hora <strong>de</strong> fazer o parto e o filho tão maravilhoso acaba sendo o filme que nós vamos fazer. O ví<strong>de</strong>o só estava mostrando<br />

esse conceito com números mais concretos. Por exemplo: gasta-se 2% na produção <strong>de</strong> algo e, no fim, 98% são gastos em<br />

tempo e dinheiro para se formar isso.<br />

Washington Olivetto<br />

As mesmas coisas po<strong>de</strong>m ser feitas da maneira certa e da maneira errada. Vou dar dois exemplos muito curiosos. Está se falando<br />

das tais “mesas <strong>de</strong> produção”. A maior parte das que temos notícia tem sido <strong>de</strong>scabida, porque são administradas pelos<br />

mesmos profissionais que compram coisas que não têm nada a ver com isso.<br />

Isso não significa que não existam anunciantes com formatos mercadológicos sofisticadíssimos, a ponto <strong>de</strong> terem até isso e<br />

com condições <strong>de</strong> participar acrescentando algo ao trabalho. Simon Clift, que dirige o marketing mundial da Unilever, é um<br />

sujeito que tem feito uma verda<strong>de</strong>ira revolução na empresa. Ele envolveu, <strong>de</strong>ntro da Unilever, gente especializada em áreas<br />

<strong>de</strong> produção, para facilitar a ativida<strong>de</strong> das agências junto às produtoras. é o mesmo profissional que teve a mentalida<strong>de</strong> <strong>de</strong>,<br />

por exemplo, convencer a Unilever <strong>de</strong> que, para mo<strong>de</strong>rnizar sua imagem, <strong>de</strong>veria patrocinar o lançamento da galeria Tate<br />

Mo<strong>de</strong>rn, em Londres.<br />

As pessoas perguntam a minha opinião sobre a agência e o cliente acompanharem as filmagens. Se não forem atrapalhar e<br />

enten<strong>de</strong>rem do assunto, tudo bem! Como acho que os trabalhos ficam prontos na última reunião <strong>de</strong> produção, se <strong>de</strong>ixarmos<br />

a equipe livre para trabalhar, ela po<strong>de</strong> fazer o que queremos, criar; assim, os diretores <strong>de</strong> proutoras não se transformam em<br />

hostess ou concierges — porque eles ficam paparicando o cliente e a agência continua a fazer o filme. Além disso, se você não<br />

for, não per<strong>de</strong>rá seu direito sagrado <strong>de</strong> recusar.<br />

Quanto aos prêmios fantasmas, as documentações da ativida<strong>de</strong> ficam erradas. Se quisermos saber o que foi feito <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong><br />

em <strong>de</strong>terminado ano, veremos que o que consta nunca foi visto por ninguém. Porém, já tem gente com raciocínio diferente.<br />

A Procter & Gamble, que tem muitas agências diferentes no mundo, <strong>de</strong>tectou que algumas <strong>de</strong>las estavam utilizando o nome<br />

Procter & Gamble para fazer filmes para festival. Até compreen<strong>de</strong>ram que há uma necessida<strong>de</strong> dos profissionais ganharem<br />

prêmios, status. Eles fizeram um formato muito curioso. No ano passado, <strong>de</strong>cidiram: para que as agências não infringissem<br />

nenhuma regra, <strong>de</strong>ram-lhes a liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> fazer os materiais, veiculariam num mercado específico, como teste, e utilizariam a<br />

veiculação como pesquisa e o festival como teste. é um mecanismo interessante e se criou um processo.<br />

No ano passado, o Claudinho Santos, do Estadão, estava preocupado exatamente com a volta da auto-estima e do prestígio.<br />

Infelizmente, não pu<strong>de</strong> operacionalizar isso por falta <strong>de</strong> tempo da minha parte e da dos envolvidos também. Eu tinha a idéia<br />

<strong>de</strong> um processo <strong>de</strong> recuperação <strong>de</strong> auto-estima e auto-respeito do Brasil nestes festivais e fui almoçar com o Fernando Meirelles<br />

para fazer isso, mas ele estava envolvido com o filme do Saramago e eu com muitas coisas da W/Brasil. Eu queria fazer<br />

uma união dos gran<strong>de</strong>s anunciantes brasileiros que, junto com algumas gran<strong>de</strong>s produtoras e com veículos, se propusessem a<br />

produzir com inteira liberda<strong>de</strong> algumas peças <strong>de</strong> linguagem absolutamente brasileira, que seriam remuneradas praticamente<br />

e publicamente a preço <strong>de</strong> custo, porque era um teste, também seriam veiculadas a um custo específico como um teste, e<br />

pesquisadas a preço específico. Assim, po<strong>de</strong>ríamos produzir uma geração nova <strong>de</strong> brilhantes trabalhos com cara brasileira,<br />

que, na minha opinião, é o que está nos faltando. Há muito a ser feito.<br />

Zezinho mutarelli<br />

Chamo Leyla Fernan<strong>de</strong>s, que está representando a Associação das Produtoras <strong>de</strong> Ví<strong>de</strong>o (Apro). Vamos chamar todo mundo.<br />

Aliás, na nossa Comissão, fizemos questão <strong>de</strong> chamar todos os representantes <strong>de</strong> todas as partes, pois temos clientes, agências<br />

e fornecedores.<br />

Vamos chamar o Thomas Roth, representando a Associação Brasileira das Produtoras <strong>de</strong> Fonogramas para Publicitários (Aprosom).<br />

Vou chamar um cliente, Antônio Baltar Jr., gerente <strong>de</strong> marketing da Ford, que consegue ter mesa <strong>de</strong> compra e trabalhar<br />

muito bem. Queremos transformar tudo em regras e leis e, para tanto, vamos chamar nosso advogado, Paulo Gomes <strong>de</strong><br />

Oliveira Filho — que, coinci<strong>de</strong>ntemente, é advogado dos dois lados. E como relator, o Dr. João Paulo Morello, que também é<br />

advogado e nosso relator. Na or<strong>de</strong>m em que eu chamei, cada um vai apresentar a sua parte.<br />

leyla fernan<strong>de</strong>s<br />

Boa tar<strong>de</strong>. Me confiaram este tema porque há cinco anos, a Apro está no projeto Filme Brasil e o tema é concorrência internacional.<br />

Este projeto foi criado para ven<strong>de</strong>r as produtoras para o mundo, para o mercado internacional. Isso nos <strong>de</strong>u uma<br />

experiência sobre o mercado exterior e hoje a Apro está apta a esclarecer muitas dúvidas sobre as produções no mercado<br />

internacional.<br />

Se entrarmos no <strong>de</strong>talhamento <strong>de</strong> cada país, ficaremos horas explicando as características <strong>de</strong> cada um. Vou esclarecer apenas<br />

alguns pontos que hoje alguns clientes querem colocar em prática no Brasil, sem o menor critério, muitas vezes utilizando o<br />

conceito pela meta<strong>de</strong>. Um <strong>de</strong>les é o orçamento <strong>de</strong>talhado. Na maioria dos países, o orçamento é aberto, por isso não significa<br />

que ele será questionado item por item. Isso, se a produtora estivesse trabalhando por administração; aí sim, o cliente teria<br />

um supervisor geral para administrar as contas. Esse formato é trabalhoso e já foi abandonado na maioria dos países. O atual<br />

e mais utilizado mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> orçamento internacional é <strong>de</strong>talhado, porque simplesmente qualquer item que seja alterado ou<br />

acrescido durante a produção, será pago à parte, nem que seja um simples cafezinho.<br />

Outro motivo do <strong>de</strong>talhamento que a maioria dos mercados internacionais possuem é uma forma <strong>de</strong> seguro que sobre a<br />

nossa produção no Brasil, infelizmente, ainda não existe (ou existe só em parte).<br />

O nosso formato <strong>de</strong> orçamento é fechado: o cliente compra um filme <strong>de</strong> 30 ou 60 segundos por um valor total. Não cabe a<br />

ele alterar itens, porque a responsabilida<strong>de</strong> total sobre cada um dos 300 itens do orçamento é da produtora. Depois que o<br />

orçamento é fechado e aprovado, nossos clientes locais não admitem o repasse nem mesmo daquele cafezinho.<br />

Outro termo utilizado na hora da negociação com as produtoras é o buy-out, que virou quase uma lenda <strong>de</strong>ntro das nossas<br />

negociações. O cliente quer para sempre, quer para tudo e isso não existe em lugar nenhum do mundo. Todos sabem que<br />

na Europa e nos Estados Unidos, não se faz absolutamente nada <strong>de</strong> graça. Não existe o termo “para sempre”. O buy-out, mais<br />

utilizado especificamente nos Estados Unidos, é uma expressão para <strong>de</strong>finir a contratação <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>los que, em alguns casos,<br />

recebem por inserção. Quando são contratados para todas as mídias, o contrato vem com o termo buy-out para todas as mídias.<br />

Em geral, a valida<strong>de</strong> <strong>de</strong>sses contratos é <strong>de</strong> três a seis meses, porque só pelo fato <strong>de</strong> ser para todas as mídias, ele já atinge<br />

valores astronômicos. Portanto, precisamos parar <strong>de</strong> utilizar esse termo, para indicar para tudo e para sempre; isso não existe<br />

em lugar nenhum. Repetir isso é uma <strong>de</strong>monstração <strong>de</strong> profundo <strong>de</strong>sconhecimento do nosso próprio negócio. Pedidos buyout<br />

ou prazos longos só encarecem nossos custos.<br />

O importante para enfrentarmos a concorrência internacional é estarmos atentos e bem informados sobre os mercados concorrentes.<br />

Temos um padrão internacional <strong>de</strong> produção, porém, cumprindo as nossas regras e leis específicas para o nosso<br />

mercado. é importante pararmos <strong>de</strong> colocar as regras internacionais mal compreendidas como moeda <strong>de</strong> negociação. Nenhuma<br />

produtora brasileira entra numa concorrência para per<strong>de</strong>r. Estamos fazendo tudo para manter os filmes aqui, negociando<br />

até nosso limite, mas precisamos da parceria das agências, dos anunciantes, para enten<strong>de</strong>r as diferenças entre os<br />

países, e também comprar o esforço <strong>de</strong> manter nossa produção aqui.<br />

Devemos preservar os direitos dos terceiros envolvidos e cumprir os prazos <strong>de</strong> veiculação e pagamentos contratualmente<br />

assumidos, <strong>de</strong> acordo com nossas regras e leis. Sobre a importação <strong>de</strong> filmes, que a cada dia está aumentando e ten<strong>de</strong> a<br />

acabar com a indústria da propaganda, é preciso ficar claro que é nociva para toda a ca<strong>de</strong>ia do mercado. Inicialmente, per<strong>de</strong>m<br />

as produtoras; <strong>de</strong>pois vêm as agências e, em seguida, os anunciantes, com o volume enorme <strong>de</strong> filmes importados. Devemos<br />

auxiliar os Po<strong>de</strong>res Executivos e Legislativo na elaboração <strong>de</strong> projetos <strong>de</strong> lei e no cumprimento total das leis já existentes para<br />

a proteção do nosso mercado. Para a credibilida<strong>de</strong> do nosso mercado, <strong>de</strong>vemos prestigiar a produção publicitária nacional,<br />

que é competitiva e bastante criativa. Obrigada.<br />

Zezinho mutarelli<br />

Vamos chamar agora Thomas Roth, que vai dar a sua palavra.<br />

Thomas Roth<br />

Eu gosto <strong>de</strong> falar <strong>de</strong> improviso também; gosto <strong>de</strong> brincar, dar risada, como qualquer um <strong>de</strong> nós, mas este momento é bastante<br />

sério e vou me permitir ler o que preparei, não sem antes dizer que fiquei muito feliz ao ouvir as palestras do Kofi Annan e do<br />

Washington Olivetto.<br />

Dei um título ao texto: confiança, transparência e diálogo. Vivemos hoje uma realida<strong>de</strong> on<strong>de</strong> o pragmatismo, o imediatismo<br />

e o oportunismo têm prevalecido. O <strong>de</strong>srespeito às leis, a relativização das normas <strong>de</strong> conduta e a não-observância dos procedimentos<br />

<strong>de</strong> praxe são crescentes e são do conhecimento <strong>de</strong> todos, especialmente no âmbito publicitário. Mais do que<br />

mudanças tecnológicas, assistimos a significativas mudanças <strong>de</strong> comportamento e ética em nossas relações.<br />

Vamos aos fatos. Quando se fala em qualida<strong>de</strong>, criativida<strong>de</strong> e significância <strong>de</strong>ntro do processo da comunicação, o setor que<br />

aqui represento — o do som publicitário — é colocado sempre na ponta. Todos são unânimes em reconhecer a imensa contribuição<br />

do som, graças ao seu po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> sensibilizar, emocionar e “grudar” na orelha. Isso ocorre quando criamos assinaturas,<br />

vinhetas, jingles e trilhas com melodias inesquecíveis, que, com o tempo, se tornam indissociáveis e verda<strong>de</strong>iros símbolos<br />

sonoros da marca ou do produto do cliente; seja por interpretações <strong>de</strong> cantores, músicos, atores, locutores, os quais, por serem<br />

talentos individuais, fazem e trazem o diferencial, a i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>, imprimindo a cada peça personalida<strong>de</strong> única. Exatamente por<br />

estas características, temos nossos direitos protegidos por cláusulas pétreas estabelecidas pela Constituição Fe<strong>de</strong>ral. O po<strong>de</strong>r<br />

das várias ferramentas e instrumentos dos quais o som dispõe acaba se transferindo para a marca do cliente e, por fim, passa<br />

a traduzi-la e a representá-la, agregando valor à marca.<br />

Tudo isso, sem dúvida, nos coloca numa ponta privilegiada. Mas, paradoxalmente, nos vemos também na ponta oposta. Fazemos<br />

parte <strong>de</strong> um dos segmentos mais <strong>de</strong>srespeitados hoje sob todos os ângulos, e aí não estamos mais sozinhos. Fazem parte<br />

do nosso grupo fotógrafos, gráficas, produtoras <strong>de</strong> cinema e outros tantos. Não vou me alongar com questões como pouco<br />

prazo, pouca verba, provas que não são pagas, <strong>de</strong>mos que não são pagos, noites, madrugadas, fins <strong>de</strong> semana perdidos, com<br />

tentativas das agências, prospects <strong>de</strong> clientes, peças fantasmas, peças para prêmios, e assim por diante. Não vou entrar no mérito<br />

da questão dos atrasos <strong>de</strong> pagamento, que não são poucos — ao contrário, estão se tornando uma constante. Questões<br />

antigas e sérias, porém, negociais e circunstanciais, sem dúvida.<br />

200 201<br />

COMISSÃO 3 - PRESTADORES DE SERVIÇOS ESPECIALIZADOS E SUA RELAÇÃO COM AGÊNCIAS E CLIENTES


Na verda<strong>de</strong>, falo dos constantes avanços sobre as fronteiras que <strong>de</strong>limitam nossos direitos autorais e conexos. Falo das cópias<br />

piratas, cópias <strong>de</strong> veiculação que nos pertencem e que nos são literalmente roubadas. Quando esses direitos são questionados<br />

ou violados, pouco ou nada nos resta e, em última instância, quem per<strong>de</strong> é o próprio cliente, porque ao <strong>de</strong>struir nosso<br />

mercado, está <strong>de</strong>struindo também uma po<strong>de</strong>rosa arma para a comunicação e construção <strong>de</strong> sua marca.<br />

De outro modo, quando os clientes <strong>de</strong>sprezam as prerrogativas da agência <strong>de</strong> indicar e escolher os prestadores <strong>de</strong> serviços<br />

que esta consi<strong>de</strong>ra os melhores para atingir o resultado <strong>de</strong>sejado, criando bancas <strong>de</strong> compras — que são, na verda<strong>de</strong>, em<br />

gran<strong>de</strong> parte, bancas <strong>de</strong> leilão e não têm outra função senão a <strong>de</strong> fazer valer a lei <strong>de</strong> preço mais baixo —, subvertem-se completamente<br />

a razão e o bom-senso. Quando o cliente se sobrepõe à agência, escolhe o diretor do filme, a produtora, a trilha<br />

ou o fotógrafo não mais por critérios técnicos ou estéticos, abre-se um fosso entre as partes e cria-se um gran<strong>de</strong> impasse.<br />

Empurra-se todo mundo para a vala comum do “salve-se quem pu<strong>de</strong>r”. Mesmo que as empresas ou profissionais participantes<br />

do leilão sejam indicadas pela agência, a relação, obviamente, passa a ser totalmente <strong>de</strong>sequilibrada.<br />

São muitas as particularida<strong>de</strong>s e características que nos diferenciam, produtora a produtora, profissional a profissional. São<br />

inúmeras as variantes e possibilida<strong>de</strong>s que dinamicamente surgem após a tomada <strong>de</strong> preços, o que é muito importante.<br />

Numa reunião <strong>de</strong> pré, <strong>de</strong> produção, quando o diretor do filme passa a trabalhar em cima do projeto aprovado, ele dará sua<br />

interpretação, sua marca pessoal, e cada qual fará <strong>de</strong> modo completamente diferente e distinto; daí a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma<br />

relação extremamente próxima e transparente entre agência, cliente e produtora, e, acima <strong>de</strong> tudo, <strong>de</strong> uma escolha criteriosa<br />

<strong>de</strong>ste profissional ou fornecedor.<br />

O mesmo acontece com o som. Exatamente por ven<strong>de</strong>rmos bens móveis, objeto <strong>de</strong> criação intelectual, não po<strong>de</strong>mos ficar à<br />

mercê <strong>de</strong> compradores <strong>de</strong> parafusos e nos sujeitarmos a pedidos <strong>de</strong>scabidos, ilegais ou simplesmente inaceitáveis. Ven<strong>de</strong>mos<br />

talento, criação, emoção, e não commodities; não somos insumo. é preciso que o cliente tenha discernimento, luci<strong>de</strong>z e critérios<br />

profissionais para escolher seus parceiros, sua agência, seus fornecedores, em função daquilo que estes po<strong>de</strong>m produzir e<br />

incrementar em seus negócios, e não do que ele consegue economizar com as suas barganhas ou as <strong>de</strong> suas bancas.<br />

Infelizmente, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente da ignorância, do <strong>de</strong>sconhecimento e da prepotência <strong>de</strong> alguns que se supõem acima da<br />

lei, somos obrigados a constatar que nossas relações lamentavelmente, estão <strong>de</strong>sgastadas. A percepção <strong>de</strong> que somos todos<br />

parceiros diretamente interessados no sucesso do cliente é algo que já não soa mais confiável. Quando eu saí do banco <strong>de</strong><br />

faculda<strong>de</strong>, era isso que eu entendia, foi assim que aprendi, era assim que eu enxergava, e é assim que enxergo até hoje. é aí<br />

que resi<strong>de</strong> o equívoco. Repito sempre um sábio provérbio chinês que para mim é mais do que ilustrativo: “se você confia no<br />

homem, contrate-o; se não confia, mate-o”. Não há e não po<strong>de</strong> haver espaço para meio-termo . Não po<strong>de</strong>mos mais viver nesta<br />

atmosfera <strong>de</strong> <strong>de</strong>sconfiança e <strong>de</strong>scrédito. Tampouco po<strong>de</strong>mos abrir mão da garantia <strong>de</strong> nossos direitos. é preciso recuperar<br />

a verda<strong>de</strong>, reestabelecer a lógica, resgatar nosso entendimento, o entendimento entre todas as partes. De outro modo, não<br />

conseguiremos construir relações sólidas e duradouras entre agências, clientes e prestadores <strong>de</strong> serviços especializados.<br />

Proponho, assim, a criação <strong>de</strong> uma agenda positiva, com seminários e workshops com a participação <strong>de</strong> todas as entida<strong>de</strong>s<br />

representativas do setor, que nos propicie a queda dos muros e a construção <strong>de</strong> pontes que nos conduzam ao futuro on<strong>de</strong><br />

prevaleçam, <strong>de</strong> fato, a confiança, a transparência e o diálogo.<br />

Finalizando, vou me apropriar <strong>de</strong> um exemplo sempre citado pelo presi<strong>de</strong>nte <strong>de</strong>ste painel, Zezinho Mutarelli. Está na hora<br />

<strong>de</strong> pararmos <strong>de</strong> jogar tênis e começarmos a jogar frescobol. Porque no tênis, o objetivo é jogar a bolinha fora do alcance do<br />

adversário. No frescobol, ao contrário, além <strong>de</strong> não termos um adversário, e sim um parceiro, o objetivo é jogar a bolinha na<br />

mão <strong>de</strong>le, para que o jogo seja duradouro e prazeroso. Que assim seja! Muito obrigado!<br />

Washington Olivetto<br />

Nesses anos todos, po<strong>de</strong>mos ver que é perfeitamente possível ter disciplina nas coisas. Quem se beneficiou fortemente e<br />

tem uma disciplina fabulosa em relação ao negócio da publicida<strong>de</strong> e aos anunciantes são as editoras musicais. A utilização da<br />

música do autor consagrado é um fenômeno relativamente recente na propaganda brasileira, que data dos anos 70, daqueles<br />

comerciais <strong>de</strong> Hollywood que fazíamos na DPZ. Depois, começa-se inclusive a fazer coisas que têm mais do que a utilização,<br />

os processos <strong>de</strong> criação ou <strong>de</strong> recreação, como no caso dos Ri<strong>de</strong>rs e muitos outros.<br />

As editoras musicais, empresas <strong>de</strong> grupos internacionais como é a Emi, Warner, etc., inicialmente faziam negociações muito favoráveis,<br />

porque era muito boa a veiculação para seus artistas. Hoje, são bastante exigentes e têm preços muito altos para a compra<br />

<strong>de</strong> direito autoral <strong>de</strong> qualquer peça para publicida<strong>de</strong>, porque sabem da efetivida<strong>de</strong> que isso gera e não abrem mão.<br />

Zezinho mutarelli<br />

Agora vou chamar o Antônio Baltar.<br />

Antônio baltar Jr.<br />

Boa noite. é um prazer estar com vocês aqui e quero agra<strong>de</strong>cer ao Zé pelo convite, que me avisou <strong>de</strong> uma banca no <strong>Congresso</strong><br />

e disse que gostaria que eu participasse como um cliente diferente. Quando eu peguei o tema proposto pela sala e levei para<br />

a minha assessoria <strong>de</strong> imprensa, eles disseram para eu vir e falar realmente como fazemos, porque, <strong>de</strong> fato, fazemos assim.<br />

O mundo corporativo vive uma pressão muito gran<strong>de</strong>, amplamente <strong>de</strong>batida pelo Zé e pelo Washington nas apresentações.<br />

Pressão <strong>de</strong> custos e pressão <strong>de</strong> tempo são dois elementos com os quais eu, meu time <strong>de</strong> marketing e a minha agência trabalhamos<br />

todos os dias. Então, todos os dias, ou nós temos uma coisa, a outra ou as ambas. Normalmente as duas juntas é o que<br />

mais acontece. E ouvi falar em parceria, uma palavra que falamos a cada dia, mas que está em <strong>de</strong>suso e temos que colocá-la<br />

em uso.<br />

Nós ven<strong>de</strong>mos um produto que, <strong>de</strong> acordo com a pesquisa, é o segundo objeto <strong>de</strong> <strong>de</strong>sejo do brasileiro. Estamos falando um<br />

pouco <strong>de</strong> Brasil e não po<strong>de</strong>mos falar em segundo objeto <strong>de</strong> <strong>de</strong>sejo sem falar <strong>de</strong> emoção, sem colocarmos isso na propaganda,<br />

no print, no filme. é o que temos buscado fazer.<br />

Participo dos processos junto com os compradores e essa foi uma coisa que mudamos um pouco internamente. Fez parte do<br />

mundo corporativo, em algum momento, <strong>de</strong>legar as compras a um <strong>de</strong>partamento que não conhece o trabalho tecnicamente,<br />

não sabe como funciona o dia-a-dia <strong>de</strong> uma produtora, agência, produtora <strong>de</strong> som, <strong>de</strong> ví<strong>de</strong>o.<br />

é bom chegar ao final do mês, ver que gastamos o planejado e que o resultado ficou exatamente <strong>de</strong>ntro do estabelecido com<br />

a agência. Dentro do nosso planejamento anual, procuramos estabelecer que investimento será feito durante algum tipo <strong>de</strong><br />

filme, <strong>de</strong> lançamento. Sabemos que teremos um job muito maior e o que fizemos foi muito simples: trabalhar junto com a<br />

agência, com nosso time <strong>de</strong> compras, com várias produtoras que estão hoje neste <strong>Congresso</strong>, criando uma classificação. Um<br />

exemplo simples: se eu trabalhar num filme <strong>de</strong> varejo, que é do meu dia-a-dia — cuja locução, às vezes, eu tenho que mudar<br />

duas ou três vezes na mesma semana —, preciso ter uma flexibilida<strong>de</strong> muito maior e mo<strong>de</strong>los criativos. Os profissionais que<br />

trabalham comigo já sabem: vão trabalhar para que as produtoras <strong>de</strong> som, áudio e ví<strong>de</strong>o participantes daquela cotação consigam<br />

entregar aquele tipo <strong>de</strong> job.<br />

Não vou chamar o “numero 1” da produtora para entregar um filme <strong>de</strong> varejo, porque se ele estiver <strong>de</strong>ntro da concorrência,<br />

não conseguirá ganhar, já que o valor daquele job não será suficiente. é então que chegamos no ponto discutido agora pela<br />

mesa. Conseqüentemente, o outro lado também é verda<strong>de</strong>iro. Várias vezes já aprovei idéias criativas, on<strong>de</strong> o orçamento não<br />

foi o mandatório, mas a idéia criativa. Conversando com o criativo, com meu time <strong>de</strong> RTV e o <strong>de</strong> compras, <strong>de</strong>cidimos fazer tal<br />

filme, tal idéia, com “este” ou “aquele” diretor. Não era o mais barato, mas foi o melhor.<br />

Existe luz no fim do túnel. A palavra “parceria” para os clientes, não é uma coisa para esquecermos. As pressões <strong>de</strong> custo e<br />

timing vão existir — falo todos os dias com o pessoal da agência —, mas o quanto antes nós conseguirmos nos planejar, nos<br />

programar para o ano, melhor será o nosso trabalho. Foi bom ouvir o Washington mencionar as duas fórmulas que utilizamos.<br />

Tenham a certeza <strong>de</strong> que estamos utilizando ambas hoje. Obrigado.<br />

Zezinho mutarelli<br />

Vou chamar o Dr. Paulo Gomes <strong>de</strong> Oliveira Filho.<br />

Paulo Gomes <strong>de</strong> Oliveira filho<br />

Boa noite a todos. A parte que me coube aqui foi falar um pouco sobre a legislação que regula as várias ativida<strong>de</strong>s que compõem<br />

a propaganda. Talvez tenham me indicado para ser <strong>de</strong>batedor <strong>de</strong>ste tema ligado ao tema central, a importância da<br />

criação publicitária na qualida<strong>de</strong> e o vínculo entre o prestador <strong>de</strong> serviço e a sua agência, porque sou advogado do mercado<br />

— não só <strong>de</strong> agências, como <strong>de</strong> produtoras e anunciantes — há 32 anos.<br />

Nesses 32 longos anos, participamos da aplicação, do estudo, e até da elaboração <strong>de</strong> normas legais e convencionais que<br />

regulam o nosso mercado há tanto tempo. Tenho também a felicida<strong>de</strong> <strong>de</strong> dizer que fui o primeiro advogado da W/Brasil. O<br />

Washington Olivetto me aguenta até hoje lá, on<strong>de</strong> aprendi uma composição muito interessante, exatamente <strong>de</strong>sta parceria<br />

entre a agência e seus fornecedores. Tive a felicida<strong>de</strong>, em todos esses anos, <strong>de</strong> conquistar gran<strong>de</strong>s clientes, que têm como<br />

base fundamental exatamente o acatamento, o respeito aos seus parceiros. Estou aqui com o Lino, sou advogado da Talent há<br />

tantos anos e isso lá também é extremamente aplicado.<br />

Porém, há muitos anos, ainda como advogado do Sindicato das Agências <strong>de</strong> Propaganda, nós tínhamos um problema bastante<br />

sério: a quem pertencem os direitos autorais sobre o filme publicitário? Naquela época, antes da atual Constituição Fe<strong>de</strong>ral,<br />

se discutia se esses direitos autorais sobre o filme publicitário pertenciam ao cliente — que paga todo o trabalho <strong>de</strong> criação<br />

da agência, da produtora, dos produtores <strong>de</strong> som, etc. —, ou se eram da agência <strong>de</strong> propaganda, do funcionário da agência<br />

responsável pela criação, da produtora cinematográfica, da produtora <strong>de</strong> som, etc.<br />

Era um gran<strong>de</strong> impasse, e a lei daquela época — a lei 5988 <strong>de</strong> direito autoral — não era absolutamente clara quanto a isso.<br />

E na área <strong>de</strong> propaganda, a dúvida legal sobre a titularida<strong>de</strong> era ainda bastante gran<strong>de</strong>. Dentro do Sindicato das Agências,<br />

acabamos promovendo uma ação <strong>de</strong>claratória contra a Apro, para dizer que a titularida<strong>de</strong> dos direitos autorais sobre o filme<br />

publicitário era da agência <strong>de</strong> propaganda. Felizmente, o juiz julgou a ação extinta, porque àquela época o Sindicato não tinha<br />

legitimida<strong>de</strong> para discutir matérias <strong>de</strong> direito civil, mas só <strong>de</strong> direito do trabalho e dissídios coletivos e o João Carlos Gamboa<br />

faz isso até hoje com muita capacida<strong>de</strong>.<br />

Não houve uma <strong>de</strong>cisão, mas nós tínhamos duas posições bastante diferentes: uma do Sindicato das Agências, dizendo que<br />

era da agência, e outra da Apro, dizendo que era da Associação das Produtoras. Veio um parecer do Saulo Ramos: nem <strong>de</strong> um,<br />

nem <strong>de</strong> outro; é preciso analisar cada caso, avaliar se além da agência, também houve participação criativa da produtora.<br />

A lei mudou, o tempo passou, novas regras legais foram estabelecidas, uma nova Constituição foi editada — a Constituição Cidadã<br />

—, e uma nova lei autoral, a 9610, passou a vigorar no país. Essas normas todas, inclusive as convencionais que o próprio<br />

mercado publicitário acabou editando, estabeleceram que todos são co-autores da obra final. Na condição <strong>de</strong> obra coletiva, a<br />

agência tem essa titularida<strong>de</strong>, mas sem <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> proteger os direitos individuais <strong>de</strong> cada criador, ou seja, da produtora cinematográfica,<br />

da produtora <strong>de</strong> som, do fotógrafo do estúdio fotográfico e do próprio ator, que tem os direitos conexos sobre a<br />

sua imagem, som <strong>de</strong> voz e nome.<br />

A partir <strong>de</strong> então, passamos a ter uma nova visão <strong>de</strong> titularida<strong>de</strong> <strong>de</strong> direitos no campo da propaganda. Nós temos uma cautela<br />

bastante gran<strong>de</strong> na proteção final do nosso cliente anunciante, para não criar problemas que ele tenha que assumir e que, na<br />

verda<strong>de</strong>, ele acaba transferindo para a agência, o marisco entre a pedra e o mar.<br />

Nesses longos anos <strong>de</strong> bastante trabalho e negociação, constatamos que não po<strong>de</strong>ríamos atuar separadamente, era preciso<br />

formar um time com gran<strong>de</strong>s parcerias, como temos feito nesses 32 anos <strong>de</strong> advocacia neste setor. E tivemos uma <strong>de</strong>monstração<br />

<strong>de</strong> maiorida<strong>de</strong> cultural há cerca <strong>de</strong> seis anos atrás, quando todas as entida<strong>de</strong>s do setor — ABA, <strong>Abap</strong>, Apro, Aprosom,<br />

Abrafoto e Sindicato dos Artistas — <strong>de</strong>cidiram por realizar um fórum <strong>de</strong> Produção Publicitária, on<strong>de</strong> estudaríamos realmente<br />

a quem pertenceriam os direitos; como isso se comporia; as convenções que <strong>de</strong>veríamos estabelecer entre nós numa gran<strong>de</strong><br />

convenção; regras <strong>de</strong> convivência e bem-viver; e quais as melhores práticas <strong>de</strong> mercado.<br />

Realizamos o 2º Fórum <strong>de</strong> Produção Publicitária, objeto <strong>de</strong> 18 longos meses <strong>de</strong> intensa negociação, on<strong>de</strong> estabelecemos <strong>de</strong><br />

forma unânime, entre todos os segmentos e entida<strong>de</strong>s do setor, que os direitos autorais são <strong>de</strong> todos esses co-participantes<br />

da obra final publicitária, cada um <strong>de</strong>ntro do seu teor.<br />

A titularida<strong>de</strong> autoral do filme publicitário pertence à agência <strong>de</strong> propaganda que cria o roteiro; à produtora cinematográfica<br />

que produz o filme técnica e artisticamente; à produtora <strong>de</strong> som que cria a trilha, cria o jingle e produz a obra sonora, assim<br />

como temos os fotógrafos que produzem as fotos que compõem nossos anúncios e, também, os atores, mo<strong>de</strong>los, etc., que<br />

compõem, interpretam e executam seu trabalho, sem esquecer os intérpretes, executantes, músicos que compõem essa<br />

gran<strong>de</strong> obra.<br />

Portanto, não há como <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> lado, para um segundo momento, a discussão sobre o direito <strong>de</strong> cada entida<strong>de</strong>. Como não<br />

há essa possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> discussão, porque ela está patenteada nas normas legais da própria Constituição Fe<strong>de</strong>ral, a quem<br />

202 203<br />

COMISSÃO 3 - PRESTADORES DE SERVIÇOS ESPECIALIZADOS E SUA RELAÇÃO COM AGÊNCIAS E CLIENTES


pertencem esses direitos, nós partimos do primeiro princípio: na negociação entre agências, anunciantes e prestadores <strong>de</strong><br />

serviços especializados, nosso primeiro ato é reconhecermos e respeitarmos a existência <strong>de</strong>sses direitos. Como diz Julio Ribeiro,<br />

não po<strong>de</strong>mos querer formar uma gran<strong>de</strong> “corrente do vampiro”: um chupa o pescoço do outro e todo mundo morre à<br />

míngua no final.<br />

Portanto, temos como regra básica o reconhecimento dos direitos <strong>de</strong> cada setor e a sua aplicação efetiva. Se a obra vai custar<br />

mais ou menos, é questão <strong>de</strong> uma melhor organização. Não po<strong>de</strong>mos abusar do final da linha <strong>de</strong> produção para, cada vez<br />

mais, diminuirmos a capacitação dos nossos profissionais e o resultado final para os nossos clientes. Com base nesse ponto<br />

e também em função da experiência em todos esses anos, além da ampla negociação que já temos <strong>de</strong>ntro do mercado, —<br />

como advogado da <strong>Abap</strong>, da Aprosom, da Abrafoto, da ADG e <strong>de</strong> tantos outros que sou —, gostaria <strong>de</strong> dizer que formamos,<br />

na verda<strong>de</strong>, um gran<strong>de</strong> e único parceiro. Sugerimos alguns pontos para aprovação. Depois, eles comporão um relatório que o<br />

João Paulo Morello apresentará com as suas sugestões, recomendações ou oposições. Alguns <strong>de</strong>les:<br />

1 As agências <strong>de</strong> publicida<strong>de</strong>, as empresas produtoras <strong>de</strong> imagem, produtoras <strong>de</strong> som, fotógrafos e estúdios fotográficos são<br />

<strong>de</strong>tentores <strong>de</strong> direitos autorais e conexos <strong>de</strong> suas criações intelectuais, seja como obra individual, coletiva ou em colaboração.<br />

2 Os atores, intérpretes executantes e outros profissionais que contribuem intelectualmente na criação e execução das obras<br />

<strong>de</strong>senvolvidas pelas empresas e profissionais referidos acima, têm reconhecidos seus direitos autorais e/ou conexos.<br />

3 Os direitos das pessoas físicas e jurídicas acima referidas — agências e produtores — são concedidos aos respectivos clientes,<br />

como regra, por prazo, finalida<strong>de</strong> e território <strong>de</strong>terminados.<br />

4 Na eventual sessão <strong>de</strong>finitiva <strong>de</strong> direitos autorais patrimoniais, quando legalmente possível, implicarão em remuneração<br />

específica suficiente e a<strong>de</strong>quada, que não se confun<strong>de</strong> com o trabalho criativo e com a concessão por prazo, finalida<strong>de</strong> e<br />

território <strong>de</strong>terminados.<br />

5 A concessão original, assim como a renovação dos direitos autorais, patrimoniais e conexos, relativamente ao uso <strong>de</strong> obras<br />

intelectuais, assim como os direitos personalíssimos, <strong>de</strong>verão sempre ser estabelecidos por escrito.<br />

6 Os contratos referidos no item imediatamente anterior, a teor da lei autoral, <strong>de</strong>vem ser interpretados <strong>de</strong> forma restrita quanto<br />

à finalida<strong>de</strong>, tempo, território e mídias.<br />

7 A fixação das remunerações <strong>de</strong>vidas às agências <strong>de</strong> publicida<strong>de</strong>, aos produtores <strong>de</strong> serviços especializados em publicida<strong>de</strong>,<br />

aos atores e <strong>de</strong>mais profissionais que compõem a indústria da propaganda, levará em consi<strong>de</strong>ração a amplitu<strong>de</strong> da sua divulgação,<br />

inclusive através da execução pública (o que <strong>de</strong>pois vamos rapidamente esclarecer).<br />

8 A remuneração das produtoras <strong>de</strong> som será fixada sob dois aspectos: a) pela produção e pela criação propriamente dita; b) pelos<br />

direitos autorais e conexos, levando em consi<strong>de</strong>ração, quanto a estes últimos, autorais e conexos, o volume na execução pública,<br />

tal como ocorre em relação aos direitos autorais das obras musicais não publicitárias, cuja cobrança é realizada pelo Ecad.<br />

9 As entida<strong>de</strong>s representativas dos segmentos que compõem a indústria da propaganda estabelecerão em conjunto tabelas<br />

referenciais <strong>de</strong> preços. Essas tabelas serão realizadas no 3º Fórum <strong>de</strong> Produção Publicitária entre <strong>Abap</strong>, ABA, Apro, Aprosom,<br />

Abrafoto, etc.<br />

10 Não se admitirá a produção <strong>de</strong> cópias não autorizadas pelos <strong>de</strong>tentores dos direitos autorais e conexos, sejam <strong>de</strong> obras<br />

audiovisuais, <strong>de</strong> trilhas sonoras ou <strong>de</strong> qualquer outra modalida<strong>de</strong>, inclusive que se componham <strong>de</strong> transfers para cinema ou<br />

qualquer outro veículo.<br />

11 As pessoas físicas e jurídicas referidas nos itens 1 e 2, produtoras e agências, atuarão junto ao Po<strong>de</strong>r Legislativo, junto às<br />

agências reguladoras — inclusive a Ancine — para que as normas legais que digam respeito <strong>de</strong> forma direta ou indireta à ativida<strong>de</strong><br />

publicitária sejam revistas e aprimoradas <strong>de</strong> forma a: a) incentivar a produção nacional, incrementar o trabalho criativo<br />

<strong>de</strong> produção especializada; b) impedir ou restringir que as obras publicitárias <strong>de</strong>stinadas à veiculação no território brasileiro<br />

sejam criadas ou produzidas no exterior; c) reduzir encargos fiscais, sociais e tributários relativamente à prestação <strong>de</strong> serviços<br />

publicitários <strong>de</strong> forma geral, à contratação <strong>de</strong> profissionais especializados, à importação <strong>de</strong> equipamentos <strong>de</strong>stinados à produção<br />

cinematográfica, fotográfica e <strong>de</strong> som.<br />

12 - Finalmente, aplicar e recomendar que, em âmbito nacional, os contratos que digam respeito a direitos patrimoniais disponíveis<br />

no relacionamento entre empresas e profissionais <strong>de</strong> comunicação, adotem a via arbitral para dirimir suas pendências<br />

através da Câmara Nacional <strong>de</strong> Arbitragem na Comunicação.<br />

Desta forma, reconhecendo e cumprindo os direitos <strong>de</strong> todos, acho que teremos mais facilida<strong>de</strong> na produção <strong>de</strong> um melhor<br />

trabalho publicitário no âmbito nacional. Muito obrigado.<br />

Zezinho mutarelli<br />

Estamos com o tempo praticamente esgotado e temos que colocar a tese, então, vou lê-la para que ela seja votada, pois é o<br />

que nós estamos recomendando como novas regras <strong>de</strong> mercado. Depois, se houver tempo, iremos às perguntas. Talvez nem<br />

haja tempo para a votação. Peço que ao final <strong>de</strong> cada tese, quem tiver algo contra, levante a mão. Se alguém quiser fazer<br />

algum a<strong>de</strong>ndo ou discordar da tese, peça um formulário para as meninas e vamos encaminhar; assim, quando formos discutir<br />

amanhã todas as teses, colocaremos um a<strong>de</strong>ndo e levaremos em consi<strong>de</strong>ração.<br />

Tese 1<br />

Recomenda-se que nas contratações através das mesas <strong>de</strong> compras e pools, as mesmas sempre sejam acompanhadas pelas<br />

agências <strong>de</strong> publicida<strong>de</strong> e por profissionais com conhecimento e expertise sobre os trabalhos contratados, que <strong>de</strong>verão seguir<br />

as leis vigentes, as normas da Ancine e as normas do 2º Fórum da Produção Publicitária.<br />

Tese 2<br />

Pleiteia-se a instituição no Cenp <strong>de</strong> assentos <strong>de</strong> prestadores <strong>de</strong> serviços especializados.<br />

Tese 3<br />

Recomenda-se que qualquer obra publicitária adaptada, veiculada no Brasil, <strong>de</strong>verá obrigatoriamente fomentar no mínimo<br />

uma diária <strong>de</strong> filmagem, que <strong>de</strong>verá ser realizada por produtora brasileira cadastrada na Ancine e uma nova trilha sonora,<br />

realizada por produtora <strong>de</strong> som brasileira. Obrigatoriamente, a adaptação <strong>de</strong>verá contemplar os aspectos <strong>de</strong> imagem e som.<br />

Tese 4<br />

Para as obras publicitárias importadas, recomendamos o argumento real do Con<strong>de</strong>cine (Contribuição para o Desenvolvimento<br />

da Indústria Cinematográfica Nacional).<br />

Tese 5<br />

Recomenda-se que as agências <strong>de</strong> publicida<strong>de</strong> forneçam aos prestadores <strong>de</strong> serviços especializados toda a informação, o<br />

briefing necessário e condições para uma boa realização dos trabalhos, inclusive em relação aos prazos que <strong>de</strong>vem ser pagos<br />

em dia e a justo preço.<br />

Tese 6<br />

Exige-se reconhecimento dos direitos autorais e conexos das agências, produtoras <strong>de</strong> serviços especializados, técnicos e atores,<br />

e que os mesmos sejam adquiridos e remunerados, cujo prazo inicial <strong>de</strong>verá ser <strong>de</strong> até 180 dias.<br />

Tese 7<br />

Não será admitido pedido <strong>de</strong> orçamento ou qualquer outra solicitação <strong>de</strong> serviços que exclua direitos das agências e dos<br />

prestadores <strong>de</strong> serviços especializados.<br />

Tese 8<br />

Recomenda-se que os direitos emergentes das trilhas sonoras sejam pagos também em <strong>de</strong>corrência da execução pública por<br />

numero <strong>de</strong> inserções, e sejam recolhidos através das socieda<strong>de</strong>s arrecadadoras nos termos da lei autoral.<br />

Tese 9<br />

Recomenda-se que os litígios <strong>de</strong>correntes da relação comercial entre os players da indústria da comunicação sejam levados à<br />

Câmara Nacional <strong>de</strong> Arbitragem na Comunicação, para a <strong>de</strong>cisão.<br />

Se alguém quiser, po<strong>de</strong> falar.<br />

Repetindo a tese 7:<br />

Não será admitido pedido <strong>de</strong> orçamento ou qualquer outra solicitação <strong>de</strong> serviços que exclua direitos das agências e dos<br />

prestadores <strong>de</strong> serviços especializados.<br />

Não i<strong>de</strong>ntificado<br />

é assim mesmo. Trata-se da formalização do pedido ser feita, porque muitas agências fazem a formalização verbal, e é preciso<br />

fazer isso <strong>de</strong> uma forma oficial, para que seja feito <strong>de</strong> fato um pedido para todo trabalho, porque você faz o trabalho e recebe<br />

o pedido 30 dias <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> já tê-lo executado. Isso gera um faturamento posterior, inadimplência e um prejuízo financeiro<br />

para as empresas.<br />

Paulo Gomes <strong>de</strong> Oliveira filho<br />

Explico a instituição dos prestadores <strong>de</strong> serviço no Cenp: hoje o Cenp só cuida do relacionamento comercial entre agências,<br />

anunciantes e veículos. O que se pleiteia é que ele também abarque a atuação dos fornecedores ou dos prestadores <strong>de</strong> serviços<br />

especializados e o relacionamento comercial entre anunciantes, agências e esses fornecedores. O Cenp vem dando uma<br />

<strong>de</strong>monstração <strong>de</strong> capacida<strong>de</strong>, fiscalização e idoneida<strong>de</strong> no mercado publicitário.<br />

Não i<strong>de</strong>ntificado<br />

Mas a Ancine não cuida disso?<br />

Não i<strong>de</strong>ntificado<br />

A Ancine é um órgão do governo. Sua função é arrecadar e fomentar ativida<strong>de</strong> — diferentemente do Cenp, um órgão que não<br />

tem vínculos com o governo, apesar <strong>de</strong> o governo estar lá <strong>de</strong> outra forma, como anunciante. A Ancine é simplesmente uma<br />

agência, como a Anatel. Está lá para regulamentar a ativida<strong>de</strong>. Nós não temos nenhum po<strong>de</strong>r em relação a ela; eles instituem<br />

as instruções normativas e as regras <strong>de</strong> conduta, como a distribuição do Con<strong>de</strong>cine. é muito diferente a relação <strong>de</strong> um e do<br />

outro.<br />

Zezinho mutarelli<br />

Releio a Tese 7: Não será admitido pedido <strong>de</strong> orçamento ou qualquer outra solicitação <strong>de</strong> serviços que exclua direitos das<br />

agências e dos prestadores <strong>de</strong> serviços especializados.<br />

Não i<strong>de</strong>ntificado<br />

Explico: alguns anunciantes, e até algumas agências, por <strong>de</strong>terminação dos anunciantes, já escrevem nos pedidos <strong>de</strong> orçamento<br />

que não pagam e não remuneram direitos <strong>de</strong> produtora e <strong>de</strong> diretor. é algo que muitas vezes foge do próprio controle<br />

da produtora e dos <strong>de</strong>mais prestadores <strong>de</strong> serviços, porque são direitos <strong>de</strong> terceiros, não da própria produtora — <strong>de</strong> acordo<br />

com o que o Paulo Gomes explicou. Por isso, nós não po<strong>de</strong>mos dispor <strong>de</strong> direitos <strong>de</strong> terceiros. A pessoa po<strong>de</strong>, no máximo,<br />

dispor dos direitos <strong>de</strong> que, eventualmente, a lei a autorize a dispor. Alguns direitos são indisponíveis; por exemplo, o direito do<br />

diretor, da paternida<strong>de</strong> da obra, o direito moral sobre a obra, sobre o filme publicitário, é indisponível, então não há nenhuma<br />

possibilida<strong>de</strong> disso. Por isso, estamos sugerindo para que voltemos para o mundo da legalida<strong>de</strong>.<br />

Paulo Gomes <strong>de</strong> Oliveira filho<br />

Gostaria <strong>de</strong> acrescentar mais uma coisa. Nós temos uma lei que é bastante antiga — a lei 6533 —, que regula a ativida<strong>de</strong><br />

do artista e do técnico em espetáculo. Na relação do que seja técnico em espetáculo, temos direitos <strong>de</strong> diretor <strong>de</strong> arte, etc.;<br />

pegamos uma relação <strong>de</strong> profissionais que estão tanto na produtora <strong>de</strong> imagem quanto na produtora <strong>de</strong> som. E essa lei, que<br />

é bastante antiga, mas continua em vigor, tem um dispositivo que estabelece que é legalmente impossível a cessão <strong>de</strong>finitiva<br />

<strong>de</strong> direitos autorais e conexos <strong>de</strong>sses profissionais.<br />

Portanto, não há como exigir das produtoras <strong>de</strong> imagem e <strong>de</strong> som uma cessão <strong>de</strong>finitiva <strong>de</strong> direitos autorais, se elas, produtoras,<br />

não são titulares <strong>de</strong>stes direitos, que pertencem aos seus respectivos profissionais. é o que chamamos <strong>de</strong> “princípio <strong>de</strong><br />

or<strong>de</strong>m pública”, ou seja, é um dispositivo <strong>de</strong> proteção hipossuficiente, que protege exatamente estes profissionais que trabalham<br />

<strong>de</strong>ntro das produtoras. Portanto, não há como a produtora ce<strong>de</strong>r direitos que não são <strong>de</strong>la. Aliás, já me perguntaram por<br />

que, nos editais <strong>de</strong> licitação <strong>de</strong> Governo, por exemplo, existe esse dispositivo, se ele não é legal. Nós já mencionamos também<br />

que este dispositivo, que existia em vários editais <strong>de</strong> Governo, tanto Fe<strong>de</strong>ral, quanto Estadual ou Municipal, está sofrendo uma<br />

204 205<br />

COMISSÃO 3 - PRESTADORES DE SERVIÇOS ESPECIALIZADOS E SUA RELAÇÃO COM AGÊNCIAS E CLIENTES


mudança bastante rápida. Vocês po<strong>de</strong>m verificar hoje que, quando consta no edital a obrigatorieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> seção <strong>de</strong> direitos<br />

autorais <strong>de</strong> forma <strong>de</strong>finitiva, ele se refere às agências e não aos direitos <strong>de</strong> fornecedores. Aliás, no Governo Fe<strong>de</strong>ral, hoje, já<br />

consta expressamente nos editais essa exclusão da cessão dos direitos autorais <strong>de</strong> terceiros, a não ser mediante uma nova<br />

negociação. E o que estamos querendo inserir nos editais é: “quando legalmente possível”. Como estamos vendo aqui, não<br />

existe essa possibilida<strong>de</strong> em relação às produtoras cinematográficas e produtoras <strong>de</strong> som.<br />

Zezinho mutarelli<br />

Mais alguma pergunta em relação à tese?<br />

Não i<strong>de</strong>ntificado<br />

Na verda<strong>de</strong>, não é muito simples discutir isso agora em dois minutos, mas algumas coisas são vendidas como royalty-free e<br />

não são royalty-free; outras aparecem em CD e são liberadas. Depois, <strong>de</strong>scobre-se que estão disponíveis num site e que não era<br />

preciso ter pago, porque estão lá <strong>de</strong> graça. Em outros casos, acaba-se pagando por direitos mais caros do que produzir uma<br />

foto. Essa relação é muito complicada e precisava ser discutida com mais profundida<strong>de</strong>.<br />

Zezinho mutarelli<br />

Na verda<strong>de</strong>, a indicação do <strong>Congresso</strong> é colocar por escrito a sua recomendação. Estamos combinando aqui amanhã às 19h00,<br />

porque na 4ª-feira <strong>de</strong> manhã vai ser votada a tese final junto com todas as teses <strong>de</strong> todas as Comissões. Estamos marcando<br />

aqui com os advogados, <strong>de</strong> nos reunirmos todos para <strong>de</strong>bater e fechar o assunto. Se você quiser, po<strong>de</strong> mandar por escrito,<br />

porque vamos analisar durante o dia. Se no final, a sugestão for aceita pela Comissão, levaremos a proposta.<br />

Não i<strong>de</strong>ntificado<br />

O item 5 da sua colocação é: recomenda-se que as agências <strong>de</strong> publicida<strong>de</strong> forneçam aos prestadores <strong>de</strong> serviços especializados<br />

toda a informação, o briefing necessário e condições para uma boa realização dos trabalhos, inclusive em relação aos<br />

prazos que <strong>de</strong>vem ser pagos em dia e a justo preço.<br />

Não i<strong>de</strong>ntificado<br />

Eu gostaria <strong>de</strong> fazer uma sugestão nesse sentido: vamos realizar o 3º Fórum para essas questões <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m prática. No 2º Fórum,<br />

aprovamos normas práticas para o mercado, que estão sendo consi<strong>de</strong>radas no item 1. Acho que <strong>de</strong>ve ser acrescentado<br />

que serão também normas do 2º e do 3º Fórum, a ser realizado. Será o momento mais a<strong>de</strong>quado para discutir esses relacionamentos<br />

em <strong>de</strong>talhes.<br />

Zezinho mutarelli<br />

Fomos muito <strong>de</strong>mocráticos, fizemos muitas reuniões com fotógrafos, pessoal <strong>de</strong> rádio, TV, art buyers e com todos que vocês<br />

possam imaginar. Várias agências foram conversar conosco. Acho que é preciso fazer tudo por escrito, pois <strong>de</strong>sta forma,<br />

conseguiremos colocar sucintamente um a<strong>de</strong>ndo ou, se não <strong>de</strong>r, pois o prazo está em cima, po<strong>de</strong>remos sentar no Fórum e<br />

conversar.<br />

Não i<strong>de</strong>ntificado<br />

Conversando com o Thomas um pouco antes <strong>de</strong> começarmos, já incluí “a continuida<strong>de</strong> das relações...”. A agenda positiva que<br />

ele está propondo nós já vamos inserir no texto, e o próprio Fórum também.<br />

Zezinho mutarelli<br />

Vou ter que encerrar. Foi uma luz para nós o Kofi Annan ter vindo. Sua palestra foi maravilhosa, principalmente ao abordar que<br />

só há uma maneira <strong>de</strong> atingir os objetivos: a parceria. Precisamos <strong>de</strong>ssa parceria, para que consigamos fazer essas regras. Ele só<br />

conseguiu chegar aon<strong>de</strong> queria por meio das parcerias que fez no meio do caminho e conseguiu fazer o que não conseguiria<br />

sozinho. Muito obrigado.<br />

Comissão 4<br />

COmISSãO DE mARKETING PROmOCIONAl<br />

João Carlos Zicard<br />

Boa tar<strong>de</strong> a todos. é um prazer falar <strong>de</strong> marketing promocional, <strong>de</strong>bater o assunto e enxergar os lugares todos ocupados.<br />

Vamos iniciar a Comissão <strong>de</strong> Marketing Promocional no <strong>IV</strong> <strong>Congresso</strong> <strong>Brasileiro</strong> <strong>de</strong> Publicida<strong>de</strong>, após 30 anos <strong>de</strong> ausência.<br />

Um <strong>de</strong>bate <strong>de</strong>mocrático, profissional, competente, para que possamos juntos, construir a história futura do nosso negócio da<br />

indústria <strong>de</strong> comunicação e um mercado ético, legítimo, <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong>. Estou emocionado pelo fato <strong>de</strong> estar aqui com meus<br />

parceiros e fazer parte <strong>de</strong>sse congresso. Espero que saiamos daqui com o que não conseguimos até hoje: ética, legitimida<strong>de</strong><br />

e plena qualida<strong>de</strong> no que nos propomos a fazer.<br />

Eu sou João Carlos Zicard, presi<strong>de</strong>nte do Conselho da Associação <strong>de</strong> Marketing Promocional do Brasil (Ampro) e convido os<br />

participantes que farão esta apresentação juntamente conosco. Gaspar Brandão, secretário da nossa comissão; Elza Tsumori,<br />

presi<strong>de</strong>nte da executiva nacional da Ampro; Eugene Lee; e os <strong>de</strong>batedores da nossa comissão: Marcelo Heidrich, Geraldo<br />

Rocha Azevedo, José Victor Oliva, Fernando Figueiredo e Gilberto Strunck. é uma comissão forte. Um cliente — a Bia —, por<br />

motivo <strong>de</strong> viagem rápida <strong>de</strong> última hora, não pô<strong>de</strong> comparecer.<br />

Para iniciar os nossos trabalhos nesta comissão, vou falar um pouco da Ampro. Ela tem o conceito do marketing promocional<br />

aplicado a produtos, serviços ou marcas, visando, por meio da interação com o seu público-alvo, alcançar seus objetivos estratégicos<br />

e a construção <strong>de</strong> marcas, vendas e fi<strong>de</strong>lização.<br />

A área <strong>de</strong> marketing promocional já se tornou estratégica; é imperativo o domínio <strong>de</strong> diversas disciplinas e o posicionamento<br />

diante do cliente e do mercado com o domínio <strong>de</strong> várias ferramentas e <strong>de</strong> várias gestões e processos. Isso está <strong>de</strong>ntro do<br />

conceito que a Ampro <strong>de</strong>fen<strong>de</strong> no Brasil.<br />

A Ampro é composta por oito capítulos; nós aten<strong>de</strong>mos basicamente o Brasil inteiro, estamos em <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> outros<br />

capítulos em outras diretorias. A Ampro foi fundada em 1993, portanto, faremos 15 anos em 2008 e teremos uma festa importante.<br />

Em 2003, nós tínhamos 33 participantes; em 2005, 66. Hoje, somos a maior entida<strong>de</strong> da America Latina. A composição<br />

atual do quadro <strong>de</strong> associados da entida<strong>de</strong>, agências, fornecedores, clientes, universida<strong>de</strong>s e profissionais chega a 2008 com<br />

238 agências, universida<strong>de</strong>s e profissionais.<br />

A entida<strong>de</strong> visa trabalhar fundamentalmente na profissionalização do marketing promocional, no <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> pessoas,<br />

profissionais e empresas. Seu objetivo fundamental é estabelecer critérios que possam resultar em um mercado profissional,<br />

justo, competente e, também, para que tenhamos o reconhecimento do setor em relação aos serviços <strong>de</strong> marketing<br />

promocional na plenitu<strong>de</strong> <strong>de</strong> suas funções.<br />

Trouxemos para o Brasil uma pessoa importantíssima e acaba <strong>de</strong> chegar da China. é o responsável na Ásia por toda a área <strong>de</strong><br />

relacionamento, fi<strong>de</strong>lida<strong>de</strong> e incentivo <strong>de</strong> um grupo. é jovem, bastante experiente e temos gran<strong>de</strong> satisfação em recebê-lo no<br />

Brasil e ouvir sua palestra, mostrando o continente emergente, o continente difícil, ainda estranho para a América do Sul.<br />

Nós temos ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> marketing promocional já <strong>de</strong>senvolvidas em um patamar até mais profissional do que em algumas<br />

regiões, ou, talvez, até em alguns países da América Latina. Em pouquíssimo tempo, a evolução do marketing promocional<br />

na China e na Ásia atingiu um grau bastante importante e representa um negócio importantíssimo para gran<strong>de</strong>s empresas<br />

européias e americanas que lá estão.<br />

O marketing promocional tem uma participação fundamental na relação do tra<strong>de</strong> marketing com o consumidor final, no estabelecimento<br />

<strong>de</strong> vínculos com a maior população individual do mundo. Talvez seja um exemplo <strong>de</strong> como po<strong>de</strong>ríamos operar<br />

em larga escala e da importância do marketing promocional na China. Essas empresas conseguiram atingir gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento<br />

em pouco tempo e estamos tentando trabalhar no sentido <strong>de</strong> evolução, do aprimoramento, do profissionalismo <strong>de</strong>sse<br />

setor. Eu gostaria <strong>de</strong> convidar Eugene Lee para iniciar nossa apresentação.<br />

Eugene lee<br />

Em primeiro lugar, obrigado pela oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> estar aqui. Meu nome é Eugene Lee e sou o CEO da Accentiv/Ásia, localizada<br />

em Cingapura. Não sei ao certo quantos <strong>de</strong> vocês já foram à Ásia, mas Cingapura é um país muito pequeno, provavelmente<br />

do tamanho <strong>de</strong> São Paulo. Nos próximos 40 minutos falarei sobre marketing <strong>de</strong> relacionamento, algumas coisas que fazemos<br />

na Ásia, algumas visões que temos e dois cases <strong>de</strong> marketing. Espero que seja produtivo e educativo para todos. Ao final, mas<br />

não menos importante, oferecerei alguns conselhos. Se vocês não concordarem, po<strong>de</strong>m dizer; se gostarem aplaudam. Afinal<br />

<strong>de</strong> contas, tudo é marketing <strong>de</strong> relacionamento interativo, não é?<br />

Na Accentiv/Ásia, temos mais <strong>de</strong> 200 programas e gerenciamos 10 milhões <strong>de</strong> bancos <strong>de</strong> dados para os nossos clientes e em<br />

todos os programas que fazemos atualmente, ajudamos nossos clientes a tornarem-se mais rentáveis e a estabelecerem um<br />

relacionamento com seus clientes.<br />

Temos escritórios em Cingapura, na China, Índia, Coréia e Hong Kong, e temos agências no Japão, Malásia, Filipinas, Tailândia e<br />

Nova Zelândia. Hoje em dia, ajudamos muitos clientes a encontrar soluções panasiáticas. A empresa não é muito gran<strong>de</strong>, tem<br />

cerca <strong>de</strong> 300 profissionais <strong>de</strong>dicados ao marketing <strong>de</strong> relacionamento. Cobrirmos toda a área Ásia-Pacífico, também ajudamos<br />

gran<strong>de</strong>s empresas americanas a fazer os serviços a clientes na Ásia. Vamos atrás <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s programas como os da GE, Bank of<br />

America, Microsoft, para fazer um programa realmente panasiático com um parceiro americano e esperamos ter programas<br />

no Brasil também.<br />

Esses são alguns <strong>de</strong> nossos clientes aos quais ajudamos a encontrar soluções <strong>de</strong> marketing; são algumas das maiores empresas<br />

da Ásia. A maior parte <strong>de</strong>las vocês reconhecem, como a HP, a Microsoft, L’Óreal, Johnson & Johnson e algumas que não são<br />

tão conhecidas por serem asiáticas. Oferecemos soluções <strong>de</strong> marketing para muitas das 45 maiores empresas na Ásia.<br />

Vamos falar um pouco sobre algo com o que estou muito empolgado: o mercado <strong>de</strong> marketing asiático, <strong>de</strong> quase 3 bilhões <strong>de</strong><br />

pessoas, com a China e a Índia. Agora, vamos falar sobre o mercado <strong>de</strong> marketing na Ásia, que é um bom exemplo. Há cerca<br />

<strong>de</strong> 60 anos atrás, as pessoas compravam a farinha e faziam o bolo em casa. Nos anos 50, criaram Sarah Lee e faziam o bolo. Nos<br />

anos 70, iam até uma loja on<strong>de</strong> podiam tomar um café para acompanhar o bolo.<br />

206 207<br />

COMISSÃO 4 - MARKETING PROMOCIONAL


Porém, nos últimos <strong>de</strong>z anos, apareceu a empresa americana Starbucks. Paga-se muito caro por uma xícara <strong>de</strong> café que vale<br />

aproximadamente 10 centavos, mas o que vale é a experiência, a emoção que a Starbucks po<strong>de</strong> trazer. Po<strong>de</strong>mos navegar na<br />

internet, conversar em salas <strong>de</strong> bate-papo, encontrar um par, tudo no Starbucks.<br />

Se analisarmos a evolução da economia, a evolução dos mecanismos <strong>de</strong> venda veremos que tudo está mudando. O relacionamento<br />

está mudando <strong>de</strong> muito tradicional para muito emocional — precisamos conhecer os clientes. Todas as empresas,<br />

mesmo McDonald’s e Ford, estão usando habilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> relacionamento.<br />

Por que a Dell Computadores, uma empresa com cerca <strong>de</strong> 15 anos, é tão bem-sucedida? Porque faz computadores? A IBM<br />

começou antes <strong>de</strong>la, assim como a HP, mas a Dell começou a ser bem-sucedida quando passou a fazer um computador<br />

personalizado para o cliente: ele po<strong>de</strong> entrar no site e personalizar um computador. Em termos <strong>de</strong> marketing promocional, o<br />

marketing <strong>de</strong> relacionamento está evoluindo.<br />

Hoje, nos Estados Unidos, o cliente po<strong>de</strong> personalizar seu jeans Levi’s. Nas lojas Levi’s <strong>de</strong> São Francisco, o jeans também é<br />

personalizado. Quando pensamos nesta marca, lembramos que eles faziam os jeans para todo o mundo. Nos anos 40, os<br />

jeans eram usados por trabalhadores <strong>de</strong> minas, do campo. Atualmente, é uma experiência diferente; eles querem ven<strong>de</strong>r algo<br />

diferente a seus clientes.<br />

As empresas estão mudando cada vez mais e com mais freqüência as habilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> relacionamentos, gerando interações e<br />

criando um relacionamento com seus clientes. Com a tecnologia, internet, SMS, internet sem fio, esta interação é possível.<br />

A lealda<strong>de</strong> dos clientes tem se aperfeiçoado e tornado cada vez mais uma forte necessida<strong>de</strong> nos relacionamentos. A maioria<br />

<strong>de</strong> vocês, que está no ambiente <strong>de</strong> mercado, sabe: o custo <strong>de</strong> marketing para adquirir um cliente novo é cinco vezes maior<br />

do que para aten<strong>de</strong>r um antigo. Agora que a economia está diminuindo o ritmo, as empresas estão voltando aos seus clientes<br />

antigos, fiéis, para assegurar que continuem a fazer negócios com eles. A satisfação é um pré-requisito para a lealda<strong>de</strong>, mas<br />

não a garante. Se o serviço ao consumidor não for bom, se o produto não for bom, se ele não for bem atendido, não há mais<br />

lealda<strong>de</strong>. Hoje, os clientes esperam algum benefício. Se o cliente for VIP, ele espera ter alguns privilégios.<br />

Vou falar sobre estratégias, direcionamentos mundiais e, especificamente, sobre o que está acontecendo na Ásia, que, por<br />

sinal, é uma indústria, um país, uma região empolgante, com 3 bilhões <strong>de</strong> pessoas. Não vou dizer que sei tudo, mas farei o meu<br />

melhor para partilhar algumas informações com vocês. A seguir, alguns pontos.<br />

A Ásia é o lar <strong>de</strong> duas das economias que mais crescem no mundo: Índia e China, que, assim como o Brasil, fazem parte do<br />

Bric. é um continente com muitas oportunida<strong>de</strong>s, em <strong>de</strong>senvolvimento, no qual a classe média está ficando muito numerosa.<br />

A Ásia tem um crescimento médio <strong>de</strong> 6,2%, duas vezes a média global, ou seja, muitas empresas estão fazendo negócios na<br />

Ásia e sua contribuição para o PIB global vem dobrando <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a década <strong>de</strong> 60 — muitas empresas brasileiras, européias e<br />

americanas estão investindo em negócios na Ásia.<br />

O mercado na Ásia é muito diversificado, assim como o da América Latina. A China é um país muito interessante, com 30<br />

países diferentes em si. Na “Austrália-Ásia”, sentimos como se estivéssemos na América. Em Cingapura, fala-se inglês (apesar <strong>de</strong><br />

o povo ser chinês). Na Índia, há diferenças, já que o PIB é muito baixo.<br />

Há fatos interessantes sobre a Ásia; são cerca <strong>de</strong> 20 religiões e 3.000 dialetos. Na América existem aproximadamente 1.000<br />

dialetos. Em questão <strong>de</strong> cultura, interativida<strong>de</strong>, expectativa, eles são muito diferentes, tornando o marketing e a construção <strong>de</strong><br />

relacionamentos muito <strong>de</strong>safiadores, por serem públicos muito diferentes. Hoje a China superou os Estados Unidos quanto ao<br />

maior número <strong>de</strong> acessos à internet: mais <strong>de</strong> 2 milhões. Os Estados Unidos têm cerca <strong>de</strong> 1.800 milhão <strong>de</strong> acessos. Em termos<br />

<strong>de</strong> número <strong>de</strong> horas passadas com interativida<strong>de</strong>, conectadas ao telefone, já dobrou o dos Estados Unidos. A Coréia já superou<br />

essa marca e é a número 1 do mundo em termos <strong>de</strong> acesso e conexão.<br />

Do ponto <strong>de</strong> vista <strong>de</strong> marketing e marketing <strong>de</strong> relacionamento, temos que crescer e ter foco na tecnologia, para estabelecer<br />

uma relação com nossos clientes. O mais interessante da pesquisa feita pela Nielsen: dos <strong>de</strong>z maiores países do mundo, os sete<br />

mais recomendados do mundo ficam na Ásia; essas referências são muito importantes para o marketing na Ásia. Se o cliente<br />

comprar um carro e ele quebrar, 100 pessoas saberão, pois o cliente contará para a mãe, o avô, os filhos, primos <strong>de</strong> seus filhos,<br />

etc. Não importa o que a propaganda faça, porque o “boca a boca” ainda é uma maneira informal <strong>de</strong> fazer negócios na Ásia. Os<br />

blogs, sites criados pelo consumidor, são muito eficazes na Ásia.<br />

A bolsa <strong>de</strong> ações da China vem aumentando: a cada dia são cerca <strong>de</strong> 20 mil novas pessoas entrando no mercado <strong>de</strong> ações em<br />

Xangai, e muitas <strong>de</strong>las estão comprando ações pela primeira vez. Como sabem quais ações <strong>de</strong>vem comprar? Isso não está nos<br />

balanços, no PNL, nos jornais, mas sim nos blogs que acessam na noite anterior. Toda empresa tem um número na Bolsa <strong>de</strong><br />

Ações; em chinês, alguns números são consi<strong>de</strong>rados muito prósperos (o oito, por exemplo); logo, se uma empresa tem dois<br />

números oito em sua i<strong>de</strong>ntificação, muitas pessoas vão comprar suas ações. Elas não têm idéia do que estão comprando, não<br />

sabem em que ramo as empresas trabalham; a única coisa que importa são os dois números oito, e é por isso que a bolsa que<br />

ações tem tido um aumento fenomenal em Pequim ou Xangai — é claro que neste ano houve uma queda <strong>de</strong> mais <strong>de</strong> 50%.<br />

Este é um modo interessante <strong>de</strong> ter um relacionamento, <strong>de</strong> fazer o marketing <strong>de</strong> uma empresa.<br />

O tempo conectado em telefones celulares tem dobrado nos últimos anos, nada diferente do que também acontece por<br />

aqui. As pessoas estão comprando pela internet, usando SMS, gastando. Na Índia ou na China, se avaliarmos a atual geração<br />

<strong>de</strong> consumidores, eles nunca tiveram telefone antes, e agora têm o mais novo mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> celular. Na China, em Pequim, há<br />

<strong>de</strong>z anos atrás, havia muitas bicicletas e agora, há carros. é uma mudança do dia para a noite em termos <strong>de</strong> experiência do<br />

consumidor, do que ele <strong>de</strong>seja. Num dia não se tem nada, no outro, tem-se o melhor. é interessante e <strong>de</strong>safiador para muitos<br />

profissionais <strong>de</strong> marketing e propaganda da região.<br />

Em virtu<strong>de</strong> do que mencionei anteriormente, muitos consumidores da região, exceto Austrália ou Nova Zelândia, que são<br />

mais <strong>de</strong>senvolvidos, estão comprando seu primeiro carro, usando seu primeiro telefone celular, a primeira lavadora, o primeiro<br />

secador, o primeiro xampu, porque antes, eles lavavam os cabelos com sabão. Em termos <strong>de</strong> marketing <strong>de</strong> relacionamento e<br />

lealda<strong>de</strong>, é muito <strong>de</strong>safiador; pois estamos lidando com consumidores sem referências, mas eles <strong>de</strong>ci<strong>de</strong>m se gostam ou não<br />

<strong>de</strong> você com base em sua primeira experiência e eles estão interagindo com você como uma marca.<br />

Esta é uma das maiores economias, o empolgante marketing da China. São cerca <strong>de</strong> 1,3 bilhão <strong>de</strong> pessoas, quase oito vezes o<br />

tamanho do Brasil, com um crescimento <strong>de</strong> PIB <strong>de</strong> cerca <strong>de</strong> 9 a 10% no ano passado. A inflação também é alta.<br />

Vou <strong>de</strong>senhar um quadro da venda <strong>de</strong> xampus: em 1989, a venda <strong>de</strong> xampus era <strong>de</strong> US$ 1,5 milhão na China. Em 2006, foi <strong>de</strong><br />

US$ 2,5 bilhões. Parece um mercado empolgante, certo? Deveríamos todos ven<strong>de</strong>r xampus! Porém, em 1986 havia seis marcas<br />

e em 2006, são 3.000.<br />

é um enorme mercado, mas existem <strong>de</strong>safios. Aqueles <strong>de</strong> vocês que já tiveram a experiência <strong>de</strong> trabalhar ou estar na China,<br />

sabem que é um país muito empolgante, mas para o marketing e as empresas, é cheio <strong>de</strong> <strong>de</strong>safios.<br />

Ontem eu estava falando com uma pessoa que tem um amigo que trabalha em uma indústria fabricante <strong>de</strong> lavadoras (a Whirlpool)<br />

no Brasil e foi mandado para a Whirlpool <strong>de</strong> Xangai. Ela contou que este amigo, que foi para Xangai e estava com um<br />

<strong>de</strong>sempenho excelente no Brasil durante muitos anos e que, recentemente, foi para Xangai, não estava apresentando bons<br />

resultados. Perguntei por quê. Ela explicou que o amigo vai até lá, tenta motivar a equipe, fazer com que se esforcem mais, mas<br />

eles não o fazem. Os funcionários chegam para trabalhar às 9h00 e às 17h00 vão embora, sem hora extra. Ele tenta aumentar<br />

a produtivida<strong>de</strong>, mas não funciona; tenta motivá-los, para que fiquem empolgados e não funciona. Fundamentalmente, a<br />

China ainda é um país comunista e as pessoas são diferentes, elas pensam <strong>de</strong> outra forma. Os brasileiros são mais emotivos,<br />

passionais, têm espírito <strong>de</strong> equipe, sonham. Porém, é um país empolgante. A Ásia é diferente, assim como a América Latina,<br />

tenho certeza.<br />

Vou falar <strong>de</strong> dois cases com os quais acredito que vocês po<strong>de</strong>rão apren<strong>de</strong>r algo e vou partilhar com vocês algumas opiniões. O<br />

primeiro <strong>de</strong>les é <strong>de</strong> uma empresa chamada Hewlett Packard, a HP. Nós fizemos um programa em 12 países cujo target eram os<br />

SMB (Small Media Business), com o objetivo específico <strong>de</strong> fazer com que as pessoas usem mais cartuchos HP, especificamente<br />

nos setores das SMB. Nós tentamos fazer com que as pessoas usem cartuchos da HP e não usarem outras versões.<br />

Entrei em contato com a HP no Brasil e eles estão com o mesmo problema: as pessoas não usam o cartucho original, mas o<br />

refil. Então, a HP diz: usem mais cartuchos originais, o verda<strong>de</strong>iro, porque a HP ganha muito dinheiro com eles. O programa<br />

original era muito simples: a HP queria i<strong>de</strong>ntificar as pessoas, dar-lhes pontos — especificamente as secretárias, os administradores,<br />

para que <strong>de</strong>cidam comprar cartuchos HP. O programa se chama Original Rewards (recompensas originais) e parece<br />

simples, mas o que a HP quer realmente fazer é <strong>de</strong>finir e <strong>de</strong>scobrir a “regra 80/20”: 80% dos lucros vêm <strong>de</strong> 20% das SMBs que<br />

utilizam o cartuchos. Esta regra 80/20 aplica-se à maioria dos negócios. A HP quer <strong>de</strong>finir essas pessoas, falar com elas, fazer<br />

com que comprem mais cartuchos, dar-lhes pontos. São secretárias e administradores dos escritórios, que <strong>de</strong>ci<strong>de</strong>m comprar<br />

ou não os cartuchos da HP.<br />

é um programa muito simples e parece simples: você compra uma impressora ou cartuchos HP, ganha pontos, entra no site,<br />

se registra, diz qual é a sua empresa, quantas impressoras vocês têm e recebe uma i<strong>de</strong>ntificação <strong>de</strong> relacionamento com a HP.<br />

Você se inscreve, assim, nesse programa chamado e-voucher, que é um a<strong>de</strong>sivo com um número. Uma vez que você compra<br />

esse cartucho e fica com o a<strong>de</strong>sivo com código alfanumérico (que é único em cada cartucho), é só acessar o site, fazer seu<br />

registro, informar qual é a sua empresa, sua área <strong>de</strong> atuação e ganhar pontos.<br />

Com a a<strong>de</strong>são, você ganha benefícios com base no perfil da empresa que são enviados para você. E com base nele, a HP enviará<br />

promoções. Para tornar-se membro, se o seu perfil for <strong>de</strong> SMB, você estará qualificado. Com base no seu perfil, a HP enviará<br />

promoções mensais. A secretária pensa: “Comprar cartuchos é sem-graça, mas vou ganhar pontos!”. Essa é a razão pela qual a<br />

HP vai mudar isso: comprar cartuchos é realmente uma tarefa muito chata, além do preço. Então, a HP quer tornar a compra<br />

<strong>de</strong> cartuchos algo mais interessante; o cliente se torna um membro, há interação, jogos on-line, para que o ato <strong>de</strong> comprar<br />

cartuchos passe a ser uma ativida<strong>de</strong> mais interativa, divertida. Nós até convidamos esses membros para irem a festas duas<br />

vezes por ano. Nos negócios do tipo SMB, as secretárias ou os administradores, que não são muito admirados, isso é bastante<br />

empolgante. No Dia da Secretária ou dos Namorados, eles enviam promoções baseadas no perfil da pessoa.<br />

Há também os parceiros dos canais <strong>de</strong> venda, on<strong>de</strong> se compram os computadores e eles também estão no circuito. A HP<br />

ven<strong>de</strong> para os varejistas e para os usuários. Também fazemos coisas boas! Se o cliente tiver os pontos e se não gostar da bolsa<br />

Louis Vuitton ou a caneta Mont Blanc do catálogo, po<strong>de</strong> doar seus pontos para ONGs.<br />

Recentemente, a China sofreu um terremoto e os membros da HP doaram cerca <strong>de</strong> US$ 50 mil para a causa. Por exemplo, essa<br />

senhora que está sentada na minha frente po<strong>de</strong> dizer: “Comprar cartuchos e ganhar pontos, que coisa empolgante!” Sim, esse<br />

é o propósito: fazer com que se torne algo interessante, interativo; fazer com que a HP conheça melhor o cliente, po<strong>de</strong>ndo<br />

oferecer melhores produtos, serviços e interativida<strong>de</strong>. E isso também faz com que ele compre impressoras, computadores,<br />

laptops da HP. Esse programa tem crescido e está sendo implantado em 12 países por toda região Ásia-Pacífico. é um gran<strong>de</strong><br />

programa, tanto para a HP como para nós.<br />

Resumindo: todos sabemos que a HP é uma marca boa, po<strong>de</strong>rosa, mas é muito importante conhecer seus clientes. A comunicação<br />

above the line da marca é importante, mas a personalização através <strong>de</strong> e-mail e o perfil são ferramentas úteis que<br />

utilizamos e voltam para nós. é um programa <strong>de</strong> relacionamento <strong>de</strong> 360º: a venda é feita para o reven<strong>de</strong>dor, que ven<strong>de</strong> para<br />

o usuário final que, por sua vez, volta para o fabricante.<br />

Vou passar para o exemplo seguinte: a Samsung Card é uma gran<strong>de</strong> marca <strong>de</strong> cartão <strong>de</strong> crédito somente na Coréia. O que há<br />

<strong>de</strong> tão especial nesse cartão <strong>de</strong> crédito novo? Ele é completamente personalizado; você mesmo faz o <strong>de</strong>sign do cartão.<br />

Hoje, na Coréia, você po<strong>de</strong> fazer o upload das suas fotos on-line, no portal samsungcard — <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que não sejam obscenas —<br />

e imprimir seu próprio cartão <strong>de</strong> crédito personalizado. Se quiser uma linda imagem da torre Eiffel, po<strong>de</strong> imprimir um cartão<br />

<strong>de</strong> crédito só para você.<br />

Em São Paulo, por exemplo, as pessoas têm muitos cartões <strong>de</strong> crédito. Queremos ir além das transações. Não se trata <strong>de</strong> pontos<br />

ou facilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uso, mas da mudança <strong>de</strong> dinamismo, chegando à emoção. Com os pontos que o cartão oferece pelo uso,<br />

você po<strong>de</strong> também revelar diretamente no site as fotos que tira com sua câmera digital, fazendo o upload no site.<br />

Repito: a idéia aqui é realmente ir além dos pontos, e não ter o cartão <strong>de</strong> crédito só para pagar as contas, certo? é interessante:<br />

você acessa o site, monta seu perfil — gosta <strong>de</strong> comida japonesa, mora nos Jardins, faz compras no Shopping Iguatemi. Neste<br />

programa, se perto do horário do jantar, por volta das 21h00, o restaurante japonês não tiver fregueses (por exemplo, numa<br />

2ª-feira), eles mandarão para você uma mensagem <strong>de</strong> SMS às 21h05, dizendo: “Por favor, venha a este restaurante japonês nos<br />

Jardins e ganhe 50% <strong>de</strong> <strong>de</strong>sconto”. Incrível, é um <strong>de</strong>sconto gran<strong>de</strong>, mas eles po<strong>de</strong>m concedê-lo, porque o sushi seria jogado<br />

fora, não vai servir mais, não é mais fresco, então é melhor para o restaurante dar a você 50% <strong>de</strong> <strong>de</strong>sconto para levá-lo até lá,<br />

comer o sushi, beber uma Coca-Cola e eles ganharão dinheiro, no lugar <strong>de</strong> jogar o sushi fora.<br />

Vamos imaginar a seguinte situação: você é dono <strong>de</strong> um cinema e às 21h00, vai começar um filme. Às 20h45, só há 20 pessoas<br />

na sala. O que acontece? Ao começar o filme, o ar condicionado estará ligado, a taxa <strong>de</strong> licença para passar o filme terá que<br />

ser paga e você só tem 20 pessoas. Se às 20h55, você pu<strong>de</strong>sse enviar um SMS para as pessoas que participam do programa,<br />

dizendo: “venham agora, mostrem o cartão Samsung na bilheteria e paguem só a meta<strong>de</strong> do preço, ou não paguem nada,<br />

apenas a pipoca”. O custo <strong>de</strong> colocar um negócio para girar é fixo. Atrair os clientes certos é muito importante.<br />

208 209<br />

COMISSÃO 4 - MARKETING PROMOCIONAL


Com o cartão Samsung, é possível enviar e-vouchers (e-tíquetes), cartões, e-certificados, vales-presentes. Você envia um <strong>de</strong>stes<br />

ao seu amigo pela plataforma. A idéia é ir além do core business, das transações. Estamos falando <strong>de</strong> relacionamento, <strong>de</strong><br />

conhecer seus clientes, apresentar-lhes a oferta certa. Hoje, a tecnologia — internet, SMS, internet sem fio — tem diminuído<br />

os custos da navegação. Enviar um SMS é muito barato.<br />

Esses são os dois cases <strong>de</strong> estudos. Nos próximos minutos, darei alguns conselhos a vocês. Perguntaram antes se existe na Ásia<br />

algum tipo <strong>de</strong> regulamentação para o uso da internet ou spams. A China é hoje o segundo maior país em número <strong>de</strong> spams,<br />

o que significa que há muito lixo circulando pela internet, fora os Estados Unidos. Sem entrar em mais <strong>de</strong>talhes, é importante<br />

dizer que mesmo na China, não há regulamentação que controle ou gerencie a propaganda feita por e-mail.<br />

Às vezes, na China, você não consegue acessar sites como Yahoo ou Google, pois o governo simplesmente diz que você não<br />

po<strong>de</strong> (especificamente na China, mas não em toda a Ásia). Nos Estados Unidos, Reino Unido e na Austrália, não há leis hoje em<br />

dia que regulamentem a propaganda por e-mail pela internet. Acho que isso vai mudar; <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> alguns anos, as empresas<br />

vão gerenciar esse tipo <strong>de</strong> marketing com os clientes. é necessário que haja marketing <strong>de</strong> relações globais, proibição contra<br />

transmissões falsas ou enganosas e o uso <strong>de</strong> en<strong>de</strong>reços gerados aleatoriamente e o envio <strong>de</strong> e-mails sem a autorização. Falaremos<br />

disso em mais <strong>de</strong>talhes nas plenárias.<br />

Alguns aspectos em relação ao marketing <strong>de</strong> relacionamento: aqui estão dois sli<strong>de</strong>s usando múltiplas mídias; neste exemplo,<br />

temos on-line, off-line, e usando a interação dos parceiros com o público. O importante é sempre dar opções a seus clientes,<br />

para manter o relacionamento. Personalização: o exemplo do cartão <strong>de</strong> crédito é bom para isso, e hoje isso é possível graças<br />

à tecnologia. Contar uma boa história é muito importante no marketing <strong>de</strong> relacionamento. O Google, por exemplo, não faz<br />

anúncios, mas tem uma boa história para contar.<br />

é importante incluir uma oferta atraente: nós falamos sobre o restaurante japonês, sobre os ingressos <strong>de</strong> cinema e essas ofertas<br />

são atraentes. O que interessa é que eu vou a um restaurante que oferece 50% <strong>de</strong> <strong>de</strong>sconto, e é isso o que me move.<br />

Os micro-sites, blogs são importantes no <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> uma relação com os clientes nesse nosso mundo digital. Uma<br />

experiência intuitiva e amigável que <strong>de</strong>ve ser valorizada: seu próprio site.<br />

Em virtu<strong>de</strong> da tecnologia, é possível medir o retorno do investimento na internet e gerenciar os relacionamentos. E, sim, é<br />

importante ter um programa <strong>de</strong> atuação. O marketing viral pela internet é importantíssimo. O novo paradigma diz que o<br />

cliente é o rei, certo? é verda<strong>de</strong>. Hoje em dia, as marcas como HP, Dell, Acer, Nokia, Ericsson e Motorola, são parecidas. O que<br />

também é importante é que com a internet, os clientes estão ficando mais informados. Antes <strong>de</strong> vir a São Paulo eu acessei o<br />

site da Wikipedia, pois passaria um fim <strong>de</strong> semana aqui e queria <strong>de</strong>scobrir o que fazer nas 48 horas: on<strong>de</strong> ir, on<strong>de</strong> comprar. Eu<br />

me informei antes <strong>de</strong> vir a São Paulo. As empresas estão com vantagens; não importa se você ven<strong>de</strong> computadores, carros ou<br />

telefones: o cliente é quem dita as regras.<br />

Acredito que num futuro não muito distante, as pessoas vão pagar a vocês para fazer propaganda a ser veiculada em uma<br />

pequena tela <strong>de</strong> LCD quadrada <strong>de</strong> 2 polegadas. O cliente vai gerar sucesso ou fracasso da empresa. Muito obrigado.<br />

João Carlos Zicard<br />

A primeira pergunta para o Eugene: qual o formato <strong>de</strong> remuneração das agências <strong>de</strong> promoção na Ásia? Existem regras a esse<br />

respeito? As agências participam <strong>de</strong> concorrências para atendimento às empresas?<br />

Eugene lee<br />

Sim, muitas empresas <strong>de</strong> marketing <strong>de</strong> relacionamento participam <strong>de</strong> concorrências e a maior parte <strong>de</strong>las é paga como nós:<br />

em parte pelos serviços e em parte pela tecnologia. Porém, acho que o contexto não é diferente do que eu vou discutir mais<br />

tar<strong>de</strong> num painel, que é o <strong>de</strong> verda<strong>de</strong>iramente estabelecer um nível <strong>de</strong> experiência, conhecimento e qualida<strong>de</strong> no mercado<br />

das agências <strong>de</strong> marketing.<br />

Na Ásia, <strong>de</strong> fato, assim como vocês, temos essa competição <strong>de</strong> preços e no verão isso fica pior, porque os estudantes se tornam<br />

Toolman Agency por três meses, o que inferniza nossas vidas. Acho que com o passar do tempo, como no ambiente <strong>de</strong> manufatura,<br />

nós passaremos para a base <strong>de</strong> serviços, porque nos estamos fundamentalmente numa economia <strong>de</strong> serviços.<br />

João Carlos Zicard<br />

Segunda pergunta: Emissoras <strong>de</strong> rádio, televisão aberta, veículos <strong>de</strong> massa, terão lugar em um mundo que a cada dia passa a<br />

ser mais individual, menos coletivo, no que toca o consumidor final?<br />

Eugene lee<br />

Creio que sim, embora eu acredite que a experiência <strong>de</strong> ver televisão vai mudar <strong>de</strong> frequência (pelo ar) para on-line, como o<br />

YouTube, mas vai levar algum tempo até uma total personalização da experiência <strong>de</strong> ver televisão.<br />

Fazemos um programa interativo <strong>de</strong> propaganda aqui em São Paulo, que é usado para assistir futebol, e faz muito sucesso no<br />

Brasil. Vocês po<strong>de</strong>m ter uma tela <strong>de</strong> SMS enquanto assistem a TV aberta, e o SMS permite uma interação — para saber, por<br />

exemplo, o que o Kaká está fazendo, se o Ronaldo está jogando bem, on<strong>de</strong> está jogando, qual o placar, quantos pênaltis foram<br />

marcados. Isso não é personalizar o conteúdo, mas é personalizar o relacionamento e a interativida<strong>de</strong>. Estamos fazendo um<br />

programa aqui no Brasil há um ano.<br />

João Carlos Zicard<br />

Você po<strong>de</strong> citar algum case <strong>de</strong> marketing viral produzido ou criado por sua empresa na Ásia?<br />

Eugene lee<br />

A expressão “viral” é muito ruim. Po<strong>de</strong>íamos chamá-lo <strong>de</strong> marketing <strong>de</strong> referência/indicação. O conceito é o mesmo, mas<br />

posicionado <strong>de</strong> maneira diferente. Temos feito muitos marketings <strong>de</strong> referência ou viral, como o caso da HP que mencionei<br />

anteriormente. Uma empresa SMB que conhece outra empresa SMB que possui uma impressoras HP po<strong>de</strong> recomendar que<br />

esta outra empresa entre no programa. Esse é um componente que faz parte do programa, mas não é o único fator.<br />

Esses programas são muito po<strong>de</strong>rosos porque, geralmente, quando você indica alguém ao programa, eles pertencem ao<br />

mesmo nível social, econômico e psicológico, então a pessoa que você indica é tão boa ou equivalente aos seus clientes,<br />

porque você indica a um amigo que frequenta o mesmo parque, tem as mesmas experiências, o mesmo status econômico e<br />

social. é um bom programa <strong>de</strong> filtragem, porque normalmente as pessoas indicam pessoas que têm as mesmas tendências<br />

a gastar e a interagir.<br />

João Carlos Zicard<br />

Infelizmente não temos mais tempo. O Eugene respon<strong>de</strong>rá as perguntas. Se os autores das perguntas permitirem, nós vamos<br />

divulgá-las no site da Ampro a partir <strong>de</strong> amanhã. Eugene, obrigado!<br />

João Carlos Zicard<br />

Vamos ler a tese que a Comissão <strong>de</strong> Marketing Promocional elaborou para ser votada por todos nós. Antes da votação, teremos<br />

um <strong>de</strong>bate sobre a tese e as opiniões dos nossos <strong>de</strong>batedores. A partir daí, cada um terá cinco minutos para a sua<br />

exposição individual. Então, iniciaremos a votação da tese.<br />

Vale lembrar a importância <strong>de</strong> cada um nesse momento <strong>de</strong> votação. Preten<strong>de</strong>mos apresentar a vocês o que a comissão enten<strong>de</strong><br />

como os pontos principais, para que o mercado futuro possa ser regulado <strong>de</strong> forma a minimizar as incoerências e a situação<br />

um pouco difícil que atravessa o relacionamento das agências com os clientes, principalmente com a área <strong>de</strong> suprimentos, os<br />

veículos, os produtores e toda a ca<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> negócios.<br />

Vocês têm a tese na pasta que receberam e é importante que nós fiquemos <strong>de</strong>ntro dos pontos apresentados na tese, por<br />

uma questão <strong>de</strong> tempo e <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m da comissão. Vou ler e projetar a tese que o marketing promocional está propondo para<br />

o mercado a partir <strong>de</strong> agora. Vocês têm um papel específico na pasta, on<strong>de</strong> po<strong>de</strong>rão fazer propostas, comentar, fazer alguma<br />

intervenção.<br />

A tese sairá daqui pela votação da maioria em função do texto que vamos apresentar e vai para a comissão <strong>de</strong> presi<strong>de</strong>ntes.<br />

A comissão <strong>de</strong> presi<strong>de</strong>ntes, por sua vez, alinha a tese inicial com as propostas apresentadas e com a votação. A partir <strong>de</strong>ste<br />

ponto, estipularemos uma apresentação para a votação final do dia 16.<br />

Nós temos, evi<strong>de</strong>ntemente, <strong>de</strong>zenas <strong>de</strong> pontos a serem discutidos <strong>de</strong>ntro do cenário do marketing promocional brasileiro;<br />

são <strong>de</strong>zenas <strong>de</strong> assuntos que po<strong>de</strong>riam ser discutidos se houvesse tempo e se o congresso fosse unicamente sobre marketing<br />

promocional, mas não teremos tempo. Elegemos então, por conta <strong>de</strong> uma maioria da comissão, que os três pontos<br />

fundamentais aqui apresentados são os que vão conferir ao mercado uma situação <strong>de</strong> relacionamento e uma condição <strong>de</strong><br />

negócios um pouco mais estruturada do que temos acompanhando até agora. A partir <strong>de</strong>sta votação, vamos para os anais da<br />

história <strong>de</strong>sse congresso, <strong>de</strong>ixando perpetuada a nossa proposta. Vou ler para vocês e ao mesmo tempo, po<strong>de</strong>m acompanhar<br />

na tela.<br />

Tese<br />

Des<strong>de</strong> o 3º <strong>Congresso</strong> <strong>Brasileiro</strong> <strong>de</strong> Publicida<strong>de</strong>, muita coisa mudou. O consumidor está diferente e os veículos estabeleceram<br />

outra relação com os consumidores. A diversida<strong>de</strong> <strong>de</strong> disciplinas <strong>de</strong>ntro da comunicação é infinitamente maior do que há 30<br />

anos. Hoje o consumidor tem acesso a muito mais produtos e serviços e é impactado <strong>de</strong> formas diferentes. Por consequência,<br />

as agências <strong>de</strong> marketing promocional são cada vez mais <strong>de</strong>mandadas por atuarem <strong>de</strong> forma multidisciplinar. Assim sendo,<br />

precisam se posicionar <strong>de</strong> forma mais a<strong>de</strong>quada, sustentável e atual. E para atingir esse objetivo, essa comissão abrirá o <strong>de</strong>bate<br />

recomendando a adoção das seguintes práticas consi<strong>de</strong>radas fundamentais:<br />

1º Certificação por competência<br />

A Ampro também consi<strong>de</strong>ra <strong>de</strong> fundamental importância oferecer ao mercado uma chancela aceita pelos anunciantes e<br />

agências <strong>de</strong> marketing promocional sobre a competência na sua área <strong>de</strong> atuação, e que a sua legitimida<strong>de</strong> seja alcançada<br />

através da observância rigorosa aos padrões <strong>de</strong> ética e qualida<strong>de</strong> criativa e execução. Essa certificação básica começa com<br />

cinco disciplinas:<br />

a) promoção e merchandising;<br />

b) marketing <strong>de</strong> incentivo;<br />

c) marketing <strong>de</strong> relacionamento e fi<strong>de</strong>lida<strong>de</strong>;<br />

d) eventos;<br />

e) web promotion.<br />

2º Padrão <strong>de</strong> remuneração<br />

Um bom planejamento e uma idéia bem executada geram benefícios <strong>de</strong> venda e imagem ao cliente, e a agência <strong>de</strong>ve ser<br />

proporcionalmente bem remunerada pelo seu trabalho. A proposta é obter um padrão <strong>de</strong> remuneração que <strong>de</strong>ve partir <strong>de</strong><br />

15% sobre o investimento do anunciante no projeto, budget, verba do projeto. Porém, os success fees <strong>de</strong>vem ser substituídos<br />

quando a agência for completamente envolvida nos processos e será a peça fundamental para o sucesso ou fracasso <strong>de</strong> uma<br />

ação. Consultar também a tabela <strong>de</strong> preço referencial da Ampro, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que o piso <strong>de</strong> remuneração seja <strong>de</strong> 15%.<br />

3º Concorrência<br />

As concorrências <strong>de</strong>vem ser estabelecidas para criar um relacionamento duradouro entre agência e cliente. Isso representará<br />

<strong>de</strong>dicação e profundida<strong>de</strong> no planejamento e para que esse processo seja legítimo e saudável para ambas as partes, estabeleceremos<br />

alguns pontos como padrões <strong>de</strong> concorrência. A idéia é que tenhamos concorrências por contas, on<strong>de</strong> a agência<br />

estabeleceria um relacionamento duradouro com o seu cliente — 12 meses, 24 meses, 36 meses.<br />

4º Direito autoral<br />

Por direito, a idéia criada e planejada pela agência é da agência e <strong>de</strong>ve ser reconhecida pelo mercado. Em todo processo <strong>de</strong><br />

briefing, ao apresentar proposta ao cliente, <strong>de</strong>ve ser assinado por ambas as partes um documento <strong>de</strong>nominado “protocolo<br />

<strong>de</strong> criação”, on<strong>de</strong> consta a <strong>de</strong>scrição do que foi apresentado, o que garante à agência, mesmo que ela perca a concorrência, a<br />

reserva <strong>de</strong> direitos autorais e intelectuais do projeto apresentado.<br />

210 211<br />

COMISSÃO 4 - MARKETING PROMOCIONAL


Consi<strong>de</strong>ramos que esses três pontos básicos po<strong>de</strong>rão, num primeiro momento, englobar todos os outros <strong>de</strong>talhes menores<br />

que vimos na relação da agência com o cliente, da agência com seus fornecedores e na ca<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> negócios como um todo.<br />

Então, gostaria <strong>de</strong> abrir o <strong>de</strong>bate sobre a tese.<br />

O Gaspar acabou <strong>de</strong> lembrar que talvez vocês já possam, à medida que formos <strong>de</strong>batendo, escrever alguma pergunta ou iniciar<br />

alguma manifestação a respeito, para que ganhemos tempo e para que vocês também possam acompanhar todo o processo.<br />

Nós, da Comissão, enten<strong>de</strong>mos que esses três tópicos po<strong>de</strong>rão abranger os principais processos futuros <strong>de</strong> um relacionamento<br />

profissional, maduro, duradouro e profundo entre agências e clientes.<br />

Vivemos uma relação <strong>de</strong> superfície, pontual, meramente econômica, on<strong>de</strong> às vezes, expertise, talento, qualida<strong>de</strong> e resultado —<br />

como Eugene Lee citou em um dos cases —, são esquecidos por um pouco mais <strong>de</strong> dinheiro. Abro este <strong>de</strong>bate convidando<br />

Marcelo Heidrich a comentar os pontos que envolvem a tese.<br />

marcelo Heidrich<br />

Boa tar<strong>de</strong>! Eu gostaria <strong>de</strong> falar sobre a região que o Eugene Lee representa, a Ásia, comentando que em <strong>de</strong>terminado momento,<br />

eles <strong>de</strong>cidiram mudar e mudar para melhor. Isso foi um processo, um plano coletivo.<br />

Esta é uma gran<strong>de</strong> oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> fazer uma mudança concreta, segura e eficiente na comunicação e no marketing promocional,<br />

também com esforço coletivo. O painel sugere <strong>de</strong>batermos quatro pontos importantes: certificação; remuneração;<br />

concorrência; e direitos autorais. Para mim, são assuntos correlatos, porque têm o objetivo claro <strong>de</strong> exigir o resgate do valor,<br />

organização, qualida<strong>de</strong> e eficiência.<br />

Essa intenção é tão autêntica quanto óbvia quando se fala <strong>de</strong> um mercado on<strong>de</strong> a idéia é a moeda corrente do negócio.<br />

Vamos começar falando do ponto mais polêmico: a remuneração. No ca<strong>de</strong>rno <strong>de</strong> negócios do jornal O Estado <strong>de</strong> S.Paulo, foi<br />

publicada uma matéria citando o prêmio do Brasil em Cannes, que foi da Almap, criado por dois novatos.<br />

Será que nossa indústria está realmente preparada para atrair novos talentos que <strong>de</strong>senvolverão os ativos e riquezas do futuro<br />

da pirâmi<strong>de</strong> da indústria? A base da pirâmi<strong>de</strong> é a sustentabilida<strong>de</strong> do negócio. As pessoas procuram suas profissões <strong>de</strong> acordo<br />

com seus talentos e com as projeções <strong>de</strong> suas carreiras. Remunerar bem e justamente é alimentar <strong>de</strong> forma sustentável uma<br />

ca<strong>de</strong>ia saudável <strong>de</strong> negócios. Todos ganham, do cliente ao estagiário, mas não existe nada mais inútil do que ser eficiente<br />

naquilo que não <strong>de</strong>veria nem ter sido feito. Hoje, a nossa indústria é eficiente nas negociações equivocadas, portanto, tem um<br />

investimento mal aplicado e uma entrega duvidosa, porque per<strong>de</strong>u a sua referência.<br />

Criativida<strong>de</strong>, estratégia, planejamento e competência <strong>de</strong> execução, são as razões para conquistar esses ativos. Desta forma,<br />

o custo é maior, e <strong>de</strong>mandam-se mais pesquisas e recursos para encontrar o resultado e a eficiência esperados. Esse mundo<br />

atual, on<strong>de</strong> tudo é mais rápido, exige que essas ferramentas sejam aplicadas constante e regularmente.<br />

A proposta da comissão <strong>de</strong> no mínimo 15% sobre o valor total <strong>de</strong> investimento me parece uma referência coerente, porém,<br />

quero propor uma ampliação, com a coerência da proposta <strong>de</strong> concorrência: que ela seja também um horizonte <strong>de</strong> 15% sobre<br />

o investimento anual. Isso permite uma condição mais a<strong>de</strong>quada <strong>de</strong> planejamento <strong>de</strong> gestão e po<strong>de</strong>rá, sem dúvida, ser um<br />

fee/success fee/tabela/percentual sobre produção <strong>de</strong> formato — <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que seja realmente um mínimo <strong>de</strong> 15% em uma verba<br />

<strong>de</strong> investimento anual.<br />

Os gran<strong>de</strong>s grupos internacionais têm policies que impe<strong>de</strong>m este tipo <strong>de</strong> norma e, na minha opinião, é outro equívoco, pois os<br />

gran<strong>de</strong>s grupos internacionais seguem rigorosamente as regras do jogo local. Nós temos exemplos no mercado da comunicação<br />

eficiente, como o Conar, ou o próprio Cenp, quanto ao impedimento dos birôs no país; isso é respeitado até hoje.<br />

Com essa clareza e esse padrão <strong>de</strong>finidos, po<strong>de</strong>mos estabelecer algumas condições que incentivem a transparência na relação<br />

comercial com o cliente e no compromisso entre as partes, permitindo maior sofisticação no planejamento <strong>de</strong> gestão<br />

anual. Assim, o cliente ganharia um aliado, e não um competidor, pelo mesmo dinheiro.<br />

Tudo isso tem o objetivo <strong>de</strong> fazer com que o mercado se oxigene mais, inspire mais a produtivida<strong>de</strong>. Temos muitos exemplos<br />

<strong>de</strong> ca<strong>de</strong>ias <strong>de</strong> valor <strong>de</strong> sucesso, com boas remunerações. Na área bancária, por exemplo, há os spreads e as tarifas bancárias,<br />

que, com certeza, são mais caras hoje do que eram há cinco ou <strong>de</strong>z anos. Porém, hoje em dia, nenhum <strong>de</strong> nós tem que ir até<br />

o banco, portanto, não enfrenta problemas como falta <strong>de</strong> vagas para estacionar, filas intermináveis, carência <strong>de</strong> informações<br />

precisas e <strong>de</strong> atendimento.<br />

Essa condição prova que a eficiência <strong>de</strong>manda valor. Po<strong>de</strong>mos reclamar do valor que pagamos, mas não do beneficio que recebemos.<br />

Na parte <strong>de</strong> certificação, esse é o preço do mercado, da sua normatização e regulamentação. O mercado sempre foi<br />

orientado por sindicatos e associações. Essa alternativa nos fez avançar pouco, o que fragiliza e envelhece o setor, <strong>de</strong>ixando-o<br />

com baixa representativida<strong>de</strong>.<br />

Com a certificação, as informações são estruturadas, éticas, garantidas e referenciadas publicamente, estimulam a evolução<br />

qualitativa e dão liberda<strong>de</strong>. O mercado <strong>de</strong> certificados se torna maduro, profissional e forte. Na questão da concorrência, acho<br />

que com um processo ampliado <strong>de</strong> certificação, resolve-se a questão da concorrência.<br />

Vamos falar dos direitos autorais: somente uma visão limitada e míope não enaltece o valor do autor e <strong>de</strong> uma idéia, principalmente<br />

uma indústria que faz das idéias o seu negócio. O limite do crescimento dos negócios é o limite da imaginação<br />

humana. Sucatear o valor criativo é implodir o valor dos ativos dos negócios. Por isso, voto a favor das quatro opções macros<br />

da tese como estruturas-chave <strong>de</strong> uma discussão mais <strong>de</strong>talhada sobre sua aplicação.<br />

Não nos afogamos quando caímos na água, mas quando continuamos <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>la. Competência pe<strong>de</strong> liberda<strong>de</strong> e o mercado<br />

já tem o seu direito adquirido para exigir isso.<br />

João Carlos Zicard<br />

Temos com Marcelo Heidrich uma votação a favor da tese, ampliando-se a questão da concorrência. Com relação a uma pergunta<br />

sobre a certificação, eu vou interferir nesses momentos para po<strong>de</strong>r elucidar essas questões; elucidando uma pergunta,<br />

posso estar respon<strong>de</strong>ndo a outras.<br />

O Sandro Salla, da Giacometti, coloca que em mercados menores o marketing promocional é feito pela agência <strong>de</strong> comunicação<br />

do cliente, a mesma que cria a sua propaganda. Como fica a relação das agências <strong>de</strong> comunicação que atuam na área <strong>de</strong><br />

promoção também com a Ampro haverá certificações específicas?<br />

Estamos falando <strong>de</strong> certificação <strong>de</strong> competência. Os grupos <strong>de</strong> comunicação são formados por todas as disciplinas que envolvem<br />

o marketing promocional, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o marketing direto até a área <strong>de</strong> promoção <strong>de</strong> vendas, portanto, o po<strong>de</strong>r do conglome-<br />

rado <strong>de</strong> comunicação é um fato. Temos poucos players no mundo e eles dominam 80% da verba mundial <strong>de</strong> comunicação,<br />

atuando <strong>de</strong> forma disciplinarmente específica com empresas específicas <strong>de</strong>ntro do próprio grupo. Portanto, é um pouco difícil<br />

— e nem é o <strong>de</strong>sejo da Ampro e da SGS — limitar a participação <strong>de</strong> qualquer competência legítima no processo <strong>de</strong> certificação<br />

do marketing promocional, assim como não é preciso ter uma estrutura <strong>de</strong> 200 pessoas para obter uma certificação <strong>de</strong><br />

competência do marketing promocional. E tentamos introduzir uma certificação inicialmente por competência para ganhar<br />

legitimida<strong>de</strong> no processo <strong>de</strong> venda e entrega <strong>de</strong> um serviço prometido, para que o cliente tenha segurança na empresa que<br />

está contratando, para que ele tenha claramente a visão <strong>de</strong> quem é quem <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> cada disciplina e cada segmento.<br />

Gostaria <strong>de</strong> continuar o <strong>de</strong>bate. Agora temos o Fernando Figueiredo.<br />

fernando figueiredo<br />

Boa tar<strong>de</strong> a todos! Primeiro, vale a pena nós pararmos para pensar um pouquinho no “nome” do congresso. Essa foi a primeira<br />

discussão quando falamos que a Ampro iria participar <strong>de</strong> todo esse processo. Fiquei feliz ao saber que já se discute a possibilida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> o próximo congresso não se chamar mais <strong>Congresso</strong> <strong>de</strong> Publicida<strong>de</strong> e sim <strong>de</strong> Comunicação ou da Indústria <strong>de</strong><br />

Comunicação. é o que somos hoje e acho que vale a pena citar Cannes, como o Marcelo já citou.<br />

Embora tenhamos recebido um “Leão” em Cannes, saímos muito <strong>de</strong>cepcionados, porque o nosso mercado ainda está longe<br />

dos outro - o alemão, o da Nova Zelândia, porque diz respeito à promoção. O marketing promocional <strong>de</strong> lá é <strong>de</strong> gente gran<strong>de</strong>,<br />

uma coisa inimaginável, e não é porque são mais inteligentes ou mais criativos, mas acho que o mercado, às vezes, é um<br />

pouco mais estruturado que o nosso.<br />

Citamos que há 30 anos atrás, no último congresso, as coisas eram bem diferentes, mas as mudanças não aconteceram há 30<br />

anos atrás; elas vêm acontecendo e vão continuar a acontecer. Hoje a indústria da comunicação é composta por uma série <strong>de</strong><br />

especialistas. Todos são agências <strong>de</strong> comunicação. Porém, são especialistas em publicida<strong>de</strong>, em promoção e marketing direto.<br />

O problema é que quando existe um projeto junto ao cliente e existem vários especialistas envolvidos no processo, todos<br />

ficam tentando achar o pai da criança, quem é o dono da idéia, e eu estou mais preocupado em tentar achar quem é o lí<strong>de</strong>r do<br />

processo. Nós não vamos encontrá-lo, porque essa indústria é feita <strong>de</strong> egos e nós sabemos disso melhor do que ninguém.<br />

Eu quero tomar conta do projeto, a agência quer tomar conta do projeto, mas <strong>de</strong> alguma forma precisamos criar uma li<strong>de</strong>rança,<br />

uma maneira <strong>de</strong> organizar esse mercado e fazer com que essas várias agências trabalhem <strong>de</strong> uma forma orquestrada.<br />

Acredito sinceramente que esta li<strong>de</strong>rança virá da transparência, da ética e <strong>de</strong> um regulamento bem <strong>de</strong>finido. é preciso que<br />

abandonemos a hipocrisia. Ficávamos abraçados na foto, todos bonitinhos, todos felizes e é isso que vamos cumprir. Mas no<br />

campo da batalha, ali na concorrência, eu não estava preocupado com o meu concorrente: eu queria era ganhar a concorrência.<br />

E é assim que funciona. Eu me garanto sozinho, eu Bullet me garanto sozinho, o banco se garante sozinho. Mas o mercado<br />

é feito <strong>de</strong> muitas e muitas agências, e se nós não seguirmos uma regra básica, não vamos crescer: vamos continuar fazendo<br />

promotorazinha no ponto <strong>de</strong> venda, festinha <strong>de</strong> aniversário, “eventinhos”, programinhas <strong>de</strong> incentivo e pequenas promoções.<br />

Vamos tentar ganhar um “Leão” em Cannes, mas não conseguiremos.<br />

Eu sei que prêmio não é nada, mas <strong>de</strong> certa forma, ele cria um medidor do nosso <strong>de</strong>sempenho. Acredito que os quatro pontos<br />

que estão em votação se baseiam no relacionamento sustentável. é isso que a agência e o cliente precisam enten<strong>de</strong>r: tudo é<br />

uma ca<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> sustentabilida<strong>de</strong>.<br />

O mais importante é a certificação, porque é o jeito <strong>de</strong> nos mostrarmos para o mercado, contarmos a todos o que fazemos, o<br />

que somos e qual é a nossa competência. Eu apoio a certificação, mas <strong>de</strong> uma forma completamente diferente. Precisamos<br />

ter alguma característica <strong>de</strong>ssa certificação. A primeira <strong>de</strong>las é, por exemplo, a cor do selo: <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo da sua especialida<strong>de</strong>,<br />

você terá uma cor <strong>de</strong> selo. Outra coisa é o tamanho do seu negócio. Existem agências gran<strong>de</strong>s, médias e pequenas. Não melhores,<br />

nem piores. Por que não colocar letras para <strong>de</strong>finir o tamanho da agência?<br />

A terceira coisa é a avaliação. Já que um instituto está certificando, por que não criar pontos e ganhar pontos da certificação<br />

na avaliação <strong>de</strong> todo o processo? Se eu for mal avaliado, vou querer melhorar para ganhar um upgra<strong>de</strong> da minha certificação,<br />

para que, na hora <strong>de</strong> uma concorrência, nós saibamos exatamente quem está concorrendo conosco.<br />

Participo <strong>de</strong> muitas concorrências <strong>de</strong> eventos e vejo, por exemplo, uma empresa <strong>de</strong> buffet na concorrência, junto com uma<br />

<strong>de</strong> marketing direto. Por que uma empresa <strong>de</strong> marketing direto está participando <strong>de</strong> uma concorrência <strong>de</strong> eventos? Se tivéssemos<br />

o selo, todos saberiam — principalmente o cliente — que são as empresas certas para aquela concorrência.<br />

Há, ainda, a questão da remuneração. Falou-se em 15% e não sou a favor, nem contra. Acho positivo criarmos um valor <strong>de</strong><br />

piso, para que todas as agências respeitem. A forma <strong>de</strong> cobrança das agências é um problema <strong>de</strong>las. Algumas cobrarão em<br />

fee; outras, em taxa <strong>de</strong> agenciamento; não importa, mas po<strong>de</strong>mos estabelecer um piso <strong>de</strong>, por exemplo, 15% e, ao longo <strong>de</strong><br />

um ano, termos a garantia do cliente <strong>de</strong> que a remuneração será feita sobre a base <strong>de</strong> 15%. é simples: a agência não vai ganhar<br />

um bom dinheiro, e eu não vou sair no dia seguinte para comprar o meu Porsche. Vou investir em mais profissionais, pagar<br />

melhores salários, contratar mais gente e o cliente vai ganhar em primeiro lugar, porque terá mais gente qualificada.<br />

Não sei como está o mercado para todos. No começo, foi um ano maravilhoso. Estamos vivendo um milagre econômico, segundo<br />

nosso presi<strong>de</strong>nte. Só que isso está diretamente relacionado ao meu cliente, ao beneficio que estou dando a ele. Então,<br />

eu quero, sim, ser bem remunerado.<br />

Mais uma questão da qual sou a favor: o direito autoral. Sou a favor <strong>de</strong> termos esse protocolo <strong>de</strong> criação. Acho que gran<strong>de</strong><br />

parte dos clientes são éticos, mas há uma minoria que acaba se valendo <strong>de</strong> má-fé e, por isso, o direito autoral é fundamental.<br />

Por último, a concorrência: a certificação e o selo garantem tudo. Não sou a favor da obrigatorieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> termos somente<br />

agências com selo participando <strong>de</strong> concorrências; esse é um critério do cliente, mas é critério meu saber se vou ou não participar<br />

<strong>de</strong>ssa concorrência em função das agências que estão lá. Parafraseando Kofi Annan: o congresso, a entida<strong>de</strong>, a Ampro<br />

não têm a obrigação <strong>de</strong> saber tudo, mas <strong>de</strong> saber exatamente qual é o seu papel — que é organizar —, e cabe às agências<br />

cumprirem seu papel — executar. Muito obrigado.<br />

João Carlos Zicard<br />

Vou respon<strong>de</strong>r a duas perguntas feitas com base no que o Fernando disse. A certificação iniciou-se no Brasil em março <strong>de</strong>ste<br />

ano e legitima cinco disciplinas, cinco ferramentas <strong>de</strong> marketing promocional. Nada impe<strong>de</strong> que uma agência possua cinco<br />

certificações, ou três, ou duas. Segundo ponto que também acho fundamental: como vamos trabalhar esta questão do protocolo<br />

<strong>de</strong> direito autoral?<br />

212 213<br />

COMISSÃO 4 - MARKETING PROMOCIONAL


Na Ampro, já existe há nove anos um banco <strong>de</strong> idéias que não é do José Victor Oliva, mas da Ampro. Vocês po<strong>de</strong>m registrar a<br />

idéia, o projeto em cartório <strong>de</strong> títulos e documentos e na Ampro. O protocolo que o cliente assina antes <strong>de</strong> nós entregarmos<br />

a nossa proposta <strong>de</strong> concorrência já nos confere o direito autoral absoluto sobre a idéia, <strong>de</strong> forma e evitar que concorrências<br />

aconteçam com 17 agências, e a 18ª proposta acaba sendo a “salada” feita pela área <strong>de</strong> compras, com a área <strong>de</strong> tra<strong>de</strong>marketing<br />

ou marketing do cliente.<br />

Essa idéia da certificação está no início, não é <strong>de</strong>finitiva e a entida<strong>de</strong> se propõe a organizá-la aberta e <strong>de</strong>mocraticamente, respeitando<br />

e ouvindo a opinião <strong>de</strong> cada um <strong>de</strong> vocês, para que nós possamos ter um cenário um pouco diferente no mês que<br />

vem. Gostaria <strong>de</strong> continuar o <strong>de</strong>bate chamando Geraldo Rocha Azevedo.<br />

Geraldo Rocha Azevedo<br />

Boa tar<strong>de</strong>! Eu queria começar citando um ditado em homenagem ao nosso palestrante: “o fruto só cai da árvore quando está<br />

pronto”. Acredito que este congresso acontece em um momento muito importante. Ele não po<strong>de</strong>ria acontecer cinco anos<br />

antes para discutir os assuntos dos quais estamos tratando; se acontecesse <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> cinco anos com este tema, seria muito<br />

tar<strong>de</strong>, porque, talvez, o mercado do marketing promocional, da forma como nós o conhecemos hoje, não existirá mais.<br />

Estamos presenciando agora um momento <strong>de</strong> mudança na comunicação; mais do que todas as mudanças apresentadas,<br />

está acontecendo a mudança da interrupção para o engajamento. A comunicação da forma como a conhecemos até hoje<br />

é baseada na interrupção: a pessoa está vendo a novela e <strong>de</strong> repente, aquele conteúdo que ela tinha optado por assistir era<br />

interrompido por uma mensagem comercial. O mesmo acontecia no ponto <strong>de</strong> venda, ou quando a pessoa estava no bar e<br />

aparecia um promotor.<br />

Então, começou a se falar em comunicação integrada que, em alguns aspectos, nada mais era do que exatamente a mesma mensagem<br />

interrompendo a pessoa em momentos diferentes. O que estamos percebendo agora é que estamos nos encaminhando<br />

para o engajamento. Depois da palestra do Eugene Lee sobre engajamento, envolvimento, relacionamento, entendi. Hoje, qualquer<br />

coisa criada tem que trazer o engajamento do consumidor. é a opção do consumidor ver aquela mensagem; é opção do<br />

consumidor entrar naquele site da Internet; ver <strong>de</strong>terminado comercial na televisão; é opção <strong>de</strong>le e será cada vez mais assim.<br />

Para que nós consigamos caminhar em direção a essa época do engajamento, on<strong>de</strong> é tão importante ter o interesse do consumidor<br />

por ouvir a mensagem que temos para passar a ele, acho que nós chegamos a um momento on<strong>de</strong> quatro coisas são<br />

fundamentais. A primeira <strong>de</strong>las é a competência. Para ser capaz <strong>de</strong> planejar este engajamento, é preciso ser suficientemente<br />

competente para planejar em todas as etapas este engajamento.<br />

O que vai garantir para <strong>de</strong>terminado anunciante que uma agência tenha esta competência? A certificação, e nesse aspecto —<br />

não só nesse, mas nos outros três que eu ainda vou mencionar —, eu tiro o chapéu para o trabalho que a executiva da Ampro<br />

fez junto ao conselho, <strong>de</strong> conseguir colocar os quatro tópicos em pé. Eu sei o quanto é difícil colocar isso no nosso mercado.<br />

O anunciante só terá a segurança <strong>de</strong> que <strong>de</strong>terminada empresa tem a competência para entregar aquele tipo <strong>de</strong> serviço se<br />

ela tiver a certificação. Caso contrário, ele não vai conseguir.<br />

Outra questão fundamental: este engajamento só é conquistado através <strong>de</strong> talento. Nós temos que ter os melhores talentos,<br />

gente boa pensando e executando para po<strong>de</strong>r entregar este tão buscado engajamento. O que entrega este engajamento?<br />

Remuneração!<br />

O exemplo da propaganda no Brasil, para mim, é fundamental. O Cenp faz até auditorias <strong>de</strong>ntro das agências para saber se a<br />

comissão que o cliente está pagando para aquela agência está <strong>de</strong> acordo com as normas. Em função do Cenp e do mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong><br />

mídia que o Brasil tem, on<strong>de</strong> o planejamento <strong>de</strong> mídia está <strong>de</strong>ntro das agências (isso está sendo referendado neste congresso<br />

também), é possível que as agências, no caso <strong>de</strong> mídia <strong>de</strong> massa, tenham talentos espetaculares e remunerem bem estes<br />

profissionais. Isso faz com que o mercado inteiro se beneficie.<br />

Não adianta nós pensarmos que vamos conseguir este engajamento se não tivermos saú<strong>de</strong> financeira para remunerar bem<br />

os profissionais. Eu falei no primeiro aspecto da competência, que é a certificação. Em segundo o talento, que acaba refletindo<br />

neste aspecto da remuneração. O terceiro é este investimento <strong>de</strong> ambas as partes, agências e clientes. é a concorrência.<br />

Existem inúmeros casos on<strong>de</strong> nós mostramos que a curva <strong>de</strong> aprendizado que um <strong>de</strong>terminado cliente conquista com uma<br />

agência acaba beneficiando ambas as partes, ou seja, se o cliente quiser contratar a sua empresa e estiver no negócio <strong>de</strong> fazer<br />

concorrência, é uma opção <strong>de</strong>le e ele po<strong>de</strong> fazê-lo.<br />

Tentamos sempre buscar uma situação equânime para todas as partes, para que possamos entregar esta busca. E finalmente,<br />

quanto ao direito autoral, acho que uma coisa fundamental em qualquer relação saudável é o respeito e o direito autoral, para<br />

mim se traduz nesta palavra: respeito. Se não respeitarmos quem está gerando as idéias e trazendo-as para nós, essa relação<br />

fica muito prejudicada. Muito obrigado!<br />

João Carlos Zicard<br />

Mais uma pergunta: a certificação não <strong>de</strong>veria passar pela análise <strong>de</strong> contratação <strong>de</strong> fornecedores, funcionários, pelo formato<br />

<strong>de</strong> cobrança, nota fiscal, débito, verificação do recolhimento <strong>de</strong> impostos, etc.?<br />

O processo <strong>de</strong> certificação está disponível para download no site da Ampro; passo a passo, vocês po<strong>de</strong>rão analisar e acompanhar<br />

todas as etapas. Está disponível para qualquer pessoa, qualquer empresa, qualquer agência.<br />

O processo <strong>de</strong> recolhimento <strong>de</strong> impostos não cabe à entida<strong>de</strong>, não cabe ao processo <strong>de</strong> certificação. Cabem, sim, ao processo<br />

<strong>de</strong> certificação, as normas que lá estão estabelecidas, mas não este po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> verificação fiscal, <strong>de</strong> fiscalização <strong>de</strong> tributos e<br />

nós não po<strong>de</strong>ríamos pensar em realizar isso nessa certificação. No caso, é mais uma questão <strong>de</strong> conduta profissional, moral<br />

<strong>de</strong> cada empresário, <strong>de</strong> cada companhia, <strong>de</strong> cada empresa que <strong>de</strong>vem exercer o seu trabalho condignamente com as leis<br />

que regem este país.<br />

As regras estão muito claras. Entrem no site, façam as perguntas sobre o <strong>de</strong>talhe <strong>de</strong> cada passo da certificação e a Ampro ou a<br />

SGS — a certificadora do processo — respon<strong>de</strong>rão a cada um <strong>de</strong> vocês. Eu gostaria <strong>de</strong> convidar mais um <strong>de</strong>batedor Gilberto<br />

Strunck.<br />

Gilberto Strunck<br />

Boa noite. Temos uma gran<strong>de</strong> maioria <strong>de</strong> agências e estamos aqui, em graus diversos, mas quase sempre alinhados com as<br />

propostas apresentadas a vocês. Tirando os <strong>de</strong>talhes, temos que pensar em uma coisa básica: a prática.<br />

Vocês <strong>de</strong>vem estar acompanhando pela imprensa – não se fala em outra coisa hoje em dia – a lei da tolerância zero em relação<br />

ao álcool. Vimos que os resultados são fantásticos, que as pessoas estão parando <strong>de</strong> beber e dirigir e os aci<strong>de</strong>ntes baixaram<br />

<strong>de</strong> maneira muito relevante. O interessante é que já existia uma lei anterior a essa com uma tolerância baixa. Por que essa lei<br />

não era aplicada antes? Por que a atual está funcionando e todos só falam nela? No Brasil é assim: existe a lei “que pega” e a lei<br />

que “não pega”!<br />

Se analisarmos o que estamos discutindo aqui, por exemplo, quanto ao código <strong>de</strong> ética: não po<strong>de</strong>mos participar <strong>de</strong> concorrências<br />

especulativas. Chamam muitas pessoas para participar; elas dão as idéias e somente uma vai ganhar e talvez ela<br />

seja remunerada. A própria Ampro já menciona que isso não po<strong>de</strong> acontecer e a Associação Brasileira <strong>de</strong> Anunciantes (ABA)<br />

recomenda que esse tipo <strong>de</strong> processo não seja sequer iniciado.<br />

E por que isso acontece na prática? Por que não praticamos as normas, posturas, recomendações das nossas entida<strong>de</strong>s? Como<br />

já se falou aqui, chegamos a um ponto em que é preciso parar para pensar um pouco no nosso negócio; pensar que é difícil<br />

passar por um quarteirão <strong>de</strong> lojas comerciais on<strong>de</strong> não haja duas ou três vezes a palavra “promoção” colocada em algum lugar.<br />

Vivemos no mundo da promoção, da mentalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> querer ganhar alguma coisa. Estamos passando por um processo <strong>de</strong><br />

experiência <strong>de</strong> marca. Por exemplo, eu não quero estar aqui como consumidor só ouvindo um monólogo da marca; quero<br />

estabelecer um diálogo com a marca, experimentá-la, porque a marca quer que eu a experimente. E a promoção faz isso,<br />

porque pensa estrategicamente, pensa muito na publicida<strong>de</strong> como formadora <strong>de</strong> valor, <strong>de</strong> marca.<br />

Hoje, as ferramentas utilizadas em conjunto com a publicida<strong>de</strong> também geram esse valor. Cada vez mais, temos que pensar<br />

em promoção do ponto <strong>de</strong> vista estratégico, para estabelecer um relacionamento duradouro. Isso só acontece com inteligência,<br />

com o tipo <strong>de</strong> negócio que possa atrair os melhores talentos e dizer: “estou estudando, vamos fazer a promoção”. é uma<br />

profissão que dá isso em troca, não só o fato <strong>de</strong> eu estar profissionalmente realizado, mas também <strong>de</strong> ser financeiramente<br />

bem sucedido, importante na nossa socieda<strong>de</strong>.<br />

Vamos votar essas propostas, mas pensando muito em como vamos praticá-las. Não po<strong>de</strong>mos votar nessas questões e numa<br />

convocação para participar <strong>de</strong> uma concorrência pelo trabalho <strong>de</strong> um gran<strong>de</strong> cliente, por dois ou três anos, simplesmente<br />

esquecermos tudo e participarmos do projeto achando que está tudo certo.<br />

Vamos refletir se queremos mudar o mercado, a postura do nosso negócio, o nosso relacionamento. Precisamos pensar em<br />

praticar essas leis. Se é tolerância zero, é zero mesmo. E vamos praticar tudo isso <strong>de</strong> uma forma séria, consequente, porque<br />

assim, faremos crescer a nossa indústria <strong>de</strong> uma forma consequente, real, mostrando um futuro para as pessoas que virão para<br />

o nosso mercado. Muito obrigado!<br />

João Carlos Zicard<br />

Antes <strong>de</strong> chamar o Senhor José Victor Oliva, vou respon<strong>de</strong>r uma questão muito pertinente, como todas que já foram apresentadas,<br />

mas essa, em particular, é muito interessante.<br />

Rodrigo Rivelino diz: Acredito que a tese seja fundamental para a sustentabilida<strong>de</strong> e o profissionalismo no mercado. é excelente,<br />

porém, fica antes uma pergunta: será que os empresários à frente da gestão das empresas estão preparados para seguir tais<br />

condições? Já vimos isso antes e a prática não acompanha a teoria, muito menos as práticas do dia-a-dia <strong>de</strong> tais gestões.<br />

Temos os dois lados da moeda no mesmo lado do mercado. Também não acredito que tenhamos um fórum tão competente<br />

em todos os clientes que compram os nossos serviços. E a Ampro também não acredita nisto. Portanto, estamos tentando<br />

organizar a questão <strong>de</strong> forma a respeitar o direito do cliente, e também ser respeitados por ele.<br />

A capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> gestão e <strong>de</strong> organização do mercado está em cada um. Sugiro que todos sigam essa direção. Como o Marcelo<br />

disse, você não morre quando cai na água, mas quando já está <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>la, e essa é a nossa situação. O cliente, a agência e o<br />

mercado estão per<strong>de</strong>ndo e o futuro está sendo comprometido, principalmente daqueles que estão chegando agora no mercado,<br />

que querem ter um lugar que alguns <strong>de</strong> nós tivemos a oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> alcançar. A relação <strong>de</strong> sustentabilida<strong>de</strong> passa<br />

por uma condição mínima: cobrar o valor correto e ter uma relação <strong>de</strong> longo prazo naquilo que entregamos para o cliente.<br />

A escolha <strong>de</strong> uma agência ou <strong>de</strong> outra <strong>de</strong>veria ser estabelecida por uma série <strong>de</strong> valores que não estão limitados ao preço,<br />

mas que incluem o reconhecimento da sua própria especialida<strong>de</strong>, do resultado que ela entrega, diferentemente <strong>de</strong> outra<br />

agência.<br />

Um exemplo muito claro <strong>de</strong> que a certificação é fundamental, dá legitimida<strong>de</strong>, dá competência: quando existe uma concorrência<br />

entre <strong>de</strong>z agências por um trabalho, o cliente vê as <strong>de</strong>z agências exatamente do mesmo modo, acreditando que o resultado<br />

que po<strong>de</strong>m entregar seja exatamente o mesmo. Em sã consciência, nenhum <strong>de</strong> nós po<strong>de</strong> enten<strong>de</strong>r uma situação <strong>de</strong>ssa<br />

envergadura. Isso mostra a “miopia”, a <strong>de</strong>sorganização que o mercado <strong>de</strong> marketing promocional está vivendo no Brasil.<br />

A tese composta por estes quatro pontos aqui discutidos visa iniciar um processo <strong>de</strong> organização <strong>de</strong>sse sistema em benefício<br />

<strong>de</strong> todos, em benefício do cliente até antes das agências.<br />

A capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> gestão precisará ser adquirida por quem compra o serviço – ao distinguir o serviço e a agência –, quem<br />

ven<strong>de</strong> e quem é responsável por entregar o serviço prometido. Cabe aos gestores das agências buscarem essa competência.<br />

Eu gostaria <strong>de</strong> chamar José Victor Oliva.<br />

José Victor Oliva<br />

Boa noite a todos! Há 15 anos atrás, durante um almoço em um restaurante que nem existe mais, eu, o Geraldinho, o Julio<br />

Anguita e o querido João <strong>de</strong> Simoni tivemos a primeira reunião da Ampro. Fazia 15 anos que a <strong>Abap</strong> não organizava uma convenção.<br />

Ao longo <strong>de</strong>sse tempo todo, o pessoal do marketing promocional, da promoção <strong>de</strong> vendas evoluiu muito. Ouvimos<br />

durante anos que “o dinheiro estava saindo das mãos da publicida<strong>de</strong> e indo para as mãos da promoção”. Na realida<strong>de</strong>, não era<br />

o dinheiro que estava mudando: tudo estava mudando. A forma dos clientes nos verem, dos publicitários enten<strong>de</strong>rem que as<br />

mesmas mágicas não davam os mesmos resultados e agora, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> 30 anos do último congresso, com uma discussão <strong>de</strong><br />

relação, os profissionais da comunicação estão conversando para saber quais serão os rumos.<br />

Ninguém terá essa resposta, mas temos bons indicadores. Por exemplo, as próprias pesquisas da Ampro, que pouca gente<br />

conhece. Elas são tão elucidadoras para nós, da Holding Clube, que pedimos para a Ibope Solutions fazer outras ainda focadas<br />

nas disciplinas em que somos mais atuantes, como o foco <strong>de</strong> promoção.<br />

O cliente <strong>de</strong>ve ser consultado sobre tudo o que estamos fazendo e temos que concordar alegremente com a nossa organização.<br />

Lembro <strong>de</strong> uma das perguntas: “o que é importante para o cliente?”. Lógico, vendas, porém, mais do que tudo isso, havia<br />

214 215<br />

COMISSÃO 4 - MARKETING PROMOCIONAL


cinco itens. O primeiro era “po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> execução”: eu quero ver o que comprei muito bem executado. A segunda, era “inventivida<strong>de</strong>”:<br />

quero receber coisas novas, não quero o que já foi feito. A terceira era “gestão do processo: quero saber todos os dias<br />

como as coisas estão evoluindo. A “criativida<strong>de</strong>”, se não me falha a memória, era o quarto critério que o cliente consi<strong>de</strong>rava em<br />

relação a uma empresa como a nossa. O quinto era “custo”: quanto ele investe em nós para gerarmos vendas.<br />

A partir <strong>de</strong> então, comecei a enten<strong>de</strong>r o cliente cada vez mais e vejo que quando falamos <strong>de</strong>stes quatro itens, existem três<br />

assuntos sobre os quais não há o que discutir. O certificado é um avanço gigantesco. A concorrência é, sem dúvida nenhuma,<br />

um dos maiores cânceres neste business que eu enfrentei – havia todo tipo <strong>de</strong> concorrência. Estamos falando só das<br />

“legais”, sem contar as com BV, bônus, um dinheirinho por baixo, etc. Isso é o lixo que temos que tirar da nossa frente o mais<br />

rapidamente possível. Direito autoral é a coisa mais normal do mundo! Você criou, a idéia é sua, tem que ser cobrada, não<br />

tem discussão. Quanto à remuneração, se ela é <strong>de</strong> 15, 20, 30, 10%, etc., eu tenho minhas dúvidas. é óbvio que vou concordar<br />

com a tese como um todo, porque isso foi o fruto <strong>de</strong> um trabalho bastante gran<strong>de</strong>. Acho que em média, esse valor está bem<br />

estipulado. Mas na minha opinião, é preciso consi<strong>de</strong>rar várias coisas, como o porte do trabalho, o tempo que se <strong>de</strong>dica a ele.<br />

Cito uma frase <strong>de</strong> que gosto muito, <strong>de</strong> Marcel Herman Teles, que acabou <strong>de</strong> comprar a Budweiser.<br />

A importância que nós e nossos clientes temos é ven<strong>de</strong>r mais, por mais tempo, mais vezes e por mais pessoas. Essa é a nossa<br />

profissão e é o que me <strong>de</strong>ixa animado ao acordar todos os dias e ir para o escritório ven<strong>de</strong>r.<br />

A partir <strong>de</strong> agora, <strong>de</strong>volvo a palavra ao presi<strong>de</strong>nte, confirmando que, da minha parte, está aprovado!<br />

João Carlos Zicard<br />

Ainda temos mais duas perguntas e quero ler uma crítica. Acho importante que nós leiamos <strong>de</strong>mocraticamente aquilo que<br />

também não esteja <strong>de</strong> acordo. Ela vem do Rio <strong>de</strong> Janeiro (não sei <strong>de</strong> quem é).<br />

A tabela <strong>de</strong> remuneração propõe valores disparatados, com itens muito caros e outros <strong>de</strong>sproporcionalmente baratos. Os<br />

clientes, maciça maioria, não estão dispostos a pagar tais valores. Que sugestões po<strong>de</strong>remos ter para esta situação, uma vez<br />

que, segundo as regras da concorrência, quem <strong>de</strong>fine o preço, em última análise, é o próprio cliente? Por que não trabalhar<br />

com valores sugeridos, mais flexíveis consi<strong>de</strong>rando-se as dimensões e variações sociais <strong>de</strong> nosso país?<br />

Acho perfeitamente viável. A Ampro está absolutamente aberta. Gostaria <strong>de</strong> receber uma proposta <strong>de</strong> quem escreveu e pensar<br />

a respeito <strong>de</strong> uma tabela regional que estabelecesse os valores regionais.<br />

Não i<strong>de</strong>ntificado<br />

Nós começamos a <strong>de</strong>senvolver uma tabela <strong>de</strong>ssa regional no nor<strong>de</strong>ste com o Aguinaldo Viriato e, por alguma <strong>de</strong>terminação<br />

que não me lembro, tivemos que interromper. Inclusive, reforço o que a pessoa do Rio falou: é um disparate; às vezes temos<br />

que dar <strong>de</strong>sconto <strong>de</strong> 90% sobre a tabela para conseguir viabilizar alguma coisa; beira o ridículo.<br />

é melhor, em muitos dos casos, utilizarmos uma tabela da Sinapro, da <strong>Abap</strong> Regional – tanto a <strong>Abap</strong> como a Sinapro têm<br />

tabelas regionalizadas e é muito mais fácil chegarmos a algum valor e darmos um <strong>de</strong>sconto padrão sobre o trabalho. Não só<br />

concordo, como solicito que essa possibilida<strong>de</strong> seja repensada.<br />

João Carlos Zicard<br />

Se tivermos hoje a aprovação da tese – que, particularmente, consi<strong>de</strong>ro fundamental –, todo o trabalho realizado até hoje terá<br />

valor. Eu entendo que os 15% (ou seja lá qual for a porcentagem estipulada) como piso <strong>de</strong>vam ser aplicados nacionalmente, e<br />

tenha um valor equivalente à proporção da verba regional <strong>de</strong> cada cliente <strong>de</strong>ntro da sua situação. Naturalmente, todos estarão<br />

ganhando proporcionalmente o mesmo dinheiro, a mesma remuneração, pois as verbas também são proporcionais.<br />

Hoje, na minha agência, <strong>de</strong>vem estar calculando o <strong>de</strong>sconto na tabela para algum cliente. Alguns dão 70%, alguns só cobram<br />

meta<strong>de</strong>. Depen<strong>de</strong> do ar, se está frio, calor, enfim... é verda<strong>de</strong> e temos que mudar isso. Estamos aqui exatamente para discutir<br />

essa situação. O piso <strong>de</strong> remuneração vai obe<strong>de</strong>cer a escalabilida<strong>de</strong> que existe <strong>de</strong>ntro da capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> verba e <strong>de</strong> budget<br />

que cada cliente aplica em sua região. é um modo menos conturbado <strong>de</strong> iniciar um processo <strong>de</strong> organização do setor. é assim<br />

que a comissão enten<strong>de</strong> a situação. A tabela existe para dar <strong>de</strong>sconto. Então não vamos falar em tabela, vamos falar em direito!<br />

Direito autoral, em capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> gestão, em entrega <strong>de</strong> resultado, em remuneração condigna. Não pagamos pouco para<br />

contratar bons profissionais, bons criativos, bons planejadores. Se pagarmos pouco, eles irão para a agência do vizinho.<br />

Às vezes, o cliente <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> nos contratar e contrata a agência do vizinho porque é mais barata. O nosso talento está <strong>de</strong>sperdiçado<br />

<strong>de</strong>ntro da agência e nem sempre o resultado que o cliente encontra na agência do vizinho – que ele contratou por<br />

preço –, justifica a redução do investimento que ele fez não contratando a sua agência.<br />

é um investimento pequeno, é uma redução <strong>de</strong> custo às vezes equivocada, míope. Ao diminuir o custo <strong>de</strong> agência, quanto o<br />

cliente está ganhando <strong>de</strong> entrega e <strong>de</strong> resultado lá na ponta?<br />

Não i<strong>de</strong>ntificado<br />

Vou fazer uma ratificação. Com relação aos 15, 18, 14, 20%, isso para mim está perfeitamente claro. Falo daquela tabela on<strong>de</strong> há<br />

o custo <strong>de</strong> ação <strong>de</strong> pequeno porte, <strong>de</strong> médio porte, <strong>de</strong> banner, etc. Aquilo tem uma disparida<strong>de</strong> absurda. Estou enfrentando<br />

um problema: ganhei uma concorrência aqui em São Paulo para aten<strong>de</strong>r o norte e nor<strong>de</strong>ste. Estou acostumado a trabalhar<br />

com 15 ou 18%. O cliente falou que seria 10% e não <strong>de</strong>u margem para conversa e eu tive que ce<strong>de</strong>r.<br />

João Carlos Zicard<br />

Quando você ganhar a concorrência, vai ser chamado pela área <strong>de</strong> suprimentos para cair para 8%.<br />

Se conseguirmos a aprovação da tese básica, a Ampro também terá que reformular o seu conceito <strong>de</strong> tabela <strong>de</strong> preços. Nós<br />

não po<strong>de</strong>mos mudar agora, porque a tese está sendo votada por vocês.<br />

fernando figueiredo<br />

Para concluir o assunto <strong>de</strong> tabela: primeiro, o valor é subjetivo. Já tive casos <strong>de</strong> abaixar valores em troca <strong>de</strong> volume para alguns<br />

clientes. Quando vou a outros clientes, eles dizem que aquele preço estava absurdo.<br />

Quando entramos em uma mesa <strong>de</strong> compra, sempre está caro, é natural. Às vezes fico discutindo durante semanas com a<br />

mesa <strong>de</strong> compras, e eles alegam que minha taxa, em vez <strong>de</strong> 15, tinha que ser 13. No final, quando avalio o investimento total<br />

do cliente, ele está me tirando 2% que às vezes são fundamentais para a agência, mas não representam 0,5% <strong>de</strong> todo o investimento<br />

que o cliente tem no processo.<br />

A discussão <strong>de</strong> custo é relevante, mas tudo que for combinado antes, não é caro, nem barato: é justo. E a livre negociação é<br />

fundamental nesse processo. Voltamos ao assunto <strong>de</strong> relacionamento: estabelecemos um bom relacionamento com o cliente<br />

e está resolvido o assunto.<br />

João Carlos Zicard<br />

Obrigado, Fernando! O Eugene Lee vai fechar este <strong>de</strong>bate para nós, até que eu possa entrar em votação com vocês. Eu não<br />

queria per<strong>de</strong>r <strong>de</strong>legados, gostaria que vocês ficassem aí neste momento histórico. O marketing promocional precisa do voto<br />

<strong>de</strong> cada um <strong>de</strong> vocês.<br />

Eugene lee<br />

Acredito que a Ampro está tentando fazer algo muito bom e não temos isto na Ásia — a regulamentação dos fees, os processos<br />

<strong>de</strong> concorrência, etc. Quantos <strong>de</strong> vocês, nesta sala, são clientes? Há mais agências do que clientes aqui.<br />

Nos meus nove anos no comando <strong>de</strong> agências <strong>de</strong> interativida<strong>de</strong> na Ásia, vi que a nossa sobrevivência está nas mãos dos<br />

nossos clientes. Se vocês fizerem um bom trabalho, oferecerem bons serviços e continuarem a enfrentar os <strong>de</strong>safios <strong>de</strong> fazer<br />

a empresa funcionar, os clientes verão seu valor e ele será revertido num relacionamento <strong>de</strong> longa duração. As concorrências<br />

sempre ocorrem nos casos <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s programas, mas acredito que o que você vai entregar é <strong>de</strong>cidido pelo cliente.<br />

Ouvir este <strong>de</strong>bate já é uma ótima idéia. Se vocês avaliaram o mecanismo <strong>de</strong> manufatura — que envolve as certificações ISO<br />

9000, 9005, etc. —, estas certificações estão assegurando que o que quer que se fabrique para o cliente tenha boa qualida<strong>de</strong>.<br />

Porém, essa certificação surgiu porque no processo <strong>de</strong> fabricação, o resultado é um produto e está claramente <strong>de</strong>finido o que<br />

será entregue ao cliente.<br />

Na nossa indústria <strong>de</strong> prestação <strong>de</strong> serviços, como <strong>de</strong>fini-los? Na Ásia, não temos uma associação como a Ampro e tentamos<br />

<strong>de</strong>finir o que entregamos ao cliente fazendo com que nossos serviços sejam mais quantificáveis, para que o cliente possa<br />

enxergar o valor existente em nossos serviços e pagar por ele.<br />

Quando dizemos que queremos manter os clientes num relacionamento <strong>de</strong> longa duração, principalmente num ambiente <strong>de</strong><br />

prestação <strong>de</strong> serviços, isso significa estabelecer as expectativas corretas para o cliente.<br />

Gostaria muito que fizéssemos, na Ásia, o que vocês estão tentando fazer aqui, ao <strong>de</strong>cidir os padrões da indústria. Conscientes<br />

disso, nos últimos quatro anos, temos trabalhado na <strong>de</strong>finição do que entregamos ao cliente e estamos nos certificando <strong>de</strong><br />

que ele concor<strong>de</strong> com o que estamos entregando. Dessa forma, a <strong>de</strong>finição do nosso serviço como um todo passa a ser mais<br />

similar à <strong>de</strong> um produto. Se o cliente pu<strong>de</strong>r enxergar claramente o valor do que entregamos, acho que nossas precificações,<br />

nossos padrões seriam mais fáceis <strong>de</strong> <strong>de</strong>finir.<br />

Não sei se ofereci a vocês o “Santo Graal” da <strong>de</strong>finição, mas gostaria <strong>de</strong> parabenizá-los pelo que a Ampro está tentando fazer<br />

e <strong>de</strong>sejo o melhor. Obrigado.<br />

João Carlos Zicard<br />

As duas últimas perguntas, para iniciarmos a nossa votação.<br />

marcos Pereira<br />

Como as agências localizadas on<strong>de</strong> não existem capítulos da Ampro po<strong>de</strong>m obter a certificação?<br />

Associem-se à Ampro, mesmo em São Paulo ou em outra região próxima <strong>de</strong> vocês e peçam a certificação através da SGS-<br />

Ampro.<br />

Alessandra - Vitamina A<br />

Toda agência <strong>de</strong>dica tempo dos profissionais, além <strong>de</strong> outros investimentos, para participar <strong>de</strong> concorrências. Por que não<br />

estabelecer um custo mínimo para o cliente para a remuneração das agências <strong>de</strong> uma concorrência? Isso inibiria concorrência<br />

com 20 agências e cobriria minimamente os nossos custos.<br />

é uma idéia interessante. Discutimos isso diversas vezes. Iríamos introduzir isso na tese, mas achamos que o assunto po<strong>de</strong> ser<br />

discutido ao longo do tempo, porque a mudança seria drástica <strong>de</strong>mais, para que passássemos a exigir a remuneração.<br />

Acreditamos que seja um assunto digno <strong>de</strong> <strong>de</strong>bate. Vou colocar o assunto e a proposta na tese a ser discutida no dia 16, entre<br />

os presi<strong>de</strong>ntes: a remuneração por concorrência limitando inclusive o número <strong>de</strong> concorrentes. Será introduzida na tese,<br />

agra<strong>de</strong>ço a sugestão.<br />

Vamos à votação. Peço que vocês se manifestassem <strong>de</strong> uma forma muito simples. Quem não estiver <strong>de</strong> acordo com a tese<br />

proposta pela Comissão do Marketing Promocional no <strong>IV</strong> <strong>Congresso</strong> <strong>Brasileiro</strong> <strong>de</strong> Publicida<strong>de</strong>, por favor, levante a mão.<br />

Nossa missão foi totalmente cumprida em prol <strong>de</strong> todo o mercado do Marketing Promocional. Parabéns a vocês. Obrigado!<br />

216 217<br />

COMISSÃO 4 - MARKETING PROMOCIONAL


Comissão 5<br />

lICITAçõES PúblICAS E CONCORRêNCIAS PR<strong>IV</strong>ADAS<br />

bob Vieira da Costa<br />

Boa tar<strong>de</strong> senhores, senhoras e congressistas. Quero chamar para compor a mesa o nosso principal palestrante, Senador Delcídio<br />

Amaral; o chefe <strong>de</strong> Secretaria <strong>de</strong> Comunicação da Presidência da República, Dr. Otoni Fernan<strong>de</strong>s Junior; o administrador <strong>de</strong><br />

empresas, Sr. Izael Sinem, da Nestlé; o Sr. Sérgio Guerreiro, um dos sócios da SPGA, empresa <strong>de</strong> Consultoria <strong>de</strong> Comunicação;<br />

o Sr. Geraldo Alonso Filho, presi<strong>de</strong>nte do Conselho <strong>de</strong> ética da <strong>Abap</strong>; o Dr. Alberto Cavalcanti, nosso relator <strong>de</strong>ste grupo; e a<br />

publicitária Célia Maria Fiasco, nossa secretária geral.<br />

Vamos dar início aos trabalhos e as boas-vindas a essa Comissão, que vai tratar <strong>de</strong> licitações públicas e concorrências privadas.<br />

é um momento histórico para todos. Há 30 anos, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o último congresso em 1978, não se discutem temas <strong>de</strong> fundamental<br />

importância para a regulação do nosso mercado. Com certeza, esse é um tema dos mais importantes. Gostaria <strong>de</strong> <strong>de</strong>ixar<br />

clara a nossa missão como Comissão, que é dirigir os trabalhos tendo em vista a elaboração <strong>de</strong> um relatório, on<strong>de</strong> vamos ter<br />

algumas teses e submetê-las à votação no Plenário em dois dias. Isso implicará objetivamente no futuro do nosso negócio e<br />

vai tratar da publicida<strong>de</strong> que faremos no futuro. A dimensão, a responsabilida<strong>de</strong> e a importância são bastante gran<strong>de</strong>s neste<br />

sentido.<br />

O relatório preliminar já contém alguns itens <strong>de</strong> teses. São 14 pontos elencados nestas teses e no final da minha intervenção,<br />

vamos repassar apenas para trazer à lembrança um sumário dos 14 pontos – suas justificativas foram apresentadas no site do<br />

próprio <strong>Congresso</strong>. Ao longo do nosso <strong>de</strong>bate e <strong>de</strong>pois das intervenções, po<strong>de</strong>remos aperfeiçoar essas teses que comporão<br />

o relatório final.<br />

Nossa missão muito clara é encerrar o dia <strong>de</strong> hoje com o relatório que contém os pontos que po<strong>de</strong>rão virar uma realida<strong>de</strong><br />

objetiva no nosso mercado, como regra, proposição, ou recomendação. Por essa razão, temos aqui o nosso palestrante e <strong>de</strong>batedores<br />

que vão nos ajudar a pensar sobre todos esses pontos que estamos abordando. Por exemplo, o nosso palestrante<br />

principal, o Senador Delcídio Amaral, embora não seja o autor do projeto <strong>de</strong> lei 3.305 <strong>de</strong> 2008, participou como poucos <strong>de</strong> um<br />

momento crítico da publicida<strong>de</strong> brasileira na época da CPMI dos Correios. Obviamente, a observação <strong>de</strong> todos os problemas<br />

ali verificados originou um primeiro projeto, da própria CPMI, que acabou não sendo encaminhado.<br />

Vou apresentar um breve currículo dos participantes aqui presentes, para Comissão.<br />

Senador Delcídio do Amaral Gomes, engenheiro eletricista, Senador da República pelo estado do Mato Grosso. Antes <strong>de</strong><br />

ocupar a ca<strong>de</strong>ira <strong>de</strong> senador, construiu uma das mais brilhantes carreiras profissionais do setor elétrico. Começou muito cedo,<br />

aos 28 anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>, já com o cargo <strong>de</strong> engenheiro responsável pela supervisão da construção e montagem da usina <strong>de</strong><br />

Tucuruí, no Pará.<br />

Em 1991, assumiu uma das diretorias da Eletrosul e passou a ser o responsável pelo planejamento enérgético da região sul<br />

do Brasil. Em março <strong>de</strong> 94, assumiu a Secretaria Executiva do Ministério das Minas e Energia e <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 1994 até o final<br />

do governo do Presi<strong>de</strong>nte Itamar Franco, foi o Ministro <strong>de</strong> Minas e Energia. Assumiu então a Diretoria <strong>de</strong> Gás e Energia da<br />

Petrobras. Em 2001, aceitou o convite do governador do Mato Grosso do Sul para ser o Secretário <strong>de</strong> Estado <strong>de</strong> Infra-Estrutura<br />

e Habitação. Em 2002, aos 47 anos, foi eleito Senador da República, tendo uma atuação surpreen<strong>de</strong>nte no Senado Fe<strong>de</strong>ral<br />

e eleito pelos jornalistas que cobrem o <strong>Congresso</strong> Nacional um dos melhores senadores do país em 2006 e 2007. Das várias<br />

participações em Comissões do Senado Fe<strong>de</strong>ral, não há como não registrar o brilhante trabalho realizado como presi<strong>de</strong>nte<br />

da CPMI dos Correios, em 2005.<br />

O Sr. Otoni Fernan<strong>de</strong>s Junior, jornalista, é hoje o subchefe executivo da Secretaria <strong>de</strong> Comunicação Social da Presidência da República.<br />

Antes da Secom, trabalhou nas revistas do IPEA, do Ministério do Planejamento, foi o diretor geral da Gazeta Mercantil<br />

e editor da revista Exame. Des<strong>de</strong> 2007 está na Secretaria <strong>de</strong> Comunicação Social da Presidência, que investiu, em 2007, R$908<br />

milhões <strong>de</strong> reais entre as empresas estatais e organismos da administração direta. Em 2006, os investimentos foram da or<strong>de</strong>m<br />

<strong>de</strong> R$ 1.1 bilhão. Sem dúvida, mais do que um anunciante, é um sistema regulador do nosso mercado.<br />

Izael Sinem, administrador <strong>de</strong> empresas, é o atual diretor <strong>de</strong> Comunicações e Serviços <strong>de</strong> Marketing da Nestlé. Sinem já trabalhou<br />

em empresas como a Young & Rubican, Leo Burnett e antes <strong>de</strong> ir para a Nestlé, foi sócio, presi<strong>de</strong>nte e CEO da Publicis<br />

Brasil.<br />

A Nestlé é a maior companhia <strong>de</strong> alimentação do mundo, com 141 anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong> e faturamento em 2007 <strong>de</strong> 107 bilhões <strong>de</strong><br />

francos suíços. Está há 87 anos no Brasil, sendo um dos maiores anunciantes privados do país, com o atendimento <strong>de</strong> agências<br />

multinacionais e nacionais, além <strong>de</strong> outros serviços que contrata constantemente.<br />

Sérgio Guerreiro, hoje um dos sócios da SPGA Consultoria <strong>de</strong> Comunicação, sócio <strong>de</strong> Alex Periscinoto e <strong>de</strong> Luis Salles. Foi diretor<br />

<strong>de</strong> Marketing da Ford Motors, sócio presi<strong>de</strong>nte da Z+G Grey, presi<strong>de</strong>nte da Leo Burnett, sócio da Lage, Stabel & Guerreiro<br />

e diretor do Conar por sete anos. A SPGA, on<strong>de</strong> trabalha atualmente, tem associação com a Agency Assessments International<br />

(AAI), uma das maiores e mais importantes especialistas em avaliação e seleção <strong>de</strong> agências <strong>de</strong> todo o mundo.<br />

Geraldo Alonso Filho, arquiteto e atualmente presi<strong>de</strong>nte do Conselho <strong>de</strong> ética da <strong>Abap</strong>, presi<strong>de</strong>nte da 1ª Câmara <strong>de</strong> ética do<br />

Conar, da 3ª Câmara <strong>de</strong> ética do Cenp e membro do Conselho Deliberativo da Escola Superior <strong>de</strong> Propaganda e Marketing.<br />

Alonso é ex-chairman da Publicis Salles Norton, hoje Publicis Brasil. Foi também presi<strong>de</strong>nte do capítulo brasileiro da International<br />

Advertising Association em dois mandatos consecutivos.<br />

Alberto Cavalcanti, nosso relator, é atual consultor da <strong>Abap</strong>. Foi Secretário <strong>de</strong> Normas e Patrocínio da Secom em 2001 e 2002,<br />

e chefe da <strong>de</strong>legação brasileira ao Reino Unido em 2002, por ocasião do firmamento <strong>de</strong> intercâmbio com o governo britânico<br />

na área <strong>de</strong> comunicação <strong>de</strong> governo. é doutor em sociologia e especialista na área <strong>de</strong> comunicação.<br />

Célia Fiasco, nossa secretária, é publicitária e atualmente é diretora executiva do Cenp. Teve também experiência profissional<br />

nas áreas <strong>de</strong> anunciantes, veículos, agências e institutos <strong>de</strong> pesquisa. Trabalhou na Young & Rubican, Lintas, Instituto Nielsen,<br />

SBT e foi diretora <strong>de</strong> mídia da secretaria <strong>de</strong> comunicação <strong>de</strong> governo da Presidência da República no ano <strong>de</strong> 1999.<br />

Como vocês pu<strong>de</strong>ram ver, procuramos ter no âmbito dos <strong>de</strong>batedores experiências múltiplas, iniciativa <strong>de</strong> governo e iniciativa<br />

privada em todas as áreas. Acreditamos que isso ajudará bastante no encaminhamento do <strong>de</strong>bate e nas proposições que<br />

queremos.<br />

Com relação às regras básicas, vale reforçar que o palestrante terá cerca <strong>de</strong> 20 minutos para a sua exposição inicial e cada um<br />

dos <strong>de</strong>batedores, cinco minutos para a intervenção. Cumprida essa primeira hora, vamos então para o <strong>de</strong>bate com a participação<br />

<strong>de</strong> todos vocês, po<strong>de</strong>ndo interagir com os <strong>de</strong>batedores.<br />

Vamos distribuir um formulário que po<strong>de</strong> ser preenchido ao longo das exposições para os <strong>de</strong>legados que <strong>de</strong>sejem fazer<br />

perguntas. é necessário preencher nome da empresa, a pergunta – apenas um resumo – e a quem ela será dirigida. Após<br />

encaminhados, o Alberto fará a organização por temas, para realizar a discussão com nossos <strong>de</strong>batedores. Quando os formulários<br />

estiverem em or<strong>de</strong>m, faremos a chamada e as pessoas terão 90 segundos para fazer a pergunta em viva voz para o<br />

<strong>de</strong>batedor.<br />

Este formulário tem apenas o objetivo <strong>de</strong> organizar o encaminhamento <strong>de</strong> todos. Como nossa missão aqui é obter teses para<br />

o plenário, essa organização é fundamental. Aos 90 segundos da intervenção, o som do microfone será cortado. Então, em<br />

três comerciais <strong>de</strong> 30 segundos – efetivamente – vamos tentar ven<strong>de</strong>r a nossa tese. Isso significa que teremos em torno <strong>de</strong> 20<br />

perguntas e mais um tempo <strong>de</strong> 30 minutos <strong>de</strong> respostas e interação.<br />

Após essas duas horas, vamos dar início à votação das teses que foram <strong>de</strong>batidas e por fim, antes <strong>de</strong> passar a palavra para o<br />

nosso palestrante, Senador Delcídio e os <strong>de</strong>mais <strong>de</strong>batedores, gostaria <strong>de</strong> apresentar um rápido sumário das 14 teses apresentadas.<br />

Vale lembrar que, além <strong>de</strong> fazer perguntas para os <strong>de</strong>batedores, o formulário po<strong>de</strong> também ser usado para arguir qualquer<br />

uma das teses, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que se i<strong>de</strong>ntifique a tese, seu número e a que se refere. Na parte <strong>de</strong> trás do formulário constam apenas<br />

os pontos finais das teses, algumas até com justificativas bastante gran<strong>de</strong>s.<br />

Resgatando as teses, temos:<br />

Tese 1<br />

Aprovação <strong>de</strong> manifestação formal do <strong>IV</strong> <strong>Congresso</strong> <strong>Brasileiro</strong> <strong>de</strong> Publicida<strong>de</strong> <strong>de</strong> apoio irrestrito aos termos do projeto <strong>de</strong> lei<br />

3.305, <strong>de</strong> 2008, <strong>de</strong> autoria do Deputado José Eduardo Cardozo, apresentado no caso pelo presi<strong>de</strong>nte da comissão e pelo seu<br />

relator Alberto Cavalcanti.<br />

Tese 2<br />

Respeitando-se os diversos códigos <strong>de</strong> ética e condutas vigentes nas suas respectivas áreas <strong>de</strong> atuação, associações e entida<strong>de</strong>s,<br />

propor a consolidação <strong>de</strong> um único e amplo conselho <strong>de</strong> ética para toda a ca<strong>de</strong>ia da comunicação publicitária, à<br />

semelhança do que foi instituído no âmbito da <strong>Abap</strong>, como instância capaz <strong>de</strong> diminuir conflitos <strong>de</strong> natureza concorrencial,<br />

respeitando-se obviamente as normas, regras e especificida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> cada setor, bem como os respectivos códigos <strong>de</strong> ética, se<br />

existentes. E que este conselho <strong>de</strong> ética venha fazer parte integrante do Cenp.<br />

Observação: o projeto <strong>de</strong> lei do Deputado José Eduardo Cardozo, em seu artigo 4º, parágrafo 1º, diz o seguinte:<br />

Artigo 4º - Os serviços <strong>de</strong> publicida<strong>de</strong> somente po<strong>de</strong>rão ser contratados junto a agências <strong>de</strong> propaganda e publicida<strong>de</strong> cujas<br />

ativida<strong>de</strong>s sejam disciplinadas pela lei nº 4.680, <strong>de</strong> 8 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 1965, e que tenham obtido certificado <strong>de</strong> qualificação técnica<br />

<strong>de</strong> funcionamento.<br />

Parágrafo 1º - Para os fins estabelecidos no caput <strong>de</strong>ste artigo, o Conselho Executivo das Normas-Padrão (Cenp), entida<strong>de</strong> sem<br />

fins lucrativos, integrado e gerido por entida<strong>de</strong>s nacionais que representam veículos, anunciantes e agências, é reconhecido<br />

na sua condição <strong>de</strong> fiscalizador e certificador das condições técnicas <strong>de</strong> agências <strong>de</strong> propaganda e publicida<strong>de</strong>. Na medida<br />

em que ocorra no projeto <strong>de</strong> lei a aprovação <strong>de</strong>ste parágrafo e artigo e ainda tenhamos a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> um conselho <strong>de</strong> ética<br />

que respeite os códigos <strong>de</strong> ética <strong>de</strong> cada uma das entida<strong>de</strong>s, sendo essa instância fiscalizadora, passamos então a ter uma<br />

regulação <strong>de</strong> mercado das relações, sejam elas concorrenciais ou entre agências, veículos, anunciantes e <strong>de</strong>mais fornecedores<br />

da ca<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> comunicação publicitária, um nível <strong>de</strong> funcionamento semelhante, por exemplo, ao que é o Crea, fazendo-se<br />

aqui um comparativo com a carreira <strong>de</strong> engenharia. Isso para nós é muito mais segurança em todos os sentidos.<br />

De certa forma, foi a tese que o Sr. Kofi Annan apresentou hoje, inclusive na sua palestra inicial, sobre o código <strong>de</strong> ética e <strong>de</strong><br />

conduta como o elo, o <strong>de</strong>nominador comum para as relações entre todos.<br />

Assim, o projeto <strong>de</strong> lei tem uma complementação bastante forte com esta questão abordada do conselho <strong>de</strong> ética.<br />

Tese 3<br />

Na tese apresentada pelo publicitário Roberto Duailibi, ele con<strong>de</strong>na a prática do alinhamento como uma forma <strong>de</strong> discriminação<br />

socialmente irresponsável; ele alega e coloca as justificativas para este aspecto e para este ponto.<br />

Tese 4<br />

Recomendar às empresas multinacionais que gerem oportunida<strong>de</strong>s em suas contas publicitárias também às agências <strong>de</strong><br />

capital nacional (tese também apresentada pelo publicitário Roberto Duailibi).<br />

Tese 5<br />

Recomendar ao governo que impeça o acesso a financiamentos públicos ou vantagens fiscais a empresas <strong>de</strong> capital estrangeiro<br />

que persistam na prática discriminatória do alinhamento, em qualquer área <strong>de</strong> negócios.<br />

Tese 6<br />

Recomendar aos governos fe<strong>de</strong>ral, estaduais e municipais que não aceitem a participação <strong>de</strong> agências <strong>de</strong> capital estrangeiro<br />

que se beneficiem <strong>de</strong>ste alinhamento.<br />

Tese 7<br />

Recomenda-se ao plenário enérgica reprovação à prática dos governos <strong>de</strong> “premiar” marketeiros com contas públicas.<br />

Tese 8<br />

Recomendar às agências que não participem <strong>de</strong> concorrências não remuneradas e não gastem o dinheiro proveniente <strong>de</strong><br />

clientes existentes em campanhas especulativas.<br />

218 219<br />

COMISSÃO 5 - LICITAÇÕES PÚBLICAS E CONCORRÊNCIAS PR<strong>IV</strong>ADAS


Tese 9<br />

Recomendar aos anunciantes que não peçam sugestões grátis às agências, mesmo que algumas se proponham a fazer o<br />

trabalho.<br />

Tese 10<br />

Orientação aos governos nas esferas fe<strong>de</strong>ral, estadual e municipal, para que exija <strong>de</strong> todos os participantes <strong>de</strong> concorrências<br />

públicas a comprovação que <strong>de</strong> fato compram as pesquisas a que dizem ter acesso (apresentada pelo Sr. Flávio Rezen<strong>de</strong>).<br />

Tese 11<br />

Que seja igualmente proposto aos governantes que em todas as comissões licitatórias haja uma pessoa ligada à área <strong>de</strong><br />

pesquisa, a fim <strong>de</strong> permitir uma perfeita análise dos planos <strong>de</strong> mídia, bem como a veracida<strong>de</strong> das informações prestadas<br />

(apresentada pelo Sr. Flávio Rezen<strong>de</strong>).<br />

Tese 12<br />

Recomendamos nas concorrências privadas que:<br />

1º Sejam convidadas no máximo cinco empresas.<br />

2º Que um briefing escrito seja fornecido a priori, contendo: a) o que se espera da agência, abrangência dos serviços, etc.; b)<br />

critérios <strong>de</strong> avaliação; c) verba disponível; d) minuta <strong>de</strong> pré-contrato com uma preferência <strong>de</strong> dois anos.<br />

3º Que a escolha seja feita prioritariamente pelas informações prestadas em resposta ao briefing, evitando-se apresentações<br />

especulativas. Caso o cliente <strong>de</strong>cida por esta alternativa, recomenda-se o estabelecimento prévio <strong>de</strong> uma remuneração para<br />

as agências per<strong>de</strong>doras.<br />

4º O alinhamento <strong>de</strong> contas internacionais é reconhecido, sim, como prática aceitável. Todavia, o cliente que adota a política<br />

<strong>de</strong> alinhamento não <strong>de</strong>ve abusar <strong>de</strong> concorrências especulativas.<br />

(Apresentada pelo Sr. Geraldo Alonso).<br />

Tese 13<br />

Recomendações no âmbito das licitações privadas apresentadas pelo Sr. Sérgio Guerreiro:<br />

a) metodologias e critérios claros, justos e transparentes;<br />

b) dizer não a um número absurdo <strong>de</strong> agências no short list; consi<strong>de</strong>rar <strong>de</strong> três a quatro no máximo;<br />

c) dizer não a tecnicismos inúteis, apresentar briefings simples e focados, circunscritos, objetivos e <strong>de</strong>terminados;<br />

d) dizer não a gastos abusivos e <strong>de</strong>snecessários para as agências. Limitar o escopo a ser apresentado;<br />

e) dizer não a trabalhos gratuitos. Quando apropriado, incentivar o pagamento <strong>de</strong> fee para as campanhas especulativas;<br />

f ) dar ênfase à qualida<strong>de</strong> da equipe que vai julgar; os inexperientes <strong>de</strong>vem ser apenas expectadores;<br />

g) respeitar os direitos autorais;<br />

h) <strong>de</strong>finir regras para a remuneração <strong>de</strong> idéias apresentadas e utilizadas, no caso <strong>de</strong> agência per<strong>de</strong>dora;<br />

i) dizer não a negociadores inexperientes; a <strong>de</strong>finição dos critérios <strong>de</strong> remuneração <strong>de</strong> agência <strong>de</strong>ve ser feita no início do<br />

processo.<br />

Por ocasião da participação e intervenção, o Sérgio Guerreiro abordará com mais <strong>de</strong>talhes o que significa isso.<br />

Tese 14<br />

Para participar <strong>de</strong> concorrências e licitações, que seja obrigatório que a agência ou fornecedor preencha o requisito <strong>de</strong> estar<br />

filiado a uma associação <strong>de</strong> classe, como <strong>Abap</strong>, Abemd, etc. As empresas filiadas às associações são signatárias <strong>de</strong> um código<br />

<strong>de</strong> ética e isso dá um ganho consi<strong>de</strong>rável para quem está promovendo a licitação (apresentada pelo Sr. Efraim Kapulski da<br />

Abemd).<br />

Concluímos então este ritual <strong>de</strong> apresentação das teses, assim como os pontos centrais apresentados. Vale lembrar que o que<br />

vier a ser proposto ao Plenário po<strong>de</strong> se tornar uma regra, pela qual todos lutaremos muito para que se consoli<strong>de</strong> como fato e<br />

verda<strong>de</strong> nas relações comerciais. Passo a palavra para o nosso palestrante principal, Senador Delcídio Amaral. Muito obrigado,<br />

senador.<br />

Delcídio Amaral<br />

Bob, quero cumprimentá-lo e, em seu nome, cumprimentar todos os <strong>de</strong>batedores. Sinto-me muito honrado em estar aqui<br />

com vocês. Eu não sou <strong>de</strong>sse ramo, mas admiro e respeito muito o trabalho que vocês fazem. Para mim, é uma honra participar<br />

<strong>de</strong>ste <strong>IV</strong> <strong>Congresso</strong> <strong>Brasileiro</strong> <strong>de</strong> Publicida<strong>de</strong>. Pelas teses todas que foram enumeradas, vemos a importância <strong>de</strong>ste <strong>Congresso</strong><br />

e o que ele po<strong>de</strong> trazer para a publicida<strong>de</strong> brasileira.<br />

Não sou publicitário, sou engenheiro, mas vou procurar repercutir um pouco a experiência que vivemos em um momento<br />

difícil para o Brasil e on<strong>de</strong>, surpreen<strong>de</strong>ntemente, apareceram as agências <strong>de</strong> publicida<strong>de</strong> procurando mostrar claramente que<br />

uma coisa é aquilo que surgiu e outra coisa é o verda<strong>de</strong>iro trabalho que realizam no Brasil. Não po<strong>de</strong>mos confundir as coisas.<br />

Aquele foi um fato pontual, que não reflete na competência e no trabalho que as agências <strong>de</strong> publicida<strong>de</strong> sempre fizeram<br />

pelo nosso país.<br />

Vou procurar me ater aos 20 minutos, porque o objetivo é falar do projeto <strong>de</strong> lei 3305, oriundo <strong>de</strong> algumas sugestões que<br />

surgiram em função das investigações da CPI dos Correios. Ela foi uma CPI <strong>de</strong> <strong>de</strong>z meses <strong>de</strong> investigação, que vocês acompanharam<br />

muito <strong>de</strong> perto. Era quase uma novela nacional e em um embate político intenso ao longo <strong>de</strong>sses 11 meses, quebramos<br />

sigilos fiscais, telefônicos e bancários. Os números são extremamente elevados. Cerca <strong>de</strong> 560 pessoas foram <strong>de</strong>por, 68 mil<br />

contratos públicos foram analisados e o relatório final contém 1.857 páginas.<br />

Essa CPI foi dividida em sub-relatorias <strong>de</strong> movimentação financeira, <strong>de</strong> contratos, <strong>de</strong> fundo <strong>de</strong> pensão, etc., e cada parlamentar<br />

teve um papel fundamental na execução <strong>de</strong>ste relatório. E foi uma CPI absolutamente <strong>de</strong>mocrática sob o ponto <strong>de</strong> vista <strong>de</strong><br />

troca <strong>de</strong> informações e <strong>de</strong> uma ação consistente e permanente com as principais instituições <strong>de</strong> controle do estado ou com<br />

as principais instituições do judiciário.<br />

Trabalhamos com o Tribunal <strong>de</strong> Contas da União, com o Supremo Tribunal Fe<strong>de</strong>ral, com o Ministério Público Fe<strong>de</strong>ral, com a Polícia<br />

Fe<strong>de</strong>ral, com a Receita Fe<strong>de</strong>ral, com o Departamento <strong>de</strong> Recuperação <strong>de</strong> Ativos do Ministério da Justiça, com o Conselho<br />

<strong>de</strong> Controle <strong>de</strong> Ativida<strong>de</strong>s Financeiras (Coaf ) e com o Banco Central. Portanto, não foi por acaso que chegamos a esses números.<br />

Esse não foi somente um trabalho da CPI, mas <strong>de</strong> todo esforço conjunto que conseguimos realizar com esses órgãos.<br />

Aí, segue a velha conversa: “toda CPI termina em pizza”. Isso não é verda<strong>de</strong>. Muitas CPIs do <strong>Congresso</strong> funcionaram <strong>de</strong> uma<br />

maneira eficaz e não só investigaram, como o próprio país ou as próprias instituições tomaram as <strong>de</strong>vidas providências, frutos<br />

<strong>de</strong>ssas investigações, como também — e isso é muito importante — produziram uma série <strong>de</strong> sugestões e projetos importantes<br />

para a <strong>de</strong>mocracia brasileira e para o governo.<br />

Na CPI dos Correios, todos acompanharam intensamente os problemas com ministros, parlamentares, o trabalho do Supremo<br />

Tribunal Fe<strong>de</strong>ral através do Ministro Joaquim Barbosa e a <strong>de</strong>scentralização <strong>de</strong>ssas ativida<strong>de</strong>s, exatamente para que se tenha<br />

velocida<strong>de</strong> na apuração dos processos.<br />

é importante registrar que a maior preocupação nossa foi, além <strong>de</strong> investigar, apresentar sugestões. é fundamental <strong>de</strong>stacar:<br />

tivemos durante 11 meses um trabalho intenso, acompanhado em tempo real por toda a mídia e conseguimos produzir e<br />

aprovar um relatório. Não teríamos condições técnicas ou mesmo ferramentas para aprofundar as investigações, como a Polícia<br />

Fe<strong>de</strong>ral, o Ministério Público, o Supremo Tribunal Fe<strong>de</strong>ral, e o Tribunal <strong>de</strong> Contas fizeram. Todas as coisas que aconteceram<br />

pós-CPI foram fruto <strong>de</strong>ste trabalho e as pessoas passaram a ter muito mais tranquilida<strong>de</strong> para executar as suas ativida<strong>de</strong>s, por<br />

estarem em uma sala fechada e terem condições <strong>de</strong> conversar com quem interessa para elucidar uma série <strong>de</strong> questões. Uma<br />

CPI não tem a escuta telefônica. Várias ferramentas e instrumentos gerados <strong>de</strong>sse subsídio da CPI dos Correios <strong>de</strong>ram a essas<br />

instituições condições <strong>de</strong> avançar.<br />

Vou falar sobre as sugestões que surgiram da CPI dos Correios. São muitas, mas listei algumas e ilustrei outras, para <strong>de</strong>pois<br />

entrar especificamente no projeto <strong>de</strong> lei 3305, <strong>de</strong> autoria do José Cardozo, que foi o sub-relator da sub-relatoria <strong>de</strong> contratos.<br />

Ele não só analisou a questão dos contratos <strong>de</strong> publicida<strong>de</strong>, mas analisou vários contratos <strong>de</strong> prestação <strong>de</strong> serviços e em<br />

função <strong>de</strong>ste trabalho, muitas sugestões surgiram e muitas <strong>de</strong>las se transformaram em projetos.<br />

A primeira coisa que percebemos é a questão <strong>de</strong> um sistema nacional <strong>de</strong> combate à corrupção, fazendo essa integração entre<br />

os vários órgãos que participam <strong>de</strong>ssa troca <strong>de</strong> informações e das investigações. Percebemos que há uma dissintonia entre os<br />

órgãos que acompanham principalmente esta questão <strong>de</strong> crimes financeiros.<br />

Chegamos a ir até Nova York conversar com vários procuradores que nos sugeriram uma série <strong>de</strong> ações, fruto da própria vivência<br />

que tiveram. é evi<strong>de</strong>nte que algumas coisas são sugestões, pois não são atribuições do legislativo e sim do executivo.<br />

Quando existem sugestões <strong>de</strong> responsabilida<strong>de</strong> do executivo, o assunto é encaminhado para o Governo Fe<strong>de</strong>ral.<br />

A outra questão importante a ser <strong>de</strong>stacada é relativa ao próprio Coaf e refere-se a uma sugestão <strong>de</strong> transformação <strong>de</strong>sse<br />

orgão em uma agência nacional <strong>de</strong> inteligência financeira, como ocorre em muitos países. Ouvimos especialistas do mundo<br />

inteiro e trouxemos gente da Europa e da comunida<strong>de</strong> econômica européia, exatamente para enten<strong>de</strong>r as regras com relação<br />

à lei anticorrupção, pois é exigida uma espécie <strong>de</strong> checklist anticorrupção <strong>de</strong>ste país quando ele ingressa nesta comunida<strong>de</strong><br />

econômica européia. Trouxemos muita gente <strong>de</strong> fora, pois buscamos enten<strong>de</strong>r as experiências que vivenciaram, principalmente<br />

na consolidação da Comunida<strong>de</strong> Econômica Européia. Entramos também na questão <strong>de</strong> redução <strong>de</strong> cargos <strong>de</strong> confiança<br />

do 3º escalão para baixo, po<strong>de</strong>ndo até ter indicação política, mas o profissional tem que ser <strong>de</strong> carreira.<br />

Muitas coisas que investigamos na CPI dos Correios ocorreram porque <strong>de</strong>terminadas pessoas não tinham qualificação para<br />

ocupar a posição que ocupavam. Estou fazendo comentários fáticos constatados nos trabalhos que executamos.<br />

Há a criação <strong>de</strong> câmaras e varas judiciais especificamente voltadas para a questão da administração pública, a possibilida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> contatar estatais para <strong>de</strong>por nas várias comissões do congresso. Alguns <strong>de</strong>stes projetos foram aprovados: revisão da lei<br />

<strong>de</strong> lavagem <strong>de</strong> dinheiro e pregão eletrônico, que percebemos claramente ser instrumento fortíssimo do ponto <strong>de</strong> vista licitatório<br />

– estou falando <strong>de</strong> um modo geral, para as estruturas <strong>de</strong> governo – e o aprimoramento da fiscalização dos fundos <strong>de</strong><br />

previdência, já aprovamos isso também no <strong>Congresso</strong>. é o papel <strong>de</strong> uma CPI, em função <strong>de</strong> uma crise, tirando as coisas boas,<br />

as propostas que vão melhorar a gestão do país.<br />

Agora vamos entrar no objetivo principal da nossa conversa, que é a questão da publicida<strong>de</strong>. Uma das sugestões que surgiram<br />

refere-se às <strong>de</strong>spesas com publicida<strong>de</strong> serem incluídas na Lei <strong>de</strong> Responsabilida<strong>de</strong> Fiscal, pois verificamos uma total falta <strong>de</strong><br />

sincronia <strong>de</strong> orçamento em função dos vários contratos feitos, inclusive dos serviços contratados aproveitando uma agência<br />

<strong>de</strong> publicida<strong>de</strong>.<br />

Nas normas específicas relativas à publicida<strong>de</strong> na lei <strong>de</strong> licitações, que é o foco básico <strong>de</strong>ste projeto 3305, chegamos à conclusão<br />

<strong>de</strong> que a lei 8666 — e aí não é só para publicida<strong>de</strong> — precisa urgentemente ser alterada, por não caber mais para este<br />

Brasil que estamos vivendo hoje. Se ela serviu <strong>de</strong> instrumento durante um <strong>de</strong>terminado período, hoje não serve mais, pois traz<br />

lentidão, disputas judiciais que atrasam o processo <strong>de</strong>cisório. Neste caso especifico <strong>de</strong> publicida<strong>de</strong>, isso ficou muito claro.<br />

Quanto ao briefing, que foi comentado pelo Bob, relativo à i<strong>de</strong>ntificação dos autores das propostas que são apresentadas nos<br />

processos licitatórios, quero somente dizer que o assunto foi sugestão do relatório, <strong>de</strong> Osmar Ferrari.<br />

Agora vamos entrar efetivamente no que pautou essa proposta que levou ao projeto <strong>de</strong> lei 3305. Esses foram os contratos<br />

analisados pela CPI dos Correios. Não estamos fazendo juízo <strong>de</strong> valor, se um contrato era bom ou ruim. Esses contratos foram<br />

analisados à luz dos fatos que vinham surgindo e não quer dizer que a publicida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ssas empresas teria um <strong>de</strong>svio ou<br />

algum tipo <strong>de</strong> problema. Vocês po<strong>de</strong>m ver até que analisamos aqueles contratos com agências <strong>de</strong> publicida<strong>de</strong> na Câmara<br />

dos Deputados. Este foi o elenco <strong>de</strong> empresas que <strong>de</strong> certa maneira ajudou José Eduardo Cardozo a começar a construir esta<br />

proposta do projeto <strong>de</strong> lei.<br />

Ao longo <strong>de</strong>ssas investigações, foram verificados os recursos crescentes. Pela subjetivida<strong>de</strong> dos contratos <strong>de</strong> licitação, era<br />

difícil a <strong>de</strong>finição da escolha <strong>de</strong> uma empresa em <strong>de</strong>trimento <strong>de</strong> outra. Sobre terceirização <strong>de</strong> serviços, por exemplo, tivemos<br />

terceirização <strong>de</strong> shows <strong>de</strong> banda sertaneja em um restaurante <strong>de</strong> Brasília e <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> um contrato.<br />

Este é um exemplo e vimos outros que fomos levantando ao longo do trabalho. As dificulda<strong>de</strong>s surgiram exatamente porque<br />

à medida que abriam <strong>de</strong>mais os contratos, os órgãos <strong>de</strong> fiscalização, Controladoria-Geral da União (CGU), Tribunal <strong>de</strong> Contas, ti-<br />

220 221<br />

COMISSÃO 5 - LICITAÇÕES PÚBLICAS E CONCORRÊNCIAS PR<strong>IV</strong>ADAS


nham dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong> verificar se havia algum tipo <strong>de</strong> anomalia. Precisou acontecer tudo isso para que começássemos a perceber<br />

que ocorriam <strong>de</strong>svios e isso exigiu uma legislação que realmente privilegiasse ou prestigiasse a gran<strong>de</strong> maioria que era séria.<br />

Não preciso falar das agências diretamente envolvidas, que causaram todos estes problemas e levaram a uma interpretação<br />

equivocada por parte da opinião pública, no que se refere às agências <strong>de</strong> publicida<strong>de</strong>, que não tinham nada a ver com essa<br />

confusão toda.<br />

O Governo tem um papel absolutamente importante e fundamental no mercado <strong>de</strong> publicida<strong>de</strong>. Tal fato cresceu <strong>de</strong> 2003 em<br />

diante. Em 2007 tivemos um gap, um orçamento menor e <strong>de</strong>pois a previsão, segundo fonte da Secom, <strong>de</strong> que vamos a 1.2<br />

bilhão. Portanto, como nós, <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>ste processo <strong>de</strong> publicida<strong>de</strong>, o Governo tem um papel absolutamente fundamental.<br />

O diagnóstico do relatório final, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> todas aquelas sugestões, aponta que há a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se ajustar essa insuficiência<br />

da lei 8666 com relação aos processos licitatórios.<br />

é importante registrar que o Deputado José Eduardo Cardozo conversou muito com a Associação Brasileira <strong>de</strong> Agências <strong>de</strong><br />

Publicida<strong>de</strong>. Além dos trabalhos da Comissão, fizemos todo um trabalho <strong>de</strong> audiências públicas e <strong>de</strong> discussão com a <strong>Abap</strong>,<br />

exatamente para se buscar alguma coisa que efetivamente aten<strong>de</strong>sse ao mercado. é importante registrar a forma como o<br />

Deputado José Eduardo Cardozo conduziu este trabalho.<br />

O permitido: criação, produção e veiculação <strong>de</strong> campanhas e planejamento e contratação <strong>de</strong> pesquisas <strong>de</strong> mercado, fundamentais<br />

para o trabalho que vocês executam.<br />

O que é proibido: assessoria <strong>de</strong> imprensa, porque víamos muitas distorções também nesta questão do contrato das agências<br />

com assessoria <strong>de</strong> imprensa e realização <strong>de</strong> eventos, coisas absolutamente não mensuráveis e <strong>de</strong> difícil verificação. Tínhamos<br />

absoluta convicção <strong>de</strong> que as coisas aconteciam nesses eventos.<br />

O projeto propõe uma comissão especial <strong>de</strong> licitação com cinco especialistas em publicida<strong>de</strong>, sendo que eles seriam escolhidos<br />

através <strong>de</strong> um sorteio e dos cinco, dois são <strong>de</strong> fora da empresa que vai contratar o serviço, mas todos eles com pleno<br />

conhecimento do setor, do negócio. é importante <strong>de</strong>stacar que dos cinco, dois não têm vínculo com a empresa que vai<br />

contratar o serviço. Foi uma maneira que o José Eduardo encontrou, pois tivemos, primeiro, pessoas experientes analisando<br />

as propostas e, segundo, da forma mais isenta possível. As propostas sem i<strong>de</strong>ntificação aparente dos autores — a grife, a<br />

paternida<strong>de</strong>. Envelopes lacrados e todos padronizados. Seleção pelo mérito criativo e potencial comunicador. O Banco do<br />

Brasil já começa a tomar iniciativas mais ou menos nessa linha, se não acatando boa parte, mas algumas das sugestões que<br />

compõem o PL3305: transparência dos contratos: ter orçamento, ter todo um planejamento das suas campanhas e dos seus<br />

planos <strong>de</strong> comunicação.<br />

Sabidamente, existem empresas do Governo que têm isso e não é <strong>de</strong> agora, mas po<strong>de</strong>mos aperfeiçoar bastante, para evitar<br />

os problemas que encontramos.<br />

Cadastramento <strong>de</strong> fornecedores e acompanhamento <strong>de</strong> execução via internet – é um processo importante, que cria todas as<br />

condições <strong>de</strong> transparência para que não haja questionamentos ou dúvidas com relação ao serviço prestado. Isso busca um<br />

processo absolutamente límpido, sem que haja qualquer tipo <strong>de</strong> dúvida com relação às ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>senvolvidas nas empresas.<br />

Outro fato pelo qual eu era muito procurado: a bonificação <strong>de</strong> volume (BV), que se tornou uma discussão inglória, pois tinha<br />

gente que interpretava que ela tinha que voltar para o Governo, para a estatal, quando era regra do jogo, das agências <strong>de</strong> publicida<strong>de</strong><br />

com as re<strong>de</strong>s. O Tribunal <strong>de</strong> Contas da União (TCU), na época sob o comando do Sr. Ubiratan Aguiar, acompanhava<br />

especificamente esses contratos. Gastamos muito tempo neste <strong>de</strong>bate e lembro-me bem que recebemos vários representantes<br />

das agências <strong>de</strong> publicida<strong>de</strong>. O difícil é explicar o óbvio: o assunto foi um dos maiores transtornos nessa discussão <strong>de</strong><br />

publicida<strong>de</strong>.<br />

A proposta é acabar com a controvérsia e colocar no contrato que o direito é da agência <strong>de</strong> publicida<strong>de</strong>. Não haverá mais<br />

dúvida, porque é algo absolutamente claro para o mercado no processo. Talvez até pelos próprios trabalhos da CPI – nós não<br />

somos do ramo –, isso tenha adquirido uma dimensão ainda maior do que <strong>de</strong>veria. Agora vamos resolver <strong>de</strong>finitivamente essa<br />

questão da bonificação <strong>de</strong> volume que gerou uma série <strong>de</strong> dificulda<strong>de</strong>s nessa relação <strong>de</strong> vocês com as empresas.<br />

Este projeto está tramitando na Câmara, na Comissão <strong>de</strong> Trabalho, Administração e Serviço Público e o relator é o Deputado<br />

José Carlos Vieira. Não foi apresentada nenhuma emenda e agora ele segue para a Comissão <strong>de</strong> Finanças e <strong>de</strong>pois para a CCJ;<br />

não vai para Plenário na Câmara. Da CCJ, da Câmara, vai direto para o Senado Fe<strong>de</strong>ral.<br />

Este é um projeto que <strong>de</strong>ve necessariamente merecer o carimbo <strong>de</strong> urgência urgentíssima, tramitar no <strong>Congresso</strong> <strong>de</strong> maneira<br />

célere, porque ele tem muitas virtu<strong>de</strong>s, traz muitos benefícios para o setor, que é fundamental para a nossa economia.<br />

Da nossa parte, temos acompanhado todos os projetos que surgiram da CPI dos Correios. Temos um grupo pequeno que<br />

acompanha a tramitação na Câmara e no Senado e este é um projeto-alvo, importante para nós e, sem dúvida nenhuma,<br />

daremos priorida<strong>de</strong> na tramitação e na sua possível aprovação. Mesmo em virtu<strong>de</strong> das eleições municipais, vamos fazer um<br />

gran<strong>de</strong> esforço para que ele tramite rapidamente.<br />

Quero agra<strong>de</strong>cer o convite e a todos os <strong>de</strong>batedores. Coloco-me à disposição, sempre trabalhando, procurando ouvir, construir<br />

com vocês uma legislação que atenda à competência e ao trabalho que executam cada vez com mais eficiência e competência,<br />

representando bem o nosso país. Muito obrigado!<br />

João Roberto Vieira da Costa<br />

Muito obrigado, Senador Delcídio. Quero registrar a presença do nosso presi<strong>de</strong>nte do <strong>Congresso</strong>, Sr. Dalton Pastore. Vamos<br />

começar com os <strong>de</strong>bates, sendo o primeiro o nosso Otoni Fernan<strong>de</strong>s Junior, que terá oito minutos para a sua exposição.<br />

Otoni fernan<strong>de</strong>s Junior<br />

Boa tar<strong>de</strong>, muito obrigado pelo convite. Vou explicar o papel da Secom em todo este processo. O senador chamou bem a<br />

atenção, pois é um volume expressivo <strong>de</strong> verbas que o sistema <strong>de</strong> comunicação do Governo Fe<strong>de</strong>ral coloca no mercado. Esse<br />

número é resultado da nossa missão <strong>de</strong> ser absolutamente transparente, porque não se fazia isso no passado. Estamos agora<br />

colocando em nosso site, duas vezes por ano, uma clara prestação <strong>de</strong> contas <strong>de</strong> como distribuímos as verbas, mas não entramos<br />

em <strong>de</strong>talhes para preservar as vantagens concorrenciais <strong>de</strong> empresas estatais como o Banco do Brasil ou outras como a<br />

Petrobras, que competem no mercado.<br />

Não po<strong>de</strong>mos divulgar certos <strong>de</strong>talhes, mas os números estão abertos no site da Secom. São absolutamente transparentes,<br />

não temos nada a escon<strong>de</strong>r, porque, como lembrou o senador, 76% (no ano passado) das verbas da publicida<strong>de</strong> do Governo<br />

Fe<strong>de</strong>ral foram das empresas estatais que competem no mercado; 10% <strong>de</strong>ste total <strong>de</strong> 930, são verbas institucionais, basicamente<br />

da Presidência da República, administrada pela Secom; e cerca <strong>de</strong> 20% foram campanhas <strong>de</strong> utilida<strong>de</strong> pública em que<br />

a maior verba é do Ministério da Saú<strong>de</strong>, na casa <strong>de</strong> 80 milhões por ano, basicamente tudo em utilida<strong>de</strong> pública, campanhas<br />

<strong>de</strong> prevenção, campanhas <strong>de</strong> vacinação, etc.<br />

Não há nenhuma razão para escon<strong>de</strong>r os números. A socieda<strong>de</strong> tem que conhecer, é assim que ela vai po<strong>de</strong>r cobrar. A Secom<br />

tem dois papéis principais do ponto <strong>de</strong> vista da publicida<strong>de</strong>. Ela administra, planeja, organiza e executa as verbas do Governo<br />

Fe<strong>de</strong>ral. Tem o contrato com as três agências que aten<strong>de</strong>m as suas contas (a Propeg, a Matisse e a 141) em 150 milhões e, além<br />

disso, normatiza a aplicação das verbas <strong>de</strong> todas as empresas estatais e ministérios. Controla e tem que aprovar os planos <strong>de</strong><br />

mídia, verificando se aten<strong>de</strong>m às políticas <strong>de</strong> governo.<br />

O Presi<strong>de</strong>nte da República teve muita clareza quando, em março do ano passado, convidou o Ministro Franklin Martins para<br />

chefiar uma nova Secom, vamos dizer, vitaminada. Antes a política <strong>de</strong> comunicação do governo sofria com o fato <strong>de</strong> estar<br />

muito dividida; na realida<strong>de</strong> era uma hidra <strong>de</strong> três cabeças: havia a secretaria <strong>de</strong> imprensa, o porta-voz e a Secom, que administrava<br />

as verbas <strong>de</strong> publicida<strong>de</strong>. O Presi<strong>de</strong>nte, ao chamar o Ministro Franklin, voltou a unificar e a dar comando único — já<br />

tinha sido unificado no passado durante o governo do presi<strong>de</strong>nte Fernando Henrique Cardoso.<br />

O ministro me convidou para ser secretário executivo e eu acumulava uma dupla experiência: como jornalista e com uma<br />

longa carreira como executivo. Chegava a brincar com o ministro e com meus colegas da Secom: pelo menos eu sabia o que<br />

era um pedido <strong>de</strong> inserção.<br />

Fui o principal executivo da Gazeta Mercantil e publisher do jornal. Fiz uma longa carreira lá: comecei como repórter, terminei<br />

como diretor geral e aprendi um pouco <strong>de</strong> marketing. Tenho uma antiga e sólida relação com o ministro, havendo muita confiança<br />

entre nós. Tive a honra <strong>de</strong> encontrar uma equipe <strong>de</strong> altíssimo nível e não foi preciso trazer nenhuma pessoa <strong>de</strong> fora, porque<br />

encontrei lá um grupo <strong>de</strong> gente muito comprometida com políticas <strong>de</strong> comunicação social transparentes, muito profissionais.<br />

O Otaviano estava nos Correios e eu o convi<strong>de</strong>i para ser secretário <strong>de</strong> comunicação integrada e cuidar da publicida<strong>de</strong>. O Vicentini,<br />

que era o chefe <strong>de</strong> gabinete, ficou como secretário <strong>de</strong> normas e assim tivemos, o ministro e eu, muita clareza e a nossa<br />

política foi muito bem-sucedida. Hoje, somos capazes <strong>de</strong> aplicar uma política muito sólida.<br />

Encontramos, do ponto <strong>de</strong> vista da Secom, um processo que já vinha sendo conduzido pelo Ministro Luiz Dulci, encarregado<br />

da Secom antes <strong>de</strong> nós chegarmos – através do Sr. Luiz Ta<strong>de</strong>u Rigo, o seu principal executivo –, e apren<strong>de</strong>rmos com as contribuições<br />

que a CPI nos trouxe. Já vinha acontecendo um processo <strong>de</strong> clara normatização, com regras bem <strong>de</strong>finidas. Hoje,<br />

com um manual <strong>de</strong> procedimento exemplar, tudo é transparente no relacionamento com as agências. Foi publicado no Diário<br />

Oficial, é um mo<strong>de</strong>lo, uma experiência que vem do tempo do Ta<strong>de</strong>u Rigo, do ministro Dulci e nós também temos que prestar<br />

contas <strong>de</strong> todos os nossos custos internos e externos. Só evoluímos neste processo.<br />

A criação <strong>de</strong> um comando único é muito importante, porque a Secom tem um papel e nós não somos “batedores <strong>de</strong> carimbo”.<br />

Queremos ser um centro <strong>de</strong> referência, um centro <strong>de</strong> melhores práticas. Na área da publicida<strong>de</strong>, nós fizemos, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> abril do<br />

ano passado – quando o ministro assumiu no dia 29 <strong>de</strong> março e eu pouco <strong>de</strong>pois –, 21 licitações no Governo Fe<strong>de</strong>ral, totalizando<br />

R$ 712 milhões. Atingimos agora a marca <strong>de</strong> 42 agências <strong>de</strong> publicida<strong>de</strong> aten<strong>de</strong>ndo às contas do governo. Em 2002<br />

eram 24; em 1998 foram 42 também.<br />

Essas licitações foram exemplares. A última, dos Correios, foi um belíssimo exemplo, absolutamente técnica. Nós já vínhamos<br />

há bastante tempo usando a prática dos envelopes, é uma boa solução. Na licitação da Secom, foi uma conta <strong>de</strong> 150 milhões.<br />

Eu tive o orgulho <strong>de</strong> ver que a Lew Lara, uma agência que nos aten<strong>de</strong>u muito bem durante anos, ficou em 4º lugar, per<strong>de</strong>ndo<br />

por 0,33 pontos, a diferença <strong>de</strong>la para a 141.<br />

O Luiz Lara disse que não iria recorrer e que o nosso processo foi <strong>de</strong> absoluta clareza, transparência e <strong>de</strong> rigor profissional. Isso<br />

dá muito orgulho, a mim e à minha equipe. Dá para fazer bem feito, sim, mas é preciso aprimorar.<br />

Somos francamente favoráveis ao Projeto <strong>de</strong> lei 3035, do Deputado José Eduardo Cardozo, porque ele normatiza esse processo,<br />

dá clareza e elimina as zonas <strong>de</strong> sombra. Tive na semana passada uma reunião com o Deputado José Eduardo Cardozo.<br />

Minha equipe e a <strong>de</strong>le fizeram algumas sugestões <strong>de</strong> aprimoramento.<br />

Para a Secom, não teria o menor problema assumir o projeto <strong>de</strong> lei do jeito que está, mas ele precisa ser aprimorado e esse<br />

é o papel do <strong>Congresso</strong>, principalmente para aten<strong>de</strong>r às necessida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> estados e municípios. O projeto tem certos itens<br />

técnicos <strong>de</strong> difícil cumprimento por parte dos municípios e po<strong>de</strong>mos provocar uma reação negativa da parte <strong>de</strong> representantes<br />

das prefeituras e associações <strong>de</strong> municípios. Dá para melhorar, chegamos a um consenso e o <strong>de</strong>putado concordou com<br />

algumas <strong>de</strong> nossas propostas. Esse é o papel da Secom. é a melhor prática, porque estamos acumulando conhecimento.<br />

A licitação dos Correios foi uma das gran<strong>de</strong>s do ano passado e ainda uma das três contas está sub judici. Recomen<strong>de</strong>i ao presi<strong>de</strong>nte<br />

dos Correios que liberasse as duas contas que não estavam sendo objetos <strong>de</strong> recursos, mas pecou-se pelo excesso <strong>de</strong><br />

minúcias. Quando se erra ou se acerta, como os processos licitatórios têm que ser aprovados por nós, procuramos incorporar<br />

o aprendizado no passo seguinte.<br />

A Caixa trabalhou muito conosco e ainda vimos erros no processo. Havia <strong>de</strong>talhes do tipo que está no plano <strong>de</strong> mídia. Nós<br />

apren<strong>de</strong>mos com esse erro e não será repetido em uma próxima. Há um processo <strong>de</strong> aprimoramento, mas a lei torna isso claro.<br />

A lei tem outro beneficio: ela acaba com o confronto jurídico. O sistema todo do Governo Fe<strong>de</strong>ral está sub judici por causa<br />

do Acórdão 2.062 do TCU, <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 2006. Se aplicado a ferro e fogo, ele paralisaria praticamente toda a execução <strong>de</strong><br />

verbas publicitárias do Governo Fe<strong>de</strong>ral.<br />

O ministro e eu tivemos a clareza <strong>de</strong> fazer uma negociação política e uma busca <strong>de</strong> esclarecimento junto ao TCU. Contestamos<br />

a 2062 através da AGU, mas não contestamos o que consi<strong>de</strong>ro o ponto mais importante da 2.062, que é acabar com os<br />

contratos “guarda-chuva”. Isso é um erro enorme do ponto <strong>de</strong> vista <strong>de</strong> política pública: subcontratar serviço <strong>de</strong> assessoria <strong>de</strong><br />

imprensa, <strong>de</strong> eventos, <strong>de</strong> pesquisa, <strong>de</strong> fazer site, através <strong>de</strong> agência <strong>de</strong> publicida<strong>de</strong>. Em primeiro lugar, é ruim para o Governo,<br />

porque ele está <strong>de</strong>ixando <strong>de</strong> pensar em formas <strong>de</strong> comunicação como internet como comunicação digital e está <strong>de</strong>legando<br />

para uma agência que não tem necessariamente essa especialida<strong>de</strong>, <strong>de</strong>ixando <strong>de</strong> <strong>de</strong>linear uma estratégia. Segundo: ele paga<br />

uma comissão. Terceiro: ele dizia as verbas da ativida<strong>de</strong> principal, se era utilida<strong>de</strong> pública ou institucional. Na Secom, não<br />

contestamos e, portanto nesse ponto, não se po<strong>de</strong> praticar qualquer tipo <strong>de</strong> subcontratação, porque se a Secom, o órgão<br />

organizador, não contestou, então está valendo.<br />

Criamos uma nova prática. Na semana retrasada a Secom lançou um mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> licitação para contratar uma assessoria <strong>de</strong> imprensa<br />

no exterior. Foi um trabalho! Precisamos <strong>de</strong> um ano para fazer um processo bem feito e <strong>de</strong>finir uma estratégia. Primeiro<br />

222 223<br />

COMISSÃO 5 - LICITAÇÕES PÚBLICAS E CONCORRÊNCIAS PR<strong>IV</strong>ADAS


se <strong>de</strong>fine uma estratégia, <strong>de</strong>pois um processo licitatório. O próximo órgão do governo que for fazer uma licitação já terá essa<br />

base <strong>de</strong> conhecimento e não vai <strong>de</strong>morar um ano para fazer o processo.<br />

Quanto à licitação, divulgamos na semana retrasada os resultados da parte técnica e cinco empresas brasileiras com representação<br />

no exterior foram contratadas. Hoje vencia o prazo para recurso; quatro empresas entraram com recursos e vamos<br />

atendê-los. Esperamos ter o resultado em 15 dias.<br />

Neste mês, vamos lançar o processo licitatório da comunicação digital para fazer os novos sites da presidência, Brasil.gov.br, o<br />

novo portal para o exterior. Também não existia mo<strong>de</strong>lo. é um erro fazer processo licitatório através <strong>de</strong> pregão eletrônico. é<br />

uma questão <strong>de</strong> técnica e não <strong>de</strong> comprar o serviço pelo menor preço, e, sim, <strong>de</strong>finir uma estratégia. O mo<strong>de</strong>lo transparente<br />

vai servir para o resto do governo, para estatais e ministérios.<br />

Lançamos há um mês a licitação <strong>de</strong> pesquisa e também fixamos um padrão. A Secom está cumprindo o papel, que é abrir<br />

caminho, estabelecer parâmetros, paradigmas que po<strong>de</strong>m ser aprimorados, mas continuo dizendo: precisamos da lei, ela é<br />

importante; a aprovação <strong>de</strong>ssa lei tirará a atenção com o TCU e tornará estéril o <strong>de</strong>bate em torno do 2.062.<br />

Muito obrigado!<br />

João Roberto Vieira da Costa<br />

Vamos agora para o Izael Sinem, da Nestlé.<br />

Izael Sinem<br />

Boa tar<strong>de</strong>, senhoras e senhores, colegas <strong>de</strong>batedores. Achei extremamente oportuno o convite do Bob, porque a Nestlé <strong>de</strong>sfruta<br />

<strong>de</strong> uma posição bem singular no que se refere ao relacionamento com as suas agências. Trabalhamos com parceiros em<br />

bases globais, para marcas globais, o que convencionamos chamar <strong>de</strong> alinhamento, e isso tem suas razões, que ganham em<br />

termos <strong>de</strong> eficiência, unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> comunicação e unida<strong>de</strong> estratégica. Existem parceiros regionais alinhados pelos mesmos<br />

fatores e também trabalhamos com agências locais para projetos locais on<strong>de</strong> o mercado tem autonomia para tomar as <strong>de</strong>cisões<br />

e estabelecer as diretrizes. Trabalhamos com liberda<strong>de</strong> local e com alinhamento, quando se refere a marcas globais ou<br />

regionais.Temos um pouco <strong>de</strong> cada mundo <strong>de</strong> relacionamentos com agências.<br />

Acho importante dividir com vocês os critérios que a Nestlé adota, não só aqui no Brasil, mas em termos globais e regionais. O<br />

primeiro <strong>de</strong>les já foi dito aqui pelos colegas: é a transparência. Todo o processo, do início ao fim, é feito por escrito, nada é conversado.<br />

Todos os parceiros têm a mesma informação ao mesmo tempo e essa informação é registrada. Quando existe qualquer<br />

tipo <strong>de</strong> dúvida durante o processo <strong>de</strong> concorrência, ela se torna do conhecimento <strong>de</strong> todos os que estão participando e<br />

a resposta também vai para todos. Mesmo aqueles que não tinham a dúvida recebem a resposta. Isso é muito importante.<br />

é importante salientar também a transparência dos critérios, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> as informações do objetivo do projeto, verba envolvida,<br />

tempo, todos os pré-requisitos são divididos e colocados a priori.<br />

O segundo critério que consi<strong>de</strong>ramos importante na avaliação <strong>de</strong> um parceiro <strong>de</strong> comunicação é a competência, no sentido<br />

<strong>de</strong> quais são os valores, os talentos que esse parceiro <strong>de</strong>ve ter para aten<strong>de</strong>r as nossas expectativas naquele <strong>de</strong>terminado<br />

projeto. Levamos muito em consi<strong>de</strong>ração a equipe, os cases que essas empresas produziram, pois são uma prova do que elas<br />

fizeram para os seus clientes. Avaliamos os resultados e as soluções apresentadas diante <strong>de</strong> uma questão interessante.<br />

O terceiro critério consi<strong>de</strong>rado muito importante é o comprometimento <strong>de</strong>ste parceiro e isso vem durante o processo da concorrência<br />

e também nas conversas que temos com os clientes <strong>de</strong>stas agências. Eles são excelentes testemunhas do quanto<br />

esta agência se interessa, se compromete, o quanto a sua direção está envolvida com os negócios dos seus clientes.<br />

Um quarto ponto importante e fundamental, já que comunicação é um dos pilares estratégicos da Nestlé no mundo, é o<br />

critério da inovação e criativida<strong>de</strong>. Quando assumimos uma parceria com uma agência ou uma empresa <strong>de</strong> comunicação,<br />

estamos procurando um parceiro que vai nos ajudar a inovar, a fazer algo que já fazemos, porém <strong>de</strong> maneira melhor. Diante<br />

disso, esse é um critério muito importante, porque a própria Nestlé, para lançar um produto ou colocar qualquer novida<strong>de</strong><br />

no mercado, testa muito, até ter certeza da sua superiorida<strong>de</strong>, da sua preferência. Na parte <strong>de</strong> comunicação não po<strong>de</strong>ria ser<br />

diferente, adotamos este critério.<br />

Basicamente estas são as variáveis e em termos globais, estes são os critérios que adotamos para trabalhar com nossos parceiros.<br />

No <strong>de</strong>correr do <strong>de</strong>bate, se vocês quiserem entrar em algum outro <strong>de</strong>talhe do processo ou do relacionamento, ficarei<br />

muito feliz em respon<strong>de</strong>r. Muito obrigado!<br />

João Roberto Vieira da Costa<br />

Passamos a palavra ao Sr. Sérgio Guerreiro, da SPGA Consultoria <strong>de</strong> Comunicação.<br />

Sérgio Guerreiro<br />

Boa tar<strong>de</strong>, senhoras e senhores. Cabe-me aqui comentar aspectos com relação a concorrências praticadas em nível mundial.<br />

Curiosamente isso se aplica mais à iniciativa privada do que ao Governo Fe<strong>de</strong>ral. Entre 90% e 80% das concorrências no<br />

mundo são coor<strong>de</strong>nadas por consultores in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes. E este número no Brasil não ultrapassa 6%, estima-se. A partir da<br />

indagação “por que isso ocorre?”, vou apresentar sinteticamente as razões que me parecem plausíveis e daí extrair elementos<br />

que certamente vão ao encontro ao que está sendo discutido aqui.<br />

Existem cerca <strong>de</strong> 20 consultorias <strong>de</strong> comunicação no mundo, sendo uma <strong>de</strong>las, uma consultoria à qual estamos associados<br />

em Londres e <strong>de</strong>finindo uma consultoria in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte, é uma empresa que não pertence a nenhum grupo <strong>de</strong> comunicação<br />

e é remunerada exclusivamente pelas empresas e não pelas agências.<br />

Vou dividir a análise em dois pontos. Primeiro: por que isso está ocorrendo com uma velocida<strong>de</strong> menor no Brasil? Segundo:<br />

que benefícios adicionais esta prática adotada por qualquer consultoria seria benéfica para o mercado?<br />

Certas razões que po<strong>de</strong>m ajudar a enten<strong>de</strong>r os 80%: lá fora os clientes sabem que são especialistas no seu negócio e não na<br />

área <strong>de</strong> comunicação. Cada macaco no seu galho. Há uma consciência clara <strong>de</strong> que as agências conhecem mais o mercado<br />

<strong>de</strong> comunicação e os clientes menos, e não existe o famoso encantamento com publicitários badalados ou <strong>de</strong>scolados, sedutores,<br />

inteligentes, ultracompetentes, que é uma curiosida<strong>de</strong> tipicamente nacional. O objetivo não é conhecer e ser visto em<br />

público. A relação lá fora é respeitosamente profissional e como se sabe, acontece frequentemente no Brasil <strong>de</strong> as pessoas se<br />

encantarem com isso e algumas empresas levam isso em consi<strong>de</strong>ração ao pré-selecionar uma agência.<br />

O processo <strong>de</strong> seleção <strong>de</strong> uma agência não é um happening, mas uma busca criteriosa por parceiros que contribuam <strong>de</strong>cisivamente<br />

para os objetivos comerciais da empresa. Há uma consciência muito mais clara <strong>de</strong> que o papel da campanha <strong>de</strong> uma<br />

agência po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>cisivo para os resultados finais <strong>de</strong> uma empresa. Isso não é brinca<strong>de</strong>ira, nem uma coisa folclórica e curiosa<br />

como algumas vezes nós vemos acontecer aqui. O melhor parceiro não é o mais charmoso, nem o mais esperto, nem o mais<br />

baratinho, mas sim o mais a<strong>de</strong>quado.<br />

Há uma verda<strong>de</strong> que os clientes nem sempre sabem. Nem toda boa agência serve para qualquer conta. Tem que ter uma<br />

a<strong>de</strong>quação, se não seria fácil e alguns exponentes ganhariam tudo. Lá fora isso não é verda<strong>de</strong>.<br />

Os clientes sabem que tempo é dinheiro e o processo <strong>de</strong> uma concorrência conduzido profissionalmente é trabalhoso e toma<br />

muito tempo. Os executivos da empresa são pagos para outras ativida<strong>de</strong>s. Uma consultoria in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte ajuda o cliente a<br />

tomar a melhor <strong>de</strong>cisão com todos os embasamentos técnicos e sem as famosas pressões emocionais, que, como sabemos,<br />

po<strong>de</strong>m vir <strong>de</strong> todos os lados, <strong>de</strong> todos os tipos e <strong>de</strong> todas as maneiras.<br />

Para uma consultoria in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte coor<strong>de</strong>nar este processo, ela intermedia e neutraliza esses efeitos curiosos que acontecem.<br />

Finalmente, sempre haverá um culpado a ser responsabilizado se algo <strong>de</strong> errado ocorrer e isso também acontece lá fora. Só a AAI,<br />

minha associada inglesa, conduziu no ano passado, 150 processos <strong>de</strong> licitação na Europa e nos Estados Unidos.<br />

Quais os benefícios adicionais para um mercado ainda incipiente no Brasil e – fico muito feliz em ter essas manifestações que me<br />

prece<strong>de</strong>ram –, agora caminhando para um processo muito mais transparente, claro, renovado e íntegro em última instância.<br />

Do meu ponto <strong>de</strong> vista: metodologias e critérios claros, justos e transparentes, comprovados internacionalmente. As metodologias<br />

existem, foram comprovadas e não há por que reinventar a roda. Dizer não a um número absurdo <strong>de</strong> agências no short<br />

list — <strong>de</strong>ixar no máximo três ou quatro. Eu já fui chamado para coor<strong>de</strong>nar a concorrência que tinha 60 agências se candidatando.<br />

Devemos dizer não a tecnicismos inúteis. Os briefings <strong>de</strong>vem ser absolutamente simples e focados, circunscritos, objetivos,<br />

<strong>de</strong>terminados. Não adianta fazer um briefing dizendo que quer resolver os problemas da empresa, esperar que a agência resolva<br />

todos os problemas em todas as áreas. Isto não é correto, não é focado e resulta em outros problemas que vamos ver a seguir.<br />

Devemos dizer não a gastos abusivos e <strong>de</strong>snecessários para as agências. Deve existir uma limitação do escopo da apresentação,<br />

para evitar os espetáculos circenses. Todos nós vimos apresentações <strong>de</strong> campanhas em que a agência levava horas e eu<br />

era uma <strong>de</strong>las há alguns anos atrás, fazendo verda<strong>de</strong>iras sessões carnavalescas com milhares <strong>de</strong> peças. Não é isso que vai <strong>de</strong>cidir.<br />

Não são esses os elementos que permitem um julgamento criterioso. Um briefing correto e focado <strong>de</strong>termina o número<br />

<strong>de</strong> peças necessárias para avaliação e evita o <strong>de</strong>sperdício.<br />

é preciso dizer não ao trabalho <strong>de</strong> graça e, quando apropriado, incentivar o pagamento <strong>de</strong> fees para campanhas especulativas.<br />

Dar ênfase na qualida<strong>de</strong> da equipe que vai julgar é muito importante. O cliente faz o seu briefing e <strong>de</strong>pois ele reúne um grupo<br />

— geralmente ele, alguns assessores e gente semi-amadora em comunicação. Ressaltamos que é muito importante qualificar<br />

o grupo que vai julgar, principalmente no caso <strong>de</strong> empresas governamentais.<br />

Falei com meu sócio inglês e ele conduziu algumas licitações na área governamental. Lá não é tão usado quanto aqui, mas<br />

essa idéia <strong>de</strong> colocar profissionais in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> qualquer área para fazer parte <strong>de</strong> um grupo <strong>de</strong>cisor, eles fazem também.<br />

é um procedimento muito recomendado.<br />

Respeito aos direitos autorais: <strong>de</strong>vem haver regras para a remuneração <strong>de</strong> idéias apresentadas e posteriormente utilizadas no<br />

caso das agências per<strong>de</strong>doras, porque alguns clientes pegam todas as idéias e <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> algum tempo vão materializá-las<br />

com uma forma ligeiramente disfarçada. Isto não é correto e <strong>de</strong>ve ser evitado.<br />

Vamos dizer não a compradores predadores e <strong>de</strong>finir com clareza os critérios <strong>de</strong> remuneração da agência e recomendação<br />

formal, o que é praticado na Europa e nos Estados Unidos. Quando se dizem quais são os critérios e eles são discutidos com a<br />

agência antes do início do processo, os benefícios são imensuráveis.<br />

O último ponto: po<strong>de</strong> haver uma recomendação ao cliente <strong>de</strong> não abrir uma concorrência, se isso não for realmente necessário.<br />

O curioso é que isso se aplica menos na área governamental, on<strong>de</strong> as coisas são mais cristalizadas, <strong>de</strong>terminadas. Entretanto,<br />

muitas vezes, ao solicitarem uma licitação, percebem o que está escondido e <strong>de</strong>scobrem que não vai adiantar nada trocar<br />

<strong>de</strong> agência se não mudar alguma coisa internamente.<br />

Finalmente, queria dizer que pessoalmente não vejo porque essas recomendações, <strong>de</strong> maneira conceitual, não possam ser<br />

aplicadas ao mercado <strong>de</strong> contas privadas em empresas nacionais e outras, bem como a contas governamentais. Agra<strong>de</strong>ço<br />

pela sua atenção.<br />

João Roberto Vieira da Costa<br />

Tivemos a oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ver a experiência do governo, da iniciativa privada e do intermediário. Passo a palavra para o Sr.<br />

Geraldo Alonso, presi<strong>de</strong>nte do Conselho <strong>de</strong> ética da <strong>Abap</strong>, do Cenp na Comissão <strong>de</strong> ética e do Conar. De certa forma, é o<br />

<strong>de</strong>nominador comum <strong>de</strong> tudo o que se discutiu aqui até agora.<br />

Geraldo Alonso<br />

Muito obrigado, boa tar<strong>de</strong>. Na qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> presi<strong>de</strong>nte do Conselho <strong>de</strong> ética da <strong>Abap</strong>, tento trazer uma síntese. Resgato um<br />

pouco o que o Kofi Annan nos disse hoje. Não há ativida<strong>de</strong> que progrida sem noções claras <strong>de</strong> ética e transparência. Para isso,<br />

reproduzindo o que está em nosso site, digo que a adoção <strong>de</strong> princípios éticos elevados e responsáveis é hoje mais do que<br />

nunca fator fundamental para a perenização e o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> qualquer setor empresarial.<br />

Não há nenhum tipo <strong>de</strong> discussão para fugir das questões <strong>de</strong> transparência e ética, se efetivamente quisermos manter a qualida<strong>de</strong><br />

da publicida<strong>de</strong> nacional e se quisermos evoluir nesta questão. Por outro lado, temos que consi<strong>de</strong>rar alguns aspectos.<br />

Primeiro: a indústria da comunicação tem uma importância extraordinária. Hoje o negócio da comunicação, da publicida<strong>de</strong><br />

em particular, gira em torno <strong>de</strong> 1% do PIB. Por outro lado, o negócio tem crescido a taxas maiores do que o próprio PIB, o que<br />

faz com que a indústria da comunicação no Brasil seja uma das <strong>de</strong>z mais importantes do mundo. Estamos falando <strong>de</strong> um<br />

negócio absolutamente intangível e sutil, pois não é cotado na bolsa <strong>de</strong> valores <strong>de</strong> Nova York, o que consequentemente é <strong>de</strong><br />

difícil precificação e avaliação.<br />

Por outro lado, trata-se efetivamente <strong>de</strong> uma contratação que eu chamo assimétrica. Todas as contratações vindas dos clientes<br />

são <strong>de</strong> empresas maiores do que as prestadoras <strong>de</strong> serviços, qualquer que seja o tamanho <strong>de</strong>las. Tendo ainda em consi<strong>de</strong>ração<br />

que importantes valores mudam <strong>de</strong> mãos a cada ano – se estimarmos que cerca <strong>de</strong> 10% <strong>de</strong> tudo o que é investido em publicida<strong>de</strong><br />

no Brasil muda <strong>de</strong> mão a cada <strong>de</strong>z anos, teríamos algo perto <strong>de</strong> 1 bilhão sendo licitado.<br />

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COMISSÃO 5 - LICITAÇÕES PÚBLICAS E CONCORRÊNCIAS PR<strong>IV</strong>ADAS


O Otoni mencionou que já fez licitação <strong>de</strong> R$700 milhões, o que extrapolaria a minha previsão <strong>de</strong> R$1 bilhão, ou seja, po<strong>de</strong>mos<br />

com muita tranqüilida<strong>de</strong> dizer que cerca <strong>de</strong> R$ 1.5 bilhão ou mais mudam <strong>de</strong> mãos a cada ano no Brasil, o que torna evi<strong>de</strong>ntemente<br />

importantes os critérios <strong>de</strong> transparência e critérios mais bem <strong>de</strong>finidos para essas licitações.<br />

Tendo isso em vista, recomenda-se o estabelecimento <strong>de</strong> princípios que <strong>de</strong>terminem as melhores práticas. Vou me reter aqui<br />

às questões da licitação privada, na medida em que o projeto <strong>de</strong> lei proposto cumpre este aspecto das licitações governamentais,<br />

e que estes princípios sejam agregados ao Código <strong>de</strong> ética da <strong>Abap</strong> que, atualmente, não prevê especificamente nada do<br />

que diz respeito à licitação. Também, que o novo código seja o orientador para as contratações <strong>de</strong> outras disciplinas.<br />

Consi<strong>de</strong>rando ainda as manifestações recebidas <strong>de</strong> Sérgio Amado, Roberto Duailibi, da ABA e da Fenapro, que produziram um<br />

documento bastante interessante sobre melhores práticas, e <strong>de</strong> recente manifestação da Ampro, do Guilherme <strong>de</strong> Almeida e<br />

finalmente sintetizando, recomendar-se-ia que se convi<strong>de</strong>m no máximo cinco agências — surgiu aí uma discussão, se são três,<br />

quatro ou cinco —, mas que seja um número limitado <strong>de</strong> agências para qualquer processo licitatório privado.<br />

Que se prepare um briefing escrito da parte do cliente, contendo o que se espera da agência em termos <strong>de</strong> abrangência , tipo<br />

do serviço, critérios <strong>de</strong> avaliação que o cliente preten<strong>de</strong> usar, verba ou critérios <strong>de</strong> avaliação <strong>de</strong> verbas do cliente e, acima <strong>de</strong><br />

tudo, o que chamo <strong>de</strong> minuta do pré-contrato.<br />

Muitas vezes se discute tudo e <strong>de</strong>pois vem o contrato on<strong>de</strong> vai se <strong>de</strong>scobrir uma série <strong>de</strong> pontos que a agência não po<strong>de</strong><br />

cumprir <strong>de</strong>pois que se <strong>de</strong>sgastou em todo o processo. Dadas as relações entre cliente e agência, que o contrato seja <strong>de</strong> no<br />

mínimo <strong>de</strong> dois anos, tempo necessário para que ambas as partes conheçam o que estão falando e tenham consciência da<br />

eventual <strong>de</strong>ficiência e necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> troca. Como diz o Sérgio, muitas vezes essa necessida<strong>de</strong> não é tão óbvia e po<strong>de</strong>-se<br />

manter a relação, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que se tenham parceiros que aju<strong>de</strong>m nisso.<br />

Que a escolha seja prioritariamente baseada nas informações prestadas em resposta a esse briefing fornecido. Que se evitem<br />

apresentações especulativas envolvendo propostas <strong>de</strong> planejamento e/ou criação. E que, caso o cliente <strong>de</strong>cida pela alternativa<br />

<strong>de</strong> apresentações especulativas, uma remuneração prévia seja <strong>de</strong>finida para os per<strong>de</strong>dores. Que o alinhamento <strong>de</strong> contas<br />

internacionais seja reconhecido como prática aceitável. Todavia, o cliente que pratica alinhamento não <strong>de</strong>ve exacerbar fazendo<br />

campanhas especulativas para estimular as agências alinhadas ou para amedrontá-las. Em síntese, é essa a proposta que<br />

vocês já receberam até por escrito. Muito obrigado!<br />

João Roberto Vieira da Costa<br />

Está concluída esta primeira fase on<strong>de</strong> nossos <strong>de</strong>batedores apresentaram seus pontos <strong>de</strong> vista. Entramos agora em uma fase do<br />

<strong>de</strong>bate propriamente dito. As pessoas colocaram um resumo da pergunta, nosso relator fez algumas seleções e agora vamos<br />

fazer a separação e convidar aqueles que se inscreveram para fazer a pergunta oralmente para o <strong>de</strong>batedor ou o palestrante.<br />

Optamos por separar por palestrante <strong>de</strong>batedor. Começaremos com o Senador Delcídio Amaral. As pessoas que vão fazer as<br />

perguntas são: Paulo França <strong>de</strong> São Paulo para o senador Delcído Amaral, Tarion Motta do estado <strong>de</strong> Goiás para o senador, Renata<br />

Carolina <strong>de</strong> Campos do Paraná, para o senador e Fernando Bretas do Sindicato <strong>de</strong> Agências <strong>de</strong> Propaganda do Distrito Fe<strong>de</strong>ral.<br />

Estou priorizando as perguntas relacionadas ao tema específico do <strong>de</strong>bate. O primeiro dos que já foram chamados já po<strong>de</strong><br />

fazer a pergunta.<br />

Pergunta nº 1, <strong>de</strong> Paulo França – Consultoria e Comunicação Socioeconômica<br />

Senador Delcídio Amaral, o PL3305 <strong>de</strong>corrente da CPMI dos Correios garantiu mais transparência e lisura aos processos licitatórios.<br />

Quais seriam os seus principais aspectos?<br />

Acho que <strong>de</strong> certa forma esta pergunta foi respondida pelo senador quando <strong>de</strong> sua explanação, não é mesmo? Mas <strong>de</strong> toda<br />

maneira está colocada aqui a questão.<br />

Pergunta nº 2, <strong>de</strong> Tarion Motta<br />

Como evitar que as comissões <strong>de</strong> licitação recebam informações sobre os envelopes apócrifos (exemplo: “aquele layout marcado<br />

com um patinho amarelo é o meu.”). Não começaria por um novo formato <strong>de</strong> edital?<br />

Pergunta nº 3, <strong>de</strong> Renata Carolina <strong>de</strong> Campos<br />

é claro que os sindicatos cumprem um papel, agregando as agências e municiando-as com conhecimento, uma vez que<br />

representam legalmente a categoria econômica das agências <strong>de</strong> publicida<strong>de</strong> em todo o território nacional. Por que o artigo 4º<br />

do projeto inclui apenas as entida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> natureza civil, <strong>de</strong>ixando <strong>de</strong> consi<strong>de</strong>rar as entida<strong>de</strong>s sindicais?<br />

Pergunta nº 4, <strong>de</strong> Fernando Bretas<br />

As agências valem-se <strong>de</strong> todas as ferramentas <strong>de</strong> comunicação social. A assessoria <strong>de</strong> imprensa é muito importante para a<br />

divulgação dos interesses do cliente ligados à campanha. Sendo a assessoria <strong>de</strong> imprensa executada pelas agências <strong>de</strong> propaganda,<br />

não é mais simples que todas as assessorias sejam contratadas através das agências?<br />

Delcídio Amaral<br />

Primeiro só para o Paulo França, respon<strong>de</strong>ndo em poucas linhas: é inegável que o PL3305 resolve uma série <strong>de</strong> questões e vale<br />

registrar alguns pontos aqui. Quanto à questão da comissão <strong>de</strong> licitação — <strong>de</strong> certa maneira respondo também a segunda<br />

pergunta do “patinho amarelo” —, a idéia é não colocar gente curiosa ou inexperiente para fazer um tipo <strong>de</strong> análise como<br />

esta. Seriam cinco membros da comissão, três da empresa, se for uma empresa estatal e dois <strong>de</strong> fora, mas todos com notória<br />

especialização na área <strong>de</strong> publicida<strong>de</strong>. Acho isso muito importante e leva a uma avaliação das propostas muito mais isenta e o<br />

processo, da maneira como ele está sendo proposto pelo projeto <strong>de</strong> lei 3305, elimina boa parte das mazelas que infelizmente<br />

enfrentamos, como essa história do “patinho amarelo”.<br />

A partir do momento em que gente do ramo começa a fazer essa avaliação, e a partir do momento em que elas forem absolutamente<br />

neutras, sem nenhuma grife, paternida<strong>de</strong>, assinaturas qualquer processo é sujeito às dificulda<strong>de</strong>s habituais, principalmente<br />

em concorrências como as <strong>de</strong> publicida<strong>de</strong>. Mas há inegavelmente um tremendo aperfeiçoamento e melhoria sensível da<br />

maneira como conduzir os processos licitatórios nas estatais e também no Governo Fe<strong>de</strong>ral. O terceiro ponto, a transparência, é<br />

ter toda uma política voltada para a socieda<strong>de</strong>, mostrando realmente como a empresa se situa <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>sse processo brasileiro,<br />

na área em que atua, tendo todo um planejamento orçamentário associado e, ao mesmo tempo, o acompanhamento pela<br />

internet. Acho que isso traz uma soli<strong>de</strong>z muito gran<strong>de</strong> e um tremendo profissionalismo, em função até <strong>de</strong> algumas coisas que<br />

<strong>de</strong>tectamos quando fizemos a CPI dos Correios. Por último, o bônus <strong>de</strong> volume que equacionamos <strong>de</strong>finitivamente.<br />

Entendo até a preocupação <strong>de</strong>ssa pergunta do Tarion Motta, mas com o proposto pelo Deputado José Eduardo Cardozo à<br />

luz do que a CPI dos Correios levantou, nós tornamos esse processo muito mais transparente e com regras muito mais claras,<br />

como muitos <strong>de</strong>batedores aqui também disseram.<br />

Ouvi atentamente o que o Otoni disse, e é fundamental <strong>de</strong>stacar que os leilões eletrônicos colocados na minha exposição não<br />

estão alinhados com o projeto do José Eduardo Cardozo — muito pelo contrário. São leilões eletrônicos voltados para outras<br />

licitações que analisamos, principalmente quando analisamos os Correios, aquisições <strong>de</strong> materiais e uma série <strong>de</strong> coisas que<br />

não têm nada a ver com agência <strong>de</strong> publicida<strong>de</strong>. Aquilo que foi apresentado aqui é <strong>de</strong> caráter geral e o PL3305 sequer cria<br />

qualquer tipo <strong>de</strong> alternativa possível para o leilão eletrônico. Acho que isso é importante registrar.<br />

Com relação à socieda<strong>de</strong> civil, é evi<strong>de</strong>nte que este projeto vai buscar aperfeiçoamentos. é claro que essas questões vão merecer<br />

emendas parlamentares; através das audiências públicas, os sindicatos vão ter representativida<strong>de</strong>. Portanto, não estamos<br />

prejudicando ninguém, como foi dito aqui pelos <strong>de</strong>batedores anteriores. Essa é uma proposta que está sendo discutida na<br />

câmara e nas comissões. Ela vai agora para a comissão <strong>de</strong> finanças e para a CCJ e <strong>de</strong>pois vai para o senado. Teremos muitas<br />

oportunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> discutir isso <strong>de</strong> uma forma absolutamente transparente.<br />

fernando bretas<br />

Primeiro quero parabenizar o senhor pela CPI dos Correios e até recentemente essas operações da Polícia Fe<strong>de</strong>ral, em consequência<br />

da CPI dos Correios. Na verda<strong>de</strong>, enquanto agência, contratamos a assessoria <strong>de</strong> imprensa para trabalhar como<br />

ferramenta <strong>de</strong> auxílio <strong>de</strong> comunicação. Vejo com muita preocupação o governo licitar a assessoria <strong>de</strong> imprensa fora disso,<br />

porque foge muito do nosso controle. é uma ferramenta importantíssima, porque tendo um contrato in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte, ocorre:<br />

“não fui contratado pela agência, meu cliente é fulano <strong>de</strong> tal, acho que isso é melhor”. Acho que não há uma sinergia entre<br />

todas essas ações. é essa a minha preocupação.<br />

Delcídio Amaral<br />

Acho absolutamente pertinente a sua preocupação, mas o assunto mais complicado são os outros serviços, on<strong>de</strong> infelizmente<br />

<strong>de</strong>tectamos uma série <strong>de</strong> anormalida<strong>de</strong>s. Vamos ter uma oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> fazer essa discussão e concordo com você. Se você<br />

tiver uma assessoria <strong>de</strong> imprensa <strong>de</strong>sconectada da campanha, é uma coisa complicada. Acho até que a assessoria <strong>de</strong> imprensa<br />

saiu também porque foram verificadas muitas distorções, principalmente do assessor <strong>de</strong> imprensa contratado pela agência<br />

<strong>de</strong> publicida<strong>de</strong>. Eu não vou citar nomes, mas alguns são sabidamente conhecidos e alguns escândalos surgiram exatamente<br />

em função da contratação pelas agências <strong>de</strong> publicida<strong>de</strong> da assessoria <strong>de</strong> imprensa. Criaram-se mecanismos para que se<br />

buscassem alternativas <strong>de</strong> <strong>de</strong>svio <strong>de</strong> objeto. é uma proposta muito mais dura, no sentido <strong>de</strong> ter uma licitação absolutamente<br />

<strong>de</strong>terminada, clara, <strong>de</strong> uma agência <strong>de</strong> publicida<strong>de</strong>, não abrindo mão <strong>de</strong> qualquer alternativa que leve a uma proposta <strong>de</strong><br />

contrato “guarda-chuva”, como foi dito aqui.<br />

Foi muito mais pela experiência que vivenciamos junto com o José Eduardo Cardozo, do que uma pon<strong>de</strong>ração maior sobre<br />

essa preocupação. Vou levar ao José Eduardo Cardozo e pon<strong>de</strong>rar com ele esta questão também, que acho importante.<br />

Tarion motta<br />

Senador, hoje existe um <strong>de</strong>partamento na agência que, <strong>de</strong>ntro das concorrências públicas, está cada vez maior: o jurídico. A<br />

agência tem todos os <strong>de</strong>partamentos normais e hoje precisa ter um <strong>de</strong>partamento jurídico e muito bem preparado para <strong>de</strong>smontar<br />

essa coisa impressionante que são os editais. Os editais são verda<strong>de</strong>iras obras <strong>de</strong> arte, quebra-cabeças que complicam<br />

a compreensão. Colocam armadilhas que vão dificultando o trabalho das agências. Não seria interessante também colocar<br />

o estudo <strong>de</strong>sses editais, para que se criasse um formato mais claro, que viesse exatamente para as agências <strong>de</strong> uma maneira<br />

muito mais transparente, inclusive criando mais acesso das chamadas agências <strong>de</strong> médio e pequeno portes?<br />

Os prestadores <strong>de</strong> serviços ascen<strong>de</strong>m no mercado quando conquistam contas maiores e na área <strong>de</strong> governo esses editais<br />

muitas vezes são restritivos, já criando patamares on<strong>de</strong> boa parte <strong>de</strong> bons prestadores po<strong>de</strong>ria avaliar tecnicamente e não<br />

ascen<strong>de</strong>m. Queria sugerir que esses editais fizessem parte <strong>de</strong>ste estudo feito <strong>de</strong>ntro do PL3305, que eu consi<strong>de</strong>ro um avanço.<br />

Foi muito bem colocado, mas passa obviamente por isso, se não a questão do envelope apócrifo ficaria muito comprometida<br />

<strong>de</strong>ntro dos atuais editais, pois facilitaria muito o vazamento <strong>de</strong> alguma informação que viesse a gerar um privilégio ou uma<br />

i<strong>de</strong>ntificação prévia <strong>de</strong> todo este esforço que estamos fazendo aqui. Muito obrigado.<br />

João Roberto Vieira da Costa<br />

Passando para o Secretário Otoni, temos a pergunta:<br />

Licitações – Fernando Leite Ribeiro - Associação Brasileira <strong>de</strong> Empresas <strong>de</strong> Pesquisa.<br />

Mostrar o resultado <strong>de</strong> pesquisa sobre licitações <strong>de</strong> menor preço. Mostrar que a especificação é impossível, sugerindo auditoria<br />

como um procedimento regular.<br />

Rogério Cajado /fernando leite Ribeiro<br />

Boa tar<strong>de</strong>, em primeiro lugar eu sou vice-presi<strong>de</strong>nte da Associação Brasileira <strong>de</strong> Empresas <strong>de</strong> Pesquisa – Abep, <strong>de</strong> mercado,<br />

opinião pública e mídia e agra<strong>de</strong>ço o convite que me foi feito pela <strong>Abap</strong> para estarmos aqui representando a Abep e quero<br />

cumprimentar a todos pelo evento. No caso da licitação <strong>de</strong> pesquisas, o que percebo por tudo que aprendi hoje é que estamos<br />

muito aquém do progresso razoável está sendo feito na licitação <strong>de</strong> publicida<strong>de</strong>. A pesquisa tem várias peculiarida<strong>de</strong>s e<br />

recebeu muito menos atenção na preparação da legislação, <strong>de</strong> modo que o que eu quero apresentar é o seguinte: o que se<br />

passa em publicida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ruim é muito pior no caso <strong>de</strong> licitação <strong>de</strong> pesquisas. A pesquisa, para começar, frequentemente é um<br />

contrato para a realização <strong>de</strong> um projeto. O que se comentou aqui a respeito das licitações, dos documentos <strong>de</strong> briefing, no<br />

caso das pesquisas é aterrador. Eles não especificam e, aliás, a especificação no serviço <strong>de</strong> pesquisa é praticamente impossível.<br />

Com tempo, eu mostraria aos senhores que não se especifica <strong>de</strong> modo algum a qualida<strong>de</strong> do serviço <strong>de</strong> pesquisa, então, os<br />

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COMISSÃO 5 - LICITAÇÕES PÚBLICAS E CONCORRÊNCIAS PR<strong>IV</strong>ADAS


pregões <strong>de</strong> menor preço são um absoluto escândalo. Posso documentar tudo isso; fiz uma apresentação pública.no Encontro<br />

<strong>de</strong> Dirigentes <strong>de</strong> Empresas <strong>de</strong> Pesquisa (Etep), on<strong>de</strong> documentei o que estou dizendo.<br />

Por exemplo, fiz uma pesquisa entre 20 compradores <strong>de</strong> pesquisa privados – foram eles Michelin, Renault, Credicard, Wal Mart,<br />

Terra, Pfizer, ABN Amro, Unibanco, Santan<strong>de</strong>r, Coca-Cola, Nestlé, Cadberries, McDonald’s, Kraft Food, Sadia, Johnson & Johnson,<br />

Kimberland e Clark, Boticário, Procter & Gamble e Unilever.<br />

Fiz pessoalmente a pesquisa junto aos compradores <strong>de</strong> pesquisas e perguntei candidamente: se você tivesse que se pautar<br />

pela 8666, o que você acha que aconteceria com a pesquisa da sua empresa? é unânime a resposta: seria péssimo, eu estaria<br />

estimulando a <strong>de</strong>terioração da qualida<strong>de</strong> da pesquisa no Brasil. Todos concordaram plenamente com esta visão da licitação<br />

pública <strong>de</strong> menor preço.<br />

Eu pessoalmente vi na tela pregões <strong>de</strong> licitação <strong>de</strong> pesquisa e vi o absurdo, a <strong>de</strong>núncia que aquilo mesmo representa sobre a<br />

licitação. O preço vem <strong>de</strong> R$400 mil, em minutos, para R$200 mil e, <strong>de</strong>pois, para R$150 mil. Em minutos o sujeito abaixa o preço<br />

para menos da meta<strong>de</strong> do valor inicial. Isto acontece em gran<strong>de</strong>s empresas públicas brasileiras. Quando se tenta embargar - e<br />

eu tentei embargar judicialmente uma <strong>de</strong>ssas licitações -, a resposta é absurdamente calcada em pareceres <strong>de</strong> juristas que não<br />

têm a menor noção do que é bem comum, especificação, qualida<strong>de</strong>, e colocam: “o jurista fulano <strong>de</strong> tal disse isto, amparado<br />

na lei e na jurisprudência para fazer um leilão público <strong>de</strong> um serviço <strong>de</strong> pesquisa” que eu não consegui especificar ao fazer o<br />

meu briefing <strong>de</strong> solicitação <strong>de</strong> propostas.<br />

é esse tipo <strong>de</strong> situação que existe atualmente na compra <strong>de</strong> pesquisas. Elas são fornecidas por anônimos, por empresas fictícias,<br />

são terceirizadas, sem o menor conhecimento <strong>de</strong> quem está fazendo a licitação. Ele compra e não sabe quem vai fazer o<br />

campo. São.anônimos; não é exigido <strong>de</strong>le nem que diga quem vai fazer o projeto, ele agencia simplesmente o projeto.<br />

João Roberto Vieira da Costa<br />

é um tema que nós até po<strong>de</strong>ríamos contemplar como uma tese e até colocar a observância das especificida<strong>de</strong>s das questões<br />

<strong>de</strong> pesquisas no processo licitatório.<br />

Não i<strong>de</strong>ntificado<br />

O que o senhor acha da licitação da Secom?<br />

Roberto Cajado<br />

Eu respeito a licitação da Secom, acho muito bem feita e percebo que ela é feita com técnica e preço, mas as licitações em<br />

geral no Brasil são compras <strong>de</strong> gato por lebre, porque são licitações <strong>de</strong> menor preço. Não estou falando em nome da Abep,<br />

mas sugiro, pessoalmente, que se faça auditoria formal dos projetos <strong>de</strong> pesquisa realizados, seja para empresas públicas ou<br />

para as privadas, pois vale para elas também. Que no contrato, se diga “o vencedor estará sujeito a auditoria” (não é o acompanhamento<br />

<strong>de</strong> campo, nem o acompanhamento <strong>de</strong> instrução). é a verificação por um auditor in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte, qualificado,<br />

que diga: “sim, as entrevistas foram <strong>de</strong>vidamente feitas por gente <strong>de</strong>vidamente habilitada; o processamento realmente digitou<br />

tudo. etc.”, porque na prática, o que se passa não é isso. Muito obrigado! Desculpem!<br />

João Roberto Vieira da Costa<br />

Continuando as perguntas para o Otoni.<br />

Licitações – <strong>de</strong> Pedro Assunção – Grupo ABC.<br />

Os anunciantes <strong>de</strong>veriam dar uma resposta por escrito completa e técnica às agências que concorreram a um processo público<br />

e privado, para que as agências aprendam e melhorem suas apresentações e pelo menos façam valer estes esforços.<br />

Licitações públicas – Nei Ban<strong>de</strong>ira Junior (Bahia)<br />

Os editais <strong>de</strong> concorrência pública na modalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> melhor técnica e preço têm no item “capacida<strong>de</strong> técnica” estrutura <strong>de</strong><br />

atendimento com pontuação específica. Nossa proposta é acrescentar uma pontuação substancial a este item, na medida em<br />

que a agência concorrente apresente atendimento regional através <strong>de</strong> agências <strong>de</strong> propaganda nas diversas regiões do país.<br />

Outra questão para o Otoni dividir com o Alberto – Gustavo Tigre – Bana Comunicação (Pernambuco)<br />

Como ter uma norma única para licitação da Secom e <strong>de</strong> uma cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> 50 mil habitantes, ou mesmo uma licitação <strong>de</strong><br />

milhões ou <strong>de</strong> milhares <strong>de</strong> reais? Por fim, da mesma maneira que é questionável o alinhamento internacional, o que falar do<br />

alinhamento regional?<br />

Outra questão para o Otoni dividir com o Alberto – Henrique Alberto <strong>de</strong> Me<strong>de</strong>iros Filho – Mato Grosso do Sul<br />

A dificulda<strong>de</strong> que as pessoas têm nas análises e até mesmo nas interpretações <strong>de</strong> editais, significa justamente a dificulda<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> unida<strong>de</strong> nos processos e nos próprios mo<strong>de</strong>los digitais. A partir do momento em que se <strong>de</strong>fina as normas e sugestões,<br />

seria interessante que se tentasse criar junto aos Tribunais <strong>de</strong> Contas, Tribunais <strong>de</strong> Justiça, Ministérios, uma unida<strong>de</strong> para esses<br />

editais. Nós, <strong>de</strong> todas as agências em todo o Brasil, temos uma tremenda dificulda<strong>de</strong> em nos adaptar a editais tão diversos e<br />

que apresentam exigências completamente in<strong>de</strong>cifráveis em muitos momentos.<br />

Da mesma forma, que se fizesse também junto à iniciativa privada o mesmo movimento em relação à ABA, Associações<br />

Comerciais, Fe<strong>de</strong>rações das Indústrias Estaduais, para que isso tivesse um entendimento, porque não adianta chegarmos ao<br />

final com ótimos conceitos em relação ao processo licitatório e não conseguirmos realmente a sua aplicabilida<strong>de</strong>. Em um<br />

município a 450km da capital, nós, em sindicatos das agências <strong>de</strong> propaganda, somos obrigados a impetrar mandados <strong>de</strong> segurança<br />

para tentar discutir, brigar e partir para uma luta árdua, no sentido <strong>de</strong> <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r o nosso negócio. Essa é uma pergunta<br />

solicitando a possibilida<strong>de</strong> do tema ser incluído como facilitador nacional <strong>de</strong> processos licitatórios.<br />

João Roberto Vieira da Costa<br />

Entendi que na verda<strong>de</strong> ele coloca a sugestão <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvermos um item <strong>de</strong> uma tese para ser até submetida a esse plenário<br />

como uma sugestão, uma recomendação <strong>de</strong> termos um <strong>de</strong>nominador comum do ponto <strong>de</strong> vista dos editais, uma sugestão.<br />

Otoni fernan<strong>de</strong>s Junior<br />

Começando pela pergunta do Pedro Assunção: todos os documentos <strong>de</strong> um processo licitatório, todas as propostas dos<br />

concorrentes, são documentos públicos. é só pedir para o pregoeiro, que ele tem obrigação <strong>de</strong> mostrar e a lei 8666 exige isso.<br />

Por exemplo, nesta licitação que acabamos <strong>de</strong> fazer em uma assessoria <strong>de</strong> imprensa no exterior, recebemos 13 propostas em<br />

um total <strong>de</strong> 6.000 páginas <strong>de</strong> documentos. Como o custo para imprimir era alto, digitalizamos tudo e colocamos à disposição.<br />

Demos um prazo <strong>de</strong> cinco dias para recolher uma taxa para pagar o custo <strong>de</strong> digitalização e tornar disponível, porque é uma<br />

maneira <strong>de</strong> tornar transparente o processo, esclarecer a nota, toda a documentação e po<strong>de</strong>r gerar recursos. Os documentos<br />

estão à disposição justamente para po<strong>de</strong>rem recorrer <strong>de</strong> uma nota, <strong>de</strong> um documento que <strong>de</strong>ixou <strong>de</strong> ser apresentado.<br />

Quanto a essa questão da regionalida<strong>de</strong>, da capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> atendimento que o Henrique coloca, já discuti com o Ricardo na<br />

Fenapro e com os representantes da Fe<strong>de</strong>ração. Como fazer, <strong>de</strong>ntro da lei, para permitir a participação <strong>de</strong> agências regionais?<br />

Ela não permite <strong>de</strong>sdobrar uma concorrência. Nesta concorrência da Caixa <strong>de</strong> R$260 milhões, por exemplo, três agências<br />

regionais participaram. Ela não permite a subcontratação. Isso é claro na lei da licitação.<br />

A Secom tem induzido, mas não po<strong>de</strong>mos resolver este problema. Tenho aqui a lista das agências e nós veremos o seguinte:<br />

agências regionais ten<strong>de</strong>m a ganhar as contas menores <strong>de</strong> empresas regionais. Por exemplo, o Banco do Nor<strong>de</strong>ste é atendido<br />

por uma agência do Nor<strong>de</strong>ste. Diversas estatais na área <strong>de</strong> eletricida<strong>de</strong>, que são contas menores, são atendidas por agências<br />

regionais. Estamos procurando na Secom fazer o esforço <strong>de</strong> induzir as estatais e ministérios a regionalizarem a comunicação.<br />

O que temos feito é evitar o que havia no passado, uma excessiva concentração <strong>de</strong> verbas em poucos veículos ou em veículos<br />

em <strong>de</strong>sproporcionalida<strong>de</strong> com o share que tinham <strong>de</strong> mercado.<br />

Hoje estamos anunciando em cerca <strong>de</strong> 6.000 rádios, cuja lista consta do site da Secom. A última campanha <strong>de</strong> R$ 43 milhões<br />

que a Secom fez, “Mais Brasil para mais brasileiros”, foi totalmente regionalizada. Fizemos prestação <strong>de</strong> contas por estado e as<br />

agências regionais <strong>de</strong> publicida<strong>de</strong> não foram beneficiadas, mas as produtoras sim e vários elementos da ca<strong>de</strong>ia do mercado<br />

publicitário. Produtoras regionais ganharam inúmeras contas para fazer anúncio, para fazer produção <strong>de</strong> ví<strong>de</strong>o, etc., pelo fato<br />

<strong>de</strong> termos regionalizado a comunicação.<br />

A lei não permite a subcontratação <strong>de</strong> agências regionais pela agência que ganha a conta-mãe. Quanto a essa questão levantada<br />

pela Abep, ele tem razão, é um processo complicado, pois faltava balizamento. E quando a Secom fez a licitação<br />

e lançou no mês passado técnica e preço, ela <strong>de</strong>finiu o paradigma. Algumas estatais sequer estão contratando pesquisas,<br />

porque tinham medo <strong>de</strong> incorrer em um processo <strong>de</strong> pregão, ganhar uma empresa que não tinha condições <strong>de</strong> entregar<br />

tecnicamente, e por não ter o padrão. Hoje existe o padrão, que é o edital lançado pela Secom.<br />

Quanto à questão <strong>de</strong> aumentar a pontuação, que foi levantada no caso <strong>de</strong> certificados, temos certa tentação a subir mais a<br />

pontuação da parte técnica, mas o TCU, com razão, sugere que não seja superior a 60% o peso da parte técnica e <strong>de</strong>ixe 40%<br />

para a parte <strong>de</strong> preço.<br />

Nesta licitação que fizemos em assessoria <strong>de</strong> imprensa, sobraram somente cinco empresas na fase final que cumpriram as<br />

notas da parte técnica, aten<strong>de</strong>ndo o patamar mínimo <strong>de</strong> notas.<br />

Exigimos primeiro neste edital um briefing claro, pedimos para resolver dois problemas <strong>de</strong> comunicação bem claros: um<br />

<strong>de</strong>fensivo e outro ofensivo. Como atrair empresas <strong>de</strong> call center para o Brasil? Como se <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r nas acusações do etanol?<br />

Exigimos atestados com muita clareza do que era atestado. A empresa tinha que comprovar que prestou atendimento para<br />

um país em <strong>de</strong>senvolvimento em projetos <strong>de</strong> assessoria <strong>de</strong> imprensa para atração <strong>de</strong> investimento, por exemplo. Os atestados<br />

eram muito claros e ficamos somente com 60%. Estamos muito satisfeitos porque as cinco empresas que vão concorrer para a<br />

abertura do envelope <strong>de</strong> preços são <strong>de</strong> muito boa qualida<strong>de</strong>. Conseguimos estimular a concorrência, por um processo licitatório<br />

bem feito. Treze empresas concorreram, cinco passaram no final e todas as cinco são <strong>de</strong> muito bom nível. Qualquer uma<br />

que ganhar, nos aten<strong>de</strong>rá bem. Por que a Secom é importante para a área <strong>de</strong> normas <strong>de</strong> controle? Justamente para prever<br />

erros e acertos no processo licitatório. Se cada empresa pública, cada ministério, cada autarquia, cada estatal fosse inventar a<br />

roda sozinha…<br />

Nós tivemos um caso, a Petrobras. Com um enorme <strong>de</strong>partamento jurídico, eles tiraram o chapéu para uma proposta que a<br />

Secom havia feito que, por não terem acolhido integralmente, levaram um embargo e <strong>de</strong>pois disseram: “vocês tinham razão”.<br />

Nós estamos sendo disseminadores <strong>de</strong> melhores práticas e tentando fazer isso com os editais, que têm que ter normas. O<br />

edital começa pedindo a documentação, é norma da lei, da 8666. A parte quente é o briefing, pois vai compor a nota técnica e<br />

isso tem que ser lido com precisão. A lei 8666 exige certo rigor e às vezes tem muito “burocratês”. Quando o edital chega, além<br />

<strong>de</strong> vermos se tem erros formais, tentamos transformá-lo para que seja o mais legível possível.<br />

Ricardo Nabhan<br />

Otoni, entendo que a lei existente no país hoje não permite, mas quero aproveitar que estamos <strong>de</strong>batendo um projeto <strong>de</strong> lei<br />

e recomendar que haja uma mudança. Sr. Delcídio, a Fenapro recomenda que no projeto <strong>de</strong> lei seja incluída a obrigatorieda<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> constarem do edital <strong>de</strong> licitação a exigência <strong>de</strong> que as agências participantes apresentem contratos <strong>de</strong> representação ou<br />

acordo com as agências regionais, tendo em vista que essas agências conhecem as particularida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> cada canto <strong>de</strong>ste país,<br />

participando do dia-a-dia, valorizando a cultura local, o comportamento dos habitantes e não apenas através dos números<br />

das pesquisas que, em alguns casos, são feitas esporadicamente.<br />

E também, senador, que se leve em conta que este projeto <strong>de</strong> lei se aplica aos Três Po<strong>de</strong>res, em todos os escalões da administração<br />

pública, atingindo os 5.400 municípios brasileiros e não só o Governo Fe<strong>de</strong>ral; municípios que possuem verbas<br />

inferiores às gran<strong>de</strong>s verbas fe<strong>de</strong>rais, on<strong>de</strong> as verbas públicas ficam abaixo dos R$ 500 mil/ano, em pouquíssimos municípios,<br />

e não os R$ 260 milhões da Caixa Econômica Fe<strong>de</strong>ral.<br />

A Fenapro gostaria que isso entrasse como uma recomendação, porque tenho certeza <strong>de</strong> que o Governo Fe<strong>de</strong>ral está procurando<br />

beneficiar e fazer com que a sua comunicação seja levada a cada canto <strong>de</strong>ste país, para que todos os habitantes possam<br />

saber como ele está se <strong>de</strong>senvolvendo e crescendo. Isso tem que ser feito <strong>de</strong> uma forma transparente. Muito obrigado!<br />

Delcídio do Amaral<br />

O meu estado está muito bem representado, com o Nabhan e com o Henrique também, porque os dois apresentaram sugestões<br />

absolutamente pertinentes. O governo realmente está fazendo um gran<strong>de</strong> esforço para regionalizar essas campanhas e é<br />

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COMISSÃO 5 - LICITAÇÕES PÚBLICAS E CONCORRÊNCIAS PR<strong>IV</strong>ADAS


absolutamente legítimo e pertinente o que está sendo colocado aqui. Algumas perguntas que foram feitas sobre esta questão<br />

da regionalização são um gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>safio. Eu convivi muito com gran<strong>de</strong>s empresas, gran<strong>de</strong>s campanhas, então ficamos com<br />

cacoete <strong>de</strong> sempre olhar os R$260 milhões da Caixa Econômica Fe<strong>de</strong>ral, mas existem agências competentes que conhecem a<br />

região e isso é absolutamente pertinente. Temos que aproveitar esse PL para repercutir esse trabalho e não <strong>de</strong>ixá-lo concentrado<br />

nas gran<strong>de</strong>s agências, mas tem que passar pelo Governo Fe<strong>de</strong>ral, pelos estados e municípios, para aten<strong>de</strong>r efetivamente<br />

essa característica regional das nossas agências.<br />

Não i<strong>de</strong>ntificado<br />

Nós fizemos uma proposta e ela vem bem ao encontro <strong>de</strong>sta colocação que o Ricardo fez. Quero apenas reiterá-la e dizer que se<br />

o Governo Fe<strong>de</strong>ral — que <strong>de</strong>tém esse volume <strong>de</strong> verba <strong>de</strong> quase ou, às vezes, mais <strong>de</strong> R$ 1 bilhão — não tomar esta iniciativa,<br />

quem é que vai tomar?<br />

Não é uma posição só <strong>de</strong> fortalecimento do mercado regional, mas também uma posição que vem ao encontro dos interesses do<br />

anunciante, porque dizemos e reconhecemos em várias instâncias que há diferenças regionais, o maior beneficiado é o anunciante.<br />

Na realida<strong>de</strong>, queremos racionalizar a utilização da verba publicitária e o início disso <strong>de</strong>ve ser feito pelo Governo Fe<strong>de</strong>ral, que<br />

<strong>de</strong>tém esse volume <strong>de</strong> verba bastante expressivo e tem uma legislação que po<strong>de</strong> ser muito adaptada. O or<strong>de</strong>namento jurídico é<br />

feito para aten<strong>de</strong>r uma realida<strong>de</strong> e se a realida<strong>de</strong> reclama pela mudança <strong>de</strong>sse or<strong>de</strong>namento jurídico, isso tem que ser feito.<br />

João Roberto Vieira da Costa<br />

Estou sendo repreendido pelo nosso relator que já são 18:45 e temos votação das teses. Então Nabhan eu pediria, por favor,<br />

para ajudar a redigir para colocarmos este ponto.<br />

Nesta pergunta feita para o Otoni, eu gostaria que o Geraldo comentasse.<br />

Pergunta feita por Antônio Freitas, da Máster<br />

Depois da CPMI, as agências ficaram limitadas às prestações <strong>de</strong> serviços <strong>de</strong> publicida<strong>de</strong>. O mercado <strong>de</strong>manda comunicação<br />

integrada, marketing promocional, internet, ponto <strong>de</strong> venda, etc., e exige das agências sempre uma visão abrangente <strong>de</strong> todo<br />

o processo <strong>de</strong> comunicação. Como corrigir isso, sem, no entanto, voltar às práticas antigas e anti-éticas?<br />

Otoni fernan<strong>de</strong>s Junior<br />

Não tem muito problema no atual mo<strong>de</strong>lo, pois você po<strong>de</strong> contratar um hot site para uma campanha. Nós mesmos fizemos<br />

isso na campanha “mais Brasil para mais brasileiros” – se entrarem no en<strong>de</strong>reço www.maisbrasil.gov.br, vão ver o site. A agência<br />

po<strong>de</strong>, se precisar, usar a internet como parte da campanha, não tem o menor problema. O que não po<strong>de</strong> é contratar a agência<br />

para fazer um site <strong>de</strong> uma outra empresa estatal ou <strong>de</strong> um outro que não tenha nada a ver com aquela campanha. Po<strong>de</strong>-se<br />

fazer pesquisa também e ela po<strong>de</strong> ser específica sobre o alcance da campanha, ou um pré-teste. O que não se po<strong>de</strong> é fazer<br />

uma pesquisa <strong>de</strong> mercado ou <strong>de</strong> imagem. A lei permite, dá esta abertura. Havia o excesso e hoje estamos evitando.<br />

Eu só queria mencionar a questão do pregão eletrônico que o Henrique abordou: ele po<strong>de</strong> ser um terror. O governo brasileiro,<br />

através do Ministério do Planejamento, evoluiu muito na contratação <strong>de</strong> serviço que vai a pregão. Hoje a mudança que foi<br />

feita, inclusive na lei <strong>de</strong> licitação, já permitiu ampliar o pregão eletrônico e existem pregões extremamente bem feitos. A área<br />

<strong>de</strong> governo eletrônico do Ministério do Planejamento tem bancos <strong>de</strong> dados maravilhosos. Por exemplo, ninguém po<strong>de</strong> fazer<br />

uma proposta se está fazendo o pregão para contratar serviço <strong>de</strong> segurança. Eles já cortam qualquer proposta que não esteja<br />

respeitando o piso salarial daquela cida<strong>de</strong> ou daquele estado, porque eles têm um banco <strong>de</strong> dados eletrônico e todos os<br />

acordos salariais foram feitos. Não se po<strong>de</strong> permitir isso.<br />

Por exemplo, po<strong>de</strong>mos contratar um evento se ele for mensurável. A Secom está fazendo um pregão eletrônico para contratar<br />

a montagem das arquibancadas do 7 <strong>de</strong> setembro, mas aquilo é commoditizável: estamos comprando X metros <strong>de</strong> alambrado,<br />

etc. Mas para fazer pregão eletrônico em pesquisa <strong>de</strong> mercado, contratação <strong>de</strong> comunicação digital, serviços intelectuais on<strong>de</strong><br />

a qualida<strong>de</strong> é vital, é um erro brutal. Por isso, estamos montando esses novos padrões.<br />

João Roberto Vieira da Costa<br />

Não temos mais tempo para perguntas orais, além das que já estão feitas e que ainda não foram lidas. Vamos encerrar as perguntas<br />

e respon<strong>de</strong>r apenas as que estão aqui na mesa.<br />

Pergunta feita para o Senador Delcídio por Ricardo <strong>de</strong> Holanda – Rio Gran<strong>de</strong> do Norte<br />

A constituição <strong>de</strong>ixa livre a sindicalização. Como obrigar o edital a exigir a filiação às entida<strong>de</strong>s sem mudar a lei maior?<br />

Delcídio do Amaral<br />

Estamos fazendo essa discussão internamente na Câmara. O tema foi levantado em uma das audiências públicas que realizamos<br />

e não tenho uma posição firme neste sentido para lhe respon<strong>de</strong>r, mas é uma das questões que <strong>de</strong> certa maneira cercam<br />

este <strong>de</strong>bate sobre o Projeto <strong>de</strong> Lei do Deputado José Eduardo Cardozo. Consi<strong>de</strong>ro pertinente sua preocupação.<br />

João Roberto Vieira da Costa<br />

Pergunta feita para o Otoni Fernan<strong>de</strong>s por Fernando Ciam Torres Araújo – Alagoas<br />

No Projeto <strong>de</strong> Lei 3305, não seria bom sugerir uma etapa <strong>de</strong> pré-qualificação técnica antes da elaboração, por parte das<br />

agências, das propostas técnicas — mais precisamente do plano <strong>de</strong> comunicação? Como uma comissão po<strong>de</strong>ria julgar criteriosamente<br />

30 ou 40 campanhas?<br />

Pergunta feita por Vera Rocha – Bahia<br />

Muitos governos estão <strong>de</strong>terminando que todos os serviços sejam contratados por pregão, presencial ou eletrônico. Sabe-se<br />

que esse tipo licitatório aplica-se apenas a serviços comuns, mas não há resolução normativa prestando este esclarecimento. Por<br />

que a Secom não regulamenta a matéria esclarecendo que os serviços publicitários não po<strong>de</strong>m ser licitados através <strong>de</strong> pregão?<br />

Pergunta feita por Daniel Mieslkin – São Paulo<br />

Os Correios estão impedidos <strong>de</strong> anunciar há mais <strong>de</strong> dois anos. é uma empresa com concorrentes fortes e que vem per<strong>de</strong>ndo<br />

participação <strong>de</strong> mercado. São os principais apoiadores <strong>de</strong> algumas modalida<strong>de</strong>s esportivas, como esportes aquáticos, por<br />

exemplo. Estamos há menos <strong>de</strong> um mês dos Jogos Olímpicos. Os Correios não po<strong>de</strong>rão capitalizar caso haja medalhistas<br />

brasileiros nas olimpíadas?<br />

Otoni fernan<strong>de</strong>s Junior<br />

O presi<strong>de</strong>nte dos Correios já se manifestou que é favorável à liberação das duas contas que não estão sendo objetos <strong>de</strong> recurso<br />

e que estão no jurídico. Esperamos que ainda estejam liberadas antes da realização das Olimpíadas <strong>de</strong> Pequim.<br />

Quanto à proposta do Fernando sobre uma pré-qualificação técnica, acho que precisaria ser analisada pelo <strong>Congresso</strong>. A nossa<br />

prática tem mostrado que as fases <strong>de</strong> qualificação, <strong>de</strong> apresentação <strong>de</strong> documentação já representam uma peneira. Muita<br />

gente não passa ali. Ta<strong>de</strong>u, quantas propostas nós recebemos na licitação <strong>de</strong> publicida<strong>de</strong>?<br />

230 231<br />

COMISSÃO 5 - LICITAÇÕES PÚBLICAS E CONCORRÊNCIAS PR<strong>IV</strong>ADAS<br />

Ta<strong>de</strong>u<br />

32.<br />

Otoni fernan<strong>de</strong>s Junior<br />

Quantas passaram?<br />

Ta<strong>de</strong>u<br />

12.<br />

Otoni fernan<strong>de</strong>s Junior<br />

O que acaba acontecendo é que a comissão técnica vai peneirando.No fim sobram algumas que já estão acima do patamar <strong>de</strong><br />

nota mínima. Imagino que possa haver um aperfeiçoamento, mas acho que caberia ao <strong>Congresso</strong> uma <strong>de</strong>finição.<br />

João Roberto Vieira da Costa<br />

Geraldo, cortei a sua palavra mas gostaria que fizesse o comentário sobre uma pergunta feita para o Otoni.<br />

Geraldo Alonso<br />

Do ponto <strong>de</strong> vista ético e da iniciativa privada, não há nenhum impedimento na contratação múltipla <strong>de</strong> serviços. O Conselho<br />

<strong>de</strong> ética da <strong>Abap</strong> é recém-instituído e está absolutamente aberto do ponto <strong>de</strong> vista das agências filiadas à <strong>Abap</strong> para eventuais<br />

reclamações ou pon<strong>de</strong>rações em relação a processos licitatórios envolvendo a iniciativa privada. Sempre faço questão<br />

<strong>de</strong> o nosso limite estar <strong>de</strong>ntro do universo da iniciativa privada. Quanto às manifestações em relação a licitações da iniciativa<br />

privada, tanto o Conselho da <strong>Abap</strong> como o Conselho <strong>de</strong> ética as receberá com bom grado.<br />

Otoni fernan<strong>de</strong>s Junior<br />

Respon<strong>de</strong>ndo à Vera Rocha, da Sinapro: o único po<strong>de</strong>r que a Secom tem é o <strong>de</strong> normatizar licitações <strong>de</strong> publicida<strong>de</strong> no Governo<br />

Fe<strong>de</strong>ral. Ela não tem nenhuma influência sobre governos estaduais e municipais e nenhum órgão do governo fe<strong>de</strong>ral<br />

faz licitação <strong>de</strong> serviço <strong>de</strong> publicida<strong>de</strong> através <strong>de</strong> pregão eletrônico.<br />

João Roberto Vieira da Costa<br />

Vou passar duas questões para o Alberto, nosso relator.<br />

Sugestão – Licitações públicas e concorrências privadas — Roni Pires — Paraná<br />

Incluir no texto a limitação da veiculação do governo apenas em veículos associados em órgãos que regulem e afiram o meio.<br />

Ao mesmo tempo, a limitação do governo em veículos que estejam em dia com os impostos.<br />

Sugestão – Luís Paulo <strong>de</strong> Souza, da MatosGrey — São Paulo<br />

Recomendar que a Radiobrás não realize nem autorize a mídia <strong>de</strong> publicida<strong>de</strong> legal das empresas da União. A Radiobrás não é<br />

agência <strong>de</strong> publicida<strong>de</strong>, mas autoriza a mídia e recolhe a comissão <strong>de</strong> agência sem licitação e sem concorrência. As agências<br />

são prejudicadas por este monopólio.<br />

Peço para o Alberto, ao respon<strong>de</strong>r essas duas questões, fazer um esclarecimento com relação ao regimento do <strong>Congresso</strong>, que<br />

diz que não po<strong>de</strong>mos propor teses novas, apenas fazer alterações.<br />

Alberto Cavalcanti<br />

A Radiobrás é cre<strong>de</strong>nciada pelo Cenp como agência para o agenciamento <strong>de</strong> publicida<strong>de</strong> legal e a Lei 8666 tem um dispositivo<br />

no artigo 24 <strong>de</strong>dicado a situações em que é dispensável a licitação. Uma das hipóteses em que a licitação é dispensável é<br />

quando uma entida<strong>de</strong> governamental preexistente à promulgação da própria Lei 8666 tem por finalida<strong>de</strong> a execução <strong>de</strong> um<br />

serviço que está sendo contratado por outro ente da mesma esfera governamental.<br />

Então, órgãos e entida<strong>de</strong>s da administração pública fe<strong>de</strong>ral po<strong>de</strong>m contratar a Radiobrás, com base neste dispositivo e com<br />

dispensa <strong>de</strong> licitação. Ao mesmo tempo, a Radiobrás é reconhecida pelo Cenp, a entida<strong>de</strong> maior que representa anunciantes,<br />

agências e veículos como uma agência <strong>de</strong> veiculação <strong>de</strong> publicida<strong>de</strong> legal. Alguns pressupostos da interpelação do Luís Paulo<br />

<strong>de</strong> Souza não se sustentam.<br />

Houve interpelações sobre uma questão. O artigo 4 do Projeto <strong>de</strong> Lei do <strong>de</strong>putado José Eduardo Cardozo prevê o cre<strong>de</strong>nciamento<br />

da agência para ser consi<strong>de</strong>rada agência e, portanto, po<strong>de</strong>r ser contratada pela administração pública; por que isso é<br />

feito através <strong>de</strong> uma entida<strong>de</strong> associativa, que seria o Cenp, e não através do sindicato?. Há duas interpelações na mesa sobre<br />

isso e cabe um esclarecimento: se este projeto for convertido em lei, o Cenp <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> ser apenas uma entida<strong>de</strong> associativa e<br />

passa a ter o papel semelhante ao da OAB para os advogados, do Crea para os engenheiros, do CRM para os médicos, e assim por<br />

diante. Ele passa a ser uma entida<strong>de</strong> que avalia a competência daquela empresa para saber se ela é efetivamente uma agência<br />

<strong>de</strong> propaganda e, em reconhecendo-a como agência <strong>de</strong> propaganda, lhe dá o seu cre<strong>de</strong>nciamento. Assim como alguém não<br />

po<strong>de</strong> clinicar sem o registro no CRM, não se po<strong>de</strong>rá prestar serviço <strong>de</strong> publicida<strong>de</strong> para os setores públicos fe<strong>de</strong>ral, estadual,


municipal sem ter o cre<strong>de</strong>nciamento do Cenp. Ele não será uma entida<strong>de</strong> associativa, e sim uma entida<strong>de</strong> que zelará pela qualida<strong>de</strong><br />

da prestação <strong>de</strong> serviços nessa especialida<strong>de</strong>. Isso não é papel para os sindicatos. Existe o sindicato dos médicos, dos engenheiros,<br />

mas o cre<strong>de</strong>nciamento não compete aos sindicatos. São papéis distintos <strong>de</strong>ntro do or<strong>de</strong>namento jurídico brasileiro.<br />

Na questão do regimento, até on<strong>de</strong> enten<strong>de</strong>mos, houve um prazo para que fossem estipuladas teses. Elas foram apresentadas<br />

e recebemos 14, que foram colocadas na página <strong>de</strong> internet da Comissão 5, <strong>de</strong>ntro do site do 4º <strong>Congresso</strong>.<br />

Estamos interpretando algumas teses apresentadas aqui como propostas <strong>de</strong> alteração ou <strong>de</strong> modificação das teses. Por exemplo,<br />

o que foi exposto pelo Nabhan e formalizado ainda há pouco, não é uma tese. Existe uma tese que propõe que primeiro<br />

esta Comissão e, em sendo aprovado na Comissão, em seguida o <strong>Congresso</strong>, manifestem-se formalmente em apoio irrestrito<br />

ao Projeto <strong>de</strong> Lei nº 3305, <strong>de</strong> 2008. O que o Nabhan está apresentando é que seja feito isso, com a ressalva <strong>de</strong> ser incluído no<br />

projeto este dispositivo que ele <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>u aqui. O <strong>Congresso</strong> só <strong>de</strong>verá se manifestar em favor do PL 3305, na condição <strong>de</strong> que<br />

ele venha a incorporar esta proposição.<br />

Não é isso! Então é uma tese nova! O que o plenário da Comissão está pedindo é a inclusão <strong>de</strong> uma nova tese.<br />

João Roberto Vieira da Costa<br />

Acho que a preservamos a recomendação na íntegra do projeto e recomendamos mais esta. Então vamos fazer um acordo<br />

entre nós <strong>de</strong> abrir uma exceção neste prazo para incorporar esta tese, porque acho efetivamente que ela é importante. Alguém<br />

se manifesta contráriamente à incorporação <strong>de</strong>sta tese? E, na regra do próprio <strong>Congresso</strong>, estaríamos incluindo a 15ª<br />

tese, que não foi <strong>de</strong> conhecimento <strong>de</strong> todo o Plenário. Na verda<strong>de</strong> recebemos mais 27 outras teses que não eram pertinentes<br />

ao nosso grupo. Versavam sobre a questão regional, a rentabilida<strong>de</strong> ou a carga tributária e foram encaminhadas. Somente essa<br />

observação precisa ser feita.<br />

Não i<strong>de</strong>ntificado<br />

Que esta tese pelo menos seja adaptada em relação à fiscalização do Cenp como uma tentativa, porque acho que esta unida<strong>de</strong><br />

dos editais é importantíssima <strong>de</strong> forma nacional, caso contrário, vamos continuar sofrendo.<br />

João Roberto Vieira da Costa<br />

Essa é uma das missões do Alberto e vou perguntar a ele. Po<strong>de</strong> não ser nova, mas po<strong>de</strong> ser melhorada, incorporada. Ele diz<br />

que sim, que é um caso específico neste sentido.<br />

Não i<strong>de</strong>ntificado<br />

Fica parecendo que estamos exercendo o po<strong>de</strong>r e não é bem isso! Houve um prazo para apresentação das teses e qualquer<br />

pessoa podia ter apresentado. Então, 14 teses foram apresentadas e escolhidas e levadas para o conhecimento <strong>de</strong> todos. Isso<br />

significa que todos tiveram a oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> lê-las, refletir sobre elas e construir um posicionamento pessoal ou intercâmbio<br />

com outras pessoas.<br />

As que estão sendo trazidas aqui neste momento não estão oferecendo aos presentes a mesma oportunida<strong>de</strong> e esta é uma<br />

preocupação que temos, porque vocês estarão sendo colocados diante <strong>de</strong> teses que não terão tido a mesma possibilida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> ler com o mesmo vagar que tiveram em relação às outras, disponibilizadas <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o dia 11 no site. Do ponto <strong>de</strong> vista do<br />

<strong>Congresso</strong> e da mesa coor<strong>de</strong>nadora, quanto mais teses melhor, porque a finalida<strong>de</strong> do <strong>Congresso</strong> é ensejar a participação.<br />

Ricardo Nabhan<br />

Bob, você é presi<strong>de</strong>nte <strong>de</strong>ssa Comissão importantíssima. O próprio regimento interno <strong>de</strong>termina algumas condições que<br />

foram aqui aplicadas, porém é permitido não ficar somente no âmbito <strong>de</strong>ssa Comissão temática. Todos os participantes <strong>de</strong>ste<br />

<strong>Congresso</strong>, após aprovadas as recomendações, po<strong>de</strong>rão participar, com recomendações por escrito, discordando ou concordando<br />

com o que foi aqui <strong>de</strong>batido. Eles terão das 9h00 às 9h30 do dia 16 e isso é permitido.<br />

Então, por que não acatarmos aqui e não prolongarmos essa discussão para o dia 16? Gostaria que você, como presi<strong>de</strong>nte<br />

<strong>de</strong>sse painel, acatasse as questões colocadas, <strong>de</strong> forma que contribuam efetivamente para o avanço <strong>de</strong>ste painel e, consequentemente,<br />

do que está sendo discutido, que é o Projeto <strong>de</strong> Lei.<br />

João Roberto Vieira da Costa<br />

Mas a sua tese foi consi<strong>de</strong>rada.<br />

Ricardo Nabhan<br />

Não estou discutindo a minha e sim as outras questões que um colega nosso não conseguiu colocar aqui a sua posição. é isso?<br />

Não i<strong>de</strong>ntificado<br />

Outro aspecto importante é que acho que o Plenário po<strong>de</strong> <strong>de</strong>cidir sobre isso, mesmo que tenha sido apresentado agora. Logo<br />

que haja dúvida, dê condições ao Plenário <strong>de</strong> <strong>de</strong>cidir.<br />

João Roberto Vieira da Costa<br />

Estamos discutindo apenas uma tese a mais apresentada, é isso?<br />

Ricardo Nabhan<br />

Só quero contribuir. Tenho certeza, pelo que ouvi do pessoal que está à minha volta, que muitos <strong>de</strong>sconhecem as recomendações<br />

que foram colocadas no site, talvez por não conseguir acessar, talvez pela falta <strong>de</strong> informação que estava disponível.<br />

Tenho certeza <strong>de</strong> que muitos não conhecem o que foi apresentado.<br />

João Roberto Vieira da Costa<br />

Não tenho problema nenhum em submeter à votação, aliás, todos os pontos serão submetidos à votação, inclusive teses,<br />

como a <strong>de</strong> não premiar, em contas <strong>de</strong> governo, pessoas que tenham trabalhado na campanha do próprio candidato — tese<br />

apresentada que vai ser julgada. A questão é ver como encaminhamos da melhor maneira possível. Sua observação, do ponto<br />

<strong>de</strong> vista <strong>de</strong> tese, foi incorporada e até chegamos nesse acordo <strong>de</strong> separar. Pelo que entendi, duas outras teses apresentadas<br />

aqui estão gerando esta discussão, é isso?<br />

Uma é a do Fernando Bretas, do Sindicato <strong>de</strong> Agências <strong>de</strong> Propaganda do Distrito Fe<strong>de</strong>ral: “Mudar o Projeto <strong>de</strong> Lei do <strong>de</strong>putado<br />

José Eduardo Cardozo, no ponto <strong>de</strong> assessoria <strong>de</strong> imprensa. A assessoria <strong>de</strong> imprensa <strong>de</strong>ve ser contratada pela agência”. é<br />

uma tese que ele apresentou, ou seja, você está propondo que o <strong>Congresso</strong> não referen<strong>de</strong> o projeto, que faça uma observação<br />

para que a assessoria <strong>de</strong> imprensa continue a ser contratada pela agência <strong>de</strong> publicida<strong>de</strong>.<br />

João Roberto Vieira da Costa<br />

Vou colocar em votação antes das teses, se <strong>de</strong>vemos consi<strong>de</strong>rar ou não esta para efeito da segunda etapa. Quem aprovar<br />

levante o braço.<br />

O nosso secretário aqui respon<strong>de</strong>u.<br />

Não i<strong>de</strong>ntificado<br />

Sobre esse <strong>de</strong>bate que aconteceu na Câmara, há uma interpretação e o Otoni está respon<strong>de</strong>ndo uma pergunta sobre o site.<br />

Não há um entendimento claro com relação à sua pon<strong>de</strong>ração. O entendimento <strong>de</strong> alguns é <strong>de</strong> que o projeto não coloca<br />

nenhuma restrição quanto a contratar com a campanha a assessoria <strong>de</strong> imprensa. Isso é um ponto <strong>de</strong> dúvida, mas essa<br />

interpretação do Otoni é absolutamente razoável e não conduz a uma preocupação maior <strong>de</strong> quando foi vedado, que é o<br />

problema <strong>de</strong> <strong>de</strong>svio <strong>de</strong> objeto.<br />

João Roberto Vieira da Costa<br />

Já estou sendo pressionado em virtu<strong>de</strong> do horário. Quem achar que <strong>de</strong>ve ser consi<strong>de</strong>rada como tese para votação, levante a<br />

mão. Não está aprovado.<br />

Não i<strong>de</strong>ntificado<br />

De qualquer maneira, vamos olhar essa questão, porque estamos à luz do objeto e se estiver <strong>de</strong>ntro do objeto, como o Otoni<br />

disse aqui, acabou, não tem conversa. O problema complicado é contratar assessoria para outros objetos.<br />

João Roberto Vieira da Costa<br />

A outra tese, apresentada pelo Guga Lemes, da Agnello Pacheco, São Paulo: acreditamos que o julgamento <strong>de</strong> uma proposta<br />

<strong>de</strong> licitação <strong>de</strong> agência <strong>de</strong> comunicação <strong>de</strong>ve se dar em duas instâncias: a) pela comissão técnica do cliente em questão; b) e<br />

por uma comissão técnica do mercado privado <strong>de</strong>signada por órgãos como a <strong>Abap</strong> e ABA, tudo seguindo algumas regras:<br />

as duas comissões <strong>de</strong>vem julgar as propostas separadamente, sem nenhuma comunicação entre si;<br />

a comissão técnica do cliente <strong>de</strong>ve ser formada por pessoas que não tenham contato direto com a agência atual do anunciante,<br />

pois o relacionamento <strong>de</strong>sses profissionais com as empresas licitantes po<strong>de</strong>ria influenciar positiva ou negativamente<br />

no processo;<br />

a comissão técnica do mercado privado <strong>de</strong>ve ser formada por no mínimo dois diretores <strong>de</strong> marketing <strong>de</strong> empresas reconhecidas,<br />

<strong>de</strong>signados por entida<strong>de</strong> representativa do setor;<br />

o trabalho <strong>de</strong> julgamento po<strong>de</strong> ser remunerado com taxas <strong>de</strong> inscrição das agências participantes;<br />

as notas finais <strong>de</strong>vem ser da média dos dois julgamentos;<br />

a vencedora do processo <strong>de</strong>ve estar classificada entre as melhores propostas nas duas comissões, pelo menos entre as cinco<br />

melhores;<br />

caso haja alguma discrepância entre os resultados das comissões, como uma diferença superior a 50% entre as notas, o resultado<br />

<strong>de</strong>ve ser anulado e aberta nova licitação.<br />

Quem achar que <strong>de</strong>ve ser consi<strong>de</strong>rada para efeito <strong>de</strong> tese, levante a mão! Não está aprovada. Vamos para o julgamento final<br />

das teses. Lerei a tese e vamos votar.<br />

Alberto Cavalcanti<br />

Tese nº 1<br />

Aprovação <strong>de</strong> manifestação formal do 4º <strong>Congresso</strong> <strong>Brasileiro</strong> <strong>de</strong> Publicida<strong>de</strong> <strong>de</strong> apoio irrestrito aos termos do Projeto <strong>de</strong> Lei<br />

nº 3305 <strong>de</strong> 2008, <strong>de</strong> autoria do Deputado José Eduardo Cardozo.<br />

Questão:<br />

Quem aprova a tese, tal como ela foi originariamente apresentada, permanece como está. Quem quiser mudar a tese, levante<br />

o braço. Quem é a favor <strong>de</strong> aprovar a tese com ressalva, levante o braço.<br />

Alberto Cavalcanti<br />

A ressalva é o que o Nabhan propôs.<br />

Estamos <strong>de</strong>cidindo se a tese nº 1 é aprovada tal qual está ou não.<br />

Aqueles que são a favor <strong>de</strong> que seja aprovada tal qual está, permaneçam como estão. Para os que não querem vê-la aprovada<br />

tal qual se encontra, vamos discutir <strong>de</strong>pois, caso vença este ponto <strong>de</strong> vista, quais vão ser as alterações.<br />

Estava lendo as justificativas, mas são longas. Parece que não houve a leitura efetiva <strong>de</strong>ssas proposições, eu me propus a fazer<br />

uma leitura das justificativas.<br />

Propõe aprovação <strong>de</strong> manifestação formal do <strong>IV</strong> <strong>Congresso</strong> <strong>Brasileiro</strong> <strong>de</strong> Publicida<strong>de</strong> nos termos do Projeto <strong>de</strong> Lei nº 3305, <strong>de</strong><br />

2008, <strong>de</strong> autoria do <strong>de</strong>putado José Eduardo Cardozo.<br />

Vou fazer uma leitura somente para este primeiro ponto. Se for aprovado como eu ler, fiquem on<strong>de</strong> estão. Se discordarem,<br />

levantem a mão.<br />

Propõe aprovação <strong>de</strong> manifestação formal do <strong>IV</strong> <strong>Congresso</strong> <strong>Brasileiro</strong> <strong>de</strong> Publicida<strong>de</strong> <strong>de</strong> apoio ao Projeto <strong>de</strong> Lei nº 3305, <strong>de</strong><br />

2008, <strong>de</strong> autoria do <strong>de</strong>putado José Eduardo Cardozo.<br />

Aprovado por unanimida<strong>de</strong>.<br />

232 233<br />

COMISSÃO 5 - LICITAÇÕES PÚBLICAS E CONCORRÊNCIAS PR<strong>IV</strong>ADAS


João Roberto Vieira da Costa<br />

Tese nº 2<br />

Respeitando-se os diversos códigos <strong>de</strong> ética e condutas vigentes nas suas respectivas áreas <strong>de</strong> atuação, associações e entida<strong>de</strong>s,<br />

propor a consolidação <strong>de</strong> um único e amplo conselho <strong>de</strong> ética para toda a ca<strong>de</strong>ia da comunicação publicitária, à<br />

semelhança do que foi instituído no âmbito da <strong>Abap</strong>, com uma instância capaz <strong>de</strong> dirimir conflitos <strong>de</strong> natureza concorrencial,<br />

respeitando-se as normas, regras e especificida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> cada setor, bem como os respectivos códigos <strong>de</strong> ética, se existentes, e,<br />

por fim, que esse conselho <strong>de</strong> ética venha a fazer parte integrante do Cenp.<br />

Quem for pela sua aprovação, permaneça do jeito que está. Quem divergir, levante a mão. Aprovado por maioria, com um<br />

voto contrário.<br />

Tese nº 3, <strong>de</strong> Roberto Dualibi<br />

Con<strong>de</strong>nar a prática do alinhamento como uma forma <strong>de</strong> discriminação socialmente irresponsável.<br />

Quem for pela sua aprovação, permaneça do jeito que está. Quem divergir, levante a mão. Aprovado por unanimida<strong>de</strong>.<br />

Roberto Duailibi<br />

Essa questão do alinhamento, pedindo <strong>de</strong>sculpas ao nosso querido Izael, representou um massacre às agências brasileiras.<br />

Nos últimos 15 anos, elas praticamente <strong>de</strong>sapareceram do mercado. Houve um movimento predatório geral das agências<br />

estrangeiras, com uma concentração em Londres e Nova York. E nós, como agências brasileiras, somos impedidos às vezes<br />

<strong>de</strong> chegar a anunciantes, como é o caso da Nestlé, da Unilever, da Johnson & Johnson, da Avon e <strong>de</strong>zenas <strong>de</strong> outros. Queria<br />

que fosse incluída na lei uma reciprocida<strong>de</strong> por parte do governo, eliminando das contas governamentais as agências que se<br />

beneficiam <strong>de</strong>sse alinhamento injusto.<br />

Izael Sinem<br />

Esclarecimento: a Nestlé não discrimina agências locais, pelo contrário. Trabalhamos com agências aqui do Brasil. Só que, para<br />

projetos globais, trabalhamos com agências globais, até por uma questão <strong>de</strong> estrutura. Uma agência local não tem condição<br />

<strong>de</strong> aten<strong>de</strong>r globalmente. Agências locais para projetos locais; aí é uma questão <strong>de</strong> livre-arbítrio.<br />

João Roberto Vieira da Costa<br />

Item 3 da Tese<br />

Con<strong>de</strong>nar a prática do alinhamento como uma forma <strong>de</strong> discriminação socialmente irresponsável — foi aprovado por unanimida<strong>de</strong>.<br />

Item 4 da Tese<br />

Recomendar às empresas multinacionais que abram oportunida<strong>de</strong>s em suas contas publicitárias também para as agências<br />

<strong>de</strong> capital nacional.<br />

Quem for a favor, fique do jeito que está. Quem for contra, po<strong>de</strong> se manifestar levantando um braço. Aprovado.<br />

Item 5 da Tese<br />

Recomendar ao governo que impeça o acesso a financiamentos públicos ou vantagens fiscais a empresas <strong>de</strong> capital estrangeiro<br />

que persistam na prática discriminatória do alinhamento em qualquer área <strong>de</strong> negócios.<br />

Não i<strong>de</strong>ntificado<br />

Isso é ilegal. O governo não po<strong>de</strong>, por força <strong>de</strong> ser signatário da Organização Mundial do Comércio e pela Constituição, discriminar<br />

qualquer tipo <strong>de</strong> empresa pela origem do capital.<br />

João Roberto Vieira da Costa<br />

Ela é inconstitucional, segundo o Alberto e o Otoni. Roberto, não vou colocar em votação por causa <strong>de</strong>sse princípio da inconstitucionalida<strong>de</strong><br />

levantado pelos nossos companheiros.<br />

Item 6 da Tese<br />

Recomendar aos Governos Fe<strong>de</strong>ral, Estaduais e Municipais que não aceitem agências <strong>de</strong> capital estrangeiro que se beneficiem<br />

<strong>de</strong>sse alinhamento. é o mesmo problema<br />

Apresentação da tese <strong>de</strong> nº 7<br />

Recomenda-se ao Plenário enérgica reprovação à prática dos governos <strong>de</strong> premiar seus marketeiros em contas públicas.<br />

Quem for a favor, fique do jeito que está. Quem for contra, levante o braço. Não foi aprovado, por maioria.<br />

Não i<strong>de</strong>ntificado<br />

Não me parece muito claro, quanto ao regimento, <strong>de</strong> que forma encaminharia isso, mas me parece que a sugestão, que tem<br />

um conteúdo interessante, tem uma redação truncada. Do ponto <strong>de</strong> vista ético, das boas práticas, não se po<strong>de</strong> premiar o marketeiro<br />

que fez a campanha, mas também não se po<strong>de</strong> impedir que a empresa do referido profissional participe da licitação.<br />

Como discutimos e resolvemos isso? Da forma como está redigido, eu sou contra, muito embora seja a favor do princípio.<br />

Alberto Cavalcanti<br />

Estamos enfrentando uma dificulda<strong>de</strong>: houve uma concepção do <strong>Congresso</strong> pela qual, existindo uma página na internet, as<br />

pessoas tomariam conhecimento <strong>de</strong>sses textos antes e até, se fosse o caso, <strong>de</strong> voltar a conversar com o autor <strong>de</strong> uma tese ou<br />

apresentar uma tese alternativa que pu<strong>de</strong>sse ser um aperfeiçoamento <strong>de</strong> uma já apresentada, isso seria feito.<br />

A dificulda<strong>de</strong> com a qual estamos lidando é tentar, após o prazo previsto e tendo outras ativida<strong>de</strong>s, reformular uma tese.<br />

Compreendo o ponto <strong>de</strong> vista do congressista e acho até que tem razão, mas vejo uma complicação, vejo uma dificulda<strong>de</strong><br />

metodológica; seria como se voltássemos às 16h30 <strong>de</strong> hoje, ou à sexta-feira passada. Amanhã <strong>de</strong> manhã as pessoas terão que<br />

ter essas teses e essas <strong>de</strong>cisões têm que estar disponíveis.<br />

Não i<strong>de</strong>ntificado<br />

Alberto, é inconstitucional, é o que estou falando. Ela fere o princípio da isonomia. Todos têm igualda<strong>de</strong>.<br />

Alberto Cavalcanti<br />

Você esta discutindo o mérito e eu estou trabalhando sobre a forma <strong>de</strong> alguém tentar formular <strong>de</strong> uma outra maneira que<br />

não fosse inconstitucional.<br />

Roberto Duailibi<br />

O <strong>Congresso</strong> é uma oportunida<strong>de</strong> para refletirmos sobre a nossa profissão, o futuro <strong>de</strong>la e todos sabem que em alguns casos,<br />

há evi<strong>de</strong>ntemente um favorecimento a alguns concorrentes por causa da sua colaboração com a eleição. O <strong>Congresso</strong> é uma<br />

boa oportunida<strong>de</strong> para nos posicionarmos como profissionais com relação a essa prática.<br />

João Roberto Vieira da Costa<br />

Faço a seguinte sugestão: discutimos aqui por mais <strong>de</strong> três horas o Projeto <strong>de</strong> Lei com vários esclarecimentos, havendo um<br />

crédito gran<strong>de</strong> <strong>de</strong> reformulação da metodologia <strong>de</strong> escolha das agências em licitações públicas que, <strong>de</strong> fato, tem o seu aspecto<br />

inconstitucional na medida em que você po<strong>de</strong> ou não premiar. Não cabe em um processo <strong>de</strong> licitação esse tipo <strong>de</strong> divisão,<br />

premiando ou não. Sugiro, então, como presi<strong>de</strong>nte <strong>de</strong>sta Comissão, que consi<strong>de</strong>remos como prejudicada a tese, embora<br />

internamente, a ressalva feita seja absolutamente proce<strong>de</strong>nte.<br />

Po<strong>de</strong> ser assim?<br />

Otoni fernan<strong>de</strong>s Junior<br />

Bob, quero fazer somente um comentário. O Ministro Franklin e eu falamos claramente em público que somos contra essa<br />

prática <strong>de</strong> uma empresa que faz uma campanha ganhar uma licitação. Agora, se existe um projeto <strong>de</strong> lei transparente, com<br />

mecanismos claros que impeçam o favorecimento, essa prática não vai po<strong>de</strong>r acontecer mais.<br />

João Roberto Vieira da Costa<br />

Exatamente. Vamos então avançar nas teses finais. Esta aqui ficou prejudicada. Não vamos apresentar.<br />

Item 8 da Tese<br />

Recomendar às agências que não participem <strong>de</strong> concorrências não remuneradas e não gastem o dinheiro proveniente <strong>de</strong><br />

clientes existentes em campanhas especulativas. Como as concorrências públicas não são remuneradas esse caso cabe especificamente<br />

para as empresas privadas.<br />

Quem for pela aprovação, fique do jeito que está. Se alguém for contra, levante o braço.<br />

João Roberto Vieira da Costa<br />

Foi sugerido acrescentar: concorrências privadas. Fica a redação da seguinte forma: (também é do Roberto Duailibi): recomendar<br />

às agências que não participem <strong>de</strong> concorrências privadas não remuneradas e não gastem o dinheiro proveniente <strong>de</strong><br />

clientes existentes em campanhas especulativas.<br />

Está aprovada? Roberto, por favor, esclareça o que significa “gastar o dinheiro do cliente”.<br />

Roberto Duailibi<br />

O dinheiro do cliente é a receita que você obtém dos trabalhos dos clientes existentes. Essa segunda recomendação po<strong>de</strong> até<br />

ser inútil; o importante é que não participe <strong>de</strong> concorrências privadas sem remuneração.<br />

João Roberto Vieira da Costa<br />

é uma recomendação, não é uma <strong>de</strong>terminação.<br />

Item 9 da Tese<br />

Recomendar aos anunciantes que não peçam sugestões grátis às agências, mesmo que algumas se proponham a fazê-lo.<br />

Recomendação do Roberto Duailibi<br />

Quem aprova, fique do jeito que está. Quem for contra, levanta a mão.<br />

Foi aprovado por maioria.<br />

Item 10 da tese<br />

Orientação aos governos nas esferas fe<strong>de</strong>ral, estadual e municipal para que exijam <strong>de</strong> todos os participantes <strong>de</strong> concorrências<br />

públicas a comprovação das pesquisas às quais dizem ter acesso.<br />

Quem for a favor, fique do jeito que está. Quem for contra, se manifeste. Aprovado por maioria.<br />

Item 11 da tese<br />

As duas teses são do Flávio Rezen<strong>de</strong>.<br />

Que seja proposta aos governantes a inclusão <strong>de</strong> uma pessoa ligada à área <strong>de</strong> pesquisa em todas as comissões licitatórias, a<br />

fim <strong>de</strong> permitir uma perfeita análise dos planos <strong>de</strong> mídia e a veracida<strong>de</strong> das informações prestadas. Lê-se “pesquisa <strong>de</strong> mídia”.<br />

Quem for a favor, fique do jeito que está. Quem for contra, levante o braço. Vale a pena investir para obter um consenso?<br />

Na proposta que consta do Projeto <strong>de</strong> Lei, se houver 15 pessoas que vão ser sorteadas, <strong>de</strong>ve-se escolher cinco que sejam técnicas<br />

no tema. O que estamos propondo aos governantes é que <strong>de</strong>ve haver uma pessoa especializada em pesquisa <strong>de</strong> mídia<br />

presente. Quem é a favor <strong>de</strong> propor isso aos governantes? 36 a favor; 36 contra. O Alberto está sugerindo que a mesa <strong>de</strong>sempate.<br />

234 235<br />

COMISSÃO 5 - LICITAÇÕES PÚBLICAS E CONCORRÊNCIAS PR<strong>IV</strong>ADAS


Sérgio Guerreiro<br />

Por favor, Sérgio. Contra. 38<br />

João Roberto Vieira da Costa<br />

Senador?<br />

Delcídio do Amaral<br />

O projeto que está aí não exclui essa proposta, ela está implícita. Não sou da área, mas precisamos tomar muito cuidado com<br />

as propostas que vamos apresentar, para não enfraquecermos as idéias-núcleo <strong>de</strong>ssa proposta.<br />

João Roberto Vieira da Costa<br />

Já foi reprovada com os três votos daqui.<br />

Geraldo Alonso<br />

Sou <strong>de</strong>mocrático. Embora concor<strong>de</strong> com a tese do senador <strong>de</strong> que <strong>de</strong>vemos ter muito cuidado nas formulações, para não<br />

<strong>de</strong>smontarmos o projeto original, minha recomendação é que em todos os pontos <strong>de</strong> divergência ou muita semelhança na<br />

votação, a Comissão se reúna, reescreva esses projetos, faça uma síntese mais a<strong>de</strong>quada, para que levemos ao plenário e aí<br />

vote com mais a<strong>de</strong>quação. Não sinto que a formulação <strong>de</strong>sses pontos esteja absolutamente pronta para ir para o plenário.<br />

João Roberto Vieira da Costa<br />

Nesse ponto específico aqui? Então ainda estão 39 contra! Você ficou em abstenção.<br />

Geraldo Alonso<br />

Meu voto, <strong>de</strong>mocraticamente, vai para o Plenário!<br />

João Roberto Vieira da Costa<br />

Vocês acham que <strong>de</strong>ve ir para o Plenário com uma observação? Não? Está 39 contra.<br />

Item 12<br />

Nas concorrências privadas, recomendamos que:<br />

1º) sejam convidadas no máximo cinco empresas;<br />

2º) um briefing escrito seja fornecido a priori, contendo: a) o que se espera da agência – serviços, abrangências, etc.; b) critérios<br />

<strong>de</strong> avaliação; c) verba disponível; d) minuta <strong>de</strong> pré-contrato, estipulando <strong>de</strong> preferência dois anos;<br />

3º) que a escolha seja feita prioritariamente nas informações prestadas em resposta ao briefing, evitando-se apresentações<br />

especulativas. Caso o cliente <strong>de</strong>cida por esta alternativa, recomenda-se o estabelecimento prévio <strong>de</strong> uma remuneração para<br />

os per<strong>de</strong>dores.<br />

4º) o alinhamento <strong>de</strong> contas internacionais é reconhecido como prática aceitável. Todavia, o cliente que adota políticas <strong>de</strong><br />

alinhamento não <strong>de</strong>ve abusar <strong>de</strong> concorrências especulativas.<br />

Vocês concordam que retirem o item 4º <strong>de</strong>sta proposta? Esta é a primeira votação que faço. Quem for a favor <strong>de</strong> retirar o item<br />

4º, fique on<strong>de</strong> está.<br />

Foi retirado o item 4º.<br />

Com relação aos itens 1º, 2º e 3º, quem for a favor, fica on<strong>de</strong> está.<br />

Aprovados por unanimida<strong>de</strong> os itens 1º, 2º e 3º, por maioria.<br />

Item 13<br />

Recomendações no âmbito das licitações privadas: a) metodologias e critérios claros, justos e transparentes; b) dizer não a um<br />

número absurdo <strong>de</strong> agências no short list e <strong>de</strong>ixar três a quatro, no máximo, (aprovamos 5); c) dizer não a tecnicismos inúteis,<br />

passar briefings simples e focados, circunscritos a objetivos <strong>de</strong>terminados; d) dizer não a gastos abusivos e <strong>de</strong>snecessários para<br />

as agências, com limitação do escopo a ser apresentado; e) dizer ”não” a trabalhos gratuitos. Quando apropriado, incentivo a<br />

pagamentos <strong>de</strong> fees em campanhas especulativas; f ) ênfase na qualida<strong>de</strong> da equipe que vai julgar; inexperientes <strong>de</strong>vem ser<br />

somente espectadores; g) respeito aos direitos autorais; h) regras para remuneração <strong>de</strong> idéias apresentadas utilizadas no caso<br />

<strong>de</strong> agências per<strong>de</strong>doras; i) dizer não a negociadores inexperientes; a <strong>de</strong>finição dos critérios <strong>de</strong> remuneração da agência <strong>de</strong>ve<br />

ser feita no início do processo.<br />

Quem for a favor, fique do jeito que está. Quem for contra se manifeste.<br />

Esta é a proposta apresentada que me pareceu bastante pertinente. O Geraldo e o Sérgio fazem uma proposta conjunta,<br />

preservando a lógica <strong>de</strong> ambas e submetem ao Plenário com esta junção.<br />

Aprovado por unanimida<strong>de</strong>.<br />

Item 14<br />

Para participar <strong>de</strong> concorrências e licitações, que seja obrigatório a agência ou fornecedor preencher o requisito <strong>de</strong> estar<br />

filiado a uma associação <strong>de</strong> classe, como a <strong>Abap</strong>, Abemd, Ampro, etc. As empresas filiadas às associações são signatárias <strong>de</strong><br />

código <strong>de</strong> ética e isso daria um ganho consi<strong>de</strong>rável para quem está promovendo a licitação.<br />

Não vou colocar em votação por ser efetivamente inconstitucional.<br />

Não foi aprovada.<br />

Em tese, o que faz <strong>de</strong> antemão saber que é inconstitucional foi levantado aqui. O resto, em principio já tinha sido olhado pelo<br />

próprio advogado do <strong>Congresso</strong>. Problemas do ponto <strong>de</strong> vista <strong>de</strong> inconstitucionalida<strong>de</strong> foram colocados aqui <strong>de</strong>ntro.<br />

Foi pedido o rigor na apresentação. Ao longo do <strong>de</strong>bate ela po<strong>de</strong>ria ter sido corrigida, alterada ou refeita. Concordo que seja<br />

a primeira vez em <strong>Congresso</strong> neste sentido.<br />

Item 15<br />

Recomendar que no Projeto <strong>de</strong> Lei nº 3305, <strong>de</strong> 2008, seja incluída a obrigatorieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> constar no edital <strong>de</strong> licitação a exigência<br />

das agências participantes a apresentarem contratos <strong>de</strong> representação com agências regionais, tendo em vista que<br />

tais agências conhecem as peculiarida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> cada canto <strong>de</strong>ste país, participando do dia-a-dia, valorizando a cultura local, o<br />

comportamento dos habitantes e não apenas através dos números <strong>de</strong> pesquisas, que, em alguns casos, são feitas esporadicamente.<br />

Que se leve em conta que a lei licitatória se aplica aos Três Po<strong>de</strong>res e a todos os escalões da administração pública,<br />

atingindo 5.400 municípios brasileiros que possuam verbas inferiores às gran<strong>de</strong>s verbas fe<strong>de</strong>rais, on<strong>de</strong> as verbas públicas<br />

fe<strong>de</strong>rais ficam abaixo <strong>de</strong> R$500 mil/ano.<br />

A primeira pergunta que foi colocada aqui <strong>de</strong>ntro. Tirar a palavra “obrigatorieda<strong>de</strong>”? Tirar.<br />

O Otoni está formulando a seguinte questão: seria importante especificar que tipo <strong>de</strong> contrato <strong>de</strong> representação: para distribuir<br />

a mídia, para criação, produção, para não ficar muito vago.<br />

Ricardo Nabhan<br />

O atendimento.<br />

Otoni fernan<strong>de</strong>s<br />

Que atendimento, Ricardo?<br />

João Roberto Vieira da Costa<br />

Vou ler mais uma vez e vou colocar em votação.<br />

Recomendar que no Projeto <strong>de</strong> Lei nº 3305, <strong>de</strong> 2008, seja incluída a obrigatorieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> constar no edital <strong>de</strong> licitação a exigência<br />

das agências participantes a apresentarem contratos <strong>de</strong> representação com agências regionais, tendo em vista que<br />

tais agências conhecem as peculiarida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> cada canto <strong>de</strong>ste país, participando do dia-a-dia, valorizando a cultura local, o<br />

comportamento dos habitantes e não apenas através dos números <strong>de</strong> pesquisas, que, em alguns casos, são feitas esporadicamente.<br />

Que se leve em conta que a lei licitatória se aplica aos Três Po<strong>de</strong>res e a todos os escalões da administração pública,<br />

atingindo 5.400 municípios brasileiros que possuem verbas inferiores às gran<strong>de</strong>s verbas fe<strong>de</strong>rais e on<strong>de</strong> as verbas públicas<br />

fe<strong>de</strong>rais ficam abaixo <strong>de</strong> R$500 mil/ano.<br />

Alberto Cavalcanti<br />

Eu queria fazer um apelo. Tudo o que estão conversando aqui e não estão escrevendo, <strong>de</strong>pois eu vou ter que escrever e levar<br />

ao Plenário e vai ser muito fácil eu não escrever direito o que vocês estão dizendo. O mais lógico seria que o autor da tese a<br />

apresentasse tal qual ela <strong>de</strong>ve ser. A palavra “fe<strong>de</strong>rais” aí me parece ina<strong>de</strong>quada. Acho que vale a pena, já que estamos investindo<br />

um pouco mais <strong>de</strong> tempo, o próprio Nabhan, que é o autor, fazer uma revisão para colocarmos em discussão.<br />

Não me sinto confortável em tentar interpretar esses pensamentos que estão soltos, verbalmente enunciados, para <strong>de</strong>pois ser<br />

incumbido <strong>de</strong> relatá-los por escrito; tenho medo <strong>de</strong> não representar fielmente o pensamento.<br />

João Roberto Vieira da Costa<br />

Sugiro colocar em votação o princípio do que você colocou aqui <strong>de</strong>ntro, e peço um tempo seu, Ricardo Nabhan, para, junto<br />

com o Alberto Cavalcanti, reescrever <strong>de</strong> forma que haja um entendimento pleno e que a questão colocada pelo Otoni possa<br />

inclusive ser respondida e esclarecida. Po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>sta forma?<br />

Então, coloco em votação esta proposta <strong>de</strong> que o princípio do que está colocado aqui seja reescrito, contemplado, para ir<br />

para o Plenário com uma alteração do texto que só vamos conhecer no Plenário, feita pelo Ricardo Nabhan, com o Alberto<br />

Cavalcanti e ouvindo a pon<strong>de</strong>ração colocada pelo Otoni Fernan<strong>de</strong>s.<br />

Aprovado? Já coloquei em votação e foi aprovado por maioria.<br />

Agra<strong>de</strong>ço a atenção e a paciência. Como alguém lembrou bem, faz 30 anos. Então acho que ainda não estávamos muito<br />

inteirados. Obrigado a todos!<br />

236 237<br />

COMISSÃO 5 - LICITAÇÕES PÚBLICAS E CONCORRÊNCIAS PR<strong>IV</strong>ADAS


Comissão 6<br />

A CRIAT<strong>IV</strong>IDADE bRASIlEIRA<br />

Nizan Guanaes<br />

Bom dia. Espero contar com a absoluta colaboração da Flavia Faugeres, para eu não me per<strong>de</strong>r em todas essas regras aqui. Não<br />

que elas sejam ruins – pelo contrário, elas são justas –, eu é que sou <strong>de</strong>sorganizado. Quero dar boas-vindas a todos e espero<br />

que passemos aqui momentos <strong>de</strong> construção, sugestões com base em propostas que estamos discutindo, mas que ouçamos<br />

<strong>de</strong> vocês mais do que comentários, recomendações.<br />

Se houver restrições e críticas para aperfeiçoar o trabalho, elas <strong>de</strong>vem ser feitas, mas que tenhamos uma agenda positiva,<br />

porque ao final <strong>de</strong> cerca <strong>de</strong> duas horas, vamos ter que sair daqui com um conjunto <strong>de</strong> propostas. Portanto, não po<strong>de</strong>mos fazer<br />

um <strong>de</strong>bate inócuo e ficarmos nos per<strong>de</strong>ndo em <strong>de</strong>talhes.<br />

Vou chamar para secretariar e fazer ao mesmo tempo o trabalho <strong>de</strong> relatora a Flavia Faugeres, que foi diretora <strong>de</strong> Planejamento<br />

Estratégico Mundial da Inbev, foi minha cliente por muitos anos e é uma pessoa <strong>de</strong> bastante conteúdo.<br />

Chamo também, na minha opinião, um dos maiores gênios <strong>de</strong>sta nova geração <strong>de</strong> criativos da forma mais ampla: Rony<br />

Rodrigues, da Box, que para mim representa essa faceta mundial do Brasil.<br />

Quero chamar um publicitário que, além <strong>de</strong> um criativo extraordinário, tem se engajado na <strong>de</strong>fesa das instituições da<br />

publicida<strong>de</strong>, coisa em que eu, por exemplo, fui bastante displicente e não estive sozinho nisso; é alguém que compreen<strong>de</strong>u<br />

que a criativida<strong>de</strong> também precisa cuidar <strong>de</strong> seus fundamentos, Adilson Xavier.<br />

Agora, um criador e um empresário <strong>de</strong> mão cheia, alguém que não tem medo do mundo, tem uma network internacional<br />

extraordinária, é um dos nossos diretores mais premiados em Cannes e está conseguindo fazer uma pequena Bollywood aqui<br />

em São Paulo na área <strong>de</strong> conteúdos. Agora, por exemplo, está produzindo um longa-metragem trazendo gente da China e vai<br />

contar toda essa experiência, que é o João Daniel Tikhomiroff.<br />

Quero chamar o Pedro Cruz, que também vem da área <strong>de</strong> clientes: começou na Ambev, tem uma história <strong>de</strong> carreira<br />

internacional e hoje trabalha conosco no planejamento da África.<br />

Chamo Maurício Magalhães, uma pessoa que vem da área <strong>de</strong> televisão e é a visão complementar que precisamos ter, caso a<br />

criativida<strong>de</strong> queira entrar na área <strong>de</strong> conteúdo.<br />

Antes <strong>de</strong> apresentar o P.J. Pereira, explico a razão pela qual o escolhi: a criativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> que se fala hoje é completamente<br />

diferente daquela <strong>de</strong> que se falava no passado. Antes, marketing era só publicida<strong>de</strong>, anúncios em jornais, revistas, spots <strong>de</strong><br />

rádio e comerciais <strong>de</strong> TV. O mundo ficou mais complicado e o consumidor ficou tão mais po<strong>de</strong>roso e sofisticado, que a forma<br />

<strong>de</strong> seduzi-lo tornou-se mais complexa.<br />

Uma marca, hoje – queiramos ou não –, po<strong>de</strong> ser construída só por RP, só com <strong>de</strong>sign, só com uma proposta <strong>de</strong> serviço<br />

diferenciado revolucionário. Uma marca po<strong>de</strong> ser construída por meio da construção <strong>de</strong> comunida<strong>de</strong>s, on<strong>de</strong> as pessoas<br />

comungam seus valores. Uma marca po<strong>de</strong> ser construída com um relacionamento inovador interessante <strong>de</strong> marketing<br />

direto.<br />

No mundo inteiro se fala isso, mas a prática <strong>de</strong>sse discurso é um <strong>de</strong>safio mundial, tanto aqui quanto no exterior. Na prática,<br />

aqui e lá fora, ainda estamos viciados no comercial <strong>de</strong> trinta segundos e no anúncio <strong>de</strong> página dupla. Não que eu tenha algo<br />

contra qualquer um <strong>de</strong>les e ache que vão acabar – ao contrário, eles avançarão.<br />

Estamos fazendo um projeto dos 40 anos da Abril, que é incrível. Em virtu<strong>de</strong> da possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> trabalhar com tecnologia, os<br />

projetos que estamos fazendo com a Globo e com outras emissoras estão cada vez mais diferenciados, mas do jeito que as<br />

coisas eram feitas antes, já não bastam. é preciso dar um twist of lemon nas coisas, elas precisam ter um toque diferenciado.<br />

As empresas e os anunciantes que per<strong>de</strong>ram o vício <strong>de</strong> fazer comerciais <strong>de</strong> 30 segundos e anúncios <strong>de</strong> página dupla são as<br />

que se <strong>de</strong>stacam. é como se todos tivéssemos que ir ao Alcoólatras Anônimos. Estamos viciados numa forma <strong>de</strong> trabalhar e<br />

mudar um hábito é muito difícil. Um exemplo: amanhã, tentem mudar o pé em que vocês colocam a meia primeiro; é muito<br />

difícil. Vocês tentam fazer num dia, fazem no segundo, no terceiro, e, no quarto dia, já terão voltado para o pé tradicional. Trocar<br />

<strong>de</strong> pé não é fácil em todos os sentidos. Tanto isso é verda<strong>de</strong>, que os anunciantes têm sidos seduzidos por novos formatos <strong>de</strong><br />

interlocução: agências <strong>de</strong> branding, <strong>de</strong> planejamento, hot shops, agências só <strong>de</strong> criação. Isso não significa que a publicida<strong>de</strong><br />

vai acabar. Claro que não, porque a TV, num país como o Brasil, não vai acabar mesmo. A <strong>de</strong>mografia do país impe<strong>de</strong> que isso<br />

aconteça.<br />

A internet vai turbinar a televisão, gerará interativida<strong>de</strong> e múltiplas possibilida<strong>de</strong>s. No Brasil, na Rússia, na Índia e na China,<br />

a TV potencializada pela internet ainda será a maior mídia dos países emergentes. Mas não é possível negar que neste país<br />

e em boa parte do mundo, a presença e a força das outras formas <strong>de</strong> marketing é fundamental e crescente. é só ver o<br />

crescimento do jornal, os trabalhos diferenciados que as revistas estão fazendo. Por exemplo, hoje a Editora Abril tem uma<br />

notável plataforma <strong>de</strong> eventos. Não é mais só ven<strong>de</strong>r anúncios. Eu po<strong>de</strong>ria citar várias outras empresas.<br />

Porém, não é possível negar que neste país, como em boa parte do mundo, a presença e a força das outras formas <strong>de</strong> marketing<br />

é fundamental e crescente. Porém, é preciso lembrar que quando a expressão Belíndia foi criada, a Índia era um país pobre.<br />

Hoje ela tem um PIB <strong>de</strong>zenas <strong>de</strong> vezes maior que o da Bélgica. O mundo inverteu o jogo! Como vamos explicar essa palavra<br />

agora? De que lado vocês estão? Com todo respeito à Bélgica, estou com a Índia! O jogo mudou. Ou a propaganda apren<strong>de</strong><br />

a jogá-lo, ou ela será jogada fora.<br />

Eu trouxe pessoas aqui hoje que, pelos mais diversos ângulos, criam essa nova comunicação. Alguns <strong>de</strong>les, embora sejam do<br />

meu grupo, são meus concorrentes. é uma babaquice achar que o Maurício Magalhães tem seus negócios alinhados com<br />

a África. Ele quer tirar a verba. Isso não existe. As empresas concorrem entre si. O telefone fixo, da mesma operadora, não<br />

concorre com o celular? Quem está no po<strong>de</strong>r é o consumidor, e é ele quem <strong>de</strong>termina. Vocês não po<strong>de</strong>m <strong>de</strong>terminar quais<br />

são suas pautas <strong>de</strong> interesse. O mundo mudou, a operadora telefônica virou uma empresa <strong>de</strong> celular <strong>de</strong> banda larga e <strong>de</strong><br />

dados, e o celular concorre com o fixo, não tem jeito.<br />

Dentro <strong>de</strong> uma empresa, pessoas serão concorrentes e vão brigar pelo mesmo dinheiro. O <strong>de</strong>safio é gran<strong>de</strong>. Os maiores<br />

concorrentes das Omnicoms, das WPPs, das Interpublics são o Google e a Microsoft. Não vamos nos iludir. E também serão os<br />

maiores concorrentes dos veículos <strong>de</strong> comunicação.<br />

Esse <strong>de</strong>safio está feito aqui, e não é uma ameaça, é uma realida<strong>de</strong>: as coisas mudam. Meu concorrente <strong>de</strong>ve estar nascendo<br />

agora em uma garagem; ele não vai nascer num prédio. A revolução geralmente nasce numa manjedoura; ela não nasce no<br />

centro. As religiões não nasceram no centro. Uma revolução nasce em Liverpool, e não em Londres, e é isso que nós temos<br />

que olhar!<br />

Não é fácil mudar esse mind set, mas tudo está mudando no mundo. Marcas como Lacoste, Burberry e Ralph Lauren não foram<br />

construídas ou reconstruídas por agências, e sim por indivíduos, houses e estudios. Hoje, falamos <strong>de</strong> buzz-marketing. Quando<br />

ninguém tinha Raph Lauren em Nova York, ele selecionou muitas pessoas bonitas e mandou às lojas, perguntando se lá havia<br />

peças Ralph Lauren para ven<strong>de</strong>r. é claro que não tinha; ninguém vendia! Isso é buzz e ele fez! As coisas não são diferentes, mas<br />

são cíclicas.<br />

No Meio & Mensagem, li: “Muitos prêmios e pouca credibilida<strong>de</strong>” - junho <strong>de</strong> 1983; “Criativos buscam novos caminhos e<br />

empresas” - março <strong>de</strong> 1988. “Os anunciantes pensam que a maioria das agências prefere trabalhar por fee; que os serviços <strong>de</strong><br />

publicida<strong>de</strong> <strong>de</strong>vem ser comprados só das agências; que questões como fusões, mega-agências e conglomerados não são<br />

relevantes”. Setembro <strong>de</strong> 1990. “Propaganda brasileira começa a transitar pela Internet” - junho <strong>de</strong> 1995. é preciso olhar para a<br />

história e ver que este ano não foi bom, que o outro foi ruim, mas que as coisas estão mudando.<br />

Antigamente, o sujeito criativo tinha que ser redator ou diretor <strong>de</strong> arte. Hoje ele po<strong>de</strong> ser criativo como criador <strong>de</strong> exposições<br />

(como o Marcelo Duarte), po<strong>de</strong> ser criador <strong>de</strong> comunida<strong>de</strong>s como João Doria, um dos caras mais criativos do nosso tempo –<br />

ele é o papa do <strong>de</strong>senho <strong>de</strong> comunida<strong>de</strong>s no Brasil. Também temos o exemplo <strong>de</strong> André Matarazzo, um dos maiores gênios<br />

da nova geração, mas ele é todo tatuado na cabeça, parece um índio do Xingu.<br />

O criativo po<strong>de</strong> ser um realizador <strong>de</strong> eventos, como o Paulo Borges; po<strong>de</strong> ser um profissional <strong>de</strong> entretenimento, como o<br />

Fernando Altério; po<strong>de</strong> ser um <strong>de</strong>signer mundial, como o Fred Gelli da Tátil, que po<strong>de</strong> falar em qualquer lugar do mundo. Ele é<br />

um gênio e tem uma visão que muda companhias inteiras, além <strong>de</strong> ter uma das conversas mais interessantes que existe.<br />

No passado, o maior publicitário brasileiro era o mais premiado. Hoje, sabemos quem é o maior publicitário. Na minha opinião<br />

é o Marcelo Serpa. Agora ser criador tem outra expansão e temos que expandir esse conceito, porque ele se expandiu.<br />

Perguntaram ao Roberto Campos o que ele achava <strong>de</strong> fazer 80 anos. Ele respon<strong>de</strong>u: “Consi<strong>de</strong>rando a outra opção, é uma<br />

maravilha!”. Po<strong>de</strong>mos <strong>de</strong>cidir o que queremos, mudar ou morrer! O criativo po<strong>de</strong>, ainda, ser um trend setter como o Rony. Ele<br />

trabalha na Finlândia, no mundo inteiro; trabalha internacionalmente para a Unilever e é um dos profissionais mais importantes<br />

da propaganda brasileira. As multinacionais brasileiras são feitas <strong>de</strong> moleques <strong>de</strong> 25 e 28 anos, que estão atuando em garagens,<br />

e, porque não sabem que é impossível, vão lá e fazem. O criativo po<strong>de</strong> ser um profissional <strong>de</strong> marketing direto, <strong>de</strong> mídia, e<br />

também po<strong>de</strong>m aparecer gran<strong>de</strong>s criativos, como são para mim Marcelo Serpa, Alexandre Gama e Fabio Fernan<strong>de</strong>s, sem citar<br />

muita gente maravilhosa que a publicida<strong>de</strong> brasileira tem.<br />

O Brasil vive um momento privilegiado, e nós po<strong>de</strong>mos e <strong>de</strong>vemos pensar gran<strong>de</strong>. Não somos mais só publicitários; a<br />

criativida<strong>de</strong> tem múltiplas formas. Não somos só brasileiros, e sim, mundiais. A quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> brasileiros diretores <strong>de</strong> criação<br />

no exterior é inacreditável. O P.J. Pereira disse que 12 diretores <strong>de</strong> criação, só em São Francisco, são brasileiros. No ano passado,<br />

o redator mais premiado do mundo foi Ícaro Dória, brasileiro, diretor <strong>de</strong> criação da Saatchi & Saatchi, <strong>de</strong> Nova York. A dupla <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>sign mais importante da Itália é brasileira. é uma quantida<strong>de</strong> absurda <strong>de</strong> gente que não teve medo do mundo, que não se<br />

escon<strong>de</strong>u atrás da barreira da língua e foi em frente, fazer uma criativida<strong>de</strong> internacional.<br />

Por isso, convi<strong>de</strong>i para ser nosso palestrante um gringo que fala português, porque esse é o Brasil em que eu acredito, o Brasil<br />

do Rony, do João Daniel, do André Matarazzo, do Marcelo Serpa, um Brasil que vai para o mundo. E antes <strong>de</strong> começar isso, vou<br />

passar um ví<strong>de</strong>o que sintetiza todo o nosso pensamento, e fazer uma homenagem a esses profissionais. Não vou citar os do<br />

Brasil; não quero excluir ninguém, mas falar <strong>de</strong>sses inovadores, exploradores que se lançam no mundo e trabalham em todas<br />

as partes. é um documento muito bom, um trabalho que a Regina Augusto fez sobre as principais agências do mundo, os<br />

publicitários brasileiros lá fora, o grau <strong>de</strong> li<strong>de</strong>rança que eles têm.<br />

Vou passar o ví<strong>de</strong>o, ler o currículo do P.J. e mostrar esse brasileiro mundial, que fala a nossa língua, que pensa mundial e pensa<br />

como o mundo.<br />

Ví<strong>de</strong>o<br />

Música (“Sonhar, sonhos impossíveis...”)<br />

Locução: É possível fazer sucesso no mundo, sem nunca <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> ser brasileiro? Sim, é possível.<br />

Nizan Guanaes<br />

O P.J. Pereira é um diretor <strong>de</strong> criação internacionalmente reconhecido, com 20 anos <strong>de</strong> experiência em tecnologia e na<br />

indústria <strong>de</strong> propaganda, com mais <strong>de</strong> 50 prêmios internacionais durante os últimos <strong>de</strong>z anos. Presi<strong>de</strong>nte do júri internacional<br />

da Categoria Interativa do AM Show Festival, Cannes Festival, do El Sol Festival, do London International Advertising Festival.<br />

Foi consi<strong>de</strong>rado um dos 50 criadores mais influentes do mundo pela revista Creative, junto com Bono Vox e os donos do<br />

Google. Tem experiências com marcas como Visa, Coca-Cola, McDonald’s, Ex-Box, Target, MSN, etc., além <strong>de</strong> experiências<br />

executivas em agências. Fundou a agência Click, fez todo sucesso junto com Pedro Cabral e foi um dos responsáveis pelo<br />

retumbante sucesso daqui, que veio dos Estados Unidos, <strong>de</strong> uma das agências <strong>de</strong> internet mais importantes do mundo. é com<br />

muito prazer que apresento um gringo que já vem dublado, P.J. Pereira.<br />

P.J. Pereira<br />

Bom dia. Obrigado, Nizan, pelos comentários, obrigado à mesa por estar presente aqui.<br />

O próprio convite <strong>de</strong> falar sobre criativida<strong>de</strong> brasileira aqui foi um momento engraçado. No dia em que o Nizan me ligou, ele<br />

perguntou se eu po<strong>de</strong>ria ser o palestrante internacional e falar sobre a criativida<strong>de</strong> brasileira num congresso <strong>de</strong> propaganda.<br />

E eu disse: “Mas eu estou fora do Brasil há quatro anos! Como vou falar sobre publicida<strong>de</strong> e criativida<strong>de</strong> brasileira? Serei um<br />

palestrante internacional no meu próprio país?”.<br />

Trabalhei muito tempo no Brasil, o suficiente para sentir que não sou nem <strong>de</strong> lá, nem daqui; eu sou um pouquinho <strong>de</strong> cada<br />

lugar, mas, ao mesmo tempo, <strong>de</strong> lugar nenhum.<br />

Quando comecei a conversar com as pessoas lá, para tentar me preparar on-line e por meio <strong>de</strong> conversas com os americanos<br />

sobre a criativida<strong>de</strong> brasileira, tive algumas surpresas e o que eu queria trazer para discutir com vocês e com a mesa não<br />

é o que acho certo, não! é o que eu tenho visto sobre a propaganda brasileira, a criativida<strong>de</strong> brasileira vista <strong>de</strong> fora. Vocês<br />

238 239<br />

COMISSÃO 6 - CRIAT<strong>IV</strong>IDADE BRASILEIRA


estão vendo o próprio trabalho <strong>de</strong>ntro do país. Trazer uma visão <strong>de</strong> fora vista por quem já viveu aqui, talvez seja uma coisa<br />

interessante. Vim trazer também a discussão sobre qual é o calo que está apertando do lado <strong>de</strong> lá, para vocês verem que a<br />

coisa não é tão simples assim. Visto <strong>de</strong> fora, o lado <strong>de</strong> lá é mais bonito do que realmente é.<br />

A primeira pergunta que fiz para os meus amigos, o pessoal da indústria <strong>de</strong> lá, foi: como vocês vêem a criativida<strong>de</strong> brasileira, o<br />

que é a criativida<strong>de</strong> brasileira? A primeira imagem que todos eles me disseram: o samba, aquela coisa exuberante, sexy, alegre,<br />

bonita. Pensei que fazia sentido. Porém, invariavelmente, todos falavam: “Tem outra coisa que eu queria dizer”. Apareciam<br />

exemplos como o dos irmãos Campana. Vale a pena ver o documentário que a Isobar está fazendo com uma ca<strong>de</strong>ira que os<br />

Campana fizeram cheia <strong>de</strong> bonequinhas fabricadas no Nor<strong>de</strong>ste. é espetacular. Hoje os irmãos Campana são o símbolo do<br />

que é esse Brasil, a criativida<strong>de</strong> brasileira. Ela é engenhosa, inventiva, uma criativida<strong>de</strong> que traz elementos novos, nunca antes<br />

consi<strong>de</strong>rados, mas, quando apresentados, fazem todo o sentido.<br />

A criativida<strong>de</strong> brasileira para eles é o sempre mo<strong>de</strong>rno, o eternamente mo<strong>de</strong>rno trabalho do Niemeyer. Trago algumas pessoas ao<br />

Brasil e digo para ir visitar o Rio, mas elas querem passar primeiro por Brasília. “Eu não passo pelo Brasil sem conhecer o trabalho do<br />

Niemeyer”. Quando vão ao Rio, querem ir direto ao museu <strong>de</strong> Niterói. Isso é o Brasil; isto não é samba. O samba é importante, lindo,<br />

eu sou apaixonado por escola <strong>de</strong> samba, mas isso é o Brasil reconhecido lá fora. Esta foto foi tirada na exposição dos Gêmeos no<br />

Soho, há duas semanas atrás. Eles fizeram muito sucesso; só se fala no trabalho <strong>de</strong>les: é bonito, interessante, irônico.<br />

Na minha pesquisa on-line, eu queria <strong>de</strong>scobrir a discussão em torno <strong>de</strong>sse <strong>de</strong>bate. Via muitas pessoas falando da necessida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> preservar e resgatar aquele velho espírito brasileiro. O espírito brasileiro, a criativida<strong>de</strong> brasileira do lado <strong>de</strong> fora não são<br />

necessariamente o que nós acreditávamos. O mundo vê a propaganda brasileira hoje como um trabalho <strong>de</strong> excelente<br />

qualida<strong>de</strong>. São criativos, sabem fazer coisa lindas, coisas “bem amarradas”, coisas que fazem sentido, e também, têm integração.<br />

Não estou falando do titanium Lion; não estou falando <strong>de</strong> integração 360: estou falando da maior inveja que o mercado<br />

americano, o inglês e uma parte dos mercados do mundo têm do Brasil. Nós ainda conseguimos trabalhar com criação e mídia<br />

ao mesmo tempo. Eles morrem <strong>de</strong> inveja disso, que é uma luta <strong>de</strong> muito tempo; é algo que tem sido preservado, garantido a<br />

muito custo; não é algo que simplesmente aconteceu.<br />

A parte mais interessante das minhas conclusões <strong>de</strong>sse processo nas últimas semanas: quando cheguei lá, percebi que sentia<br />

falta <strong>de</strong> algumas coisas. Eu explicava e eles não entendiam o que era. Para citar duas: a influência cultural – agora que não<br />

se questiona mais a integração, a frase da moda é: “vamos criar movimentos culturais, vamos fazer a propaganda integrar a<br />

cultura popular”. Eu conto a eles o que foi a campanha dos mamíferos e eles não conseguem enten<strong>de</strong>r. A capacida<strong>de</strong> que o<br />

Brasil tem <strong>de</strong> criar cultura popular, em virtu<strong>de</strong> <strong>de</strong>ssa integração entre mídia e criação é fenomenal, e o mundo inteiro morre<br />

<strong>de</strong> inveja disso; é o que eles querem apren<strong>de</strong>r. E se não tivermos consciência disso, vamos sofrer por coisas que não temos,<br />

sem perceber o que po<strong>de</strong>mos usar em nosso favor e o que temos que mostrar e badalar. A segunda coisa eu chamei <strong>de</strong><br />

“tempo real”. Assisti a uma palestra do Chuck Porter, fundador da Christian Porter, e ele disse: “Nós criamos propaganda para a<br />

próxima tar<strong>de</strong>, não é para o próximo ano”. Ele está dizendo isso, porque a gran<strong>de</strong> parte das marcas dos gran<strong>de</strong>s anunciantes<br />

nos mercados americano e europeu trabalha mais ou menos com o seguinte cronograma: você pega o briefing, que vai para<br />

sua agência e fica três meses planejando, mais três meses criando, mais seis meses produzindo. Ao lançar, não há mais nada a<br />

ser feito, é só cruzar os <strong>de</strong>dos e esperar que dê certo.<br />

Vi um livro – nem sei se é bom ou não – e adorei o titulo: “Esperança não é estratégia”. é espetacular; lá, eles são os reis da<br />

estratégia e a única estratégia real <strong>de</strong>les é a esperança, porque eles colocam no ar e acabou. Aqui no mercado brasileiro, nós<br />

não temos tanto dinheiro. Não dá para correr esse risco. Se colocou no ar, tem que funcionar.<br />

Lá, no dia seguinte, nós verificamos; a campanha não está funcionando, as pessoas têm uma reação diferente e dois dias<br />

<strong>de</strong>pois, entrará algo diferente no ar. Propaganda em tempo real, propaganda que você vive, você não lança; é uma coisa que<br />

o mundo tem que apren<strong>de</strong>r. Provavelmente, <strong>de</strong>morará anos para algum festival conseguir premiar esse tipo <strong>de</strong> mentalida<strong>de</strong>,<br />

mas talvez seja a coisa mais importante e estratégica, e a maior sabedoria e experiência que o mercado brasileiro tem.<br />

De novo, ficamos sofrendo, olhamos para resultados <strong>de</strong> premiação: estamos ganhando menos prêmios, estamos ficando<br />

para trás? Voei durante 20 horas para dizer: esqueçam isso! Vocês estão olhando para a coisa errada. O BMW Films ganhou<br />

no ano seguinte em que foi inscrito no festival <strong>de</strong> Cannes! Os festivais refletem as coisas que estão acontecendo e não<br />

necessariamente premiam o futuro, e, po<strong>de</strong> ser que o que fazemos aqui seja o futuro. Eu acho que é. Se o mundo inteiro<br />

está dizendo que temos que ser mais rápidos, ágeis e é preciso apren<strong>de</strong>r a criar cultura popular, nós sabemos fazer aqui o<br />

que os gringos não sabem, o que eles estão tentando apren<strong>de</strong>r. Ao invés <strong>de</strong> chorar e reclamar que estamos ficando para trás,<br />

esqueçam, passou. Qual o sentido <strong>de</strong> querer ser a Argentina, que quer ser Londres, que quer ser alguma coisa que eles ainda<br />

não sabem que estão se reinventado? Por que não aproveitar essa oportunida<strong>de</strong>, já que temos coisas que ninguém mais tem,<br />

per<strong>de</strong>ndo tempo ao querermos ser o que Londres quer ser? Por que não po<strong>de</strong>mos trabalhar para sermos lí<strong>de</strong>res? Por que não<br />

po<strong>de</strong>mos ser a Anheuser-Busch InBev da propaganda?<br />

A perspectiva histórica é que toda tendência nesse mercado, no fundo, tem uma agenda. O que aconteceu? A palavra da<br />

moda hoje é integração, que eu acho espetacular. é uma das coisas que eu tento fazer no trabalho, mas vamos enten<strong>de</strong>r <strong>de</strong><br />

on<strong>de</strong> veio isso. Um dia, as agências <strong>de</strong> propaganda per<strong>de</strong>ram a mídia. Elas precisavam reinventar seu negócio e construir coisas<br />

ao redor <strong>de</strong>le. Daí surgiu toda essa idéia <strong>de</strong> propaganda integrada, excepcional para a indústria. Qual é nossa agenda? O que<br />

precisamos construir no futuro para motivar nosso mercado a construir a próxima geração do que é a gran<strong>de</strong> propaganda?<br />

Não vamos seguir, vamos assumir a li<strong>de</strong>rança agora. O irônico é que toda essa coisa da propaganda integrada, que surgiu com<br />

um motivo, acabou gerando uma outra conseqüência fenomenal para esses mercados: a preparação para um mundo novo,<br />

para um tipo <strong>de</strong> situação que estava começando na época e que hoje é uma realida<strong>de</strong>.<br />

A maneira mais fácil <strong>de</strong> explicar é que o novo birô <strong>de</strong> mídia, hoje, se chama on <strong>de</strong>mand. A maior ameaça atual ao sistema e<br />

mo<strong>de</strong>lo publicitários é a capacida<strong>de</strong> do consumidor <strong>de</strong> tocar, assistir e ter acesso à informação, ao conteúdo, ao entretenimento,<br />

quando quiser, por meio da internet, do TiVo – soube que estão chegando agora no Brasil os primeiros gravadores, a Apple TV.<br />

Fundamentalmente, a propaganda se acostumou a colocar a mensagem que queria, quando ela queria para as pessoas<br />

que estavam a fim <strong>de</strong> vê-la. Agora esse controle passou para a mão do consumidor e nós o per<strong>de</strong>mos. é uma mudança<br />

fundamental. A diferença é que isso não é um birô, que é um mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> negócios; a fase on <strong>de</strong>mand é uma revolução social,<br />

e brigar com uma revolução social só tem um resultado: sua cabeça rola.<br />

Como po<strong>de</strong>mos transformar esse mundo on <strong>de</strong>mand inimigo em nosso aliado? Eu trouxe algumas conclusões, algumas coisas<br />

que tenho visto, discutido, aprendido <strong>de</strong> meus colegas. Vou mostrar muitos trabalhos que estão sendo feitos fora, todos eles<br />

em inglês. Eu tentei evitar colocar os meus próprios trabalhos, para não parecer que eu estou fazendo propaganda própria; só<br />

coloquei alguma coisa minha quando a história por trás era mais importante do que o trabalho em si. O que eu queria mostrar<br />

mesmo era a história por trás do trabalho, e eu conheço as histórias. Vou ler uma frase interessante: “Em <strong>de</strong>z anos, 100% do que<br />

hoje é TV circulará por IP.” Essa é uma frase <strong>de</strong> Steve Ballmer, CEO da Microsoft. Ele não está falando que a TV vai acabar, mas<br />

que ela terá todos os recursos que a internet tem hoje e vai virar uma super-TV.<br />

Em <strong>de</strong>z anos, no máximo, não haverá mais nada. Quais são as gran<strong>de</strong>s mudanças? Estas são as coisas em que eu mais acredito.<br />

Sintam-se à vonta<strong>de</strong> para acrescentar ou tirar o que acharem mais importante. A primeira <strong>de</strong>las é a mudança da propaganda<br />

para conteúdo, serviço ou produto, que vem basicamente do fato <strong>de</strong> não po<strong>de</strong>rmos empurrar nossa campanha “goela abaixo”<br />

<strong>de</strong> quem está assistindo, até porque a pessoa po<strong>de</strong> não estar mais assistindo aquele meio a que estávamos acostumados.<br />

Por isso, vamos ter que, <strong>de</strong> alguma forma, convencer o mesmo sujeito a vir até nós. Então, temos que parar <strong>de</strong> competir<br />

com as outras marcas do mesmo setor da campanha que estamos fazendo, para competir com os programas que estão ao<br />

redor. Nós competimos com a novela das oito e eles são bons! Como vamos fazer isso? Eu trouxe um ví<strong>de</strong>o com três histórias<br />

interessantes.<br />

240 241<br />

COMISSÃO 6 - CRIAT<strong>IV</strong>IDADE BRASILEIRA<br />

Ví<strong>de</strong>o<br />

Essas três histórias foram tiradas do rolo do One Show Entertainment, a nova premiação que está sendo criada este ano e vai<br />

homenagear apenas idéias <strong>de</strong> brand entertainment (entretenimento <strong>de</strong> marca). O primeiro foi um jogo <strong>de</strong> Burger King, o<br />

segundo um vi<strong>de</strong>oclipe para a Smirnoff e a terceira é um programa <strong>de</strong> televisão para Axe. Em dois <strong>de</strong>sses três exemplos, a<br />

agência que criou, além <strong>de</strong> ter sido paga para criar, também é dona <strong>de</strong>ssa proprieda<strong>de</strong> intelectual – algo interessante para se<br />

discutir em algum momento: como funciona, qual o formato <strong>de</strong> remuneração... muda tudo. Temos que começar com uma<br />

página em branco <strong>de</strong> novo.<br />

A segunda gran<strong>de</strong> mudança é do efêmero para o clássico. Conversei com um amigo, um dos fundadores da Farfar uma das<br />

agências mais bem sucedidas do mundo, que fica na Suécia. Ele contou que algumas das campanhas que ele fez três anos<br />

atrás têm mais audiência hoje do que na época em que eles lançaram. O que acontece? Quando estamos atuando na parte<br />

<strong>de</strong> entretenimento, <strong>de</strong>vemos pensar como fabricantes <strong>de</strong> entretenimento, criadores <strong>de</strong> entretenimento. Quando trabalhamos<br />

num clássico, a coisa não morre! Vou mostrar um exemplo fácil <strong>de</strong> lembrar: é um trabalho que já tem cinco anos e continua<br />

sendo badalado e assistido, não só no mundo da propaganda, mas pelos apaixonados por carro.<br />

Ví<strong>de</strong>o em inglês<br />

Esse trabalho tem cinco anos, mas as pessoas continuam assistindo, não porque foi revolucionário, mas porque é divertido.<br />

Imagine se Walt Disney, <strong>de</strong>pois da Branca <strong>de</strong> Neve, dissesse: “Acabou o flight da campanha, vamos lançar o próximo filme”?<br />

Quando o que fazemos neste mundo <strong>de</strong> hoje é bom <strong>de</strong> verda<strong>de</strong>, isso tem potencial para virar um clássico. Temos que pensar<br />

<strong>de</strong> uma maneira diferente.<br />

O terceiro ponto é que vamos da subordinação para a colaboração. Estou falando <strong>de</strong> formato <strong>de</strong> agências. Esse é um mercado<br />

que se acostumou muito a trabalhar com uma agência <strong>de</strong> propaganda que tem uma idéia principal e, <strong>de</strong>pois, outras agências<br />

e produtoras <strong>de</strong>senvolvem a mesma idéia <strong>de</strong> uma maneira diferente. Às vezes, os resultados são muito bons fazendo as coisas<br />

<strong>de</strong> outra forma. Participei <strong>de</strong> alguma maneira do exemplo que trouxe. No ano passado, uma das contas que eu atendi era a<br />

da Sprite. Eu fazia a parte interativa, e a parte off-line era feita pela Crispin, em Miami. Na primeira campanha que eles fizeram,<br />

a Crispin trabalhou na campanha off-line e nós fizemos a on-line. A segunda campanha foi uma promoção; eles chamaram<br />

todos ao mesmo tempo; a agência <strong>de</strong> promoção, a agência digital e a agência <strong>de</strong> propaganda. O resultado é que a agência <strong>de</strong><br />

promoção trouxe uma mecânica interessante <strong>de</strong> usar as chapinhas para colher códigos, para dar o acesso a alguma coisa. A<br />

agência <strong>de</strong> propaganda sugeriu que eles <strong>de</strong>cidissem o que queriam fazer e ela anunciaria, e a agência digital disse que criaria<br />

a história, que permitiria às pessoas fazerem o que eu vou mostrar. O formato on<strong>de</strong> estou mostrando não vai ser o site, não vai<br />

ser o comercial, vai ser o que aconteceu na televisão; como o noticiário local começou a falar do assunto, eu trouxe um que fala<br />

da história <strong>de</strong> um menino que acabou ganhando. Ele era finalista na época; não estranhem, porque é um jornal do Havaí.<br />

Ví<strong>de</strong>o<br />

As pessoas tiveram realmente acesso para criar a música do comercial. Isso já foi feito antes, mas o fato <strong>de</strong> ter sido feito para<br />

uma gran<strong>de</strong> marca, pela Coca-Cola Company em escala nacional, tomou o noticiário local e nacional. Isso não foi pago! é valor<br />

<strong>de</strong> trazer as pessoas, os consumidores, para trabalharem com.<br />

O quarto ponto é que saímos <strong>de</strong> <strong>de</strong>cretos para movimentos <strong>de</strong> base. Estamos sempre acostumados a falar com o público,<br />

certo? De alguma forma, algumas das campanhas mais incríveis acontecem quando uma marca ou um anunciante influencia<br />

um <strong>de</strong>terminado grupo <strong>de</strong> consumidores a fazer alguma coisa em nome <strong>de</strong>les, fazer para eles mesmos, ou pegam carona<br />

nisso. Vou falar <strong>de</strong> um dos melhores exemplos disso nos últimos 24 meses. Um cara <strong>de</strong>scobriu que se você colocar drops <strong>de</strong><br />

Menthos <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> uma garrafa <strong>de</strong> Diet Coke, provoca um chafariz. A primeira reação do pessoal da Menthos foi: “Ótimo,<br />

propaganda <strong>de</strong> graça, vamos aproveitar, já que não temos tanto dinheiro”. A Coca-Cola disse: “Estão mexendo com minha<br />

marca, vou conversar com meus advogados e eles vão tratar do assunto”. Eu tenho amigos que estavam trabalhando nessa<br />

conta na época, e disseram: “Espera aí, eles estão fazendo propaganda para nós; só porque não está <strong>de</strong>ntro das nossas policies,<br />

vamos lá dizer que não? Vamos fazer o contrário e apoiar”. Então, a Coca-Cola, patrocinou esses dois sujeitos para fazer o maior<br />

chafariz <strong>de</strong> Diet Coke <strong>de</strong> todos os tempos. é divertido <strong>de</strong> assistir.<br />

Ví<strong>de</strong>o<br />

O próximo ponto tem a ver com o que falei sobre tempo real no início. A propaganda está <strong>de</strong>ixando <strong>de</strong> ser simplesmente<br />

planejada, para ser vivida. Algumas das campanhas mais ousadas dos últimos tempos, como por exemplo, um dos Grand Prix<br />

<strong>de</strong> Cyber <strong>de</strong>sse ano, que foi o jogo criado para o novo cd do Nine Inches Nails. Meta<strong>de</strong> do que se gasta é até o lançamento; a outra


meta<strong>de</strong> é <strong>de</strong>pois do lançamento, a partir <strong>de</strong> respostas em tempo real. Eu vou mostrar a vocês agora um projeto que fizemos<br />

para o Red Bull, que é uma marca diferente <strong>de</strong> ser entendida; vocês só precisam ter um pouco <strong>de</strong> contexto. Eles basicamente<br />

construíram sua marca em volta <strong>de</strong> product placements na vida real. Eles gostam <strong>de</strong> colocar seu produto nas mãos <strong>de</strong> gente, e é<br />

assim que ven<strong>de</strong>m. O que vocês vão ver não é um comercial; é um longa-metragem feito para promover o Red Bull.<br />

Eles queriam uma maneira <strong>de</strong> divulgar, <strong>de</strong> explicar para as pessoas que Red Bull não é uma coisa só para beber à noite, pois<br />

ajuda você se concentrar e a manter a concentração por muito tempo.<br />

Imaginem, por exemplo, que estivéssemos falando <strong>de</strong> Nike: precisamos <strong>de</strong> um esporte para falar <strong>de</strong> algumas características.<br />

Vamos criar um herói, mas não temos esse esporte. Então, vamos criar um esporte chamado golfe, para que possamos criar um<br />

herói como Tiger Woods e criar um boneco <strong>de</strong>le. Foi o que fizemos para a Red Bull. Criou-se o Campeonato Nacional <strong>de</strong> Quem<br />

Pisca Primeiro. Fizemos um documentário sobre isso e sobre a vida <strong>de</strong>sse sujeito que ganhou o campeonato, que <strong>de</strong>safiou um<br />

pentacampeão dos anos anteriores.<br />

Vou mostrar o trailer – esse filme teve trailer no Youtube. Fizemos um documentário <strong>de</strong> 1h20, que continua em festivais <strong>de</strong><br />

cinema dois anos <strong>de</strong>pois do lançamento da campanha. Ele ainda está no Netflix e está sendo alugado – as pessoas estão<br />

pagando para assistir e a agência é dona do filme. O cliente pagou para que aquele filme existisse, e eles pu<strong>de</strong>ssem ter um<br />

pouco <strong>de</strong> product placement. Vocês vão ver que o produto aparece na mão do sujeito <strong>de</strong> vez em quando.<br />

Ví<strong>de</strong>o<br />

A estimativa é <strong>de</strong> que essa campanha com o trailer, o filme e os sites que compõem o filme – o site da associação, o site dos<br />

personagens – tenha reunido cerca <strong>de</strong> 20 milhões <strong>de</strong> pessoas ao redor do mundo. Os personagens <strong>de</strong>ram entrevista para<br />

a Esquire, em Amsterdã; a Sports Illustrated, a maior revista <strong>de</strong> esportes dos Estados Unidos, escreveu uma matéria sobre o<br />

documentário e sobre esse quase-esporte, como ele é quase crível. Sabemos que é mentira, mas é isso que faz ele ficar mais<br />

gostoso. No final das contas, ele fez exatamente o que ele precisava fazer.<br />

Produzir o filme foi só o início. Nosso trabalho começou no dia do lançamento. O trabalho mesmo foi ir aos blogs, levar os<br />

personagens até os lugares e fazer com que eles <strong>de</strong>ssem entrevistas. Isso fez com que o projeto fosse popular. Nós nos<br />

acostumamos a ver o mundo da propaganda com agências globais, agências locais, certo? As agências globais têm um grupo<br />

<strong>de</strong> americanos ou <strong>de</strong> ingleses que vão pensar uma campanha que será adaptada ao redor do mundo. Por que Amsterdã é<br />

hoje um dos centros on<strong>de</strong> se faz mais campanhas mundiais? Por que a Suécia tem feito tantas campanhas mundiais? Porque<br />

eles estão levando o mundo inteiro para lá! Eles estão criando minimundos <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>les. Fui visitar a Wie<strong>de</strong>n Kennedy, em<br />

Portland, porque estávamos fazendo alguns trabalhos juntos, e encontrei um aluno meu da Cásper Líbero. Ele estava lá, era<br />

um dos criativos da campanha e havia sido meu aluno aqui. Era um brasileiro em um time on<strong>de</strong> não havia três pessoas da<br />

mesma nacionalida<strong>de</strong>. Quando você traz o mundo para <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> você, você po<strong>de</strong> fazer campanhas para o mundo, porque<br />

tem relevância cultural, tem referências, e, mais do que isso, as coisas saem mais novas.<br />

Agora, vou mostrar uma das minhas últimas campanhas na AKQA. Foi uma campanha mundial do MDonald’s para as<br />

Olimpíadas, que tem sido comentada entre os patrocinadores das Olimpíadas como provavelmente a campanha mais ousada<br />

<strong>de</strong> patrocínio que aconteceu esse ano, porque ela promove as Olimpíadas, e não só o patrocinador. é um jogo que acontece<br />

no mundo inteiro: imaginem um Código da Vinci mundial em volta das Olimpíadas; uma pessoa em Buenos Aires <strong>de</strong>scobre<br />

uma pista, que significa que alguém na França tem que ir à menor biblioteca <strong>de</strong> Paris e achar um livro com texto em coreano.<br />

Ele precisará <strong>de</strong> um coreano para traduzir para o inglês, para que todos possam achar a próxima pista, etc. Tem a ver com o<br />

espírito olímpico <strong>de</strong> juntar o mundo inteiro numa mesma missão. O projeto chama-se The Lost Ring.<br />

Ví<strong>de</strong>o<br />

Esse filme foi produzido por uma agência americana, com um diretor <strong>de</strong> criação brasileiro, um criativo sueco e uma americana.<br />

Foi produzido por uma produtora holan<strong>de</strong>sa, filmado em Portugal e se não fosse o outro diretor <strong>de</strong> arte trabalhando no<br />

projeto – um holandês que morou em Los Angeles e no Brasil e que fala inglês, português e holandês –, eu não sei como nós<br />

teríamos nos comunicado. Mas funcionou e o fato é que ali, nós tínhamos o mundo inteiro trabalhando nisso – aliás, havia um<br />

japonês no time também – e o mundo inteiro permite que se faça coisas atraentes para o resto do planeta.<br />

Eu acho que isso é uma coisa em que o Brasil precisa começar a pensar: não está na hora <strong>de</strong> assumirmos a li<strong>de</strong>rança <strong>de</strong><br />

campanhas mundiais? E se isso for verda<strong>de</strong>, talvez esteja na hora <strong>de</strong> trazermos o mundo para cá! O Brasil foi construído a partir<br />

disso! Nós trouxemos holan<strong>de</strong>ses, italianos, alemães, portugueses e essa mistura fez o que somos hoje. Talvez seja hora <strong>de</strong><br />

fazermos isso <strong>de</strong> novo. Mas vamos discutir esse assunto <strong>de</strong>pois.<br />

A penúltima coisa é do forçado para o natural. A partir do momento em que damos o controle ao consumidor, precisamos<br />

também ter consciência <strong>de</strong> que não adianta mais querermos listar todos os pontos estratégicos e <strong>de</strong>pois ver qual é a<br />

maneira <strong>de</strong> contar esse filme; precisamos achar uma maneira natural para que a marca, o produto, possam estar na frente<br />

do consumidor. Uma vez encontrada essa resposta, encontraremos a maneira mais razoável <strong>de</strong> colocar aquilo que dá para<br />

falar, porque agora ele está no controle. O ponto crítico é que a <strong>de</strong>cisão <strong>de</strong> estar ou não na frente <strong>de</strong>le não é mais sua: é <strong>de</strong>le.<br />

O ponto primordial, então, é como conseguir maneiras naturais <strong>de</strong> fazer essa abordagem. Quando isso for conhecido, não<br />

importa se vamos fazer um anúncio, um site ou um jogo. A partir do momento em que é natural para ele, está valendo. E vale,<br />

inclusive, um comercial <strong>de</strong> televisão.<br />

O filme que eu vou mostrar agora foi um dos passados num dos intervalos do Super Bowl, o maior evento da televisão<br />

americana, quando as pessoas realmente querem assistir propaganda. Imaginem que vocês estão aqui num intervalo <strong>de</strong> uma<br />

final da Copa América entre Brasil e Argentina, com aquele espírito competitivo, e, <strong>de</strong> repente assistem este comercial.<br />

Ví<strong>de</strong>o<br />

Assisti a reação ao vivo. As pessoas levantavam e gritavam: “Charlie Brown!”. Quando aparecemos na hora certa, com a<br />

mensagem certa e ela é relevante, o formato não importa mais. Eu fiz questão <strong>de</strong> trazer uma das últimas coisas para mostrar<br />

um comercial, porque as pessoas acham que pelo fato <strong>de</strong> eu trabalhar com internet, não gosto <strong>de</strong> televisão. Eu adoro; assisto<br />

muito. Adoro propaganda, comercial, e isso é um exemplo <strong>de</strong> uma coisa brilhante, bem feita, simples e elegante, colocada no<br />

momento certo, e que <strong>de</strong>pois ganhou asas a partir daí.<br />

O último ponto para po<strong>de</strong>rmos fechar – que, na miha opinião, é o mais revolucionário disso tudo–, é a mudança <strong>de</strong> aspecto.<br />

A partir do momento em que estamos falando <strong>de</strong> entretenimento, <strong>de</strong> produto e <strong>de</strong> serviços também, e quando pensamos<br />

no tipo <strong>de</strong> história que estamos contando, no entretenimento, <strong>de</strong>ixamos <strong>de</strong> ser uma agência dos nossos clientes para sermos<br />

agentes (como um agente <strong>de</strong> um ator ou <strong>de</strong> um diretor <strong>de</strong> Hollywood). Estamos brigando para fazer os melhores negócios<br />

para ele, para arrumar as melhores oportunida<strong>de</strong>s para ele ser visto. Alguns vão dar mais dinheiro; outros, mais visibilida<strong>de</strong>,<br />

mas todos servirão como um passo ou um <strong>de</strong>grau para o próximo passo.<br />

é um pensamento interessante, tanto pelo lado da agências – que, com isso, passam a se preocupar mais em criar<br />

oportunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> negócios <strong>de</strong> uma maneira diferente – quanto para os próprios anunciantes, porque a partir do momento<br />

em que isso acontece, não precisamos viabilizar só o resultado no curto prazo. Não estou falando <strong>de</strong> resultados <strong>de</strong> longo prazo<br />

<strong>de</strong> construção <strong>de</strong> marca; disso todo mundo fala há muito tempo. Falo <strong>de</strong> construir oportunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> negócios baseadas no<br />

valor que existe como marca.<br />

Vou contar uma história para vocês enten<strong>de</strong>rem exatamente do que estou falando. Durante os últimos <strong>de</strong>z anos, a coisa em<br />

que eu mais insisti na vida, foi comprar a home page do Google. O Google não precisa <strong>de</strong> dinheiro; eles estão numa posição <strong>de</strong><br />

luxo, sossego, então, queriam manter sua integrida<strong>de</strong> e não ven<strong>de</strong>r propaganda na home page. A primeira página do Google<br />

é sagrada; não entra nenhuma marca ali.<br />

Um dia, eu montei a minha agência e meu primeiro cliente era a Lego. Fui fazer a primeira reunião e eles me contaram um<br />

segredo: “daqui a <strong>de</strong>z dias, você verá isto aqui”. Perguntei quanto eles haviam pago e disseram que não pagaram nada. Eles<br />

simplesmente conseguiram. O pessoal <strong>de</strong> Assessoria <strong>de</strong> Imprensa sentou com eles e disse: “Lego faz parte da cultura popular;<br />

Lego é um símbolo pop <strong>de</strong>ste país e do planeta. Nossa geração foi influenciada por Lego tanto quanto foi influenciada pelos<br />

Beatles. Nós fazemos 50 anos neste dia; por que não comemorar isso?”. Claro, mataram a minha idéia, mas o que eu quero<br />

mostrar é que a partir do momento em que construímos amor por uma marca, algum tipo <strong>de</strong> imagem, po<strong>de</strong>mos fazer uso<br />

disso; é parte da negociação, do que estamos construindo e po<strong>de</strong> ser usado na próxima campanha.<br />

A Burger King conseguiu fazer aqueles jogos com a XBox não porque pagaram uma fortuna, mas porque <strong>de</strong>cidiram investir e<br />

a agência também. A agência seria dona do negócio junto com eles. Assim, eles ficariam com a distribuição e ven<strong>de</strong>riam isso<br />

para a XBox, que faria o jogo para eles e eles, por sua vez, cobririam os custos básicos. Assim, todos ganharam dinheiro. Eles se<br />

basearam no po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> distribuição para fazer um negócio incrível, bom para todos. 3.99$ foi um dos jogos mais vendidos <strong>de</strong><br />

todos os tempos, até o lançamento <strong>de</strong> Halo o maior lançamento da história. Enfim, o que fazemos hoje precisa ser analisado<br />

não só em relação ao resultado com o consumidor, mas às oportunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> negócios que estamos gerando no futuro.<br />

Então, voltamos à pergunta: toda inovação e toda tendência têm uma agenda; qual é a nossa? Nossa agenda hoje não <strong>de</strong>ve<br />

ser o que fazemos para não sermos piores que os outros países que admiramos e respeitamos. Vamos respeitar <strong>de</strong> igual para<br />

igual! Como po<strong>de</strong>mos nos tornar lí<strong>de</strong>res <strong>de</strong>ssa nova comunicação mundial? Como po<strong>de</strong>mos ser um dos países <strong>de</strong> mercado<br />

que vai <strong>de</strong>finir, construir e <strong>de</strong>terminar o que as pessoas vão fazer daqui a <strong>de</strong>z anos? O Brasil po<strong>de</strong> fazer. Acho que <strong>de</strong> alguma<br />

forma, a solução está em cooptar esse inimigo que é o on <strong>de</strong>mand e fazer <strong>de</strong>le o nosso aliado. Devemos usar a força da<br />

nossa televisão, do nosso mercado <strong>de</strong> eventos, do marketing direto e juntar tudo nesse mundo novo, para que esse po<strong>de</strong>r<br />

venha para o nosso lado. Devemos atrair estrangeiros, para que possamos estar entre os responsáveis por agências lí<strong>de</strong>res em<br />

campanhas mundiais. Se uma agência da Suécia ou Amsterdã po<strong>de</strong> ser, por que não no Brasil? é só reunirmos as condições<br />

necessárias para isso, e nós po<strong>de</strong>mos, porque qualida<strong>de</strong> nós temos; somos respeitados por isso.<br />

Por último, o mais importante: temos que acreditar que po<strong>de</strong>mos, que não somos um país simplesmente obrigado a seguir<br />

o que os outros estão falando. Temos um dos mercados mais respeitados, e não importa o prêmio, não importa o que vocês<br />

estão lendo nas discussões sobre o que está acontecendo, se existe ou não uma crise no mercado publicitário brasileiro, na<br />

criativida<strong>de</strong> brasileira. O fato é que somos respeitados, sabemos fazer e se acreditarmos, po<strong>de</strong>mos ser tão gran<strong>de</strong>s quanto<br />

eles. Muito obrigado.<br />

Nizan Guanaes<br />

Para continuar a falar sobre esse país <strong>de</strong> cabeça erguida, este país que <strong>de</strong>rruba fronteiras, que sai da reação e vai para a ação,<br />

da <strong>de</strong>fesa para o ataque, peço ao Rony Rodrigues, um dos meus ídolos, para falar sobre sua experiência e convicções, sobre<br />

seu trabalho no mundo e suas percepções sobre o que foi dito aqui.<br />

Rony Rodrigues<br />

Boa tar<strong>de</strong>. A Box 1824 é uma empresa <strong>de</strong> pesquisa <strong>de</strong> tendência e consumo, e é bem parecida com que o Nizan falou no início:<br />

nasceu numa garagem – <strong>de</strong> fato, nasceu <strong>de</strong> um grupo <strong>de</strong> quatro estagiários há quatro anos atrás. Foi na mesma época em que<br />

houve toda essa difusão dos social softwares, um tipo <strong>de</strong> con<strong>de</strong>nsamento <strong>de</strong> tempo e espaço, processo <strong>de</strong> globalização para<br />

a mundialização, o mundo é um só. Já nascemos integrados, conectados e com uma perspectiva extremamente diferente das<br />

pessoas que não acompanharam esse mesmo movimento, que não apren<strong>de</strong>ram a ler e entrar na internet ao mesmo tempo,<br />

que é o que acontece com esta geração.<br />

Eu era o mais velho; na época, tinha 24 anos e tinha um sócio <strong>de</strong> 19, uma <strong>de</strong> 21 e um outro <strong>de</strong> 23. Era na garagem do João, na<br />

Avenida Ipiranga, em Porto Alegre. Todos gaúchos. Assistimos a uma palestra que meu sócio estava fazendo na PUC, sobre o<br />

Budriá e mundos paralelos. Eu pensei: “Esse guri é muito inteligente, vamos abrir uma empresa juntos”. Abrimos a empresa e<br />

começamos a trabalhar para a Azaléia, da Gren<strong>de</strong>ne, já fazendo pesquisas on-line na internet no mundo inteiro.<br />

Lançaram um tênis do Mark Nilson no Japão; nós entrávamos no CALT surfing (um programa <strong>de</strong> social software, que alugava o<br />

sofá da sua casa; era um programa tipo Orkut, mas era sobre o sofá da casa. Era como emprestar o sofá da casa para qualquer<br />

estrangeiro) e falávamos: “não queremos o sofá da sua casa, mas queremos que você vá à loja. Vamos fazer um <strong>de</strong>pósito e você<br />

manda um tênis para nós”.<br />

A Box começou com investimento zero. Começamos com um PowerPoint, trabalhando <strong>de</strong>ntro da DCS, uma agência <strong>de</strong> Porto<br />

Alegre e passamos a aten<strong>de</strong>r a Gren<strong>de</strong>ne. Num dos primeiros trabalhos para a Gren<strong>de</strong>ne, o pessoal falou: “Vocês fazem esse<br />

trabalho <strong>de</strong> pesquisa, com jovens entrevistando jovens. Por que vocês não filmam?”. Na época, alugamos um microfone. O<br />

aluguel era barato, mas o microfone custava cerca <strong>de</strong> R$ 5.000, caríssimo. Eu disse ao meu sócio: “esse microfone é um santo;<br />

242 243<br />

COMISSÃO 6 - CRIAT<strong>IV</strong>IDADE BRASILEIRA


olhe para ele e imagine que é Santo Antônio. Pelo amor <strong>de</strong> Deus, cui<strong>de</strong> <strong>de</strong>sse microfone, porque se ele quebrar, trabalharemos<br />

para sempre, só para pagá-lo!”.<br />

Subimos a serra e fomos a Parobé, porque na época eu trabalhava para a Gren<strong>de</strong>ne, que comprou a Azaléia. Subindo a serra, vi<br />

que o João estava pálido, tremendo e perguntei o que havia <strong>de</strong> errado. Ele respon<strong>de</strong>u: “esqueci o Santo Antônio em cima do<br />

carro!”. Voltamos para a Rua 24 <strong>de</strong> outubro e o microfone estava todo quebrado. Nesse episódio, a gurizada era extremamente<br />

conectada, interligada, não tinha fronteiras. Quatro meses <strong>de</strong>pois, estavávamos numa reunião na Unilever. Eles haviam feito<br />

uma gran<strong>de</strong> pesquisa e não havia uma empresa <strong>de</strong> pesquisa <strong>de</strong> tendência e consumo em países emergentes na China, Índia,<br />

Rússia, Tailândia, Arábia Saudita, nem no Brasil, a não ser a Box, a única.<br />

Participamos <strong>de</strong> uma concorrência com a Red Light Vision <strong>de</strong> Londres e a Peclers francesa, do grupo da APP. Na hora da concorrência,<br />

apresentamos nossas cre<strong>de</strong>nciais –éramos do Brasil, na época estávamos fazendo trabalhos para a Claro, para a Azaléia; falamos<br />

do tênis Olympikus, o mais vendido no Brasil, e o quinto tênis mais vendido no mundo. No final, a pergunta: por que vocês<br />

acham que <strong>de</strong>veríamos contratar vocês? Nós respon<strong>de</strong>mos: porque somos brasileiros; somos uma empresa <strong>de</strong> pesquisa <strong>de</strong><br />

tendências com experiência sobre a massa; não vamos trabalhar conceito; vamos falar <strong>de</strong> micro-tendências, tendências <strong>de</strong><br />

mercado mesmo, do que vai fazer diferença na hora do business; nada conceitual, um negócio mais mercadológico, e por isso<br />

não vamos ter uma perspectiva <strong>de</strong> primeiro mundo olhando para países emergentes. A perspectiva <strong>de</strong> países emergentes<br />

olhando para países emergentes. Dois dias <strong>de</strong>pois, ganhamos a concorrência e estávamos viajando para 22 países. Trabalhamos<br />

para a Unilever com plataforma <strong>de</strong> beleza e hoje somos responsáveis pelas micro-tendências da Unilever em todo o segmento<br />

<strong>de</strong> beleza. Nesse último ano, ganhamos a Health, que é a questão <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, e ganhamos Male também.<br />

Todas as tendências para qualquer produto que vá ser lançado, envolvem um trabalho feito por uma empresa brasileira,<br />

que nasceu <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>sse formato. A Unilever é um cliente adquirido a partir dos “somos”: Por que <strong>de</strong>vemos contratar vocês?<br />

Porque somos uma empresa brasileira <strong>de</strong> país emergente para país emergente. Se o interesse <strong>de</strong> vocês é esse, nós temos o<br />

conhecimento que essas duas não têm. Elas terão o olhar distinto, não o verda<strong>de</strong>iro.<br />

Dois anos <strong>de</strong>pois, nós pegamos outro trabalho: <strong>de</strong>senhar o branding da Nokia Trends global. Era um trabalho <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolver<br />

toda a plataforma <strong>de</strong> Nokia Trends, um evento <strong>de</strong> música <strong>de</strong> uma marca finlan<strong>de</strong>sa – porque não existe nada mais cool do<br />

que o norte europeu. Imaginem uma empresa da Finlândia contratar uma empresa brasileira para fazer o DNA. Era uma coisa<br />

bizarra; um evento <strong>de</strong> tendências, o Nokia Trends. Eles nos chamaram, chamaram a Tátil, uma empresa carioca <strong>de</strong> <strong>de</strong>sign e a<br />

Lew Lara, que também atendia a conta. Nós montamos o DNA e reaplicamos em mais <strong>de</strong> 17 países.<br />

Nosso último trabalho, que é muito interresante, foi o da Nike. Nós fizemos um trabalho sobre código <strong>de</strong> futebol no<br />

Brasil, Argentina e México, que ganhou uma gran<strong>de</strong> repercussão lá fora. é um trabalho já para a Copa <strong>de</strong> 2014 e estamos<br />

reaplicando o mesmo trabalho na Itália, Alemanha, Inglaterra e França. A Box é um reflexo <strong>de</strong>sse movimento, uma espécie<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>mocratização do meio e uma possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> interação sem fronteiras e sem espaço, on<strong>de</strong> essa questão <strong>de</strong> tempo e<br />

espaço permitiu que conseguíssemos evoluir bastante.<br />

Vou falar algumas coisas superimportantes em relação à comunicação e à criativida<strong>de</strong> brasileiras. Temos uma enorme facilida<strong>de</strong>,<br />

como o P.J. falou, <strong>de</strong> fazer uma comunicação <strong>de</strong> brasileiro para brasileiro; mas ainda falta um link maior, principalmente por<br />

parte das agências <strong>de</strong> comunicação no zeist geist global, no espírito do tempo.<br />

O que está acontecendo <strong>de</strong> relevante no mundo? O que eu tenho <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> casa que, se apresentar para o mundo, terá<br />

relevância? O que eu <strong>de</strong>vo apresentar que vai ser para uma contracultura não nacional, mas global? A Box é uma empresa que<br />

não tem site, não tem cartão <strong>de</strong> visitas, nunca prospectou ninguém, nunca <strong>de</strong>u o telefone. Nunca. Nascemos <strong>de</strong> um formato<br />

<strong>de</strong> contra-cultura. Aplaudimos comercial. Cada um aplau<strong>de</strong> o que quiser. A coisa mais importante e que a Box faz é sair do<br />

meio comum, on<strong>de</strong> a massa absorve informações. Todo ano, vamos às principais feiras <strong>de</strong> arte: Armory Show, FIAC; Basel. O<br />

publicitário, o profissional <strong>de</strong> comunicação, tem que enten<strong>de</strong>r on<strong>de</strong> está o conceito, as novas formas <strong>de</strong> comunicação; os<br />

festivais <strong>de</strong> Música Iceland Airwaves, Gipsy Rock, Salt by Salt West em Austin, todos esses movimentos são globais. No Salt<br />

by Salt West, aparece gente <strong>de</strong> vários lugares. Eu tenho amigos publicitários <strong>de</strong>ssas novas agências globais – é o caso da<br />

Surface 2 Air, uma agência <strong>de</strong> Paris em que os caras fazem <strong>de</strong>s<strong>de</strong> <strong>de</strong>sfile <strong>de</strong> moda até comunicação para Yves Saint Laurent,<br />

para marcas extremamente gran<strong>de</strong>s, e que são meus amigos. Nós nos encontramos nesses festivais; sou uma pessoa que se<br />

preocupa muito com a intelectualida<strong>de</strong> da criação brasileira. Eu não estou fazendo discurso sobre ócio criativo, longe disso.<br />

Acho que temos que trabalhar muito, mas é preciso que estejamos conscientes <strong>de</strong> que viajar e ver o que <strong>de</strong> novo está sendo<br />

feito também é trabalho.<br />

Não precisamos nos sentir culpados por isso. Temos que rever essa questão da auto-estima e saber que, <strong>de</strong> fato, po<strong>de</strong>mos<br />

tudo. Se uma empresa <strong>de</strong> Porto Alegre com quatro garotos <strong>de</strong> 20 e poucos anos consegue aten<strong>de</strong>r a Nokia, Unilever e Nike<br />

globalmente, é muito mais tranquilo alguém <strong>de</strong> São Paulo conseguir a mesma faceta. Po<strong>de</strong> ser alguém da Bahia, <strong>de</strong> Salvador,<br />

<strong>de</strong> qualquer lugar. é uma questão <strong>de</strong> auto-estima, <strong>de</strong> dizer que nós po<strong>de</strong>mos.<br />

Segundo: estamos mais ligados no zeit geist global, no que é novo apresentado. Por que a Beatriz Milhazes é ótima? Por que<br />

os Campana são relevantes? Por que o “Bon<strong>de</strong> do Rolê”, o “Cansei <strong>de</strong> Ser Sexy” são bandas do tipo que tiveram as gravadoras<br />

muito <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> estourar, e estouraram? O que é apresentar esse novo? Por que o Alexandre Herchcovitch é bacana? Temos<br />

marcas que ven<strong>de</strong>m muito mais que o Alexandre Herchcovitch, mas que não têm qualquer importância lá fora.<br />

Acho que é isso o que precisamos esmiuçar. Devemos enten<strong>de</strong>r o que temos <strong>de</strong> relevante aqui <strong>de</strong>ntro que po<strong>de</strong>mos<br />

apresentar lá fora.<br />

Outra coisa importante é a questão <strong>de</strong> formato. Querendo ou não, o Brasil tem um formato diferente, on<strong>de</strong> o bolo, a parte que<br />

acaba trazendo dinheiro para as agências, é o formato convencional. Porém, com toda essa história <strong>de</strong> profusão na internet e<br />

<strong>de</strong> hiperconectivida<strong>de</strong>, abriu-se um mundo paralelo.<br />

Imaginem o mundo dividido em dois. é o que o Nizan falou: esse dinheiro ela mantém e vai continuar por um bom tempo,<br />

embora o cliente comece a dividir cada vez mais para outro lado. Temos que nos <strong>de</strong>sapegar para nos transformarmos.<br />

Não adianta ficar ganhando a mesma coisa que vocês ganham. Einstein já dizia que não existe nada mais ignorante do que<br />

querer mudar e continuar fazendo a mesma coisa. São dois movimentos: po<strong>de</strong>mos criar uma start-up, algo novo, que esteja<br />

<strong>de</strong>ntro da nossa capacida<strong>de</strong> ou em cima do nosso negócio. Se não nos <strong>de</strong>sapegarmos <strong>de</strong> uma parte, não ocorrerá essa<br />

transformação. Já nascemos <strong>de</strong> uma cultura on<strong>de</strong> existe um teor político, uma maneira antiga <strong>de</strong> aten<strong>de</strong>r o cliente. Essa<br />

mudança é e tem que ser radical, assim como foi a internet.<br />

Nizan Guanaes<br />

Eu quero pedir para as pessoas respeitarem os cinco minutos, porque temos um prazo. Depois as pessoas terão que votar e<br />

vamos mostrar a nossa tese. Renovação, inovação e reinvenção não são coisas <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>, <strong>de</strong> ter 20 ou 25, <strong>de</strong> ter 30, 50, 60, 70.<br />

Caetano Veloso está aí, fazendo música com uma banda nova, com uma meninada.<br />

Quero passar a palavra a uma pessoa que, a meu ver, tem se reinventado; diretor <strong>de</strong> comercial premiado, mas uma pessoa com<br />

conteúdo, reinventado e continuado, que tem uma visão industrial: João Daniel Tikhomiroff.<br />

João Daniel Tikhomiroff<br />

Obrigado, Nizan. Vou falar sobre criativida<strong>de</strong>, agora um pouco mais fortemente. Acho que o tema é esse e temos que discutir<br />

muito o assunto. Sabemos que no Brasil, existe uma particularida<strong>de</strong>: temos nossas mídias convencionais – jornal, revista,<br />

televisão, rádio, etc. – que realmente funcionam muito bem e vão continuar funcionando assim por muito tempo.<br />

Quando eu montei a Mixer, ela foi feita exatamente visando a multi-plataforma, po<strong>de</strong>r transitar em todas as telas. Esse foi o<br />

conceito e estamos indo muito bem, graças a Deus. Porém, temos que ter o olhar sobre a realida<strong>de</strong> brasileira; muitas coisas<br />

que po<strong>de</strong>m funcionar fora, po<strong>de</strong>m não funcionar tão bem no Brasil. Isso é obvio; temos outro tipo <strong>de</strong> cultura, nível social,<br />

outras condições geográficas, tamanho, etc. O gran<strong>de</strong> player do Brasil é a TV aberta; isso é indiscutível e será assim por muito<br />

tempo. A internet é fundamental. Temos feito trabalhos muito interessantes em várias plataformas, não só no Brasil, mas para<br />

o exterior – aliás, principalmente para o exterior –, mas temos que saber que o break <strong>de</strong> 30 segundos ainda vai durar bastante<br />

tempo. é um case vencedor e apenas temos que observar que o consumidor já não é tão passivo como era antigamente.<br />

Hoje ele tem outra atitu<strong>de</strong> diante da tela; é ele quem tem o po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> escolha; mesmo consi<strong>de</strong>rando que o gran<strong>de</strong> veículo<br />

é a TV aberta, é ela que está dando a ele cultura, entretenimento, etc. Em função <strong>de</strong>ssa atitu<strong>de</strong> do consumidor e das outras<br />

possibilida<strong>de</strong>s das diversas telas que estão acontecendo fortemente lá fora, isso, sem dúvida, uma hora vai chegar aqui. Já está<br />

chegando aos poucos, e teremos que perseguir o consumidor.<br />

O comercial <strong>de</strong> televisão não é mais o mesmo. Aquele formato clássico, tradicional, criativo que existia nas décadas <strong>de</strong> 1960 até<br />

1990, já não tem a mesma eficiência. Cada vez mais, ele tem que se parecer com entretenimento. Essa é a palavra <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m:<br />

vamos ter que buscar mais para que o telespectador assista um comercial <strong>de</strong> televisão, mesmo em seu formato clássico <strong>de</strong> 30<br />

segundos <strong>de</strong> uma forma diferente, e não mais como uma venda clássica, convencional, <strong>de</strong> uma maneira criativa, vamos dizer<br />

assim, que foi nosso norte durante tantos anos, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> os anos 60.<br />

Definitivamente, hoje o comercial <strong>de</strong> televisão é diferenciado; ele precisa ter outra atitu<strong>de</strong>, outra forma <strong>de</strong> comunicar. Tivemos<br />

vários exemplos; nos últimos cinco anos do festival <strong>de</strong> Cannes, todos os Grand Prix foram peças que não respeitavam a forma<br />

clássica <strong>de</strong> pensar. Aconteceu neste ano a divisão do Grand Prix em duas formas: uma <strong>de</strong> internet e uma <strong>de</strong> TV, sendo que na<br />

<strong>de</strong> TV, muitos criativos me perguntavam: “Qual é a idéia <strong>de</strong>sse filme? O que ele tem a ver com o produto?”. O maravilhoso filme<br />

do gorila que é baterista é uma gran<strong>de</strong> peça <strong>de</strong> entretenimento, indiscutivelmente.<br />

Se tirássemos o chocolate e colocássemos uma televisão, funcionaria da mesma maneira. Eu tenho que admitir que é<br />

possível, porque é o que está acontecendo hoje no mundo; é uma forma <strong>de</strong> pensar diferente. O consumidor já enxerga<br />

diferente; no comercial do gorila que está com aquela bateria com um tubo rodando – foi inclusive um case no Youtube<br />

–, foi impressionante a audiência e todos se encantavam com essa mensagem, mas guardavam o chocolate, mesmo sem<br />

o raciocínio lógico, criativo com que estávamos habituados até hoje. Esse é meu pensamento; acho que essa atitu<strong>de</strong> está<br />

acontecendo no mundo inteiro. Já vinha lá no Color Balls da Sony e é a mesma coisa. Po<strong>de</strong>mos pensar em vários, mas esse tem<br />

até mais pertinência, pela história das cores, mas é um gran<strong>de</strong> entretenimento.<br />

O filme era encantador, hipnotizante, com aquelas bolinhas pulando nas ruas <strong>de</strong> São Francisco. Como esse exemplo, nós<br />

temos diversos acontecendo no dia-a-dia hoje. Evi<strong>de</strong>ntemente, o Bran<strong>de</strong>d Content também é uma realida<strong>de</strong> da qual também<br />

não po<strong>de</strong>mos tirar os olhos, pois ocorre no mundo inteiro; nós mesmos já estamos produzindo diversos trabalhos como o<br />

Bran<strong>de</strong>d Content. Inclusive, fizemos aqui no Brasil a série <strong>de</strong> dramaturgia Mothern, uma das quatro melhores do mundo num<br />

Emmy Awards do ano passado, em que, <strong>de</strong> fato, usamos o Bran<strong>de</strong>d Content com a Unilever, através <strong>de</strong> Omo, sem mostrar o<br />

produto. Mostramos só a criança, que sujar faz bem.<br />

é indispensável todo esse tipo <strong>de</strong> recurso, <strong>de</strong> ferramenta, e a criação brasileira tem que estar acordada para isso. Eu queria<br />

enfatizar e também concordar com a tese que o Nizan e o P.J. <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>ram: os talentos brasileiros estão cada vez mais<br />

exportados, com cada vez mais sucesso fora.<br />

Nizan Guanaes<br />

Quanto é que você produz hoje para fora, João?<br />

João Daniel Tikhomiroff<br />

Hoje é 60% da nossa produção <strong>de</strong> conteúdo da Mixer, mais as co-produções internacionais. Neste momento, eu estou com<br />

nove trabalhos em co-produção para seis países diferentes em conteúdo.<br />

Nizan Guanaes<br />

Quantos caras você está usando do mundo no seu longa?<br />

João Daniel Tikhomiroff<br />

O fotógrafo que vai trabalhar no próximo filme do Spielberg em janeiro é equatoriano. Ele vai fotografar meu filme. A equipe<br />

toda <strong>de</strong> ação é chinesa, a mesma que fez O Tigre e o Dragão, Kill Bill e trabalhou com o Tarantino. Os dois chegam neste<br />

domingo; é uma equipe sensacional. Todo o trabalho <strong>de</strong> pós-produção está sendo feito no Brasil e os recursos <strong>de</strong> finalização<br />

em 3D, no Canadá. Estamos usando talentos internacionais e trazendo para o Brasil também. Isso é muito importante, como o<br />

Nizan estava falando. é uma via <strong>de</strong> mão-dupla: temos que levar talentos e trazer talentos; temos que dar nossa criativida<strong>de</strong> e<br />

trazer a criativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> fora para cá. Essa mistura, que tão bem colocou o P.J., fez nossa raça brasileira ser tão criativa.<br />

Meu sócio, Vicente Amorim, por exemplo, acabou <strong>de</strong> dirigir um longa-metragem em inglês. Ele foi convidado, a Mixer é<br />

produtora associada, e o filme se chama Good com o Vigo Mortensen.<br />

244 245<br />

COMISSÃO 6 - CRIAT<strong>IV</strong>IDADE BRASILEIRA


O Vicente, como diretor brasileiro, foi convidado a dirigir na Europa uma superprodução européia-inglesa, em língua inglesa,<br />

sem atores brasileiros. Ele foi escolhido porque era um dos <strong>de</strong>z talentos eleitos nos Estados Unidos como novo talento realizador<br />

em dramaturgia. Fernando Meireles também fez o mesmo com “O Jardineiro Fiel”, um filme inglês, e ele foi convidado para<br />

dirigir lá fora. Temos exemplos <strong>de</strong> talentos brasileiros que são reconhecidos e trabalham para fora, em produções importantes<br />

da nossa comunicação e do entretenimento mundial.<br />

A criativida<strong>de</strong> brasileira tem que ficar acordada para as diversas plataformas e transitar <strong>de</strong> uma maneira inteligente, com<br />

qualida<strong>de</strong>. Não adianta também termos um monte <strong>de</strong> telas, a tecnologia é formidável, com orçamentos incríveis. Isso funciona<br />

nos cinco minutos <strong>de</strong> fama daquele produto, mas precisamos saber o que passar nessas tecnologias, com criativida<strong>de</strong> e<br />

qualida<strong>de</strong>. Caso contrário, as telas vão continuar vazias e vamos continuar centrados numa gran<strong>de</strong> tela só. Obrigado.<br />

Nizan Guanaes<br />

Uma das coisas que o Brasil tem <strong>de</strong> mais qualida<strong>de</strong> é o planejamento. Temos uma inteligência <strong>de</strong> planejamento que po<strong>de</strong><br />

ser exportada, que não tem barreira <strong>de</strong> língua. Nós temos <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o Ricardo Guimarães até o Rony, um espectro amplo <strong>de</strong><br />

inteligências que não têm problema com a barreira <strong>de</strong> língua. Por isso, passo a palavra agora a um dos maiores homens <strong>de</strong><br />

criação que conheço, um homem <strong>de</strong> planejamento, Pedro Cruz.<br />

Pedro Cruz<br />

Boa tar<strong>de</strong>. Quando o assunto é criativida<strong>de</strong>, na minha opinião, são três os pilares do que eu entendo que vai colaborar com<br />

nosso papo <strong>de</strong> hoje. Primeiro, o nosso mercado é calcado em capital intelectual; nós não temos fábricas <strong>de</strong> idéias; temos<br />

cabeças e <strong>de</strong>ssas nossas cabeças é que se cria essa indústria gigante e inspiradora que temos no Brasil.<br />

Para esse capital intelectual nutrir a criativida<strong>de</strong> brasileira – a outra idéia é a da criativida<strong>de</strong> bem nutrida, precisamos do terceiro<br />

ponto, repertório. O Rony falou bastante sobre esse assunto e a importância <strong>de</strong> estarmos conectados com o espírito da nossa<br />

época, abertos para mudanças, termos coragem e não termos medo.<br />

Vou dar um exemplo muito rápido da minha vida profissional, porque não estive sempre <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> agências. Comecei na<br />

Ambev, que, na verda<strong>de</strong>, foi a minha gran<strong>de</strong> escola. Saí <strong>de</strong> lá duas vezes e voltei uma. Na primeira vez, saí porque eu tive uma<br />

oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> trabalhar no Oriente Médio, no Kuait, logo após o final da primeira guerra do Golfo. Foi muito interessante<br />

trabalhar <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> um contexto cultural, religioso e social totalmente diferente, porque nos tira todas as bases, todas as<br />

crenças. Entramos em um território absolutamente novo, que exige <strong>de</strong> nós muita flexibilida<strong>de</strong> – que, coinci<strong>de</strong>ntemente,<br />

também é um dos gran<strong>de</strong>s pontos positivos da criação brasileira, do empresariado brasileiro, do empren<strong>de</strong>dor brasileiro –, e<br />

foi uma experiência muito rica.<br />

Quando eu voltei, voltei para a Ambev, que, na verda<strong>de</strong>, era Cia. Cervejaria Brahma. Nessa ocasião, eu me lembro que tive<br />

que passar por uma pequena sabatina com o Magim Rodrigues e o Marcel Telles, que me perguntaram por que <strong>de</strong>veriam<br />

me aceitar <strong>de</strong> volta, se daqui a pouco eu po<strong>de</strong>ria <strong>de</strong>cidir ir para a China. E eu disse: “é porque tenho certeza <strong>de</strong> que voltei<br />

um profissional melhor <strong>de</strong>ssa experiência lá fora. Se por acaso eu sair <strong>de</strong> novo, tenho certeza <strong>de</strong> que também voltarei melhor<br />

ainda”. Eles acharam graça e, obviamente, voltei para a Ambev.<br />

De novo, faço uma referência ao que o Rony disse: a ligação fundamental das pessoas que pensam negócios e comunicação,<br />

um <strong>de</strong>sdobramento básico dos negócios, para estar abertos para o mundo, e não só para levar o que é brasileiro para lá, mas<br />

também para receber; ou seja, fundamentar esse intercâmbio <strong>de</strong> uma maneira redonda.<br />

Por exemplo, em 2000, a última coisa <strong>de</strong> que participei num projeto foi a elaboração da Skol Beats, que virou, em poucos anos,<br />

um dos maiores festivais <strong>de</strong> música eletrônica do mundo pela competência operacional da empresa, etc. Mas é interessante<br />

olhar o que aconteceu antes, porque culturalmente, <strong>de</strong>ntro da Ambev, existia um direcionamento <strong>de</strong> como olhar para eventos<br />

e como olhar para a diversão e o entretenimento, que não passava por música eletrônica, não fazia parte do universo da<br />

cerveja.<br />

Aí, a coragem a que o Rony se referiu. é fundamental estar numa empresa que investe e acredita, sem nem mesmo ter certeza<br />

<strong>de</strong> que isso trará resultados absolutos.<br />

Tive que fazer duas ou três viagens internacionais antes <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolver o mo<strong>de</strong>lo que lançou a Skol Beats no Brasil em 2000,<br />

e que <strong>de</strong>pois foi levado à frente com muita competência por uma série <strong>de</strong> parceiros, colaboradores, etc. Voltando a um<br />

dos pontos que eu queria enfatizar: repertório, diversida<strong>de</strong> e profundida<strong>de</strong> <strong>de</strong> conhecimento, porque sem isso, nós não<br />

conseguimos fazer diferença.<br />

Na medida em que conseguimos trazer o trabalho para <strong>de</strong>ntro do universo da comunicação, <strong>de</strong>ssa nossa indústria calcada<br />

e que se <strong>de</strong>senha fundamentalmente por capital intelectual, que agrega valor para essa criativida<strong>de</strong>, para nossos negócios,<br />

conseguimos fazer a diferença <strong>de</strong> uma forma perene.<br />

Essa também é uma outra graça, que não é fazer diferença pontualmente, mas <strong>de</strong> maneira perene. O nosso negócio é calcado<br />

em capital intelectual, em tudo que está <strong>de</strong>ntro da nossa cabeça. O que está <strong>de</strong>ntro da nossa cabeça <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>de</strong> ser muito<br />

bem alimentado, da maneira como nós nos relacionamos com o mundo, do que entregamos e do que recebemos. Isso para<br />

fazer com que a criativida<strong>de</strong> brasileira por aqui e brasileira pelo mundo seja cada vez mais bem nutrida. Estes são os três<br />

pontos: capital intelectual, diversida<strong>de</strong> e profundida<strong>de</strong> <strong>de</strong> conhecimento para viabilizar uma criativida<strong>de</strong> bem nutrida no<br />

longo prazo. Muito obrigado.<br />

Nizan Guanaes<br />

é verda<strong>de</strong> que para que possamos ter essa publicida<strong>de</strong> forte aqui e lá fora, é preciso ter uma geração da qual inclusive eu<br />

faço um mea culpa. Sinto que este <strong>Congresso</strong> é uma conquista do trabalho extraordinário do Dalton Pastore, Luiz Lara, Sérgio<br />

Amado e essa retomada é importante, porque a minha geração foi <strong>de</strong> certa forma omissa com esses pilares que garantem<br />

oxigênio para isso.<br />

Por isso, convi<strong>de</strong>i para compor essa mesa e falar conosco o Adilson Xavier que, além <strong>de</strong> ser um brilhante e fantástico criativo,<br />

tem sido sempre uma pessoa comprometida com essas instituições, porque é como se a criativida<strong>de</strong> fosse a nossa alma, como<br />

se nós não cuidássemos do nosso corpo e <strong>de</strong>ixássemos o Cenp, o Conar, a <strong>Abap</strong> e as coisas à <strong>de</strong>riva, como <strong>de</strong>ixou minha<br />

geração muito focada em outras coisas. Agora nós estamos retomando esse fôlego, uma coisa fundamental para garantir<br />

condições.<br />

Adilson xavier<br />

Obrigado, Nizan. Boa tar<strong>de</strong> a todos. Quero chamar a atenção para o tema do nosso <strong>Congresso</strong>, Criando o Futuro. Sem querer<br />

comparar com todos os outros <strong>de</strong>bates que estão acontecendo aqui, esse é o <strong>de</strong>bate nuclear do nosso <strong>Congresso</strong>: estamos<br />

falando <strong>de</strong> criativida<strong>de</strong>. Eu não acredito que se possa criar o futuro ficando apegado ao passado; também não acredito que se<br />

possa criar o futuro <strong>de</strong>sprezando o passado.<br />

Estamos aqui conversando sobre transformação. O mundo está em transformação e é o que precisamos fazer. Não é opcional.<br />

Como disse o Nizan, a opção é morrer. Precisamos nos transformar, aperfeiçoar e parar <strong>de</strong> reclamar. é muito fácil culpar terceiros<br />

pelos nossos eventuais insucessos. Nós mostramos criativida<strong>de</strong> mostrando, e não falando.<br />

Quem foi a Cannes neste ano viu até uma confusão <strong>de</strong> idéia com plataforma. As pessoas estão achando que a novida<strong>de</strong> é<br />

a plataforma; há um <strong>de</strong>slumbramento tecnológico confundindo os conceitos. Vamos simular uma coisa: Criando o Futuro,<br />

Painel <strong>de</strong> Criativida<strong>de</strong>, vamos falar <strong>de</strong> idéia. Essa é a coisa a ser preservada; além <strong>de</strong> todas as vantagens que o P.J. mostrou aqui<br />

muito bem, temos alguns traços <strong>de</strong> caráter muito admirados pelo mundo, e que facilitam a geração <strong>de</strong> idéias. O mundo não<br />

admira só os irmãos Campana, não! Admira o jeito <strong>de</strong> ser do brasileiro: a espontaneida<strong>de</strong>, intuição, <strong>de</strong>scontração, capacida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> resposta rápida – fomos treinados para ter respostas rápidas e o mundo precisa <strong>de</strong>las.<br />

Vou sintetizar a introdução na seguinte frase: somos muito melhores do que o que estamos fazendo. Somos bons, mas<br />

cuidado para não confundir otimismo com ufanismo. Otimismo é muito bacana e ufanismo é péssimo. Dentro <strong>de</strong>sse conjunto<br />

<strong>de</strong> esforços, o que precisamos fazer para proteger a idéia e proteger o que vale ser remunerado? Somos pagos essencialmente<br />

para gerar idéias; somos fábricas <strong>de</strong> idéias, seja qual for a disciplina.<br />

Existem instituições e elas, <strong>de</strong> alguma forma, ficam em segundo plano. Aí entra o que o Nizan já chamou a atenção na<br />

introdução: os criativos, motivados por várias razões, acabam não querendo participar das instituições que existem para<br />

preservar o nosso negócio, a geração <strong>de</strong> idéias. Estamos aqui reunidos graças à <strong>Abap</strong>. Muito mais que qualquer benefício<br />

interno, estamos fazendo um sinal muito importante para o mercado; essa coisa é séria. Os caras estão lá pensando, e eles<br />

são muito fortes. A abertura foi com o Kofi Annan, parecia até a ONU! Vi aquele plenário na televisão, meu Deus! A <strong>Abap</strong> é<br />

importante para nós! Não adianta ficar reclamando da <strong>Abap</strong>, da ABP, sem participar; não adianta reclamar do Conar – os<br />

criativos têm muitos momentos <strong>de</strong> atrito com o Conar.<br />

Temos que entrar e ajudar a melhorar, dar um toque <strong>de</strong> espontaneida<strong>de</strong> e clarear. Se não concordamos, <strong>de</strong>vemos ir até lá e<br />

reclamar, participar, não <strong>de</strong> fora, mas lá <strong>de</strong>ntro. O Cenp é importantíssimo para manter nosso negócio; os clubes <strong>de</strong> criação<br />

têm uma função importantíssima, e não po<strong>de</strong>m ser um tiroteio <strong>de</strong> vaida<strong>de</strong>s. Se continuarmos assim, não iremos a lugar<br />

nenhum. Temos que trabalhar com o objetivo <strong>de</strong> proteger a essência do nosso negócio. Ouvem-se muitas críticas e um certo<br />

toque vetusto nas instituições, meio careta, meio antigo. Essas críticas têm que ser <strong>de</strong>volvidas a quem as faz. Precisamos dar<br />

uma roupagem <strong>de</strong> comunicação a todas as nossas instituições; precisamos nos orgulhar <strong>de</strong>las, protegê-las, porque são elas<br />

que protegem o nosso negócio.<br />

Nizan Guanaes<br />

é muito importante que esse respeito seja <strong>de</strong> 360 graus, porque a publicida<strong>de</strong> não po<strong>de</strong> ficar cuidando da sua remuneração<br />

e ver o marketing promocional aviltado, ver prestadores <strong>de</strong> serviços sendo achatados, ficar calada e não ser solidária. é como<br />

se a criativida<strong>de</strong> não tivesse corpo e é como se, <strong>de</strong> fato, não acreditássemos nela. é fundamental que o esforço que estamos<br />

fazendo para melhorar a remuneração <strong>de</strong> nossas idéias seja um respeito <strong>de</strong> 360 graus: respeito aos fornecedores, produtoras,<br />

produtoras <strong>de</strong> jingles, marketing profissional, e se não fizermos isso através das associações, tudo o que temos dito aqui nestas<br />

Comissões tão importantes, terá sido mentira, pois se o mercado é comunicação integrada, a publicida<strong>de</strong> também vai ter que<br />

ser solidária com esses parceiros que nos fazem construir o todo; isso vai fazer parte da nossa proposta.<br />

Estrangeiros não são só pessoas do exterior. Maurício Magalhães é o estrangeiro vindo da área da televisão. Flavia Faugeres é<br />

da Ambev, ela veio <strong>de</strong> Marte e vai falar <strong>de</strong> custos. Também temos trazido estrangeiros para estar conosco e vou mostrar que<br />

quando se fala <strong>de</strong> trazer estrangeiros num país como o Brasil, que tem problema <strong>de</strong> <strong>de</strong>semprego, ficamos pensando logo no<br />

lado negativo. Mas não po<strong>de</strong>mos negar que o olhar do Zaragoza, do Petit, da Maggy Imoberdorf e da Helga Mitnick, do Andrés<br />

Bukowinski transformaram a propaganda brasileira. é só enten<strong>de</strong>rmos como a continuação disso.<br />

Este congresso foi aberto por um negro internacional; <strong>de</strong>pois houve uma palestra <strong>de</strong> manhã <strong>de</strong> um italiano ju<strong>de</strong>u, cujo pai veio<br />

para o Brasil e ao invés <strong>de</strong> começar editando a Veja, começou pelo Pato Donald, porque viu que o negócio era entretenimento.<br />

Depois, ouvimos a palestra do João Saad, cujo pai, como os meus e como muitos outros, saíram do Líbano – meus avós, por<br />

exemplo, saíram do Líbano para visitar uns amigos na Bahia. Estamos aqui diante <strong>de</strong> um Sirotsky. Vamos ouvir hoje o João<br />

Roberto Marinho, que é filho <strong>de</strong> um sujeito que era o “P.J. da época”, porque para comprar o microfone, ele arrendou a casa aos<br />

65 anos e entrou em um meio completamente novo!<br />

Estamos falando <strong>de</strong> coisas concretas, que não vão matar e não vão tirar lasca, e nós só nos abrirmos para o mundo para que<br />

possamos conquistá-lo, e não para sermos conquistados por ele. é uma via <strong>de</strong> duas mãos.<br />

Passo a palavra ao estrangeiro Maurício Magalhães, que inclusive fala com sotaque diferente porque é baiano.<br />

maurício magalhães<br />

Boa tar<strong>de</strong>. O Nizan começou lendo as manchetes históricas do Meio & Mensagem, remetendo ao tema <strong>de</strong>sse painel <strong>de</strong><br />

comunicação integrada e criativida<strong>de</strong>, e fiquei pensando, ao longo do dia, como seremos vistos futuramente; que manchetes<br />

existirão <strong>de</strong>sta época que estamos vivendo, assim como hoje remontamos a todas essas manchetes. Algumas <strong>de</strong>las, inclusive,<br />

nos levam a crer que os <strong>de</strong>bates permaneceram, outros tiveram vanguardas muito gran<strong>de</strong>s e, seguramente, acho que a gran<strong>de</strong><br />

evolução que tivemos neste período recente que absolutamente virou o Brasil <strong>de</strong> cabeça para baixo é uma <strong>de</strong>mocratização<br />

brutal nas escolhas.<br />

A tecnologia permitiu que houvesse uma fragmentação da socieda<strong>de</strong> em grupos que se formatam, <strong>de</strong>sformatam e reformatam<br />

a cada hora. Eu fazia ativida<strong>de</strong> física numa aca<strong>de</strong>mia aqui <strong>de</strong> São Paulo que patrocinava vôlei para quem não tem as pernas<br />

ou tem só uma. Coisas inimagináveis há algum tempo atrás. Ao longo do tempo, até acho que foi dito pelo Adilson que o<br />

surgimento <strong>de</strong> plataformas tem sido muito confundido. Eu concordo plenamente. Que plataformas teremos no futuro? As<br />

pessoas que tiveram sucesso e vitórias ao longo <strong>de</strong>sses últimos anos foram as que perceberam essas mudanças e que não se<br />

travaram em conceitos estabelecidos.<br />

246 247<br />

COMISSÃO 6 - CRIAT<strong>IV</strong>IDADE BRASILEIRA


Algumas das manchetes que talvez o Nizan não tenha lido aqui: “Mídia e não-mídia”, “Advertising e não-Advertising”, são <strong>de</strong>bates<br />

que hoje achamos até engraçados, discutindo o passado. Na verda<strong>de</strong>, aquela pizza que tem <strong>de</strong> um lado a publicida<strong>de</strong> e do<br />

outro, um monte <strong>de</strong> fatias pequenas, no fundo, foi até um status, porque só existiu um lado <strong>de</strong> uma pizza. é a compreensão da<br />

comunicação, a essência <strong>de</strong> falar com pessoas que a tecnologia, hoje, torna possível. Ao mesmo tempo, o nosso segmento é<br />

extremamente complexo na capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> comunicar. Pensei como as pessoas falariam comigo, se trabalho 12 horas por dia,<br />

viajo, vou ao cinema, vejo TV ao longo do fim da noite, não leio todas as publicações, e faço parte <strong>de</strong> um target que também,<br />

in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente do meu comportamento, no final <strong>de</strong> semana, tem outros tipos <strong>de</strong> comportamento. Logo, como as<br />

marcas po<strong>de</strong>riam se comunicar comigo? Em minha opinião, a gran<strong>de</strong> sabedoria que estamos enten<strong>de</strong>ndo como realida<strong>de</strong><br />

hoje e apontando para o futuro é: quem vai sair vitorioso é quem apren<strong>de</strong>r a combinar linguagens. A regra do jogo agora é<br />

montagem <strong>de</strong> equação, in<strong>de</strong>legável <strong>de</strong> cada um. Muitas vezes, vocês terão soluções só na publicida<strong>de</strong>, ou, como foi dito aqui,<br />

no Google, uma solução genial através da assessoria <strong>de</strong> imprensa. Também po<strong>de</strong>m surgir combinações como a Coca Diet<br />

e a Menthos, uma solução absolutamente genial que virou o conteúdo que assistimos aqui. é a questão das linguagens, do<br />

amadurecimento; algumas são novas e outras, antigas, amadurecidas. O futebol global não está há 18 anos na tela da Globo<br />

como gra<strong>de</strong>. Era um evento isolado, que se ouvia no rádio <strong>de</strong> pilha. Fui ao estádio para ver um jogo e vi o replay pelo celular.<br />

Existe uma combinação <strong>de</strong> linguagem por evento ou conteúdo.<br />

O Oscar é um evento ou um conteúdo? E o carnaval da Marquês <strong>de</strong> Sapucaí? Há eventos que estão servindo como estratégias<br />

<strong>de</strong> gra<strong>de</strong> nos próprios veículos, assim como a Abril tem a sua <strong>de</strong> Visão, sua plataforma <strong>de</strong> eventos.<br />

Minha consi<strong>de</strong>ração é muito simples: é a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> enten<strong>de</strong>rmos a idéia e a criativida<strong>de</strong> a serviço da combinação <strong>de</strong><br />

linguagens na montagem <strong>de</strong> equações específicas, que são in<strong>de</strong>legáveis. O sucesso está atrelado aí, diante <strong>de</strong> tudo o que<br />

vimos e ouvimos. Obrigado.<br />

Nizan Guanaes<br />

A partir disso, queremos agora submeter a vocês a nossa tese, que são consi<strong>de</strong>rações e <strong>de</strong>pois propostas e gostaríamos <strong>de</strong><br />

pedir que mandassem em papéis por escrito recomendações à tese. Pelo regulamento, não são feitas interferências.<br />

Nossa proposta é o “manifesto bossa-nova por uma criativida<strong>de</strong> brasileira mundial”. A criativida<strong>de</strong> brasileira <strong>de</strong>ve <strong>de</strong>rrubar<br />

fronteiras, sair da reação para a ação, sair da <strong>de</strong>fesa para o ataque.<br />

Devemos <strong>de</strong>rrubar a fronteira que limita a publicida<strong>de</strong> a ser somente publicida<strong>de</strong>, e o publicitário a pensar somente como<br />

publicitário. Geramos idéias e idéias não têm fronteiras. Temos que romper inclusive com a fronteira do comando, que leva<br />

o publicitário a pensar que ele está no comando das outras disciplinas, quando na verda<strong>de</strong> quem está no comando e on<br />

<strong>de</strong>mand é o consumidor.<br />

Devemos superar a fronteira que limita a remuneração das nossas idéias somente à mídia. O que é remuneração através da<br />

mídia é importante, é uma conquista nossa e não <strong>de</strong>vemos per<strong>de</strong>r. Mas há outras idéias que não po<strong>de</strong>mos ficar dando <strong>de</strong><br />

graça, simplesmente porque não têm mídia! Porque uma idéia po<strong>de</strong> não ter mídia; ela po<strong>de</strong> ser um prédio – eu propus à Vale<br />

do Rio Doce um prédio –, um <strong>de</strong>sign, um buzz, a garrafa <strong>de</strong> Coca-Cola que foi Grand Prix <strong>de</strong> Design <strong>de</strong> Cannes e o iPhone, a<br />

idéia do ano da Creative Magazine. Nós temos instrumentos, talentos para enfrentar isso. Por que não po<strong>de</strong>mos ter butiques<br />

<strong>de</strong> planejamento no mundo? Por que não po<strong>de</strong>mos ter, no interior, empresas que vão ven<strong>de</strong>r marketing direto para a América<br />

Latina e para a África? Qual é o problema?<br />

Romper a falsa fronteira da barreira da língua. Não po<strong>de</strong>mos nos escon<strong>de</strong>r atrás <strong>de</strong>ssa barreira imaginária; o redator mais<br />

premiado <strong>de</strong> 2007 trabalha em Londres e é brasileiro. Design não precisa <strong>de</strong> língua, evento não precisa <strong>de</strong> língua, marketing<br />

direto não precisa <strong>de</strong> língua, e o principal centro <strong>de</strong> call center do mundo fica em Bangalore, na Índia. O mundo é plano.<br />

Devemos transpor a fronteira que limita a nossa ambição e o nosso pensamento <strong>de</strong> negócios ao mercado brasileiro, quando<br />

o talento brasileiro e as gran<strong>de</strong>s empresas brasileiras estão conquistando o mundo como a Vale, a Ambev, Anheuser Bush /<br />

Inbev, a Petrobras, Embraer, Havaianas, Gren<strong>de</strong>ne, irmãos Campana, os Gêmeos, Ícaro Dória, Rony, P.J., Roberto Medina e seus<br />

Rock in Rio pelo mundo, Paulo Coelho, Paulo Men<strong>de</strong>s da Rocha, Fernando Meirelles, Vik Muniz, Beatriz Milhazes. E quando<br />

Marcelo Serpa recebe a maior honra que um criativo brasileiro já recebeu, o Lifetime Achievement Award do Clio.<br />

Devemos abrir nossas fronteiras para as diversida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> olhares do mundo, porque este olhar estrangeiro do Zaragoza, do<br />

Petit, do Hans Donner, agregou no nosso passado. Este olhar misturado ao talento brasileiro po<strong>de</strong> nos ajudar a dar um novo<br />

salto mundial numa escala do tamanho do Bric. Mas não se consegue trazer um profissional do exterior, porque um visto <strong>de</strong><br />

trabalho <strong>de</strong>mora dois anos para sair. O processo tem que ser <strong>de</strong> duas vias. A Petrobras só trabalha com talento brasileiro? Não.<br />

Ela tem que trazer especialistas <strong>de</strong> fora; o mesmo ocorre com a Vale, a Ambev. Nós temos que abrir o pensamento; é uma via<br />

<strong>de</strong> mão dupla, e isso vai gerar riqueza e emprego.<br />

Devemos preparar profissionais sem barreiras; o maior exemplo disso é o que os brasileiros estão fazendo lá fora! Estamos<br />

falando <strong>de</strong> 30, 40 profissionais que são diretores <strong>de</strong> criação das maiores butiques e empresas do mundo, e são brasileiros!<br />

As melhores escolas criativas do mundo estimulam os seus alunos a passar pelo menos seis meses em outros países. E nossa<br />

aca<strong>de</strong>mia já <strong>de</strong>ve preparar profissionais mundiais <strong>de</strong> fábrica. Não tem sentido um sujeito hoje não falar inglês; meu filho<br />

está apren<strong>de</strong>ndo mandarim! Não tem sentido não falarmos em gestão. Este congresso tem avanços e normas, gestão, é<br />

uma forma <strong>de</strong> criativida<strong>de</strong>. Precisamos <strong>de</strong> Tomás Lorente como <strong>de</strong> Roberto Justus. Precisamos <strong>de</strong> Sérgio Amado, Luiz Lara,<br />

empreen<strong>de</strong>dores. O empreendorismo é uma forma <strong>de</strong> criativida<strong>de</strong>.<br />

Devemos ter processos e produtos compatíveis e competitivos com os padrões <strong>de</strong> negócios do mundo. Da mesma forma<br />

que temos que certificar nossos produtos para ser competitivos em tudo, temos que gerir não só nossa ca<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> custo, mas<br />

nossos hábitos, nossas práticas para uma dinâmica do mundo.<br />

Devemos quebrar a barreira da inércia; o que faz a diferença entre ser ou não ser mundial, é achar que po<strong>de</strong>mos; e o Brasil<br />

po<strong>de</strong>. Não é possível que o Rony tenha <strong>de</strong>scido <strong>de</strong> uma nave com o Menino Jesus, que disse: “agora, vocês, garotos <strong>de</strong> Porto<br />

Alegre po<strong>de</strong>m ir para o mundo!”. Esses caras vão lá e fazem.<br />

Estamos pregando a mundialização da criativida<strong>de</strong> que é brasileira, um passo à frente da globalização. A globalização é<br />

centrípeta e a mundialização é distributiva. Po<strong>de</strong> estar em qualquer canto do planeta, e o Brasil hoje tem condições que nunca<br />

teve na sua história. Ao invés da nostalgia com os velhos tempos, otimismo com a possibilida<strong>de</strong> dos novos tempos.<br />

Este <strong>Congresso</strong> não po<strong>de</strong> ser lembrado como o <strong>Congresso</strong> do Pânico e da Defesa, mas sim como o <strong>Congresso</strong> do Avanço e do<br />

Otimismo, da Frente Parlamentar, <strong>de</strong> todas as idéias que estão postas aí.<br />

Propomos e queremos ouvir sugestões <strong>de</strong> vocês:<br />

Construir através <strong>de</strong> uma <strong>Abap</strong> forte e <strong>de</strong> entida<strong>de</strong>s fortes como Cenp, Conar, ABA, Clube <strong>de</strong> Criação, ANJ, Abert, Grupo <strong>de</strong><br />

Mídia e todos os outros que ajudaram a fazer este congresso, um mercado com esta visão, esta ambição mundial e preparado<br />

para ela.<br />

Vamos ter fóruns <strong>de</strong> criativida<strong>de</strong> brasileira aqui e em Wall Street; aqui e na Índia; aqui e em Dubai, on<strong>de</strong> vamos mostrar e<br />

ven<strong>de</strong>r a Tátil, o Marcelo Serpa! Vamos ser caixeiros viajantes; não po<strong>de</strong>mos fazer um festival Wave no Rio e não irmos! Vamos<br />

todos ven<strong>de</strong>r lá.<br />

Temos que ter essa mentalida<strong>de</strong> mundial, articular com a área acadêmica a revisão dos currículos à luz das necessida<strong>de</strong>s<br />

mundiais. Ontem o Eduardo Fischer já falou disso aqui, e é uma prática fundamental, não só a comunicação integrada, mas<br />

compreen<strong>de</strong>r o raciocínio do mundo. O Rony fala do sentido antropológico, mas há países em que a comunicação brasileira<br />

não vai entrar com publicida<strong>de</strong>, mas ela po<strong>de</strong> entrar com marketing direto; em outros, ela po<strong>de</strong> entrar com <strong>de</strong>sign; em outros,<br />

ainda, ela po<strong>de</strong> entrar com eventos. Existem áreas <strong>de</strong> oportunida<strong>de</strong>, e nós precisamos enten<strong>de</strong>r disso também.<br />

Estimular o intercâmbio internacional <strong>de</strong> talentos e <strong>de</strong> profissionais <strong>de</strong> criação – mão dupla.<br />

Atrair para o mercado outros talentos, como antropólogos, sociólogos, historiadores, que contribuam para turbinar nossa<br />

criativida<strong>de</strong>. Vamos a Cannes, só quem faz Cannes vai a Ravello, a eventos <strong>de</strong> moda; eles vão beber <strong>de</strong> outras águas, <strong>de</strong> outra<br />

estética. Precisamos enten<strong>de</strong>r que <strong>de</strong>vemos encontrar outros bebedouros.<br />

Articular com órgãos como Apex, Ministério das Relações Exteriores, Ministério da Indústria e Comércio, a venda da criativida<strong>de</strong><br />

do Brasil como um emerging creative lea<strong>de</strong>r através <strong>de</strong> seminários, feiras, eventos no exterior e outras manifestações. Da<br />

mesma forma como a Itália abraçou a palavra <strong>de</strong>sign, o Brasil po<strong>de</strong> abraçar a palavra criativida<strong>de</strong>. Povo criativo, <strong>de</strong>sign criativo,<br />

promoção criativa, eventos criativos, televisão criativa, jornal criativo, abraçar o ma<strong>de</strong> creatively in Brazil.<br />

Dar uma agenda mundial à <strong>Abap</strong> e às nossas principais entida<strong>de</strong>s, <strong>de</strong> forma que elas não só <strong>de</strong>fendam os nossos interesses<br />

no Brasil, mas construam imagem e oportunida<strong>de</strong>s para a nossa criativida<strong>de</strong> lá fora. Por exemplo, um seminário do Conar na<br />

Unesco <strong>de</strong> Paris, mostrando como a comunicação brasileira se auto-regulamentou para respeitar as pessoas. E lá é o fórum<br />

certo para fazer.<br />

Devemos estar nessa agenda do mundo e colocar tudo o que falamos. Não falo só <strong>de</strong> publicida<strong>de</strong>, mas <strong>de</strong> <strong>de</strong>sign, internet,<br />

promoção, eventos, buzz, enfim, tudo o que gera criativida<strong>de</strong>.<br />

Conscientizar e mobilizar os profissionais <strong>de</strong> todas as áreas na <strong>de</strong>fesa intransigente <strong>de</strong> todas as entida<strong>de</strong>s que evitam a<br />

commoditização da criativida<strong>de</strong> e garantem nossa força <strong>de</strong> expressão, como <strong>Abap</strong>, Cenp, Conar, etc., e que, juntas, viabilizaram<br />

isso, inclusive mobilizando a publicida<strong>de</strong> para que ela seja engajada na justa remuneração <strong>de</strong> toda a ca<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> comunicação<br />

integrada e dos prestadores <strong>de</strong> serviços especializados. Já que a comunicação é 360 graus, o respeito profissional <strong>de</strong>ve ser<br />

360 graus. Não po<strong>de</strong>mos ver calados as produtoras serem achatadas o tempo todo, porque a criativida<strong>de</strong> precisa <strong>de</strong> corpos<br />

e sem a produtora <strong>de</strong> sonhos, a produtora <strong>de</strong> filmes, o profissional do evento, estarem sadiamente remunerados, não vamos<br />

alcançar os nossos projetos <strong>de</strong> sermos lí<strong>de</strong>res mundiais <strong>de</strong>ssa nova publicida<strong>de</strong>. Propaganda é a alma do negócio, mas o<br />

negócio também é a alma da propaganda.<br />

Desenhar um projeto <strong>de</strong> conscientização do empresário brasileiro, mostrando que a força da criativida<strong>de</strong> é um instrumento<br />

fundamental para construir marcas mundiais e preços premium. Afinal, o Brasil não po<strong>de</strong> ser um país só <strong>de</strong> commodities.<br />

Temos que usar a criativida<strong>de</strong> brasileira para dar valor agregado ao produto nacional. Criativida<strong>de</strong> é algo mensurável: quem<br />

faz produto barato é a China; se você não é a China, é melhor ter uma marca. Só quem vai lhe vacinar contra febre amarela é<br />

a comunicação, a construção <strong>de</strong> brand.<br />

Essas são as nossas propostas e teses para essa criativida<strong>de</strong> mundial brasileira. Agora queremos receber os comentários <strong>de</strong><br />

vocês. A Flavia vai chamar em or<strong>de</strong>m, <strong>de</strong>pois nós vamos votar.<br />

flavia faugeres<br />

Temos duas propostas, uma pergunta e um comentário. Vou pedir para o Wagner Martins, da TV Record, fazer sua proposta:<br />

padronizar as disciplinas básicas nas universida<strong>de</strong>s, melhorando o padrão dos alunos que saem das universida<strong>de</strong>s. Wagner,<br />

você tem 90 segundos para <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r sua proposta.<br />

Wagner martins<br />

Boa tar<strong>de</strong>. Estamos o tempo todo falando <strong>de</strong> olhar do futuro, plataformas, mídias, criativida<strong>de</strong>, etc., e o que se vê, <strong>de</strong> certa<br />

forma, é uma falta <strong>de</strong> preparo – sem querer generalizar; é claro, não são todas assim – dos alunos que saem das universida<strong>de</strong>s,<br />

há até um tempo atrás, em virtu<strong>de</strong> da multiplicação <strong>de</strong> universida<strong>de</strong>s e cursos por aí.<br />

A propaganda é a profissão da moda; hoje, ela é a medicina <strong>de</strong> antigamente. Minha sugestão é padronizar ou, pelo menos, ter<br />

um número <strong>de</strong> disciplinas básicas nas universida<strong>de</strong>s, para que esses alunos saiam mais bem-preparados. é lógico que uma vai<br />

se <strong>de</strong>stacar da outra em função <strong>de</strong> seu corpo docente, mas que se tenha no mínimo uma base para que essas universida<strong>de</strong>s<br />

possam formar nossos futuros profissionais.<br />

Nizan Guanaes<br />

Um profissional melhor faz a diferença. Por isso, uma das nossas propostas é a revisão dos currículos.<br />

flavia faugeres<br />

Vamos fazer a votação? Alguém tem alguma coisa contra incluir algumas disciplinas básicas para formação <strong>de</strong> publicida<strong>de</strong><br />

e todas as formas <strong>de</strong> comunicação? Recomendação aceita. Vou ler o que recebemos por e-mail, também sobre formação<br />

acadêmica. Estagiário só <strong>de</strong>ve ser contratado ser estiver estudando; os contratos <strong>de</strong>vem ser fiscalizados por órgãos do<br />

setor. Estagiário que cumpre papel <strong>de</strong> profissional <strong>de</strong>ve ser efetivado como profissional júnior; o papel do estagiário <strong>de</strong>ve<br />

ser esclarecido; ele está em etapa <strong>de</strong> aprendizado, e o papel da agência <strong>de</strong>ve ser ajudar em sua formação. Todo estágio<br />

<strong>de</strong>ve ser remunerado pelo menos com um salário mínimo mais <strong>de</strong>spesas <strong>de</strong> transporte e alimentação; é preciso estabelecer<br />

a base mínima salarial para profissional júnior e sênior <strong>de</strong> criação. Proposta enviada por Guga Lemes, da Agnelo Pacheco<br />

Comunicação.<br />

Posso consi<strong>de</strong>rar aprovada? Obrigada.<br />

248 249<br />

COMISSÃO 6 - CRIAT<strong>IV</strong>IDADE BRASILEIRA


Uma das perguntas é <strong>de</strong> Rômulo Groisman, da Biruta Mídias Mirabolantes.<br />

Como cobrar uma gran<strong>de</strong> idéia com um baixo custo <strong>de</strong> execução, já que os gran<strong>de</strong>s clientes fazem uma conta <strong>de</strong> remuneração<br />

em cima do custo <strong>de</strong> exibição pela execução? Exemplo: Menthos.<br />

Rômulo Groisman<br />

Esse é o novo formato <strong>de</strong> que estamos falando. O Maurício comentou, quando pensamos numa idéia, e ela po<strong>de</strong> ser usada<br />

em múltiplas plataformas e ganhar uma força muito maior do que o esperado. é um feeling nosso e geralmente não é<br />

acompanhado pelo cliente, que só faz a continha <strong>de</strong> quanto é o custo daqueles dois promotores que estavam naquele<br />

dia filmando aquele empreendimento, do custo da Coca-Cola e do Menthos, sem pensarem na coisa macro que é a mídia<br />

espontânea, toda repercussão que isso po<strong>de</strong> ganhar na internet, e outros inúmeros canais <strong>de</strong> mídia. Como precificar e, mais<br />

que isso, tentar fazer quem está do lado <strong>de</strong> lá da mesa enten<strong>de</strong>r uma gran<strong>de</strong> idéia?<br />

Nizan Guanaes<br />

Eu gostaria que nos concentrássemos em sugestões. Foi apresentado pela comissão <strong>de</strong> criativida<strong>de</strong> um conjunto <strong>de</strong> propostas<br />

e eu gostaria que só passássemos essas propostas agora. Sua pergunta é pertinente, mas neste exato momento, temos que<br />

estabelecer um conjunto <strong>de</strong> teses que saiam daqui aprovadas.<br />

flavia faugeres<br />

Há uma proposta que menciona que <strong>de</strong>veríamos acrescentar a proposta <strong>de</strong> intercâmbio aos intercâmbios nacionais também,<br />

porque <strong>de</strong>veríamos diminuir as diversida<strong>de</strong>s culturais estimulando a troca <strong>de</strong> informações em todo o Brasil. é para falarmos<br />

não só dos países, mas, <strong>de</strong>ntro do Brasil, também estimular esse intercâmbio <strong>de</strong> profissionais. Vamos votar a proposta: alguém<br />

tem algo contra? Está aprovada. Vamos fazer esse a<strong>de</strong>ndo à proposta.<br />

Nizan Guanaes<br />

Eu só quero reler as propostas; além da proposta do estagiário, a proposta <strong>de</strong> intercâmbios internacionais e nacionais, a <strong>de</strong><br />

regulamentar as disciplinas que po<strong>de</strong>m articular com a área acadêmica, construir uma <strong>Abap</strong> forte e estarmos preparados<br />

para essa missão mundial; articular com a área acadêmica a revisão dos currículos com estas recomendações; estimular o<br />

intercâmbio internacional e nacional <strong>de</strong> talentos e o processo <strong>de</strong> estágio que atrai talentos. Atrair para o mercado antropólogos,<br />

sociólogos e historiadores que contribuam para turbinar nossa criativida<strong>de</strong>; articular com os órgãos a criativida<strong>de</strong> brasileira<br />

como um creative lea<strong>de</strong>r; abraçar a palavra criativida<strong>de</strong> ao Brasil, ao produto brasileiro, aos profissionais brasileiros; dar uma<br />

agenda mundial à <strong>Abap</strong> e às nossas principais entida<strong>de</strong>s, como um seminário mundial do Conar na Unesco ou na ONU,<br />

mostrando nossas regras <strong>de</strong> regulamentação; conscientizar os jovens profissionais quanto à necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se mobilizarem<br />

ao redor dos nossos órgãos como a <strong>Abap</strong>, Abert e todas as outras entida<strong>de</strong>s; <strong>de</strong>senhar um projeto <strong>de</strong> conscientização do<br />

empresário brasileiro, mostrando que a força da criativida<strong>de</strong> é um instrumento fundamental. Aqui, a questão da venda da<br />

idéia; quem paga pela boa idéia é o concorrente.<br />

Eu, por exemplo, tenho uma empresa e não trabalho mais com mídia, só com idéias. Tenho “n” idéias e dois relógios: você po<strong>de</strong><br />

me pagar por hora ou por projeto; não tem mídia envolvida. Se quiser, você po<strong>de</strong> ter uma agência <strong>de</strong> propaganda, porque eu<br />

não quero ter, enten<strong>de</strong>u? São diversos formatos que po<strong>de</strong>mos fazer e vamos mais em frente.<br />

Se estiverem <strong>de</strong> acordo com essas propostas, levantem a mão ou aplaudam, porque vamos sair daqui com essas sugestões<br />

para o <strong>IV</strong> <strong>Congresso</strong> <strong>de</strong> Publicida<strong>de</strong>, ou, como é mais apropriado, da indústria da comunicação. Está aprovado.<br />

Comissão 7<br />

EfICÁCIA NO PlANEJAmENTO E COmPRA DE míDIA<br />

Ângelo franzão<br />

Bom dia. Quero agra<strong>de</strong>cer a presença <strong>de</strong> todos. é um momento bastante importante não só para o <strong>Congresso</strong>, mas para a<br />

ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> mídia. Há muito tempo aguardávamos esta oportunida<strong>de</strong> para discutir caminhos efetivos e concretos, que levam<br />

ao aperfeiçoamento da ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> mídia, seja em nível <strong>de</strong> planejamento como <strong>de</strong> negociação, além <strong>de</strong> outras áreas. é uma<br />

alegria muito gran<strong>de</strong> presidir este painel.<br />

Participei do último <strong>Congresso</strong> – eu estava com mais ou menos cinco anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>. Senti e vivi na prática a importância<br />

das <strong>de</strong>cisões daquele evento no sentido prático do <strong>de</strong>senvolvimento da ativida<strong>de</strong>. Portanto, tenho certeza que o que ficar<br />

<strong>de</strong>finido aqui será <strong>de</strong>terminante para maior qualida<strong>de</strong> da mídia daqui para frente.<br />

A Comissão trabalhou exaustivamente na formulação da tese que vamos apresentar e assim que recebemos o convite da <strong>Abap</strong><br />

para participar do <strong>IV</strong> <strong>Congresso</strong>, formamos uma Comissão no Grupo <strong>de</strong> Mídia para <strong>de</strong>bater, discutir e posicionar os assuntos<br />

mais relevantes da nossa ativida<strong>de</strong>. é importante registrar que os participantes ativos <strong>de</strong>ssa Comissão participaram também,<br />

mas a Comissão que participou ativamente dos trabalhos foi composta por Flavio Rezen<strong>de</strong> da DPZ, Daniel Chalfon da MPM,<br />

Luiz Fernando Vieira da África, Paulo César Queiroz da DM9, Paulo Stephan da Talent e Paulo Camossa da Almap-BBDO.<br />

A partir daí, discutimos uma série <strong>de</strong> itens e muitos <strong>de</strong>les estão refletidos na tese que vamos apresentar <strong>de</strong>pois.<br />

In<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente disso, convidamos profissionais para aperfeiçoar ainda mais a tese, e <strong>de</strong>monstrar, <strong>de</strong>bater, divulgar a<br />

importância da mídia e do profissional <strong>de</strong> mídia no <strong>de</strong>senvolvimento da ativida<strong>de</strong> do marketing e da propaganda em geral,<br />

da comunicação.<br />

Para formar a mesa agora, gostaria <strong>de</strong> chamar os nossos palestrantes: Luca Cavalcanti, diretor <strong>de</strong> marketing das Organizações<br />

Bra<strong>de</strong>sco que fará uma palestra apresentando suas pon<strong>de</strong>rações e, certamente, contribuirá muito para o aperfeiçoamento<br />

da tese. O segundo palestrante é Alexandre Gama, presi<strong>de</strong>nte e diretor geral <strong>de</strong> criação da Neogama/BBH, com gran<strong>de</strong>s<br />

qualificações <strong>de</strong> criativo e, acima <strong>de</strong> tudo, promovendo a integração com a mídia. Na apresentação do terceiro palestrante,<br />

Flávio Ferrari, CEO do Ibope Mídia, com ele será materializado tudo o que foi efetivamente discutido na Comissão realizada<br />

pelo Grupo <strong>de</strong> Mídia, tudo o que consi<strong>de</strong>ramos na formulação da tese.<br />

Queria também convidar nosso mo<strong>de</strong>rador, Fausto Silva, jornalista, apresentador e, a meu ver, o profissional do meio artístico<br />

que mais conhece o mercado e a ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> mídia. Enfim, é o profissional mais qualificado para estar aqui conosco <strong>de</strong>batendo<br />

e divulgando a tese.<br />

Gostaria <strong>de</strong> chamar, para compor a mesa, nosso secretário, Paulo Cesar Queiroz, vice-presi<strong>de</strong>nte executivo da DM9. Pela<br />

experiência, habilida<strong>de</strong> e respeito que temos por sua ativida<strong>de</strong> e por tudo o que ele tem feito <strong>de</strong>ntro da DM9, merece estar aqui<br />

conosco <strong>de</strong>batendo a tese. O relator, Oscar Matos, Diretor Comercial <strong>de</strong> O Globo, Extra, O Globo On-line, Diário <strong>de</strong> São Paulo.<br />

Todos conhecem o regimento interno do <strong>Congresso</strong>, e eu só queria relembrar dois pontos que acho importantes: as perguntas<br />

po<strong>de</strong>rão ser formuladas durante as apresentações. Serão três palestras e só po<strong>de</strong>rá falar quem estiver inscrito. é necessária a<br />

formulação da colaboração para a tese, da sugestão, e aí, sim, a pessoa po<strong>de</strong>rá falar. é importante esse registro.<br />

Segundo: quem se ausentar da sala por mais <strong>de</strong> 30 minutos não tem direito à votação. Nós vamos expor aqui uma tese que é<br />

fruto da discussão <strong>de</strong> tudo que foi feito, e a idéia é que ela tenha a colaboração <strong>de</strong> todos durante os <strong>de</strong>bates, <strong>de</strong> tudo o que for<br />

realizado aqui. Preten<strong>de</strong>mos aprovar a tese com todos os retoques que acontecerem durante o processo.<br />

Vamos assistir um ví<strong>de</strong>o. Colhemos algumas opiniões do mercado anunciante, exatamente para posicionar o atual momento<br />

da ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> mídia, o que ela tem feito, como ela contribui para o <strong>de</strong>senvolvimento dos negócios em geral e como tem<br />

potencializado a eficácia da comunicação. Depois, apresentaremos a tese, e, então, os palestrantes.<br />

Ví<strong>de</strong>o<br />

Texto do ví<strong>de</strong>o<br />

A Sadia é uma gran<strong>de</strong> empresa e favorita em sua categoria. Está presente na mídia há mais <strong>de</strong> 40 anos e, por isso, vê a área<br />

como muito relevante para o <strong>de</strong>senvolvimento da sua marca e dos seus negócios. Sempre vi nos profissionais <strong>de</strong> mídia uma<br />

preocupação com transparência e ética. São princípios fundamentais que <strong>de</strong>vem ser mantidos, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente dos<br />

rumos do <strong>de</strong>senvolvimento da área. Afinal, uma boa porcentagem do nosso budget <strong>de</strong> marketing é canalizada por esse meio.<br />

Hoje, o profissional <strong>de</strong> mídia é um profissional <strong>de</strong> negócio, que tem que alavancar o negócio <strong>de</strong> seus clientes.<br />

Um bom profissional <strong>de</strong> mídia po<strong>de</strong> criar equity para sua marca, ajuda a criar parcerias com veículos e outros anunciantes,<br />

eventos proprietários, ou seja, tem que conhecer <strong>de</strong> negócio e do negócio do seu cliente. Com o crescimento das alternativas<br />

<strong>de</strong> mídia, entramos no que chamamos plano completo <strong>de</strong> 360 graus. Vejo lentidão na adoção <strong>de</strong>ssas novas mídias e falo isso<br />

porque o volume <strong>de</strong> investimento na internet foi <strong>de</strong> 2,8% do investimento total <strong>de</strong> mídia. Precisamos acelerar a adoção <strong>de</strong><br />

todas as alternativas que temos ao nosso dispor.<br />

Queremos ter planos completos e integrados, que sejam avaliados <strong>de</strong> maneira integrada, ou seja, queremos a avaliação conjunta<br />

<strong>de</strong> frequência e <strong>de</strong> alcance <strong>de</strong> TV, com internet, eventos e patrocínios. Por fim, o investimento na área e nos profissionais<br />

<strong>de</strong> mídia é muito importante, pois vai contribuir muito para o <strong>de</strong>senvolvimento das nossas marcas e dos nossos negócios.<br />

Qualquer <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong>sse setor passa pelas pessoas que trabalham na mídia. Esse <strong>de</strong>ve ser o foco do investimento,<br />

porque elas vão fazer a diferença, junto com um investimento em pesquisa e tecnologia. Quero finalizar agra<strong>de</strong>cendo aos<br />

colegas pela oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> falar no <strong>IV</strong> <strong>Congresso</strong> <strong>Brasileiro</strong> <strong>de</strong> Publicida<strong>de</strong>.<br />

Não i<strong>de</strong>ntificado<br />

Texto do ví<strong>de</strong>o<br />

A eficiência da mídia é uma questão vital para a sustentabilida<strong>de</strong> do nosso negócio. Uma boa negociação engloba objetivos<br />

<strong>de</strong> comunicação a longo prazo e foco na i<strong>de</strong>ntificação dos públicos e seus meios a<strong>de</strong>quados. Marcas fortes são resultado <strong>de</strong><br />

esforços que alcançam visibilida<strong>de</strong>, conferem diferenciação e relevância. Isso <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>de</strong> um mix que consi<strong>de</strong>ra a mídia <strong>de</strong><br />

massa aliada aos meios segmentados, incorpora as novas mídias e também o fenômeno das re<strong>de</strong>s sociais. Esse é o gran<strong>de</strong><br />

250 251<br />

COMISSÃO 7 - EFICÁCIA NO PLANEJAMENTO E COMPRA DE MÍDIA


<strong>de</strong>safio que colocamos <strong>de</strong>ntro da Vivo e para nossas agências: acompanhar o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> novas formas <strong>de</strong> consumo<br />

<strong>de</strong> mídia, num mercado sempre aberto. Obrigado pela oportunida<strong>de</strong>.<br />

Não i<strong>de</strong>ntificado<br />

Texto do ví<strong>de</strong>o<br />

Vale ressaltar quatro pontos principais que <strong>de</strong>stacam o serviço que recebemos dos profissionais <strong>de</strong> mídia, que permitem que<br />

façamos cada vez mais um trabalho melhor, mais eficaz. Hoje, o cliente enfrenta uma situação <strong>de</strong> guerra competitiva para<br />

comprar; existe falta <strong>de</strong> espaço em algumas situações, não permitindo que compremos a mídia <strong>de</strong> que precisamos. E para<br />

isso, o profissional <strong>de</strong> mídia tem que conhecer esse ambiente e nos transmitir esse panorama, para que possamos tomar as<br />

<strong>de</strong>cisões necessárias em tempo hábil.<br />

Antigamente, na criação <strong>de</strong> um produto ou <strong>de</strong> uma comunicação para um produto, partia-se <strong>de</strong> uma idéia e aplicava-se essa<br />

idéia em algumas mídias. Hoje, esse não é o caso; o profissional <strong>de</strong> mídia está diretamente ligado à estratégia <strong>de</strong> comunicação,<br />

ao conceito criativo. Constrói-se um conceito <strong>de</strong> comunicação integrado a um <strong>de</strong>terminado produto muito mais forte e<br />

relevante para o nosso consumidor.<br />

No setor automotivo, cada vez mais vemos a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> fazer uma i<strong>de</strong>ntificação mais específica do target, fazer esse<br />

trabalho em sincronia com o posicionamento do produto. Quando levamos um produto ao mercado, o fato <strong>de</strong>ssa questão<br />

estar muito clara no momento <strong>de</strong> <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> mídia e do conceito criativo permite <strong>de</strong> novo essa otimização da criação com o<br />

investimento disponível e a forma pela qual o consumidor será atingido através da mídia. é o momento em que o profissional<br />

<strong>de</strong> mídia se faz absolutamente necessário para enten<strong>de</strong>r não as mudanças <strong>de</strong> comportamento do consumidor, que ele já<br />

conhecia, mas <strong>de</strong> forma mais importante, para a i<strong>de</strong>ntificação <strong>de</strong> novos consumidores que estão entrando no mercado, seus<br />

hábitos <strong>de</strong> consumo <strong>de</strong> informação e como inovar na estratégia e no trabalho para atingi-los <strong>de</strong> uma forma mais eficaz. Por<br />

isso mesmo, mídia hoje é, mais do que nunca, uma das principais pernas da estratégia <strong>de</strong> qualquer projeto <strong>de</strong> comunicação.<br />

Não i<strong>de</strong>ntificado<br />

Texto do ví<strong>de</strong>o<br />

Obrigado pela oportunida<strong>de</strong>. Vou aproveitar este momento para explorar dois pontos que, na minha visão, são fundamentais<br />

para garantir que tanto a mídia como vocês, profissionais <strong>de</strong> mídia, continuarão contribuindo positivamente para o<br />

fortalecimento do equity das nossas marcas, bem como para o sucesso das empresas no Brasil. O primeiro está ligado à nãocommoditização,<br />

à necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> “sair fora da caixa”, especialmente frente ao consumidor que se informa e se entretém das<br />

mais diversas formas.<br />

A mídia, por se tratar possivelmente <strong>de</strong> um dos principais pontos <strong>de</strong> conexão entre uma marca e um consumidor, precisa ser<br />

aplicada <strong>de</strong> maneira que reforce a diferenciação da marca, que corrobore para a formação da personalida<strong>de</strong> e do posicionamento<br />

<strong>de</strong>ssas marcas em <strong>de</strong>terminado mercado. No nosso caso, por exemplo, a TV aberta tem uma relevância diferente para o<br />

brahmeiro do que para o consumidor <strong>de</strong> Bohemia. Já que o consumidor <strong>de</strong> Skol é um sujeito plugado em várias mídias ao<br />

mesmo tempo, o mo<strong>de</strong>lo tem que ser diferente. Dessa forma, precisamos evoluir nos mo<strong>de</strong>los, porque o consumidor passa<br />

a ser cada vez mais um “pró-sumidor”, que, como tal, também quer interagir com nossas marcas. A tecnologia evoluiu a uma<br />

velocida<strong>de</strong> impressionante. Sabemos que o futuro não será como antigamente e que as armas <strong>de</strong> hoje não terão o mesmo<br />

po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> fogo amanhã. E são vocês, profissionais <strong>de</strong> mídia, que precisam nos ajudar a evoluir, a navegar nesse novo cenário; a<br />

estimular veículos a também evoluírem em suas propostas, para aten<strong>de</strong>r novas <strong>de</strong>mandas dos anunciantes.<br />

Dessa forma, meu primeiro estímulo é que vocês nos provoquem a sair da caixa. Estamos esperando por isso. Por outro lado,<br />

essa provocação tem que vir acompanhada <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>los cada vez mais avançados, que nos garantam eficiência em cada real<br />

investido no mercado. Chamamos isso <strong>de</strong> working money: o recurso da companhia que está voltado para o fortelecimento<br />

<strong>de</strong> nossas marcas no mercado junto aos consumidores. é importante dizer que, neste caso, não queremos economizar; nosso<br />

objetivo é rentabilizar nossos recursos e alcançar, <strong>de</strong>sta forma, resultados cada vez mais positivos e alinhados com nossos<br />

planos.<br />

Meu segundo estímulo para o grupo é o seguinte: queremos evoluir e ampliar os pontos <strong>de</strong> contato com os consumidores,<br />

mas queremos fazer isso com cada vez mais segurança, porque é a melhor opção para o investimento da companhia. Assim,<br />

precisamos evoluir tanto nos mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong> planejamento como nas formas <strong>de</strong> mensurar os nossos resultados. Desejo a todos<br />

um excelente <strong>Congresso</strong>, e que daí possam surgir várias iniciativas, tanto para reforçar o primeiro ponto – saltar fora da caixa<br />

–, como o segundo – mais eficiência. Um forte abraço a todos.<br />

Não i<strong>de</strong>ntificado<br />

Texto do ví<strong>de</strong>o<br />

é um gran<strong>de</strong> prazer falar para esse público. Poucas pessoas sabem que eu comecei com mídia há 20 anos e participei da<br />

equipe <strong>de</strong> planejamento da DPZ fazendo mídia. Naquele momento, a mídia era outra coisa; era muito mais importante ter<br />

bom-senso na questão <strong>de</strong> <strong>de</strong>sign, porque tinha aquele papel e eu tinha que fazer “x”, e no final, ficar bem distribuído na folha<br />

ou mapa <strong>de</strong> mídia. A mídia evoluiu muito <strong>de</strong> lá para cá e hoje estamos no momento em que acaba sendo um dos gran<strong>de</strong>s<br />

diferenciais <strong>de</strong> negócios para o anunciante. E a mídia se tornou um gran<strong>de</strong> diferencial, porque com a globalização, com a<br />

quebra das barreiras, com a tecnologia disponível para todo o mundo, a questão da diferenciação do produto passou a ser<br />

muito baixa. é muito difícil, hoje, encontrarmos realmente gran<strong>de</strong>s diferenciações em produtos. Quando falamos <strong>de</strong> empresa,<br />

as gran<strong>de</strong>s diferenciações passaram a ser marca/posicionamento e a forma como ela é comunicada ao seu público. Essa<br />

questão <strong>de</strong> mídia como forma diferenciada <strong>de</strong> comunicar e levar o posicionamento para o consumidor passou a ganhar o<br />

jogo, diferentemente <strong>de</strong> há tempos atrás, quando havia as barreiras e os produtos ofereciam diferenciais claros.<br />

No primeiro trabalho <strong>de</strong> mídia alternativa que fiz, há 20 anos atrás, falávamos <strong>de</strong> inflável ou <strong>de</strong> abrigo <strong>de</strong> ônibus e hoje em<br />

dia temos milhares <strong>de</strong> outras formas <strong>de</strong> comunicação. E quando eu, como anunciante, leio mídia, eu busco a maneira <strong>de</strong><br />

comunicar com eficiência. Significa pontos <strong>de</strong> contato com meu cliente. Hoje, quando mapeio meu cliente Carrefour, tenho<br />

mais <strong>de</strong> 25 formas eficientes <strong>de</strong> comunicação: ponto <strong>de</strong> venda, TV, tablói<strong>de</strong>, rádio, outdoor, marca própria – levar a marca para<br />

a casa do consumidor –, SAC – outra relação que o cliente tem com nossa marca. Eu avalio, <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>sse portfólio, as melhores<br />

formas <strong>de</strong> comunicar, as mais eficientes e as complementares, conseguindo assim ter bastante eficiência sobre o investimento<br />

que estou fazendo.<br />

Para mim, o papel <strong>de</strong>ssa nova mídia é i<strong>de</strong>ntificar todos esses pontos <strong>de</strong> contato da marca com o consumidor e tentar <strong>de</strong>finir<br />

<strong>de</strong>ntro disso o melhor portfólio <strong>de</strong> contatos e <strong>de</strong> comunicação a<strong>de</strong>quada por tipo <strong>de</strong> contato, para, com isso, garantir o<br />

melhor retorno do investimento. Essa é a nova mídia; todos os pontos <strong>de</strong> contato são válidos e <strong>de</strong>vemos abrir um pouco o<br />

leque em relação ao conceito convencional que reconhecemos hoje como mídia, porque cada vez mais a informação po<strong>de</strong><br />

chegar <strong>de</strong> diferentes formas, momentos e lugares. é um belo <strong>de</strong>safio e para isso o Brasil tem profissionais tão qualificados<br />

como vocês. Obrigado.<br />

Não i<strong>de</strong>ntificado<br />

Texto do ví<strong>de</strong>o<br />

O sucesso empresarial do Itaú, sem dúvida, está associado à capacida<strong>de</strong> e crença <strong>de</strong> se apoiar na indústria da comunicação,<br />

porque não basta criar uma empresa forte e com gran<strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>; é importante ser capaz <strong>de</strong> transmitir essa i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>. Isso<br />

é relevante na construção <strong>de</strong> uma marca, <strong>de</strong> negócios prósperos. A mídia é muito importante; às vezes, a forma <strong>de</strong> colocar a<br />

mensagem em um veículo é a diferença entre o sucesso e fracasso <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminada campanha, iniciativa.<br />

Assistimos à mudança <strong>de</strong> comportamento da socieda<strong>de</strong>, às <strong>de</strong>mandas da socieda<strong>de</strong>, mas também às oportunida<strong>de</strong>s que a<br />

tecnologia nos traz e hoje, <strong>de</strong>vemos olhar a mídia <strong>de</strong> uma maneira muito mais abrangente, globalizada, porque não há mais<br />

espaço para soluções triviais. Chegou o momento <strong>de</strong> enfrentar muito mais tecnicamente essas questões, colocar-se ao lado<br />

do gran<strong>de</strong> talento e do domínio dos nossos profissionais <strong>de</strong> mídia, uma extrema competência para enxergar como chegar às<br />

pessoas, à socieda<strong>de</strong>, com os melhores veículos e as melhores mensagens.<br />

No Itaú, acreditamos muito que esse é o <strong>de</strong>safio que vem sendo vencido com muito sucesso. Temos tido exemplos e números<br />

<strong>de</strong> iniciativas que nos têm sido colocadas para tornar nossos investimentos mais produtivos. é isso o que nós <strong>de</strong>sejamos e<br />

enten<strong>de</strong>mos que a indústria da comunicação po<strong>de</strong> ter na evolução da mídia, no entendimento <strong>de</strong> como a tecnologia po<strong>de</strong><br />

ser uma forte aliada, a resposta para ainda mais sucesso no futuro.<br />

Ângelo franzão<br />

Escolhemos diferentes clientes, marcas e categorias para potencializar tudo o que vamos discutir aqui em relação à mídia. Para<br />

isso, a Comissão <strong>de</strong>terminou a tese e concluiu alguns pontos que serão colocados na tela, para que todos se familiarizem com<br />

o que estamos montando.<br />

Tese oficial<br />

A Comissão conclui que a maior eficácia do planejamento e negociação <strong>de</strong> mídia começa, obrigatoriamente, no melhor<br />

entendimento do briefing, nas informações do consumidor, na geografia da marca, na análise da atuação da concorrência,<br />

nas oportunida<strong>de</strong>s do período da campanha, na receptivida<strong>de</strong> à comunicação, enfim, todas as informações básicas que<br />

consolidam as recomendações mencionadas num plano <strong>de</strong> mídia.<br />

Conclui ainda a Comissão que a maior eficácia nas negociações e compras <strong>de</strong> mídia só po<strong>de</strong>rá ser alcançada por meio da<br />

<strong>de</strong>talhada análise do potencial <strong>de</strong> distribuição da marca, da avaliação dos custos absolutos e relativos da mídia, da consi<strong>de</strong>ração<br />

das oportunida<strong>de</strong>s e propostas específicas para a marca.<br />

Enten<strong>de</strong> a Comissão que para a verda<strong>de</strong>ira eficácia tanto do planejamento como da negociação <strong>de</strong> mídia, <strong>de</strong>ve ser consi<strong>de</strong>rado<br />

o instrumental básico <strong>de</strong> pesquisa, não só em relação às pesquisas <strong>de</strong> mídia hoje existentes em todo o mercado, mas, acima<br />

<strong>de</strong> tudo, com informações proprietárias, ferramentas, avaliações pertinentes aos objetivos mercadológicos. Convém observar<br />

que a consi<strong>de</strong>ração <strong>de</strong>ssas informações nem sempre sugere recursos e investimentos. Muitas informações po<strong>de</strong>m e <strong>de</strong>vem<br />

ser adquiridas diante do talento do profissional e da acessibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminadas fontes.<br />

Enten<strong>de</strong> ainda a Comissão que o aperfeiçoamento da ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> mídia exige maior conscientização da importância e<br />

do valor do seu profissional e sua participação integral no processo da comunicação e do marketing. Essa conscientização,<br />

evi<strong>de</strong>ntemente, <strong>de</strong>ve ser feita pelo anunciante na consi<strong>de</strong>ração do profissional em todas as etapas do processo; na<br />

conscientização do próprio profissional ao sentir a importância <strong>de</strong>ssa participação, e na conscientização do próprio empresário<br />

da comunicação, especialmente em relação à necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> estruturar a área <strong>de</strong> mídia e gerar recursos para que esses<br />

profissionais consigam trabalhar a<strong>de</strong>quadamente.<br />

Portanto, <strong>de</strong>fen<strong>de</strong> e recomenda a Comissão:<br />

- a aplicação mínima <strong>de</strong> 1% das receitas das agências <strong>de</strong> propaganda em pesquisa e em ferramentas em geral;<br />

- a certificação formal e oficial do profissional <strong>de</strong> mídia que atua nessa área, a ser feita pelo Grupo <strong>de</strong> Mídia tanto <strong>de</strong> São Paulo<br />

como <strong>de</strong> outros estados, juntamente com as <strong>de</strong>mais associações. Essa recomendação é feita em nível formal e oficial. Depois,<br />

falaremos um pouco mais sobre isso e eu gostaria até <strong>de</strong> convidar Daniel Chalfon para, se possível, comentar o assunto,<br />

porque enten<strong>de</strong>mos que isso será fundamental para garantir o aperfeiçoamento da ativida<strong>de</strong>;<br />

- a unificação dos currículos dos Cursos <strong>de</strong> Mídia realizados nas Universida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Comunicação Social/Propaganda/<br />

Publicida<strong>de</strong>;<br />

- maior intercâmbio do Grupo <strong>de</strong> Mídia <strong>de</strong> São Paulo com outros Grupos <strong>de</strong> Mídia <strong>de</strong> outros estados e especialmente em nível<br />

internacional, já que temos catalogadas nos Grupos <strong>de</strong> Mídia outras associações, não como formato <strong>de</strong> Grupo <strong>de</strong> Mídia, mas<br />

como associações que concentram profissionais <strong>de</strong> mídia <strong>de</strong> outros países. A idéia é intensificar esses contatos, para garantir<br />

tudo o que existe <strong>de</strong> atual e mo<strong>de</strong>rno aqui do que há aí fora.<br />

Essa é a tese que preten<strong>de</strong>mos aperfeiçoar pelo regimento interno do <strong>Congresso</strong> e, para isso, eu gostaria <strong>de</strong> chamar os<br />

palestrantes. Faustão, eu gostaria que você comandasse e anunciasse os palestrantes.<br />

fausto Silva<br />

A gran<strong>de</strong> maioria aqui é <strong>de</strong> profissionais do meio, que conhecem a dinâmica e a modificação da função do mídia nos últimos<br />

tempos. Conheço esse trabalho <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o tempo em que trabalhava no rádio. Hoje o mídia tem que conhecer, mais do que<br />

ninguém, toda a realida<strong>de</strong> do país. Outro ponto: com essa globalização, muitas empresas trazem seus executivos <strong>de</strong> fora; eles<br />

chegam aqui achando que conhecem tudo, e o mídia precisa ter “jogo <strong>de</strong> cintura” para lidar com essas pessoas. Como se isso<br />

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COMISSÃO 7 - EFICÁCIA NO PLANEJAMENTO E COMPRA DE MÍDIA


não bastasse, há ainda o problema do anunciante que acha que enten<strong>de</strong> <strong>de</strong> marketing e mídia mais do que o mídia.<br />

O mídia também virou um consultor <strong>de</strong> investimentos, como diz sempre o Paulo Queiroz. Diante <strong>de</strong>ssa nova realida<strong>de</strong>, é<br />

importante que este <strong>Congresso</strong> traga principalmente para a socieda<strong>de</strong> o convencimento, a explicação do <strong>de</strong>talhe da<br />

importância <strong>de</strong> cada função <strong>de</strong>ntro da publicida<strong>de</strong>. é claro que existe aquele glamour extraordinário da criação, mas o<br />

brasileiro médio e a socieda<strong>de</strong> precisam saber que a publicida<strong>de</strong> brasileira, assim como o esporte, a música e alguns setores<br />

raros, são respeitados e reconhecidos <strong>de</strong> forma internacional.<br />

é uma questão <strong>de</strong> resgatar a auto-estima, especialmente agora quando sabemos que existem mais <strong>de</strong> 150 projetos tentando<br />

censurar, cercear a liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> imprensa. Já lembrava Paulo Montenegro, criador do Ibope, que todo produto que se <strong>de</strong>svia<br />

da rota e vai para o lado do baixo-nível tem o “efeito doce <strong>de</strong> leite”: chama atenção <strong>de</strong> imediato, mas tem vôo curto, até porque<br />

só um idiota vai colocar seu produto aliado a um produto <strong>de</strong> baixo-nível com vôo curto.<br />

Diante <strong>de</strong>ssa situação, mais do que nunca, é importante que todo mundo – especialmente a socieda<strong>de</strong> e a opinião pública –<br />

se conscientize da vital e essencial função da publicida<strong>de</strong>, com todos os seus problemas sendo discutidos, e principalmente<br />

que todo mundo tenha essa noção que a gran<strong>de</strong> maioria não tem. Começamos com o Luca Cavalcanti, um craque. Criar uma<br />

marca é muito mais difícil do que dar um upgra<strong>de</strong> nessa marca: uma marca forte que foi valorizada e melhorada.<br />

luca Cavalcanti<br />

Agra<strong>de</strong>ço à Comissão pela honra, pelo carinho do convite. é uma posição complicada, pois sou o único anunciante aqui<br />

na mesa. Ainda bem que o Paulo trouxe junto com a Comissão um conjunto <strong>de</strong> <strong>de</strong>poimentos que somam o que vamos<br />

colocar. Vou repetir algumas coisas, posicionar outras e minha função é transmitir o que o anunciante faz, o quanto a mídia é<br />

importante para a construção e valorização da marca. Esse é o tema <strong>de</strong> que vamos falar, que <strong>de</strong>staca a importância da mídia<br />

na construção da marca e no <strong>de</strong>senvolvimento dos negócios.<br />

Quando colocamos a marca no centro e <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> um processo <strong>de</strong> construção, <strong>de</strong>senvolvimento e investimento, falamos que<br />

ela é o ativo intangível mais valioso <strong>de</strong> uma organização. Como tal, ela representa toda a cultura da organização: sua fundação,<br />

seus colaboradores, os funcionários envolvidos, a história <strong>de</strong>sses colaboradores, um pouco <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> transformação que<br />

o próprio executivo naquele momento tem. A história fica <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>sses colaboradores na convivência e na experiência da<br />

marca; são clientes, consumidores, parceiros, investidores, e também fornecedores, com papéis importantes, principalmente<br />

no processo da ética da organização, na conduta e na ética que traz a marca.<br />

é fundamental que a marca, com todo esse envolvimento, esteja focada no negócio, no <strong>de</strong>senvolvimento comercial da<br />

empresa ou da organização. A cultura da organização traz em si um papel muito importante dos valores envolvidos nessa<br />

cultura, mais uma vez, trazendo os valores que trazem seus funcionários. Esses funcionários representam a organização como<br />

um todo, principalmente no momento do contato, no momento em que temos a experiência da marca com os clientes,<br />

que po<strong>de</strong> ocorrer principalmente através dos funcionários ou dos valores que eles vão traduzir para isso. Esses valores e<br />

o posicionamento que a marca traz com eles, sem dúvida alguma farão com que esses pontos <strong>de</strong> contato tenham mais<br />

intimida<strong>de</strong> com o cliente, fazendo com que esse produto seja o canal, e com que o próprio atendimento ocorra <strong>de</strong> forma<br />

diferenciada, trazendo em si esse envolvimento principal, que é o valor que a marca traz e o que ele traduz para aquilo.<br />

Qual é a promessa da entrega, o posicionamento <strong>de</strong>senhado, o que aquela promessa está trazendo? Os funcionários estão<br />

envolvidos? Eles estão enten<strong>de</strong>ndo? Estão passando aquele posicionamento da forma correta? é um pouco do que po<strong>de</strong> ser<br />

construído. Nesse contato – feito através <strong>de</strong> meios, canais, tecnologias ou dos funcionários –, existe a tradução da imagem da<br />

marca, que po<strong>de</strong> estar acontecendo simplesmente nos diferenciais únicos que essa marca tem para com seus concorrentes,<br />

para o mercado, nas vantagens competitivas que esta marca po<strong>de</strong> trazer. Os funcionários conseguem expressar isso no<br />

contato com seus clientes ou consumidores em geral, na performance da organização. Os stakehol<strong>de</strong>rs cobram a performance,<br />

o crescimento da organização, e isso é traduzido através da marca, da relevância que a organização tem para com o mercado<br />

e para as pessoas, e da presença <strong>de</strong>ssa marca diante <strong>de</strong> todos.<br />

Esses são pontos muito importantes para a construção; são os conceitos envolvidos no valor da marca. Com esse contexto, a<br />

marca po<strong>de</strong> ser forte ou fraca. Como transferir, então, a partir <strong>de</strong>sse momento, ao posicionamento e à estratégia, tudo o que<br />

falamos aqui? No nosso entendimento como anunciantes e com base no trabalho que estamos <strong>de</strong>senvolvendo, <strong>de</strong>ve-se partir<br />

<strong>de</strong> um posicionamento bom, estruturado, claro, objetivo, entendido pelos clientes, consumidores, colaboradores e investidores.<br />

é o banco on<strong>de</strong> eu trabalho, on<strong>de</strong> o investidor se faz presente e coloca tudo o que construiu <strong>de</strong>ntro da organização.<br />

São os valores éticos e <strong>de</strong> conduta, a correção que aquela organização tem e que traz junto com seus funcionários,<br />

colaboradores, fornecedores, enfim, com todos os formadores <strong>de</strong> opinião que fazem e têm contato com a marca. Esses valores<br />

são transmitidos para a socieda<strong>de</strong> e por ela percebidos.<br />

O posicionamento é muito importante e apresenta um <strong>de</strong>safio maior, a partir do instante em que, bem <strong>de</strong>senhado, bem<br />

entendido, esse posicionamento precisar ser implementado através <strong>de</strong> uma estratégia que vai traduzir <strong>de</strong> forma verbal e visual<br />

o que temos na construção e naquela marca.<br />

O gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>safio sobre o qual discutimos com os mídias é, a partir <strong>de</strong>sse bom posicionamento e do entendimento que<br />

temos com a marca, fazer com que esses conceitos cheguem a todos aqueles pontos <strong>de</strong> contato dos clientes, consumidores<br />

e à socieda<strong>de</strong> em geral, através do que a empresa ou a organização <strong>de</strong>senvolve, seja por meio dos eventos, da propaganda<br />

bem feita e estruturada com bons caminhos criativos. Assim, serão diferenciados diante do mercado através dos produtos e<br />

serviços coerentes com sua clientela que vai usufruir e ter a experiência com a sua marca e com sua organização. Isso po<strong>de</strong><br />

acontecer com a comunicação interna – fundamental, principalmente em gran<strong>de</strong>s organizações como o Bra<strong>de</strong>sco, on<strong>de</strong><br />

temos 83.000 colaboradores e a missão crucial <strong>de</strong> levar a essas pessoas os valores da conduta e da ética da nossa marca e do<br />

nosso posicionamento.<br />

Através do relacionamento com a imprensa, também como formadores <strong>de</strong> opinião que somos, temos um papel importante<br />

<strong>de</strong> traduzir a real conduta <strong>de</strong> nossa organização e os valores mais uma vez éticos que temos. Todo esse contexto faz parte da<br />

marca, e para a mídia fica implícita a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminar como atingir todos os pontos que acabei <strong>de</strong> colocar, para que<br />

aquele público estratégico perceba o que colocamos como posicionamento para a organização.<br />

A mídia, então, passa a ser uma ferramenta importantíssima para que possamos traduzir e levar às pessoas o valor da nossa<br />

marca, da nossa organização. é a ferramenta <strong>de</strong> que precisamos na construção <strong>de</strong> marca, capaz <strong>de</strong> comunicar o posicionamento<br />

da nossa promessa do que está envolvido no nosso posicionamento em todos aqueles pontos <strong>de</strong> contato. Temos o emissor<br />

– através da estratégia da marca e do que foi <strong>de</strong>senhado a partir do instante em que partimos para a implementação; com a<br />

comunicação, isso é elaborado e <strong>de</strong>senvolvido para que possa cobrir os produtos, os canais, o atendimento – e temos a avaliação.<br />

O ponto principal até do meu papel como anunciante é que participamos <strong>de</strong> um ciclo vivo, dinâmico, diário, ininterrupto,<br />

exaustivo, para que possamos sempre avaliar, a partir da nossa estratégia, como é feita a condução <strong>de</strong>ssa implementação. A<br />

partir da condução, ocorre a avaliação <strong>de</strong>ssa implementação.<br />

Existem alguns pontos importantes para o mídia e principalmente para as áreas <strong>de</strong> marketing interno. Os profissionais <strong>de</strong><br />

marketing precisam estar preparados, conhecer profundamente nossa profissão. Nós também somos publicitários, porque<br />

através do nosso briefing, <strong>de</strong>senhamos claramente o que queremos como estratégia para aquela organização.<br />

O mídia precisa, neste caso, conhecer profundamente a estratégia da organização, o negócio, e enten<strong>de</strong>r o público que<br />

queremos atingir. Os meios para que a implementação possa ser viabilizada trazem em si o caminho criativo, que <strong>de</strong>ve ser o<br />

diferencial, precisa ser elaborado.<br />

A avaliação traz pesquisas proprietárias – como já foi dito aqui – e comuns, como são todas as ferramentas <strong>de</strong> mídia que o<br />

mercado oferece. Nas pesquisas proprietárias, <strong>de</strong>ve-se usar <strong>de</strong> bom-senso e ter o cuidado <strong>de</strong> avaliar, discutir e interagir com o<br />

que é preciso enten<strong>de</strong>r. Se aquela estratégia <strong>de</strong>senhada ou aquele posicionamento está sendo entendido pelo público-alvo<br />

<strong>de</strong>sejado, é a imagem que fica.<br />

Minha missão como anunciante, junto com a minha equipe, é termos a frieza <strong>de</strong> olhar essa avaliação, analisar a concorrência<br />

diária e incansavelmente e, através <strong>de</strong>ssa análise – i<strong>de</strong>ntificando também os pontos fracos nos nossos produtos e serviços e<br />

do próprio atendimento –, trabalhar e i<strong>de</strong>ntificar gaps. Aí, mais uma vez, <strong>de</strong> forma estratégica, <strong>de</strong>vemos trabalhar a correção<br />

<strong>de</strong>sses gaps <strong>de</strong>ntro da organização.<br />

O profissional <strong>de</strong> marketing <strong>de</strong> uma empresa tem um papel fundamental, porque passa a enxergar mais do que a empresa as<br />

necessida<strong>de</strong>s que ela tem, para melhorar o valor <strong>de</strong> sua marca. Assim, ele passa a ser um agente multiplicador <strong>de</strong> mudanças<br />

muito forte <strong>de</strong>ntro da organização. Em uma organização, é preciso trabalhar esses gaps. Junto com o profissional <strong>de</strong> mídia e<br />

a agência <strong>de</strong> publicida<strong>de</strong>, cabe estruturar melhor a sua comunicação, para que ela fortaleça aqueles pontos mais fracos ou<br />

que traduza uma ação interna. Também precisamos trabalhar com a agência <strong>de</strong> publicida<strong>de</strong>, para corrigir, melhorar e inovar<br />

no trabalho com os gaps.<br />

Olhando todo esse contexto, a novida<strong>de</strong> é que a mídia mudou. Estamos falando <strong>de</strong> um <strong>Congresso</strong> que aconteceu há 30 anos,<br />

com uma mudança <strong>de</strong> mídia praticamente radical, num mundo diferente. Todos sabem que buscamos consumidores e eles,<br />

por sua vez, buscam constantemente informações. Quantas pessoas já não olharam seu celular ou entraram na internet, para<br />

saber o que está acontecendo no mundo? Temos a informação na mão, da forma que queremos, e o que precisamos é buscar<br />

informação <strong>de</strong> forma que o consumidor experimente sempre o novo.<br />

Em relação a essa mudança do consumidor, cabe ao mídia trazer as opções para atingir cada formato, cada pessoa e cada<br />

consumidor <strong>de</strong>sejado. O consumidor tem o controle da mídia e não adianta achar que ele não tem mais o controle remoto<br />

da televisão. Quando entra nosso comercial, que custou muito caro, ele vai para o canal vizinho, para ver o que está passando;<br />

<strong>de</strong>pois ele volta, quando o programa recomeçar. Temos que tomar muito cuidado com isso e buscar novas alternativas. é<br />

função do mídia trabalhar essas alternativas diferenciadas <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> programações, saindo da mídia interruptiva, ou encontrar<br />

outras opções <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>sse contexto.<br />

A mídia tem que ir on<strong>de</strong> o consumidor está, é uma necessida<strong>de</strong> básica. Na nossa organização, há <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o cliente private, <strong>de</strong><br />

alta renda, até o mais simples. Como alcançar este cliente mais simples, que pega um ônibus às 5h00 para trabalhar, volta<br />

às 00h00 cansado e não assiste à televisão? Esse cliente é simples, não tem internet e às vezes nem celular, ou, se tem, seu<br />

aparelho não utiliza a internet nem recebe a informação. O mídia <strong>de</strong>ve trazer uma solução, para que possamos atingir este<br />

cliente e também aquele, <strong>de</strong> alta renda.<br />

O mídia participa da construção da marca, que parte <strong>de</strong> todo sucesso que temos e vem através da participação intensa da<br />

mídia. E a mídia, naturalmente, <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>sse cenário, gera novos negócios e garante atenção. Não adianta fazer mídia, não<br />

adianta investir em publicida<strong>de</strong> se a organização não cresce, se inova e alcança li<strong>de</strong>rança. Neste cenário, nasce o que po<strong>de</strong>mos<br />

chamar <strong>de</strong> “nova mídia”, capaz <strong>de</strong> atribuir para a construção da marca a socieda<strong>de</strong> toda conectada.<br />

Acreditamos na conexão entre as pessoas; enten<strong>de</strong>mos que existe uma mutação – <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>sse público, há jovens que estão<br />

sendo formados <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> um contexto diferenciado com a internet. Eles já assistem menos TV ou participam menos das mídias,<br />

interagem mais e têm mais autonomia sobre ela. Porém, também temos os mais velhos e mais simples; <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>sse contexto<br />

complexo, a mídia precisa buscar através <strong>de</strong>sses diferentes consumidores a personalida<strong>de</strong>, o estilo <strong>de</strong> vida <strong>de</strong> cada um. Então,<br />

<strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>ssas diferenças, é preciso encontrar a forma <strong>de</strong> contato que po<strong>de</strong>mos exercer sobre eles, os jovens ou os mais velhos.<br />

Tenho uma filha <strong>de</strong> sete anos. Um dia, cheguei em casa e ela estava na internet, num joguinho <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong><br />

economia! Ela estava participando <strong>de</strong> um jogo numa empresa <strong>de</strong> suco <strong>de</strong> laranja, já estava na quarta fase e perguntou:<br />

“Pai o que significa acondicionamento <strong>de</strong> materiais?”. Pensei que ela estivesse brincando. Na verda<strong>de</strong>, era um quiosque <strong>de</strong><br />

suco <strong>de</strong> laranja que acondicionava a laranja, e ela comprava. Era um <strong>de</strong>senho animado e ela estava comprando no mercado,<br />

divulgando, investindo em marketing. é um jogo disponível para todas as ida<strong>de</strong>s. Eu nunca a ensinei a entrar naquela tela.<br />

Isso traz uma reflexão para o mídia, para que nós possamos, talvez, estar ali também, ou no Discovery Channel, Disney, novela.<br />

Como po<strong>de</strong>mos atingir essa criança que quer cada vez mais autonomia sobre o seu joguinho e não está assistindo TV? Como<br />

levar essa interativida<strong>de</strong> para a TV digital? A questão <strong>de</strong>ve ser abordada através dos nossos mídias e é isso o que estimulamos.<br />

Portanto, a tarefa da mídia é cercar o segmento-alvo. Precisamos alcançar <strong>de</strong>s<strong>de</strong> aquela a pessoa que está na favela até as <strong>de</strong><br />

média e alta renda. Precisamos contatar essas pessoas, levar-lhes os valores da nossa marca. Isso se alcança enten<strong>de</strong>ndo os<br />

hábitos, as <strong>de</strong>mandas específicas <strong>de</strong>sses consumidores que interessam para cada tipo <strong>de</strong> organização.<br />

Com a estratégia bem <strong>de</strong>senhada, a mídia implanta a visão e o contexto da comunicação. Falarei <strong>de</strong> oito pontos que consi<strong>de</strong>ro<br />

importantes para agregarmos ao processo <strong>de</strong> construção da marca. Naturalmente, todos envolvem a mídia.<br />

A cultura organizacional é muito importante. Falei <strong>de</strong> uma organização com 83.000 funcionários e da história que ela conduz.<br />

A organização <strong>de</strong> que faço parte tem 65 anos; cada um dos clientes das agências aqui presentes também tem a sua história.<br />

Por melhor que seja um projeto, não adianta patrociná-lo se ele não permear ou for a<strong>de</strong>rente à cultura da organização, se<br />

não trouxer um posicionamento para a marca. Constantemente, vemos propostas ou recebemos pedidos <strong>de</strong> patrocínio que<br />

saem da nossa estratégia. Nós orientamos outras organizações para que sejam mais a<strong>de</strong>rentes, para que o posicionamento<br />

seja permeado.<br />

254 255<br />

COMISSÃO 7 - EFICÁCIA NO PLANEJAMENTO E COMPRA DE MÍDIA


Formar opinião é fundamental; a marca <strong>de</strong>ve ser inserida <strong>de</strong> maneira legítima, <strong>de</strong>ntro dos projetos com que aquela organização<br />

comunga. O consumidor tem que se sentir prestigiado, satisfeito <strong>de</strong>ntro do contexto, para que possa formar opinião e<br />

propagar entre seus companheiros e colegas os valores daquela marca. Repito: o consumidor está no comando. Ele quer ser<br />

ouvido, participar. Precisamos ter mais blogs, pesquisas, envolvimento no nosso site, nos nossos pontos <strong>de</strong> contato, mesmo<br />

off-line, <strong>de</strong>ntro das agências, para que possamos perceber se aquele cliente está enten<strong>de</strong>ndo, concordando, interagindo; se<br />

aquela estratégia pensada está funcionando.<br />

Muitas marcas buscam trabalhar com conteúdos gerados pelos próprios clientes; nós buscamos isso: trabalhar <strong>de</strong> forma<br />

personalizada, com materiais menos produzidos em massa em <strong>de</strong>terminadas mídias; às vezes, po<strong>de</strong> ocorrer envolvimento em<br />

um evento que alcance um cliente <strong>de</strong> alta renda.<br />

Estávamos em Ilha Bela e tínhamos um stand. Isso todos po<strong>de</strong>m ter, mas o nosso era um barco <strong>de</strong> 60 pés, e meu cliente private<br />

pô<strong>de</strong> participar e assistir à regata <strong>de</strong>ntro do barco, tomando champanhe francês. Outro exemplo é estar num festival no Japão,<br />

trabalhando com a massa dos japoneses com uma linguagem diferenciada em todos os pontos <strong>de</strong> contato que eles ocupam<br />

ou ocuparam ao longo dos seus 100 anos <strong>de</strong> existência no Brasil.<br />

As pessoas querem comprar menos e viver mais, portanto, é importante que nossa experiência seja memorável e que o<br />

envolvimento com a marca esteja presente <strong>de</strong> forma positiva com nossos clientes. Pulsação, ritmo, a paixão das pessoas que<br />

trabalham com organizações <strong>de</strong> marketing no envolvimento com as agências, para transmitir a evolução constante <strong>de</strong>ssa<br />

marca junto a seus clientes e eles percebam a mensagem <strong>de</strong> forma calorosa e positiva, que sintam paixão pelo seu negócio.<br />

Respeitar a socieda<strong>de</strong> é fundamental. As organizações precisam ser percebidas, acabou aquela história <strong>de</strong> ser ou fingir que é<br />

uma “empresa boazinha”. Ontem nós tivemos aqui a palestra Sócioambiental e isso foi discutido. As empresas precisam estar<br />

cada vez mais preocupadas em fazer uma entrega para aten<strong>de</strong>r as expectativas que são geradas pelos seus consumidores e,<br />

com isso, respeitar a conexão dos interesses globais. Não adianta a publicida<strong>de</strong> trazer informações parecendo que são “empresas<br />

boazinhas” se, <strong>de</strong> fato, não trazem benefícios positivos e diretos, objetivos para a socieda<strong>de</strong>, para o mundo que ela ocupa.<br />

No caso do Bra<strong>de</strong>sco, temos 64.000 pontos <strong>de</strong> atendimento a clientes com pessoas. Dentro <strong>de</strong>sse contexto, temos quase a<br />

obrigação <strong>de</strong> passar para as pessoas nesses contatos, algo que elas tragam como benefício prático para a socieda<strong>de</strong>, para a<br />

vida que elas têm, para o mundo que elas ocupam, para o planeta em que elas estão. Esse contato tem que ser legítimo e<br />

basear-se sempre nos interesses globais <strong>de</strong>ssas pessoas.<br />

Resumindo, se eu fosse <strong>de</strong>finir um fluxo, o consumidor passivo ou o ativo, eu diria que nossos mídias têm como <strong>de</strong>safios<br />

os formatos, e isso está atrelado à interação por caminho positivo ou negativo diferenciado, por música, voz, texto, ví<strong>de</strong>o e<br />

imagem, através da distribuição, da TV, da internet, mobile, TV digital, da telinha que hoje usamos na mão. De que maneira<br />

tudo isso vai se adaptar ao que está sendo criado? Como <strong>de</strong>ve ser essa comunicação? Ela <strong>de</strong>ve ser mensurável, <strong>de</strong> fácil acesso<br />

para as pessoas e o conteúdo <strong>de</strong>ve ser concreto e positivo, perceptível pelas pessoas.<br />

Esse fluxo traz a realida<strong>de</strong> dos <strong>de</strong>safios dos mídias, e um <strong>de</strong>safio maior para os dirigentes <strong>de</strong> marketing das organizações:<br />

<strong>de</strong>vemos estar atentos em todos os momentos a esses perfis, porque interagimos em todos esses pontos. Temos que discutir<br />

tudo com nossas agências <strong>de</strong> publicida<strong>de</strong> e nossos mídias: como <strong>de</strong>ve ser feita a distribuição, se a comunicação será eficiente<br />

e se essa eficiência, <strong>de</strong> fato, atingirá o objetivo final. Os mídias precisam trazer <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>sse contexto pontos que possam<br />

contribuir para a construção e manutenção da nossa marca, para que seja forte, inovadora, mo<strong>de</strong>rna, diferenciada e ao mesmo<br />

tempo, mostrar oportunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> negócios a todos os envolvidos, <strong>de</strong> maneira a inserir a marca num evento ou conteúdo.<br />

Vou apresentar três sli<strong>de</strong>s para falar sobre tudo o que acabei <strong>de</strong> comentar, com o case do Bra<strong>de</strong>sco nos últimos três anos. Criamos<br />

uma promessa, uma expectativa; a promessa veio através do posicionamento <strong>de</strong> um banco completo – não é um slogan,<br />

é um posicionamento. Fizemos a comunicação <strong>de</strong> uma organização inteira integrada tanto para fora quanto para <strong>de</strong>ntro, com<br />

o envolvimento dos funcionários. Hoje, temos menos <strong>de</strong> três anos <strong>de</strong>sse projeto; do caixa da agência em Macapá ao Presi<strong>de</strong>nte<br />

do Conselho do banco, não há um discurso no banco que não fale do completo, do sentido <strong>de</strong> trabalhar para ser completo<br />

ou completar a vida dos clientes. Isso é uma coisa que permeia como valor agregado da nossa organização, <strong>de</strong>ntro dos princípios<br />

éticos que traduzem todo o trabalho que o Bra<strong>de</strong>sco tem ao longo <strong>de</strong>sses 65 anos. Também é a entrega da promessa da<br />

marca; não adianta só criar uma promessa e uma expectativa: temos uma entrega, uma experiência da marca em <strong>de</strong>senvolver<br />

produtos, no boca-a-boca, na imprensa, na internet e no atendimento em geral. Com isso, conseguimos ter um crescimento<br />

ao longo <strong>de</strong>sses três últimos anos. Em 2005, a marca do Bra<strong>de</strong>sco valia 5.8 bilhões <strong>de</strong> reais; em 2006, R$7.9 bilhões e recentemente,<br />

foi divulgado um índice baseado em 2007 <strong>de</strong> R$11 bilhões: um crescimento <strong>de</strong> 89, quase 90% do valor da marca.<br />

Não é fácil construir uma marca numa organização que já existe há 62 anos. Já temos todos os indícios do gran<strong>de</strong> e forte<br />

conhecimento <strong>de</strong>sse valor, espelhado pelos números do ano passado. Minha equipe conduziu a pesquisa – não posso<br />

oficializar –, mas nós já temos provas <strong>de</strong> que estamos no caminho certo. Estamos traduzindo esse trabalho <strong>de</strong> construção, um<br />

projeto que permeia todo nosso time e toda a organização.<br />

Eu gostaria <strong>de</strong> reforçar a importância do papel das pessoas que constroem uma inter-relação com as agências <strong>de</strong> publicida<strong>de</strong>;<br />

a importância das pessoas competentes, preparadas nas áreas <strong>de</strong> marketing das organizações. Sou um eterno <strong>de</strong>fensor disso<br />

e se eu fosse fazer uma segunda tese, colocaria como ponto <strong>de</strong> partida que também as áreas <strong>de</strong> marketing das organizações<br />

tivessem pessoas certificadas para po<strong>de</strong>r trabalhar.<br />

Tenho a minha, a Célia, uma japonesa supercertificada e eu não tenho dúvida nenhuma <strong>de</strong> que ela seria um exemplo <strong>de</strong><br />

certificação, como toda a minha equipe, a Ângela com o institucional, enfim, são as pessoas que fazem essa marca acontecer.<br />

Para terminar, essa é a última comunicação que fizemos recentemente, para mostrar à socieda<strong>de</strong> a importância <strong>de</strong> ter a marca<br />

mais valiosa do Brasil.<br />

Hoje, entre todas as empresas públicas e privadas, passamos a Petrobras, e isso é um exemplo do trabalho ético, conciso, <strong>de</strong><br />

construção, graças à eficiência e competência dos mídias que cercam o Bra<strong>de</strong>sco, nosso trabalho, nossa central <strong>de</strong> mídia e o<br />

trabalho que temos com a socieda<strong>de</strong>.<br />

As mudanças são diárias e quero dizer a vocês que enten<strong>de</strong>mos a mídia como um ser vivo e em constante mudança; ela é um<br />

organismo vivo, está em constante mudança. Está aqui o Luiz Fernando, meu amigo e concorrente só nas horas da mídia, e<br />

nós observamos o comportamento do mercado, as mudanças que estão acontecendo. Os mídias vêm sempre com propostas,<br />

ações que precisamos adaptar. Talvez, o que é aplicado hoje não possa ser aplicado amanhã. A mídia precisar trilhar o caminho<br />

que aproxima a marca do consumidor e isso é o que nós <strong>de</strong>sejamos como anunciantes. Que os profissionais da área nos<br />

aproximem cada vez mais do nosso consumidor, porque nosso público é muito gran<strong>de</strong> e muito diverso. Muito obrigado.<br />

fausto Silva<br />

Estou aqui por sugestão do Ângelo Franzão e do Paulo Queiroz, para que todos tenham chance <strong>de</strong> fazer perguntas, sugerir,<br />

acrescentar, divergir, num clima bem <strong>de</strong>mocrático, especialmente respeitando a inteligência e o nível <strong>de</strong> vocês.<br />

Todos que quiserem já po<strong>de</strong>m mandar as suas perguntas, seguindo o regimento e a tese levantada pelo Ângelo Franzão.<br />

E lembrando essa mudança total, para registro, o programa Domingão do Faustão vai fazer 20 anos agora em março; quando<br />

começou não tinha internet e nem TV a cabo; os shopping centers não abriam aos domingos, praticamente não existia<br />

controle remoto; é uma modificação muito gran<strong>de</strong> <strong>de</strong> comportamento.<br />

Lembrando com o próprio Flávio, fazer pesquisa ou televisão num país, seja da Europa ou mesmo nos Estados Unidos, são 10%<br />

<strong>de</strong> ricos, 10% <strong>de</strong> pobres e 80% classe média.<br />

Aqui no Brasil temos todas as classes sociais, todas as ida<strong>de</strong>s ao mesmo tempo, portanto, é mais difícil ainda.<br />

Atenção: um dos mais premiados e competentes publicitários do Brasil, já era bom, imaginem agora, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> Cannes, que<br />

ele conseguiu emagrecer 13 kg! Nosso Alexandre Gama.<br />

Alexandre Gama<br />

Me pediram para ser rápido e dinâmico; os clientes sempre têm mais tempo e, é claro, eu sou <strong>de</strong> criação: tenho que me virar<br />

com 30 segundos e já estou um pouco acostumado. Vai sobrar para o Ferrari, que vai ter que fazer jus ao nome.<br />

é uma honra estar aqui. Acho que sou o único cara <strong>de</strong> criação nessa mesa no meio da mídia, mas não vejo a mídia como um<br />

<strong>de</strong>partamento. E antes <strong>de</strong> entrar na questão, quero apresentar o representante do segundo maior mercado <strong>de</strong> comunicação<br />

do mundo, a Inglaterra. Ele é o único CEO global <strong>de</strong> um grupo <strong>de</strong> agências no mundo que está no <strong>Congresso</strong> <strong>Brasileiro</strong><br />

<strong>de</strong> Publicida<strong>de</strong> hoje, o que eu acho <strong>de</strong> uma relevância muito gran<strong>de</strong>. é o Simon Sherwood, CEO global da BBH, da qual a<br />

Neogama é sócia. Ele estava aqui fazendo uma visita e eu contei que estávamos fazendo um congresso e que acharia muito<br />

interessante se ele pu<strong>de</strong>sse vir.<br />

Ele veio – eu não falei que era tudo em português, senão ele não viria, ele só <strong>de</strong>scobriu isso aqui – mas ao lado <strong>de</strong>le, uma<br />

pessoa está passando um pouco do que está se dizendo aqui.<br />

Acho extremamente relevante ter um representante <strong>de</strong> um mercado on<strong>de</strong> não existe mais mídia <strong>de</strong>ntro das agências. E essa<br />

perspectiva nos dá uma série <strong>de</strong> ângulos para abordar o tema. Então eu queria pedir para o Simon levantar e receber nossa<br />

salva <strong>de</strong> palmas, pelo esforço <strong>de</strong> estar aqui e enten<strong>de</strong>r o nosso mercado local.<br />

Aprendi algumas coisas nessa profissão, e resumi isso em três pontos. São três lições – eu chamo <strong>de</strong> lições porque tive que<br />

aprendê-las realmente, e aprendi tendo a oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> trabalhar como publicitário e criativo junto com as mídias.<br />

A primeira <strong>de</strong>las se baseia numa experiência pessoal, e eu digo muito essa frase <strong>de</strong>ntro da agência: a criação é o tiro, mas a<br />

mídia é a mira. é ela quem faz com que eu sempre trabalhe pensando a minha mensagem em função do meio. Nas agências<br />

pelas quais passei, eu sempre procurei trabalhar em parceria com a área <strong>de</strong> mídia, com pessoas físicas <strong>de</strong>ntro da mídia. Isso<br />

<strong>de</strong>pen<strong>de</strong> muito <strong>de</strong> quem está <strong>de</strong>ntro da área e, apesar <strong>de</strong> eu ver na mídia uma dupla importância óbvia do cliente – o lado<br />

do investimento e da estratégia –, sempre vi o cliente tentando dar mais peso para o lado do investimento, porque, é claro,<br />

a mídia é vista pelos clientes como alocação dos recursos que eles têm para trabalhar a sua marca. Em última instância, a<br />

mídia lida com dinheiro. Mas acho essa uma visão muito simplista, que eu sempre quis evitar. Se a perseguirmos como a mais<br />

importante, todo o resto da importância da mídia vem atrelado à negociação, ao fato <strong>de</strong> se fazer um trabalho apenas focado<br />

no dinheiro e no investimento, quando eu acho que é a estratégia que vai fazer o investimento valer a pena, e até fazer a<br />

negociação ser melhor.<br />

Vejo a mídia como uma arma <strong>de</strong> guerra e <strong>de</strong> guerrilha do marketing. Ela tem uma função e uma capacida<strong>de</strong> mais expandidas<br />

do que praticamos, mas está ali para ser utilizada <strong>de</strong> maneira mais profunda.<br />

Mapeando o uso que uma marca faz da mídia é que se po<strong>de</strong> criar a estratégia criativa certa para ela, e eu chamo isso <strong>de</strong><br />

war-map (mapa da guerra). Vejo o cenário da mídia analisando como um teatro <strong>de</strong> guerra. Toda a estratégia do Bra<strong>de</strong>sco<br />

– também dos meus clientes, mas principalmente o Bra<strong>de</strong>sco, neste caso, que tem um investimento muito alto em mídia –<br />

passa primeiro pela avaliação do mapa <strong>de</strong> guerra, para vermos o que a concorrência está alocando em termos <strong>de</strong> recurso, que<br />

mensagem está em cada meio, em cada veículo, montando um quebra-cabeça <strong>de</strong> peças que realmente diz se ali existe uma<br />

estratégia pensada, ou se <strong>de</strong>veria ser chamada só <strong>de</strong> tática, por não ter sido pensada em profundida<strong>de</strong>. Isso dá para avaliar a<br />

capacida<strong>de</strong> do nosso concorrente <strong>de</strong> posicionamento, <strong>de</strong> boa articulação, <strong>de</strong> estar centrado ou não, <strong>de</strong> <strong>de</strong>sperdício ou não,<br />

e nos obriga a construir uma estratégia. Quando as peças são montadas, o posicionamento <strong>de</strong>ve estar absolutamente sólido,<br />

sem nunca se dispersar.<br />

Essa é a visão que eu, como criativo e ligado ao planejamento criativo na agência, tenho da mídia, e gosto <strong>de</strong> ver no profissional<br />

<strong>de</strong> mídia. é claro que isso vai do ponto <strong>de</strong> vista <strong>de</strong> formação pessoal <strong>de</strong> cada um, mas acho que vocês <strong>de</strong>veriam ver com mais<br />

profundida<strong>de</strong> a capacida<strong>de</strong> da mídia. Ela é um baú cheio <strong>de</strong> respostas, mas um bom profissional <strong>de</strong> mídia sabe a pergunta.<br />

Todos os <strong>de</strong>partamentos <strong>de</strong> mídia têm as informações; elas são, <strong>de</strong> certa forma, commoditizadas, estão ali para todo mundo<br />

usar. As respostas <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m exatamente da pergunta e aí entra a capacida<strong>de</strong> estratégica do mídia.<br />

Vejo a mídia como um espelho que reflete a marca. Se quisermos fazer nossa própria estratégia, temos que olhar no espelho. A<br />

mídia não é uma ciência exata, mas criativa, porque precisa do insight criativo que trabalha todas essas respostas frias do banco<br />

<strong>de</strong> dados e que estão ali à disposição das agências, e tem as perguntas que vão direcionar ou redirecionar uma estratégia.<br />

O profissional <strong>de</strong> mídia <strong>de</strong>veria ter um perfil que eu chamo <strong>de</strong> Vo Nguyen Giap, um nome estranho, muito interessante que eu<br />

também não conhecia até a semana passada. é este senhor ao lado do Lula, que foi capa <strong>de</strong> jornal no último fim-<strong>de</strong>-semana,<br />

por causa <strong>de</strong> uma visita do Lula ao Vietnã. Ele é um general vietnamita <strong>de</strong> mais <strong>de</strong> 90 anos e comandou a vitória do Vietnã<br />

contra a França e os Estados Unidos. Ele é um general, mas é, antes <strong>de</strong> tudo, um estrategista militar. Alguém capaz <strong>de</strong> fazer o<br />

que ele fez com a pequena verba que tinha <strong>de</strong>veria ser um exemplo para todo mídia – aliás, para todo mundo que trabalha<br />

em comunicação.<br />

Eu vejo essa capacida<strong>de</strong> estratégica nos mídias e nessa ferramenta e tenho verda<strong>de</strong>iro fascínio por trabalhar com a mídia. O<br />

Luca também gosta <strong>de</strong> mídia, então é mais fácil fazer esse trabalho com ele. Falamos <strong>de</strong> mídia antes <strong>de</strong> falar <strong>de</strong> planejamento<br />

ou <strong>de</strong> criação, porque consi<strong>de</strong>ramos essa uma etapa estratégica superimportante nesse trabalho que temos feito <strong>de</strong> marca.<br />

Para dar um exemplo mais prático nesse sentido, o Bra<strong>de</strong>sco é a terceira verba do seu segmento, mas é a marca mais<br />

valiosa no Brasil e é o maior recall no segmento <strong>de</strong> bancos. Quanto você consegue fazer com a verba? é nesse ponto que<br />

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COMISSÃO 7 - EFICÁCIA NO PLANEJAMENTO E COMPRA DE MÍDIA


digo que a negociação é importante, mas não é capaz <strong>de</strong> fazer isso por uma marca. A negociação é a vantagem imediata<br />

que se tem que fazer no negócio, mas é no longo prazo que se economiza dinheiro, sendo um estrategista e não um gran<strong>de</strong><br />

negociador apenas. Essa é a gran<strong>de</strong> característica que eu <strong>de</strong>stacaria no perfil <strong>de</strong> mídia e que <strong>de</strong>veria ser <strong>de</strong>senvolvida com<br />

as propostas que o Ângelo Franzão está colocando <strong>de</strong> qualificação profissional no meio, para vocês e para os clientes.<br />

O segundo ponto é mais amplo e diz respeito a todos aqui, até ao nosso negócio: a convicção <strong>de</strong> que o nosso mo<strong>de</strong>lo<br />

<strong>de</strong> negócio no Brasil está certo. A capacida<strong>de</strong> das agências no Brasil <strong>de</strong> planejar e comprar mídia é uma das gran<strong>de</strong>s<br />

virtu<strong>de</strong>s do mo<strong>de</strong>lo brasileiro, em comparação com o resto do mundo. E essa não é uma frase minha, mas <strong>de</strong> um inglês<br />

chamado John Hegarty, que é Chief Creative Officer da BBH no mundo. Conversando com ele durante muito tempo sobre<br />

as diferenças do Brasil e do resto do mundo, ao invés <strong>de</strong> ele dizer que é uma questão <strong>de</strong> tempo e que o mercado brasileiro<br />

precisará evoluir (como se estivéssemos numa fase menos evoluída), ele disse: “Isso foi o que a Inglaterra per<strong>de</strong>u e o mundo<br />

per<strong>de</strong>u, por outro mo<strong>de</strong>lo que foi adotado”. Com isso, escrevi um artigo que teve acolhimento em dois gran<strong>de</strong>s meios, a<br />

Gazeta Mercantil e o Meio & Mensagem, <strong>de</strong>finindo exatamente essa tese <strong>de</strong> que a criação e a mídia juntas, agora mais do<br />

que nunca, representam a reposta para os tempos que estamos vivendo.<br />

Dei o meu nome para <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r uma tese que sempre foi polêmica nesse mercado, <strong>de</strong> se falar abertamente contra a<br />

ineficácia <strong>de</strong> um mo<strong>de</strong>lo que tem empresas <strong>de</strong> mídia no Brasil, que estaria dificultando a diversida<strong>de</strong> empresarial das<br />

nossas agências, espremendo os veículos, e que, principalmente num momento <strong>de</strong> fragmentação da mídia, era ineficiente.<br />

E ineficiente por quê? Na parte do artigo dizia: “Com os birôs e as agências <strong>de</strong> mídia, as agências <strong>de</strong> veículos per<strong>de</strong>ram parte<br />

importante <strong>de</strong> sua relevância <strong>de</strong> anos atrás nesses mercados. E os clientes também per<strong>de</strong>ram a integrida<strong>de</strong> das soluções<br />

<strong>de</strong> comunicação, que agora querem ter mais do que nunca; quanto maior a fragmentação dos meios, maior será essa<br />

<strong>de</strong>ficiência; tudo porque a estratégia <strong>de</strong> mídia nesses mercados foi separada da estratégia criativa por razões puramente<br />

comerciais. Foi quando se criou a idéia <strong>de</strong> um birô, <strong>de</strong> um broker que podia concentrar um gran<strong>de</strong> volume <strong>de</strong> dinheiro<br />

comprando mídia e teoricamente ven<strong>de</strong>r mais barato para as empresas apertando os veículos, tirando as áreas <strong>de</strong> mídia <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>ntro das agências e criando o monopólio da compra <strong>de</strong> mídia.<br />

Esse é o mo<strong>de</strong>lo mundial; só não é assim nessa ilha chamada Brasil. Mas o fato é que em termos <strong>de</strong> eficácia, o nosso mo<strong>de</strong>lo<br />

é o que permite que a idéia e a estratégica <strong>de</strong> mídia nasçam realmente integradas, <strong>de</strong>ntro da agência, sob o mesmo teto.<br />

Depen<strong>de</strong>ndo da agência, não existe nem mesmo divisória entre as duas áreas.<br />

O mundo girou, mudou e o Brasil ficou tão para trás, que agora está na frente. Quando me falam que estamos muito<br />

atrasados, eu digo que é bom ficar parado, porque agora as empresas <strong>de</strong> mídia lá fora estão tentando ter criação interna,<br />

uma ironia interessante: uma empresa <strong>de</strong> mídia tentando ter insight criativo <strong>de</strong>ntro da sua estrutura, tentando replicar a<br />

estrutura <strong>de</strong> uma agência <strong>de</strong> propaganda como existe no Brasil.<br />

On<strong>de</strong> foi que nós não erramos? Nós não erramos não tentando consertar aquilo que não estava quebrado. Esse mo<strong>de</strong>lo<br />

hoje é o que melhor respon<strong>de</strong> às necessida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> lidar com uma mídia superfragmentada e integrar todos os meios <strong>de</strong><br />

comunicação que temos à disposição. Como falar <strong>de</strong> comunicação integrada se a mídia e a criação estiverem <strong>de</strong>sintegradas?<br />

Essa é a gran<strong>de</strong> pergunta, que já vem com a resposta embutida, que eu <strong>de</strong>ixaria para o <strong>Congresso</strong>; esse é o mo<strong>de</strong>lo a ser<br />

<strong>de</strong>fendido, não só porque <strong>de</strong>fen<strong>de</strong> os nossos interesses comerciais, mas porque tem eficácia. Hoje nós temos duas razões<br />

para que esse mo<strong>de</strong>lo seja <strong>de</strong>senvolvido.<br />

E o terceiro ponto, meu último, é um ponto polêmico, difícil, <strong>de</strong>safiante, mas acho que não po<strong>de</strong>mos falar em eficácia nem<br />

em futuro, sem passar por ele. é a ética como base da eficácia; se a mídia e a criação estão juntas, do ponto <strong>de</strong> vista da ética,<br />

o nosso discurso e a nossa prática nesse negócio, nessa indústria, também têm que estar juntos. Existe muito discurso, mas<br />

a prática não acompanha. Sem querer apontar <strong>de</strong>dos, não po<strong>de</strong>mos ter uma indústria realmente coesa enquanto todos os<br />

players não praticarem o que dizem. E isso é muito claro, porque até na selva existem regras para preservar a própria selva.<br />

Se o nosso é um mercado <strong>de</strong> cada um por si – o que eu não aceito –, temos que lembrar que até na selva existem regras.<br />

Este <strong>Congresso</strong>, com suas teses vai ajudar a sedimentar tudo isso.<br />

E acho muito importante que todas as áreas externem essas teses para implementação posterior. Em função disso, temos<br />

ouvido muito falar em resgatar a auto-estima do publicitário. Nos últimos tempos, temos que resgatar o valor da publicida<strong>de</strong>,<br />

ela está sendo muito atacada. Existe uma percepção sobre o que é a publicida<strong>de</strong>, a comunicação; temos esse telhado <strong>de</strong><br />

vidro. Fui buscar uma imagem – sou criativo e obrigatoriamente, trabalho com palavra e imagem – e a que me veio da<br />

nossa situação foi essa: um vuduzinho, cheio <strong>de</strong> alfinetes. Nos últimos anos a comunicação tem levado muita alfinetada.<br />

Vale a pena olharmos pelo menos algumas <strong>de</strong>ssas alfinetadas, para enten<strong>de</strong>rmos o que é nossa responsabilida<strong>de</strong>, o que é<br />

responsabilida<strong>de</strong> auto-infligida, uma responsabilida<strong>de</strong> externa, e como lidamos com essas questões <strong>de</strong> frente. Não adianta<br />

não olharmos para ela e não discutirmos abertamente.<br />

Vamos escolher alguns alfinetes. O primeiro é o que chamo <strong>de</strong> opinião publica negativa. Existe historicamente uma visão<br />

<strong>de</strong> que a comunicação é vilã, menos nobre, incita as pessoas a fazer o que não querem, criar necessida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> consumo.<br />

Essa é uma falácia muito interessante <strong>de</strong> ser combatida, porque a publicida<strong>de</strong>, na verda<strong>de</strong>, é um mensageiro, e é muito<br />

burro matar o mensageiro. Ela é a voz da indústria. Se há uma critica a ser feita em relação a essa ou aquela forma <strong>de</strong><br />

consumo, é porque existe um produto com necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ser vendido.<br />

Temos que encontrar uma forma <strong>de</strong> discutir a própria socieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> consumo, seu conceito. Não está na comunicação<br />

a responsabilida<strong>de</strong> por uma série <strong>de</strong> <strong>de</strong>svios, relacionados a um problema mais profundo, que é a própria socieda<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

consumo. Temos sido inábeis em tocar nessa questão e discutir os pontos dos alfinetes que temos levado.<br />

Outra alfinetada foi o Mensalão. Eu fiquei muito <strong>de</strong>sgostoso <strong>de</strong> ser publicitário. Num segundo momento, fiquei mais<br />

<strong>de</strong>sgostoso ainda ao ver quem não era publicitário, dizendo-se tal. O que estava acontecendo ali não era a publicida<strong>de</strong><br />

que eu pratico, e que eu acredito que a maioria das agências profissionais pratica. Foi realmente um momento grave,<br />

ruim, da publicida<strong>de</strong>, um momento que não po<strong>de</strong>mos esquecer, para não <strong>de</strong>ixar passar, assim como o nazismo não po<strong>de</strong><br />

ser esquecido pelos ju<strong>de</strong>us e pelos alemães. São coisas que temos que <strong>de</strong>ixar, para lembrarmos sempre, para que não<br />

aconteçam novamente. Deixaram uma sequela muito gran<strong>de</strong> na nossa imagem os Marcos Valérios, Dudas Mendonças e<br />

outros nomes, mas o fato é que precisamos <strong>de</strong> uma forma <strong>de</strong> comunicação que seja o oposto que não po<strong>de</strong> se repetir.<br />

O alfinete número três é o gran<strong>de</strong> tema <strong>de</strong>ste <strong>Congresso</strong>: o cerceamento da liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> expressão comercial, que<br />

acaba acontecendo residualmente por causa dos dois primeiros e pela síndrome <strong>de</strong> acreditarmos que a comunicação é<br />

responsável por uma série <strong>de</strong> problemas no país, quando, na verda<strong>de</strong>, é a voz dos produtos e das marcas.<br />

é uma questão crucial, e não o é somente para a comunicação, mas para a <strong>de</strong>mocracia. A publicida<strong>de</strong> não po<strong>de</strong> ser o bo<strong>de</strong><br />

expiatório. Quando falamos <strong>de</strong> cercear a expressão comercial, o objetivo final po<strong>de</strong> ser o <strong>de</strong> cercear coisas mais profundas.<br />

Um conto do Julio Cortázar relata: um dia, eles vêm ao seu jardim e roubam uma flor, e você não faz nada porque era<br />

apenas uma flor; no dia seguinte, eles voltam ao seu jardim, e roubam o seu carro; você não po<strong>de</strong> fazer nada, porque você<br />

não viu o que foi feito, e assim por diante, e um dia eles entram na sua casa, roubam você, e aí, é tar<strong>de</strong> <strong>de</strong>mais para fazer<br />

alguma coisa. Quando permitimos que <strong>de</strong>terminadas portas da nossa ética e da nossa liberda<strong>de</strong> sejam abertas, estamos<br />

entregando coisas mais profundas. Não po<strong>de</strong>mos <strong>de</strong>ixar que haja um cerceamento da liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> expressão comercial,<br />

porque ela leva à castração <strong>de</strong> outras liberda<strong>de</strong>s.<br />

O alfinete número quatro, eu diria que é uma alfinetada auto-infligida: não temos tido unida<strong>de</strong>, que é a falta <strong>de</strong> esprit <strong>de</strong><br />

corps; nós não temos tido união ao redor <strong>de</strong> sistemas básicos do nosso negócio e da nossa ativida<strong>de</strong>. Isso é culpa das<br />

li<strong>de</strong>ranças das agências <strong>de</strong> propaganda, mais do que, por exemplo, dos veículos. Nesse ponto, a indústria das agências <strong>de</strong><br />

propaganda pecou nos últimos anos por não se fazer unida em torno <strong>de</strong> pontos comuns. Concorrência tem que existir,<br />

mas existem pontos que matam o negócio se não concordarmos com eles como um todo. Daqui para frente, isso é algo<br />

que <strong>de</strong>ve ser praticado; vocês estão hoje aqui, honestamente, para que consigamos sedimentar um pouco esse esprit <strong>de</strong><br />

corps. Cada pessoa que está neste <strong>Congresso</strong> tem a chance <strong>de</strong> fazer um pouco <strong>de</strong>ssa cola, uma cola social, profissional, nos<br />

valores da nossa ativida<strong>de</strong>, para que tenhamos mais esprit <strong>de</strong> corps.<br />

A quinta alfinetada auto-infligida: procurei um alfinete nas costas, a concorrência predatória, mas como o bonequinho<br />

não tinha um alfinete nas costas, coloquei o alfinete no saco, mesmo, porque não tem a mesma simbologia das costas,<br />

mas dói tanto quanto. Algumas coisas têm sido feitas em matéria <strong>de</strong> concorrência no mercado <strong>de</strong> agências, mas está fora<br />

<strong>de</strong> controle. Não po<strong>de</strong>mos ter proposta <strong>de</strong> remuneração zero em processos <strong>de</strong> concorrência e não po<strong>de</strong>mos ter quebra<br />

<strong>de</strong> nível <strong>de</strong> taxa contrariando o Cenp. Não po<strong>de</strong>mos ter oferta <strong>de</strong> evolução <strong>de</strong> BV para vencer uma concorrência. O BV é<br />

uma relação do incentivo entre o veículo e a agência e esse não é um dinheiro dos clientes, mas sim dos veículos. Assim<br />

como existe campanha <strong>de</strong> incentivo <strong>de</strong> balconista das Casas Bahia, Ponto Frio, <strong>de</strong> quem quer que seja – que é uma forma<br />

<strong>de</strong> bonificação –, os veículos têm sua forma <strong>de</strong> bonificação implantada com as agências. As agências não têm o direito<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>volver este dinheiro para os seus clientes e os clientes não têm o direito <strong>de</strong> pedir. O BV não po<strong>de</strong> ser parte <strong>de</strong> uma<br />

negociação para vencer uma concorrência. Isto é concorrência predatória.<br />

O uso <strong>de</strong> uma equipe <strong>de</strong> uma mesma agência para trabalhar com um outro grupo numa concorrência <strong>de</strong> uma outra<br />

agência, quando o cliente, na verda<strong>de</strong>, vai trabalhar com outra agência se ganhar a conta – mas quem trabalhou para<br />

vencer a concorrência não faz parte daquela agência. Existem casos assim e acho que são lamentáveis.<br />

Por parte do anunciante, existe uma <strong>de</strong>sinformação e um mau uso das concorrências. Até <strong>de</strong>ixo uma proposta no ar, no<br />

sentido <strong>de</strong> que toda concorrência pu<strong>de</strong>sse ser registrada na <strong>Abap</strong>. Antes <strong>de</strong> começar uma, o cliente liga para a <strong>Abap</strong> e<br />

informa que <strong>de</strong>seja uma concorrência para a sua conta, registrando isso na <strong>Abap</strong>. A primeira entida<strong>de</strong> que estaria ciente<br />

da concorrência seria a Associação Brasileira das Agências <strong>de</strong> Propaganda, que informaria o Cenp. Assim, nós teríamos a<br />

transparência <strong>de</strong> um processo <strong>de</strong> concorrência, uma visão mais profissional <strong>de</strong> como se organiza uma concorrência, até um<br />

processo <strong>de</strong> orientação da <strong>Abap</strong> e do Cenp sobre como <strong>de</strong>ve ser feito o processo.<br />

Eu já vi fazerem concorrência <strong>de</strong> coisas absurdas. Existe a boa intenção na concorrência; existe a <strong>de</strong>sinformação na<br />

concorrência; e existe a má intenção na concorrência. Às vezes, ela é usada para pressionar a agência atual que tem a conta,<br />

para baixar a sua remuneração. Um pouquinho <strong>de</strong> regra nas concorrências é muito importante.<br />

Além disso, acho que toda a concorrência <strong>de</strong>ve ser remunerada. Nosso trabalho custa dinheiro. Na hora em que eu paro<br />

para fazer uma concorrência, roubo tempo do Luca e do Bra<strong>de</strong>sco. Eu faço um trabalho especulativo com o tempo do meu<br />

cliente. Não po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong> graça.<br />

Alguns remuneram o processo <strong>de</strong> concorrência <strong>de</strong> uma maneira mais profissional. Existe essa oportunida<strong>de</strong> neste<br />

<strong>Congresso</strong> e <strong>de</strong>ixo minha proposta aqui.<br />

O outro alfinetinho é a inconsciência da nossa importância. Sem saber o que você é e o que representa, não há consciência;<br />

como é possível haver ética sem consciência? é o famoso “conhece a ti mesmo”. Todos temos que conhecer mais on<strong>de</strong><br />

estamos do que o que somos. Vocês <strong>de</strong>vem se conhecer melhor: a indústria da comunicação movimenta R$57 bilhões<br />

<strong>de</strong> receita total, paga mais <strong>de</strong> R$6 bilhões em impostos e taxas, participa <strong>de</strong> cento e seis mil empresas, emprega 640 mil<br />

pessoas e paga quase sete bilhões <strong>de</strong> salários e obrigações trabalhistas. Isso sem falar nas faculda<strong>de</strong>s que são um número<br />

gran<strong>de</strong> no Brasil, nos cursos <strong>de</strong> Comunicação – se não é o primeiro ou o segundo, é um dos mais procurados do país. Essa é<br />

a consciência da nossa profissão, nosso negócio, nosso mercado; são números que dão a gran<strong>de</strong>za do que representamos<br />

e do que somos.<br />

Temos que trabalhar com esses números em mente e nos dar o <strong>de</strong>vido valor, para po<strong>de</strong>rmos nos impor como categoria<br />

nesse mercado. Isso leva à outra questão da nossa baixa atuação como categoria. é como diz aquele velho ditado: em<br />

casa <strong>de</strong> ferreiro, o espeto é <strong>de</strong> pau. O <strong>Congresso</strong> é o primeiro passo para construirmos essa percepção do que é a nossa<br />

categoria, nossa indústria. Eu resumiria isso numa frase que parece óbvia: a indústria da comunicação precisa se comunicar.<br />

é óbvio que nos esquecemos <strong>de</strong> nós mesmos, e somos especialistas nisso; é um alfinete que po<strong>de</strong>ríamos ter ali.<br />

E o último alfinetinho – existem muitos outros, mas prefiro resumir – é uma espetada mais recente: a sustentabilida<strong>de</strong>, ou a<br />

insustentabilida<strong>de</strong>. Para mim, esta é a gran<strong>de</strong> questão ética do século e nossa indústria não po<strong>de</strong> fugir <strong>de</strong>la. Não <strong>de</strong>pen<strong>de</strong><br />

da categoria profissional; agora estamos falando da categoria humana. A questão da sustentabilida<strong>de</strong> tem que ser abraçada<br />

pelas agências, indústrias <strong>de</strong> comunicação e profissionais das agências e da nossa indústria, <strong>de</strong> uma maneira total.<br />

Essa é a gran<strong>de</strong> questão dos próximos anos e não é puramente ética; ela vai influenciar e impactar os negócios, como vocês<br />

já estão sabendo e sentindo. Cada um po<strong>de</strong> e <strong>de</strong>ve fazer, a partir <strong>de</strong> já, a sua parte.<br />

Vou mostrar esse ví<strong>de</strong>o <strong>de</strong> três minutos, com o qual eu encerro, como exemplo concreto <strong>de</strong> que dá para fazer, e nós é que<br />

temos o po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> fazer.<br />

258 259<br />

COMISSÃO 7 - EFICÁCIA NO PLANEJAMENTO E COMPRA DE MÍDIA<br />

Ví<strong>de</strong>o<br />

Para finalizar, eu queria dizer que a publicida<strong>de</strong> é a alma do negócio. E não a mala do negócio – trocar duas letrinhas po<strong>de</strong><br />

fazer uma diferença terrível! Para ter respeito, a publicida<strong>de</strong> precisa se dar o respeito.


Nosso papel na socieda<strong>de</strong> não é só o consumo. é o que vocês todos po<strong>de</strong>m fazer nas suas agências individualmente,<br />

fazendo a diferença daqui para frente. Com relação ao que está sendo gerado no <strong>Congresso</strong>, acho que vamos chegar a um<br />

conjunto <strong>de</strong> normas e ética importantes para a profissão nos próximos tempos.<br />

Vou <strong>de</strong>ixar uma frase da Sra. Eleanor Roosevelt que sempre me ajudou muito durante a vida e acho que po<strong>de</strong> ajudar todos<br />

aqui, inclusive a nossa profissão: “Ninguém faz você se sentir inferior sem seu consentimento.” Nosso problema <strong>de</strong> autoestima<br />

na propaganda <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> só <strong>de</strong> nós. Obrigado.<br />

fausto Silva<br />

O Oscar está selecionando as perguntas e as sugestões, opiniões, divergências, críticas e alegações. Se sobrar tempo,<br />

vamos voltar aos velhos tempos <strong>de</strong> repórter <strong>de</strong> campo e eu vou aí no meio <strong>de</strong> vocês dar chance para cada um se<br />

expressar, porque é melhor quem perguntou ou sugeriu apresentar a sua tese. Vamos ouvir a última palestra, do Flávio<br />

Ferrari, o Sr. do Ibope, uma das pessoas que mais conhece a importância do mídia.<br />

flávio ferrari<br />

Boa tar<strong>de</strong>. Eu gostaria <strong>de</strong> agra<strong>de</strong>cer o convite. Minha missão, <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>sse contexto, é respon<strong>de</strong>r a uma pergunta<br />

escondida por trás da eficácia no planejamento e na negociação <strong>de</strong> mídia: esse mo<strong>de</strong>lo brasileiro <strong>de</strong> agência <strong>de</strong> mídia<br />

inserida <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>sse contexto está aparelhado, capacitado para fazer o trabalho que se exige <strong>de</strong>le?<br />

Fiquei comovido por ter sido convidado e tenho algumas razões para tanto. Hoje tenho uma posição neutra em relação<br />

a isso, não estou envolvido na discussão. Além disso, já fui mídia, estou no mercado publicitário há 30 anos, 16 dos quais<br />

trabalhando em agência, boa parte <strong>de</strong>les como mídia e os últimos 14 no Ibope.<br />

Como fui sócio <strong>de</strong> uma agência, pu<strong>de</strong> fazer tudo o que tive vonta<strong>de</strong>: criação, planejamento e acabei fazendo mídia.<br />

Concluí que criação era um instrumento para otimizar a mídia. é a minha visão <strong>de</strong>ssa ativida<strong>de</strong>. Quanto à eficácia da<br />

atuação <strong>de</strong> mídia, a primeira coisa que me perguntei, já que vamos começar a discutir o conceito, foi o que é ser eficaz.<br />

é atingir o objetivo. Além <strong>de</strong> sermos eficazes, discutimos que também é preciso ser eficiente, utilizando os recursos. Ser<br />

eficaz e eficiente nos leva à excelência, o que se espera <strong>de</strong> um profissional <strong>de</strong> mídia.<br />

Há uma analogia antiga muito interessante sobre o papel do mídia: muitos o comparam a uma mulher elegante passando<br />

perfume; ela passa um pouquinho on<strong>de</strong> o público-alvo vai estar: atrás da orelha, no pulso; há 30 anos atrás, bastavam<br />

esses dois lugares. Agora a mídia está mais complexa.<br />

Falei em otimizar recursos <strong>de</strong> acordo com os objetivos, então, outra <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> que precisamos são objetivo e recurso.<br />

O objetivo da mídia, fundamentalmente, é entregar a mensagem para um público-alvo pre<strong>de</strong>finido, mas não <strong>de</strong> qualquer<br />

jeito: para ser excelente, tem que ser com uma frequência a<strong>de</strong>quada, num momento oportuno e consumindo o menor<br />

volume <strong>de</strong> recursos possível. Básica e fundamentalmente, é um exercício <strong>de</strong> logística. Fundamentada em informação<br />

e planejamento, em <strong>de</strong>cisão, negociação e em implementação, essa é a tarefa completa da ativida<strong>de</strong> específica <strong>de</strong><br />

mídia. Mas a mídia po<strong>de</strong> fazer mais do que isso, principalmente quando está <strong>de</strong>ntro do contexto <strong>de</strong> uma agência <strong>de</strong><br />

propaganda e não numa empresa que se <strong>de</strong>dica exclusivamente a fazer mídia.<br />

A propaganda tem alguns fundamentos. Estou fazendo uma coisa bastante sumarizada: o planejamento, que <strong>de</strong>fine objetivos<br />

estratégicos da comunicação; o copy (copi<strong>de</strong>sque), que <strong>de</strong>fine conteúdo; a criação, que <strong>de</strong>fine a forma; e a mídia que <strong>de</strong>fine a<br />

distribuição da mensagem. Dentro <strong>de</strong> um contexto em que essas áreas estão trabalhando em conjunto, existe uma integração<br />

sinérgica nisso. O Alexandre estava dizendo que nas reuniões com os clientes, ele fala <strong>de</strong> mídia.<br />

Acontece <strong>de</strong> a agência ser integrada: a mídia também vai falar <strong>de</strong> criação, todo mundo fala <strong>de</strong> tudo. São profissionais <strong>de</strong><br />

comunicação e para cada um <strong>de</strong>les foi dada uma responsabilida<strong>de</strong> específica, caso contrário, vira bagunça. Alguém no final do<br />

dia tem que chutar o pênalti, o outro cobrar o escanteio, e é assim que a coisa funciona. A mídia acaba fazendo mais do que<br />

isso: ela é responsável pela logística da comunicação, mas interage com o resto da comunicação como um todo.<br />

O que é preciso para fazer isso direito? Primeiro e fundamentalmente: objetivos bem <strong>de</strong>finidos. Antes <strong>de</strong> um profissional <strong>de</strong><br />

mídia começar a trabalhar, ele tem que saber o que está fazendo. O próprio Luca comentou isso durante sua apresentação.<br />

Segundo: recurso financeiro suficiente — eu já vou comentar sobre isso. Terceiro: bons profissionais, o assunto principal<br />

hoje. Quarto: informação a<strong>de</strong>quada para trabalhar. Quinto: ferramentas que facilitem o trabalho, que não são indispensáveis,<br />

mas ajudam muito, principalmente no mundo <strong>de</strong> hoje, on<strong>de</strong> se faz tudo com velocida<strong>de</strong>. E, por último, muito, muito, muito<br />

trabalho — porque ser mídia dá trabalho.<br />

Vamos falar primeiro dos objetivos. Definir um objetivo <strong>de</strong> mídia não é muito simples e não é um trabalho do mídia, mas<br />

da equipe <strong>de</strong> marketing do anunciante e todas as áreas da agência incluindo criação, etc. O objetivo da mídia se faz com<br />

intenção, intensida<strong>de</strong>, prazo, e com métricas objetivas. Existe uma sigla que se usa para isso: PDCA – Plan, Do, Check and Act<br />

(planejar, fazer, verificar e agir). O trabalho da mídia <strong>de</strong>ve ser dinamicamente monitorado; é uma ativida<strong>de</strong> simultaneamente<br />

técnica e humana, com uma gran<strong>de</strong> responsabilida<strong>de</strong> na comunicação.<br />

Trabalhei muito tempo em agências na área <strong>de</strong> mídia e raras vezes tive oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> receber do anunciante um objetivo<br />

<strong>de</strong> mídia bem <strong>de</strong>finido, claro, que eu pu<strong>de</strong>sse olhar e sair fazendo os planos <strong>de</strong> mídia para aten<strong>de</strong>r aquele objetivo. é muito<br />

comum recebermos uma indicação <strong>de</strong> verba <strong>de</strong> mídia: “vou lançar um produto e aqui está o dinheiro que eu tenho para fazer<br />

isso”. Já fiz vários estudos a respeito e existe uma gran<strong>de</strong> correlação entre o investimento publicitário e o volume <strong>de</strong> vendas<br />

<strong>de</strong> uma empresa, mas essa relação é normalmente estabelecida ao contrário, porque as pessoas <strong>de</strong>dicam parte daquilo que<br />

ven<strong>de</strong>m à comunicação. Tem correlação, mas não é quanto mais se anuncia, mais se ven<strong>de</strong>. é quanto mais se ven<strong>de</strong>, mais se<br />

anuncia, pois mais dinheiro se tem para anunciar.<br />

Isso não acontece só no Brasil, mas no mundo inteiro. é muito raro termos esse processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>finição da verba <strong>de</strong> mídia em<br />

função do objetivo <strong>de</strong> mídia, como em função do objetivo <strong>de</strong> comunicação. Só chamo a atenção para isso porque é muito<br />

difícil começarmos um trabalho <strong>de</strong> mídia sem que esses dois primeiros passos tenham sido bem <strong>de</strong>senhados e <strong>de</strong>finidos. Eu,<br />

como mídia, posso até ajudar, mas não posso resolver essa questão.<br />

O Brasil tem um dos cenários mais complexos <strong>de</strong> mídia do mundo. Eu cuido da operação do Ibope em toda a América Latina,<br />

mas tenho outros parceiros internacionais na Europa, nos Estados Unidos. Estou em constante contato com essa complexida<strong>de</strong>,<br />

como outros profissionais das agências aqui também estão. Temos um país com dimensão continental, com uma diversida<strong>de</strong><br />

social <strong>de</strong> público inigualável, uma característica latino-americana, porém, bem mais acentuada no Brasil. Temos uma riqueza<br />

e uma diversida<strong>de</strong> cultural imensas, com todas as formas <strong>de</strong> mídias disponíveis, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o “homem-sanduíche” que vimos<br />

<strong>de</strong>sfilando na 7 <strong>de</strong> abril, até o mundo digital convergente, e tem uma história <strong>de</strong>safiadora.<br />

Passamos por diversos planos econômicos e por tudo o que alguém po<strong>de</strong> passar do ponto <strong>de</strong> vista <strong>de</strong> negócio <strong>de</strong> comunicação.<br />

Os mídias que estão aqui passaram por tudo isso e construíram um currículo inigualável. Não há outro lugar neste planeta<br />

que tenha a mídia com esta história e com esta complexida<strong>de</strong> para enfrentar. é muito mais fácil levar um mídia brasileiro para<br />

trabalhar fora do Brasil do que trazer um mídia estrangeiro para trabalhar no Brasil. E além disso, hoje, passados muitos anos,<br />

com a Escola Superior <strong>de</strong> Propaganda e Marketing e o sistema educativo trabalhando para que se forme gente, o mídia tem<br />

formação acadêmica. Além da formação empírica no próprio mercado, investimos muito nisso.<br />

O Grupo <strong>de</strong> Mídia tem vários cursos <strong>de</strong> formação sobre o tema; o Ibope também <strong>de</strong>senvolveu um programa chamado Media<br />

Class, para treinar as equipes <strong>de</strong> mídia, principalmente os mais jovens. Esse pessoal está em permanente atualização. O Grupo<br />

promove viagens <strong>de</strong> estudos no exterior, para ver se o que fazemos já está sendo feito ou não. A maior parte das pessoas do<br />

mundo da mídia tem conexão com players internacionais e outras fontes <strong>de</strong> informação, e é um grupo bastante questionador<br />

e exigente, que se pergunta permanentemente se podia fazer alguma coisa diferente.<br />

Para ver um mídia irritado, basta ele <strong>de</strong>scobrir que alguém está fazendo alguma coisa melhor ou diferente daquilo que ele<br />

está fazendo. Ele logo corre atrás e vai <strong>de</strong>scobrir como é que se faz também. E o interessante é que nosso mídia, além <strong>de</strong> tudo<br />

isso, ainda tem a criativida<strong>de</strong> como valor agregado, porque essa turma — talvez por trabalhar nesse contexto <strong>de</strong> agência <strong>de</strong><br />

propaganda — é criativo.<br />

Sou engenheiro por formação e já fui até redator <strong>de</strong> agência, por conviver <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> uma agência <strong>de</strong> propaganda nesse meio<br />

cultural, mas essa convivência traz isso também para a mídia; o profissional <strong>de</strong>sta área não é só um técnico, não está só voltado<br />

para a questão financeira: ele também está envolvido com o lado humano e mergulhado do processo criativo da agência <strong>de</strong><br />

propaganda.<br />

Por <strong>de</strong>finição, temos o mídia como um profissional bem preparado. Faltariam, então, as ferramentas. Porém, temos que<br />

lembrar que as agências <strong>de</strong> mídia se ven<strong>de</strong>m como prestadoras <strong>de</strong> serviços <strong>de</strong> mídia; esse é o seu discurso fundamental.<br />

Tradicionalmente, as agências <strong>de</strong> propaganda no Brasil se ven<strong>de</strong>m como criativas; o principal produto <strong>de</strong> trabalho da agência<br />

— a música mais popular, mais bem aceita; o discurso melhor e mais impactante — é o criativo.<br />

As agências <strong>de</strong> propaganda falam muito dos prêmios que ganham em criação, mas pouco <strong>de</strong> mídia, <strong>de</strong>ixando-a como a parte<br />

mais operativa, e, por isso, dando a impressão <strong>de</strong> que uma agência <strong>de</strong> mídia que se <strong>de</strong>dique quase exclusivamente a isso, é<br />

mais especializada e eficiente; é isso que ela tem para falar, é disso que ela po<strong>de</strong> falar.<br />

Se avaliarmos hoje como funcionam as ferramentas para uma agência brasileira, elas são as mesmas disponíveis para os birôs<br />

e centrais <strong>de</strong> mídia em torno do planeta. Posso garantir isso a vocês.<br />

Existem as ferramentas sindicalizadas (usamos essa expressão no caso das ferramentas oferecidas para todo o mercado<br />

igualmente), que são as que o Ibope, a Ipsos e outros institutos <strong>de</strong> pesquisas fazem, não sob encomenda. é só fazer, colocar<br />

na prateleira e qualquer agência <strong>de</strong> propaganda ou profissional po<strong>de</strong> ver, não é restrito. Essas ferramentas são fundamentais<br />

para o negócio <strong>de</strong> mídia. As que temos no Brasil são exatamente as mesmas disponíveis nos melhores e mais sofisticados<br />

mercados do mundo. O Ibope, a Ipsos e outros institutos <strong>de</strong> pesquisa que também têm associações internacionais garantem<br />

que isso aconteça.<br />

Precisamos <strong>de</strong>senvolver algumas coisas aqui que estão mais <strong>de</strong>senvolvidas lá fora, mas tudo é uma questão <strong>de</strong> timing, custo e<br />

beneficio. Na medida em que o mercado vai ficando maduro, a penetração da internet ou TV Digital cresce, outras mídias mais<br />

refinadas vão crescendo, trazemos a ferramenta para cá e vamos implementando, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que já exista massa crítica para isso.<br />

Os outros tipos <strong>de</strong> ferramenta eu chamo <strong>de</strong> proprietárias; não são sindicalizadas, mas são aquelas que as agências <strong>de</strong> propaganda<br />

e os birôs <strong>de</strong> mídia adquirem ou <strong>de</strong>senvolvem como diferencial competitivo. O conjunto <strong>de</strong>ssas duas, as sindicalizadas e as<br />

proprietárias, forma um grupo <strong>de</strong> coisas que são informação, ferramentas <strong>de</strong> análise estratégica, ferramentas <strong>de</strong> aplicação<br />

tática e ferramentas <strong>de</strong> controle.<br />

Para dar um exemplo, a informação é audiência <strong>de</strong> rádio, televisão, revista como referência e a informação estratégica seria um<br />

Target Group In<strong>de</strong>x, uma pesquisa single source, com todo um sistema <strong>de</strong> análises multivariadas por trás <strong>de</strong>sse contexto. Uma<br />

ferramenta tática são os simuladores que se colocam, <strong>de</strong>screve-se uma programação, eles fazem a simulação e dizem quanto<br />

aquela programação vai dar <strong>de</strong> alcance e freqüência; e ferramenta <strong>de</strong> controle, que usamos para fazer avaliação <strong>de</strong> act band<br />

<strong>de</strong> publicida<strong>de</strong>, <strong>de</strong> volume <strong>de</strong> investimento publicitário.<br />

Fizemos uma lista das principais ferramentas disponíveis no mercado para isso; algumas são sindicalizadas, outras proprietárias,<br />

mas todas estão <strong>de</strong> uma forma ou <strong>de</strong> outra, disponíveis para uma agência brasileira. No caso das sindicalizadas, basta bater na<br />

porta do Ibope, da Marplan, da Ipsos e comprar. Temos várias famílias <strong>de</strong> ferramentas acessórias. Fundamentalmente, é aquilo<br />

que faz o marketing <strong>de</strong> uma agência <strong>de</strong> mídia; são algoritmos para sistematizar o pensamento estratégico <strong>de</strong> mídia.<br />

Comecei minha vida como mídia na Lintas, uma agência muito organizada nessa área. Havia um processo <strong>de</strong> pensamento <strong>de</strong><br />

mídia organizado <strong>de</strong>ntro da agência, criando front-ends, pequenos softwares, elementos que organizam melhor o raciocínio e<br />

ajudam a trabalhar a informação, aos quais dá-se um nome sofisticado e isso vira um nicho proprietário da agência, que utiliza<br />

a ferramenta como um marketing promocional.<br />

Não significa que outra agência que não tenha exatamente aquela ferramenta não esteja fazendo a mesma coisa com outro<br />

nome, <strong>de</strong> outra forma, ou sem dar qualquer nome — aliás, é um costume do mídia brasileiro não batizar a forma <strong>de</strong> trabalho.<br />

Trabalhamos, fazemos todos os processos e não costumamos batizar o processo e fazer promoção sobre ele; isso é histórico<br />

aqui.<br />

Essas ferramentas têm muitos nomes. As equipes da Comissão e do Ibope ajudaram e fizemos um levantamento sobre elas,<br />

que mostrou que temos ferramentas <strong>de</strong> hábitos e atitu<strong>de</strong>s, analisadores parametrizáveis <strong>de</strong> perfil, analisadores <strong>de</strong> mercado,<br />

ferramentas <strong>de</strong> engagement, muitas ferramentas que cuidam <strong>de</strong>sse algoritmo para sistematizar o pensamento, com nomes<br />

diferentes em lugares diferentes. Elas estão disponíveis para as agências internacionais, que po<strong>de</strong>m trazer <strong>de</strong> suas agências<br />

<strong>de</strong> seus escritórios internacionais que <strong>de</strong>senvolveram isso. Também estão à disposição das agências nacionais, seja através<br />

das próprias agências internacionais que possuem uma software house que comercializa esse produto, <strong>de</strong> terceiros que<br />

disponibilizam, po<strong>de</strong>m <strong>de</strong>senvolver para as agências nacionais, ou, ainda, até através do Ibope, se quiserem. Se vocês quiserem<br />

uma ferramenta e pedirem para mim, eu tenho contatos no mundo inteiro, posso <strong>de</strong>scobrir on<strong>de</strong> existe uma parecida e trazer.<br />

O que falta é a questão do trabalho — muito trabalho —, e não é só do mídia, mas <strong>de</strong> equipe. O mídia tem que enten<strong>de</strong>r<br />

260 261<br />

COMISSÃO 7 - EFICÁCIA NO PLANEJAMENTO E COMPRA DE MÍDIA


o negócio do anunciante, conversar muito proximamente com ele, trabalhar integrado com criação e planejamento. Se<br />

ele quiser produzir um resultado sinérgico e aumentar sua contribuição, precisa ter profundo conhecimento dos canais <strong>de</strong><br />

comunicação, <strong>de</strong> sua relação com o consumidor. I<strong>de</strong>ntificar e criar oportunida<strong>de</strong> são duas das mais importantes tarefas do<br />

mídia; suas gran<strong>de</strong>s missões também são pesquisas e simulações, avaliações e acompanhamento sistemático da realida<strong>de</strong>.<br />

Fundamentalmente, o mídia trabalha para antecipar risco; acho que isso é uma das coisas mais importantes: o anunciante<br />

entrega seu dinheiro para o mídia, e este, além <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificar oportunida<strong>de</strong>s para o uso <strong>de</strong>sse dinheiro, também precisa<br />

antecipar coisas que possam dar errado.<br />

Por último, falo sobre a questão da visão <strong>de</strong> negociação estratégica. Negociar nem sempre é <strong>de</strong>sconto; parece óbvio, mas não<br />

é. Como mídia, trabalhei muitos anos ouvindo do cliente que ele queria sempre mais <strong>de</strong>sconto. Mais <strong>de</strong>sconto não significa,<br />

necessariamente, melhor mídia. Uma melhor oportunida<strong>de</strong>, uma a<strong>de</strong>quação da mídia objetiva do cliente, isto sim, representa<br />

uma boa negociação.<br />

O cenário, como vocês já disseram, está ficando cada vez mais complexo. Fazer mídia está cada vez mais difícil. Eu verda<strong>de</strong>iramente<br />

acredito — talvez por isso tenham me convidado — que o mídia brasileiro está absolutamente preparado, talvez<br />

mais preparado que os <strong>de</strong>mais mídias <strong>de</strong> outras paragens para isso, porque o brasileiro está acostumado com complexida<strong>de</strong><br />

e tem uma formação que, além <strong>de</strong> técnica, também é humana, até pela convivência <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> um contexto <strong>de</strong> agência <strong>de</strong><br />

propaganda, que é exatamente voltada para esse tipo <strong>de</strong> questão <strong>de</strong> compreensão do comportamento humano. Obrigado.<br />

fausto Silva<br />

Depois do Luca Cavalcanti, do Alexandre Gama, e do Flavio Ferrari, vamos lá que prometemos, vamos <strong>de</strong>scer aqui, vamos<br />

começar com Fernando Soares <strong>de</strong> Camargo, que tem “só” 43 anos <strong>de</strong> profissão, e 24 como membro do Conselho <strong>de</strong> ética do<br />

Conar.<br />

fernando Soares <strong>de</strong> Camargo<br />

é uma pergunta, talvez uma provocação à mesa.<br />

Ângelo franzão<br />

Enquanto achamos o texto, como temos três lugares na mesa, eu gostaria <strong>de</strong> convidar os integrantes da comissão do Grupo<br />

<strong>de</strong> Mídia, que trabalhou em toda a preparação no trabalho: Daniel Chalfon da MPM, Luiz Fernando Vieira da África, Flavio<br />

Rezen<strong>de</strong> da DPZ, Paulinho Camoa.<br />

fernando Soares <strong>de</strong> Camargo<br />

Eu gostaria <strong>de</strong> lembrar os ensinamentos dos mestres David Ogilvy, Theodore Levitt, ainda na primeira meta<strong>de</strong> do século XX e,<br />

mais recentemente, muito reforçados por nosso lí<strong>de</strong>r hoje na publicida<strong>de</strong> brasileira Nizan Guanaes em todas suas brilhantes<br />

palestras: a ênfase que se <strong>de</strong>staca da importância do planejamento como uma correta orientação para a comunicação<br />

publicitária.<br />

O título <strong>de</strong>sta Comissão e os ilustres membros que a valorizam mostram que o papel do planejamento eficaz na mídia é como<br />

integrar o planejamento global <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> um programa <strong>de</strong> comunicação. Po<strong>de</strong>mos afirmar que o Grupo <strong>de</strong> Mídia, que vi<br />

nascer há quase 30 anos, é pioneiro na formação <strong>de</strong> profissionais altamente qualificados para a função, voltados sempre para<br />

a valorização e qualificação da ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> mídia.<br />

Pelas informações que recebemos sobre as tendências futuras do setor <strong>de</strong> publicida<strong>de</strong> em todo o mundo, vemos que as<br />

agências em particular estão sendo ameaçadas pela importação <strong>de</strong> um sistema <strong>de</strong> centralização <strong>de</strong> compra <strong>de</strong> mídia, que<br />

opera praticamente como operador financeiro e agente <strong>de</strong> negócios, mais do que planejador <strong>de</strong> mídia propriamente dito. Em<br />

alguns países, essa realida<strong>de</strong> está transformando as agências em meros fornecedores <strong>de</strong> talento criativo. Como esta Comissão<br />

encara esta sombria ameaça para o futuro bem próximo da publicida<strong>de</strong> brasileira? Muito obrigado.<br />

fausto Silva<br />

Quem vai respon<strong>de</strong>r?<br />

Paulo Cesar queiroz<br />

é o Alexandre, que se manifestou, e eu, como secretário, com gran<strong>de</strong> respeito que tenho ao senhor, fiquei feliz por ver<br />

suas colocações, mas peço a todos que procurem ocupar o tempo máximo <strong>de</strong> 90 segundos, senão não vamos ter muitas<br />

manifestações.<br />

fausto Silva<br />

E dar mais oportunida<strong>de</strong> a mais gente, não é?<br />

Ângelo franzão<br />

Exato, Fausto. Nós <strong>de</strong>vemos aperfeiçoar a tese apresentada na tela, porque é nisso que precisamos trabalhar: aperfeiçoar a<br />

tese, para que tenhamos no final uma boa recomendação para a ativida<strong>de</strong>.<br />

Alexandre Gama<br />

Esse foi exatamente o motivo do meu artigo na Gazeta Mercantil e na Meio & Mensagem. Essa sua idéia principal <strong>de</strong> se<br />

instalar aqui um mesmo mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> negócios, on<strong>de</strong> a mídia e a criação não estão juntas, como existe no resto do mundo,<br />

já esteve até mais próxima há tempos atrás. Eu até diria que hoje, em função <strong>de</strong> tudo o que está acontecendo com essa<br />

fragmentação, com os meios e com o <strong>Congresso</strong>, nas últimas <strong>de</strong>cisões que temos tomado em torno da categoria e da<br />

indústria, ela está até um pouco mais distante do que já esteve.<br />

é uma ameaça um pouco mais distante; o preço da liberda<strong>de</strong> é a constante vigilância. O <strong>Congresso</strong> não termina, mas<br />

começa no dia 16, quando a tese vira prática. Nesse sentido, o que sair do <strong>Congresso</strong> por escrito vai começar a ser adotado<br />

no mercado como um todo.<br />

Hoje está mais fácil mantermos um mo<strong>de</strong>lo saudável do que manter as agências fortes, paga com salários altos e faz com<br />

que o Brasil seja o principal mercado <strong>de</strong> propaganda na América Latina.<br />

fausto Silva<br />

O Luiz Fernando Vieira, da África, tem uma recomendação a ser incorporada à tese.<br />

luiz fernando Vieira<br />

Obrigado pela oportunida<strong>de</strong>. Fiquei muito feliz em ouvir as três apresentações, principalmente porque percebo que o<br />

mercado espera muito mais <strong>de</strong> nós daqui para frente.<br />

Eu não estive no I <strong>Congresso</strong>, mas vi o surgimento da TV a cabo, da internet e <strong>de</strong> outras tecnologias. Minha recomendação<br />

para incrementar a tese, <strong>de</strong>ntro do item que fala dos currículos dos cursos <strong>de</strong> graduação, é a inclusão oficial nas faculda<strong>de</strong>s<br />

<strong>de</strong> sistemas como tecnologia, novas mídias, customização <strong>de</strong> meios, inclusive outros serviços <strong>de</strong> marketing como eventos,<br />

marketing direto, etc. <strong>de</strong>ntro do currículo do curso <strong>de</strong> mídia, com a idéia <strong>de</strong> já prepararmos gerações prontas para conviver<br />

com esse ambiente múltiplo que estamos vivendo hoje.<br />

Ângelo franzão<br />

Vamos votar por item, para não nos per<strong>de</strong>rmos no final do painel. A sugestão do Luiz é bastante pertinente, porém, acho que<br />

ele já está entrando no <strong>de</strong>talhe da revisão dos currículos. De qualquer forma, vale a pena observar esses itens.<br />

luiz fernando Vieira<br />

Na tese consta revisão dos currículos e acho esse item fundamental.<br />

Tecnologia, instrumental, outros serviços <strong>de</strong> marketing e novas mídias.<br />

fausto Silva<br />

Antônio Jorge Pinheiros, da Mídia 1 Comunicação, vice-presi<strong>de</strong>nte muito atuante do Grupo <strong>de</strong> Mídia no Rio.<br />

Antônio Jorge Pinheiros<br />

Na condição <strong>de</strong> vice-presi<strong>de</strong>nte do Grupo <strong>de</strong> Mídia do Rio <strong>de</strong> Janeiro, quero dar apoio total ao Grupo, que foi <strong>de</strong> uma maior<br />

integração entre os grupos dos diversos estados nos currículos escolares e na presença do profissional <strong>de</strong> mídia <strong>de</strong> agência.<br />

Ângelo franzão<br />

Acho que a consi<strong>de</strong>ração e a opinião dos Grupos <strong>de</strong> Mídia estaduais na revisão dos currículos também po<strong>de</strong> fazer parte da<br />

tese. Obrigado.<br />

Rafael liporace, da biruta mídias<br />

Meus alunos também sofrem. Eu queria fazer a recomendação <strong>de</strong> uma inserção na tese, com base no exemplo atestado<br />

pelo Luca da inclusão dos profissionais <strong>de</strong> mídia no <strong>de</strong>partamento <strong>de</strong> marketing das empresas. Isso já acontece em algumas<br />

empresas. Ele <strong>de</strong>u o exemplo do Bra<strong>de</strong>sco; existem algumas empresas no Brasil inteiro, mas acho que já que é o momento<br />

<strong>de</strong> organizar, <strong>de</strong>veríamos no mínimo recomendar às gran<strong>de</strong>s empresas que tivessem profissionais <strong>de</strong> mídia em seus<br />

<strong>de</strong>partamentos <strong>de</strong> marketing.<br />

fausto Silva<br />

Paulo Chueiri tem duas sugestões.<br />

Paulo Chueiri<br />

Na verda<strong>de</strong>, elas são interligadas. Primeiro, quero cumprimentar a mesa pelo brilhantismo das apresentações e por tudo<br />

o que fizeram nesse trabalho da Comissão do Grupo <strong>de</strong> Mídia. Mas o que nos incomodou muito — acho que ainda hoje<br />

incomoda a todos os profissionais <strong>de</strong> mídia — é o vulto das <strong>de</strong>spesas <strong>de</strong>correntes da compra do instrumental <strong>de</strong> fiscalização,<br />

principalmente <strong>de</strong> mídia eletrônica. O valor mínimo sugerido é <strong>de</strong> 1% da receita bruta ou líquida?<br />

Ângelo franzão<br />

é sempre da receita.<br />

Paulo Chueiri<br />

Essa porcentagem da receita po<strong>de</strong>rá significar pouco ou muito, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo da receita das agências, sendo que o ferramental <strong>de</strong><br />

mídia tem um preço <strong>de</strong>terminado e fixo. Minha recomendação é que esse percentual, embora seja o mínimo, possa ser flexível.<br />

Fui sócio <strong>de</strong> uma agência e fiz a conta com o meu financeiro; nós investimos 4% da receita operacional bruta no ferramental<br />

<strong>de</strong> mídia. As coisas são interligadas: o investimento em ferramenta <strong>de</strong> checking que representa hoje 40 ou 50% do que as<br />

agências <strong>de</strong>spen<strong>de</strong>m computando pesquisa <strong>de</strong> mídia, etc. Falando <strong>de</strong> mídia eletrônica, minha sugestão é que os próprios<br />

veículos, através <strong>de</strong> suas entida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> classe, falando <strong>de</strong> mídia eletrônica, <strong>de</strong> uma auditoria, etc., chancelem que aquilo que<br />

eles ven<strong>de</strong>ram foi entregue, está no ar, porque em algumas re<strong>de</strong>s <strong>de</strong> televisão (falando em televisão aberta e mesmo paga),<br />

o porcentual <strong>de</strong> falhas é mínimo. Essa verba que é investida nesse ferramental <strong>de</strong>veria ser utilizada em novas ferramentas<br />

<strong>de</strong> pesquisa <strong>de</strong> consumidor e sua relação com a mídia, sem prejuízo do investimento dos institutos que <strong>de</strong>senvolvem este<br />

trabalho.<br />

Ângelo franzão<br />

Me permite respon<strong>de</strong>r?<br />

Você po<strong>de</strong> complementar <strong>de</strong>pois, Paulinho?<br />

262 263<br />

COMISSÃO 7 - EFICÁCIA NO PLANEJAMENTO E COMPRA DE MÍDIA


fausto Silva<br />

Me parece que é o mesmo assunto do Manoel Mauger do SBT. Vamos <strong>de</strong>ixar o Manoel acrescentar e você já respon<strong>de</strong> para<br />

ambos.<br />

manoel mauger<br />

Eu já dirigi <strong>de</strong>partamentos gran<strong>de</strong>s, com cerca <strong>de</strong> 14 milhões <strong>de</strong> orçamento <strong>de</strong> pesquisa <strong>de</strong> mídia. Consi<strong>de</strong>rando a fiscalização,<br />

é absolutamente normal. Você não está falando <strong>de</strong> 10%?<br />

Ângelo franzão<br />

é só 1%. Essa recomendação <strong>de</strong> 1% é da receita; ela contempla pesquisas e instrumental <strong>de</strong> mídia, e não ferramentas<br />

administrativas da agência. Eu concordo com você, Paulo, é um dinheiro jogado fora, que não tem muito sentido e sai da<br />

verba <strong>de</strong> mídia e sabemos disso, mas ele não estaria contemplado nesse 1%.<br />

Nossa recomendação é que se aplique 1%, em ferramentas, pesquisas, enfim, em informações proprietárias para o <strong>de</strong>senvolvimento<br />

e maior eficácia do planejamento e da negociação. Exclui o investimento <strong>de</strong> checking ou coisa parecida, não entra nessa área.<br />

O 1% também, Manoel, não é do faturamento, mas da receita. Fizemos uma análise do mercado e é uma variação <strong>de</strong> 1 a 3%<br />

da receita em geral; <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> do tamanho da agência; quanto maior o tamanho, esse 1% vai contemplar maior volume <strong>de</strong><br />

informação. O percentual já contempla a dimensão da empresa.<br />

A própria <strong>Abap</strong> publicou um folheto <strong>de</strong>finindo exatamente qual é a receita gerada pela publicida<strong>de</strong> para cada um dos meios<br />

e também o investimento em pesquisa; nós estamos muito <strong>de</strong>ntro.<br />

A terceira informação que vale a pena lembrar: o que nós estamos <strong>de</strong>terminando aqui se aplica para o mercado nacional em<br />

nível nacional; estamos retratando o panorama das principais empresas do mercado, das 10, 15, 20, 30 agências do mercado,<br />

que representam 60 a 80% do negócio (não sei ao certo), mas existem empresas <strong>de</strong> menor porte espalhadas pelo Brasil inteiro e<br />

<strong>de</strong>vem ser contempladas em tudo o que tiver <strong>de</strong>finido aqui. A idéia é fazer com que a operação das agências, particularmente<br />

na área <strong>de</strong> mídia, tenha uma conduta só, qualquer que seja seu tamanho, em qualquer que seja o seu mercado.<br />

Temos que nos preocupar com tudo isso, mesmo porque o próprio Cenp faz observações nesta área. Vamos votar. Essa é<br />

minha opinião, vocês têm boas colocações, eu entendo que temos que nos preocupar com o mercado nacional, os diversos<br />

tamanhos <strong>de</strong> empresas atuando nessa área e com a estrutura <strong>de</strong> mídia que, <strong>de</strong> certa forma, <strong>de</strong>ve alimentar esse processo.<br />

Não i<strong>de</strong>ntificado<br />

Em hipótese alguma queremos que esse raciocínio colida com as regras do Cenp, que já prevê, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo do porte da<br />

agência, um volume <strong>de</strong> aporte em pesquisa <strong>de</strong> mídia.<br />

Infelizmente, existe uma confusão muito gran<strong>de</strong> e vocês, colegas experimentados do mercado, acabaram caindo nessa.<br />

Nós não reconhecemos o checking como uma ferramenta <strong>de</strong> pesquisa <strong>de</strong> mídia; ele é somente uma ferramenta <strong>de</strong> gestão<br />

administrativa, e não se po<strong>de</strong> dizer que ocorre a compra do checking, portanto, não haverá investimento em audiência, em<br />

estudo <strong>de</strong> perfil <strong>de</strong> consumidor, etc. O checking é uma função sine qua non para geração da credibilida<strong>de</strong> da operação. A sua<br />

amplitu<strong>de</strong> é uma questão das relações entre cliente-agência<br />

fausto Silva<br />

O Rafael Davini, da Turner, tem uma pergunta para o Alexandre.<br />

Rafael Davini<br />

Você abordou o ponto da eficácia e eficiência na compra <strong>de</strong> mídia versus a pura e simples busca <strong>de</strong> <strong>de</strong>sconto. Esse é um<br />

problema latente no mercado, é uma pressão: começa com o cliente que tem seus investimentos, <strong>de</strong>ve satisfações a seus<br />

acionistas e os melhores resultados passam para a agência e, obviamente, acabam no veículo. Na sua maneira <strong>de</strong> ver, como<br />

po<strong>de</strong>mos quebrar esse paradigma da nossa indústria, essa pressão que todo mundo tem em seu <strong>de</strong>terminado setor, <strong>de</strong>ntro<br />

<strong>de</strong>ssa tríplice aliança que movimenta o setor na nossa indústria <strong>de</strong> publicida<strong>de</strong>?<br />

Alexandre Gama<br />

O Brasil é um país tático, <strong>de</strong> interesses táticos e vejo a nossa profissão ser tratada <strong>de</strong> uma maneira tática. Então, historicamente,<br />

acabamos sendo um pouco mais táticos no varejo, que é mais forte; é uma mentalida<strong>de</strong> cultural.<br />

O Brasil foi colônia e tem essa mentalida<strong>de</strong> extrativista. Estamos aí para sermos fonte <strong>de</strong> alguma coisa, isso tudo é um lado<br />

cultural. Quando isso <strong>de</strong>semboca na mídia, a única maneira <strong>de</strong> colocarmos isso <strong>de</strong> uma maneira mais profissional é fazer um<br />

trabalho, e esse trabalho é diário, não é uma resposta que se dá rapidamente para o cliente, mas é um trabalho <strong>de</strong> catequese.<br />

A mídia <strong>de</strong>ve ser cada vez mais percebida como estratégica, capaz <strong>de</strong> proporcionar para esse anunciante um <strong>de</strong>sconto que<br />

não é só financeiro e enorme no médio e longo prazo.<br />

Quando o Luca mostra que houve uma valorização <strong>de</strong> 90% no valor da marca do Bra<strong>de</strong>sco em três anos, não há <strong>de</strong>sconto que<br />

dê um retorno financeiro como esse. Cabe a vocês mostrarem quais são os resultados, porque cliente é movido a resultado; a<br />

única palavra que o cliente reconhece como argumento chama-se resultado, o resto é tese.<br />

Vocês <strong>de</strong>vem expor isso no médio e no longo prazo, dizendo o que acontece com a verba, no que ela se transforma. é preciso<br />

falar com o cliente sobre o benefício e não só o custo no dia-a-dia. Não existe outro jeito. Se eu soubesse que o resultado seria<br />

esse, preferiria comprar uma variação do valor da marca no varejo, porque daria mais do que a comissão. Mas é tar<strong>de</strong> <strong>de</strong>mais,<br />

não po<strong>de</strong>mos mais conversar sobre isso, mas este é o valor que a publicida<strong>de</strong> agrega para uma marca.<br />

Se discutirmos o sentido tático da negociação — que é importante, mas é só tático — e não discutirmos a estratégias vamos<br />

sofrer para sempre <strong>de</strong>sse problema. De novo, eu volto ao Giap, que fez com 1/10 da verba muito mais do que os outros que<br />

tinham mais verba. Essa é a gran<strong>de</strong> faceta do profissional <strong>de</strong> mídia; somos estratégicos, não vamos fazer <strong>de</strong>sconto para você,<br />

mas vamos ganhar 1% a mais do que uma agência concorrente ganharia nessa negociação. Mas a contribuição em termos <strong>de</strong><br />

ganho, <strong>de</strong> uma estratégia brilhante, <strong>de</strong> uma criativida<strong>de</strong> brilhante, dando o resultado que nós vimos aqui, vale mais do que<br />

qualquer <strong>de</strong>sconto; não tem cliente que consiga refutar um argumento como esse. A mídia tem que se tratar e ser tratada mais<br />

como uma ferramenta altamente estratégica, essa é a minha visão.<br />

fausto Silva<br />

Uma consi<strong>de</strong>ração do Flavio Rezen<strong>de</strong>.<br />

flávio Rezen<strong>de</strong><br />

Eu opero numa agência nacional e temos vários colegas nesta mesma situação. Além <strong>de</strong> operarmos com as pesquisas<br />

sindicalizadas, também trabalhamos estrategicamente em estudos ad hoc. Nós atuamos comprando; temos a disponibilida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>sse instrumental no cardápio, é só querer comprar.<br />

Apesar <strong>de</strong> já constar das normas do Cenp, eu gostaria <strong>de</strong> ratificar e, se possível, fazer com que constasse na tese. Tudo isso é<br />

muito importante, mas como temos representantes do Brasil inteiro aqui, é muito mais importante que as agências constituam<br />

uma área <strong>de</strong> mídia. Sabemos disso, porque estamos acostumados com palestras pelo país a fora e muitas vezes essa área é<br />

operada pelo dono da agência; outras vezes, pela criação. Isso ajudará a formar gente pelo Brasil todo. O meu obrigado ao<br />

<strong>Congresso</strong>, ao Ângelo, ao convite e a todos.<br />

Ângelo franzão<br />

Sintetizando sua recomendação para a tese: a Comissão recomenda que as agências <strong>de</strong> propaganda <strong>de</strong>finam uma área...<br />

flávio Rezen<strong>de</strong><br />

E se não ocorrer, não po<strong>de</strong>m se filiar à <strong>Abap</strong> ou a qualquer outra entida<strong>de</strong>. Eu gostaria <strong>de</strong> registrar esta tese aqui.<br />

luca Cavalcanti<br />

Como anunciante e imaginando a situação <strong>de</strong> uma empresa menor, acho que além <strong>de</strong> o profissional das agências ser<br />

certificado, pelo menos um profissional do cliente que contrata o serviço da agência <strong>de</strong>ve ser certificado também. Como eu<br />

vou comprar, sem conhecer o que eu estou comprando? Ele tem que saber como é o mercado, e é óbvio que se você tem<br />

uma agência <strong>de</strong> publicida<strong>de</strong>, <strong>de</strong>ve ter a área certificada, com todas as ferramentas disponíveis para isso. Aproveito para colocar<br />

em pauta, também para a tese, que o anunciante tenha pelo menos uma pessoa certificada em sua área <strong>de</strong> marketing com a<br />

mesma visão, com o mesmo tipo <strong>de</strong> formação que o mídia da agência tem, mas treinado com o foco <strong>de</strong> anunciante.<br />

Ângelo franzão<br />

Perfeito.<br />

fausto Silva<br />

O Oscar Matos vai abrir agora a votação.<br />

Ângelo franzão<br />

Oscar, você consi<strong>de</strong>rou a sugestão do Luca? Pelo menos um <strong>de</strong>ve ser certificado pelo padrão do mercado.<br />

Ângelo franzão<br />

Acho muito importante essa sua colocação, Luca. é muito mais legítima vinda <strong>de</strong> você, que representa os anunciantes, porque<br />

na maioria das vezes, o profissional <strong>de</strong> mídia que está atuando com os anunciantes se confun<strong>de</strong> um pouco com o <strong>de</strong> auditoria<br />

e pouco agrega <strong>de</strong> valor, <strong>de</strong> eficácia, para potencializar a comunicação do processo.<br />

luca Cavalcanti<br />

Quero reforçar que tenho uma relação um pouco diferente com as minhas agências e com as pessoas que fazem parte<br />

<strong>de</strong>las. Nossa equipe soma valor não só à agência, como também aos veículos que estão participando da negociação. Nós<br />

participamos <strong>de</strong> negociações conjuntamente; não repassamos responsabilida<strong>de</strong> para a agência; nós estamos juntos no<br />

mesmo barco para buscar os resultados que <strong>de</strong>sejamos.<br />

Ângelo franzão<br />

Perfeito. Eu gostaria que o Daniel comentasse um pouco mais como po<strong>de</strong>ria funcionar o certificado <strong>de</strong> capacitação do<br />

profissional <strong>de</strong> mídia.<br />

Daniel<br />

Durante esse processo, uma das nossas idéias foi criar certificação para o profissional <strong>de</strong> mídia e para isso, fomos<br />

estudar o que outras profissões fazem. Acho que todos têm na cabeça um pouco do que a Or<strong>de</strong>m dos Advogados<br />

do Brasil faz para po<strong>de</strong>r começar a advogar. O camarada se forma advogado, mas ele não po<strong>de</strong> advogar sem ter o<br />

certificado da OAB. Isso realmente não é possível <strong>de</strong>ntro da nossa área. Fomos estudar vários mo<strong>de</strong>los existentes,<br />

temos um <strong>de</strong>senho que é o mais próximo do que acontece hoje junto aos psicólogos, e fomos encontrar com pessoas<br />

<strong>de</strong>sses Conselhos Regionais.<br />

Estamos propondo que exista uma certificação <strong>de</strong> mídia e isso não seria obrigatório, dado que a profissão <strong>de</strong> mídia<br />

é parte do currículo <strong>de</strong> publicida<strong>de</strong>. Não existe a faculda<strong>de</strong> somente <strong>de</strong> mídia e valeria como uma especialização. O<br />

Grupo <strong>de</strong> Mídia <strong>de</strong> São Paulo estaria encabeçando esse processo, espalhando-o pelo Brasil através dos outros Grupos<br />

<strong>de</strong> Mídia.<br />

Existiria um currículo básico, on<strong>de</strong> seria necessário cumprir com uma prova no final. A idéia é que isso acabe sendo<br />

um diferencial e, ao longo do tempo, imaginamos que as agências acabem preferindo os profissionais que passarem<br />

por essa certificação. Teremos certeza <strong>de</strong> que eles têm o conhecimento técnico <strong>de</strong> base, o conhecimento ético e<br />

também a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> negociação e planejamento. A certificação passa por esses quatro pontos, e, <strong>de</strong> novo, não<br />

será algo obrigatório, como acontece com a OAB, e sim um diferencial para os profissionais. Acreditamos que seja algo<br />

altamente <strong>de</strong>sejável para os anunciantes na hora <strong>de</strong> contratar uma agência e <strong>de</strong> saber quem está pilotando a mídia<br />

<strong>de</strong>ntro daquela agência.<br />

264 265<br />

COMISSÃO 7 - EFICÁCIA NO PLANEJAMENTO E COMPRA DE MÍDIA


Ângelo franzão<br />

Eu acho importante a não obrigatorieda<strong>de</strong> da capacitação, mas é evi<strong>de</strong>nte que a agência que contemplar mais profissionais<br />

capacitados, terá melhor qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> serviços apresentados para os seus clientes.<br />

Delegamos aqui a missão <strong>de</strong> controlar isso para os anunciantes, para que eles realmente chequem, acompanhem, avaliem<br />

a estrutura nas suas agências e a qualida<strong>de</strong> do trabalho que têm recebido da agência.<br />

Nós temos mais alguns minutinhos e eu não sei se ficou clara a posição do Paulo Chueiri e do Manoel Mauger. Eu gostaria<br />

<strong>de</strong> perguntar ao Manoel se ele teria alguma proposta sobre investimento em pesquisas para os veículos <strong>de</strong> comunicação.<br />

Nós percebemos que as propostas <strong>de</strong> mídia em geral são padronizadas, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente da categoria ou da qualida<strong>de</strong><br />

do anunciante e assim por diante. Há alguma sugestão a ser incorporada à tese?<br />

manoel mauger<br />

Não, eu só quero insistir na questão do 1%, porque po<strong>de</strong> ficar como uma recomendação. Exemplo: recomenda-se que uma<br />

agência com R$ 200 milhões <strong>de</strong> receita invista R$ 2 milhões por ano em pesquisa e instrumental <strong>de</strong> mídia.<br />

Ângelo franzão<br />

No mínimo. Em informações estratégicas, no caso pesquisas, instrumentais...<br />

manoel mauger<br />

Exatamente, McCann, DM9, DPZ. A pergunta é: quem tem R$ 50 milhões <strong>de</strong> receita? é mínimo, enten<strong>de</strong>u? Me incomoda<br />

isso.<br />

Ângelo franzão<br />

A receita vai dimensionar automaticamente o tamanho da empresa e suas necessida<strong>de</strong>s. Portanto, um percentual<br />

contempla, a meu ver, a sua realida<strong>de</strong>, a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> informações; quanto maior o faturamento, maior será a receita, e,<br />

claro, maiores serão os problemas e a quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> informações necessárias.<br />

manoel mauger<br />

Entrando na sua questão em relação aos veículos <strong>de</strong> comunicação, eu posso respon<strong>de</strong>r pelo SBT: investimos muito mais<br />

do que uma agência com R$ 200 milhões, como se fosse <strong>de</strong> receita R$ 200 milhões, exatamente para fazer propostas<br />

direcionadas para cada agência e para cada cliente, pensando em cada um. Fazemos isso com instrumental voltado para<br />

a televisão, mas propostas estruturadas e específicas para cada cliente, cada target, cada situação especial. é assim que<br />

vemos. E a perspectiva é <strong>de</strong> aumentar o investimento, enten<strong>de</strong>r melhor o que está acontecendo com outros meios <strong>de</strong><br />

comunicação, investindo mais em pesquisas, que é o que nos interessa.<br />

Ângelo Franzão<br />

Mas eu não vejo como correlacionar esse editorial na nossa tese.<br />

Paulo Cesar queiroz<br />

Não sei se todos sabem, mas o Flavio po<strong>de</strong> confirmar isso: os institutos <strong>de</strong> pesquisa habitualmente praticam preços diferentes,<br />

<strong>de</strong> acordo com o tamanho das agências. Eles têm tabelas: se uma agência é menor, ela tem um <strong>de</strong>sconto maior; a idéia <strong>de</strong> ter<br />

1%, como recomendação, aliada ao fato <strong>de</strong> que as agências menores têm também um incentivo maior por parte dos institutos<br />

já é bastante interessante para começar.<br />

Não i<strong>de</strong>ntificado<br />

Essa política vale tanto para as agências como para os veículos.<br />

A tabela <strong>de</strong> preço dos institutos <strong>de</strong> pesquisa é aplicada <strong>de</strong> acordo com o tamanho.<br />

Ângelo franzão<br />

E é exatamente por isso que o Cenp qualifica sete grupos.<br />

Não i<strong>de</strong>ntificado<br />

De fato,1% é pouco. Tem muita agência que sequer tem este ferramental <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> casa.<br />

Paulo Cesar queiroz<br />

São 4.000 agências certificadas pelo Cenp; são cerca <strong>de</strong> 8.000 existentes no país. Dessas 4.000 agências certificadas pelo<br />

Cenp, se excluirmos as 50 primeiras, a receita <strong>de</strong>ssas agências pelo país afora muitas vezes não passa <strong>de</strong> R$ 1 milhão, até<br />

menos. Então, o sujeito vai investir R$ 10 mil, isso é a obrigação <strong>de</strong>le.<br />

Ângelo franzão<br />

Mas é investimento mínimo que equivale a 1%. Quanto maior for o percentual aplicado nesse tipo <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>, maior será<br />

o diferencial da minha agência para o meu cliente. Eu invisto, sim, <strong>de</strong> 5 a 7% às vezes. Em <strong>de</strong>terminados momentos, sou<br />

obrigado a investir mais. Determinando apenas 1%, nós estamos garantindo um salto bastante interessante no mercado<br />

como um todo; estamos falando em nível nacional para o mercado como um todo.<br />

Paulo Cesar queiroz<br />

Por isso minha sugestão foi ter um piso <strong>de</strong> 1%, enfatizando a flexibilida<strong>de</strong> nesse negócio e até obrigando as agências menores<br />

a investir um pouco mais, porque existe o custo subsidiado através do Cenp.<br />

Ângelo franzão<br />

Mas uma agência pequena já tem o custo subsidiado e 1% vai valer muito mais do que 1% para a agência do grupo 1. Já há<br />

um controle natural nesse processo. Eu entendo sua preocupação, mas acho que a fórmula, da maneira que foi colocada,<br />

contempla isso.<br />

fausto Silva<br />

Está pronta a votação.<br />

Ângelo franzão<br />

Mais alguma colocação, alguma informação, alguém quer agregar alguma coisa à tese?<br />

miriani<br />

Sou Miriani, da Ambev. Voltando à questão da negociação, vi um monte <strong>de</strong> olhares maldosos na minha direção. De fato,<br />

quero reforçar o que foi colocado no ví<strong>de</strong>o: quanto mais pontos pasteurizados, quanto mais 30 segundos, <strong>de</strong> páginas simples<br />

houver, mais forte será a negociação, mais valor nós vamos querer extrair disso.<br />

Quanto mais valor agregado, quanto mais específico para a categoria ou para o cliente, quanto mais conteúdo tiver, mais<br />

muda essa conversa, mais valor estará agregado nessa negociação. Esse é o <strong>de</strong>safio e o caminho para todos nós.<br />

Ângelo franzão<br />

Perfeito, muito bem colocado.<br />

Agora po<strong>de</strong>mos ir para a votação da tese.<br />

Oscar matos<br />

Nós vamos projetar e eu vou fazer as alterações que foram feitas. Eu sugiro primeiro aprovarmos as alterações e <strong>de</strong>pois<br />

aprovarmos a tese como um todo. Na nº 1 não houve mudança, po<strong>de</strong>mos passar para a nº 2. Nesta 2 também não houve<br />

mudança.<br />

Aqui está a nº 3, on<strong>de</strong> foi feita uma alteração no original. Conclui ainda a Comissão que a maior eficácia nas negociações <strong>de</strong><br />

compra <strong>de</strong> mídia ocorre exatamente no atual mo<strong>de</strong>lo brasileiro <strong>de</strong> agências <strong>de</strong> publicida<strong>de</strong>, com mídia e criação trabalhando<br />

integradas. Eu coloco em votação se o senhor presi<strong>de</strong>nte me autorizar. Aqueles que estiverem <strong>de</strong> acordo permaneçam como<br />

estão. Se alguém estiver em <strong>de</strong>sacordo, levante a mão.<br />

Paulo Cesar queiroz<br />

Para não esquecer, a área <strong>de</strong> planejamento estratégico e comunicação está crescendo cada vez mais, é uma das mais fortes<br />

da agência.<br />

Ângelo franzão<br />

Eu entendo, mas nosso tema é mídia. A missão da Comissão é trabalhar a maior eficácia no planejamento e na compra <strong>de</strong><br />

mídia. Entendo e respeito sua posição, mas não compete aqui citar outras áreas a não ser a mídia.<br />

Paulo Cesar queiroz<br />

Mas planejamento faz parte!<br />

Ângelo franzão<br />

Planejamento <strong>de</strong> mídia, sim, mas não planejamento estratégico.<br />

Paulo Cesar queiroz<br />

Planejamento estratégico subsidia a criação e a mídia; essa é minha recomendação, quer vocês aceitem ou não.<br />

Ângelo franzão<br />

Uma Comissão está discutindo a criação. A nossa é mídia.<br />

Não i<strong>de</strong>ntificado<br />

Apenas para esclarecer: nós estamos aqui endossando o mo<strong>de</strong>lo brasileiro, on<strong>de</strong> a agência tem mídia e criação no mesmo<br />

teto e entendo que não estamos entrando no mérito se <strong>de</strong>veria ou não ter planejamento. é só pela questão do mo<strong>de</strong>lo<br />

brasileiro, que inclui mídia e criação; não há aqui uma crítica ao planejamento.<br />

Ângelo franzão<br />

Vamos então à votação, alguém discorda? Então, está aprovado.<br />

Oscar matos<br />

Nº 4 não teve alteração; nº 5 também não e no nº 6 tivemos a inclusão da obrigatorieda<strong>de</strong> da existência <strong>de</strong> um profissional ou<br />

área <strong>de</strong> mídia nas agências <strong>de</strong> publicida<strong>de</strong>. Colocamos em votação; quem não estiver <strong>de</strong> acordo levante a mão.<br />

Aprovada a alteração na tese. Foi incluído também um item: que pelo menos um dos profissionais <strong>de</strong> mídia que trabalhem<br />

nos anunciantes seja certificado pelo Grupo <strong>de</strong> Mídia. Eu coloco em votação e aqueles que estiverem <strong>de</strong> acordo, permaneçam<br />

como estão. Está aprovado.<br />

Não i<strong>de</strong>ntificado<br />

Nos casos dos mercados em que ainda não exista Grupo <strong>de</strong> Mídia, como ficaria?<br />

266 267<br />

COMISSÃO 7 - EFICÁCIA NO PLANEJAMENTO E COMPRA DE MÍDIA


Ângelo franzão<br />

Teremos que criar um Grupo <strong>de</strong> Mídia.<br />

Não i<strong>de</strong>ntificado<br />

Ou então uma Comissão Nacional <strong>de</strong> Mídia.<br />

Ângelo franzão<br />

é importante sua observação; isso ocorre em muitos mercados, mas os Grupos <strong>de</strong> Mídia <strong>de</strong>vem inspirar a formação em todos<br />

os estados on<strong>de</strong> houver ativida<strong>de</strong> e se por alguma razão, não estiver instituído, nós vamos recorrer a alguma outra entida<strong>de</strong><br />

no local: por exemplo, a <strong>Abap</strong>.<br />

Não i<strong>de</strong>ntificado<br />

Se me permite, po<strong>de</strong> ser até um processo como existe em outras áreas, mas a pessoa po<strong>de</strong> se encaminhar a São Paulo, a algum<br />

Grupo e faz a prova, assim também como você tem que tirar um visto e ir a outro lugar.<br />

Não i<strong>de</strong>ntificado<br />

Nós somos sócios nessa parada. Você é o cara que toca a <strong>Abap</strong> lá e tem o canal, a DPZ aqui. Atrás da DPZ tem o Grupo <strong>de</strong> Mídia;<br />

esse é um facilitador. Tenho absoluta certeza <strong>de</strong> que até po<strong>de</strong>rmos instituir lá em Goiânia o grupo e você, que é um cara com<br />

formação <strong>de</strong> mídia, vai montá-lo rapidamente.<br />

Não i<strong>de</strong>ntificado<br />

Cuiabá? Mas isso, usando um canal ou uma comissão especial <strong>de</strong> São Paulo, nós faremos.<br />

Ângelo franzão<br />

Acho essa observação <strong>de</strong>le importante. Vale aqui, neste a<strong>de</strong>ndo, citar a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> outras entida<strong>de</strong>s, pelo Grupo <strong>de</strong> Mídia<br />

ou outras entida<strong>de</strong>s ligadas ao mercado publicitário. Assim, cobrimos essa possibilida<strong>de</strong>. é um país tão diferente e, por isso, é<br />

muito difícil. Acho que tem que estar a<strong>de</strong>quado ao ambiente no local.<br />

marcelo<br />

Tenho só uma dúvida. Como ficam os gran<strong>de</strong>s anunciantes que não tiverem profissionais <strong>de</strong> mídia específicos <strong>de</strong>ntro da<br />

empresa? Isso não faz diferença nenhuma?<br />

Ângelo franzão<br />

Nossa recomendação é que suas estruturas contemplem um profissional <strong>de</strong> mídia, mas <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> da necessida<strong>de</strong> do<br />

anunciante; nossa sugestão é feita somente para os anunciantes que tenham áreas <strong>de</strong> mídia e profissionais <strong>de</strong> mídia; estes sim<br />

<strong>de</strong>veriam ter pelo menos um capacitado. Quem não tem, não tem e acabou.<br />

Oscar matos<br />

Aprovadas as mudanças, vamos para a votação e aprovação da tese como um todo. Vou proce<strong>de</strong>r à leitura da tese, parágrafo<br />

por parágrafo.<br />

Parágrafo 1<br />

A Comissão conclui que a maior eficácia do planejamento e negociação <strong>de</strong> mídia começa obrigatoriamente pelo melhor<br />

entendimento do briefing, mas informações do consumidor para melhor...<br />

Ângelo franzão<br />

Um segundinho Oscar, é importante ouvir uma colocação, para ver se altera alguma coisa ou não.<br />

miriani<br />

Queria saber se as alfinetadas do Alexandre Gama vão entrar nessas questões aí.<br />

fausto Silva<br />

Aliás, esse vudu serve para toda a socieda<strong>de</strong> brasileira.<br />

Não i<strong>de</strong>ntificado<br />

Acho que as alfinetadas do Alexandre cabem em todas as Comissões do <strong>IV</strong> <strong>Congresso</strong> <strong>de</strong> Propaganda, e que elas não são<br />

coisas específicas da mídia. Obviamente, elas serão utilizadas pela mídia — aliás, parabéns, vou usar isso muitas vezes, eu<br />

gostei <strong>de</strong>mais. Isso é muito amplo.<br />

Não i<strong>de</strong>ntificado<br />

Sem interromper o Oscar, eu queria dizer que as alfinetadas que o Alexandre <strong>de</strong>u no vudu <strong>de</strong>vem servir formalmente como<br />

contribuição para o próximo <strong>Congresso</strong>; po<strong>de</strong>mos utilizar tudo o que ele <strong>de</strong>finiu ali, exceto a parte da liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> expressão<br />

comercial, que está sendo contemplada neste <strong>Congresso</strong>, e que é o maior foco; nós sabemos que é uma questão política, mas<br />

a maioria dos outros alfinetes colocados ali <strong>de</strong>veria ser proposta para a <strong>Abap</strong>, para o Dalton Pastore, para que se forme o V<br />

<strong>Congresso</strong> a partir dos itens colocados pelo Alexandre. Eu acho que isso tem que ser formalizado.<br />

Ângelo franzão<br />

Como o Luca observou, o <strong>Congresso</strong> não termina aqui; ele começa aqui. Po<strong>de</strong>ríamos até propor que tudo o que ficar <strong>de</strong>finido<br />

aqui, vamos tentar tornar acessível no site do Grupo <strong>de</strong> Mídia no que se refere à nossa ativida<strong>de</strong>, ou até no site da <strong>Abap</strong>. Vamos<br />

recomendar que isso fique acessível e po<strong>de</strong>mos <strong>de</strong>terminar <strong>de</strong> tempos em tempos um status do andamento <strong>de</strong> cada um<br />

<strong>de</strong>stes tópicos, para que todos acompanhem.<br />

Oscar matos<br />

Parágrafo 1<br />

A maior eficácia do planejamento e negociação <strong>de</strong> mídia começa, obrigatoriamente, no melhor entendimento do briefing, nas<br />

informações do consumidor, na geografia da marca, na análise da atuação da concorrência, nas oportunida<strong>de</strong>s do período da<br />

campanha, na receptivida<strong>de</strong> da comunicação, entre outros.<br />

Parágrafo 2<br />

A maior eficácia nas negociações e na compra <strong>de</strong> mídia só po<strong>de</strong>rá ser adquirida por meio da <strong>de</strong>talhada análise do potencial<br />

e da distribuição da marca, da avaliação dos custos absolutos e relativos <strong>de</strong> mídia e pela consi<strong>de</strong>ração das oportunida<strong>de</strong>s e<br />

propostas especificas para a marca.<br />

Parágrafo 3<br />

A maior eficácia nas negociações <strong>de</strong> compra <strong>de</strong> mídia ocorre exatamente no atual mo<strong>de</strong>lo brasileiro <strong>de</strong> agências <strong>de</strong><br />

publicida<strong>de</strong>, com mídia e criação trabalhando integradas.<br />

Parágrafo 4<br />

Tanto o planejamento como a negociação <strong>de</strong> mídia, para que sejam eficazes, <strong>de</strong>vem consi<strong>de</strong>rar o instrumento básico <strong>de</strong><br />

mídia, com as pesquisas, informações proprietárias, ferramentas, avaliações pertinentes aos objetivos mercadológicos.<br />

Parágrafo 5<br />

O aperfeiçoamento da ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> mídia exige maior conscientização da importância do valor do profissional <strong>de</strong> mídia e sua<br />

participação integral no processo <strong>de</strong> comunicação e marketing.<br />

Parágrafo 6<br />

Portanto, <strong>de</strong>fen<strong>de</strong> e recomenda a Comissão:<br />

a) a obrigatorieda<strong>de</strong> da existência <strong>de</strong> um profissional ou área <strong>de</strong> mídia nas agências <strong>de</strong> publicida<strong>de</strong>; b) que pelo menos um<br />

entre os profissionais <strong>de</strong> mídia que trabalhem nos anunciantes seja certificado pelo Grupo <strong>de</strong> Mídia ou outras entida<strong>de</strong>s<br />

ligadas ao setor; c) a aplicação mínima <strong>de</strong> 1% das receitas das agências <strong>de</strong> propaganda em pesquisas/ferramentas <strong>de</strong> mídia;<br />

d) a cerificação formal ou oficial do profissional <strong>de</strong> mídia, a ser feita pelo Grupo <strong>de</strong> Mídia <strong>de</strong> São Paulo ou <strong>de</strong> outros estados e<br />

<strong>de</strong>mais associações; e) a unificação dos currículos dos cursos <strong>de</strong> mídia realizados nas faculda<strong>de</strong>s e universida<strong>de</strong>s em todo o<br />

país, com a inclusão das matérias: tecnologia e serviços <strong>de</strong> marketing; f ) maior intercâmbio do Grupo <strong>de</strong> Mídia <strong>de</strong> São Paulo<br />

com os <strong>de</strong>mais grupos estaduais e internacionais.<br />

Então, presi<strong>de</strong>nte, o senhor quer colocar em votação?<br />

Angelo franzão<br />

Acho que está perfeito. Alguém mais quer se manifestar? Po<strong>de</strong>mos ir para a votação final? Então, vamos lá: se alguém<br />

discorda da tese em sua totalida<strong>de</strong>, por favor, se manifeste. Está aprovado.<br />

fausto Silva<br />

Como eu disse antes a vocês que trabalhei em jornal, rádio, televisão, e eu tenho o maior respeito pelo trabalho <strong>de</strong> vocês, eu<br />

sei o quanto é difícil e o quanto estão mudando e sendo exigidos o trabalho e a participação <strong>de</strong> vocês.<br />

O mídia tem que ter uma noção da vida nesse país em todos os sentidos, e eu sei o quanto é difícil; convivo com mídia <strong>de</strong>s<strong>de</strong><br />

as eras priscas do rádio. Obrigado.<br />

Ângelo franzão<br />

Eu gostaria <strong>de</strong> agra<strong>de</strong>cer a presença <strong>de</strong> todos, certamente a qualida<strong>de</strong> da platéia e as contribuições foram e serão muito<br />

valiosas para o maior <strong>de</strong>senvolvimento e eficácia da nossa ativida<strong>de</strong>, quer em nível <strong>de</strong> negociação como em planejamento.<br />

Quero fazer um agra<strong>de</strong>cimento especial ao Fausto Silva, que abriu uma brecha na sua agenda e está aqui conosco colaborando,<br />

e um agra<strong>de</strong>cimento especial também ao Luca Cavalcanti, sempre contribuindo com a nossa ativida<strong>de</strong>, ao Alexandre Gama,<br />

ao Flavio Ferrari, à Comissão do Grupo <strong>de</strong> Mídia, que trabalhou arduamente neste processo, ao Oscar Matos, nosso relator, se<br />

revelando aqui no notebook, e ao Paulo Queiroz, nosso secretário, realmente, muito obrigado.<br />

268 269<br />

COMISSÃO 7 - EFICÁCIA NO PLANEJAMENTO E COMPRA DE MÍDIA


Comissão 8<br />

A REAlIDADE DOS mERCADOS REGIONAIS<br />

Filme<br />

Ricardo Nabhan<br />

Bom dia a todos. é <strong>de</strong> extrema relevância nós estarmos aqui tratando <strong>de</strong>sse rico cenário <strong>de</strong> diversida<strong>de</strong>s brasileiras, como<br />

acabamos <strong>de</strong> ver. Por isso, a importância da realização <strong>de</strong>ste painel “A Realida<strong>de</strong> dos Mercados Regionais” no <strong>IV</strong> <strong>Congresso</strong><br />

<strong>Brasileiro</strong> <strong>de</strong> Publicida<strong>de</strong>, cujo tema maior é “Criando o Futuro”. é uma honra presidir este painel. Há muito tempo se fala nos<br />

valores dos mercados regionais, mas essa discussão sempre foi adiada pelas entida<strong>de</strong>s que compõem o setor. A Fe<strong>de</strong>ração<br />

Nacional das Agências <strong>de</strong> Propaganda (Fenapro), presente em todo o país, conhece as particularida<strong>de</strong>s das diferentes regiões<br />

brasileiras e levantou a ban<strong>de</strong>ira da regionalização.<br />

In<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente <strong>de</strong> estarmos presentes em todo o território nacional através dos sindicatos, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o ano passado começamos<br />

a percorrer o Brasil para conhecer mais a fundo as realida<strong>de</strong>s regionais. Estivemos por mais <strong>de</strong> uma vez no Nor<strong>de</strong>ste,<br />

no Centro-Oeste, no Su<strong>de</strong>ste, no Norte e no Sul do país, e vamos continuar a percorrer todos os estados brasileiros, porque<br />

enten<strong>de</strong>mos que esta é a melhor forma <strong>de</strong> vivenciar as oportunida<strong>de</strong>s e enriquecer o nosso aprendizado sobre as particularida<strong>de</strong>s<br />

<strong>de</strong> cada região.<br />

Pela primeira vez com a participação <strong>de</strong> toda a indústria da comunicação, aqui representada por vocês, vamos discutir a importância<br />

e a valorização dos mercados regionais, <strong>de</strong> modo que essas discussões sejam extremamente produtivas. Contamos<br />

com a presença do jornalista e economista George Vidor, que apresentará o cenário <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento econômico nas<br />

diversas regiões do país e as gran<strong>de</strong>s diferenças e oportunida<strong>de</strong>s que se apresentam localmente. Vou pedir para os <strong>de</strong>mais<br />

aguardarem e logo <strong>de</strong>pois da palestra, nós <strong>de</strong>bateremos.<br />

O painel ainda contará com a participação dos seguintes <strong>de</strong>batedores: Antonio Ricardo Ferreira, diretor executivo do Ibope<br />

Mídia Brasil; Deputado Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Santa Catarina Cláudio Vignatti; Izael Sinem, diretor <strong>de</strong> comunicação e serviços <strong>de</strong> marketing<br />

da Nestlé; Ricardo Esturaro, diretor <strong>de</strong> planejamento <strong>de</strong> marketing da Re<strong>de</strong> Globo; relator Saint’Clair <strong>de</strong> Vasconcelos, presi<strong>de</strong>nte<br />

do Sinapro São Paulo e da agência Contexto, e também vice-presi<strong>de</strong>nte da Fenapro; secretário Gláucio Bin<strong>de</strong>r, presi<strong>de</strong>nte<br />

do Sinapro do Rio <strong>de</strong> Janeiro e da Bin<strong>de</strong>r/FC+M e VP regional da Fenapro, além <strong>de</strong> todos vocês, <strong>de</strong>legados <strong>de</strong>ste <strong>IV</strong> <strong>Congresso</strong><br />

<strong>de</strong> Comunicação. Obrigado por estarem aqui.<br />

Vou fazer uma breve apresentação antes do Vidor, para po<strong>de</strong>rmos enten<strong>de</strong>r o que nos move, e por que temos essa luta pela<br />

ban<strong>de</strong>ira da regionalização. O Brasil é um país <strong>de</strong> dimensões continentais com uma enorme diversida<strong>de</strong> étnica, cultural, climática<br />

e econômica. é inacreditável que um país tão gran<strong>de</strong> e formado por povos <strong>de</strong> origens tão diversas tenha conseguido<br />

se manter unido, formando uma gran<strong>de</strong> nação unificada pela mesma língua e consi<strong>de</strong>rada a maior <strong>de</strong>mocracia sem conflitos<br />

sociais do planeta.<br />

Impressiona também o fato <strong>de</strong> que as múltiplas diversida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> seu povo tenham sido preservadas, apesar da universalização<br />

dos meios <strong>de</strong> comunicação. Hoje, a TV e a internet chegam cada vez mais rápido às mais distantes localida<strong>de</strong>s do Brasil, levando<br />

informação a todas as pessoas <strong>de</strong> todas as classes e níveis socioeconômicos. Apesar <strong>de</strong>ssa massificação, que ten<strong>de</strong>ria a<br />

uniformizar hábitos, comportamentos e linguagens, as culturas regionais sobrevivem, mantendo-se fiéis às suas origens.<br />

Mesmo nos estados separados por milhares <strong>de</strong> quilômetros <strong>de</strong> distância, os hábitos, as tradições e até os sotaques resistem à<br />

uniformização. A arte popular, o artesanato, a música regional, a culinária, o comportamento, os hábitos <strong>de</strong> consumo e tantas<br />

outras particularida<strong>de</strong>s típicas continuam vivas e fortes, resistindo à uniformização e à padronização que, sem dúvida, <strong>de</strong>struiriam<br />

essa rica diversida<strong>de</strong> que tempera o comportamento e a cultura brasileira.<br />

As donas <strong>de</strong> casa do Sul não suportam produtos <strong>de</strong> limpeza com cheiro forte, como os que fazem sucesso entre as senhoras<br />

do Nor<strong>de</strong>ste; nas praias do Rio os refrigerantes apanham dos sucos naturais e da água <strong>de</strong> coco. São Paulo é on<strong>de</strong> mais se<br />

compram chás, sucos prontos para beber, leite longa-vida, molhos para salada e, é claro, molho <strong>de</strong> tomate não po<strong>de</strong> faltar em<br />

qualquer casa.<br />

No Centro-Oeste, com o clima muito quente e seco, o consumo <strong>de</strong> refrigerantes é acima da média, e o consumo <strong>de</strong> cera para<br />

piso é enorme em relação a outras regiões do país. Falar <strong>de</strong> uma única maneira com estes consumidores, como se fossem uma<br />

população homogênea, é ignorar essa diversida<strong>de</strong>, principalmente para as gran<strong>de</strong>s empresas que precisam estar presentes<br />

em cada ponto <strong>de</strong>sse país <strong>de</strong> 8,5 milhões <strong>de</strong> quilômetros quadrados.<br />

Não há mais espaço para padronizar os produtos ou a comunicação. A diversida<strong>de</strong> <strong>de</strong> cada região <strong>de</strong>ve ser respeitada, e algumas<br />

empresas já possuem produtos adaptados a cada uma <strong>de</strong>las e expressam em sua comunicação o valor dos hábitos, da<br />

cultura e da linguagem local. Dessa forma, saem na frente abocanhando uma fatia maior do mercado. é preciso caminhar para<br />

a convergência do global com o local, respeitando os valores regionais, a fim <strong>de</strong> exprimir a tradição e a cultura local. O segredo<br />

do sucesso empresarial está em contratar quem conhece a região, participa do seu dia-a-dia, e não só através dos números<br />

das pesquisas que são realizadas muitas vezes esporadicamente.<br />

O Brasil é gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>mais para voltarmos os olhos a uma única região, enquanto outros mercados se <strong>de</strong>senvolvem e crescem<br />

acima da média nacional. A cada dia fica mais clara a importância <strong>de</strong> que as estratégias <strong>de</strong> venda levem em conta as características<br />

<strong>de</strong> cada localida<strong>de</strong>; isso fortalece os mercados <strong>de</strong> cada estado brasileiro e, consequentemente, a própria indústria da<br />

comunicação.<br />

O <strong>de</strong>senvolvimento publicitário regional ajudará a manter o ritmo vigoroso <strong>de</strong> crescimento do país, estimulando o emprego<br />

local e abrindo perspectivas para os jovens que se formam a cada ano e apostam seu futuro na profissão, para que possam,<br />

assim, permanecer nos seus estados <strong>de</strong> origem.<br />

As oportunida<strong>de</strong>s e incentivos dados às empresas para se instalarem nas diferentes regiões <strong>de</strong>vem vir acompanhadas da contrapartida<br />

<strong>de</strong> que elas se utilizem dos serviços locais <strong>de</strong> comunicação. São mais <strong>de</strong> 4.000 agências <strong>de</strong> propaganda certificadas<br />

pelo Cenp e espalhadas por todo o Brasil aten<strong>de</strong>ndo as necessida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> milhares <strong>de</strong> anunciantes, junto com mais <strong>de</strong> 8.000<br />

veículos <strong>de</strong> comunicação, que prestam serviços relevantes a milhões <strong>de</strong> pessoas ávidas pelas informações publicitárias que<br />

facilitam suas <strong>de</strong>cisões <strong>de</strong> compra e estimulam a sua inclusão no mercado consumidor <strong>de</strong> bens e serviços.<br />

Não po<strong>de</strong>mos esquecer das milhares <strong>de</strong> empresas <strong>de</strong> serviços audiovisuais, do excelente parque gráfico e também dos di-<br />

versos prestadores <strong>de</strong> serviços que, com o seu talento, agregam valor ao produto publicitário. Portanto, o gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>safio do<br />

nosso painel é, sem dúvida, <strong>de</strong>scentralizar a comunicação, apresentar caminhos que levem ao <strong>de</strong>senvolvimento econômico,<br />

ao crescimento e à valorização da indústria da comunicação por todo o país, on<strong>de</strong> existem agências, veículos, produtoras <strong>de</strong><br />

áudio e ví<strong>de</strong>o, estúdios fotográficos, gráficas e profissionais extremamente talentosos e capacitados para entregar um produto<br />

publicitário <strong>de</strong> excelente qualida<strong>de</strong>.<br />

Eu gostaria <strong>de</strong> lançar aqui alguns questionamentos que recebemos <strong>de</strong> todas as regiões do país: como fazer para que, no processo<br />

<strong>de</strong> seleção <strong>de</strong> agências, os anunciantes utilizem a capacida<strong>de</strong>, o conhecimento e a inegável familiarida<strong>de</strong> das agências<br />

com mercados em que atuam? De que forma a indústria <strong>de</strong> comunicação regional po<strong>de</strong>rá absorver os quase 35.000 jovens<br />

que se formam a cada ano, se a maior parte dos investimentos está centralizada nos gran<strong>de</strong>s centros? Como fazer para que os<br />

anunciantes percebam as oportunida<strong>de</strong>s regionais e respeitem a linguagem, a cultura e as peculiarida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> cada região?<br />

Existem caminhos legais para efetivar uma maior participação da indústria <strong>de</strong> comunicação regional no bolo publicitário? é<br />

possível <strong>de</strong>sconcentrar as verbas publicitárias fe<strong>de</strong>rais e <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s anunciantes da iniciativa privada distribuindo-se as unida<strong>de</strong>s<br />

fe<strong>de</strong>rativas através da celebração <strong>de</strong> acordos entre as gran<strong>de</strong>s agências nacionais e multinacionais e as agências regionais?<br />

Por tudo isso e por tudo o que vamos <strong>de</strong>bater, esperamos sugerir ao final <strong>de</strong>ste painel recomendações para que a indústria da<br />

comunicação saia mais fortalecida em todos os mercados. Dessa forma, preten<strong>de</strong>mos que a ativida<strong>de</strong> econômica que representamos<br />

possa ser responsável pela mudança <strong>de</strong> parte da incômoda realida<strong>de</strong> brasileira <strong>de</strong> concentração <strong>de</strong> renda, criticada<br />

nacional e internacionalmente, on<strong>de</strong> poucos têm muito e muitos têm pouco, como foi muito bem apresentado na abertura<br />

<strong>de</strong>sse <strong>Congresso</strong> pelo ex-secretário geral das Nações Unidas e prêmio Nobel da Paz, Kofi Annan.<br />

é preciso aprimorar a regulamentação, para que as empresas <strong>de</strong> pequeno e médio porte distribuídas por todos os rincões<br />

<strong>de</strong>ste imenso país tenham condições <strong>de</strong> sustentabilida<strong>de</strong>. Assim, estaremos consolidando o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong>ssa ativida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>mocraticamente, e criando efetivamente o futuro <strong>de</strong>ssa indústria em todo o Brasil. Muito obrigado.<br />

Para apresentar a tese e as recomendações que serão <strong>de</strong>batidas, eu convido o relator Saint’Clair <strong>de</strong> Vasconcelos.<br />

Saint’Clair <strong>de</strong> Vasconcelos<br />

Nosso tema é “A realida<strong>de</strong> dos mercados regionais”. Já temos elaboradas pela Comissão e pela nossa experiência em andanças<br />

pelo Brasil as questões principais que vamos apresentar como a tese <strong>de</strong> hoje. Após a apresentação dos <strong>de</strong>batedores, iremos<br />

discutir e tirar então as recomendações que iremos aprovar e encaminhar para o <strong>Congresso</strong>.<br />

1. Promover o <strong>de</strong>senvolvimento, o crescimento e a valorização regional da indústria da comunicação em todo o Brasil.<br />

2. Aproveitar as oportunida<strong>de</strong>s que cada região do país oferece para acelerar o <strong>de</strong>senvolvimento do mercado publicitário<br />

regional.<br />

3. Promover o estímulo, a profissionalização e a organização <strong>de</strong>sses mercados.<br />

4. Ampliar a presença efetiva das entida<strong>de</strong>s representativas do setor em todos os estados do país.<br />

5. Defesa <strong>de</strong> critérios técnicos e éticos na distribuição das verbas públicas e na contratação das agências <strong>de</strong> propaganda pelo<br />

setor público.<br />

6. Incentivo aos anunciantes para otimizar suas verbas <strong>de</strong> comunicação em todos os mercados, utilizando serviços regionais<br />

que valorizam a linguagem local.<br />

Esses seis pontos compõem nossa tese e todas as apresentações vão girar em torno <strong>de</strong>sse conjunto <strong>de</strong> dados. Por enquanto,<br />

obrigado. Ao longo <strong>de</strong>sses dias do <strong>Congresso</strong>, já recebemos algumas recomendações que estaremos apresentando, <strong>de</strong>batendo<br />

e, logicamente, colhendo novas sugestões que vocês <strong>de</strong>verão nos encaminhar. Obrigado.<br />

Ricardo Nabhan<br />

Obrigado, Saint’Clair. Convido agora para proferir sua palestra o jornalista e economista George Vidor.<br />

George Vidor<br />

Bom dia. é um prazer e uma honra estar aqui. Quero agra<strong>de</strong>cer ao pessoal da Fenapro pelo convite e vou tentar mostrar o<br />

quadro atual da economia brasileira, e também por que tivemos esse processo <strong>de</strong> concentração.<br />

Há uma luz no fim do túnel e acho que o tema caiu como uma luva, porque o Brasil começa a se mexer em direção à abertura<br />

<strong>de</strong> novos mercados, e outras regiões do Brasil começam a ter oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> participar <strong>de</strong>sse processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento,<br />

<strong>de</strong>pois <strong>de</strong> passarmos quase <strong>de</strong>z anos <strong>de</strong> um período <strong>de</strong> longa estagnação e <strong>de</strong> um mo<strong>de</strong>sto crescimento.<br />

Não somos e não seremos uma China, mas o Brasil hoje está numa situação, na minha mo<strong>de</strong>sta opinião, excepcional. Tenho<br />

mais <strong>de</strong> 30 anos <strong>de</strong> jornalismo econômico e nunca vi na minha trajetória profissional uma situação tão favorável ao país.<br />

Explico: se formos olhar na nossa história — e nossa história para valer tem 200 anos—, todas as gran<strong>de</strong>s crises da economia<br />

brasileira estão ligadas ao câmbio. é nossa dificulda<strong>de</strong> em gerar receita em moeda estrangeira para pagar nossas contas, e o<br />

cenário que temos é altamente promissor. O Brasil tem mais reservas que a sua dívida externa. Isso nunca tinha acontecido;<br />

aconteceu muito rapidamente <strong>de</strong>pois da 2ª Guerra Mundial, quando éramos credores da Inglaterra e eles não pagaram o que<br />

nos <strong>de</strong>viam, mas essas reservas se esgotaram muito rapidamente e o país não era indústrializado na época — tínhamos que<br />

importar tudo, até parafuso, – e nunca mais tivemos uma situação tão boa como a atual.<br />

Sobram na economia brasileira US$ 30 bilhões por ano; temos até que arrumar saídas para isso: Fundo Soberano, o Banco Central<br />

e os outros bancos também compram. A tendência é que essa sobra se mantenha. Então, se tudo <strong>de</strong>r errado, temos um<br />

horizonte <strong>de</strong> pelo menos <strong>de</strong>z anos <strong>de</strong> muita tranqüilida<strong>de</strong> nas nossas contas externas e, com isso, conseguimos ganhar <strong>de</strong>z<br />

anos. Vou mostrar para vocês que nesses <strong>de</strong>z anos, nós provavelmente conseguiremos mudar a cara do país. Po<strong>de</strong>mos chegar<br />

à Copa do Mundo <strong>de</strong> 2014, às Olimpíadas <strong>de</strong> 2016 com um país já com cara diferente. é claro que não seremos ainda um país<br />

<strong>de</strong> Primeiro Mundo, não vai se acabar com toda a pobreza, mas a cara do país vai ser diferente. Eu vou fazer essas previsões<br />

iniciais para <strong>de</strong>pois termos assunto para discutir melhor.<br />

Chamo a economia do Brasil <strong>de</strong> economia-esfinge: “<strong>de</strong>cifra-me ou eu te <strong>de</strong>voro”, porque ela nos surpreen<strong>de</strong> a cada momento.<br />

Nenhum dos senhores aqui, com feeling <strong>de</strong> mercado, conhecimento do consumo e do varejo, seria capaz <strong>de</strong> prever as vendas<br />

do setor automobilístico. Neste ano, com a maior crise do petróleo, o setor automotivo continua batendo recor<strong>de</strong>s mês a mês.<br />

é um problema específico, os brasileiros adoram automóvel, surgiu oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> crédito, vamos aproveitar, é uma situação<br />

excepcional. Mas não é o caso, porque po<strong>de</strong>mos ver que isso está acontecendo também em outros setores. Por exemplo, o<br />

270 271<br />

COMISSÃO 8 - A REALIDADE DOS MERCADOS REGIONAIS


telefone celular: todo mundo achava que já tinha esgotado, não é possível, esse mercado chegou ao limite! Quem não tem<br />

celular no Brasil? Pois bem, segundo os últimos dados da Anatel, agência reguladora do setor <strong>de</strong> telecomunicações, o número<br />

<strong>de</strong> usuários habilitados — não é só a venda do aparelho — bateu recor<strong>de</strong> novamente no mês <strong>de</strong> maio.<br />

Hoje nós temos 138 milhões <strong>de</strong> aparelhos habilitados no Brasil. Consi<strong>de</strong>rando que ainda temos uma população extremamente<br />

jovem — acho que criança até seis anos não tem telefone celular —, nós quase universalizamos as telecomunicações no<br />

Brasil num período curtíssimo. Para vocês terem uma idéia, há 20 anos não existia telefonia celular no mundo. Então, em 20<br />

anos, saímos da ida<strong>de</strong> da pedra para ter quase a universalização do setor <strong>de</strong> telecomunicações. Essa é uma economia que está<br />

sempre nos <strong>de</strong>vorando, já que não conseguimos <strong>de</strong>cifrar por que isso acontece.<br />

Outro setor que eu cito é o do cimento. A indústria do cimento passou <strong>de</strong>z anos penando, com o consumo estagnado, crescendo<br />

pouco. Eles quase não fizeram gran<strong>de</strong>s investimentos, porque chegaram a ter capacida<strong>de</strong> ociosa que alcançava 40%. Algumas<br />

fábricas <strong>de</strong>sligaram seus fornos, e agora, o consumo <strong>de</strong> cimento teve crescimento estimado <strong>de</strong> 9%, então, tiveram que ligar seus<br />

fornos e criar uma trajetória enorme. O cimento está viajando pelo país inteiro, porque está faltando no Centro-Oeste. Há uma<br />

crise <strong>de</strong> cimento: <strong>de</strong> repente, o Brasil se mexe, e quando isso acontece, ocorre um <strong>de</strong>sequilíbrio em algum setor.<br />

O mundo está complicado, porque pela primeira vez a situação do petróleo chegou a um nível exorbitante, e também os preços<br />

das commodities, da matéria-prima <strong>de</strong> uma maneira geral subiram absurdamente. Há uma ameaça <strong>de</strong> inflação e a China,<br />

que contribuía para abaixar os preços, agora está contribuindo para aumentá-los.<br />

O fenômeno chinês é impressionante. Nem mesmo quando os Estados Unidos se transformaram numa potência econômica<br />

mundial, tivemos um fenômeno <strong>de</strong> recuperação como tem acontecido com a economia chinesa. Dizem os historiadores que<br />

a China está voltando a ter o papel que exerceu até o início do século 19; não temos estatística precisa sobre isso, só uma<br />

simulação, mas supõe-se que a China, em 1.800, tinha 20% do PIB mundial; 1/5 da riqueza gerada no mundo era chinês e<br />

eles foram per<strong>de</strong>ndo espaço ao longo <strong>de</strong> 200 anos. Foi uma situação trágica e caíram a menos <strong>de</strong> 2% do PIB do mundo; eles<br />

encolheram violentamente, o país empobreceu e tem uma população gigantesca.<br />

Eles estão caminhando pelo menos para cerca <strong>de</strong> mais <strong>de</strong> 10% do PIB mundial, e tudo o que eles fazem hoje tem impacto<br />

na vida <strong>de</strong> vocês. A China respon<strong>de</strong>u nos últimos cinco anos por quase meta<strong>de</strong> do aumento <strong>de</strong> <strong>de</strong>manda na face da Terra. A<br />

China respon<strong>de</strong> por 40 a 50% <strong>de</strong>sse acréscimo <strong>de</strong> <strong>de</strong>manda <strong>de</strong> qualquer produto: cobre, zinco, aço, minério, soja.<br />

No caso do petróleo, nos últimos cinco anos o crescimento da <strong>de</strong>manda nos Estados Unidos, consumidores vorazes <strong>de</strong> combustíveis,<br />

foi da or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> 800.000 barris por dia. A China sozinha aumentou sua <strong>de</strong>manda em 3,9 milhões <strong>de</strong> barris por dia,<br />

ultrapassando quase cinco vezes o aumento <strong>de</strong> <strong>de</strong>manda do Estados Unidos. é claro que a China não chegou à <strong>de</strong>manda total<br />

dos Estados Unidos, mas o crescimento <strong>de</strong>les é fantástico.<br />

Neste momento, o mundo <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> dos rumos da China; eles precisarão colocar o pé no freio <strong>de</strong> alguma maneira, porque<br />

estão com a inflação já beirando os 10%, e ela começa a transbordar para o mundo, já que eles não conseguem mais ven<strong>de</strong>r<br />

aqueles produtos baratinhos como estavam ven<strong>de</strong>ndo até aqui. Eles também terão que aumentar os seus preços em função<br />

do custo da matéria-prima, do capital, e também, porque a China tem hoje 540 milhões <strong>de</strong> pessoas vivendo nas cida<strong>de</strong>s, que<br />

antes produziam alimentos e agora consomem; que antes geravam energia, e hoje consomem. Isso mudou violentamente o<br />

perfil do mundo.<br />

Eu não estou falando em nenhum dos outros países do su<strong>de</strong>ste da Ásia; não estou falando da Índia: estou falando <strong>de</strong> um país<br />

específico que vem causando um turbilhão no mundo. Depen<strong>de</strong>ndo do rumo da China, vamos ter ou não uma redução <strong>de</strong><br />

crescimento daqui para frente.<br />

Apesar <strong>de</strong> tudo, o Brasil vai continuar a crescer nesse ritmo <strong>de</strong> 4 a 5%; este ano será <strong>de</strong> quase 5%, porque tivemos um primeiro<br />

semestre muito forte. Acho que o segundo não será tão forte; já estamos com a taxa <strong>de</strong> juros subindo e ela cria uma barreira<br />

para certos setores da economia. Porém, nesse embalo em que estamos, ainda vamos crescer cerca <strong>de</strong> 5%. Vemos a geração<br />

<strong>de</strong> emprego formal, o nível <strong>de</strong> renda da população está crescendo e vai se manter num ritmo menos forte daqui para frente.<br />

Mas, certamente, o Brasil não vai crescer menos <strong>de</strong> 4% nos próximos dois anos, e isso significa que vamos continuar com os<br />

empregos formais.<br />

Vou dar um palpite: se vocês fizerem o <strong>Congresso</strong> em <strong>de</strong>z anos e me convidarem, ninguém mais vai lembrar disso; essa é uma<br />

previsão já consi<strong>de</strong>rada otimista. Os juros não vão ficar abaixo <strong>de</strong> 14% neste ano e esse é um receio que eu tenho, porque<br />

a faixa <strong>de</strong> 13% é o nosso limite; a partir daí, a taxa <strong>de</strong> juro começa a complicar a vida da economia. O pessoal da construção<br />

civil e <strong>de</strong> infra-estrutura já passou por isso. A remuneração que po<strong>de</strong>mos imaginar para essas ativida<strong>de</strong>s que hoje têm gran<strong>de</strong><br />

volume <strong>de</strong> investimento é da or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> 12 a 13%. Se a taxa <strong>de</strong> juros passar disso, começa a ocorrer um <strong>de</strong>sinteresse em uma<br />

manutenção do ritmo <strong>de</strong> investimento; esse nível <strong>de</strong> 14% po<strong>de</strong> criar uma barreira forte e eu espero que não suba mais do que<br />

isso, embora o mercado financeiro já esteja falando em 15%.<br />

O Banco Central, já na próxima reunião, aumentaria o juro em 0,75% e aceleraria, porque eles estão muito preocupados com<br />

a inflação. Henrique Meirelles, presi<strong>de</strong>nte do Banco Central, acha que qualquer inflação acima <strong>de</strong> 5% é muito perigosa e ele<br />

tem um pouco <strong>de</strong> razão: abaixo <strong>de</strong> 5% <strong>de</strong> inflação média, os agentes econômicos não saem correndo para aumentar seus<br />

preços e você não tem uma reivindicação salarial muito forte. As pessoas convivem razoavelmente com a inflação abaixo<br />

<strong>de</strong> 5%; quando passa disso, a socieda<strong>de</strong> começa a se mexer, a reivindicar reajuste <strong>de</strong> preço, aumento <strong>de</strong> salário. Cria-se uma<br />

inércia inflacionária muito forte.<br />

Este ano não vai dar para ficar abaixo <strong>de</strong> 5, mas no ano que vem, eles vão perseguir uma meta <strong>de</strong> 4,5% no máximo. A cabeça<br />

do nosso Banco Central é essa; a inflação não po<strong>de</strong> passar <strong>de</strong> 5% em média.<br />

Câmbio: o Real vai continuar valorizado, não paramos <strong>de</strong> receber investimentos; o Brasil é “a bola da vez”. Hoje no Financial<br />

Times saiu uma matéria chamando a atenção para o mercado imobiliário brasileiro, que ficou muito tempo parado. Agora os<br />

investidores <strong>de</strong>ssa área no mundo inteiro <strong>de</strong>scobriram que o Brasil po<strong>de</strong> ser um bom filão, então está entrando dinheiro todo<br />

dia. Também teremos investimentos <strong>de</strong> longo prazo, que trarão muito dinheiro para cá.<br />

Acredito que a exportação brasileira, embora concentrada em alguns produtos, continue crescendo em ritmo forte. No mês<br />

<strong>de</strong> julho, as exportações brasileiras estão crescendo ao ritmo <strong>de</strong> 30% em relação ao mesmo período do ano passado — temos<br />

uma exportação crescendo em ritmo chinês. Estamos exportando US$ 8 ou 9 bilhões a cada 15 dias. Brevemente, exportaremos<br />

entre US$ 15 e 16 bilhões por mês.<br />

O crédito tem sido a mola-mestra <strong>de</strong>sse crescimento todo; o Brasil ainda é muito incipiente nessa área do crédito. Para vocês<br />

terem uma idéia, o Chile ou o México têm o dobro do crédito do Brasil em proporção do PIB, ou seja, economias similares<br />

com o dobro do crédito em relação à nossa, porque passamos um longo período <strong>de</strong> inflação com taxa <strong>de</strong> juro altíssima. Só<br />

pedimos crédito quando não há outra saída. A taxa <strong>de</strong> 2% <strong>de</strong> juros ao mês é elevadíssima. Façam as contas em um ano e verão<br />

quanto pagam <strong>de</strong> taxa <strong>de</strong> juros.<br />

O crédito no Brasil, apesar <strong>de</strong> muito incipiente, vem crescendo a um ritmo muito forte em virtu<strong>de</strong> da facilida<strong>de</strong>. Mais pessoas<br />

estão com suas carteiras assinadas, procuram a financeira e recebem o crédito em praticamente 24 horas, sem fiador e sem<br />

avalista. Para comprar um carro, o próprio carro serve como garantia do crédito. E a tendência é <strong>de</strong> que esse crédito continue<br />

muito forte, apesar da taxa <strong>de</strong> juros muito alta.<br />

Vou explicar por que o mercado da publicida<strong>de</strong> ainda é concentrado. O Brasil viveu um processo <strong>de</strong> concentração muito forte,<br />

e é até a razão dos graves problemas que temos.<br />

No século 19, quando o Brasil só produzia algodão, açúcar e café, o Nor<strong>de</strong>ste tinha 50% do PIB do país; hoje a participação do<br />

Nor<strong>de</strong>ste no PIB do Brasil — da Bahia ao Maranhão — é idêntica à renda gerada na região metropolitana <strong>de</strong> São Paulo. Isso<br />

significa que o PIB na região metropolitana <strong>de</strong> São Paulo, num raio <strong>de</strong> 50 quilômetros, é o mesmo <strong>de</strong> vários estados do Brasil,<br />

da Bahia ao Maranhão.<br />

Tivemos um processo <strong>de</strong> concentração que explica por que as agências <strong>de</strong> publicida<strong>de</strong> e o anunciante correram para São<br />

Paulo. Cerca <strong>de</strong> 15% do PIB estão concentrados na região metropolitana. A região é gran<strong>de</strong>, tem uma logística diferente, então,<br />

é melhor concentrar-se aqui. Dois fins <strong>de</strong> semana <strong>de</strong> venda <strong>de</strong> automóveis na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo correspon<strong>de</strong>m a um ano <strong>de</strong><br />

venda <strong>de</strong> automóveis em Alagoas. O esforço <strong>de</strong> venda em dois fins <strong>de</strong> semana é o mesmo do feito para ven<strong>de</strong>r o ano inteiro<br />

numa unida<strong>de</strong> da fe<strong>de</strong>ração do Brasil.<br />

O estado <strong>de</strong> São Paulo como um todo ainda respon<strong>de</strong> por 34% do PIB e provavelmente, em função <strong>de</strong>sse impulso <strong>de</strong> crescimento<br />

mais recente, <strong>de</strong>ve ter acumulado mais três pontos percentuais nessa fatia. O estado, que vinha per<strong>de</strong>ndo posição,<br />

recuperou três pontos percentuais, porque tem uma indústria diversificada — meta<strong>de</strong> da indústria brasileira está em São<br />

Paulo — e com esse crescimento no setor <strong>de</strong> automóveis, entre outros, está acima da média brasileira.<br />

Já que é assim, vocês diriam que o problema <strong>de</strong> São Paulo está resolvido! Não é bem assim, porque cinco municípios <strong>de</strong> São<br />

Paulo respon<strong>de</strong>m por meta<strong>de</strong> do PIB do estado. E se avaliarmos a região metropolitana <strong>de</strong> São Paulo, Campinas, Sorocaba,<br />

São José dos Campos e Baixada Santista, vamos ter 85% do PIB <strong>de</strong> São Paulo. Ribeirão Preto, Botucatu, Bauru e Araraquara não<br />

entraram nessa conta, nem o litoral norte, Ourinhos, Presi<strong>de</strong>nte Pru<strong>de</strong>nte. Esses municípios representam 10% do PIB <strong>de</strong> São<br />

Paulo. Isso quer dizer que nosso estado mais rico também tem um processo <strong>de</strong> concentração fabuloso.<br />

Provavelmente, se consi<strong>de</strong>rarmos as regiões metropolitanas, veremos que os municípios-se<strong>de</strong> da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo representam<br />

uma gran<strong>de</strong> concentração também na região metropolitana. A renda no Brasil é muito concentrada. A renda da região<br />

<strong>de</strong> Santo Amaro, na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo, correspon<strong>de</strong> ao PIB do Uruguai. A renda da região <strong>de</strong> Campinas correspon<strong>de</strong> ao PIB<br />

<strong>de</strong> Pernambuco: o Brasil se concentrou.<br />

O problema foi nacional, e não do mercado publicitário, que correu para on<strong>de</strong> estava a renda e a renda se concentrou em<br />

poucos lugares do país. Se peneirarmos, vamos chegar ao local com 1 ou 2% do PIB. Meta<strong>de</strong> do PIB fluminense, mesmo com<br />

o petróleo, está na região metropolitana. O Rio <strong>de</strong> Janeiro tem entre 14 e 15 milhões <strong>de</strong> habitantes e 12 milhões moram na<br />

região metropolitana, porque essas pessoas correram para on<strong>de</strong> havia renda e saíram do interior.<br />

Eu estava conversando com o pessoal <strong>de</strong> Mato Grosso do Sul, um estado enorme com cerca <strong>de</strong> dois milhões <strong>de</strong> pessoas. Hoje<br />

os brasileiros vivem em cida<strong>de</strong>s médias e gran<strong>de</strong>s, então, 50% da nossa população vive em 100 cida<strong>de</strong>s. Se concentrarmos<br />

nossos esforços em 100 cida<strong>de</strong>s, estamos atingindo a meta<strong>de</strong> da população do país. Essas 100 cida<strong>de</strong>s estão nas capitais e em<br />

torno <strong>de</strong>las, nas regiões metropolitanas ou um pouco além <strong>de</strong>las, mas é no raio <strong>de</strong> ação das capitais. O único estado diferente<br />

é Santa Catarina, cuja maior cida<strong>de</strong>, Joinville, fica fora da capital. No restante, estão todas em torno das capitais; todo mundo<br />

está aglomerado.<br />

Um <strong>de</strong>talhe: quando a Telefônica quis comprar a antiga Telesp na privatização, os consultores espanhóis voaram <strong>de</strong> helicóptero<br />

aqui na região metropolitana da gran<strong>de</strong> São Paulo. Disseram a eles, lá do alto: estão vendo tudo isso? Ninguém tem<br />

telefone. Eles ficaram alucinados, ganharam e estão ganhando muito dinheiro até hoje.<br />

Cerca <strong>de</strong> 20% da população brasileira vive em seis regiões metropolitanas apenas: Recife, Salvador, Belo Horizonte, Rio <strong>de</strong><br />

Janeiro, São Paulo e Porto Alegre. Não coloquei Brasília nessa conta! Vejam bem: tudo o que acontece em seis regiões metropolitanas<br />

do país tem uma repercussão enorme, porque 1/5 da população está concentrada em seis regiões metropolitanas.<br />

é melhor mirar nessas seis regiões metropolitanas, porque atinge-se um mercado enorme.<br />

Vamos falar da população rural no Brasil; vou consi<strong>de</strong>rar nesse índice também as cida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> até 20.000 habitantes. Elas ainda<br />

têm um clima <strong>de</strong> interior, quase rural e não chegam a 1/3 da nossa população, com um ambiente e hábitos ligados à área rural.<br />

Portanto, somos um país urbano e voltado para a cabeça da megalópole: o país rural ficou no passado. A população brasileira<br />

que realmente vive no campo hoje é idêntica, em números absolutos, à que o Brasil tinha em 1942. E naquela época, nossa<br />

população era muito pequena. Então, todo crescimento que tivemos <strong>de</strong> 1942 para cá ocorreu nas cida<strong>de</strong>s. Daí também os<br />

sérios problemas urbanos que temos no país.<br />

Mais um dado interessante: a população do estado <strong>de</strong> São Paulo equivale à população das regiões Norte e Centro-Oeste do<br />

país, incluindo Brasília. Imaginem uma unida<strong>de</strong> da Fe<strong>de</strong>ração com uma população que equivale a quase 2/3 do território<br />

nacional. Vocês <strong>de</strong>vem estar dizendo: o que estamos fazendo nesse Fórum? Será que isso vai mudar? E aí vai a outra parte<br />

da minha palestra: temos um quadro gran<strong>de</strong> <strong>de</strong> mudanças, por incrível que pareça, porque o que vai puxar o crescimento<br />

da economia brasileira, o motor <strong>de</strong>sse crescimento é o investimento, que equivale a mais ou menos 1/4 ou 1/5 do PIB, mas<br />

tem um po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> multiplicação fantástico; é ele que gera os bons empregos, que consegue ampliar nossa capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

produção, muda a vida <strong>de</strong> um país.<br />

O Brasil estava há muito tempo com baixo o nível <strong>de</strong> investimento em qualquer área. Se atravessarmos qualquer cida<strong>de</strong> do<br />

país, veremos que falta investimento na “coisa urbana” em si; faltam investimentos em empresas e <strong>de</strong> repente, isso começou<br />

a crescer pelo país inteiro.<br />

Ontem o presi<strong>de</strong>nte da Eletrobrás colocou um mapa em cima da mesa e mostrou o potencial hidroelétrico do país. No Pará, o<br />

setor vai construir o equivalente a 30.000 megawatts <strong>de</strong> potência instalada. O Brasil tem 100.000 megawatts <strong>de</strong> potência instalada,<br />

então só o estado do Pará, em 10 ou 15 anos, construirá 30% da capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> geração <strong>de</strong> energia elétrica no Brasil.<br />

Em Rondônia, serão construídas duas gran<strong>de</strong>s hidroelétricas com funcionamento previsto para 2013 — não é um futuro<br />

distante. Isso vai mudar a vida da região.<br />

272 273<br />

COMISSÃO 8 - A REALIDADE DOS MERCADOS REGIONAIS


No Ceará temos o porto <strong>de</strong> Pecém, que será uma das saídas <strong>de</strong> transporte do Brasil. Em Suape há uma refinaria nova e um<br />

estaleiro novo; na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Rio Gran<strong>de</strong>, há um estaleiro novo, estão fazendo plataformas e navios para a Petrobras. Mesmo em<br />

Taguaí, no Rio <strong>de</strong> Janeiro, 18.000 pessoas estão trabalhando neste momento para fazer uma si<strong>de</strong>rúrgica. Há portos em Santa<br />

Catarina. Em Vitória, no Espírito Santo, neste momento a agitação é enorme, porque a Petrobras está fazendo investimentos<br />

gigantescos lá. Há uma nova fronteira, uma nova província petrolífera; ontem mesmo eles acharam mais petróleo ao norte do<br />

Espírito Santo, a 60km <strong>de</strong> Vitória, e a Petrobras está fazendo uma se<strong>de</strong> nova. A cida<strong>de</strong> não tinha hotel, poucos restaurantes, não<br />

tinha lugar para fazer eventos com mil pessoas e não tinha lugar suficiente. De repente, estão construindo hotéis restaurantes,<br />

centros <strong>de</strong> convenções e provavelmente, vão precisar <strong>de</strong> agências <strong>de</strong> publicida<strong>de</strong>. As empresas também passaram a ter mais<br />

consciência socioambiental.<br />

Quando um investimento <strong>de</strong>sses era feito no passado, não importava o que acontecesse na região. Fazia-se o projeto, vinham<br />

trabalhadores do Brasil inteiro, ficavam no local durante um período e <strong>de</strong>pois iam embora e naquele lugar ficava uma favela.<br />

Hoje em dia é diferente: quando se faz um investimento <strong>de</strong>ssa or<strong>de</strong>m, busca-se uma consultoria socioambiental, para saber<br />

qual o impacto no meio ambiente, no mercado <strong>de</strong> trabalho, na infra-estrutura local.<br />

Isso já está ocorrendo em Paulínia e brevemente, acontecerá no Paraná também, com o upgra<strong>de</strong> que a Petrobras está fazendo<br />

na refinaria. São investimentos <strong>de</strong> R$ 4 bilhões em três ou quatro anos. Esse investimento no local causa um tumulto fantástico;<br />

é necessário um planejamento com as empresas; o comércio precisa saber que <strong>de</strong> março a outubro, 600 novos soldadores<br />

estarão ali; meta<strong>de</strong> <strong>de</strong>sse pessoal irá embora <strong>de</strong>pois. Se eles fizerem prestações a partir <strong>de</strong> outubro, não vão pagá-las. Os pais<br />

<strong>de</strong>vem cuidar das suas filhas, porque elas po<strong>de</strong>m engravidar e o pai da criança po<strong>de</strong> acabar indo embora. Vários impactos<br />

precisam ser administrados e agora o Brasil está começando a ter consciência disso. Hoje, entre 60 e 65% da mão-<strong>de</strong>-obra é<br />

contratada localmente. Eles treinam essas pessoas, que ficarão ali com uma qualificação maior. Estamos espalhando quase<br />

<strong>de</strong> uma forma imperceptível vários projetos pelo Brasil inteiro; são projetos-âncora, que vão gerar renda, que vão melhorar a<br />

qualificação profissional e que precisam ter comunicação com a comunida<strong>de</strong>.<br />

Na Região dos Lagos, no Rio <strong>de</strong> Janeiro, existe uma empresa norueguesa <strong>de</strong> petróleo que foi fazer uma plataforma <strong>de</strong> petróleo<br />

enorme e só causava tumulto no local, com os barcos <strong>de</strong> apoio que levam a re<strong>de</strong> dos pescadores. As pessoas não tinham a<br />

menor idéia do que aquela plataforma geraria <strong>de</strong> benefício para elas. Eles chegaram à conclusão <strong>de</strong> que criariam um conflito<br />

na região, e que seria melhor se enten<strong>de</strong>rem com a comunida<strong>de</strong>.<br />

Fizeram um plebiscito nas escolas para escolher o nome do campo, que foi batizado <strong>de</strong> Peregrino — uma espécie <strong>de</strong> tubarão<br />

—, porque as crianças locais escolheram esse nome e levaram para casa uma cédula para os pais pescadores votarem e não se<br />

sentirem à margem. O que os pescadores têm a ver com isso? Os seus filhos provavelmente po<strong>de</strong>m trabalhar na indústria do<br />

petróleo. Começaram a dar aulas nas escolas municipais, mostrando o que é o petróleo, como ele começou, para que serve,<br />

quais as profissões ligadas ao petróleo, on<strong>de</strong> você po<strong>de</strong> se qualificar. Eles selecionam os alunos e os melhores ganham até<br />

bolsas <strong>de</strong> estudo na Região dos Lagos.<br />

Antes disso, até bem recentemente, ninguém estava ligando para o que acontecia em Macaé, Cabo Frio, Rio das Ostras, Arraial<br />

do Cabo. Agora, precisamos pensar localmente, avaliar o <strong>de</strong>senvolvimento local, <strong>de</strong>ixar alguma coisa na região, nem que<br />

levem o cozinheiro para trabalhar na plataforma ou para servir “quentinhas” no barco <strong>de</strong> apoio.<br />

A mentalida<strong>de</strong> do Brasil está mudando rapidamente. Acho que temos a perspectiva <strong>de</strong> alimentar o mundo; o Brasil já é lí<strong>de</strong>r<br />

na exportação <strong>de</strong> carne bovina, vai ser lí<strong>de</strong>r na exportação <strong>de</strong> carne suína, frango, já é vice-lí<strong>de</strong>r na exportação <strong>de</strong> soja, já está<br />

exportando milho em quantida<strong>de</strong> que mexe no mercado internacional. Estamos até exportando arroz e é por isso que está<br />

faltando arroz na mesa do brasileiro.<br />

O agronegócio também está ligado ao setor <strong>de</strong> energia; o Brasil já tem 60% do mercado mundial <strong>de</strong> açúcar. Neste ano, vamos<br />

exportar 5 ou 6 bilhões <strong>de</strong> litros por ano <strong>de</strong> álcool. A perspectiva é <strong>de</strong> que o Brasil terá uma produção <strong>de</strong> álcool fabulosa daqui<br />

para frente, e o álcool não é só a plantação <strong>de</strong> cana-<strong>de</strong>-açúcar, mas instalar uma indústria que também gera energia elétrica,<br />

porque a cana-<strong>de</strong>-açúcar em si vale muito pouco. Me disseram que a carga <strong>de</strong> um caminhão que transporta cana-<strong>de</strong>-açúcar<br />

custa menos que o pneu do caminhão. Então, é preciso produzir em gran<strong>de</strong> quantida<strong>de</strong>, em gran<strong>de</strong> escala.<br />

O Brasil tem um gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>safio na educação, sem dúvida. Ainda temos no nosso imaginário que o gran<strong>de</strong> momento do Brasil<br />

foi o governo Juscelino Kubitschek, quando o Brasil começou a se industrializar <strong>de</strong> fato, mas só quero lembrar que Juscelino<br />

Kubitschek foi eleito por menos <strong>de</strong> 40% população adulta brasileira, porque naquele momento, 60% da população brasileira<br />

não sabia ler e escrever. Nossa população, como eu disse, era rural e não podia votar, porque analfabeto não tinha direito a<br />

voto. Nossa <strong>de</strong>mocracia era muito restrita, elitista, e hoje temos um índice <strong>de</strong> analfabetismo que nas gran<strong>de</strong>s cida<strong>de</strong>s caiu para<br />

5%, 15% na média nacional. é verda<strong>de</strong> que temos os analfabetos funcionais, aqueles que não conseguem enten<strong>de</strong>r um texto.<br />

Mas há 40 anos, tínhamos pessoas que não sabiam assinar o nome, mais da meta<strong>de</strong> da população brasileira.<br />

A realida<strong>de</strong> está mudando e em 2010, o Brasil terá a universalização das telecomunicações: qualquer local com mais <strong>de</strong> 100<br />

habitantes tem telefone público e fixo disponíveis. O cidadão tem direito, em 15 dias, a um telefone na sua casa, se morar num<br />

local com mais <strong>de</strong> 100 habitantes. Agora o nosso <strong>de</strong>safio não é mais o telefone: é levar a banda larga a todas as partes do Brasil.<br />

Queremos a internet <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> casa.<br />

Em 2010, o Brasil terá energia elétrica em todos os lares: todo mundo vai ver televisão, ouvir rádio, ter uma gela<strong>de</strong>ira; os aparelhos<br />

eletrodomésticos e as comodida<strong>de</strong>s do mundo mo<strong>de</strong>rno estarão disponíveis a todos os brasileiros. Não estou falando <strong>de</strong><br />

um futuro distante; ele está muito próximo, e é um compromisso contratual das empresas distribuidoras.<br />

Temos o maior <strong>de</strong>safio hoje na região amazônica, porque lá as pessoas vivem <strong>de</strong> uma forma muito isolada; há rios <strong>de</strong> 1.900<br />

quilômetros em que a <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> <strong>de</strong>mográfica é <strong>de</strong> uma pessoa por quilômetro; é difícil levar a universalização da energia<br />

elétrica também para esse ambiente.<br />

Apesar <strong>de</strong>ssas características, como vocês mostraram no início, o Brasil <strong>de</strong> fato tem características próprias, peculiarida<strong>de</strong>s regionais;<br />

à medida em que o mercado começa a surgir nesses lugares, é preciso respeitá-las, principalmente na comunicação.<br />

Gosto muito <strong>de</strong> citar um exemplo que me <strong>de</strong>ram outro dia. Surgiu uma gran<strong>de</strong> empresa <strong>de</strong> intermediação <strong>de</strong> venda <strong>de</strong> imóveis<br />

chamada Brasil Brokers, que tem 50% das maiores corretoras <strong>de</strong> imóveis em 19 cida<strong>de</strong>s brasileiras. Hoje, ela está presente<br />

em cada vez mais centros urbanos. Ela compra meta<strong>de</strong> da corretora e o antigo dono continua como sócio da Brasil Brokers.<br />

Com isso, o empreen<strong>de</strong>dor <strong>de</strong> São Paulo acaba lançando no Brasil inteiro e leva a sua cultura para o local (por exemplo, o<br />

arquiteto) e lança o empreendimento.<br />

Eles foram lançar um empreendimento em Salvador, chamaram o sócio-corretor e ele disse: “é o projeto mais bonito que já vi,<br />

mas aqui não vai dar certo, não vai ven<strong>de</strong>r uma unida<strong>de</strong>, porque vocês não estão respeitando muitas coisas, por exemplo: na<br />

Bahia a varanda tem que ser gran<strong>de</strong>, já que o pessoal gosta <strong>de</strong> colocar re<strong>de</strong>; nessa varanda que vocês fizeram não cabe re<strong>de</strong>.<br />

Aqui ainda temos os empregados domésticos; o quarto <strong>de</strong> <strong>de</strong>pendências <strong>de</strong> empregada tem que ter duas camas, porque o<br />

empregado tem geralmente um agregado, um filho, e este quarto que vocês fizeram é para São Paulo; lá a maioria é diarista e<br />

só usa o quarto como vestiário. Depois, é o seguinte: vocês olharam para o sol, mas ele está no lugar errado, o sol na Bahia vem<br />

daqui. Vocês também não colocaram revestimento externo? Aqui na Bahia, se não tiver revestimento externo é baixa renda e<br />

vocês estão querendo ven<strong>de</strong>r para a classe média”. O projeto estava todo errado.<br />

Precisamos da agência <strong>de</strong> publicida<strong>de</strong> local para dar esse tipo <strong>de</strong> informação. São informações do mercado imobiliário que<br />

está se expandindo no Brasil inteiro. Como é que se lança um empreendimento em Salvador, Belém, Mossoró, Palmas, Campo<br />

Gran<strong>de</strong>, Cuiabá, com uma agência <strong>de</strong> São Paulo? Se a estratégia for esta, a venda não será boa.<br />

Lançaram um projeto em Goiânia e esqueceram que as pessoas <strong>de</strong> lá gostam <strong>de</strong> carro gran<strong>de</strong>. A garagem era pequena, não<br />

ven<strong>de</strong>u e o projeto era lindíssimo. Era só consultar a agência <strong>de</strong> publicida<strong>de</strong> local. Parece um <strong>de</strong>talhe pequeno, mas ninguém<br />

pensou nisso. E isso vale para Ribeirão Preto, Uberlândia, locais próximos das nossas gran<strong>de</strong>s metrópoles.<br />

Sou muito otimista em relação ao que vai acontecer no Brasil e acho que vamos ter uma Copa do Mundo com um Brasil diferente.<br />

Tudo indica que se continuarmos nesse ritmo, o Brasil não terá mais miséria absoluta (num período <strong>de</strong> 12 anos acho<br />

que acabaremos com ela). Isso não quer dizer que não continuemos a ter muitos pobres, mas não miseráveis. Estamos num<br />

momento <strong>de</strong> mudança e vocês foram muito felizes na escolha do tema para o <strong>Congresso</strong>. Muito obrigado.<br />

Ricardo Nabhan<br />

Em função do atraso, vamos ter que acelerar um pouco, e quero convidar o Antonio Ricardo Ferreira, do Ibope, para fazer a<br />

sua apresentação.<br />

Antonio Ricardo ferreira<br />

Vou tratar da realida<strong>de</strong> das pesquisas nos mercados regionais, mais especificamente as pesquisas <strong>de</strong> mídia. Vou tentar respon<strong>de</strong>r<br />

às seguintes perguntas: é importante regionalizar o planejamento <strong>de</strong> mídia? Existem pesquisas regulares para viabilizar<br />

essa regionalização? Os institutos oferecem ferramentas mo<strong>de</strong>rnas nos serviços regionais? O mercado tem recursos para sustentar<br />

essa regionalização? E o que po<strong>de</strong> ser feito para ampliar e acelerar o processo <strong>de</strong> regionalização das pesquisas?<br />

Para começar, vou mostrar alguns números <strong>de</strong> pesquisas que não são homogêneos, para que tentemos respon<strong>de</strong>r essa pergunta,<br />

se nós precisamos pensar regionalmente. Vou tratar da televisão. O SBT obtém com o Domingo Legal em Curitiba a<br />

sua maior audiência, e esse mesmo programa em Florianópolis só obtém 15% da audiência conquistada em Curitiba, ou seja,<br />

uma gran<strong>de</strong> diferença para o mesmo programa. Uma situação semelhante acontece com a Record: a novela 2 recebe a sua<br />

maior audiência em Fortaleza, mas em Florianópolis esse programa só obtém 30% da audiência <strong>de</strong> Fortaleza. A Ban<strong>de</strong>irantes<br />

tem uma situação semelhante: sua maior audiência é obtida em Porto Alegre com o Jornal da Band, e no Distrito Fe<strong>de</strong>ral ela<br />

só consegue 35% da audiência <strong>de</strong> Porto Alegre com esse mesmo programa. Na TV Globo, com a novela 3, sua maior audiência<br />

é em Porto Alegre também, e em Fortaleza ela só consegue 57% da audiência.<br />

Todos são programas lí<strong>de</strong>res <strong>de</strong> audiência <strong>de</strong> cada emissora e é uma realida<strong>de</strong> que acontece nas quatro gran<strong>de</strong>s emissoras<br />

do Brasil. Não é uma realida<strong>de</strong> específica <strong>de</strong> uma emissora; isso mostra que temos que pensar regionalmente. Parte <strong>de</strong>ssas<br />

diferenças po<strong>de</strong> ser explicada pelas diferenças <strong>de</strong> classes sociais <strong>de</strong>ssas regiões. Em Florianópolis, 50% da população dos domicílios<br />

com TV pertencem à classe AB, enquanto em Fortaleza, esse índice é <strong>de</strong> apenas 20%. Cerca <strong>de</strong> 9% dos domicílios <strong>de</strong><br />

Florianópolis pertencem à classe DE, enquanto em Fortaleza, são 44%. Se um programa está <strong>de</strong>dicado à classe AB ou DE – e<br />

isso ocorre em todas as emissoras –, é natural que ele tenha audiências diferentes em cada uma <strong>de</strong>ssas praças. Aquelas diferenças<br />

não são explicadas só pelas classes sociais; existem outros fatores, mas estes são os mais importantes.<br />

Alguns programas locais só são transmitidos nesses lugares e obtêm uma audiência diferenciada, e muitas vezes o planejador<br />

aqui <strong>de</strong> São Paulo sequer conhece os programas: em Recife o lí<strong>de</strong>r <strong>de</strong> audiência regional é o Bronca Pesada, do Cardinot,<br />

chega a ter 22% <strong>de</strong> audiência no SBT. Em Fortaleza, o programa D chega a ter 9,7 no SBT. E em Salvador, Se Liga no Bocão,<br />

com 18,3%, na Record. São três programas, todos eles na hora do almoço, com uma característica parte policial, mas focada<br />

nas cida<strong>de</strong>s on<strong>de</strong> são transmitidos.<br />

No Sul também temos programas regionais que se <strong>de</strong>stacam, mas já têm uma característica diferente: eles passam à meianoite.<br />

E alguns <strong>de</strong>les são ligados à parte esportiva. Em Curitiba, a Revista RPC com 11%, quase à meia-noite; em Florianópolis, o<br />

Estúdio Santa Catarina com 18%, também à meia-noite; em Porto Alegre, o programa Lance Final com 14%, também às 00h30.<br />

São programas regionais, que muitas vezes o planejador <strong>de</strong> uma agência <strong>de</strong> São Paulo não conhece e po<strong>de</strong> até <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> programar.<br />

O meio jornal também tem características bem diferenciadas; Porto Alegre tem um índice <strong>de</strong> leitura recente – que é a<br />

leitura <strong>de</strong> ontem e anteontem – <strong>de</strong> 65% da população. O número feio é para São Paulo, com 18%, que se compara às cida<strong>de</strong>s<br />

do Nor<strong>de</strong>ste, que têm uma característica <strong>de</strong> instrução e classe socioeconômica bastante inferior à <strong>de</strong> São Paulo, mas acabam<br />

tendo um índice <strong>de</strong> leitura parecido com o daqui.<br />

Há uma diversida<strong>de</strong> bastante gran<strong>de</strong> em todas as cida<strong>de</strong>s; é uma penetração bem pouco homogênea, sendo que Porto<br />

Alegre se <strong>de</strong>staca muito. O meio jornal é um meio que muitos planejadores acham estável e é importante que não pensemos<br />

sempre assim; esses são os resultados do índice <strong>de</strong> leitura recente <strong>de</strong> Belo Horizonte: em 2005, o índice <strong>de</strong> leitura era <strong>de</strong> 18%<br />

e em 2008 ele chegou a 47%. Houve um crescimento <strong>de</strong> 161% em três anos. Esse fenômeno está muito ligado aos jornais<br />

baratos — são jornais <strong>de</strong> R$ 0,25 a R$ 0,50 —, mas não <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> ser um fenômeno importante e ele se contrapõe a um discurso<br />

muito comum ultimamente, <strong>de</strong> que o meio jornal está acabando. Muitas vezes, isso não é verda<strong>de</strong>, ou, pelo menos, não é totalmente<br />

verda<strong>de</strong>. O rádio já é um meio mais homogêneo, mas mesmo assim ele tem diferenças ainda significativas; o Distrito<br />

Fe<strong>de</strong>ral é a região com menor audiência diária total, com cerca <strong>de</strong> 10%, enquanto Porto Alegre chega a ter 16% <strong>de</strong> audiência<br />

média diária no total do dia, isso no total da população com <strong>de</strong>z anos ou mais.<br />

Algumas características regionais são importantes: vimos que a audiência total é diferente, mas vamos ver um pouco as<br />

audiências <strong>de</strong> cada emissora lí<strong>de</strong>r. Eu escolhi a rádio Tupi FM em São Paulo que, no trimestre <strong>de</strong> abril a junho, tem 0,86% da<br />

audiência <strong>de</strong> São Paulo entre as pessoas com <strong>de</strong>z anos e mais, e a audiência lí<strong>de</strong>r em Fortaleza, a 93 FM, chega a 3,74%, ou seja,<br />

mais <strong>de</strong> quatro vezes a audiência lí<strong>de</strong>r <strong>de</strong> uma emissora <strong>de</strong> São Paulo.<br />

274 275<br />

COMISSÃO 8 - A REALIDADE DOS MERCADOS REGIONAIS


é importante que cada um que faça um planejamento, tenha consciência <strong>de</strong> que uma emissora lí<strong>de</strong>r nem sempre tem o mesmo<br />

tamanho em todas as regiões. é importante levar em consi<strong>de</strong>ração essas gran<strong>de</strong>s diferenças. E as diferenças entre as duas<br />

emissoras lí<strong>de</strong>res <strong>de</strong> duas regiões diferentes não ficam só no tamanho da audiência total; a diferença também é muito gran<strong>de</strong><br />

na composição do seu público. A Rádio Tupi tem 29% dos seus ouvintes na classe AB, enquanto a Rádio 93 <strong>de</strong> Fortaleza tem só<br />

10%; 51% da audiência da Tupi é <strong>de</strong> classe C, enquanto que a da 93 <strong>de</strong> Fortaleza é 34%, e, ao inverso da classe AB, a rádio Tupi<br />

tem apenas 20% <strong>de</strong> público na classe DE, enquanto 56% do público da Rádio 93 é da classe DE. São tamanhos <strong>de</strong> audiência<br />

diferentes e perfis muito diferenciados também.<br />

Em termos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>, também há uma diferença significativa: a Rádio Tupi tem uma audiência muito pequena no público<br />

jovem até 19 anos, chegando a 7%, enquanto a Rádio 93 <strong>de</strong> Fortaleza chega a ter 25%. E na extremida<strong>de</strong> das faixas sociais, o<br />

inverso acontece: a Rádio Tupi tem uma participação do público acima <strong>de</strong> 50 anos bastante gran<strong>de</strong>m com 28% e a Rádio 93<br />

tem um público bastante pequeno nesse segmento.<br />

Alguns dados <strong>de</strong> consumo, para mostrar as diferenças regionais – eu escolhi o consumo <strong>de</strong> uísque, porque tem uma característica<br />

bastante interessante. Temos tendência <strong>de</strong> pensar que uma bebida quente como o uísque é mais consumida em<br />

lugares frios, e todos se surpreen<strong>de</strong>m ao ver que os maiores consumidores <strong>de</strong> uísque estão no Nor<strong>de</strong>ste, com 14, 13 e 11%<br />

em Recife, Salvador e Fortaleza. é quase o dobro do consumo nas regiões on<strong>de</strong> se espera que tenha um consumo maior <strong>de</strong><br />

bebidas quentes, como São Paulo, Curitiba e Porto Alegre.<br />

A posse <strong>de</strong> telefone celular vem se homogeneizando no Brasil; as diferenças estão diminuindo. Há algum tempo, Brasília tinha<br />

uma diferença muito gran<strong>de</strong> em relação ao resto das regiões, e agora essa diferença está diminuindo, mas ainda existe. Brasília<br />

tem 85%, e no final da escala o interior <strong>de</strong> São Paulo, com 61%.<br />

é bem provável que em um ou dois anos, essas diferenças estejam ainda menores. O Target Group In<strong>de</strong>x, uma pesquisa singlesource<br />

do Ibope, tem algumas perguntas que levantam sobre o que as pessoas conversam, o que elas acham que influencia<br />

as outras. Fiz um estudo por cida<strong>de</strong>, para mostrar as diferenças: a população do Distrito Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong>clara que fala muito sobre<br />

automóvel, bebidas alcoólicas e produtos financeiros, e acha que as conversas com seus amigos e parentes influenciam muito<br />

a compra <strong>de</strong> automóvel; as pessoas <strong>de</strong> Curitiba falam sobre alimentos e roupas e acham que influenciam muito a compra <strong>de</strong><br />

automóveis e produtos financeiros. Porto Alegre fala muito sobre automóveis, bebidas alcoólicas, produtos <strong>de</strong> higiene pessoal<br />

e a influência é sobre alimentos e vida saudável; Rio <strong>de</strong> Janeiro fala sobre bebidas alcoólicas, telefones celulares e a influência<br />

é sobre alimentos. O importante é que nenhuma praça é igual à outra.<br />

Os assuntos são muito diferenciados, alguns <strong>de</strong>les até estão presentes em mais <strong>de</strong> uma praça — vocês po<strong>de</strong>m ver a diferenciação<br />

pelas cores — e as influências também são bastante diferenciadas. Eu enfatizaria que alimento é um produto que<br />

realmente se <strong>de</strong>staca na influência; as pessoas gostam <strong>de</strong> influenciar as outras nesse momento <strong>de</strong> compra.<br />

Juntando tudo isso, para mim fica claro que os dados e as informações regionais são muito importantes para qualquer tipo <strong>de</strong><br />

planejamento, porque uma região do Brasil é muito diferente da outra.<br />

Olhando o investimento publicitário no Brasil, esse dado é o do monitor do Ibope, é estimado pela tabela cheia, e nós estimamos<br />

que o Brasil hoje tem um investimento publicitário <strong>de</strong> R$52 bilhões, mas ainda está muito concentrado em duas gran<strong>de</strong>s<br />

regiões: 34% em São Paulo e 13% <strong>de</strong>sse investimento publicitário está no Rio <strong>de</strong> Janeiro, ou seja, estas duas regiões totalizam<br />

quase 47% do nosso investimento publicitário. Isso é um problema, mas também é uma oportunida<strong>de</strong> e estamos aqui para<br />

discutir isso e tentar reverter um pouco esse panorama.<br />

Existem ferramentas para medirmos a opinião das pessoas, as audiências e tudo isso <strong>de</strong> que estamos falando em cada uma<br />

das regiões do Brasil? A Ipsos Marplan tem a single source, uma pesquisa realizada em nove regiões regularmente e mais seis<br />

regiões sob encomenda, que pesquisa consumo <strong>de</strong> meios <strong>de</strong> comunicação, produtos e serviços e faz atitudinais; tem uma<br />

periodicida<strong>de</strong> <strong>de</strong> entrega trimestral, consolidado semestral e anual para cada um <strong>de</strong>stes mercados.<br />

O Ibope tem uma pesquisa semelhante, com a metodologia single software já em doze mercados, e os assuntos que o Ibope<br />

pesquisa são semelhantes aos da Marplan: consumo <strong>de</strong> meios <strong>de</strong> comunicação, produtos, serviços e frases atitudinais. A periodicida<strong>de</strong><br />

do Ibope é semestral e anual.<br />

Para medir o meio rádio, o Ibope tem uma pesquisa pelo método recall em onze regiões contínuas; todos os dias do ano é<br />

feita uma pesquisa em cada uma <strong>de</strong>ssas regiões e a entrega dos dados é mensal, a partir <strong>de</strong> um banco trimestral móvel. Anualmente,<br />

outras 20 regiões são pesquisadas por serviços especiais, ou seja, sob encomenda — quando uma região se organiza,<br />

procura o Ibope e é executada uma pesquisa na região.<br />

No total, anualmente, em média são pesquisadas em média 30 regiões no Brasil. O meio jornal também é pesquisado em nove<br />

regiões, com uma periodicida<strong>de</strong> <strong>de</strong> entrega mensal e anualmente, outras 30 regiões são pesquisadas<br />

Na televisão, o Ibope pesquisa regularmente 12 regiões com painéis em domicílios, através do o people-meter, totalizando<br />

quase 3.500 domicílios pesquisados e cerca <strong>de</strong> 7.000 televisores medidos. A periodicida<strong>de</strong> da entrega <strong>de</strong>sses dados é diária;<br />

e anualmente, outras 120 regiões são pesquisadas por meio <strong>de</strong> serviços especiais, feitos durante uma semana, e em algumas<br />

regiões elas são pesquisadas mais <strong>de</strong> uma semana por ano; mas a maior parte <strong>de</strong>las é uma vez por ano; outras, duas ou três,<br />

algumas chegando até quatro regiões. O Ibope oferece sete softwares diferentes para a consulta <strong>de</strong>sses dados, cada um com<br />

um nível <strong>de</strong> informação e <strong>de</strong> sofisticação diferente.<br />

No investimento publicitário, o Ibope cobre 35 praças <strong>de</strong> televisão, 7 praças <strong>de</strong> rádio, 22 praças <strong>de</strong> jornal, 24 praças <strong>de</strong> outdoor<br />

e 11 <strong>de</strong> cinema; o checking do Ibope cobre 52 praças <strong>de</strong> televisão e 22 <strong>de</strong> jornal. A Crowley, uma empresa <strong>de</strong> checking especializada<br />

em serviços <strong>de</strong> rádio, cobre sete praças regulares e também faz serviços especiais; a Media View cobre praças regulares,<br />

levantando investimentos publicitários no cinema e também faz serviços especiais.<br />

Existem <strong>de</strong>zenas <strong>de</strong> controladoras locais que fazem o checking <strong>de</strong> televisão e algumas também cobrem rádio e outdoor. Com<br />

isso, dá para percebermos que existe uma gran<strong>de</strong> gama <strong>de</strong> pesquisas e <strong>de</strong> regiões cobertas pelos serviços dos principais<br />

institutos. E no Brasil, esses serviços são bons? Eu levantei algumas situações aon<strong>de</strong> o Media Workstation, PlanView, Ton Micro<br />

e Choice também são softwares usados nos Estados Unidos, na Europa e na Ásia.<br />

O Media Workstation e o PlanView foram <strong>de</strong>senvolvidos em Portugal pela Markdata e são usados pelos serviços do Ibope; o<br />

Ton Micro foi <strong>de</strong>senvolvido pela O<strong>de</strong>c, uma empresa da Espanha e é usado nos estudos da Marplan, e o Choice é usado em<br />

target group e foi <strong>de</strong>senvolvido por uma empresa Inglesa chamada BMRB.<br />

O Ibope usa um tipo <strong>de</strong> people-meter semelhante aos institutos dos Estados Unidos e Europa e já está testando em campo<br />

uma nova geração que fará a i<strong>de</strong>ntificação não mais <strong>de</strong> canal, mas sim <strong>de</strong> conteúdo. Mesmo no caso dos programas que a<br />

pessoa está assistindo gravado em DVD ou em outro tipo <strong>de</strong> equipamento, será feita a i<strong>de</strong>ntificação e a audiência será <strong>de</strong>slocada<br />

para consolidar uma audiência <strong>de</strong> 2, 3 dias, ou até uma semana daquele programa.<br />

O painel <strong>de</strong> domicílios que a Ipsos e o Ibope usam, single-softwares e o recall que o Ibope usa em pesquisas <strong>de</strong> rádio continuam<br />

sendo as técnicas <strong>de</strong> pesquisas usadas em todo o mundo. As pesquisas <strong>de</strong> audiência <strong>de</strong> TV do Ibope são editadas<br />

continuamente <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1988 pela Ernst & Young, com base nos padrões do Media Rating Council (MRC), dos Estados Unidos,<br />

que também estabelece os padrões <strong>de</strong> medição da audiência <strong>de</strong> TV nos Estados Unidos — é a Nielsen que executa, com<br />

patrocínio da Comissão <strong>Abap</strong> Re<strong>de</strong>s.<br />

O Ibope é o fornecedor <strong>de</strong> pesquisas <strong>de</strong> audiência da América Latina para grupos americanos <strong>de</strong> Pay TV e esses serviços são<br />

subprodutos das amostras regulares <strong>de</strong> seis praças, ou seja, o mercado americano consome nossas pesquisas e elas são subprodutos<br />

das nossas pesquisas maiores, que aten<strong>de</strong>m o mercado brasileiro.<br />

é um sinal <strong>de</strong> que nossas pesquisas têm qualida<strong>de</strong> semelhante ao que existe nos Estados Unidos. O IGM e o Target Group In<strong>de</strong>x são<br />

pesquisas tradicionais em <strong>de</strong>zenas <strong>de</strong> países da Europa; o Target Group In<strong>de</strong>x existe em mais <strong>de</strong> 50 países há mais <strong>de</strong> 20 anos.<br />

Minha conclusão é que temos um nível <strong>de</strong> pesquisa semelhante ao dos mais <strong>de</strong>senvolvidos países do mundo. é óbvio que<br />

alguns países da Europa e mesmo dos Estados Unidos têm algumas ferramentas mais sofisticadas, com uma abrangências <strong>de</strong><br />

amostras maiores, mas nada ficamos a <strong>de</strong>ver, principalmente se consi<strong>de</strong>ramos a diferença que temos para esses países.<br />

E dá para pagar a conta? Se fala muito dos preços das pesquisas; pesquisa <strong>de</strong> mídia não é, realmente, uma ferramenta barata,<br />

mas ela tem características que amenizam esse custo <strong>de</strong> implantação. Uma <strong>de</strong>las é que as pesquisas <strong>de</strong> modo geral são sindicalizadas.<br />

Tanto o Ibope quanto a Ipsos sindicalizam suas pesquisas: o custo é dividido entre vários clientes, e não pago por<br />

um só, o que torna a pesquisa um pouco mais barata. O Ibope tem uma política <strong>de</strong> comercialização em função do tamanho<br />

das agências, do tamanho medido pelo rank do monitor. E esses <strong>de</strong>scontos chegam a 50%. Os preços dos serviços <strong>de</strong> TV do<br />

Ibope também são cobrados em função do produto que a agência recebe. Para cada serviço, para cada software, existe um<br />

preço diferenciado; então, uma agência menor não é obrigada a comprar o serviço mais completo, e com isso, ela tem um<br />

preço também menor.<br />

O Cenp negociou com o Ibope uma tabela especial para as agências classificadas nos grupos 3 a 7 e esses preços variam <strong>de</strong> R$<br />

1.200,00 mensais (para uma praça <strong>de</strong> TV regular com 12 relatórios mensais), até R$ 348,00 mensais (para um serviço <strong>de</strong> rádio<br />

ou jornal com seis bancos mensais). Esse preço é válido tanto para São Paulo quanto para Fortaleza, todas as regiões que o<br />

Ibope pesquisa regularmente.<br />

O Cenp também disponibilizou um banco <strong>de</strong> pesquisas patrocinado pelo Ibope, pela Ipsos/Marplan e pelo <strong>IV</strong>C. Nesse banco,<br />

qualquer agência certificada e enquadrada nos grupos 5 ou 6 po<strong>de</strong> fazer a consulta da pesquisa <strong>de</strong> da sua região. Até<br />

recentemente, era cobrado um preço bastante barato — se não me engano, eram R$ 50,00 —, mas neste momento, o Cenp<br />

está isentando essa taxa <strong>de</strong> consulta. Então, qualquer agência do Brasil que esteja certificada nos grupos 6 ou 7 não precisa<br />

comprar pesquisa, e po<strong>de</strong> fazer essa consulta.<br />

Como uma região po<strong>de</strong> ter uma pesquisa regular ou especial? O Ibope e a Ipsos/Marplan não atuam no Brasil todo e não temos<br />

condições <strong>de</strong> cobrir todas as regiões. Existe uma preocupação <strong>de</strong> aten<strong>de</strong>r àquelas regiões que têm uma importância comercial<br />

maior e existe também uma tendência para se encaminhar para aquelas regiões on<strong>de</strong> a profissionalização está um pouco mais<br />

forte. Então, a organização e a profissionalização são as chaves para se conseguir a expansão das pesquisas <strong>de</strong> mídia.<br />

Eu posso contar dois casos recentes: o sindicato das agências <strong>de</strong> propaganda do Espírito Santo procurou o Ibope e firmou um<br />

contrato coletivo para aten<strong>de</strong>r 19 agências. Apoiado pela comissão <strong>Abap</strong> Re<strong>de</strong>s, o Ibope planejou, a partir <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong> 2009,<br />

um serviço contínuo <strong>de</strong> TV com meter em Vitória. A mesma situação aconteceu em Goiás: 15 agências se reuniram através do<br />

sindicato, já compram do Ibope regularmente há pelo menos três anos, e agora, o Ibope, apoiado pela comissão <strong>Abap</strong> Re<strong>de</strong>s,<br />

vai implantar o serviço contínuo em Goiânia.<br />

Sempre que o Ibope implanta o serviço contínuo, ela apóia o mercado com o Media Class, um curso que orienta o uso <strong>de</strong><br />

todas as nossas ferramentas, e já diplomou 1.500 alunos.<br />

A organização é importante, mas, às vezes, a pressão também funciona; o mercado <strong>de</strong> Florianópolis se organizou e fez pressão<br />

sobre o Ibope através <strong>de</strong> uma campanha publicitária em outdoor e televisão (eu ia passar um filme sobre isso, mas o tempo já<br />

está apertado). Era uma campanha <strong>de</strong>nominada People-metter Já!, veiculada na região <strong>de</strong> Florianópolis em quatro emissoras<br />

<strong>de</strong> julho a setembro, com 235 inserções. O objetivo era atingir os gestores do Ibope para adiantar o processo <strong>de</strong> implantação<br />

da amostra <strong>de</strong> people-meter que tinha sido negociada pelo mercado, e o Ibope tinha estabelecido um prazo que não atendia<br />

muito às expectativas <strong>de</strong>les.<br />

O interessante <strong>de</strong>ssa campanha é que ela não foi muito bem feita; ela teve alcance e impacto zero, porque nenhum diretor do<br />

Ibope ou gerente viu a campanha, já que não existia ninguém do Ibope em Florianópolis. Nossa conclusão é que se o planejamento<br />

tivesse sido usado em pesquisas regionais, certamente geraria um resultado melhor para a campanha <strong>de</strong>les. Mas, no<br />

final, eles conseguiram o que queriam e implantamos o serviço contínuo do Ibope <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 2005.<br />

Existem pesquisas regionais <strong>de</strong> boa qualida<strong>de</strong> em muitos mercados; acho que intensificar o uso e aumentar a cobertura é a<br />

intenção <strong>de</strong> todos, e a oportunida<strong>de</strong> que nós temos. O caminho para isso é a organização e a profissionalização dos mercados<br />

regionais. Obrigado.<br />

Ricardo Nabhan<br />

Eu vou pedir para que os nossos palestrantes acelerem, porque o Deputado precisa voltar à Brasília e o diretor da Nestlé também<br />

tem um compromisso. Eu gostaria que o Izael subisse aqui.<br />

Izael Sinem<br />

Vou colocar rapidamente para vocês como a regionalização é importante para a Nestlé do Brasil. Na verda<strong>de</strong>, esse processo<br />

começou há muitos anos através <strong>de</strong> pesquisas <strong>de</strong>talhadas em cada uma das regiões do Brasil, para enten<strong>de</strong>r a dinâmica dos<br />

consumidores para atingir anseios e expectativas e em termos <strong>de</strong> cultura em cada uma <strong>de</strong>ssas regiões.<br />

Mais especificamente em 2004, foi criada uma diretoria especial para a regionalização, dada a importância <strong>de</strong>sse projeto para<br />

o crescimento da companhia no Brasil. Essa diretoria tinha como principais responsabilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>senvolver novos mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong><br />

negócios que fossem específicos e eficientes para cada uma das diferentes regiões, e que também fossem criadas estratégias<br />

<strong>de</strong> comunicação específicas para cada uma <strong>de</strong>ssas áreas.<br />

276 277<br />

COMISSÃO 8 - A REALIDADE DOS MERCADOS REGIONAIS


Essa nova estrutura permitiu que fossem <strong>de</strong>senvolvidos novos produtos, não só em termos <strong>de</strong> formulação, mas também <strong>de</strong><br />

embalagem, que pu<strong>de</strong>ssem aten<strong>de</strong>r melhor esse público tão diferenciado. O Brasil tem muitos Brasis e, nesse sentido, essa<br />

diretoria ajudou muito no <strong>de</strong>senvolvimento. Cada região tem características muito específicas e nós compreen<strong>de</strong>mos muito<br />

bem isso, tanto que o exemplo são alguns produtos que eu posso mencionar: no Nor<strong>de</strong>ste o café tem que ser mais suave, então<br />

vai para lá o Nescafé Dolca, que tem o sabor mais suave, ou então temperos que vão através da linha Maggi com coentro,<br />

cominho, característicos <strong>de</strong> outras regiões ou da própria região Norte ou Nor<strong>de</strong>ste, como o Leite I<strong>de</strong>al, que é enriquecido com<br />

cálcio e vitaminas, e assim por diante.<br />

Em termos <strong>de</strong> embalagens e produtos, temos uma série <strong>de</strong> modificações ou melhorias, para aten<strong>de</strong>r melhor essas especificida<strong>de</strong>s.<br />

Quero ressaltar que para nós, a regionalização não é só importante do ponto <strong>de</strong> vista do crescimento, do atingimento<br />

das nossas metas <strong>de</strong> crescimento, mas ela tem também um forte viés <strong>de</strong> inclusão social. Para isso, quero mostrar um ví<strong>de</strong>o só<br />

<strong>de</strong> dois minutos, para falar sobre Feira <strong>de</strong> Santana, que tem uma fábrica inaugurada há quase três anos e recentemente teve<br />

uma ampliação.<br />

Ví<strong>de</strong>o<br />

Mais importante do que falar é mostrar para vocês o que estamos fazendo e quão seriamente a companhia leva o processo<br />

<strong>de</strong> regionalização. Muito obrigado.<br />

Ricardo Nabhan<br />

A Nestlé já antecipou o processo <strong>de</strong> regionalização e espero que outras empresas sigam este exemplo, para que todos possam<br />

colher bons frutos. Eu convido agora o Deputado Cláudio Vignatti, representante da Frente <strong>de</strong> Apoio à Mídia Regional,<br />

que vai apresentar um trabalho que eles têm <strong>de</strong>senvolvido em Brasília para o fortalecimento <strong>de</strong> todo o setor.<br />

Deputado Cláudio Vignatti<br />

Quero saudar a Fenapro através <strong>de</strong> seu presi<strong>de</strong>nte e dizer da alegria <strong>de</strong> estar aqui. Gostaria também <strong>de</strong> saudar Juarez, <strong>de</strong> Santa<br />

Catarina, da Fenapro, e por eu também po<strong>de</strong>r participar <strong>de</strong>sse painel.<br />

Também tenho uma expectativa muito positiva e acredito, <strong>de</strong> fato, na construção do futuro da economia brasileira. Eu atuo<br />

há seis anos na Comissão <strong>de</strong> Finanças e Tributação e fui relator do plano pluri-anual que <strong>de</strong>senhou os quatro orçamentos do<br />

Brasil no ano passado. Então, temos um pouco na mão essa situação daquilo que vai e on<strong>de</strong> vai a economia, e acho que vamos<br />

controlar a inflação também, vamos ter um Brasil muito promissor daqui para a frente. Estou com o tempo apertado, porque<br />

precisamos votar a LDO para votar o orçamento <strong>de</strong>pois.<br />

A Frente Parlamentar da Mídia Regional é uma idéia construída a partir <strong>de</strong> um <strong>de</strong>bate da realida<strong>de</strong> das associações nacionais<br />

<strong>de</strong> vários estados brasileiros <strong>de</strong> radiodifusão e jornais; um grupo <strong>de</strong> parlamentares do <strong>Congresso</strong> Nacional resolveu encampar<br />

a questão da organização <strong>de</strong>ssa Frente Parlamentar e constantemente os jornais, o rádio e a televisão procuram os parlamentares<br />

para negociar a oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ter mídia governamental e mídia do governo nas suas regiões. E isso se dava muitas<br />

vezes porque havia um tráfego <strong>de</strong> influência maior em alguns ministérios, ou uma relação mais afinada com o governo. Alguns<br />

veículos acabavam tendo a oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma veiculação privilegiada nesse processo todo e do ponto <strong>de</strong> vista geral, não<br />

conseguiam <strong>de</strong> fato avançar na construção <strong>de</strong> uma veiculação <strong>de</strong> forma universalizada.<br />

A idéia <strong>de</strong> criar a Frente Parlamentar foi <strong>de</strong> vários parlamentares e nós, pautados por vários <strong>de</strong>putados e senadores, acabamos<br />

articulando essa frente parlamentar e <strong>de</strong>mos um nome bem sugestivo: o Brasil no Brasil Inteiro, com o objetivo <strong>de</strong> <strong>de</strong>scentralizar<br />

as aplicações governamentais do Governo Fe<strong>de</strong>ral nas publicida<strong>de</strong>s do Brasil.<br />

Essa Frente Parlamentar é um trabalho que já estamos organizando há cinco anos no <strong>Congresso</strong> Nacional, consolidado como<br />

Frente no ano passado. Ela se consolidou no estatuto formal, com a assinatura <strong>de</strong> vários <strong>de</strong>putados, é registrada no <strong>Congresso</strong><br />

Nacional, com um trabalho constante. O resultado que queremos atingir é dar um pouco <strong>de</strong> voz a esses jornais e rádios.<br />

A partir daí, conseguimos constituir um grupo <strong>de</strong> trabalho e a Fenapro participou <strong>de</strong>le através do Ricardo. Esse grupo é composto<br />

por gente que representa os jornais diários, semanais, rádios e TV, além da Fenapro. Dentro <strong>de</strong>ssa questão, constituímos<br />

o grupo <strong>de</strong> trabalho que começou a discutir a publicida<strong>de</strong> fe<strong>de</strong>ral, pautar campanhas publicitárias do Governo Fe<strong>de</strong>ral e a<br />

distribuição <strong>de</strong>ssas campanhas. Com certeza, um dos <strong>de</strong>bates sobre essa questão é a participação efetiva das agências nacionais<br />

na criação, um segundo round. Em seguida, falarei um pouco sobre essa evolução.<br />

Nós criamos coor<strong>de</strong>nações na Frente Parlamentar com <strong>de</strong>putados para cuidar da coor<strong>de</strong>nação <strong>de</strong> rádio, um coor<strong>de</strong>nador <strong>de</strong><br />

TV, internet, jornal, e que distribuísse um pouco as funções. Além disso, a Frente tem um coor<strong>de</strong>nador por estado. Cada estado<br />

da nação brasileira tem um <strong>de</strong>putado ou senador responsável por esse processo <strong>de</strong> coor<strong>de</strong>nação.<br />

é importante ter em mente que temos trabalhado muito fortemente na criação da Frente <strong>de</strong> um <strong>de</strong>bate que não está explícito<br />

na apresentação. Temos feito reuniões <strong>de</strong> forma cotidiana nos ministérios, e nelas, levamos um grupo <strong>de</strong> <strong>de</strong>putados e coor<strong>de</strong>nadores<br />

interessados por temas. Temos discutido temas durante o café da manhã; a cada 15 ou 20 dias, fazemos um café da<br />

manhã on<strong>de</strong> até a Fenapro e a ABA são convidadas para o processo, porque justamente na Secom ou nos ministérios, é muito<br />

mais fácil fazer uma articulação das agências <strong>de</strong> publicida<strong>de</strong> com 10, 12 ou 13 re<strong>de</strong>s <strong>de</strong> rádio, 10 ou 12 jornais e televisões do<br />

Brasil. é muito mais trabalhoso, <strong>de</strong> fato, fazer uma negociação on<strong>de</strong> seja possível atingir muito mais a publicida<strong>de</strong> institucional<br />

em todo o Brasil. E muitas vezes, é preciso convencer o Ministério; não basta só ter vonta<strong>de</strong> e a <strong>de</strong>terminação que o Frank e o<br />

Tony tiveram <strong>de</strong> comprar essa luta e estar junto conosco nesse processo <strong>de</strong> construção da regionalização. Há uma <strong>de</strong>cisão do<br />

Governo <strong>de</strong> regionalizar; é uma <strong>de</strong>cisão <strong>de</strong> cobrar das estatais a regionalização, e o exemplo disso foi a campanha da Petrobras<br />

no ano passado e a campanha que vai ao ar nós próximos dias, sobre a regionalização da mídia brasileira.<br />

Exemplos são a Caixa Econômica Fe<strong>de</strong>ral, a Eletrobrás e o Banco do Brasil — no mês <strong>de</strong> agosto, vamos discutir o plano <strong>de</strong><br />

safra, a regionalização do Banco do Brasil com o Ministério do Desenvolvimento Agrário e da Agricultura. O <strong>de</strong>bate sobre<br />

essa questão tem muito a ver com o número <strong>de</strong> veículos e <strong>de</strong> assinantes que temos. Acho que isso nós po<strong>de</strong>mos levantar<br />

também. Um exemplo: um anúncio em Chapecó, Santa Catarina — o jornal <strong>de</strong> maior circulação em Santa Catarina tem 1.000<br />

assinantes no município; os quatro jornais diários têm 20.000 assinantes naquela mesma cida<strong>de</strong>. A mídia regional fala com a<br />

comunicação e com a realida<strong>de</strong> local; ninguém olha primeiro o Jornal Nacional: primeiro, cada um vê o jornal da sua cida<strong>de</strong><br />

e existem programas do Governo Fe<strong>de</strong>ral que <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m essencialmente do rádio — muitas vezes, a publicida<strong>de</strong> daquela<br />

rádio é aquele programa, porque talvez aquele cidadão não tenha nem TV em casa. é a rádio da dona <strong>de</strong> casa, com aqueles<br />

programas sociais do Governo Fe<strong>de</strong>ral. Assim ele atinge aquele público, como o Bolsa Família ou o ProUni.<br />

Outro exemplo: num dia <strong>de</strong>sses, peguei um anúncio na Gazeta Mercantil do Pronaf, que é um programa voltado para a agricultura<br />

familiar brasileira e que nada tem a ver com a Gazeta Mercanti e não atinge o público, nem a quem ven<strong>de</strong> ao aricultor. Essa<br />

veiculação po<strong>de</strong>ria estar muito mais forte na mídia regional brasileira. Algumas campanhas são setorizadas nesse sentido.<br />

Temos trabalhado muito fortemente a importância do mercado regional, com esclarecimentos sobre o processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>mocratização,<br />

a busca do resultado e o <strong>de</strong>bate <strong>de</strong>ssa questão no Brasil, a importância da linguagem local. é aquilo que o Ibope<br />

e a Nestlé colocaram aqui sobre cada realida<strong>de</strong> regional. As campanhas publicitárias “Mais Brasil Para Mais <strong>Brasileiro</strong>s” já foram<br />

focadas nas linguagens locais com personalida<strong>de</strong>s locais, que pu<strong>de</strong>ssem expressar os benefícios que aquelas pessoas pu<strong>de</strong>ssem<br />

ter por parte do Governo Fe<strong>de</strong>ral.<br />

Esta próxima que vou passar está relacionada com o que o George Vidor colocou aqui. De fato, é uma pesquisa que pedimos<br />

ao Ipea/IBGE para fazer, porque precisamos levantar o crescimento. O Brasil vem crescendo <strong>de</strong> forma diferente: o interior está<br />

crescendo. No setor <strong>de</strong> alimentos, como na área <strong>de</strong> aves e carnes suínas, carne <strong>de</strong> gado, leite e outros <strong>de</strong>rivados, a industrialização<br />

e a geração <strong>de</strong> empregos estão no interior do Brasil; temos um crescimento <strong>de</strong> emprego <strong>de</strong>scentralizado nos últimos<br />

momentos no Interior do Brasil. Então, a economia também está crescendo <strong>de</strong> forma <strong>de</strong>scentralizada, tanto é que os mercados<br />

regionais passam a ter uma importância.<br />

Pedimos esse levantamento ao Ipea, porque ele dará uma direção a um <strong>de</strong>bate com mais ciência nesse processo todo. Eu não<br />

sei como está hoje a pesquisa da Fenapro. Ontem à tar<strong>de</strong>, quando eu fechei esta apresentação, a Fenapro colocou a pesquisa<br />

no ar — foi colocado por índice e é por indice e não por acesso, mas quem acessa o site da Fenapro está concordando com<br />

essa pesquisa, que é uma necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> investimento na mídia regional brasileira.<br />

Outra questão do <strong>de</strong>bate: achamos que a mídia regional presta um relevante serviço ao Brasil, porque existem ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />

utilida<strong>de</strong> pública, que são <strong>de</strong> graça, e tem rádios com programas <strong>de</strong> utilida<strong>de</strong> pública <strong>de</strong> uma hora por dia, também <strong>de</strong> graça —<br />

uma rádio <strong>de</strong> porte médio e significativo. Muitas vezes, num município <strong>de</strong> 20.000 habitantes, o único veículo <strong>de</strong> comunicação<br />

é uma rádio e esse veículo tem que ser prestigiado com investimento na mídia regional, não só governamental, mas privada.<br />

Essa questão é importantíssima, porque além <strong>de</strong> tudo, essa distribuição <strong>de</strong> recurso passa a ser um fator importante <strong>de</strong> vida<br />

para essa família, muitas vezes dona <strong>de</strong>ssa rádio, porque é o valor que vai ajudar na empregabilida<strong>de</strong>, melhorar a renda, e que<br />

se distribui também para setores do Brasil, para que o país cresça <strong>de</strong> forma mais uniforme, mais bem articulada.<br />

Outra questão são as culturas regionais que a mídia regional proporciona; as opiniões são diferentes. Mesmo quando há uma<br />

catástrofe em alguma região do Brasil, muitas vezes o fato mais importante para a mídia regional não é aquela catástrofe, é<br />

outro. Acho que o Ibope traz isso <strong>de</strong> forma tranquila, porque muitas vezes, entre o jornal local da Re<strong>de</strong> Globo e o jornal local da<br />

Record, esses dois programas disputam a maior audiência, pois falam a linguagem local, como eu acabei <strong>de</strong> falar da assinatura<br />

dos jornais também. O povo se enxerga naquele programa, porque é notícia da história, da vida <strong>de</strong>le; muitas vezes, não é a<br />

melhor novela que tem a melhor audiência local.<br />

A Globo, a Record e outras televisões regionais estão acordando para isso também, para esse investimento e <strong>de</strong> certa forma, o<br />

setor privado também está acordando para esse investimento regional, por isso, achamos que o Governo <strong>de</strong>ve se concentrar nisso.<br />

Falando dos avanços do Governo Fe<strong>de</strong>ral na área das universida<strong>de</strong>s e dos Centros Fe<strong>de</strong>rais <strong>de</strong> Educação Tecnológica (Cefets):<br />

estão sendo construídos 140 Cefets no Brasil, todos no interior. Não há uma peça publicitária sobre o Cefet local naquele interior<br />

e naquela região, e é preciso que haja criação local, porque um Cefet é diferente do outro. Eles são vocacionados para a<br />

realida<strong>de</strong> da economia local e os empresários, a socieda<strong>de</strong> civil local, discutiram a construção <strong>de</strong> um Cefet vocacionado para<br />

a educação local.<br />

O George Vidor mostrou on<strong>de</strong> estão concentradas as populações nas gran<strong>de</strong>s regiões metropolitanas, nos gran<strong>de</strong>s mercados,<br />

mas 61% estão nas regiões não-metropolitanas, no interior do Brasil. Vou mostrar um pouco e fazer esse contraponto quanto a<br />

essa questão, porque a maioria da população não está nas regiões metropolitanas, mesmo que o mercado esteja focado, e do<br />

ponto <strong>de</strong> vista econômico é compreensível a análise que ele coloca. Aqui, um pouco da distribuição da mídia, só para vocês<br />

visualizarem também on<strong>de</strong> estão as emissoras, os jornais no Brasil.<br />

Vamos para a última campanha publicitária; o importante é: nós, da Frente Parlamentar, não temos po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> discutir preço;<br />

preço, quem negocia, são os representantes; nós temos como objetivo fazer o <strong>de</strong>bate sobre a veiculação e sobre a questão<br />

da produção.<br />

Nessa campanha publicitária nós avançamos muito; a inclusão foi feita em 1338 jornais do Brasil, 2.664 rádios. Se vocês observarem,<br />

verão nos rádios, jornais, TV e revistas, tudo fruto <strong>de</strong>sse trabalho constante <strong>de</strong> negociação e da tratativa da vinculação<br />

do Governo Fe<strong>de</strong>ral, vocês verão progressos. Essas tratativas têm ajudado muito, porque muitas vezes a veiculação <strong>de</strong> uma<br />

publicida<strong>de</strong> do Governo Fe<strong>de</strong>ral numa rádio ou num jornal também dá oportunida<strong>de</strong> para o investimento privado. Quando o<br />

jornal <strong>de</strong> circulação diária contém publicida<strong>de</strong> do Governo Fe<strong>de</strong>ral, isso cria uma diferenciação e o setor privado olha diferente,<br />

a partir do momento em que o Governo está investindo. Isso interessa mais aos veículos do que às agências.<br />

Aqui, uma análise <strong>de</strong> crescimento do total geral; este é processo. Mostro também uma análise da Secom do ponto <strong>de</strong> vista<br />

da evolução do rádio e da televisão, uma evolução dos números, ao mesmo tempo <strong>de</strong> crescimento <strong>de</strong> municípios, mas não<br />

está incluída a última campanha — se estivesse, o crescimento seria mais acentuado (eles estavam fazendo o aferimento da<br />

ultima campanha).<br />

O próximo trabalho que faremos na Frente Parlamentar é para que possamos avançar junto com a Fenapro e as televisões<br />

regionais. Estamos programando uma ativida<strong>de</strong> para a segunda quinzena <strong>de</strong> agosto, on<strong>de</strong> po<strong>de</strong>remos discutir produção<br />

regional. Acreditamos que as agências <strong>de</strong> publicida<strong>de</strong> do Brasil po<strong>de</strong>m colaborar nas produções regionais e ter licitações<br />

<strong>de</strong>scentralizadas do Governo Fe<strong>de</strong>ral e também, ao mesmo tempo, acabamos discutindo investimentos maiores nesse processo<br />

todo por parte da mídia do governo. Queremos construir isso com a Fenapro e não queremos atuar a partir da ótica do<br />

parlamentar, mas junto com as entida<strong>de</strong>s, com a Abert.<br />

O gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>safio que temos nesse processo todo é fazer um processo <strong>de</strong> organização do setor nacional. As rádios e as TVs<br />

no Brasil estão organizadas em sete ou oito estados em associação. A negociação ocorre com muito mais critério quando a<br />

organização está feita. A nossa Associação Catarinense <strong>de</strong> Emissoras <strong>de</strong> Rádio e Televisão (Acaert), com o Ranieri Moacir Bertoli,<br />

que foi seu presidnete até há pouco tempo atrás e é um gran<strong>de</strong> entusiasta da mídia regional, é bem organizada e discute pacotes<br />

com o Governo do Estado <strong>de</strong> forma articulada, além <strong>de</strong> fazer o aferimento e a comprovação da divulgação e organização, e<br />

278 279<br />

COMISSÃO 8 - A REALIDADE DOS MERCADOS REGIONAIS


prestar contas dos seus veículos associados ao governo. Isso as entida<strong>de</strong>s têm feito ao Governo Fe<strong>de</strong>ral também, e têm avançado<br />

inclusive no aferimento dos jornais do interior, dos jornais semanais, on<strong>de</strong> as entida<strong>de</strong>s ficam responsáveis pelo aferimento.<br />

Outra questão importante nesse processo todo é que queremos fazer a rotativida<strong>de</strong> da Frente Parlamentar. Um grupo <strong>de</strong> parlamentares<br />

e senadores está trabalhando nisso e compreen<strong>de</strong>ram que <strong>de</strong> fato não têm que negociar um veículo ou uma emissora.<br />

Na semana passada, me coube uma outra missão. O ministro Pimentel era coor<strong>de</strong>nador da Frente Parlamentar em <strong>de</strong>fesa da<br />

micro e pequena empresa nacional e juntos, nós estruturamos com ele, com Carlos Merles, ex-ministro, do DEM <strong>de</strong> Minas<br />

Gerais, o Roule, do PSDB <strong>de</strong> São Paulo, a “Lei geral da micro e pequena empresa”. Tínhamos várias pautas e <strong>de</strong>mandas e coube<br />

a mim assumir essa <strong>de</strong>manda e outra Frente Parlamentar tão gran<strong>de</strong> e igual a essa: a Frente Parlamentar da Micro e Pequena<br />

Empresa no <strong>Congresso</strong> Nacional. O primeiro projeto <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> trancar a pauta é o PLP 02, que trabalha com a pró empresa,<br />

com a inclusão <strong>de</strong> novas tabelas, com compensação <strong>de</strong> ICMS.<br />

Quero anunciar algo importante: nós já negociamos com a Receita Fe<strong>de</strong>ral e estamos incluindo duas áreas que interessam a<br />

vocês. A primeira: as assessorias <strong>de</strong> imprensa estarão contempladas na Lei geral da micro e pequena empresa. A segunda, que<br />

acho que atinge 95% <strong>de</strong> vocês: as agências <strong>de</strong> publicida<strong>de</strong> estarão contempladas no Simples Nacional também. Eu acho que<br />

isso é um avanço significativo para mais <strong>de</strong> 90% das agências <strong>de</strong> publicida<strong>de</strong> do Brasil inteiro.<br />

Ricardo Nabhan<br />

Obrigado, Deputado Claudio Vignatti. Acho que valeu a pena esperar essa notícia e o trabalho fantástico que a Frente está<br />

<strong>de</strong>senvolvendo. Eu vou pedir ao Ricardo Esturaro, da Globo, para falar um pouco sobre o trabalho que a Globo tem feito em<br />

prol da regionalização.<br />

Ricardo Esturaro<br />

Antes <strong>de</strong> começar a apresentação, eu queria pedir que levantasse a mão quem é <strong>de</strong> fora do eixo Rio–São Paulo. é muita gente!<br />

Quem for <strong>de</strong> São Paulo e do Rio, levante a mão. Estamos divididos. Quem é agência? Veículo? Perfeito!<br />

Vou começar a falar sobre a força dos mercados regionais e queria levantar um ponto antes. Eu tenho um ponto <strong>de</strong> vista e queria<br />

<strong>de</strong>fendê-lo aqui: investe-se muito pouco em propaganda no Brasil, então, antes <strong>de</strong> discutirmos se a distribuição da verba está<br />

correta, <strong>de</strong>vemos falar que o bolo é pequeno e não quero falar que precisamos esperar o bolo crescer, fazer os mercados mais<br />

importantes terem uma participação mais importante, pata as regionais ganharem a participação e a relevância que merecem.<br />

No mercado, os Estados Unidos estão sempre em primeiro lugar, um mercado <strong>de</strong> quase US$ 180 bilhões e o Brasil aparece em<br />

décimo. Costumamos ver o nosso mercado como sétimo ou décimo maior, mas eu não gosto <strong>de</strong> ver o mercado publicitário<br />

<strong>de</strong>ssa maneira. Tenho a lista dos 25 maiores mercados <strong>de</strong> investimento per capita e vemos os Estados Unidos com quase US$<br />

577 <strong>de</strong> investimento por ano para mil pessoas; o Brasil não está aqui. Temos que aumentar esse ranking para os 50 maiores, e, aí<br />

sim, vamos olhar o Brasil e o investimento em propaganda no país, que é <strong>de</strong> cerca <strong>de</strong> US$ 44 dólares por mil pessoas atingidas.<br />

Volto a falar que se olharmos para o tamanho do Brasil e se nos limitarmos a achar que estamos entre os oito maiores mercados<br />

<strong>de</strong> propaganda, esquecendo-nos <strong>de</strong> que este investimento per capita ainda é muito pequeno, vamos acabar acreditando<br />

que esse bolo está bom e só vamos discutir a distribuição do investimento publicitário.<br />

O investimento no Brasil é <strong>de</strong> US$ 44 e quando olhamos o mercado <strong>de</strong> São Paulo e do Rio <strong>de</strong> Janeiro, ele está em torno <strong>de</strong><br />

US$ 81 <strong>de</strong> investimento per capita. Assim, todos po<strong>de</strong>m falar: “Magnífico! Eu tenho a média <strong>de</strong> US$ 44, os mercados mais ricos<br />

estão investindo em torno <strong>de</strong> US$ 80 e isso é suficiente”. Vamos voltar para o nosso ranking. O Brasil é o 41º e os mercados mais<br />

ricos do Brasil seriam os estados <strong>de</strong> São Paulo e Rio <strong>de</strong> Janeiro; eles se posicionam como mercados iguais ao Panamá e Sérvia.<br />

Então, os nossos US$ 81 estão aqui e eu não acho que seja um investimento per capita relevante. Se olharmos para o outro<br />

pedaço do bolo, que são os investimentos feitos fora do eixo Rio –São Paulo, nós temos investimento per capita <strong>de</strong> US$ 27; se<br />

voltarmos para aquele quadro, o Brasil está em 41º em investimento per capita, a parte rica entre 31º e 32º e os mercados fora<br />

do eixo Rio–São Paulo com os investimentos do nível da Colômbia e da Turquia. é muito pouco!<br />

Mais do que investir nos mercados regionais, precisamos invetsir mais em propaganda no Brasil. Pela importância dos mercados<br />

<strong>de</strong> São Paulo e Rio, também é importante investir mais dinheiro em São Paulo e no Rio. Além disso, é preciso investir<br />

mais ainda nos mercados fora do Rio e São Paulo. Na América Latina, vamos sempre ver o Brasil como a maior economia. Uma<br />

forma <strong>de</strong> analisarmos o Brasil seria - e eu gosto <strong>de</strong> olhar <strong>de</strong>ssa forma - dividir o Brasil em regiões e ver como se posicionaria a<br />

região Su<strong>de</strong>ste como país <strong>de</strong>ntro da América Latina. Seria a segunda maior economia; em primeiro lugar, o México. Essa região<br />

Su<strong>de</strong>ste, esse novo país, seria a segunda maior economia da América Latina. A região Sul seria a terceira maior economia; a<br />

região Nor<strong>de</strong>ste seria o sexto maior país em termos econômicos; as regiões Centro-Oeste e Norte seriam as sétimas maiores<br />

economias.<br />

Pelo tamanho e pela relevância econômica das regiões brasileiras, não dá para enten<strong>de</strong>r por que se inviste tão pouco em<br />

propaganda. Esse é o ponto que eu gostaria <strong>de</strong> <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r também. Como está a divisão do nosso bolo? Tenho aqui a região<br />

Sul, mais Minas e Espírito Santo, o Nor<strong>de</strong>ste e o Centro-Oeste e aqui aparece a participação do potencial <strong>de</strong> consumo <strong>de</strong>ssas<br />

regiões. A região Sul, mais Minas e Espírito Santo representam 31% do potencial <strong>de</strong> consumo do Brasil, mas quando colocamos<br />

a participação do investimento publicitário, no Sul 23% são investidos em publicida<strong>de</strong>. De uma maneira geral, todas as<br />

regiões recebem menos dinheiro do que <strong>de</strong>veriam, portanto, o tamanho do bolo está errado e a divisão também. é por isso<br />

que precisamos brigar, <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r e buscar, para melhorar o tamanho do bolo e a distribuição.<br />

Alguém aqui conhece todo o Brasil? Acho muito difícil encontrar isso. Quando se fala do campo, principalmente as pessoas do<br />

Rio e São Paulo, lembram do Jeca Tatu e do carro <strong>de</strong> boi. Hoje, o Brasil é uma das potências mundiais no agronegócio: 30% do<br />

PIB vêm do agronegócio e temos 30 milhões <strong>de</strong> pessoas no campo. Somente neste ano, o agronegócio vai ajudar com US$<br />

52 bilhões na balança comercial; a produção <strong>de</strong> grãos também estourou. Quem não conhece ou não acompanha, fica com a<br />

visão do Jeca Tatu. Já temos um Brasil muito mo<strong>de</strong>rno no campo.<br />

A maioria das pessoas, quando pensa no interior, pensa na pracinha com o coreto e com a igreja. Mas não é assim! Muito<br />

rapidamente, o Brasil passou <strong>de</strong> uma socieda<strong>de</strong> rural para uma socieda<strong>de</strong> urbana. Na década <strong>de</strong> 60, 55% da população viviam<br />

no campo e 45% nas cida<strong>de</strong>s. Hoje, 19% da população vivem no campo e 81% nas cida<strong>de</strong>s. O Vidor explorou aqui as cida<strong>de</strong>s<br />

com mais <strong>de</strong> 20 mil habitantes eu estou explorando aquelas com mais <strong>de</strong> 200 mil.<br />

Na década <strong>de</strong> 70, nós tínhamos no Brasil 34 municípios com mais <strong>de</strong> 200 mil habitantes; em 2007, já são 125 cida<strong>de</strong>s. O Brasil<br />

cresceu, se urbanizou e mudou muito rapidamente. As pessoas costumam pensar em termos <strong>de</strong> centro <strong>de</strong> riqueza, mas a<br />

gravida<strong>de</strong> <strong>de</strong>sse centro está mudando. O potencial <strong>de</strong> consumo das capitais vem caindo: <strong>de</strong> 1996 a 2007, ele já foi <strong>de</strong> 43% do<br />

potencial <strong>de</strong> consumo no Brasil e caiu para 33%; no interior, cresceu <strong>de</strong> 56% para 66%, ou seja, 2% do potencial <strong>de</strong> consumo<br />

do Brasil estão no interior, não nas capitais. Essa é outra “miopia” e quem está nas capitais acaba per<strong>de</strong>ndo as oportunida<strong>de</strong>s<br />

que o Brasil apresenta.<br />

Outro processo <strong>de</strong> mudança também foi a televisão chegando no Brasil. Ela foi chegando <strong>de</strong> canoa, no ombro das pessoas,<br />

nas bicicletas; foi chegando ao Brasil inteiro. Em 1950, tínhamos 2.000 televisores no Brasil e hoje temos quase 83 milhões <strong>de</strong><br />

aparelhos. A TV Globo também foi crescendo: em 1965, tínhamos apenas uma exibidora, hoje são 121 espalhadas pelo Brasil. é<br />

importante vermos a presença da televisão na vida das pessoas; acho que hoje, na maioria das regiões, o veículo é um espelho<br />

da i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> local e uma janela para o mundo.<br />

O mercado publicitário local também tem a oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ser um espelho para a população que ele atinge, além <strong>de</strong> uma<br />

janela a ser explorada, que é o Brasil inteiro.<br />

Essa mudança dos domicílios com TV aconteceu muito rapidamente. Em 1990, tínhamos 26 milhões <strong>de</strong> domicílios com TV no<br />

Brasil; em 2006, já temos quase 51 milhões. Aumentamos 25 milhões <strong>de</strong> domicílios com TV em 17 anos. Em 2006, pela primeira<br />

vez o Brasil passa o Japão em domicílios com TV.; o Brasil seria o 4º maior parque <strong>de</strong> domicílios com televisão. Em 1º lugar,<br />

sempre a China; em 2º lugar, Estados Unidos; <strong>de</strong>pois, Índia e Brasil. Em 15 ou 16 anos, nós crescemos o equivalente a um Reino<br />

Unido ou uma França: é muito. Às vezes nos esquecemos <strong>de</strong> olhar para o Brasil e acompanhar essas mudanças.<br />

Na região Su<strong>de</strong>ste, temos em torno <strong>de</strong> 23 milhões <strong>de</strong> domicílios com TV; o México tem 21 milhões. Por que se investe tão pouco<br />

em propaganda no Brasil? O nosso mercado adora usar os Estados Unidos como case para tudo. No mercado americano,<br />

as minorias estão virando maiorias. Existe uma projeção <strong>de</strong> que os hispânicos vão chegar em 2010 a 18% da população; os<br />

african-american a 12%, estáveis; os asiáticos passando <strong>de</strong> 3% a 5% da população; e os brancos não-hispânicos – que seriam<br />

os americanos – caem <strong>de</strong> 76% para 66% da população. Já que nós adoramos usar o mercado americano, então vamos pensar<br />

como se o Brasil fosse os Estados Unidos. Temos as maiores regiões metropolitanas em participação <strong>de</strong> minorias: por exemplo,<br />

em Miami, 71% da população <strong>de</strong> 12 a 24 anos é formada por minorias; são hispânicos, negros ou asiáticos; apenas 29% são<br />

brancos não-hispânicos. Em Los Angeles, 70% da população <strong>de</strong> 12 a 24 anos é formada por minorias; em Chicago, 48%.<br />

Se estivéssemos falando <strong>de</strong> São Paulo, Rio ou Belo Horizonte, estaríamos falando não só <strong>de</strong> produção <strong>de</strong> conteúdo em várias<br />

línguas, como também do mercado publicitário produzindo comerciais em inglês, espanhol e em alguma língua asiática.<br />

Qual o percentual das minorias que querem falar a língua inglesa ou preferem a língua materna? Dos vietnamitas, 93% não<br />

querem usar o inglês, preferem usar a língua materna; 42% dos chineses, coreanos e até japoneses não querem falar o inglês.<br />

é a dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong> se falar uma língua só, ou fazer uma única comunicação.<br />

280 281<br />

COMISSÃO 8 - A REALIDADE DOS MERCADOS REGIONAIS<br />

Apresentação<br />

Seria terrível para um veículo, um produtor <strong>de</strong> conteúdo, a criação/produção <strong>de</strong> conteúdo em várias línguas. Nós produzimos<br />

isso para fora do Brasil, mas <strong>de</strong>ntro do Brasil existe um ponto muito importante: temos uma i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> nacional e um idioma<br />

no qual todo o mundo se enxerga; essa facilida<strong>de</strong> acaba levando a não fazer o melhor, que é falar essa língua. Porém, em<br />

algumas ocasiões, é preciso usar o sotaque, uma das coisas que mais limitam a eficiência <strong>de</strong> campanhas no Brasil. Pela facilida<strong>de</strong><br />

que temos <strong>de</strong> só falar o português, as pessoas se esquecem do sotaque. Vou mostrar alguns comerciais que ganharam<br />

prêmios, são comerciais dos “Profissionais do ano”.<br />

Apresentação<br />

Diversida<strong>de</strong> não quer dizer diferente. Quero mostrar as audiências <strong>de</strong> São Paulo, Rio, Belo Horizonte, Porto Alegre. Quem olha o<br />

jornal local só por São Paulo, não enten<strong>de</strong> que no interior as pessoas vão almoçar em casa e que o segundo horário nobre para<br />

a televisão é o do almoço. Então, vemos as diferenças: São Paulo com 10 pontos <strong>de</strong> audiência; Porto Alegre com 20; Brasília<br />

com 21; Fortaleza com 17.<br />

Programa Malhação: São Paulo com 23 pontos, e todo o interior, incluindo Florianópolis, com 33. O Jornal da Globo, transmitido<br />

às 00h00, já é o oposto: a audiência é maior em São Paulo e menor nas outras capitais.<br />

Final do programa Big Brother, quando o Brasil inteiro está convivendo com o programa: 46 em São Paulo, 50 em Belo Horizonte,<br />

60 em Porto Alegre, 46 em Fortaleza. O brasileiro consome muita televisão, mas <strong>de</strong> maneiras diferentes.<br />

Jogo Brasil e Argentina: 38 em São Paulo, 49 em Belo Horizonte, 47 em Florianópolis. Final da novela Duas Caras: 45 em São<br />

Paulo, 57 em Porto Alegre, 54 em Salvador, 52 em Fortaleza.<br />

Quem quer enxergar o Brasil através <strong>de</strong> São Paulo ou as agências e clientes que querem comprar o Brasil só comprando pesquisas<br />

<strong>de</strong> São Paulo, não farão o melhor, mas o mais fácil.<br />

é um Brasil <strong>de</strong> oportunida<strong>de</strong>s. Esta é a curva <strong>de</strong> investimentos no mercado publicitário: no primeiro trimestre se investe pouco;<br />

em maio vem o dia das mães e o investimento aumenta; em junho, namorados; em julho, férias; em agosto é fraco; a partir <strong>de</strong><br />

setembro, entramos no último trimestre, on<strong>de</strong> concentramos <strong>de</strong> 30 a 40% do investimento publicitário. Porém, se acrescentarmos<br />

a curva do agronegócio, o que vemos no primeiro trimestre é um período <strong>de</strong> alta sazonalida<strong>de</strong> para o setor e entre julho<br />

e outubro, também difere do mercado publicitário.<br />

Fazemos há muito tempo um trabalho na Globo, que se chama “mapa da mina”, para ajudar no planejamento: quando falamos<br />

que a soja está movimentando quase R$ 50 bilhões em um período <strong>de</strong> safra, o que a maioria das agências e clientes se esquecem<br />

é que este dinheiro está movimentando a economia local. é a hora em que o fazen<strong>de</strong>iro compra trator novo, carro novo,<br />

emprega mais pessoas. Assim, ele está movimentando a economia local e existem muitas oportunida<strong>de</strong>s.<br />

Com tantos chineses e indianos comendo no mundo, os próximos anos serão promissores em relação ao arroz.<br />

Quando falamos em veículos, a televisão, na região Norte tem 96 exibidoras <strong>de</strong> todas as re<strong>de</strong>s; 65 no Nor<strong>de</strong>ste; 76 no Sudoeste;<br />

59 no Sul.<br />

Temos muitos produtos regionais. A TV Globo faz anualmente a feira <strong>de</strong> eventos, on<strong>de</strong> levamos <strong>de</strong> 100 a 110 projetos locais <strong>de</strong><br />

programação. O gran<strong>de</strong> case do portfólio <strong>de</strong> produtos da Globo nestes 12 anos <strong>de</strong> trabalho é o “São João”. No início da feira,<br />

nenhum gran<strong>de</strong> cliente enxergava o “São João” como um produto e hoje, temos um produto regional nos nove estados da TV<br />

Globo, mais produtos locais e há fila para comprar.


Esse Brasil é gran<strong>de</strong>, nós envolvemos pessoas e existem oportunida<strong>de</strong>s comerciais <strong>de</strong> todos os gêneros em todos os meses:<br />

é só uma questão <strong>de</strong> olhar com atenção. Voltando à questão do bolo, nós enxergamos que a regionalização é o fermento<br />

que faz esse bolo crescer. é preciso que veículos, agências, anunciantes, Governo, institutos, fiquem atentos à regionalização<br />

e aju<strong>de</strong>m o bolo a crescer. Muito obrigado!<br />

Ricardo Nabhan<br />

Todos <strong>de</strong>vem estar preocupados com o horário, mas a informação que temos é <strong>de</strong> que todas as comissões estão atrasadas,<br />

também em função do atraso do inicio dos painéis.Quero lembrar que há 30 anos esse <strong>Congresso</strong> não é realizado. Se nós <strong>de</strong>dicarmos<br />

um tempo a mais e sacrificarmos o nosso almoço em prol <strong>de</strong> discutirmos aqui e aprofundarmos o negócio da regionalização,<br />

tenho certeza <strong>de</strong> que todos vão sair ganhando e eu quero agra<strong>de</strong>cer a compreensão <strong>de</strong> todos pelo nosso atraso.<br />

Já temos aqui algumas perguntas. Lamentavelmente, em função do atraso, per<strong>de</strong>mos a presença do Deputado Cláudio Vignatti<br />

e também do diretor <strong>de</strong> marketing da Nestlé, mas espero que os nossos painelistas consigam apresentar e aten<strong>de</strong>r às<br />

expectativas em relação aos <strong>de</strong>bates. Muito obrigado.<br />

Não i<strong>de</strong>ntificado<br />

As questões que foram feitas para as pessoas que não estão mais presentes serão repassadas a elas, para que respondam<br />

<strong>de</strong>pois. Aqui estão algumas questões colocadas como recomendações para a tese, que vou ler na seqüência. Tem uma pergunta<br />

específica que diz respeito ao evento como um todo. é para o Nabhan: o que é necessário para que o anunciante utilize<br />

agências regionais para ações regionais? As contas do Governo Fe<strong>de</strong>ral não po<strong>de</strong>m ser regionalizadas?<br />

Na verda<strong>de</strong>, isso diz respeito ao evento como um todo; a resposta não é tão simples assim.<br />

Ricardo Nabham<br />

Ontem no painel “Licitações Públicas da Iniciativa Privada”, este assunto foi abordado. Existe um impedimento legal da separação<br />

das licitações públicas e esperamos que esse impedimento possa ser corrigido no Projeto <strong>de</strong> Lei nº 3305, do Deputado<br />

José Eduardo Cardozo.<br />

Ontem a Fenapro fez uma recomendação para a sua inserção. Isso já faz parte inclusive das recomendações daquela Comissão<br />

e também fará parte da nossa recomendação, para que nos editais <strong>de</strong> licitações públicas, o Governo Fe<strong>de</strong>ral exija que as<br />

agências participantes apresentem contratos com as agências regionais nas verbas públicas fe<strong>de</strong>rais.<br />

Não i<strong>de</strong>ntificado<br />

Outra questão: o que é necessário para que o anunciante utilize agências regionais em ações regionais?<br />

Ricardo Nabham<br />

Estamos em conversas bastante adiantadas com a Associação Brasileira dos Anunciantes (ABA), para que conscientizemos o<br />

anunciante da iniciativa privada a utilizar agências regionais também nas campanhas. Tivemos exemplos como o apresentado<br />

pelo Esturaro, <strong>de</strong> que alguns anunciantes já começam a utilizar a linguagem regional.<br />

Muitas vezes, eles não estão utilizando agências regionais, mas este é um trabalho que mostra a observação que este anunciante<br />

está tendo em relação aos mercados regionais. O exemplo que a Nestlé trouxe é fundamental para acreditarmos que<br />

estamos no caminho certo e que o anunciante logo vai começar a trabalhar também com as agências locais.<br />

Efetivamente, estamos fazendo o que po<strong>de</strong>mos: acompanhar a par e passo essa conversação. Para isso, a Fenapro vai realizar<br />

junto com a ABA até o final do ano - nós ainda estamos montando o projeto - um gran<strong>de</strong> evento chamado “Mercado Brasil”.<br />

Nele, teremos a oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> todos os anunciantes - tanto os dos mercados regionais como os gran<strong>de</strong>s anunciantes dos<br />

mercados nacionais - estarem junto com as agências, para que percebam que existe também talento não só no gran<strong>de</strong> centro.<br />

As agências e os veículos também po<strong>de</strong>rão apresentar as oportunida<strong>de</strong>s que cada praça tem.<br />

Não i<strong>de</strong>ntificado<br />

Tenho duas recomendações para o relatório. Uma é: <strong>de</strong>stacar, no texto que recomenda a atuação dos sindicatos regionais<br />

representando o Cenp, a difusão e fiscalização nas práticas estabelecidas, das normas-padrão, principalmente no que se refere<br />

à remuneração das agências, que normalmente são atropeladas por veículos e clientes na compra <strong>de</strong> mídia, negociação <strong>de</strong><br />

taxas e custos <strong>de</strong> criação, em jobs isolados, contratos e concorrências que se sobrepõem a quesitos técnicos.<br />

A outra recomendação é a inclusão das cida<strong>de</strong>s do interior <strong>de</strong> São Paulo, juntamente com outros estados no item quatro da<br />

tese, uma região que representa 19% do PIB nacional e que apresenta uma realida<strong>de</strong> muito diferente da capital no mercado.<br />

Ele coloca alguns exemplos e diz que o interior <strong>de</strong> São Paulo corre o risco <strong>de</strong> ficar esquecido, porque está <strong>de</strong>ntro do estado.<br />

Outra sugestão: recomendar que os litígios que <strong>de</strong>corram do relacionamento entre anunciantes, agências, fornecedores, atores<br />

e outros sejam solucionados através da Câmara Nacional <strong>de</strong> Arbitragem da Comunicação, da qual a Fenapro é a<strong>de</strong>rente.<br />

Você quer comentar isso, Nabhan?<br />

Gláucio bin<strong>de</strong>r<br />

Algumas <strong>de</strong>ssas sugestões estão surgindo para fazer parte do relatório e algumas já estão incluídas nas questões que nós<br />

vamos submeter à aprovação. Estou anotando as que estão surgindo para <strong>de</strong>pois apresentar no relatório.<br />

Ricardo Nabhan<br />

Gostaria <strong>de</strong> abrir o microfone sem fio para as perguntas.<br />

Não i<strong>de</strong>ntificado<br />

Uma última sugestão: estímulo à criação <strong>de</strong> incentivos fiscais, possibilitando a utilização do trabalho das agências locais pelas<br />

empresas, a serem implantados nos estados.<br />

Ricardo Nabhan<br />

Quem tiver algum questionamento, gostaria que se manifestasse.<br />

Sidônio Cardoso Palmeira<br />

Eu sou presi<strong>de</strong>nte da <strong>Abap</strong> Bahia; a Vera Rocha é do sindicato; a Associação Baiana do Mercado Publicitário (ABMP) também<br />

é uma entida<strong>de</strong> na Bahia; também temos o Cepex e a Central <strong>de</strong> Outdoor. Estamos com um documento e queremos fazer<br />

algumas recomendações para a plenária <strong>de</strong> amanhã sobre a regionalização. Eu gostaria que o Fernando Passos lesse essas<br />

recomendações.<br />

Antes disso, vou falar sobre uma preocupação em relação ao que se discutiu aqui: o sentimento nosso quando está se falando<br />

da regionalização. Vi uma propaganda do Banco HSBC, que, na verda<strong>de</strong>, vem <strong>de</strong> longe e mostra <strong>de</strong>talhes <strong>de</strong> cada região. Não<br />

é isso o que estamos <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>ndo. A situação é totalmente diferente. Na verda<strong>de</strong>, a regionalização é para diminuir a <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong><br />

regional que existe e trabalhar com o mercado regional, que conhece os hábitos e os costumes daquela população. é<br />

totalmente diferente do que foi apresentado até agora. Portanto, eu gostaria <strong>de</strong> passar a palavra ao Fernando Passos, para ler<br />

três pequenas recomendações que gostaríamos <strong>de</strong> apresentar na plenária <strong>de</strong> amanhã.<br />

fernando Passos<br />

Nós fizemos três recomendações, algumas já <strong>de</strong> alguma forma coinci<strong>de</strong>m.<br />

Primeira: os editais <strong>de</strong> concorrências públicas nas modalida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> melhor técnica e preço têm, no item capacida<strong>de</strong> técnica,<br />

estrutura <strong>de</strong> atendimento com pontuações específicas. Nossa proposta é acrescentar uma pontuação substancial a esse item,<br />

na medida em que uma agência concorrente apresente atendimentos regionais através <strong>de</strong> agências <strong>de</strong> propaganda nas<br />

diversas regiões do país.<br />

Segunda: recomendar à administração pública fe<strong>de</strong>ral, através <strong>de</strong> ato administrativo vinculado ao Tribunal <strong>de</strong> Contas da União<br />

e Secom, a resolução <strong>de</strong>terminando a regionalização <strong>de</strong> verbas e regulamentando o procedimento a ser adotado (isso foi<br />

discutido na Fenapro).<br />

Terceira: recomendamos à Associação Brasileira <strong>de</strong> Anunciantes (ABA) a realização <strong>de</strong> um amplo seminário nacional para discutir<br />

a regionalização da ativida<strong>de</strong> publicitária nos clientes privados que operam nos mercados regionais.<br />

Estamos apresentando esta proposta, porque achamos que nossos principais aliados são os anunciantes; que nossos inimigos<br />

principais são as gran<strong>de</strong>s agências nacionais. As agências do eixo Rio-São Paulo são os gran<strong>de</strong>s inimigos da regionalização,<br />

porque, evi<strong>de</strong>ntemente, não querem dividir o bolo. E os nossos gran<strong>de</strong>s aliados são aqueles que mais vão se beneficiar, os<br />

anunciantes, os veículos e o Governo Fe<strong>de</strong>ral. Muito obrigado!<br />

Ricardo Nabhan<br />

Obrigado. Vamos incorporar antes da aprovação do final <strong>de</strong>sse painel, para que o plenário aprove as recomendações que<br />

serão incorporadas aqui às outras que já chegaram.<br />

Não i<strong>de</strong>ntificado<br />

Mais uma pergunta para o Ibope. Qual seria o caminho para trabalhar um planejamento <strong>de</strong> mídia regionalizado nas cida<strong>de</strong>s do<br />

interior, on<strong>de</strong> não existem pesquisas <strong>de</strong> audiência e meios como o rádio – por exemplo, o interior da Bahia?<br />

Não i<strong>de</strong>ntificado<br />

Acho que a única forma <strong>de</strong> se fazer um planejamento <strong>de</strong> mídia bom, é baseado em alguma pesquisa e se não há pesquisa, é<br />

preciso buscar uma forma <strong>de</strong> se fazer esta pesquisa. Existem várias alternativas que po<strong>de</strong>m ser adaptadas à realida<strong>de</strong> local.<br />

Não i<strong>de</strong>ntificado<br />

Primeiro, quero dizer a vocês que eu salvei o meu <strong>Congresso</strong> com a participação aqui hoje. Todos os palestrantes estão <strong>de</strong><br />

parabéns pelo conteúdo que apresentaram, pela sua condição também. Já existem sinais positivos <strong>de</strong>ssa questão da regionalização.<br />

As teles, por exemplo, da telefonia celular, já estão fazendo isso e eu acho que com muito sucesso. Já existem agências<br />

atuando com as agências <strong>de</strong> São Paulo e po<strong>de</strong> melhorar.<br />

Ainda há muita dificulda<strong>de</strong> em relação às agências <strong>de</strong> São Paulo, quanto a abrir mão e <strong>de</strong>ixar que as agências regionais usem<br />

a sua capacida<strong>de</strong> a favor <strong>de</strong>sses clientes. Esse caminho proposto aqui é perfeito. Esses sinais precisam ser discutidos na ABA,<br />

porque essas empresas muito gran<strong>de</strong>s, como Vivo, Claro, já estão vivendo esta experiência com sucesso e po<strong>de</strong>rão passar isso<br />

para as <strong>de</strong>mais, os outros clientes. As montadoras <strong>de</strong> automóveis também já fazem alguma coisa nessa direção e com muito<br />

sucesso. Eu tenho visto isso on<strong>de</strong> estou, em Minas, Belo Horizonte. Também temos alguns clientes que operam no Brasil inteiro<br />

e nós também precisamos abrir mão disso. Estamos dispostos a isso, para que a comunicação seja mais eficiente e haja essa<br />

distribuição. Parabéns mais uma vez a vocês pelo trabalho. Obrigado!<br />

Ricardo Nabham<br />

Estão chegando mais perguntas, mas vou pedir ao relator Saint’Clair que apresente as recomendações, para que possamos<br />

aprová-las, modificá-las ou rejeitá-las.<br />

SaintClair <strong>de</strong> Vasconcelos<br />

A possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> eliminar custos <strong>de</strong> geração <strong>de</strong> material para veiculação em TV. Em algumas praças, o custo <strong>de</strong> geração é<br />

maior que a veiculação.<br />

Ricardo Esturaro<br />

Eu não sou da área <strong>de</strong> operações comerciais. O custo para fazer isso no Brasil inteiro é muito gran<strong>de</strong> e, pelo que eu sei, por<br />

enquanto não.<br />

282 283<br />

COMISSÃO 8 - A REALIDADE DOS MERCADOS REGIONAIS


SaintClair <strong>de</strong> Vasconcelos<br />

Vamos ler os pontos <strong>de</strong> recomendação e gostaríamos <strong>de</strong> ter a manifestação da platéia, no sentido <strong>de</strong> aprovar ou solicitar<br />

alteração, tudo <strong>de</strong>ntro do pouco tempo que já temos. Algumas das questões apresentadas aqui estão sendo incorporadas no<br />

relatório final, à medida em que forem aprovadas.<br />

Eu gostaria <strong>de</strong> fazer um pequeno registro em relação a uma questão que o Fernando Passos fez, <strong>de</strong> que eventualmente as<br />

agências <strong>de</strong> fora dos gran<strong>de</strong>s eixos po<strong>de</strong>riam ter as gran<strong>de</strong>s agências como inimigas. Não quero polemizar, mas acho que todos<br />

somos <strong>de</strong> uma categoria e estamos juntando forças. Logicamente, os mercados maiores têm uma <strong>de</strong>manda, uma situação<br />

diferente, mas há uma disposição <strong>de</strong> todo o setor para discutir a questão da regionalização e viabilizar essa melhor distribuição<br />

das verbas e do trabalho <strong>de</strong> comunicação no país.<br />

Temos exemplos importantes no Brasil, <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s agências que têm acordos operacionais com agências pelo país afora. Esse<br />

registro foi colocado sobre anunciantes dos gran<strong>de</strong>s centros que têm algum tipo <strong>de</strong> relação local. Mesmo a questão do filme<br />

regional que foi apresentado, ele tem uma <strong>de</strong>manda <strong>de</strong> profissionais locais.<br />

Então vamos colocar em votação inicialmente, uma proposta que vai incorporar inclusive as propostas apresentadas pelos<br />

nossos companheiros da Bahia, pela Vera, pelo próprio Fernando Passos, que é a questão das licitações públicas. Já houve<br />

ontem, no painel sobre licitações, a discussão <strong>de</strong> um projeto <strong>de</strong> lei que altera os mecanismos <strong>de</strong> contratação <strong>de</strong> agência, on<strong>de</strong><br />

vamos apresentar emendas nesse sentido.<br />

A primeira recomendação que eu gostaria <strong>de</strong> submeter à aprovação dos senhores é: o Projeto <strong>de</strong> Lei 3305, <strong>de</strong> 2008, que <strong>de</strong>termina<br />

que os editais <strong>de</strong> licitações públicas incluam a exigência das agências participantes terem acordos operacionais com<br />

agências regionais.<br />

Esse mecanismo po<strong>de</strong> ser complementado com as sugestões apresentadas nessa mesma primeira proposta à questão dos<br />

editais <strong>de</strong> técnica e preço darem um maior peso para a estrutura <strong>de</strong> atendimento; que haja uma proposta <strong>de</strong>ntro da proposta<br />

<strong>de</strong> administração <strong>de</strong> estrutura <strong>de</strong> atendimento também regionalizado ou com agências regionais.<br />

A idéia é incorporar nessa proposta nº 1, a questão apresentada pelo pessoal da Bahia e também a recomendação para a<br />

Administração Pública Fe<strong>de</strong>ral, através do ato administrativo, vinculado ao TCU e à Secom, a resolução <strong>de</strong>terminando a regionalização<br />

<strong>de</strong> verbas e regulamentando o procedimento a ser adotado, on<strong>de</strong> isto couber. Esses dois tópicos serão incorporados<br />

já no nº 1. Quem concordar que se mantenha essa recomendação, permaneça como está e quem discordar levante a mão.<br />

Tópico nº 1 aprovado por unanimida<strong>de</strong>.<br />

A segunda recomendação que apresentamos para submeter à apreciação e aprovação dos senhores: que os anunciantes da<br />

iniciativa privada contratem fornecedores <strong>de</strong> serviços <strong>de</strong> comunicação e agências <strong>de</strong> publicida<strong>de</strong> e <strong>de</strong> propaganda, com se<strong>de</strong><br />

nos mercados regionais em que atuam, quando isso for possível e <strong>de</strong> interesse do anunciante e do mercado como um todo.<br />

Quem concordar permaneça como está e quem discordar, levante a mão. Aprovada por unanimida<strong>de</strong>.<br />

Terceira recomendação: que as empresas que se instalarem através <strong>de</strong> projetos <strong>de</strong> incentivos fiscais em outros estados ou<br />

regiões fora <strong>de</strong> sua se<strong>de</strong> contratem fornecedores <strong>de</strong> serviços <strong>de</strong> comunicação e agências nesses mercados regionais. Essa é<br />

uma proposta que surgiu ao longo <strong>de</strong>sses dias <strong>de</strong> <strong>de</strong>bate e da preparação para o <strong>IV</strong> <strong>Congresso</strong>. Quem concordar permaneça<br />

como está e quem discordar levante a mão. Aprovada por unanimida<strong>de</strong>.<br />

Quarta proposta: que o tra<strong>de</strong> regional composto pela ca<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> fornecedores e veículos invista na sua maior profissionalização,<br />

bem como no aprimoramento <strong>de</strong> seus serviços, garantindo assim a segurança <strong>de</strong> retorno dos investimentos dos anunciantes,<br />

ou seja, uma concentração <strong>de</strong> maior investimento também do tra<strong>de</strong> regional no seu aprimoramento e profissionalização.<br />

Quem concordar permaneça como está e quem discordar, levante a mão. Aprovado por unanimida<strong>de</strong>.<br />

Quinta recomendação: que os jornais e revistas regionais se filiem a entida<strong>de</strong>s como o <strong>IV</strong>C ou outras, ou, ainda, que busquem<br />

mecanismos no sentido <strong>de</strong> garantir transparência e segurança nas informações técnicas disponibilizadas ao mercado local, ao<br />

regional e ao <strong>de</strong> comunicação. Aprovada por unanimida<strong>de</strong>.<br />

Ainda nesta linha, a sexta proposta é que se aprimorem os mecanismos <strong>de</strong> controle, auditagem e checking nos meios rádio,<br />

televisão, cinema, e mídia on-line, nos mercados regionais, também objetivando maior transparência e garantia <strong>de</strong> resultado<br />

aos anunciantes. Quem concordar permaneça como está, quem discordar levante a mão. Aprovada por unanimida<strong>de</strong>.<br />

Sétima proposta: que os sindicatos <strong>de</strong> agências <strong>de</strong> propaganda, os capítulos da <strong>Abap</strong>, agências e outras entida<strong>de</strong>s que congreguem<br />

a indústria da comunicação se unam para comprar informações <strong>de</strong> pesquisa <strong>de</strong> mídia regionais em benefício do<br />

mercado local. Quem concordar permaneça como está e quem discordar levante a mão.<br />

Aprovada por unanimida<strong>de</strong>.<br />

Oitava recomendação: que as agências, os veículos e os diversos prestadores <strong>de</strong> serviços ampliem os investimentos em treinamento<br />

e aprimoramento <strong>de</strong> seus profissionais, visando incentivar e valorizar os talentos regionais. Quem concordar permaneça<br />

com está, quem discordar levante a mão. Aprovada por unanimida<strong>de</strong>.<br />

Nona recomendação: que os Tribunais <strong>de</strong> Contas dos Estados e da União fiscalizem com rigor os municípios, câmaras municipais,<br />

assembléias legislativas, governos estaduais e outros os órgãos públicos, visando o cumprimento da lei <strong>de</strong> licitações, não<br />

aprovando as contratações dos serviços <strong>de</strong> propaganda sem a <strong>de</strong>vida licitação (infelizmente, isso ainda ocorre); que haja rigor<br />

nesse sentido. Quem concordar permaneça com está e quem discordar, levante a mão. Aprovado por unanimida<strong>de</strong>.<br />

Décima recomendação: que os Tribunais <strong>de</strong> Contas, Municipais, Estaduais ou da União não aprovem a realização <strong>de</strong> pregões<br />

para contratar os serviços <strong>de</strong> agências <strong>de</strong> publicida<strong>de</strong>. Quem concordar permaneça com está, quem discordar, levante a mão.<br />

Aprovada por unanimida<strong>de</strong>.<br />

Décima primeira recomendação: que os anunciantes passem a contratar as agências <strong>de</strong> propaganda respeitando o Guia <strong>de</strong><br />

Boas Práticas elaborado pela ABA e pela Fenapro, que tem um texto original do Dr. Paulo Gomes. Quem concordar permaneça<br />

como está e quem discordar levante a mão.<br />

Não i<strong>de</strong>ntificado<br />

Aproveito para dizer que no livro ver<strong>de</strong>, há a resposta para uma pergunta referente a concorrências. é uma recomendação para<br />

não pedir filme pronto. Esse guia <strong>de</strong> melhores práticas contempla isso. Obrigado. Aprovado por unanimida<strong>de</strong>.<br />

Saint’Clair <strong>de</strong> Vasconcelos<br />

A décima segunda recomendação: que o tra<strong>de</strong> do setor estu<strong>de</strong> as necessida<strong>de</strong>s conjuntas entre agências, anunciantes e for-<br />

necedores, visando o aprimoramento do mercado regional. Há um <strong>de</strong>safio para o tra<strong>de</strong> como um todo se juntar e se organizar<br />

para esse fim. Quem concordar permaneça como está, quem discordar, levante a mão. Aprovado por unanimida<strong>de</strong>.<br />

Décima terceira recomendação: que o Conselho Executivo das Normas-Padrão (Cenp) instale escritórios regionais, ou assine<br />

acordos ou convênios com sindicatos <strong>de</strong> agências <strong>de</strong> propaganda nos estados, com sindicatos locais, com capítulos da <strong>Abap</strong>,<br />

veículos regionais <strong>de</strong> comunicação e entida<strong>de</strong>s regionais <strong>de</strong> anunciantes, visando fiscalizar e fortalecer os mercados regionais.<br />

Aprovado por unanimida<strong>de</strong>.<br />

Décima quarta recomendação: que as universida<strong>de</strong>s e faculda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> comunicação incluam em sua gra<strong>de</strong> curricular o estudo<br />

sobre a legislação da ativida<strong>de</strong> publicitária. Nós temos uma legislação que regulamenta a indústria e que precisa ser mais<br />

conhecida pelas universida<strong>de</strong>s e pelos alunos. Quem concordar permaneça como está, quem discordar, levante a mão. Aprovado<br />

por unanimida<strong>de</strong>.<br />

Também nessa linha, recomendamos a assinatura <strong>de</strong> convênio entre as universida<strong>de</strong>s e as faculda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> comunicação com as<br />

entida<strong>de</strong>s do setor, sindicatos estaduais, entida<strong>de</strong>s locais representantes da <strong>Abap</strong> nos mercados regionais, visando incentivar<br />

o estágio dos alunos nas empresas prestadoras <strong>de</strong> serviços na área <strong>de</strong> comunicação. Quem concordar permaneça como está<br />

e quem discordar levante a mão. Aprovada por unanimida<strong>de</strong>.<br />

Décima quinta proposta: que sejam realizados esforços no sentido <strong>de</strong> haver diminuição da carga tributária que penaliza o<br />

setor. Aprovada por unanimida<strong>de</strong>.<br />

Para agilizar, darei uma redação provisória para a décima sexta proposta, e <strong>de</strong>pois damos a redação final. Ela trata da utilização<br />

da Câmara <strong>de</strong> Arbitragem em nível nacional para dirimir eventuais litígios na nossa ativida<strong>de</strong>. O Dr. Paulo Gomes, advogado do<br />

Sindicato das Agências <strong>de</strong> Propaganda daqui <strong>de</strong> São Paulo, que está comigo, po<strong>de</strong>rá nos ajudar na redação final nesse sentido,<br />

mas em linhas gerais, seria a utilização da Câmara <strong>de</strong> Arbitragem. Quem concordar permaneça como está, quem discordar,<br />

levante a mão. Aprovado por unanimida<strong>de</strong>.<br />

Foi levantada a questão <strong>de</strong> incentivo fiscal e eu acho que ela está contemplada nessa proposta que apresentamos. Foi abordada<br />

a questão do interior <strong>de</strong> São Paulo; na verda<strong>de</strong>, quando estamos falando <strong>de</strong> mercados regionais, logicamente o interior <strong>de</strong> São<br />

Paulo também é um mercado regional. Não há dúvida nenhuma disso e tudo o que estamos discutindo aqui vale para qualquer<br />

mercado, inclusive São Paulo, que não <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> ser um mercado regional, quando há um anunciante nacional em outro estado.<br />

Eventualmente, um gran<strong>de</strong> anunciante em Recife po<strong>de</strong> fazer campanha nacional e a agência local também po<strong>de</strong>rá recorrer<br />

a parceiros em São Paulo. A questão das normas e o <strong>de</strong>staque à questão do sindicato, estão contempladas na proposta que<br />

recomendamos ao Cenp.<br />

Como relator, consi<strong>de</strong>ro que tenhamos contemplado as propostas apresentadas. Gostaria <strong>de</strong> registrar que todas foram aprovadas<br />

por unanimida<strong>de</strong>.<br />

A questão do seminário da ABA foi um erro. Submeto à aprovação dos senhores a recomendação <strong>de</strong> que a Associação Brasileira<br />

<strong>de</strong> Anunciantes realize um amplo seminário nacional para discutir a regionalização da ativida<strong>de</strong> publicitária nos clientes<br />

privados que operam nos mercados regionais. Eu gostaria <strong>de</strong> acrescentar que esse tema já vem sendo discutido entre a Fenapro<br />

e ABA. Estamos trabalhando num gran<strong>de</strong> projeto que inicialmente foi batizado <strong>de</strong> “Mercado Brasil”, e que contemplará essa<br />

proposta dos nossos parceiros, companheiros da Bahia, do Fernando Passos em particular. Se alguém discordar <strong>de</strong>ssa proposta<br />

que levante a mão. Aprovado por unanimida<strong>de</strong>. Abro a palavra para quem tenha uma proposta ou pergunta a apresentar.<br />

Não i<strong>de</strong>ntificado<br />

Não sei se eu entendi o item quatro da tese. Acho que ficou muito generalizada a questão do interior <strong>de</strong> São Paulo, porque<br />

quando falamos <strong>de</strong> outros estados, são os outros estados além <strong>de</strong> São Paulo. Acho que é só a maneira <strong>de</strong> escrever, <strong>de</strong> incluir<br />

as cida<strong>de</strong>s do interior juntamente com os outros estados.<br />

Saint’Clair <strong>de</strong> Vasconcelos<br />

Talvez você não esteja se referindo ao quarto item, mas eu vou ficar atento a esse <strong>de</strong>talhe, para que não haja esta discriminação<br />

em nenhum dos tópicos aqui.<br />

O item quatro, só para relembrar, diz: que o tra<strong>de</strong> regional, composto pela ca<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> fornecedores e veículos, invista na sua<br />

maior profissionalização, bem como no aprimoramento dos seus serviços, garantindo assim a segurança <strong>de</strong> retorno dos investimentos<br />

dos anunciantes. Vou verificar on<strong>de</strong> se fala isso e vamos ter esse cuidado, com certeza.<br />

As propostas foram todas aprovadas por unanimida<strong>de</strong> e nós vamos encaminhar para a assembléia geral do <strong>IV</strong> <strong>Congresso</strong>.<br />

Passo a palavra para o presi<strong>de</strong>nte, obrigado.<br />

Ricardo Nabhan<br />

Alguém apresentou uma pergunta que não foi respondida? Não?<br />

Então eu vou para o encerramento.<br />

Não i<strong>de</strong>ntificado<br />

Tem uma recomendação <strong>de</strong> levarmos à Comissão uma proposta <strong>de</strong> fazer uma campanha por anunciar, aproveitando que as<br />

organizações estão juntas, que elas se reúnam e <strong>de</strong>senvolvam uma campanha nacional para aumentar o bolo, conforme o<br />

Ricardo Esturaro falou.<br />

Ricardo Nabhan<br />

Vamos colocar isso para a aprovação da assembléia. Eu vou pedir para o Saint’Clair fazer a apresentação.<br />

Saint’Clair <strong>de</strong> Vasconcelos<br />

Está sendo feita uma proposta que submeto à sua aprovação, <strong>de</strong> que se <strong>de</strong>senvolva uma campanha, possivelmente assinada<br />

pelas entida<strong>de</strong>s do setor, <strong>de</strong> valorização da ativida<strong>de</strong> publicitária para o fortalecimento e o incentivo <strong>de</strong> maior investimento<br />

no tra<strong>de</strong> como um todo no setor <strong>de</strong> comunicação.<br />

Posso incluir, se os senhores aprovarem, que haja uma proposta no sentido <strong>de</strong> que as entida<strong>de</strong>s do setor se unam aos veículos<br />

e às agências para <strong>de</strong>senvolver uma campanha nacional <strong>de</strong> valorização, assim como campanhas regionais <strong>de</strong> valorização da<br />

284 285<br />

COMISSÃO 8 - A REALIDADE DOS MERCADOS REGIONAIS


ativida<strong>de</strong> publicitária nesses diversos mercados regionais. é isto que foi colocado?<br />

O Henrique propõe que nessa campanha, ocorra um acordo regional. Dentro do princípio que estamos discutindo <strong>de</strong> fazer<br />

campanha regional, talvez fique um pouco difícil fazer uma campanha nacional com regional. Nós estamos justamente <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>ndo<br />

as campanhas mais direcionadas para os mercados regionais.<br />

Alexandre Oliveira (vice-presi<strong>de</strong>nte da fenapro no nor<strong>de</strong>ste, com se<strong>de</strong> em Recife)<br />

Ontem foi lançada pelo presi<strong>de</strong>nte da <strong>Abap</strong>, Dalton Pastore, a Frente Parlamentar <strong>de</strong> Comunicação. Nossa preocupação é<br />

i<strong>de</strong>ntificar esses <strong>de</strong>putados e senadores que estão trabalhando para o engran<strong>de</strong>cimento da comunicação, para que essa<br />

bancada possa aumentar e cada estado, cada região, pu<strong>de</strong>sse trabalhar com a sua bancada para que essa Frente aumentasse<br />

a cada dia, para <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r nosso negócio.<br />

Saint’Clair <strong>de</strong> Vasconcelos<br />

Eu acredito que isso, como você bem colocou, foi apresentado ontem e com certeza estará contemplado, porque o objetivo<br />

do setor é se fortalecer, agregar, somar. é um assunto <strong>de</strong> outra comissão, mas vou registrar a sua proposta como recomendação,<br />

que vai reforçar a <strong>de</strong> outros painéis.<br />

Não i<strong>de</strong>ntificado<br />

O assunto <strong>de</strong>ssa campanha, <strong>de</strong> buscar a regionalização da área pública e da área privada – na área pública isso está na área da<br />

Frente Parlamentar, e da área privada está mais no seminário da ABA. Não sei se uma campanha <strong>de</strong> publicida<strong>de</strong> é a<strong>de</strong>quada,<br />

pelo que estamos tratando aqui.<br />

Saint’Clair <strong>de</strong> Vasconcelos<br />

Acho que a proposta <strong>de</strong> uma campanha <strong>de</strong> valorização, tendo em vista, inclusive, o baixo investimento que nós temos no<br />

setor comparado com outras economias do mundo, me parece válida. Vamos submeter à aprovação. Não temos uma data<br />

para essa campanha, mas acho que a recomendação agrega para a indústria da comunicação.<br />

Não i<strong>de</strong>ntificado<br />

Não foi uma sugestão <strong>de</strong> uma campanha pela <strong>de</strong> regionalização, mas para que fôssemos os porta-vozes <strong>de</strong> uma proposta <strong>de</strong><br />

campanha para ampliar o bolo do mercado publicitário como um todo. Talvez isso não <strong>de</strong>vesse fazer parte da tese, mas sim<br />

<strong>de</strong> uma recomendação para a direção geral do evento.<br />

Saint’Clair <strong>de</strong> Vasconcelos<br />

Então traduza, para passarmos para a nossa lista <strong>de</strong> recomendações.<br />

Não i<strong>de</strong>ntificado<br />

Já que a indústria da comunicação está reunida, por que não criar <strong>de</strong> maneira única uma campanha gigante para mostrar a<br />

todos os públicos que está na moda anunciar? Na verda<strong>de</strong> é a intenção <strong>de</strong> uma campanha pela propaganda e isso não tem<br />

a ver com a regionalização.<br />

Saint’Clair <strong>de</strong> Vasconcelos<br />

Perfeito! Está registrado. Passo a palavra para o presi<strong>de</strong>nte. Estamos com uma hora e quinze minutos <strong>de</strong> atraso em relação ao<br />

horário original.<br />

Ricardo Nabhan<br />

Primeiramente, obrigado pela paciência. O nosso painel aprovou teses por unanimida<strong>de</strong>, o que mostra realmente a importância<br />

e a valorização que <strong>de</strong>vemos ter nas coisas regionais, principalmente na comunicação. Quero agra<strong>de</strong>cer ao nosso companheiro<br />

George Vidor, pela apresentação que, sem dúvida, mostra que o Brasil cresce e que o interior do país, vamos dizer, fora<br />

<strong>de</strong> São Paulo, cresce ainda mais, mesmo com a concentração dos investimentos nessa gran<strong>de</strong> metrópole.<br />

Quero agra<strong>de</strong>cer também ao Antônio Ricardo, do Ibope, pelos números que mostram que verda<strong>de</strong>iramente não se po<strong>de</strong> fazer<br />

uma programação homogênea na área <strong>de</strong> mídia, mas que é preciso levar em conta as características <strong>de</strong> cada mercado. Tenho<br />

certeza <strong>de</strong> que no próximo ano, o Ibope estará com uma pesquisa em muito mais praças. A intenção do mercado é que o Ibope<br />

e outros institutos estejam presentes em todo o país, porque isso nos dará segurança nos investimentos dos anunciantes.<br />

Ricardo Esturaro, obrigado pela sua participação, por trazer a importância <strong>de</strong>sse sotaque da linguagem que a Globo conhece<br />

muito bem e, por isso, está presente em todo o país.<br />

Também quero agra<strong>de</strong>cer ao Saint’Clair, que esteve conosco <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o início e teve um excelente <strong>de</strong>sempenho ao anotar as recomendações<br />

e colocar tudo em votação. Obrigado ao nosso secretário, Gláucio Bin<strong>de</strong>r e também ao Deputado Vignatti, pelo trabalho<br />

e pela excelente notícia que trouxe em relação à inclusão das agências <strong>de</strong> propaganda nas micro e pequenas empresas.<br />

Quero também agra<strong>de</strong>cer ao Izael, da Nestlé, que se prontificou a dar um exemplo do que a empresa tem feito por esse mercado<br />

regional, abocanhando, assim, uma fatia maior, mas ela <strong>de</strong>scobriu isso antes e tenho a certeza <strong>de</strong> que outras empresas<br />

a seguirão.<br />

Senhoras e senhores, <strong>de</strong>legados <strong>de</strong>ste <strong>Congresso</strong>, esperamos que as recomendações aqui apresentadas e aprovadas por<br />

vocês contribuam para o fortalecimento, o crescimento e a valorização da indústria da comunicação em todo o Brasil, porque<br />

temos a certeza e po<strong>de</strong>mos afirmar com a mais forte convicção que com a propaganda, a informação circula, a economia<br />

anda, a imprensa funciona, a indústria não pára, os produtos giram, o comércio trabalha e o país avança. Dessa forma, encerramos<br />

esse importante painel do <strong>IV</strong> <strong>Congresso</strong> <strong>Brasileiro</strong> <strong>de</strong> Publicida<strong>de</strong>. Obrigado.<br />

Comissão 9<br />

A EDuCAçãO, A PROfISSãO E O mERCADO<br />

francisco Gracioso<br />

Bom dia. Estão abertos os trabalhos da Comissão <strong>de</strong> Educação do <strong>IV</strong> <strong>Congresso</strong>, e eu começarei chamando à mesa os componentes<br />

da Comissão: José Roberto Whitaker Penteado, relator; Luiz Fernando Dabul Garcia, secretário e <strong>de</strong>batedor; Jean<br />

Charles Zozzoli, <strong>de</strong>batedor; Mário Chamie, <strong>de</strong>batedor; Wilma <strong>de</strong> Moraes Strie<strong>de</strong>r, <strong>de</strong>batedora; e nosso palestrante especial,<br />

Julio Ribeiro, presi<strong>de</strong>nte do Grupo Talent.<br />

José Roberto Penteado é diretor corporativo da ESPM; Luiz Fernando Garcia é o diretor nacional dos cursos <strong>de</strong> comunicação<br />

social da ESPM; Jean Charles Zozzoli é coor<strong>de</strong>nador do Núcleo <strong>de</strong> Propaganda da Intercom, Socieda<strong>de</strong> Brasileira <strong>de</strong> Pesquisas<br />

Interdisciplinares; Mário Chamie é poeta, professor, escritor, doutor em Ciências Literárias, foi Secretário da Cultura <strong>de</strong> São Paulo<br />

e o criador do nosso Centro Cultural. Finalmente, Wilma <strong>de</strong> Moraes Strie<strong>de</strong>r é diretora do Instituto Holos e coach da Aiesec,<br />

uma entida<strong>de</strong> internacional <strong>de</strong> apoio a estudantes. Muito obrigado pela presença <strong>de</strong> todos.<br />

Nossa Comissão trabalhou ativamente nestes últimos dois meses, <strong>de</strong>senvolvendo reuniões, analisando os trabalhos recebidos,<br />

e acreditamos ter feito o que estava ao nosso alcance para esclarecer e <strong>de</strong>senvolver o tema que nos foi confiado, “A a<strong>de</strong>quação<br />

dos formandos <strong>de</strong> comunicação social ao mercado <strong>de</strong> trabalho, consi<strong>de</strong>rando as mudanças que estão ocorrendo neste mercado<br />

e o conteúdo, a metodologia, os currículos dos cursos <strong>de</strong> comunicação social em sua interface com o mundo real”.<br />

As conclusões <strong>de</strong>sta Comissão estão expressas na chamada Tese da Comissão, que está no site e <strong>de</strong>veria estar nas suas pastas.<br />

Como não houve tempo suficiente, começarei pedindo ao nosso relator que leia o conteúdo <strong>de</strong>ste relatório e dê a todos uma<br />

idéia do que pareceu mais importante e viável a esta Comissão. José Roberto, por favor.<br />

José Roberto Whitaker Penteado<br />

Bom-dia. O Prof. Gracioso, presi<strong>de</strong>nte <strong>de</strong>sta mesa, é meu chefe há 27 anos. Estou pensando em mandar uma inscrição para o<br />

Guinness Book, porque ele era o presi<strong>de</strong>nte da escola e eu era diretor e vice-presi<strong>de</strong>nte. Ele foi substituído pelo Prof. Piratininga,<br />

o novo presi<strong>de</strong>nte que está aqui, mas continua meu chefe na Revista da ESPM, já que é presi<strong>de</strong>nte do Conselho Editorial. Agora<br />

é o presi<strong>de</strong>nte da mesa e eu sou o relator; espero continuar sendo seu subordinado durante muitos anos.<br />

francisco Gracioso<br />

Tem dado certo e vai dar certo hoje também.<br />

José Roberto Whitaker Penteado<br />

Agra<strong>de</strong>ço a todos que enviaram trabalhos excelentes e todos, sem exceção, foram colocados no site da nossa Comissão <strong>de</strong><br />

Educação e continuam lá; po<strong>de</strong>m ser consultados a qualquer momento.<br />

A direção do <strong>Congresso</strong>, entretanto, nos orientou sobre a questão dos anais, explicando que não po<strong>de</strong>m ser incluídos os<br />

trabalhos apresentados, mas somente pequenos resumos daqueles consi<strong>de</strong>rados acolhidos pela Comissão e incluídos no que<br />

se <strong>de</strong>nominou a Tese da Comissão.<br />

Por essa razão, por exemplo, o trabalho da Professora Manolita Correia Lima e do Professor Ricardo Zagallo, embora acolhido<br />

em linhas gerais, não po<strong>de</strong>rá ser incluído nos anais, somente seu resumo. Esses trabalhos, então, estão e continuarão no site.<br />

Vou ler nossa tese, que também será projetada e apresentada ao final do <strong>Congresso</strong>:<br />

1 O atual mercado <strong>de</strong> trabalho para os formandos em comunicação social e áreas afins ultrapassa <strong>de</strong> muito o segmento ocupado<br />

tradicionalmente pelas agências <strong>de</strong> propaganda. De fato, ele aumenta exponencialmente com o surgimento das novas<br />

arenas <strong>de</strong> comunicação com o mercado, que incluem o universo digital, o mundo do entretenimento e da moda, o marketing<br />

esportivo, gran<strong>de</strong>s feiras e eventos, o gran<strong>de</strong> varejo e ainda diversos segmentos do mundo cultural e artístico, entre outros.<br />

Mercado e escola <strong>de</strong>vem incentivar estudos mais aprofundados sobre a ca<strong>de</strong>ia produtiva da comunicação com o mercado,<br />

visando compreen<strong>de</strong>r suas <strong>de</strong>mandas presentes e futuras, particularmente <strong>de</strong>ntro do conceito da comunicação integrada e<br />

das novas arenas da comunicação.<br />

2 Há gran<strong>de</strong> diversida<strong>de</strong> tanto na natureza como nos níveis <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> entre as centenas <strong>de</strong> escolas <strong>de</strong> todo o país quanto<br />

à estrutura curricular e metodologia <strong>de</strong> ensino, especialmente em relação aos cursos <strong>de</strong> comunicação social.<br />

A maioria <strong>de</strong>sses cursos não apresenta conteúdos a<strong>de</strong>quados às suas realida<strong>de</strong>s regionais e, principalmente, estão distantes<br />

dos sofisticados níveis exigidos pelos principais mercados. Algumas escolas, como a ESPM, possuem currículos e métodos atualizados,<br />

comparáveis aos melhores do mundo, e po<strong>de</strong>rão aproximar-se ainda mais das entida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> classe, visando aprimorar<br />

o aperfeiçoamento da formação e orientação oferecidas aos estudantes.<br />

A Comissão aconselha que sejam adotados mo<strong>de</strong>los pedagógicos que incentivem os alunos ao embasamento teórico e<br />

prático mais sofisticado e à busca <strong>de</strong> soluções diferenciadas diante dos atuais <strong>de</strong>safios socioeconômicos e ambientais. Além<br />

disso, cabe às empresas, além das escolas, o estímulo ao <strong>de</strong>senvolvimento contínuo <strong>de</strong> seus profissionais através <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s<br />

in company e outras formas <strong>de</strong> incentivo à educação continuada.<br />

3 A Comissão reconhece a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> que as agências <strong>de</strong> publicida<strong>de</strong>, assim como todos os <strong>de</strong>mais protagonistas <strong>de</strong>sses<br />

serviços <strong>de</strong> comunicação com o mercado, trabalhem em próxima e harmoniosa parceria com seus clientes, no sentido <strong>de</strong><br />

manter equiparados e cada vez mais elevados os padrões profissionais <strong>de</strong> sua prestação <strong>de</strong> serviços. A Comissão também<br />

enfatiza a natureza eminentemente criativa do processo formativo na área <strong>de</strong> comunicação, e que essa ativida<strong>de</strong> humana é<br />

<strong>de</strong>terminante para possibilitar as gran<strong>de</strong>s mudanças ainda necessárias para assegurar o futuro positivo para a humanida<strong>de</strong>.<br />

4 Finalmente, a vertiginosa diversificação das ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> comunicação com o mercado e a exigência <strong>de</strong> talentos e capacitações<br />

cada vez mais variados, tornaram <strong>de</strong>finitivamente superada a visão <strong>de</strong> uma publicida<strong>de</strong> como profissão única, passível<br />

<strong>de</strong> ser classificada, regulamentada e contar com o reconhecimento público oficial da profissão. A evolução da categoria em<br />

286 287<br />

COMISSÃO 9 - A EDUCAÇÃO, A PROFISSÃO E O MERCADO


múltiplos setores e entida<strong>de</strong>s atuantes em diversas áreas <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a realização do III <strong>Congresso</strong>, em 1978, dão um significativo<br />

testemunho <strong>de</strong>ssa realida<strong>de</strong>.<br />

5 A Comissão <strong>de</strong> Educação propõe a sua manutenção sob a égi<strong>de</strong> da <strong>Abap</strong>, após o encerramento do <strong>IV</strong> <strong>Congresso</strong>, como<br />

instituição permanente, tendo por objetivo o estudo mais aprofundado dos temas aqui levantados para agências, prestadores<br />

<strong>de</strong> serviços, veículos e outros participantes do universo da comunicação <strong>de</strong> mercado.<br />

francisco Gracioso<br />

Esse conteúdo e as eventuais contribuições que forem acrescentadas serão votadas ao final dos trabalhos e transformadas<br />

em um documento oficial, que será levado a plenário amanhã. Continuando nosso programa, peço ao nosso palestrante<br />

convidado, Julio Ribeiro, que tome a palavra.<br />

Julio Ribeiro<br />

Inicio esta palestra dando parabéns a todos que estão aqui, porque estamos vivendo, talvez, a maior era <strong>de</strong> inovação que a<br />

humanida<strong>de</strong> já viu. Penso nas gran<strong>de</strong>s mudanças que aconteceram, como a invenção da imprensa, da máquina a vapor, a Revolução<br />

Industrial. A quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> mudanças nesse período é absolutamente <strong>de</strong>sprezível em relação às que estão acontecendo<br />

agora. Em menos <strong>de</strong> duas décadas, surgiram: internet, telefone celular; TV digital; iPhone; DVD; clonagem da ovelha Dolly;<br />

célula-tronco; euro; primeiro presi<strong>de</strong>nte negro dos Estados Unidos; <strong>de</strong>scoberta <strong>de</strong> 10 bilhões <strong>de</strong> litros <strong>de</strong> petróleo no litoral<br />

brasileiro; um metalúrgico que se tornou presi<strong>de</strong>nte da república; o casamento <strong>de</strong> pessoas do mesmo sexo; 1,5 bilhão <strong>de</strong> internautas;<br />

bilhões <strong>de</strong> usuários <strong>de</strong> telefone celular; telefone <strong>de</strong> graça; a economia da China encostando na economia americana; as<br />

multinacionais brasileiras; o Brasil ter mais reservas cambiais do que a Alemanha e a França, e, finalmente, “os padres não po<strong>de</strong>rem<br />

rezar duas missas <strong>de</strong> manhã e dirigir automóvel porque eles vão presos”. O limite do álcool é <strong>de</strong> dois bombons <strong>de</strong> licor.<br />

Também é <strong>de</strong>safiador tudo o que as agências <strong>de</strong> propaganda e os que lidam com comunicação apren<strong>de</strong>ram em um século.<br />

A primeira agência do mundo foi a J.Walter Thompson, que começou no século XIX. Tivemos o século XX inteiro, já estamos<br />

usando o século XXI e acho fascinante que tudo o que apren<strong>de</strong>mos nesses 100 anos não vai valer mais, porque as respostas<br />

que <strong>de</strong>coramos não correspon<strong>de</strong>m mais às perguntas que o mercado está fazendo.<br />

Minha experiência pessoal nesse período: meus clientes mudaram <strong>de</strong> sexo e <strong>de</strong> faixa etária; mais <strong>de</strong> 50% das pessoas que<br />

têm hoje o po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> me <strong>de</strong>spedir passaram a ter entre 28 e 40 anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>. Cerca <strong>de</strong> 50% são do sexo feminino, que pensa<br />

completamente diferente e muito mais sabiamente do que os antigos diretores <strong>de</strong> marketing <strong>de</strong> cabelo branco que conheci<br />

e que passavam briefings para a agência. O pessoal da Brastemp dizia: “vamos lançar uma nova máquina <strong>de</strong> lavar e estas são as<br />

características”. Hoje, os clientes vão à agência pedir o briefing.<br />

Fizemos uma pesquisa com os executivos da área <strong>de</strong> marketing e comunicação no ano passado, e apareceu um fato fascinante:<br />

quem quer aumentar a empresa, ven<strong>de</strong>r mais e crescer é o dono. Os executivos, <strong>de</strong> um modo geral, querem <strong>de</strong>ixar<br />

sua marca no mundo; apren<strong>de</strong>r alguma coisa nova que transforme sua função e sua importância, não só no mercado, mas na<br />

comunida<strong>de</strong>; ou ganhar US$ 1 bilhão inventando alguma coisa na internet. Eles não querem mais fazer carreira na empresa.<br />

Como respon<strong>de</strong>r à necessida<strong>de</strong> constante <strong>de</strong> inovação que essas pessoas têm?<br />

Numa das pesquisas, aparece que a aspiração dos diretores <strong>de</strong> marketing é que a agência seja uma caixa fora da caixa. A caixa<br />

é on<strong>de</strong> ele trabalha, mas o input que ele recebe é sempre o mesmo; ele não vai inovar nem <strong>de</strong>ixar sua marca com a informação<br />

que recebe da empresa. A agência tem que ter a função <strong>de</strong> ser a caixa que faz perguntas novas, fatos novos.<br />

Outro dia, um cliente foi à agência pedir a indicação <strong>de</strong> um diretor <strong>de</strong> marketing e ele falou: “o que me entristece na equipe é<br />

que há três anos ninguém me assusta; eu durmo <strong>de</strong> noite e isso <strong>de</strong>ve estar errado”. Como respon<strong>de</strong>mos? Pessoalmente, acho<br />

fascinante: matar o conhecimento velho e adquirir o novo. O conhecimento velho é uma bola <strong>de</strong> ferro que carregamos no pé<br />

e nos impe<strong>de</strong> <strong>de</strong> caminhar.<br />

Tem uma história antiga <strong>de</strong> dois meninos que estavam em um cemitério: um pobre ao lado <strong>de</strong> uma campa comum, on<strong>de</strong> só<br />

havia uma cruz, e um rico ao lado <strong>de</strong> um mausoléu cheio <strong>de</strong> anjos <strong>de</strong> asas abertas, figuras <strong>de</strong> bronze, vidro, etc. O menino que<br />

estava na sepultura pobre estava chorando, e o que estava no gran<strong>de</strong> mausoléu falou para ele: “não chore por seu pai, porque<br />

provavelmente ele está num lugar melhor. Ele falou: não estou chorando por meu pai e sim pelo seu, que vai ter que tirar<br />

toda essa tralha <strong>de</strong> cima para po<strong>de</strong>r subir ao céu”. Essa é a visão do conhecimento velho: uma tralha que temos que tirar para<br />

continuarmos a ser competitivos! Vamos precisar morrer e nascer <strong>de</strong> novo para sermos contemporâneos.<br />

Um dos prêmios ganhos no Festival <strong>de</strong> Cannes foi <strong>de</strong> uma agência que colocou uma fita azul colada a cerca <strong>de</strong> 2 metros <strong>de</strong><br />

altura nos prédios <strong>de</strong> uma cida<strong>de</strong>. Colocou também nos postes, em alguns carros parados e em outros locais da cida<strong>de</strong>. Ao<br />

lado eles colocavam um aviso: essa é a altura a que o mar vai chegar se até 2050 nós não diminuirmos o aquecimento global.<br />

Que idéia fantástica, sem campanha e sem mídia! é isso o que o cliente quer <strong>de</strong> nós! On<strong>de</strong> apren<strong>de</strong>mos isso? Essa é a gran<strong>de</strong><br />

pergunta e uma bela razão para você levantar <strong>de</strong> manhã e ter vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> ir trabalhar.<br />

Outros fatos que me fascinam hoje em dia são a responsabilida<strong>de</strong> social, a sustentabilida<strong>de</strong> e a ecologia. Quem enten<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

ecologia e sabe o que fazer para harmonizar na operação do cliente a parte comercial com a <strong>de</strong> sustentabilida<strong>de</strong> e o balanço<br />

social? Hoje a sustentabilida<strong>de</strong> é um dos fatores <strong>de</strong> valorização da empresa: a imagem social que ela tem. On<strong>de</strong> apren<strong>de</strong>mos<br />

isso? Se alguém souber, por favor me ensine, pois não sei e acho que essa idéia <strong>de</strong> sustentabilida<strong>de</strong> é tão crescente que fico<br />

pensando que antigamente, os rapazes e moças se confessavam com o padre porque um passava a mão no outro.<br />

Daqui a alguns anos, as pessoas vão se confessar porque jogaram uma garrafa pet na praia, ou uma pilha fora da caixa <strong>de</strong><br />

coleta seletiva e não conseguem viver com a culpa.<br />

Viver hoje é um ato <strong>de</strong> culpa. Ontem vi na televisão que o aumento da temperatura vai liberar metano do mar e que vamos<br />

todos morrer. Meu Deus do céu, não posso mais sair com meu carro?! E o pior é que esse mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> mudança ten<strong>de</strong> a se<br />

acentuar. No dia seguinte, empresas <strong>de</strong>saparecem, são compradas ou anexadas.<br />

Certa vez fui aos Estados Unidos para uma reunião com uma agência <strong>de</strong> propaganda muito gran<strong>de</strong> que queria comprar a Talent<br />

e o presi<strong>de</strong>nte da empresa me convidou para jantar. Foi me buscar no hotel numa limusine que <strong>de</strong>veria ter uns 15 metros<br />

<strong>de</strong> comprimento, cheia <strong>de</strong> garrafas <strong>de</strong> uísque e com uma esposa nova, loira, linda e uns 40 anos mais nova do que ele. Falava<br />

o tempo todo ao celular, jantamos e ele continuava ao celular. No dia seguinte fui à agência <strong>de</strong>le que ocupava um prédio inteiro,<br />

fascinante. Menos <strong>de</strong> um ano <strong>de</strong>pois, essa agência foi comprada por um grupo e <strong>de</strong>sapareceu, apagaram com uma borracha!<br />

E essas empresas que estão sendo compradas, como a Budweiser comprada pela Ambev-Inbev? Como ficam as pessoas <strong>de</strong><br />

lá? A Ipiranga, um cliente meu, foi comprada pelo Grupo Ultra num final <strong>de</strong> semana. Todos <strong>de</strong>sejaram bom final <strong>de</strong> semana e<br />

na 2ª-feira o dono da empresa já tinha mudado. Isso acontece todo dia e esse mundo <strong>de</strong> mudanças que estamos vivendo é<br />

uma das coisas mais excitantes para nos renovarmos e continuarmos vivos.<br />

Daí, entramos na responsabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> que tipo <strong>de</strong> profissional se tem que formar para aten<strong>de</strong>r esse nível <strong>de</strong> <strong>de</strong>safio. Penso<br />

que é uma tarefa que não cabe exclusivamente à escola; cabe às empresas, porque os publicitários, <strong>de</strong> uma maneira geral, têm<br />

um ponto comum com as bailarinas, jogadores <strong>de</strong> futebol e lutadores <strong>de</strong> boxe: a carreira <strong>de</strong>les termina muito cedo. é difícil<br />

encontrar em um <strong>de</strong>partamento <strong>de</strong> criação alguém com 40 anos. Não sei por que, eles têm sempre 18! Mesmo na área <strong>de</strong><br />

atendimento, aos 50 anos começa-se a não servir mais! Por quê? O Dr. Zerbini operava coração com 80 anos!<br />

Por que nós, que ven<strong>de</strong>mos ketchup, temos que morrer profissionalmente aos 40? é porque não temos on<strong>de</strong> apren<strong>de</strong>r, on<strong>de</strong><br />

ficar contemporâneos. A empresa tem obrigação <strong>de</strong> tornar contemporâneos seus executivos, um trabalho que estamos fazendo<br />

na Talent. Uma equipe <strong>de</strong>ssas é um Tlab, um grupo <strong>de</strong> pessoas, não necessariamente publicitários, criativas e que<br />

recrutamos por terem idéias. Eles não participam da criação <strong>de</strong> campanhas, não têm chefe, só têm que ter idéias, para passar<br />

para os outros, para juvenilizar a criação, o atendimento, mudar a cultura. Nenhum <strong>de</strong> nós sabe realmente qual é o conjunto<br />

<strong>de</strong> rock quente do momento, que vai explodir na semana que vem; eles sabem.<br />

Temos uma área chamada Oxygen, <strong>de</strong>ntro da área <strong>de</strong> planejamento, que procura tendências no mundo inteiro. Ela elabora<br />

pequenos textos <strong>de</strong> tendências que são passados para a criação, o atendimento, a mídia e o cliente – porque se o cliente não<br />

for mo<strong>de</strong>rno, não adianta você ser mo<strong>de</strong>rno.<br />

Outra ação nossa nesse sentido e que está sendo feita <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o ano passado, é contratar empresas que fazem coaching para<br />

treinar nossos diretores. Neste ano estamos contratando uma empresa <strong>de</strong> coaching para criar nos nossos executivos capacida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> proativida<strong>de</strong>. A empresa tem a obrigação <strong>de</strong> tornar os seus funcionários contemporâneos. Não adianta mandar embora<br />

alguém que você formou durante muitos anos e contratar outra pessoa, porque ela será igual.<br />

A segunda coisa é a escola. Não sou educador, mas queria apresentar uma tese que po<strong>de</strong> ser importante. Fiz alguns cursos<br />

universitários: sociologia, direito, um curso na Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Nova York e seminário da Harvard. Minha visão nas escolas por<br />

que passei aqui no Brasil é <strong>de</strong> que o aluno é passivo, está lá para ouvir e não tem qualquer atuação. Ele é premiado por sua<br />

capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> memória e não por sua ação <strong>de</strong> qualquer tipo; por <strong>de</strong>corar o que o professor fala e estava no livro antes. Se está<br />

no livro, <strong>de</strong> que adianta ficar na minha cabeça? Eu vou esquecer mesmo. Não faço nada, sou uma entida<strong>de</strong> passiva e isso eu<br />

vejo pelos estagiários e recém-formados inexpressivos que entram na agência. Quando contratamos um pedreiro, a primeira<br />

coisa que ele pergunta é: on<strong>de</strong> vou quebrar? As pessoas do nosso setor, que vivem <strong>de</strong> fazer a coisa acontecer no mercado,<br />

não têm essa atitu<strong>de</strong>.<br />

A finalida<strong>de</strong> da escola é: a) passar conhecimento, porque não se constrói uma carreira na ignorância; b) passar ética, pois é a ferramenta<br />

mais forte para se ter sucesso na profissão; e c) mudar a atitu<strong>de</strong> dos alunos, que já vêm passivos do curso primário.<br />

Temos que ser ativos! Apren<strong>de</strong>r tem que ser um ato <strong>de</strong> amor, <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>, e não <strong>de</strong> anotar e a escola premiar pela memória. A<br />

mudança da atitu<strong>de</strong> da leitura que o aluno tem sobre como obter conhecimento e o que ele vai fazer, tem que ser ativa.<br />

Quero citar duas personalida<strong>de</strong>s que me fascinaram em todos esses anos. A primeira é um pensador inglês chamado Bertrand<br />

Russell, que dizia: os cientistas olham os céus e perguntam: por quê? Eu olho as coisas da humanida<strong>de</strong>, as pessoas, os fatos, e<br />

pergunto: por que não? Essa seria uma boa atitu<strong>de</strong> para nossos alunos.<br />

A segunda pessoa que quero citar chama-se Richard Feynman, um dos gênios do século XX e fenomenal cientista <strong>de</strong> física,<br />

que fez os cálculos matemáticos para viabilizar a Operação Manhattan. Ele ganhou um Prêmio Nobel <strong>de</strong> Física, mas disse que<br />

não iria receber se tivesse que <strong>de</strong>scer as escadas <strong>de</strong> frente, olhando para o rei, por não po<strong>de</strong>r dar as costas para ele. Descobriu<br />

então uma forma <strong>de</strong> <strong>de</strong>scer a escada aos pulos, e por esta razão mudaram, e agora, no Prêmio Nobel, o premiado po<strong>de</strong> dar as<br />

costas para o rei. Esse homem ganhou também um prêmio <strong>de</strong> bongô na França. Ele trabalhou no Brasil por algum tempo e era<br />

titular da Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Princeton. Enquanto ele estava no Brasil, tocava frigi<strong>de</strong>ira na Escola <strong>de</strong> Samba da Mangueira.<br />

Sua primeira mulher morreu e ele casou-se com uma mulher mais moça, arqueóloga. Eles foram para o México em lua-<strong>de</strong>-mel<br />

e enquanto ela subia as pirâmi<strong>de</strong>s para ver as coisas <strong>de</strong> arqueologia, ele passou em uma banca, viu uma revista e <strong>de</strong>scobriu que<br />

parte da escrita asteca não havia sido <strong>de</strong>cifrada. Enquanto esperava a mulher voltar das pirâmi<strong>de</strong>s, <strong>de</strong>cifrou a linguagem asteca.<br />

Em sua autobiografia, ele cita que uma das coisas que mais o entristecia nas universida<strong>de</strong>s brasileiras em que lecionava era<br />

a forma como os alunos entendiam o conhecimento: eles procuravam o conhecimento para passar <strong>de</strong> ano e não para fazer<br />

uso <strong>de</strong>le, não queriam que ninguém fizesse perguntas na aula. Essa idéia <strong>de</strong> que só precisam do conhecimento para passar<br />

<strong>de</strong> ano é que torna os formandos obsoletos. A mudança <strong>de</strong> atitu<strong>de</strong> é a coisa mais importante que po<strong>de</strong>mos apren<strong>de</strong>r hoje na<br />

formação. O ato <strong>de</strong> estudar <strong>de</strong>veria ser um ato <strong>de</strong> proativida<strong>de</strong>.<br />

O que mais percebo nos clientes e nas agências é que as pessoas são ótimas em gestão, mas péssimas em inovação. A primeira<br />

coisa <strong>de</strong>ve ser mudar a atitu<strong>de</strong> das pessoas em relação ao conhecimento. é o “por que não?”. Vamos ser ativos. A segunda, que<br />

consi<strong>de</strong>ro importante para ser aprendida na universida<strong>de</strong>, é o ato <strong>de</strong> fazer.<br />

O livro mais interessante que li até hoje sobre administração chama-se “Execução’’, escrito por três dos mais importantes assessores<br />

dos Estados Unidos. Eles provam nesse livro que têm muito mais sucesso as empresas que conseguem executar projetos<br />

do que as que inventam tecnologia. A capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> execução é o nosso calcanhar <strong>de</strong> Aquiles e da maior parte das empresas<br />

também, porque idéias todos têm, mas a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> executá-las é limitada, já que não gostamos <strong>de</strong> trabalhar com as<br />

mãos. Sentimo-nos satisfeitos por ter tido a idéia, mas falo sempre em reuniões na agência que as idéias são uma espécie <strong>de</strong><br />

oração. São discutidas idéias em reuniões como se discutem quantos anjos cabem na ponta <strong>de</strong> uma agulha.<br />

De que adianta fazer pesquisa se você não vai fazer nada com os resultados? O ato <strong>de</strong> fazer — e não a mímica <strong>de</strong> fazer — <strong>de</strong>veria<br />

ser uma parte importante do currículo escolar. Vejo algumas escolas com pequenas agências <strong>de</strong> publicida<strong>de</strong> que criam<br />

campanhas imaginárias para clientes imaginários com o objetivo <strong>de</strong> praticar, e não estão praticando nada.<br />

As tarefas dos alunos <strong>de</strong>veriam ser difíceis, com o objetivo <strong>de</strong> ganhar pontos, passar <strong>de</strong> ano e arrumar emprego numa multinacional.<br />

No conjunto, o ato <strong>de</strong> pensar proativamente seguindo a linha do “por que não?”, po<strong>de</strong> mudar toda a qualida<strong>de</strong> dos que<br />

saem da escola, porque quem tem alegria <strong>de</strong> pensar, fazer e apren<strong>de</strong>r como se faz, terá muito mais sucesso do que aqueles<br />

que querem apenas se tornar eruditos, ou ter o título da faculda<strong>de</strong>.<br />

Deveríamos também, nas escolas, ensinar as pessoas a pensar sobre o que fazer com essa força incomensurável que é a comunicação<br />

hoje em dia, para mudar o mundo, e não somente para arrumar um empreguinho ou passar <strong>de</strong> ano. Por que não?<br />

288 289<br />

COMISSÃO 9 - A EDUCAÇÃO, A PROFISSÃO E O MERCADO


francisco Gracioso<br />

Obrigado, Julio, por mais do que uma aula, uma obra inspiradora para nós todos e para os jovens que todo ano ingressam no<br />

nosso mercado.<br />

luiz fernando Garcia<br />

Antes <strong>de</strong> chamar os <strong>de</strong>batedores, gostaria <strong>de</strong> relembrar dois pontos extremamente importantes: primeiro, que respondam<br />

durante ou imediatamente após o encontro, à pesquisa que encontraram em suas ca<strong>de</strong>iras. Ela é uma visão estendida que<br />

permeia essa discussão da Comissão em relação ao perfil <strong>de</strong> formação e particularmente da regulamentação do publicitário.<br />

Uma das teses da Comissão é continuar <strong>de</strong>batendo esse tema, portanto, essa pesquisa conduzida pela Professora Manolita,<br />

tem um papel bastante importante para esta visão.<br />

O segundo é que já estamos recebendo inscrições para intervenção verbal, que só será aceita neste papel que não está em<br />

suas pastas, mas é só pedir e receberão. Quem <strong>de</strong>sejar participar estará se candidatando a uma intervenção <strong>de</strong> 90 segundos.<br />

Depen<strong>de</strong>ndo da quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> inscritos, vamos limitar ao máximo para todos participarem. Se pu<strong>de</strong>rem mandar durante o<br />

próprio <strong>de</strong>bate, já conseguiremos filtrar, organizar, tentar evitar sobreposições ou ampliar os <strong>de</strong>bates, segundo uma lógica da<br />

própria construção da tese. Não <strong>de</strong>ixem para o final se já tiverem uma intervenção colocada. Não são questões, não <strong>de</strong>bateremos<br />

com réplica; cada um estará se candidatando a uma intervenção, <strong>de</strong>ixando clara sua posição diante do <strong>de</strong>bate e da tese<br />

aqui proposta. Ela será consi<strong>de</strong>rada imediatamente, segundo esta visão.<br />

José Roberto Whitaker Penteado<br />

Apenas uma pequena observação: não é exatamente filtrar, mas organizar, porque, <strong>de</strong> acordo com o regulamento do <strong>Congresso</strong>,<br />

todas as intervenções serão acolhidas, incluindo as que não pu<strong>de</strong>rem ser consi<strong>de</strong>radas durante nossa sessão e mesmo<br />

as que não pu<strong>de</strong>rem ser aprovadas. Depois do encerramento dos trabalhos da Comissão, durante todo o dia <strong>de</strong> hoje, qualquer<br />

congressista po<strong>de</strong>rá encaminhar sugestões a esta Comissão e às outras 14. O presi<strong>de</strong>nte, o relator e o secretário <strong>de</strong> todas as<br />

Comissões, terão que receber esse material e consi<strong>de</strong>rá-lo até o final do dia. Obrigado.<br />

francisco Gracioso<br />

Pela or<strong>de</strong>m, vamos pedir agora aos nossos <strong>de</strong>batedores que façam suas intervenções. Da esquerda para a direita, eu pediria<br />

que Wilma Strie<strong>de</strong>r fosse a primeira a falar.<br />

Wilma Strie<strong>de</strong>r<br />

Agra<strong>de</strong>ço a oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> estar aqui com todos, participando <strong>de</strong> um <strong>Congresso</strong> tão importante e discutindo temas tão<br />

abrangentes e profundos. Sou psicóloga por formação e tenho uma consultoria que atua há 20 anos em <strong>de</strong>senvolvimento<br />

humano e programas <strong>de</strong> coaching para executivos. Também tive a oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> fazer uma carreira em empresas multinacionais<br />

na área <strong>de</strong> recursos humanos, portanto, já convivo há um bom tempo com as <strong>de</strong>mandas, angústias e ansieda<strong>de</strong>s do<br />

profissional nesse mercado em transição e nesse mundo <strong>de</strong> mudanças e aceleração.<br />

Espero contribuir com minha visão sobre o mercado e sobre o que principalmente o profissional <strong>de</strong> propaganda, seja ele maduro<br />

ou mais jovem, está buscando nos programas <strong>de</strong> coaching. A conferência do Sr. Julio Ribeiro nos traz uma reflexão muito<br />

importante, que diz respeito à capacitação dos profissionais, <strong>de</strong> como eles po<strong>de</strong>m praticar esse conhecimento adquirido na<br />

educação formal e, principalmente, converter isso para a prática, para a realização.<br />

Para essa chamada <strong>de</strong> “sair do gesso”, <strong>de</strong> transformar esse conhecimento, até mesmo <strong>de</strong> matar e renascer o conhecimento, o<br />

que percebo na prática é que as pessoas estão com dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> fazer essa transição. O mo<strong>de</strong>lo da educação formal nos condiciona<br />

bastante em diferentes carreiras e isso parece, <strong>de</strong> alguma forma, nos impedir <strong>de</strong> partir para processos <strong>de</strong> reeducação.<br />

Percebo que tanto as angústias do profissional maduro como do mais jovem são coinci<strong>de</strong>ntes, pois sempre têm reflexo em<br />

como a pessoa vai se posicionar no mercado <strong>de</strong> oportunida<strong>de</strong>s. é uma questão que tem a ver com esses gaps <strong>de</strong> aprendizagem:<br />

há um mo<strong>de</strong>lo muito teórico e conceitual, mas como isso será passado para a prática? Nesse conceito <strong>de</strong> “só se apren<strong>de</strong><br />

fazendo”, algumas universida<strong>de</strong>s ainda se concentram muito fortemente na pesquisa acadêmica e não conseguem traduzir a<br />

necessida<strong>de</strong> que o profissional tem <strong>de</strong> trazer isso para a prática.<br />

Como fica essa questão nas áreas <strong>de</strong> propaganda e marketing? Há um <strong>de</strong>safio muito maior, em função do cenário <strong>de</strong> mudança<br />

acelerada dos meios <strong>de</strong> comunicação. Isso <strong>de</strong>ixa as pessoas realmente perplexas e percebo que elas não sabem como<br />

fazer, evoluir e respon<strong>de</strong>r a essas <strong>de</strong>mandas. O fato é que elas buscam posicionamento no mercado e, como disse o Sr. Julio,<br />

o profissional <strong>de</strong> hoje quer <strong>de</strong>ixar sua marca e os mais jovens ainda não sabem como fazer isso.<br />

Há então um momento <strong>de</strong> in<strong>de</strong>cisões e imprecisões, que às vezes perdura por muitos anos. Sou coach <strong>de</strong> uma ONG que forma<br />

e capacita jovens talentos no mundo inteiro. São 22.000 jovens em 100 países; aqui no Brasil são 1.200 jovens e na ESPM temos<br />

uma unida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ssa ONG. Percebo que o jovem precisa tornar mais consistente a percepção da sua capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> realização<br />

e o Sr. Julio comentou que há realmente essa <strong>de</strong>ficiência hoje nas escolas, empresas e socieda<strong>de</strong>.<br />

O <strong>de</strong>safio é <strong>de</strong>senvolver a capacida<strong>de</strong> cognitiva <strong>de</strong> pensar conceitualmente, relacionar os conhecimentos subjetivos, os conceituais<br />

e aplicá-los na prática. Não basta realmente ter idéias; é preciso torná-las realizáveis. E como isso po<strong>de</strong> acontecer num<br />

ambiente mutável, nem sempre tão perceptivel, on<strong>de</strong> uma empresa que hoje está forte, no dia seguinte <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> existir? Uma<br />

agência que se projeta em algum momento, po<strong>de</strong> não dar mais àquele jovem ou profissional maduro a condição <strong>de</strong> continuar<br />

se expandindo.<br />

Chegamos então ao conceito <strong>de</strong> que nada mais é fixo, e o profissional do século XXI precisa estar consciente <strong>de</strong> que hoje tudo<br />

é mutável, e que ele precisa permanentemente renovar o conhecimento, caso contrário, vai ser engolido. A concorrência e os<br />

profissionais que estiverem mais “antenados” com as mudanças vão passar, e este profissional vai ficar em um emprego que<br />

talvez lhe dê certa segurança mínima por algum tempo.<br />

Sendo psicóloga, percebo que uma das questões fundamentais hoje é a da i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>: como a pessoa constrói significados<br />

para suas experiências, através da i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> que ela tem. Há uma dificulda<strong>de</strong>, ela entra nas empresas, nas agências, vai participando<br />

<strong>de</strong> projetos e jobs, e o que lhe falta é dar significado a tudo isso.<br />

De repente, quando chega na média carreira, aos 35, 40 anos, ao olhar para sua trajetória, a pessoa não consegue enten<strong>de</strong>r<br />

claramente se era mesmo o que queria e traduzir assim um conceito <strong>de</strong> realização.<br />

As empresas, já percebendo isso, estão procurando criar mo<strong>de</strong>los que encorajem o pensamento e as ações inovadoras e<br />

também condições para que as pessoas possam realmente rever o que fazem e como fazem. Elas sabem que isso é uma<br />

questão <strong>de</strong> sobrevivência nesse ambiente <strong>de</strong> pressão competitiva, no entanto, boa parcela das empresas médias, gran<strong>de</strong>s ou<br />

pequenas não sabe ainda como aproveitar e como a inovação po<strong>de</strong> gerar e agregar valor competitivo ao seu negócio. De<br />

certa forma, todos estamos buscando condições <strong>de</strong> entrar nesse mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> renovação.<br />

Percebemos também que as empresas não aproveitam o potencial que as universida<strong>de</strong>s oferecem com relação à pesquisa e à<br />

inovação. Esses setores precisam se interligar: escolas, universida<strong>de</strong>s, empresas e os jovens profissionais. A empresa junior, por<br />

exemplo, já po<strong>de</strong> criar essas pontes e aproximar-se da universida<strong>de</strong>.<br />

Segundo uma pesquisa mundial feita pela Deloitte em 2006, há hoje no mundo uma notória escassez <strong>de</strong> talentos, que provavelmente<br />

abrange duas décadas <strong>de</strong> formação e temos que correr para resolver esse problema. Nos programas atuais <strong>de</strong><br />

trainees, o jovem publicitário se <strong>de</strong>para fortemente com o <strong>de</strong>safio <strong>de</strong> provar seu talento e mostrá-lo rapidamente no processo<br />

seletivo. Quando ele entra na organização, nem sempre consegue verter esse processo criativo, já que a própria empresa tem<br />

também seus gessos e mo<strong>de</strong>los.<br />

Voltamos então para esse cenário da empregabilida<strong>de</strong>: como fica o profissional <strong>de</strong>sta área, sabendo que as agências só aten<strong>de</strong>m<br />

10% da <strong>de</strong>manda? Ele olha para as empresas e quer participar <strong>de</strong>las. Como as empresas estão utilizando a terceirização<br />

ou outsourcing, como esse profissional vai chegar lá e realizar, sabendo também que parte do pensamento estratégico fica<br />

num nível mais alto da pirâmi<strong>de</strong>?<br />

Lembro-me <strong>de</strong> um jovem <strong>de</strong> apenas 23 anos que, fazendo coaching, me disse: “Estou em dúvida: não sei se vou para a área <strong>de</strong><br />

planejamento, marketing estratégico <strong>de</strong> uma multinacional fazer um estágio, ou se vou para uma empresa empreen<strong>de</strong>dora,<br />

<strong>de</strong> inovação; minha família quer que eu fique na empresa estável, on<strong>de</strong> eu possa atuar no marketing e no planejamento<br />

estratégico e eu quero a inovação”.<br />

Eu disse que ele precisava amadurecer sua escolha; o que faria realmente sentido para ele naquele momento? O que lhe daria<br />

alegria <strong>de</strong> realizar?<br />

Essas são escolhas difíceis para um jovem <strong>de</strong> 23 anos, pois ele está seguindo muitas vezes um mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> pressão da própria<br />

socieda<strong>de</strong>, em que <strong>de</strong>ve se resolver e se posicionar rapidamente num mercado <strong>de</strong> tantas mudanças, sem ter a clara percepção<br />

disso. Como ele vai se localizar num momento <strong>de</strong> tantas mutações nos meios <strong>de</strong> comunicação?<br />

Então, o Sr. Julio nos lança a questão sobre qual é a melhor formação e nesse quesito <strong>de</strong> competências, conhecimentos, habilida<strong>de</strong>s<br />

e atitu<strong>de</strong>s, as escolas precisam suprir bastante essa questão do pensamento estratégico, da orientação para resultados.<br />

O estudante precisa saber que ao sair da escola e entrar no mundo corporativo, vai ser fortemente exigido em orientação para<br />

resultados e realização em ambientes sob pressão, e não vai concretizar a fantasia e o <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> criar e ter uma ação livre.<br />

Não basta só ter idéias, como disse o Sr. Julio: é preciso realizar. Como ele po<strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolver o raciocínio lógico e analógico? Se<br />

ele entrou na faculda<strong>de</strong> e só se preocupou em <strong>de</strong>corar para passar <strong>de</strong> ano e o ensino foi assimilado por osmose, como será?<br />

E o que dizer então das competências sociais e humanas? Como ele se enxerga naquele mecanismo social mais abrangente,<br />

como ele vai construir a sua marca?<br />

No quesito das competências, habilida<strong>de</strong>s e atitu<strong>de</strong>, o Sr, Julio Ribeiro nos assinalou muito bem a questão da atitu<strong>de</strong>, <strong>de</strong><br />

como esse jovem po<strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolver uma atitu<strong>de</strong> <strong>de</strong> pensar mais sobre si mesmo e principalmente <strong>de</strong> verter esta capacida<strong>de</strong><br />

realizadora.<br />

A atitu<strong>de</strong> <strong>de</strong> fazer escolhas que o auxiliem a criar meios sustentáveis da carreira precisa ser formada, caso contrário ele irá à<br />

<strong>de</strong>riva e po<strong>de</strong> chegar aos 40, 45 anos, olhar para essa trajetória e sentir-se infeliz.<br />

Lembro-me <strong>de</strong> um jovem publicitário <strong>de</strong> 26 anos cujo pai é dono <strong>de</strong> uma empresa. Ele dizia: “Gostei muito <strong>de</strong> trabalhar nas<br />

agências, no entanto, tive que assumir a gestão da empresa do meu pai; e agora? Como conciliar o marketing estratégico com<br />

o criar, uma parte que me satisfaz tanto?”.<br />

Entendo que as duas áreas são abrangentes e caberá a cada um escolher o que faz sentido em sua missão pessoal e, principalmente,<br />

social.<br />

Finalizando, esta comissão pe<strong>de</strong> que realmente possamos <strong>de</strong>senvolver reflexões mais profundas sobre isso e até mesmo encaminhar<br />

recomendações a todos os meios envolvidos, para que se aprofun<strong>de</strong>m e se <strong>de</strong>senvolvam essas questões.<br />

Mais uma vez, agra<strong>de</strong>ço a oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> estar aqui, trazendo um pouco da minha experiência e po<strong>de</strong>r compartilhá-la com<br />

vocês. Obrigada.<br />

francisco Gracioso<br />

Peço ao Luiz Fernando Garcia que dê a sua contribuição.<br />

luiz fernando Garcia<br />

A primeira contribuição é agra<strong>de</strong>cer o volume <strong>de</strong> inscrições muito interessantes para intervenção verbal. Embora tenha um<br />

formulário, não estamos aceitando perguntas. Já recebemos três perguntas, mas não haverá condição para esse espaço.<br />

Agora, falarei como <strong>de</strong>batedor: <strong>de</strong> forma muito simples, quero contar um pouco sobre minha experiência como profissional<br />

publicitário, formado em 1979 numa escola aqui <strong>de</strong> São Paulo. Entrei para ser redator publicitário, continuei pela vida trabalhando<br />

em agências pequenas e médias e, no meio do caminho, por influência <strong>de</strong> muitas pessoas, inclusive do Julio Ribeiro,<br />

comecei a perguntar “por que não?”. Fui trabalhar como planejador da área <strong>de</strong> comunicação. Depois, por um absoluto aci<strong>de</strong>nte<br />

<strong>de</strong> percurso, virei professor e estou aqui como diretor do curso.<br />

Na verda<strong>de</strong>, eu queria falar <strong>de</strong> uma forma mais ampla e sei que em algum momento, cairei na tentação <strong>de</strong> falar da ESPM. Sei<br />

também que não é esse o foco principal, mas quero falar muito mais da observação <strong>de</strong> quem, ao longo <strong>de</strong> 30 anos <strong>de</strong> mercado,<br />

20 anos <strong>de</strong> escola, 9 na direção do curso, acredita que consegue pelo menos enxergar alguma coisa útil.<br />

A primeira questão é a análise histórica do surgimento dos cursos em si, a partir da ESPM, e <strong>de</strong>pois dos <strong>de</strong>mais cursos que<br />

surgiram na mesma trajetória. Fica fácil enten<strong>de</strong>r sobre um curso para o qual há uma <strong>de</strong>manda <strong>de</strong> mercado que <strong>de</strong>fine uma<br />

<strong>de</strong>manda por profissionais e os cursos surgem como uma instituição que estrutura pessoas para dar competência e habilida<strong>de</strong><br />

para trabalhar nesse mercado.<br />

Temos uma amplitu<strong>de</strong> muito gran<strong>de</strong> da própria formação, em que não se trabalha mais só com o conceito <strong>de</strong> propaganda, e<br />

sim com o <strong>de</strong> comunicação com o mercado, ampliando a visão para as arenas <strong>de</strong> um processo muito mais complexo, envol-<br />

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COMISSÃO 9 - A EDUCAÇÃO, A PROFISSÃO E O MERCADO


vendo negócios, relacionamentos, i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> <strong>de</strong> marcas e produtos e comunicação com diversos públicos, tornando tudo<br />

isso muito mais amplo e difícil <strong>de</strong> ser trabalhado.<br />

Entendo que há um gap nesta própria discussão ou nos próprios papéis que as escolas <strong>de</strong> comunicação do Brasil entregam.<br />

Temos ainda muitas agências preparando, em locais às vezes impensáveis, jovens para trabalhar como profissionais <strong>de</strong> agência<br />

<strong>de</strong> publicida<strong>de</strong> num sentido muito estrito, o que não é necessariamente um erro, mas uma formação incompleta para a<br />

<strong>de</strong>manda mais ampla.<br />

Esse é o primeiro ponto a ser colocado na questão curricular e ela se amplia e se <strong>de</strong>safia <strong>de</strong> uma maneira ainda mais sofisticada,<br />

em função <strong>de</strong> tudo o que o Julio nos apresentou <strong>de</strong> forma brilhante. A velocida<strong>de</strong> da mudança é muito maior do que<br />

o mo<strong>de</strong>lo consegue entregar, <strong>de</strong>ntro das amarras <strong>de</strong> um processo MEC, <strong>de</strong> quatro ou dois anos, que é muito discutido.<br />

Termos amarras significativas nesse processo, tanto por legislação e estrutura quanto por velocida<strong>de</strong>, o que nos faz repensar<br />

que, se respeitarmos esse mo<strong>de</strong>lo, pensar um profissional a partir <strong>de</strong> uma visão <strong>de</strong> quatro anos <strong>de</strong> faculda<strong>de</strong> para<br />

começar a ser o ponto <strong>de</strong> partida… esta é outra questão: antes, ao fazer uma faculda<strong>de</strong>, estava tudo resolvido. Hoje,<br />

começa-se a faculda<strong>de</strong> e a educação continuada precisa trabalhar <strong>de</strong> outra forma <strong>de</strong>ntro das empresas, escolas, ou nos<br />

lugares <strong>de</strong> aprendizagem constante. O mercado muda muito rápido sobre um mo<strong>de</strong>lo pedagógico que pressuponha um<br />

retrato; alguém que entrou com 17, 18 anos, ao sair com 22, verá que o retrato mudou. Se trabalharmos com uma base<br />

tecnicista, teremos aqui um gap constante. Alguns currículos conseguirão ser mais ou menos atualizados, mas estarão mais<br />

ou menos <strong>de</strong>fasados.<br />

A questão que fica é que é preciso um repensar mais profundo no próprio mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> pensar a formação: uma formação que<br />

tenha critérios e competências para enten<strong>de</strong>r um sujeito <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> um ambiente <strong>de</strong> socieda<strong>de</strong>, que tem todos os novos <strong>de</strong>safios<br />

que já foram mencionados e para os quais, na verda<strong>de</strong>, poucas pessoas têm fragmentos <strong>de</strong> respostas, mas as respostas completas<br />

ainda não estão <strong>de</strong>senhadas, e que, então, consiga se inserir nas novas relações das empresas, das marcas, dos produtos, com as<br />

pessoas, <strong>de</strong> uma forma diferente, para conseguir estabelecer relacionamentos.<br />

Contei um pouco do olhar ESPM mas, novamente, <strong>de</strong>sculpem-me pelo pecado do exemplo, e acho que temos aqui, além <strong>de</strong><br />

tudo, um gap adicional. Nós, por exemplo, temos um volume muito gran<strong>de</strong> <strong>de</strong> alunos com 17-18 anos entrando no processo. O<br />

gap <strong>de</strong> formação, mesmo das melhores escolas, <strong>de</strong> uma visão crítica, <strong>de</strong> uma visão estabalecida da socieda<strong>de</strong>, da cultura, cujo<br />

preço nós pagamos, é muito gran<strong>de</strong> e todos os que dão aula sabem disso. Temos limites, como perfil <strong>de</strong> geração, geração mediática,<br />

geração internet, mas a verda<strong>de</strong> é que trata-se <strong>de</strong> uma geração que vem com pouca capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> percepção, <strong>de</strong> se situar<br />

criticamente no mundo e enten<strong>de</strong>r seu papel humano e seu papel cidadão, para, <strong>de</strong>pois – aí sim – ter uma formação profissional,<br />

on<strong>de</strong> se resolve ou tem a sua maior dimensão o “humano cidadão”, <strong>de</strong> uma maneira clara, <strong>de</strong> realização pessoal e profissional.<br />

De novo, essas dimensões precisam ser voltadas para um processo contínuo <strong>de</strong> educação e, particularmente hoje, é um enorme<br />

<strong>de</strong>safio <strong>de</strong> uma escola (no nosso caso, <strong>de</strong> uma escola <strong>de</strong> comunicação). Não privilegiar essas dimensões significa diminuir<br />

<strong>de</strong> forma clara para um tecnicismo <strong>de</strong>fasado da sua própria condição <strong>de</strong> aplicação. Aí, a escola fica “nada”. Dentro <strong>de</strong>sse ponto,<br />

temos que retomar claramente as dimensões <strong>de</strong> formação, para dar a condição rápida e ascen<strong>de</strong>nte <strong>de</strong>sse jovem, para que<br />

ele comece a se enten<strong>de</strong>r no mundo. Assim, se enten<strong>de</strong>ndo no mundo e nos seus próprios espaços, ele conseguirá enten<strong>de</strong>r<br />

seu papel humano-social. A partir daí, acho que a continuida<strong>de</strong> do pensar, da visão crítica, do processo, estará muito mais<br />

numa atitu<strong>de</strong> <strong>de</strong> ser.<br />

Essas habilida<strong>de</strong>s e competências tão pedidas e já colocadas tão brilhantemente pelos dois <strong>de</strong>monstram isso. No fundo, são<br />

muito mais posturas pessoais diante da vida, que vão acontecer em trilhas escolhidas – por exemplo, na trilha do que hoje<br />

chamamos comunicação com o mercado. Essa é a segunda gran<strong>de</strong> pontuação nesse processo. Na experiência específica <strong>de</strong><br />

escola, temos um <strong>de</strong>sconforto contínuo com o nosso currículo. Acordamos gostando e dormimos <strong>de</strong>sgostando <strong>de</strong>le e isso<br />

nos incomoda profundamente e <strong>de</strong>vemos mudar. Uma das coisas que já apren<strong>de</strong>mos é que <strong>de</strong>vemos parar <strong>de</strong> “entupir” os<br />

alunos com muitas disciplinas e a cada vez que aparece uma coisa nova, alguém ainda inventa uma disciplina para ela. Se continuarmos<br />

assim, nenhum curso durará menos <strong>de</strong> 48 anos, período integral, com todas as disciplinas, e chegaremos tar<strong>de</strong>.<br />

Não é mais possível trabalhar assim, com todas as priorida<strong>de</strong>s estabelecidas numa formação disciplinar, recortada, contínua.<br />

Há até mesmo uma contestação quanto ao fato <strong>de</strong> se esse recorte disciplinar respon<strong>de</strong> realmente às questões novas e isso é<br />

muito importante.<br />

Quanto mais conseguirmos trabalhar a condição <strong>de</strong> aplicação, num sentido aplicado crítico, empresa–escola, com a diminuição<br />

<strong>de</strong>ssa distância (acho impossível a eliminação) ao seu melhor tamanho, temos um caminho bem significativo.<br />

Temos alguns dados colocados e acho que dá para repeti-los <strong>de</strong> uma forma muito simples. Fizemos um grupo focal na escola<br />

(fazemos isso continuamente com egressos) e este, particularmente, pegou egressos formados em 2001, 2003 e 2007. De uma<br />

forma muito simples, fizemos um “antes, durante e <strong>de</strong>pois” na perspectiva dos próprios profissionais:<br />

Antes: a maioria dos profissionais achava que o publicitário era quem fazia a peça <strong>de</strong> propaganda e a maioria queria ser criativa<br />

(acho que não muda nada do universo, dos nossos esteriótipos e perfis já colocados).<br />

Durante: no nosso curso em particular, a idéia <strong>de</strong> uma perspectiva mais multidisciplinar, inclusive com disciplinas estranhíssimas<br />

em relação ao que eles esperavam, como finanças, estatística, ciências humanas (umas coisas loucas no processo para<br />

eles), foram percebidas, num primeiro momento, com estranheza e, num segundo momento, como fazendo sentido, pois<br />

teoria e prática po<strong>de</strong>m caminhar juntas, além <strong>de</strong> uma enorme valorização das ativida<strong>de</strong>s extra sala <strong>de</strong> aula, para dar mais<br />

sentido ao que se apren<strong>de</strong> na sala. Quanto mais se pratica fora, melhor funciona a questão interna.<br />

Daí, vem uma terceira leitura, corroborada por uma percepção minha. Lerei pela fala <strong>de</strong>les: todos ressaltaram que foi surpreen<strong>de</strong>nte<br />

a aceitação pelo mercado <strong>de</strong> trabalho e notaram a diferença em sua formação quando comparados com outros<br />

formandos. O mais importante: ressaltam também que a formação multidisciplinar levou-os a outras arenas da comunicação<br />

social, sendo muito mais focadas na gestão do que especificamente na área da criação, como pensavam inicialmente. Porém,<br />

valorizam e enten<strong>de</strong>m que o pensamento criativo para qualquer situação, tanto na área <strong>de</strong> gestão quanto na <strong>de</strong> aplicação, faz<br />

toda a diferença, e um embasamento teórico-prático, uma ponte <strong>de</strong> conhecimento, faz diferença.<br />

Com isso, eles estão saindo com resultados que para nós são muito interessantes. Temos conseguido uma média enten<strong>de</strong>ndo<br />

ativos como todo mundo que está com um rumo na vida – 88% dos formados estão assim –, 78% estão <strong>de</strong>finitivamente<br />

empregados no mercado <strong>de</strong> trabalho, sendo 35% em agências <strong>de</strong> publicida<strong>de</strong> (esta é a última pesquisa do final do ano), porém,<br />

menos <strong>de</strong> 10% em criação, que é mais ou menos o esperado nesse processo. O número <strong>de</strong> agências cresceu e também<br />

tivemos um crescimento enorme – <strong>de</strong> cerca <strong>de</strong> 30% – dos que estão trabalhando em áreas <strong>de</strong>nominadas marketing. é uma<br />

área muito ampla, recortada <strong>de</strong> várias formas. Em áreas <strong>de</strong> comunicação somadas, também temos algo em torno <strong>de</strong> 30% – há<br />

as áreas que crescem cada vez mais, como trading.<br />

O final <strong>de</strong>ssa história, a ser colocada como <strong>de</strong>safio, é: cada vez mais, precisamos <strong>de</strong> um foco claro nos novos <strong>de</strong>safios socioeconômico-ambientais,<br />

uma aproximação real entre empresas e organizações e duas visões: uma regional e uma internacional.<br />

Cada escola ou cada região vai, pouco a pouco, <strong>de</strong>finir o seu foco maior. Po<strong>de</strong> ser voltar para a sua realida<strong>de</strong> e respeitá-la,<br />

trabalhando fortemente a partir <strong>de</strong>la – acho que os nossos currículos, às vezes, são absolutamente enlouquecidos, querendo<br />

fazer formações amplas em realida<strong>de</strong>s que têm características muito específicas. Ao mesmo tempo, algumas escolas ou regiões<br />

têm uma vocação maior <strong>de</strong> internacionalida<strong>de</strong> e é fundamental que elas se abram para a visão <strong>de</strong> mundo.<br />

francisco Gracioso<br />

Obrigado, Garcia. Quem está ao lado é o próximo a falar.<br />

Jean Charles Zozzoli<br />

Quero manifestar minha felicida<strong>de</strong> por estar aqui e agra<strong>de</strong>cer pela oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r expor alguns dos conceitos relacionados<br />

ao ensino e à pesquisa.<br />

Os pontos abordados pelo Julio Ribeiro são ricos. Sua palestra magistral nos oferece a oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> refletir sobre a atuação<br />

dos nossos pares e a formação daqueles que vão nos suce<strong>de</strong>r. Também foram ricas em experiência profissional e didática as<br />

contribuições dos <strong>de</strong>batedores que me antece<strong>de</strong>ram. Portanto, tentarei trazer outros pontos relacionados ao ensino e à pesquisa.<br />

Minha formação é <strong>de</strong> publicitário. Trabalhei em agência como redator, como diretor adjunto <strong>de</strong> planejamento. Depois, <strong>de</strong>diquei-me<br />

ao ensino e à pesquisa. Atualmente, coor<strong>de</strong>no o núcleo <strong>de</strong> pesquisa da Intercom. Por isso, tentarei focalizar mais<br />

esses assuntos.<br />

O Julio aborda mais o problema das competências potenciais dos publicitários e a oposição à sua performance, ou seja, seus<br />

saberes face a seu fazer, a seu talento. Formular a questão <strong>de</strong> quais são, no momento, os conhecimentos e as atitu<strong>de</strong>s necessárias<br />

para refletir a<strong>de</strong>quadamente nos leva a colocar esse questionamento em outros termos. De que forma compreen<strong>de</strong>r<br />

as transformações que vêm ocorrendo nesses últimos anos? Até há pouco, as coisas eram simples e cada cidadão tinha lugar<br />

e tarefas específicos e especializados. Descrições e <strong>de</strong>monstrações racionais explicavam científica e organizacionalmente os<br />

fenômenos da natureza e da cultura, porém, cada vez mais, esses mo<strong>de</strong>los têm se tornado incapazes <strong>de</strong> dar conta dos acontecimentos<br />

e das estruturas atuais, como dos seres híbridos que aí interagem.<br />

Defen<strong>de</strong> o filósofo Bruno Latour que a nossa socieda<strong>de</strong> mo<strong>de</strong>rna e, portanto, pós-mo<strong>de</strong>rna, nunca funcionou <strong>de</strong> acordo com<br />

as divisões do seu sistema <strong>de</strong> representação do mundo. Do ponto <strong>de</strong> vista da comunicação, o paradigma emissor–mensagem–receptor,<br />

que todos conhecem, não se revela mais satisfatório, se é que um dia o foi. A nova comunicação mostra que<br />

as pessoas não comunicam, mas participam <strong>de</strong> uma comunicação. A teoria da ação comunicativa afirma que a comunicação<br />

está no centro do vínculo social. A recente teoria da Autopoiese — Maturana, Varela e, mais recentemente Luman, vai mais<br />

longe, negando a transferência <strong>de</strong> informação ao evocar a coexistência e a relação que só acontecem no âmbito <strong>de</strong> sistemas<br />

auto-reguladores fechados, que se adaptam e se corrigem permanentemente.<br />

Nesse quadro, no entando, a essência da publicida<strong>de</strong> permanece a mesma: pagar, em nome do anunciante, pelo direito <strong>de</strong><br />

entrar em contato com <strong>de</strong>terminadas pessoas, para “paquerá-las”, “seduzi-las”. Porém, i<strong>de</strong>alizar um conceito e planejar sua<br />

divulgação para <strong>de</strong>terminados públicos em busca <strong>de</strong> sua aceitação não consiste mais em produzir peças e comprar espaços<br />

com mais ou menos conhecimento do mercado e <strong>de</strong> técnicas psicológicas, mercadológicas e artísticas, aplicadas geralmente<br />

<strong>de</strong> maneira intrusiva, como resumem tão frequentemente os mo<strong>de</strong>los indireta e diretamente expressos pela profissão a partir<br />

do mo<strong>de</strong>lo germânico da comunicação, ou melhor, do mo<strong>de</strong>lo da transmissão <strong>de</strong> informação.<br />

Ao contrário, em meio a outras ações, a publicida<strong>de</strong> revela empenho em procurar reter a atenção e a sensibilida<strong>de</strong> do target<br />

e integrá-lo a <strong>de</strong>terminado modo <strong>de</strong> pensar e <strong>de</strong> se emocionar e, principalmente, <strong>de</strong> se relacionar consigo mesmo, com os<br />

outros e com os valores existentes no seu universo sociocultural e agir.<br />

Ouso dizer que tanto no ensino quanto na pesquisa e até na prática, não <strong>de</strong>vemos mais falar <strong>de</strong> construção <strong>de</strong> marca, mas<br />

sim <strong>de</strong> cofabricação da imagem <strong>de</strong> marca. Devemos refletir também sobre o fato <strong>de</strong> que a criativida<strong>de</strong> redacional e artística<br />

muitas vezes contempla quase que exclusivamente apenas a função lúdica da marca, ignorando as outras. Numa outra instância,<br />

a corrida aos Tops of the Minds satisfaz prioritariamente critérios quantitativos e notorieda<strong>de</strong>s. Os exemplos não param por<br />

aqui. A discussão é polêmica e não prosseguirei com ela, mas em meio aos <strong>de</strong>safios contextuais, as revisões paradigmáticas<br />

em quase todos os cantos do conhecimento, mas também as novas exigências do agir social e proifissional, a revolução tecnológica<br />

e cultural incessante exigem uma formação <strong>de</strong> profissionais capazes <strong>de</strong> fazer frente à mobilida<strong>de</strong> e à mutabilida<strong>de</strong><br />

dos conhecimentos. Assim, se há duas décadas atrás, o problema dos currículos dos cursos <strong>de</strong> publicida<strong>de</strong> e propaganda era<br />

inteirar o marketing, para os currículos <strong>de</strong> hoje esta tarefa está plenamente cumprida.<br />

Cabe presentemente inserir questões que permitam aos egressos acompanhar as metamorfoses da socieda<strong>de</strong> e do mercado,<br />

tanto regionais como nacionais e internacionais; tanto tecnológicas como socioculturais; tanto em agência, anunciantes e<br />

veículos como nos ambientes on-line. Porém, cabe principalmente potencializar a possibilida<strong>de</strong> dos publicitários e futuros<br />

publicitários participarem <strong>de</strong>ssas transformações com reflexões e atos a<strong>de</strong>quados. Tal fato mobiliza não somente as escolas<br />

<strong>de</strong> comunicação, mas a socieda<strong>de</strong> como um todo, porque envolve valores necessários à economia globalizada, mas também<br />

a ética social e profissional. Envolve valores, atitu<strong>de</strong>s sociais e pessoais <strong>de</strong> sujeitos compelidos a apren<strong>de</strong>r e agir continuadamente<br />

<strong>de</strong> maneira criativa e autônoma.<br />

O ambiente que presentemente vivemos mostra-se em permanente adaptação, com valores e saberes múltiplos, em contínua<br />

metamorfose e até com rupturas. Para continuar a se <strong>de</strong>senvolver e a sobreviver, caracteriza-se como uma socieda<strong>de</strong> que<br />

está sempre apren<strong>de</strong>ndo, on<strong>de</strong> todos têm que se atualizar constantemente. é nessa perspectiva conceitual que, para mim, se<br />

situam e manifestam a importância e a contribuição da pesquisa universitária. No meu enten<strong>de</strong>r, a pesquisa, pelo menos nas<br />

instituições acadêmicas, <strong>de</strong>ve, como ensino, rejeitar o predomínio da perspectiva reprodutora do conhecimento, a capitalização<br />

sobre teorias bancárias da aprendizagem, quando analisa os intercâmbios comunicacionais, mediáticos e mercadológicos<br />

que se fazem presentes no nosso dia-a-dia contemporâneo.<br />

Defendo principalmente a pertinência <strong>de</strong> se observar o caráter múltiplo e disciplinar da publicida<strong>de</strong> contemporânea, que apela<br />

para a comunicação integrada ou, sob outras perspectivas, para os feitos que o professor Gracioso, que presi<strong>de</strong> esta mesa<br />

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COMISSÃO 9 - A EDUCAÇÃO, A PROFISSÃO E O MERCADO


hoje, chama <strong>de</strong> arenas da comunicação, ou aquilo que, na esteira <strong>de</strong> Regouby, chamo <strong>de</strong> comunicação global ou complexa.<br />

Aliás, a Comissão <strong>de</strong> Comunicação Integrada aprovou ontem a tese <strong>de</strong> criação <strong>de</strong> uma ca<strong>de</strong>ira <strong>de</strong> comunicação integrada em<br />

todos os cursos <strong>de</strong> comunicação social do país. Em muitos <strong>de</strong>les esta ca<strong>de</strong>ira já existe ou, pelo menos, há uma disciplina on<strong>de</strong><br />

essa questão é ministrada.<br />

Captar a atuação e o discurso manifestado direta e indiretamente — pelas pessoas, pelas empresas, pelos diversos stakehol<strong>de</strong>rs,<br />

em suma, pelo mercado, pela socieda<strong>de</strong> como um todo — nesses processos e analisar a produção <strong>de</strong> sentido <strong>de</strong>corrente<br />

permite <strong>de</strong>tectar, caracterizar e avaliar situações e procedimentos contemporâneos e a emergência <strong>de</strong> novas tendências, bem<br />

como o surgimento <strong>de</strong> reações dos diversos atores a respeito, fornecendo novas explicações que po<strong>de</strong>m reverter em novos<br />

conhecimentos e atuações no mercado.<br />

As transformações emergem do mercado. Cabe à pesquisa estudá-las e reverter esses estudos para a socieda<strong>de</strong> e o mercado.<br />

Nesse sentido, o estudo da comunicação e em particular da publicida<strong>de</strong> e <strong>de</strong> seu ensino nessa época <strong>de</strong> transformação ganhariam,<br />

se cada vez mais pesquisadores — sejam eles sêniores, júniores ou pós-graduantes — tivessem em vista propiciar<br />

novos saberes reais. Insisto sobre essa questão: reais para o nosso entendimento, o nosso agir nas socieda<strong>de</strong>s e nos diversos<br />

mercados, pois em paralelo com a realização <strong>de</strong> estudos aplicada a partir <strong>de</strong> dados históricos e <strong>de</strong> teoria cuja pertinência é<br />

bem assentada, <strong>de</strong>vemos requerer da pesquisa que ela seja inovadora e propícia ao estabelecimento <strong>de</strong> novas feições teóricas,<br />

até mesmo <strong>de</strong> novos paradigmas, mas bem adaptados à contemporaneida<strong>de</strong>.<br />

Para terminar, informo que o retrato nacional e atual, todavia forçosamente limitado e incompleto a esse respeito está disponibilizado<br />

nos anais dos encontros anuais do Núcleo <strong>de</strong> Pesquisa, Publicida<strong>de</strong> e Propaganda da Intercom, núcleo que agrega<br />

professores-pesquisadores e profissionais efetivos ou potenciais que <strong>de</strong>senvolvem pesquisas <strong>de</strong> dissertação <strong>de</strong> mestrado ou<br />

teses doutorais. Esses anais estão abertos a todos no site da Intercom: www.intercom.org.br. Agra<strong>de</strong>ço pela atenção.<br />

francisco Gracioso<br />

Obrigado, Jean Charles. Mário Chamie, por favor.<br />

mário Chamie<br />

Presi<strong>de</strong>nte Francisco Gracioso, Julio Ribeiro, colegas da mesa, bom dia. Vou falar apenas <strong>de</strong> experiência pessoal <strong>de</strong> professor,<br />

mas eu gostaria <strong>de</strong> ter como pano <strong>de</strong> fundo a extraordinária conferência feita pelo Julio Ribeiro. Nela, ele toca em pontos<br />

essenciais para um professor que ensina numa Escola Superior <strong>de</strong> Propaganda e Marketing. Quando ele constata que em<br />

duas décadas, houve transformações e transgressões <strong>de</strong>ssas transformações na socieda<strong>de</strong>, com força tecnológica, que não<br />

aconteceram em 2 ou 3 mil anos <strong>de</strong> história, é uma verda<strong>de</strong> e ela traduz um sinal <strong>de</strong> que não po<strong>de</strong>mos conviver com continuida<strong>de</strong>s<br />

inertes. Temos sempre que sair <strong>de</strong> processos acomodados <strong>de</strong> inércia para incursões <strong>de</strong> maior ousadia, sem per<strong>de</strong>r,<br />

evi<strong>de</strong>ntemente, o pique da realida<strong>de</strong>.<br />

Na verda<strong>de</strong>, o Julio propõe – e isso me diz respeito como professor – a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se ensinar o aluno a pensar e a fazer.<br />

Isso é fundamental. Quando dou as minhas aulas, eu me pergunto: ensinar a pensar o quê e sobre o quê? No caso <strong>de</strong> um<br />

momento <strong>de</strong> mutações contínuas como é este em que vivemos, o importante é ensinar a pensar os processos <strong>de</strong> mutações,<br />

que chegam a <strong>de</strong>terminados pontos avançados.<br />

Um aluno me perguntou o que é tecnologia <strong>de</strong> ponta. Eu disse: “é a tecnologia que passou por vários processos <strong>de</strong> mutação”.<br />

Ele me pediu um exemplo: “ durante o tempo em que trabalhei na Olivetti, eu pu<strong>de</strong> ver a passagem da máquina manual<br />

para a máquina <strong>de</strong> escrever mecânica, para a elétrica, para a eletrônica, até chegar ao computador. Ele estaria na ponta <strong>de</strong>sse<br />

processo <strong>de</strong> transformações sucessivas e esse processo tem que nos trazer as idéias que não po<strong>de</strong>m, a meu ver, se congelar<br />

em dicotomias – por exemplo, o velho e o novo –, mas em um processo no qual sem um ponto <strong>de</strong> partida, não se teria um<br />

ponto <strong>de</strong> chegada. Isso é fundamental, porque a tendência do aluno ao receber suas primeiras informações em sala <strong>de</strong> aula,<br />

é consi<strong>de</strong>rar aquilo apenas como uma informação a mais, pois ele não tem, no curso corriqueiro, o estímulo para saber que<br />

aquilo é um ponto <strong>de</strong> partida fundamental para ele criar o seu próprio repertório <strong>de</strong> conhecimentos que lhe serão úteis na<br />

sua vida profissional.<br />

Lembro-me <strong>de</strong> uma palestra que eu fazia na Universida<strong>de</strong> Nacional do México e num dado momento, um aluno perguntou<br />

se eu po<strong>de</strong>ria estabelecer uma relação entre o Brasil e o México, por serem países muito semelhantes, segundo ele. Respondi:<br />

“o México tem um passado que não passa e o Brasil, um futuro que não chega”. Foi uma reação espontânea, mas <strong>de</strong>pois refleti<br />

sobre a minha reação e verifiquei que realmente, temos que evitar os fetiches, tanto o do futuro contínuo quanto o <strong>de</strong> um passado<br />

irremovível. Por isso, costumo, nas minhas aulas, procurar passar ao aluno que o professor não é só o que sabe e o aluno o<br />

que não sabe. Depois, que o professor está ali para exercer uma aprendizagem em conjunto com o aluno, que ele vai apren<strong>de</strong>r<br />

com o aluno tanto quanto o aluno apren<strong>de</strong>rá com ele. Essa é a mudança <strong>de</strong> atitu<strong>de</strong> a que se refere o Julio Ribeiro. Também falo<br />

que o professor não é o juiz que julga; ele é aquele que estabelece um diálogo para uma experiência comum <strong>de</strong> domínio <strong>de</strong><br />

conhecimentos, e que, portanto, não há nada estático, não há nada <strong>de</strong>finitivo, pois tudo se transgri<strong>de</strong> e se transforma.<br />

Um exemplo: o aluno, quando entra no curso, tem o seu repertório, o seu saber próprio e o professor não po<strong>de</strong> ignorar este<br />

saber. Po<strong>de</strong> ser um repertório pequeno, quase nulo, o do professor é maior, mas não é a quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> repertório que vai<br />

<strong>de</strong>terminar a qualida<strong>de</strong> das mensagens que ocorrerão ali. Não há nenhuma razão para que se acredite nisso. Pero Vaz <strong>de</strong> Caminha,<br />

quando chegou aqui, se <strong>de</strong>frontou com os índios nativos, que eram ágrafos. Pero Vaz era um homem humanista, letrado<br />

e apren<strong>de</strong> muito com os índios. Basta ler a carta que ele escreve. Esta carta tem uma função dinâmica fundamental até hoje,<br />

para compreen<strong>de</strong>rmos os processos <strong>de</strong> mutação da própria cultura e da própria história brasileira.<br />

Po<strong>de</strong>mos pensar, por exemplo, em quantida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> repertório. Na música popular brasileira, se isolarmos um compositor como<br />

Nelson Cavaquinho, um compositor <strong>de</strong> morro, o repertório <strong>de</strong> palavras <strong>de</strong>le é mínimo: lua, sol, dor, amor e não sai disso. Se<br />

apanharmos o repertório do Chico Buarque <strong>de</strong> Hollanda, por exemplo, ele será muito mais rico, pois o compositor é escolarizado,<br />

muito mais culto, teve educação elevadíssima, conhece vários idiomas, as letras <strong>de</strong> música do Chico são recheadas <strong>de</strong><br />

palavras especiais, eruditas, mas no frigir dos ovos, se o Nelson Cavaquinho diz “tire o seu sorriso do caminho, que eu quero<br />

passar com a minha dor”, ele não <strong>de</strong>ve nada à composição Construção do Chico, on<strong>de</strong> eu posso ter versos belíssimos, como<br />

“e tropeçou no céu como se fosse bêbado”. Não há nenhuma diferença qualitativa.<br />

O aluno fica, tanto quanto o professor, refém <strong>de</strong> coisas estabelecidas e tomamos isso como álibi para permanecermos inertes.<br />

Acho que o meu currículo não é um texto <strong>de</strong>finitivo. Ele é um pretexto para eu <strong>de</strong>senvolver conhecimentos e interpretações<br />

inter-relacionadas com o momento em que vivo. Transgrido o meu currículo; eu não faço exame numa linha tradicional, porque<br />

o exame é uma aferição instantânea que favorece, como disse o Julio, a simples memória, e não a incorporação dinâmica<br />

<strong>de</strong> conhecimentos.<br />

Faço trabalhos diretos com o aluno, no sentido <strong>de</strong> ouvi-lo, saber qual é a sua linguagem e trocarmos essas experiências. Isso<br />

vai contra o Ministério da Educação? Po<strong>de</strong> ir, sem dúvida, mas nem por isso, eu, como professor, <strong>de</strong>vo me sentir refém daquele<br />

currículo que está ali para que eu o cumpra. E essas atitu<strong>de</strong>s é que fazem o pensar ser criativo, no sentido <strong>de</strong> que eu não preciso<br />

fazer uma divisão drástica entre o velho e o novo.<br />

O Julio disse algo muito importante e com sabor <strong>de</strong> eficiência respeitável. Vamos matar o velho! Eu faria uma paródia <strong>de</strong> um<br />

político infeliz: vamos subjugar o velho, mas não matá-lo. O processo é que conta e o ponto <strong>de</strong> chegada <strong>de</strong>sse processo é que<br />

nos atualiza. Imaginem um processo <strong>de</strong> velho e novo: o ponto <strong>de</strong> chegada do nosso futebol, campeão do mundo, era evi<strong>de</strong>ntemente,<br />

o mais avançado. Quando perguntaram ao Garrincha se um dia os europeus jogariam futebol como os brasileiros,<br />

ele disse que para que isso acontecesse, eles teriam que se sub<strong>de</strong>senvolver muito. Esse processo criativo é muito importante,<br />

porque o aluno e o professor têm que estabelecer uma reciprocida<strong>de</strong> <strong>de</strong> trocas e aprendizagens. Eu me <strong>de</strong>sempenho nesse<br />

trabalho graças à abertura <strong>de</strong> horizontes da ESPM.<br />

é preciso, portanto, que essas idéias <strong>de</strong> inovação e renovação não fiquem em extremos opostos. Por exemplo, quando eu leio<br />

uma letra <strong>de</strong> música – digamos, Construção, do Chico –, não posso ler e ouvir aquela letra como ela está escrita. Tenho que<br />

aplicar um processo <strong>de</strong> recorrências que mostre que ela po<strong>de</strong> referir-se a um passado que se valoriza, reaparece num futuro e<br />

traz diversida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> informações fundamentais para a minha inteligência e a minha capacida<strong>de</strong> criativa. O próprio Chico dá à<br />

música o nome <strong>de</strong> Construção e eu posso ler pensando que ele está se referindo exclusivamente ao operário <strong>de</strong> construção civil,<br />

mas, na verda<strong>de</strong>, ele está nos dizendo que po<strong>de</strong>mos construir e reconstruir incessantemente aquele assunto, <strong>de</strong> pontos <strong>de</strong><br />

vista divergentes, inusitados e originais. Quando ele canta a letra pela primeira vez, faz uma pausa e volta a cantar. Na primeira<br />

vez, ele diz “e tropeçou no céu como se fosse bêbado”; na segunda, ele diz “e tropeçou no céu como se fosse flácido” — todas<br />

as últimas palavras <strong>de</strong> todos os versos são proparoxítonas (flácido, bêbado, tráfego, trânsito, íntimo). Ele lê uma vez cantando,<br />

<strong>de</strong>pois troca a última palavra do primeiro verso com a última do segundo; a última do segundo com a última do teceiro, e<br />

assim sucessivamente e surge uma letra nova, uma informação nova, uma letra <strong>de</strong>rivada autônoma, <strong>de</strong> co-autoria. Ele <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong><br />

ser o autor, passa a ser o co-autor e nos estimula a voltar lá e fazer as mesmas incursões. Eu posso pegar meta<strong>de</strong> do primeiro<br />

verso e ligar à última do quinto verso; posso ligar a última do quinto com a última do oitavo e terei uma terceira letra, discutindo<br />

aquele assunto <strong>de</strong> óticas completamente diferenciadas. Isso é estar no plano da pesquisa e do fazer contínuo.<br />

O ensino, especialmente <strong>de</strong> propaganda e marketing, com o compromisso com essas mutações contínuas, tem que rever<br />

a relação professor–aluno. Repito que o professor não é refém <strong>de</strong> currículo. O aluno não é um ser passivo e ignorante, que<br />

não contribui para nada. Ele precisa ser estimulado a essa contribuição, porque ele terá, orientado pelo professor, recursos <strong>de</strong><br />

autoconfiança, <strong>de</strong> aplicação dos seus conhecimentos, sabendo que há sempre uma linha evolutiva e ela é fundamental para<br />

triar profissionais que estejam mais bem i<strong>de</strong>ntificados com o mercado. Muito obrigado.<br />

francisco Gracioso<br />

Muito obrigado, Mário. Com isso, terminamos a fase <strong>de</strong> participação dos <strong>de</strong>batedores da mesa. Antes <strong>de</strong> abrir os <strong>de</strong>bates para<br />

os presentes e com o sentido <strong>de</strong> informá-los sobre tudo o que recebemos, peço agora ao nosso relator que faça um breve<br />

resumo das teses recebidas e consi<strong>de</strong>radas aprovadas pela Comissão para inclusão nos anais.<br />

José Roberto Whitaker Penteado<br />

Os trabalhos acolhidos pela Comissão foram:<br />

• “A incompetência diplomada”, da professora Manolita Correia Lima e do professor Ricardo Zagallo, um estudo rico e minucioso<br />

sobre a regulamentação da profissão do publicitário, que conclui por uma adoção <strong>de</strong> posição predominantemente<br />

contrária a esta regulamentação.<br />

• O estudo sobre graduados em propaganda e mercado <strong>de</strong> trabalho, do professor Mário Chamie, que propõe, baseado em<br />

dados, gráficos e estatísticas, a alteração <strong>de</strong> currículos e disciplinas, assim como uma maior integração entre as instituições <strong>de</strong><br />

ensino e as entida<strong>de</strong>s profissionais.<br />

• O trabalho “Formação acadêmica nas áreas <strong>de</strong> comunicação”, com algumas propostas do professor Vladimir Safatle, com<br />

implicações significativas, sugerindo que a futura formação acadêmica <strong>de</strong>verá estar focada em quatro eixos: a compreensão<br />

dos modos <strong>de</strong> produção da cultura <strong>de</strong> massa, o diálogo com o <strong>de</strong>senvolvimento tecnológico, a compreensão dos processos<br />

sociais e do consumo, e o conhecimento dos processos <strong>de</strong> produção <strong>de</strong> notícias na mídia.<br />

• O trabalho “Mercado publicitário na cultura digital”, da professora Graciela Presas Areu, que, basicamente, apoiada em reflexões<br />

<strong>de</strong> filósofos como o francês Alain Touraine, sugere ao mercado publicitário que, na cultura digital, será necessário criar<br />

comunida<strong>de</strong>s e não mais socieda<strong>de</strong>s.<br />

• O trabalho “Reflexões sobre o ensino universitário da publicida<strong>de</strong>”, dos professores Clóvis <strong>de</strong> Barros Filho e Maria Aparecida Bacega,<br />

consi<strong>de</strong>ram que é extremamente complexo o conjunto <strong>de</strong> conhecimentos e habilida<strong>de</strong>s necessárias ao profissional <strong>de</strong> comunicação<br />

e que a partir do conjunto <strong>de</strong> características da realida<strong>de</strong> contemporânea, emergem as novas práticas publicitárias.<br />

Um trabalho chegou a esta Comissão ontem à noite. Trata-se <strong>de</strong> um trabalho <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> complexida<strong>de</strong> e a Comissão ainda<br />

não pô<strong>de</strong> estudá-lo em todos os seus aspectos, mas ele trata da formação integrada que será necessária tendo em vista a nova<br />

ca<strong>de</strong>ia produtiva da comunicação. é um trabalho que inclui vários professores da Escola <strong>de</strong> Associações e Entida<strong>de</strong>s e está<br />

sendo li<strong>de</strong>rado pelo Centro <strong>de</strong> Altos Estudos <strong>de</strong> Propaganda e Marketing (CAEPM). Esse estudo já está no site <strong>de</strong>sta Comissão,<br />

on<strong>de</strong> po<strong>de</strong>rá ser examinado por todos.<br />

francisco Gracioso<br />

Terminamos. Todas são teses com conteúdo importante e que vale a pena ler com cuidado. Todas estão no site da nossa<br />

Comissão. Passo o microfone para o nosso secretário, Luiz Fernando Garcia, que conduzirá esta parte importante <strong>de</strong> <strong>de</strong>bates<br />

com a platéia. Na verda<strong>de</strong>, o regulamento é muito claro e já foi comunicado pela absoluta impossibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> estabelecermos<br />

réplica e discussão, pois não há tempo para isso. O regulamento prevê a apresentação <strong>de</strong> propostas, colocações sobre o tema,<br />

que serão registradas pela mesa.<br />

294 295<br />

COMISSÃO 9 - A EDUCAÇÃO, A PROFISSÃO E O MERCADO


luiz fernando Garcia<br />

Nós tivemos na verda<strong>de</strong> quatro perguntas e elas serão encaminhadas <strong>de</strong>pois aos <strong>de</strong>batedores e po<strong>de</strong>remos, posteriormente,<br />

falar a respeito, mas durante esta apresentação, consi<strong>de</strong>ramos apenas as intervenções. Recebemos 14 intervenções, sendo<br />

oito relacionadas a currículo, educação e formação <strong>de</strong> professores. Iniciaremos por elas, em virtu<strong>de</strong> <strong>de</strong> serem <strong>de</strong> maior <strong>de</strong>manda.<br />

Depois, temos três propostas específicas <strong>de</strong> alteração da tese, um contraponto com a Comissão <strong>de</strong> Comunicação<br />

Integrada (vale o registro) e duas em relação à regulamentação, que <strong>de</strong>ixarei para o final justamente para que tenhamos mais<br />

tempo para elas. A or<strong>de</strong>m aqui foi apenas <strong>de</strong> agrupamento, não há nenhuma preferência.<br />

Sandra Sousa, da ECA – uSP<br />

São duas colocações. Antes <strong>de</strong> se discutir novas disciplinas ou cursos, é importante pensarmos o mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> educação nesta<br />

nossa área, um mo<strong>de</strong>lo pedagógico e também a estrutura administrativa para operacionalizar esse novo mo<strong>de</strong>lo, <strong>de</strong> disciplinas<br />

sequenciadas, isoladas, com quatro horas aula, duas aulas semanais, com um só docente responsável, que mal tem tempo<br />

<strong>de</strong> conversar com os colegas, a não ser em reuniões <strong>de</strong> planejamento. Esse é um mo<strong>de</strong>lo que precisa ser repensado, porque<br />

ele estará mesmo con<strong>de</strong>nado <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> alguns anos para segurar nossos alunos nesse tipo <strong>de</strong> trabalho, pensando que em<br />

algum momento, eles farão essa integração sozinhos, com base nesses conhecimentos. Outra coisa que eu coloquei como<br />

pergunta, mas vale como reflexão: o que significa, hoje, um curso <strong>de</strong> comunicação social? Em duas décadas, caminhamos para<br />

uma crescente especialização. O que é a comunicação social hoje? é publicida<strong>de</strong>? é jornalismo, relações públicas? Será que<br />

temos que pensar em “caixinhas” separadas, ou num mo<strong>de</strong>lo novo, reciclado, com uma proposta realmente nova?<br />

Tatiana Ferrentini<br />

Boa tar<strong>de</strong>. O que eu coloquei não tem a ver, necessariamente, com a tese, mas fui bastante inspirada pelo que o Julio falou. Eu<br />

também tenho formação em psicologia e trabalho com aconselhamento <strong>de</strong> carreira, com os alunos da graduação da ESPM,<br />

com os alunos do curso <strong>de</strong> graduação e dos outros cursos também (administração, <strong>de</strong>sign e relações internacionais) e percebo<br />

que existe um paradoxo. As pessoas mais ousadas e questionadoras costumam encontrar uma barreira <strong>de</strong> entrada no mercado<br />

– não nas agências <strong>de</strong> publicida<strong>de</strong>, que absorvem 10% ou 35% (as duas cifras foram citadas pela mesa <strong>de</strong> <strong>de</strong>batedores) –,<br />

em relação aos gran<strong>de</strong>s grupos empresariais. Percebo que aquele que entra e que a sua primeira questão é, como diz o Julio, “o<br />

que eu vou quebrar aqui?”, não é muito bem recebido pelas gran<strong>de</strong>s empresas, incluindo os <strong>de</strong>partamentos <strong>de</strong> marketing.<br />

Acho que o <strong>de</strong>safio é como formar e absorver profissionais questionadores, ousados, atuantes, se a gran<strong>de</strong> busca do aluno do<br />

ensino superior é a empregabilida<strong>de</strong>? Esse <strong>de</strong>safio <strong>de</strong>ve ser colocado a todos os atuantes neste mercado: veículos, faculda<strong>de</strong>s,<br />

pós-graduações, mestrados, agências e, inclusive, anunciantes.<br />

maria José Vilafanha Ribeiro – uNISAl – Centro universitário Salesiano <strong>de</strong> Americana<br />

Gostaria <strong>de</strong> reiterar o problema do esteriótipo do aluno <strong>de</strong> comunicação. Ele é colocado, inclusive nas universida<strong>de</strong>s on<strong>de</strong> há<br />

outros cursos, como um aluno mais irreverente, indisciplinado e isso realmente causa certo incômodo. Estamos conseguindo<br />

mudar esse mo<strong>de</strong>lo na própria faculda<strong>de</strong>, justamente baseados na cartilha <strong>de</strong> Julio Ribeiro como profissionais pensadores da<br />

comunicação, e não aqueles criativos <strong>de</strong> ca<strong>de</strong>iras <strong>de</strong> agências <strong>de</strong> propaganda, inclusive tornando, ao nosso redor, na região<br />

metropolitana <strong>de</strong> Campinas, a colocação do aluno <strong>de</strong> comunicação social como uma necessida<strong>de</strong> empresarial em qualquer<br />

segmento do mercado, não só nas arenas da comunicação. Também queria colocar a dificulda<strong>de</strong> dos nossos conteúdos<br />

programáticos em formar empreen<strong>de</strong>dores da comunicação, pensadores. Essa dificulda<strong>de</strong> é muito gran<strong>de</strong>. Registro que fico<br />

feliz em encontrar um ex-aluno que era um contestador em sala <strong>de</strong> aula, quebrou algumas situações e está aqui, neste feliz<br />

reencontro. Obrigada e parabéns a todos os que estão aqui, lutando pela educação na comunicação.<br />

Gisela madureira, professora das universida<strong>de</strong>s Estácio <strong>de</strong> Sá e Gama filho<br />

Quero fazer três ressalvas rápidas. A primeira é sobre a importância do professor para a educação. Muito se falou do aluno<br />

e pouco se falou do professor. A segunda é a falta <strong>de</strong> reconhecimento do professor pelo mercado, a dificulda<strong>de</strong> que temos<br />

<strong>de</strong> trabalhar nas duas áreas, a tal ponto que uma vez, numa das escolas, um aluno perguntou: “além <strong>de</strong> dar aula, a senhora<br />

trabalha?”. Também há a falta <strong>de</strong> base dos alunos que vêm para nós nos cursos superiores. Eles são praticamente analfabetos.<br />

Muito obrigada.<br />

fernanda marques, da Vale<br />

Bom dia. A minha questão está relacionada à inovação: como estimular os alunos a serem inovadores, se os próprios professores<br />

não são inovadores, ou se esforçam para sê-lo? Muitas vezes essa provocação não é feita em sala <strong>de</strong> aula. Lembro-me do<br />

tempo em que eu estava estudando e essa questão é difícil: existe a necessida<strong>de</strong> da inovação, mas não há estímulos e essa<br />

formação por parte dos professores. Obrigada.<br />

luiz fernando Garcia<br />

Tenho uma intervenção <strong>de</strong> um anônimo. Alguém que vai comentar sobre as áreas <strong>de</strong> marketing e comunicação vem <strong>de</strong><br />

vertentes diferentes. Não seria o caso <strong>de</strong> pensar em uma segmentação <strong>de</strong> profissionais?<br />

Emmanual Publio Dias, da ESPm<br />

Boa tar<strong>de</strong>, obrigado pela possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> participar <strong>de</strong>ste painel. Adianto que esta é a minha nova profissão. Sou publicitário<br />

há muito tempo, mas recentemente passei a trabalhar no universo da educação, estou procurando apren<strong>de</strong>r e isso tem sido<br />

muito bom para mim. Acabo <strong>de</strong> voltar do festival <strong>de</strong> Cannes e o principal espaço publicitário do palais estava ocupado por<br />

um anunciante brasileiro, a FilmBrazil, um lugar que antigamente era ocupado pela Microsoft e pelas gran<strong>de</strong>s re<strong>de</strong>s <strong>de</strong> comunicação<br />

e agências <strong>de</strong> propaganda. A minha proposta é que esta Comissão recomen<strong>de</strong> às instituições <strong>de</strong> ensino superior<br />

que invistam nos processos <strong>de</strong> internacionalização <strong>de</strong> seus currículos, no sentido <strong>de</strong> formar profissionais para esse mercado<br />

mundial, e também no sentido <strong>de</strong> receber alunos e professores <strong>de</strong> outros países, para que efetivamente possamos acompanhar<br />

o mercado, porque ele já está lá fora.<br />

miriam Aguiar, da faculda<strong>de</strong> Promove, <strong>de</strong> belo Horizonte<br />

Gostaria <strong>de</strong> falar um pouco sobre a angústia que passo no meu cotidiano acadêmico. Sou coor<strong>de</strong>nadora <strong>de</strong> uma faculda<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> médio porte em Belo Horizonte e passo pelo que a outra professora falou, sobre receber alunos “analfabetos”, mas acho<br />

que <strong>de</strong>vemos pensar num mol<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> comunicação que prepare as pessoas para pensar criticamente, criar e tornar essas<br />

idéias executáveis. Quando falamos no âmbito <strong>de</strong> universida<strong>de</strong>s fe<strong>de</strong>rais ou privadas, do porte da ESPM, é um tanto mais fácil<br />

do que a maioria <strong>de</strong> várias faculda<strong>de</strong>s, com várias formações. Recebemos alunos pouco preparados, com várias <strong>de</strong>ficiências<br />

básicas e vivemos uma angústia <strong>de</strong> como fazer com o problema. Devemos tentar diminuir essas dificulda<strong>de</strong>s, prepará-los para<br />

concorrer nesse mercado tão complexo e mutante, como já vimos aqui, elevar o nível <strong>de</strong> expectativa <strong>de</strong>sses alunos, ou, sendo<br />

educadores mais realistas, <strong>de</strong>vemos começar a trabalhar num nível mais técnico, para prepará-los para outras categorias <strong>de</strong><br />

mercado? Como solucionar isso <strong>de</strong> uma forma que não seja um engodo, para que possamos respeitar essas pessoas que nos<br />

chegam? é um <strong>de</strong>safio.<br />

luiz fernando Garcia<br />

Na minha arbitrária divisão, entramos agora em proposições mais diretas <strong>de</strong> alteração da tese.<br />

Eduardo Godoy – Presi<strong>de</strong>nte da Associação brasileira <strong>de</strong> marketing e Negócios<br />

Obrigado, não só como presi<strong>de</strong>nte da Associação Brasileira <strong>de</strong> Marketing e Negócios, mas também como pedagogo (fui aluno<br />

<strong>de</strong> Paulo Freire). A questão é muito simples e colocamos muito isso na publicida<strong>de</strong>. é a relação cultural, o conhecimento da<br />

cultura é tão importante quanto o meio ambiente <strong>de</strong> que estamos falando.<br />

Não sei se é o terceiro ou quarto parágrafo da tese, que fala “socioambiental”, mas não cita o cultural. Eu acrescentaria a expressão<br />

cultural, porque na verda<strong>de</strong>, o que fica é a tese que será publicada e é uma questão importante.<br />

luiz fernando Garcia<br />

Registrado e será votado na sequência.<br />

Armando ferrentini – Editora Referência<br />

Estamos numa Comissão que tem que ter a sua tese aprovada para ser encaminhada ao plenário amanhã. Ouvi a brilhante exposição<br />

que o Chamie muito justamente chama <strong>de</strong> conferência – é mais do que uma conferência, permita-me a colaboração,<br />

Chamie. O Julio Ribeiro, <strong>de</strong> quem eu já tive o privilégio <strong>de</strong> ver e ouvir mais <strong>de</strong> 100 palestras ao longo <strong>de</strong>sses 40 anos em que<br />

nos conhecemos, fez hoje a melhor <strong>de</strong>las, provando que ele consegue realmente jogar o velho conhecimento fora e sempre<br />

adquirir um novo conhecimento. Essa é a nossa obrigação como comunicadores, mas ele fez uma palestra com alguns pontos<br />

básicos e a minha proposta é que eles sejam embutidos na tese, para que ela seja mais revolucionária. Esta tese tem uma proposta,<br />

no seu último item, <strong>de</strong> a tese ser aprovada e continuar, não ficando apenas arquivada nos anais, à disposição <strong>de</strong> quem<br />

quiser consultá-la, mas a Comissão fará com que a tese seja sempre reavivada, atualizada e que possa realmente influenciar o<br />

ensino e a socieda<strong>de</strong> como um todo.<br />

Nesse processo altamente dinâmico, a minha proposta é para que a Comissão apanhe alguns dos ensinamentos básicos da<br />

palestra do Julio e faça com que a tese tenha esses ensinamentos, para que ela seja muito mais enriquecida. Muito obrigado.<br />

luiz fernando Garcia<br />

E agora, com proposta <strong>de</strong> duas alterações, André Porto Alegre, da Associação dos Profissionais <strong>de</strong> Propaganda<br />

André Porto Alegre<br />

Obrigado, bom dia. Armando, você é bem mais feliz do que eu. Esta é a segunda palestra que eu assisto do Julio Ribeiro.<br />

Parabéns, presi<strong>de</strong>nte, Comissão, relator, secretário; parabéns, Julio, pela palestra, aos membros. Queria cumprimentá-los pelo<br />

trabalho feito, pelas teses apresentadas e no mesmo sentido que o Armando coloca, vamos tirar daqui uma <strong>de</strong>cisão que será<br />

votada por nós, pela maioria, e será encaminhada para o plenário. Pelas próprias intervenções que pu<strong>de</strong>mos observar até aqui,<br />

eu gostaria, sr. secretário, <strong>de</strong> sugerir o seguinte: acho mais a<strong>de</strong>quado a um <strong>Congresso</strong> que se <strong>de</strong>nomina <strong>Congresso</strong> <strong>Brasileiro</strong><br />

<strong>de</strong> Publicida<strong>de</strong> que, com todo o respeito que eu <strong>de</strong>vo à Escola Superior <strong>de</strong> Propaganda e Marketing, que se retirasse do texto<br />

do item 2 a expressão “Escola Superior <strong>de</strong> Propaganda e Marketing”, como uma escola <strong>de</strong> vanguarda, que nós sabemos que<br />

é um centro <strong>de</strong> excelência (nós sabemos que reconhecidamente é), mas que, sem dúvida, também <strong>de</strong>ve incluir os outros<br />

centros <strong>de</strong> excelência. Existem por esse Brasil afora cerca <strong>de</strong> 470 escolas <strong>de</strong> propaganda somente, e esta Comissão, em todos<br />

os seus trabalhos, vem falando das ativida<strong>de</strong>s afins. A minha recomendação é que no texto final seja suprimida, com todo o<br />

respeito que a ESPM merece.<br />

A segunda colocação é a questão sobre a regulamentação. Todos recebemos uma pesquisa focada diretamente sobre a questão<br />

da regulamentação da profissão. Não me parece que tenha ficado explícito que essa Comissão iria discutir a questão da regulamentação.<br />

Eu gostaria <strong>de</strong> propor que essa pesquisa fosse feita no 20º Festival Universitário <strong>de</strong> Propaganda, que reúne dois mil<br />

alunos em São Paulo, na Faap e é patrocinado pela APP. Po<strong>de</strong>ríamos ter um universo melhor do que se pensa sobre o assunto.<br />

Eu estou pedindo a supressão <strong>de</strong> um item inteiro da tese na questão da regulamentação e gostaria que isso fosse votado,<br />

porque acho que teremos muito mais base – apesar <strong>de</strong> o sr. relator ter dito que o brilhante trabalho, o primeiro que ele citou,<br />

tem uma tendência <strong>de</strong> ser contra a regulamentação, acredito que <strong>de</strong>veríamos esperar pelo resultado <strong>de</strong>ssa pesquisa, ou até<br />

incluir essa temática na sugestão dada pelo Armando, que é a discussão permanente. Recomendo a supressão do item 4 da<br />

nossa tese. Muito obrigado.<br />

luiz fernando Garcia<br />

Em relação a uma conclusão da Comissão <strong>de</strong> Comunicação Integrada, Marcelo Goroditch, da Agnelo Pacheco do Rio <strong>de</strong> Janeiro.<br />

marcelo Goroditch<br />

Boa tar<strong>de</strong> e obrigado pelo fato <strong>de</strong> a Comissão ter trazido o Julio Ribeiro. Para mim, já valeu o <strong>Congresso</strong>. Ontem na Comissão<br />

<strong>de</strong> Comunicação Integrada, presidida pelo Eduardo Fischer, o que se colocou no primeiro item da proposta <strong>de</strong>les era a cria-<br />

296 297<br />

COMISSÃO 9 - A EDUCAÇÃO, A PROFISSÃO E O MERCADO


ção <strong>de</strong> uma ca<strong>de</strong>ira nova <strong>de</strong> comunicação integrada nas faculda<strong>de</strong>s. Quando ouvi aquilo, eu, que venho <strong>de</strong> uma família <strong>de</strong><br />

educadores, pensei que fosse um absurdo completo, exatamente o que o Luiz Fernando falou sobre criar ca<strong>de</strong>iras <strong>de</strong>mais e os<br />

estudantes não acabariam nunca. Man<strong>de</strong>i a minha crítica, mas parece que lá o filtro era <strong>de</strong> censura e não me <strong>de</strong>ixaram falar.<br />

Eu queria registrar e <strong>de</strong>ixar claro: espero que as propostas daqui sobre comunicação integrada se sobreponham à proposta<br />

da Comissão <strong>de</strong> Comunicação Integrada, pois ela está em todas as ca<strong>de</strong>iras. O profissional <strong>de</strong> criação sabe que tem que criar<br />

um conceito e que este conceito tem que servir para tudo, não só para um anúncio <strong>de</strong> revista ou um comercial <strong>de</strong> TV. O profissional<br />

<strong>de</strong> mídia tem que saber programar todas as mídias, estar antenado, criar novas mídias. O profissional <strong>de</strong> atendimento,<br />

como administrador <strong>de</strong> todo o processo, tem que saber gerir todos os parceiros e o processo.<br />

No movimento inverso <strong>de</strong> uma professora que reconheceu um aluno, eu queria dizer que estou muito feliz em reconhecer<br />

um ex-professor meu <strong>de</strong> mídia <strong>de</strong> mais <strong>de</strong> 20 anos atrás, que está aqui se reciclando, o gran<strong>de</strong> Stanislau. Obrigado a todos e<br />

boa tar<strong>de</strong>.<br />

luiz fernando Garcia<br />

Falando em professores, um com que muitos <strong>de</strong> nós estudamos, Eloy Simões, hoje da Unisul, falando da regulamentação do<br />

ensino.<br />

Eloy Simões<br />

Bom dia. Eu queria cumprimentar você pela sua sugestão em relação à regulamentação. Foi a melhor sugestão dada hoje. Vou<br />

ler um texto que fiz em 1 <strong>de</strong> julho, quando li a constituição <strong>de</strong>sta Comissão. Sentei diante do computador com a lista e escrevi<br />

o seguinte: um velho político mineiro ensinou que reunião boa é aquele em que as coisas são <strong>de</strong>cididas antes <strong>de</strong> acontecerem.<br />

Nesta Comissão, a reunião para discussão da regulamentação profissional foi uma reunião boa e a conclusão é óbvia:<br />

o meu ídolo, Francisco Gracioso, presi<strong>de</strong>nte da Comissão e ex-presi<strong>de</strong>nte da ESPM, já se manifestou publicamente contra a<br />

regulamentação. Meu irmão, José Roberto Whitaker Penteado Filho, relator da Comissão e diretor da ESPM também. Dois dos<br />

<strong>de</strong>batedores são professores da ESPM. O presi<strong>de</strong>nte do Conselho Superior da ESPM, meu amigo Armando Ferrentini, é outro<br />

que se manifestou contra publicamente em dois editoriais, um <strong>de</strong>les, inclusive, in<strong>de</strong>licado para com os professores <strong>de</strong> comunicação<br />

<strong>de</strong> cursos e faculda<strong>de</strong>s fora do eixo Rio–São Paulo, favoráveis à regulamentação e chamados por ele <strong>de</strong> “puxa-sacos<br />

<strong>de</strong> alunos” por causa <strong>de</strong>ssa aquisição. Então, como não ser contra? Nesta Comissão, não há representante <strong>de</strong> universida<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />

outras cida<strong>de</strong>s do país, que teriam a chance <strong>de</strong> mostrar que não são tão puxa-sacos assim.<br />

Trocando em miúdos: aquela pluralida<strong>de</strong> <strong>de</strong> idéias <strong>de</strong> que tanto falou o presi<strong>de</strong>nte <strong>de</strong>ste <strong>Congresso</strong> “foi para as cucuias” nesta<br />

Comissão. Fica aqui, por isso, com todo o meu respeito por esta Comissão, o meu protesto. Florianópolis, 1 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 2008,<br />

data em que esta mensagem foi escrita, logo após o autor ter lido, no Meio & Mensagem, a constituição das Comissões <strong>de</strong>ste<br />

<strong>Congresso</strong>. Muito obrigado.<br />

Thalion mota – TTA Propaganda<br />

O que está acontecendo neste <strong>IV</strong> <strong>Congresso</strong>, 30 anos <strong>de</strong>pois, quando vivíamos em 1978 uma ditadura, <strong>de</strong> certa forma, é um<br />

cavalo arriado que passa, para po<strong>de</strong>rmos aproveitar melhor alguns pontos que são cruciais para esses estudantes que hoje<br />

olham para nós e perguntam o que será do trabalho <strong>de</strong>les nos próximos anos. Lembro que na década <strong>de</strong> 70, nós, que fazíamos<br />

o curso <strong>de</strong> marketing, éramos atacados pela ABTA, Associação Brasileira dos Técnicos <strong>de</strong> Administração, que diziam que não<br />

po<strong>de</strong>ria haver o curso <strong>de</strong> marketing. Hoje, este curso está ligado à administração <strong>de</strong> empresas (administração e marketing).<br />

Nós, que temos um curso superior na velha guarda, pagamos as contribuições do Conselho Regional <strong>de</strong> Administração (CRA),<br />

OAB, Conselho Regional <strong>de</strong> Economia e não temos o nosso conselho regional. Acho que po<strong>de</strong>ríamos recolher e constituir uma<br />

base <strong>de</strong> arrecadação para estruturar todo um setor.<br />

Acredito que seja um assunto complicado, mas acho que não po<strong>de</strong>mos per<strong>de</strong>r a chance <strong>de</strong> bater na questão da regulamentação,<br />

pois leva muitos anos para se conseguir efetivamente implementar isso. Na minha opinião, a gran<strong>de</strong> ban<strong>de</strong>ira que nós<br />

<strong>de</strong>vemos encarar neste momento é a seguinte: se queremos fortalecer a categoria, as instituições, esse fortalecimento começa<br />

pelo fortalecimento do indivíduo, do profissional em si.<br />

Sem nenhum <strong>de</strong>mérito, até os corretores <strong>de</strong> imóveis têm os seus conselhos, o Creci. Se nós não colocarmos isso como pedra<br />

<strong>de</strong> toque para as futuras estruturações profissionais — quem somos, o que fazemos, temos o nosso próprio conselho <strong>de</strong><br />

ética, código <strong>de</strong> ética profissional, as agências não terão a estrutura que gostaríamos que elas tivessem, e elas nunca po<strong>de</strong>rão<br />

oferecer um estágio tão bom como gostariam, e assim por diante. Ao ver o risco <strong>de</strong> não se encaminhar pela proposta a questão<br />

da regulamentação, fico preocupado e coloco que nós estamos, hoje, diante <strong>de</strong> um dilema e se adiarmos mais uma vez<br />

essa questão, estaremos per<strong>de</strong>ndo tempo. Ela é uma questão inadiável e eu acho fundamental que tenhamos a posição <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r a questão da regulamentação.<br />

Nós, publicitários, temos hoje, além das agências <strong>de</strong> propaganda, no varejo, também um gran<strong>de</strong> mercado. é importante aproveitar<br />

este momento histórico e não esparar mais 30 anos para começar novamente.<br />

luiz fernando Garcia<br />

Questão <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m. O relator e, na seqüência, o presi<strong>de</strong>nte.<br />

José Roberto Whitaker Penteado<br />

Tenho que confessar um esquecimento como relator da Comissão. Quando nós tivemos a última reunião da Comissão, eu fiquei<br />

encarregado <strong>de</strong> ter um contato com a Comissão <strong>de</strong> Mercados Regionais e não esqueci <strong>de</strong> ter o contato, mas esqueci <strong>de</strong> trazer<br />

aqui o resultado <strong>de</strong>ste contato. O fato <strong>de</strong> eu não ter incluído esse item no início dos trabalhos po<strong>de</strong> acabar prejudicando as conclusões.<br />

Portanto, quero mais <strong>de</strong>z segundos para dizer que estive com o Ricardo Nabhan, presi<strong>de</strong>nte da Comissão A Realida<strong>de</strong><br />

dos Mercados Regionais ontem à noite e levei a ele a conclusão à qual chegamos, <strong>de</strong> que iríamos incluir nas nossas conclusões<br />

uma consi<strong>de</strong>ração <strong>de</strong> que a Comissão <strong>de</strong> Educação achava importante que se levassem em consi<strong>de</strong>ração as características<br />

regionais dos mercados nas escolas, na constituição dos currículos, professores, etc., e que ele iria fazer a mesma recomendação<br />

na Comissão dos Mercados Regionais. Peço <strong>de</strong>sculpas pelo atraso <strong>de</strong>ssa informação. Esta consi<strong>de</strong>ração também faz parte das<br />

recomendações: levar em conta as características regionais na questão dos currículos, professores, disciplinas, etc. Obrigado.<br />

francisco Gracioso<br />

O regulamento pe<strong>de</strong> que o relatório <strong>de</strong>sta Comissão seja aprovado formalmente pelos <strong>de</strong>legados presentes. Temos alguns<br />

problemas a consi<strong>de</strong>rar. Pelo menos na minha visão, o único ponto realmente controverso é o da regulamentação da profissão.<br />

Eu continuo — e creio que os meus colegas <strong>de</strong> Comissão também — consciente <strong>de</strong> que chegamos à melhor <strong>de</strong>cisão<br />

possível, respeitando, embora, as opiniões como a do Eloy, que vem <strong>de</strong> longa data e mostra muita consistência nos argumentos<br />

que apresenta. De qualquer maneira, eu não vejo outra alternativa, a não ser submeter à votação em primeiro lugar este<br />

<strong>de</strong>staque, a questão da regulamentação, o item 4 do nosso relatório.<br />

Peço aos presentes que se manifestem.<br />

José Roberto Whitaker Penteado<br />

Há uma sugestão <strong>de</strong> que se projete na tela o item 4 do relatório.<br />

francisco Gracioso<br />

Por favor, leiam e eu repetirei minha pergunta.<br />

José Roberto Whitaker Penteado<br />

Finalmente, a vertiginosa diversificação das ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> comunicação com o mercado e a exigência <strong>de</strong> talentos e capacitações<br />

cada vez mais variados tornaram <strong>de</strong>finitivamente superada a visão <strong>de</strong> uma publicida<strong>de</strong> como profissão única, passível<br />

<strong>de</strong> ser classificada, regulamentada e contar com o reconhecimento público oficial da profissão. A evolução da categoria e<br />

entida<strong>de</strong>s atuantes em diversas áreas, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a realização do III <strong>Congresso</strong>, em 1978, dão um significativo testemunho <strong>de</strong>ssa<br />

realida<strong>de</strong>.<br />

francisco Gracioso<br />

Nossa pergunta é a seguinte: quem está <strong>de</strong> acordo com a manutenção <strong>de</strong>ste item na íntegra, como está colocado, permaneça<br />

como está.<br />

Armando ferrentini<br />

Antes <strong>de</strong> fazer a votação, queria fazer um esclarecimento, pois fui citado pelo Eloy, meu irmão. Na minha opinião, eu não<br />

coloquei no meu editorial as palavras da forma citada por ele. Eu sou contra a regulamentação, mas não seria tão in<strong>de</strong>licado<br />

com os meus leitores como o Eloy foi comigo agora. Eu jamais usei a expressão “puxa-saco”. é simplesmente uma questão <strong>de</strong><br />

opinião e esta é a essência <strong>de</strong> um <strong>Congresso</strong> como este.<br />

A regulamentação, a meu ver, é ruim, porque tenho o exemplo da minha classe, que não é <strong>de</strong> publicitários, mas <strong>de</strong> jornalistas.<br />

A regulamentação da profissão <strong>de</strong> jornalista diminuiu o nível <strong>de</strong> exigência e talento, repito, a meu ver. Muito obrigado.<br />

André Porto Alegre<br />

Eu serei breve. Eventualmente, mesmo respeitando a posição do companheiro que disse que <strong>de</strong>veríamos retirar <strong>de</strong>ste <strong>Congresso</strong><br />

a questão da regulamentação, eu concordo, mas acho que não <strong>de</strong>veríamos retirar <strong>de</strong>sta Comissão, pois hoje, tivemos<br />

uma <strong>de</strong>monstração brilhante <strong>de</strong> diversos aspectos <strong>de</strong> educação, <strong>de</strong> propaganda e, <strong>de</strong> fato, não é tema para esta Comissão a<br />

questão da regulamentação.<br />

A minha sugestão, sr. secretário, é que se retire “passível <strong>de</strong> ser classificada, regulamentada e contar com o reconhecimento<br />

público oficial da profissão” e se coloque este item como uma preocupação <strong>de</strong>sta Comissão no item 5, na continuida<strong>de</strong> das<br />

conversas. Tiraremos da tese e, já que estamos nos propondo a continuar essa discussão, que coloquemos inclusive a questão<br />

da regulamentação, mas não como uma tese para ser levada para plenário. Obrigado.<br />

José Roberto Whitaker Penteado<br />

Nós não tínhamos a previsão original do <strong>de</strong>bate, mas o <strong>de</strong>bate pe<strong>de</strong> e merece esta discussão. Teremos que limitar a proposta<br />

<strong>de</strong> intervenção em função do tempo, apesar da candura e da essência <strong>de</strong> cada um <strong>de</strong> vocês.<br />

Tivemos meia hora <strong>de</strong> atraso inicial e acho que estamos <strong>de</strong>ntro do perfil. Eu não quero prejudicar a participação <strong>de</strong> cada um<br />

<strong>de</strong> nós à tar<strong>de</strong>. Aceitamos continuar com pelo menos mais três intervenções que estão sendo pedidas?<br />

Não i<strong>de</strong>ntificado<br />

é um regulamento que os professores e estudantes não po<strong>de</strong>m votar, mas nós fazemos parte da massa crítica <strong>de</strong>sta Comissão,<br />

então eu gostaria <strong>de</strong> saber quem po<strong>de</strong> votar aqui e quem tem direito a voto, inclusive em relação a esta questão. Pelo item “f”<br />

do regulamento, nós somos inscritos, mas professores e estudantes formam uma categoria à parte, que está presente, mas não<br />

é bem-vinda nas <strong>de</strong>cisões <strong>de</strong> peso. Esta é até uma mudança <strong>de</strong> postura <strong>de</strong>ste <strong>Congresso</strong>. Nós fazemos parte da massa crítica<br />

e vamos trabalhar em conjunto nesses caminhos que simbolizam a marca, o símbolo gráfico do <strong>Congresso</strong>. é uma questão a<br />

ser <strong>de</strong>cidida.<br />

Não i<strong>de</strong>ntificado<br />

Gostaria <strong>de</strong> pedir à presidência da mesa apenas que colocasse a votação <strong>de</strong> uma forma um pouco diferente: que se contassem<br />

os votos contra e a favor, e não da forma “quem estiver <strong>de</strong> acordo, permaneça como está”, porque às vezes isso inibe. é<br />

importante que a pessoa levante o braço e que sejam contados os votos contra e os votos a favor. Não é aqui que iremos<br />

resolver o assunto, mas pelo menos esse <strong>Congresso</strong> já sai com a opinião <strong>de</strong> que o assunto tem que ser colocado em pauta e<br />

encarado como importante.<br />

Não i<strong>de</strong>ntificado<br />

O companheiro fez uma intervenção <strong>de</strong> bom-senso, criando uma terceira alternativa, que é a supressão <strong>de</strong> uma linha. O<br />

primeiro bloco da frase iria até “como profissão única”, eliminando “passível <strong>de</strong> ser classificada, regulamentada e contar com o<br />

reconhecimento público oficial da profissão”. Isso resolve.<br />

298 299<br />

COMISSÃO 9 - A EDUCAÇÃO, A PROFISSÃO E O MERCADO


José Roberto Whitaker Penteado<br />

Como relator e também como escritor, portanto, alguém que lida com palavras, eu gostaria <strong>de</strong> fazer uma observação. é evi<strong>de</strong>nte<br />

que a realização <strong>de</strong> uma pesquisa nesse momento por uma professora ligada à escola <strong>de</strong>monstra que nenhum dos<br />

membros da escola consi<strong>de</strong>ra que este assunto foi <strong>de</strong>finitivamente encerrado, nem enterrado.<br />

Consi<strong>de</strong>ro que há apenas uma palavra nessa redação que foi infeliz, e que foi redigida por mim: “<strong>de</strong>finitivamente”. As opiniões<br />

po<strong>de</strong>m variar, mas tenho a impressão <strong>de</strong> que se cortássemos esta palavra, a frase expressaria melhor a opinião da Comissão.<br />

Acredito que a idéia geral seria <strong>de</strong> que a Comissão não é a favor <strong>de</strong> uma regulamentação. As pesquisas e os estudos continuam.<br />

A Comissão permanente po<strong>de</strong>ria continuar estudando o assunto. Este é o espírito da tese da Comissão.<br />

francisco Gracioso<br />

Acho que uma das hipóteses levantadas aqui é inviável: que a Comissão retire da pauta o item sobre regulamentação. Isto veio<br />

muito claro na pauta que nos foi entregue e nós <strong>de</strong>vemos, no mínimo, manifestar a nossa opinião a respeito. O José Roberto<br />

está sugerindo uma leve mudança e ocorre-me agora uma outra possibilida<strong>de</strong>: como vocês viram no texto completo da nossa<br />

tese, nós estamos propondo que esta Comissão <strong>de</strong> Educação seja mantida após o encerramento do <strong>Congresso</strong>.<br />

Nós acreditamos que os temas tratados aqui são <strong>de</strong> muita relevância, <strong>de</strong> muita profundida<strong>de</strong>, e não é apenas a questão da<br />

regulamentação. Inúmeros outros aspectos foram levantados ao longo <strong>de</strong>sta manhã. Acho que po<strong>de</strong>ríamos, no caso da regulamentação,<br />

<strong>de</strong> alguma maneira, mexer no texto e dizer claramente que a Comissão, embora não consi<strong>de</strong>re viável a idéia no<br />

momento, recomenda que este assunto seja confiado à Comissão permanente que vai surgir, para que o estudo continue e se<br />

chegue a uma conclusão <strong>de</strong>finitiva. é uma proposta que faço.<br />

Temos, na verda<strong>de</strong>, três hipóteses bem claras agora. Em primeiro lugar, retirar-se pura e simplesmente o item 4 do nosso<br />

relatório. Em segundo lugar, mantê-lo tal como está, com a mudança sugerida pelo José Roberto, a retirada da palavra “<strong>de</strong>finitivamente”.<br />

Em terceiro lugar, que o item seja reformulado com a sugestão <strong>de</strong> que o assunto continue a ser discutido pela<br />

Comissão permanente que surgirá.<br />

Peço que vocês se manifestem sobre as três hipóteses e, <strong>de</strong> alguma maneira, a mesa terá <strong>de</strong> observar atentamente os movimentos<br />

que surgirem, para ver quem realmente tem mais razão.<br />

Em primeiro lugar, o item permanece no relatório, tal como está, com a mudança do “<strong>de</strong>finitivamente”, sugerida pelo José<br />

Roberto.<br />

Para facilitar, aqueles que estão <strong>de</strong> acordo com isto, levantem-se. Todos os <strong>de</strong>legados presentes nesta sala têm direito a voto,<br />

sem a menor dúvida. São seis votos.<br />

A segunda hipótese: quem está <strong>de</strong> acordo com a retirada pura e simples <strong>de</strong>ste item e, naturalmente, a sua substituição por<br />

uma <strong>de</strong>claração <strong>de</strong> que a Comissão não se consi<strong>de</strong>rou apta ou capaz <strong>de</strong> chegar a uma conclusão sobre este assunto. Quem<br />

estiver <strong>de</strong> acordo com isto, por favor, levante-se. São 14 votos.<br />

Finalmente, a terceira hipótese, a que levantei por último: a Comissão <strong>de</strong>clara-se, em princípio, contrária à idéia, mas reconhece<br />

que o assunto <strong>de</strong>ve ser melhor estudado e o remete à Comissão que vier a ser formada, com caráter permanente.<br />

Estas são, portanto, as três hipóteses. Vamos novamente: quem vota pela manutenção do item 4 como está, levante-se. São<br />

seis votos.<br />

Quem vota pela retirada do item e a sua substituição por uma <strong>de</strong>claração da Comissão <strong>de</strong> que não se sentiu capaz <strong>de</strong> chegar<br />

a uma conslusão neste assunto, levante-se. São 8 votos.<br />

Finalmente, quem vota pela seguinte colocação: a Comissão <strong>de</strong>clara-se, em princípio, contrária à idéia, mas reconhece que<br />

o assunto é complexo, merece mais estudo <strong>de</strong>ve ser melhor estudado e o remete à Comissão que vier a ser formada, com<br />

caráter permanente. São 31 votos, foi a proposta vencedora e é a que vai constar do relatório.<br />

Sei que há outras pequenas alterações e antes <strong>de</strong> pedir que vocês aprovem o texto do relatório com esta mudança do item 4,<br />

eu gostaria <strong>de</strong> saber do relator se há algo mais a incluir nas mudanças.<br />

José Roberto Whitaker Penteado<br />

Há pequenas alterações. A mais radical <strong>de</strong>las é retirar do item 2 a ESPM. Eu gostaria que o presi<strong>de</strong>nte submetesse este item à<br />

votação. Este item está aprovado por aclamação.<br />

Os outros eu lerei em sequência, pois acredito que não há oposição, mas <strong>de</strong>vo fazê-lo para registro.<br />

Vamos acrescentar a questão da importância dos professores, a questão da internacionalização dos currículos e o item da<br />

parte cultural na parte on<strong>de</strong> se lê “socioeconômico ambiental”. Acredito que a questão dos mercados regionais também é<br />

importante. Quanto ao item 4, daremos a redação apropriada, mas acho que estão todos <strong>de</strong> acordo. Muito obrigado.<br />

francisco Gracioso<br />

Eu preciso <strong>de</strong>sta aprovação formal. Consi<strong>de</strong>ra-se aprovado o relatório ou a tese da Comissão? Quem concorda, fique sentado.<br />

Aprovado.<br />

Comissão 10<br />

CARGA TRIbuTÁRIA E RENTAbIlIDADE DE AGêNCIAS, fORNECEDORES E VEíCulOS<br />

Cyd Alvarez<br />

Bom dia a todos. Meu nome é Cyd Alvarez, sou presi<strong>de</strong>nte da Associação Brasileira <strong>de</strong> Propaganda (ABP) e tenho a enorme<br />

honra <strong>de</strong> presidir esta Comissão, que vai tratar <strong>de</strong> um tema cuja importância para nossos negócios não preciso nem ressaltar,<br />

seja qual for a área <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>. Antes <strong>de</strong> falar algumas palavras e iniciar o <strong>de</strong>bate, quero chamar meus companheiros <strong>de</strong> mesa<br />

e <strong>de</strong>stacar a ausência do Dr. Paulo Aragão, nosso palestrante, que sofreu uma cirurgia nas cordas vocais. Ele nos ajudou muito<br />

nesse trabalho e está aqui em pensamento. Para fazer a palestra temos o sócio <strong>de</strong>le, o Dr. Leandro Zancan, a quem chamo<br />

ao palco. Quero também chamar os outros membros da mesa: como relator, Dr. João Luiz Faria Netto, o secretário Ronaldo<br />

Rangel e os <strong>de</strong>batedores Roberto Tourinho, Antonio Lino e o Luiz Leite. Temos que <strong>de</strong>stacar um fato importantíssimo ocorrido<br />

ontem, a formação da Frente Parlamentar da Comunicação Social, com 198 <strong>de</strong>putados e 38 senadores. Significa que nosso<br />

trabalho, que vai tratar da carga tributária, não se encerra ao final <strong>de</strong>sta Comissão, porque vamos traduzir em fato aquilo que<br />

neste momento são propostas.<br />

O gran<strong>de</strong> foco <strong>de</strong>sta Comissão é sairmos com propostas muito claras para que seja possível implementá-las. Nossa dinâmica<br />

vai ocorrer da seguinte forma: teremos a palestra do Dr. Leandro, <strong>de</strong>pois alguns apartes dos membros da mesa e abriremos<br />

rapidamente para o <strong>de</strong>bate. Existe uma regra que vocês ouviram e eu gostaria <strong>de</strong> <strong>de</strong>stacar que as folhas para fazer perguntas<br />

não estão nas pastas, mas serão distribuídas assim que estivermos próximos do momento do <strong>de</strong>bate, para então encaminharem<br />

à mesa suas perguntas por escrito. Daí vamos lendo e respon<strong>de</strong>ndo. Tenho o prazer <strong>de</strong> chamar nosso palestrante, Dr.<br />

Leandro Zancan, advogado tributarista do escritório Barbosa, Müssnich & Aragão.<br />

leandro Zancan<br />

Quero falar sobre dois temas que preocupam e sobrecarregam a carga tributária do setor, especialmente em relação às duas<br />

contribuições sociais PIS e Cofins e ao ISS. O PIS e a Cofins nasceram originalmente como tributos cumulativos, com uma alíquota<br />

leve, mas ao longo do tempo, visando aten<strong>de</strong>r especialmente um clamor da indústria e do comércio, o Governo acabou<br />

mudando substancialmente a regra, passando-o para o regime não-cumulativo. Acabou atingindo a indústria da publicida<strong>de</strong><br />

e ela passou a sofrer incidência pelo regime não-cumulativo, com uma alíquota extremamente elevada.<br />

O ISS já é um tributo <strong>de</strong> muitos anos e on<strong>de</strong> o tributo é <strong>de</strong>vido, sempre foi o fato gerador <strong>de</strong> insegurança. As normas e a lei<br />

complementar <strong>de</strong> 2003 tentaram melhorar essa situação, mas para a indústria, ainda há algumas questões que geram dúvidas<br />

e precisam ser melhoradas. Meu objetivo aqui é relembrar um pouco os fatos: o PIS manteve-se no sistema cumulativo até<br />

2002 e a Cofins, até o início <strong>de</strong> 2004. A alíquota era <strong>de</strong> 3,65% sobre a receita bruta e não havia qualquer redução ou direito a<br />

crédito das contribuições a pagar. A partir <strong>de</strong>ssas datas, foi implantado o regime não-cumulativo e a alíquota passou <strong>de</strong> 3,65%<br />

para 9,25%, quase triplicando nesse período. Além disso, ela permitiu a compensação <strong>de</strong> certos créditos, bastante restritos no<br />

caso da ativida<strong>de</strong> publicitária, uma vez que não permite a <strong>de</strong>dução, especialmente <strong>de</strong> um dos componentes significativos da<br />

ativida<strong>de</strong>, a folha <strong>de</strong> pagamento.<br />

O PIS foi criado pela Medida Provisória 66, e, posteriormente, foi convertido na lei 10.637. Após a sua criação, foi concedido um<br />

longo prazo <strong>de</strong> 16 meses para a criação da Cofins não-cumulativa. A intenção era permitir que durante esse período fossem entendidos<br />

os efeitos da aplicação da não-cumulativida<strong>de</strong> e o quanto isso significaria <strong>de</strong> aumento da carga tributária, e que a Cofins<br />

já viesse numa situação que permitisse ajuste <strong>de</strong> eventuais distorções provocadas pelo sistema. Sem esses <strong>de</strong>bates, o Governo<br />

acabou, através <strong>de</strong> uma Medida Provisória em 2003, impondo a não-cumulativida<strong>de</strong> à Cofins, como acontece com o PIS, convertido<br />

posteriormente numa lei que vigora até hoje. A não-cumulativida<strong>de</strong> <strong>de</strong>veria ser apenas para ativida<strong>de</strong>s específicas, pois a<br />

própria Constituição, no Artigo 195, Parágrafo 12, prevê essa questão na medida em que diz: “A lei <strong>de</strong>finirá os setores <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong><br />

econômica para os quais as contribuições inci<strong>de</strong>ntes na forma dos Incisos 1-B e 4 do caput serão não-cumulativas”.<br />

A carga tributária do sistema cumulativo já era conhecida, fato que não ocorria com o sistema <strong>de</strong> não-cumulativida<strong>de</strong>. A<br />

intenção era que esse regime fosse aplicado após a análise dos seus respectivos efeitos na ativida<strong>de</strong>, mas nunca foi feita,<br />

como é praxe nas ativida<strong>de</strong>s do Governo Fe<strong>de</strong>ral, especialmente no que se refere à tributação. A Lei <strong>de</strong>finiu então a nãocumulativida<strong>de</strong><br />

como regra e a cumulativida<strong>de</strong> como exceção, ou seja, mudou o próprio preceito constitucional. Algumas<br />

ativida<strong>de</strong>s sem relação direta com o setor publicitário como telecomunicações, saú<strong>de</strong>, educação e call center, continuam com<br />

o custo <strong>de</strong> 3,65%.<br />

O regime não-cumulativo não dá direito a créditos sobre a folha <strong>de</strong> pagamento e, no caso da ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> prestação <strong>de</strong><br />

serviços como a publicida<strong>de</strong>, dá direito a crédito para prestadores <strong>de</strong> serviços. A folha <strong>de</strong> pagamento gira em torno <strong>de</strong> 60% a<br />

65% da ativida<strong>de</strong> e esse custo substancial não gera qualquer direito a crédito; consequentementes a carga tributária é extremamente<br />

elevada.<br />

Um esclarecimento em relação ao repasse do custo da veiculação e da própria produção: ele não faz parte da base <strong>de</strong> cálculo,<br />

porque não é uma receita da agência, sendo ela um mero veículo repassador, pois cobra do cliente e repassa essa importância<br />

para o veículo <strong>de</strong> comunicação. Não faz parte da receita bruta e no passado, alguns agentes da fiscalização tentaram cobrar<br />

PIS e Cofins sobre a receita total auferida pelas agências <strong>de</strong> publicida<strong>de</strong>, mas felizmente isso já foi normatizado, e não temos<br />

mais esse problema.<br />

No caso do ISS, ele foi instituído nos idos <strong>de</strong> 1968 até 2003, quando então entrou em vigor a Lei Complementar 116. O <strong>de</strong>cretolei<br />

406/68, que tinha força <strong>de</strong> lei complementar pelo sistema constitucional anterior, dizia que o ISS era <strong>de</strong>vido no local do<br />

estabelecimento prestador, exceto a construção civil.<br />

À época, o STJ chegou a enten<strong>de</strong>r que o ISS não era <strong>de</strong>vido no estabelecimento do prestador, mas sim no local da prestação<br />

do serviço, divergindo do <strong>de</strong>creto-lei, cujo tema era objeto <strong>de</strong> inúmeros <strong>de</strong>bates. As <strong>de</strong>cisões não eram uniformes e a jurisprudência<br />

naquela época era <strong>de</strong> que o ISS era <strong>de</strong>vido no local da prestação do serviço. Essa divergência levava a situações em<br />

que dois municípios cobravam ISS, especialmente aquele on<strong>de</strong> o pagamento da prestação <strong>de</strong> serviço impunha um imposto<br />

<strong>de</strong> fonte. Aí existiam situações e autos <strong>de</strong> infração com dois municípios querendo cobrar sobre a mesma base <strong>de</strong> cálculo.<br />

O objetivo da Lei Complementar 116 foi sanar esse problema, mantendo a regra <strong>de</strong> que o ISS é <strong>de</strong>vido no local do estabelecimento<br />

prestador do serviço. Foi aberta uma nova brecha para discussão, na medida em que qualquer unida<strong>de</strong> econômica<br />

300 301<br />

COMISSÃO 10 - CARGA TRIBUTÁRIA E RENTABILIDADE DE AGÊNCIAS, FORNECEDORES E VEÍCULOS


ou profissional on<strong>de</strong> a prestação fosse <strong>de</strong>senvolvida era tida como estabelecimento prestador do serviço. Se a empresa tem<br />

matriz, filiais, sucursais ou outras unida<strong>de</strong>s específicas on<strong>de</strong> parte da ativida<strong>de</strong> é <strong>de</strong>senvolvida num local e parte em outro,<br />

ou se tem profissionais alocados, continuamos em dúvida sobre o local efetivo da prestação do serviço e para que município<br />

ele é <strong>de</strong>vido.<br />

Até agora, o STJ proferiu duas <strong>de</strong>cisões sobre esse assunto, mas elas não tratam especificamente <strong>de</strong>ssa questão, especialmente<br />

quando se tem uma nota fiscal. Na publicida<strong>de</strong>, a nota fiscal ou a fatura é uma só, mas se existem diferentes locais <strong>de</strong><br />

prestação <strong>de</strong> serviço, continua em aberto em que município o ISS é <strong>de</strong>vido.<br />

Temos visto também no setor <strong>de</strong> publicida<strong>de</strong> alguns <strong>de</strong>slocamentos efetivos <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s para municípios próximos dos<br />

gran<strong>de</strong>s centros on<strong>de</strong> a tributação era mais favorecida. A lei Complementar buscou evitar a chamada “guerra fiscal”, impondo<br />

uma alíquota mínima <strong>de</strong> ISS <strong>de</strong> 2% e máxima <strong>de</strong> 5%. Temos municípios que antes concediam alíquota próxima <strong>de</strong> 0 ou 0,5%,<br />

dando certos créditos para a apuração <strong>de</strong> ISS, como se fosse um sistema não-cumulativo. Na prática, a alíquota continua sendo<br />

<strong>de</strong> 0,5%, embora a lei complementar diga que a alíquota mínima é <strong>de</strong> 2%.<br />

Há municípios tentando agir mais duramente contra esses contribuintes, como é o caso <strong>de</strong> São Paulo e Rio <strong>de</strong> Janeiro, que<br />

buscam a tributação das ativida<strong>de</strong>s cujo serviço é efetivamente prestado nestes municípios. O i<strong>de</strong>al seria haver uma equiparação,<br />

fixando alíquotas mínimas para toda a ativida<strong>de</strong>, mas também é necessário um <strong>de</strong>bate sobre a alíquota efetiva, se é 2% ou<br />

5% – e por que é <strong>de</strong> 5% –, pois como a lei complementar permite até 5%, vemos que os estados mais po<strong>de</strong>rosos da Fe<strong>de</strong>ração<br />

impõem sempre a alíquota maior e não uma alíquota com o objetivo <strong>de</strong> atrair e incentivar o setor.<br />

No município <strong>de</strong> Belo Horizonte, que é um gran<strong>de</strong> centro, mas não um dos centros on<strong>de</strong> estão as maiores agências <strong>de</strong> publicida<strong>de</strong>,<br />

a alíquota para a ativida<strong>de</strong> é <strong>de</strong> 2%. Em São Paulo é <strong>de</strong> 5% e no Rio <strong>de</strong> Janeiro, é <strong>de</strong> 3%.<br />

O local da prestação do serviço continua sendo uma gran<strong>de</strong> incógnita e nesta ativida<strong>de</strong> existem vários clientes, principalmente<br />

clientes gran<strong>de</strong>s, com mais <strong>de</strong> um estabelecimento prestador <strong>de</strong> serviço.<br />

O que temos <strong>de</strong> proposta é uma emenda constitucional <strong>de</strong> n o 233.208, chamada <strong>de</strong> PEC da Reforma Tributária, que propõe a<br />

substituição do PIS e da Cofins por um imposto único sobre o valor agregado em nível fe<strong>de</strong>ral, chamado <strong>IV</strong>A Fe<strong>de</strong>ral. Depen<strong>de</strong>ndo<br />

do contorno da reforma tributária, essa mudança po<strong>de</strong> vir a beneficiar o setor, mas vai <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>r justamente <strong>de</strong>sse tipo<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>bate no <strong>Congresso</strong>, com o objetivo <strong>de</strong> melhorar o sistema.<br />

No caso da incidência do ISS, ainda, há uma questão não resolvida, a bonificação sobre volume (BV). Alguns clientes acham<br />

que não <strong>de</strong>veria ser objeto <strong>de</strong> base <strong>de</strong> cálculo do ISS, porque não é uma prestação <strong>de</strong> serviço da agência <strong>de</strong> publicida<strong>de</strong><br />

para o cliente e sim uma relação entre o veículo <strong>de</strong> publicida<strong>de</strong> e a agência; o ISS não <strong>de</strong>veria incidir sobre a bonificação por<br />

volume, pois não tem ligação direta com cada prestação <strong>de</strong> serviço, mas tem com o volume total da publicida<strong>de</strong> alocada aos<br />

respectivos veículos.<br />

Cyd Alvarez<br />

Obrigado Dr. Leandro. Antes <strong>de</strong> abrirmos espaço para as perguntas, embora já esteja publicado no site, é fundamental apresentarmos<br />

os trabalhos <strong>de</strong>ssa comissão e ao que se resume a proposta que vamos encaminhar. Convido o Dr. João Luiz Faria<br />

Netto, nosso relator, para ler a proposta.<br />

João luiz faria Netto<br />

Proposta da Comissão <strong>de</strong> Carga Tributária:<br />

O sistema tributário nacional penaliza as empresas prestadoras <strong>de</strong> serviço, como é o caso específico das agências <strong>de</strong> publicida<strong>de</strong><br />

que têm na mão-<strong>de</strong>-obra a base <strong>de</strong> <strong>de</strong>spesas operacionais. Há ainda, nos casos <strong>de</strong> empresas que atuam por conta<br />

e or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> seus clientes, dúvidas permanentes relacionadas com a interpretação <strong>de</strong> textos legais, gerando, em razão disso,<br />

confusão quanto à base <strong>de</strong> cálculo dos tributos. Com a chamada reforma tributária, que começa a ser discutida no <strong>Congresso</strong><br />

Nacional, gerou-se a oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> inclusão no novo texto legal a ser discutido após a aprovação <strong>de</strong> criação do <strong>IV</strong>A – Imposto<br />

<strong>de</strong> Valor Agregado – e consequente eliminação das chamadas contribuições sociais PIS/Cofins, CSLL e a resistência legítima<br />

da socieda<strong>de</strong> à recriação da contribuição sobre a movimentação financeira, a CSS, <strong>de</strong> normas claras sobre a publicida<strong>de</strong>.<br />

é fundamental a <strong>de</strong>finição da hipótese tributária com clareza sobre a base <strong>de</strong> cálculo dos tributos que incidam sobre a ativida<strong>de</strong><br />

publicitária, com a <strong>de</strong>fesa da manutenção sem restrições, da imunida<strong>de</strong> tributária que protege os meios impressos <strong>de</strong><br />

comunicação e dos benefícios <strong>de</strong> isenção <strong>de</strong> impostos dos meios eletrônicos, o que assegura a circulação <strong>de</strong> idéias, informação<br />

e difusão cultural.<br />

Deve ser questionada, também, a imposição <strong>de</strong> ônus parafiscais à ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> produção, mostrando que o país tem atraído<br />

investimentos internacionais <strong>de</strong> produção em razão da qualida<strong>de</strong> artística <strong>de</strong> seu audiovisual e das virtu<strong>de</strong>s paisagísticas naturais,<br />

cida<strong>de</strong>s históricas, inclusive algumas incluídas pela Unesco como patrimônios históricos da humanida<strong>de</strong>.<br />

O objetivo do Painel é respon<strong>de</strong>r às dúvidas levantadas, com uma análise da tributação que inci<strong>de</strong> sobre a prestação <strong>de</strong><br />

serviços feitos pelos veículos <strong>de</strong> comunicação, agências <strong>de</strong> publicida<strong>de</strong> e seus fornecedores: gráficas, produtores <strong>de</strong> som e<br />

imagem, etc.<br />

O setor <strong>de</strong> publicida<strong>de</strong> <strong>de</strong>seja ser tributado, mas <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>, como os outros setores da socieda<strong>de</strong> brasileira, que os impostos<br />

tenham uma relação com sua capacida<strong>de</strong> contributiva, existindo distorções, com relação às agências, que inibem a ativida<strong>de</strong><br />

dos que prestam serviços, como criadores <strong>de</strong> conteúdo dos veículos <strong>de</strong> comunicação, que gozam <strong>de</strong> acertos <strong>de</strong> imunida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> impostos, <strong>de</strong> impressos e eletrônicos <strong>de</strong> isenção. São ativida<strong>de</strong>s que vivem exclusivamente <strong>de</strong> receitas relativas à prestação<br />

<strong>de</strong> serviço, no caso da publicida<strong>de</strong>, sobre os quais diretamente recolhe na maior parte das cida<strong>de</strong>s do país 15,40%: 5% <strong>de</strong> ISS,<br />

9,5% <strong>de</strong> PIS/Cofins e 1,5% <strong>de</strong> Imposto <strong>de</strong> Renda Retido na Fonte.<br />

O objetivo é mostrar a perspectiva <strong>de</strong> futuro com a reforma tributária e criação do <strong>IV</strong>A, que, no primeiro momento, conviverá<br />

com o ISS, que tem as alíquotas fixadas pelo Po<strong>de</strong>r Púbico Municipal. Deve-se acentuar a indispensabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> rigor contábil<br />

e fiscal, especialmente pelas agências que trabalham por or<strong>de</strong>m e conta <strong>de</strong> seus clientes e movimentam recursos com ingresso<br />

e saída <strong>de</strong> caixa, sofrendo a ameaça <strong>de</strong> equívocos <strong>de</strong> fiscalização.<br />

Receita da agência é aquela sobre a qual há responsabilida<strong>de</strong> tributária e formas <strong>de</strong> <strong>de</strong>monstração contábil. Portanto, é importante<br />

que este <strong>Congresso</strong> recomen<strong>de</strong> como atribuição <strong>de</strong> sindicatos e <strong>Abap</strong>s regionais, a luta pela redução da alíquota do<br />

ISS e o que se enten<strong>de</strong> seja 2% o razoável para a ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> inteligência, promotora do mercado, instrumento <strong>de</strong> circulação<br />

<strong>de</strong> mercadorias e prestação <strong>de</strong> serviços, fontes das riquezas nacionais. Finalmente, <strong>de</strong>vemos recomendar a luta pela inclusão<br />

das pequenas e médias empresas <strong>de</strong>ssa área <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong> nos programas do Simples Nacional e das micro-empresas. Talento<br />

também merece reconhecimento tributário.<br />

Cyd Alvarez<br />

Obrigado. Para facilitar, fizemos uma ação combinada: o Dr. João Luiz leu nossa tese e colocamos um resumo. Antes <strong>de</strong> abrir as<br />

perguntas, o Luiz Leite e o Antonio Lino gostariam <strong>de</strong> fazer alguns apartes que vão acrescentar alguns pontos à nossa tese.<br />

luiz leite<br />

Um ponto que vimos discutindo <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 2004, quando houve a mudança da forma <strong>de</strong> tributação e que, por falta <strong>de</strong> articulação<br />

do nosso segmento, acabamos sendo mais punidos que outros, é a impossibilida<strong>de</strong> da <strong>de</strong>dutibilida<strong>de</strong> do nosso maior custo,<br />

a folha <strong>de</strong> pagamento. Na época, até tentamos fazer alguns movimentos, mas não tivemos sucesso, portanto, é importante<br />

fortalecermos essa posição, porque isso para nós é <strong>de</strong> fundamental importância, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente dos outros movimentos<br />

que estejamos buscando.<br />

João Luiz Faria Netto<br />

Então, vamos incluir como proposta reduzir o valor da folha <strong>de</strong> pagamentos da base <strong>de</strong> cálculo do Cofins.<br />

Cyd Alvarez<br />

Ainda para fazer um aparte, quero pedir a palavra para o Antonio Lino.<br />

Antonio lino Pinto<br />

Bom dia a todos! Apenas complementando o último item que inclui pequenas e médias empresas: a legislação que aten<strong>de</strong><br />

o Super Simples é uma lei complementar criada em 2006, que tem pedido <strong>de</strong> alterações com mais <strong>de</strong> 50 artigos, sendo um<br />

<strong>de</strong>les a proposta para agências <strong>de</strong> publicida<strong>de</strong>, assessorias <strong>de</strong> imprensa e serviços <strong>de</strong> contabilida<strong>de</strong>, optar por essa tributação.<br />

O Super Simples é totalmente diferente do lucro presumido, porque estabelece um recolhimento sobre o montante da sua<br />

receita; por exemplo, com R$ 2 milhões por ano, você já paga um valor em torno <strong>de</strong> 15% a 16%. Existe uma tabela on<strong>de</strong> se<br />

inclui em uma só guia o INSS dos empregados, o PIS, a Cofins, o Imposto <strong>de</strong> Renda e ISS. A única <strong>de</strong>spesa a mais <strong>de</strong> tributo da<br />

empresa seria o Fundo <strong>de</strong> Garantia do empregado e o INSS, que é <strong>de</strong>scontado <strong>de</strong>le.<br />

Uma gran<strong>de</strong> quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> agências po<strong>de</strong>ria ser beneficiada. Facilitaria bastante se a <strong>Abap</strong>, a Fenapro, os Sindicatos e as<br />

Associações se aproximassem <strong>de</strong>ste <strong>de</strong>putado do PSDB para conseguir essa aprovação, já que o Super Simples tem atendido<br />

quase todas as ativida<strong>de</strong>s. A área <strong>de</strong> serviço hoje é consi<strong>de</strong>rada uma das maiores arrecadadoras; estamos nos transformando<br />

em uma socieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> serviço. Meu pedido seria acrescentarmos que as entida<strong>de</strong>s pu<strong>de</strong>ssem acompanhar este projeto e ver<br />

se temos a sorte <strong>de</strong> aprovar.<br />

João luiz faria Netto<br />

Está sendo incluído o pedido <strong>de</strong> apoio ao projeto <strong>de</strong> lei complementar do Deputado Luiz Carlos Hauli, que trata, entre outras<br />

coisas, da inclusão <strong>de</strong> agências e assessorias <strong>de</strong> imprensa no programa do Super Simples.<br />

Cyd Alvarez<br />

Antes <strong>de</strong> passar a palavra para outro <strong>de</strong>batedor – Roberto Tourinho –, quero lembrar a vocês que as fichas para perguntas e<br />

apartes já <strong>de</strong>vem estar circulando para que façam suas perguntas, seus apartes, emitam suas opiniões e sejam encaminhadas<br />

para a mesa, para que o Ronaldo, nosso secretário, já possa ir respon<strong>de</strong>ndo e <strong>de</strong>batendo com vocês.<br />

Passo a palavra para o Roberto Tourinho.<br />

Roberto Tourinho<br />

Bom dia a todos. Não po<strong>de</strong>mos per<strong>de</strong>r a oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ressaltar a real importância <strong>de</strong> hoje se ter uma área financeira e<br />

administrativa muito forte <strong>de</strong>ntro das agências. Nosso segmento vem mudando radicalmente nos últimos <strong>de</strong>z anos e neste<br />

período, tem havido uma significativa redução da rentabilida<strong>de</strong>, um aperto <strong>de</strong> margens muito gran<strong>de</strong>, além <strong>de</strong> um arrocho<br />

fiscal crescente. Um planejamento tributário fiscal que permita reduzir um pouco esta contribuição é muito importante para a<br />

rentabilida<strong>de</strong>, principalmente das pequenas e médias agências, já que as gran<strong>de</strong>s e multinacionais têm um acompanhamento<br />

muito forte nessa área.<br />

Como o nosso negócio muitas vezes é encarado somente pelo lado artístico, criativo e da mídia, vale <strong>de</strong>stacar que existem<br />

agências nas várias regiões do Brasil, cuja organização interna precisa manter a lucrativida<strong>de</strong> e rentabilida<strong>de</strong>, acompanhando<br />

este imbroglio diário que é a cascata <strong>de</strong> impostos que temos.<br />

Cyd Alvarez<br />

Obrigado, Roberto. Passo a palavra ao Ronaldo Rangel, nosso secretário.<br />

Ronaldo Rangel<br />

Pergunta do Maurício Tagliari, da YB Music, ao presi<strong>de</strong>nte da Aprosom:<br />

Nossos associados têm sentença transitada e julgada no STF dizendo que nosso negócio envolve direito autoral como um<br />

bem móvel, não sendo passível <strong>de</strong> tributação <strong>de</strong> INSS nem <strong>de</strong> PIS e Cofins. Como as agências ou as pessoas da mídia se posicionam<br />

a esse respeito, seja ao lidar com o fornecedor que não emite nota fiscal, ou ao se posicionar quanto ao seu trabalho,<br />

que seria direito autoral e, portanto, também isento?<br />

Não i<strong>de</strong>ntificado<br />

Não conheço o processo nem a sentença, mas acho <strong>de</strong>scabido. Conheço uma ação movida no sul do país sobre PIS/Cofins e<br />

que foi um equívoco quanto à possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> não-tributação <strong>de</strong> empresa <strong>de</strong> trabalho intelectual, que é o caso <strong>de</strong> advogados,<br />

artistas, etc. Tratava-se <strong>de</strong> profissões regulamentadas e o tribunal, em 1ª e 2ª instâncias, consi<strong>de</strong>rou as agências <strong>de</strong> publi-<br />

302 303<br />

COMISSÃO 10 - CARGA TRIBUTÁRIA E RENTABILIDADE DE AGÊNCIAS, FORNECEDORES E VEÍCULOS


cida<strong>de</strong> como tal. A ação subiu e se conseguiu também no Supremo, só que a advocacia geral da União não havia sustentado<br />

nada que contestasse a profissão regulamentada, pois estava contestando apenas a tributação. O que conheço <strong>de</strong> isenção<br />

total era <strong>de</strong> PIS/Cofins e não <strong>de</strong> ISS.<br />

leandro Zancan<br />

Também não conheço e concordo não fazer muito sentido que a ativida<strong>de</strong> intelectual seja aquela regulada e com lei própria,<br />

normalmente já tendo registro no INPI. Assim, vamos ficar com um conceito <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong> intelectual extremamente elástico.<br />

Ronaldo Rangel<br />

Próxima pergunta do Paulo Macedo, da ESPM, para o Dr. Leandro, Antonio Lino e Luis Leite.<br />

Paulo macedo<br />

O fim da CPMF teve que impacto no negócio das agências?<br />

leandro Zancan<br />

O impacto <strong>de</strong> redução <strong>de</strong> imposto é sempre positivo. O fim da CPMF foi significativo para o nosso setor, porque tinha uma<br />

tributação equivocada, já que as agências acabavam sendo muito prejudicadas por trabalharem e movimentarem na sua<br />

contabilida<strong>de</strong> as receitas <strong>de</strong> terceiros. Vamos lutar para que não se aprove mais esse tipo <strong>de</strong> imposto, porque ele é danoso não<br />

só para a publicida<strong>de</strong>, mas para toda a socieda<strong>de</strong>.<br />

Todos já leram e sabem sobre a consequência <strong>de</strong> um imposto em cascata e todas as argumentações do Governo sobre a sua<br />

necessida<strong>de</strong> provaram que absolutamente nada mudou; continuam arrecadando cada vez mais e todo mundo paga várias<br />

vezes esse imposto durante o ano.<br />

Não i<strong>de</strong>ntificado<br />

O imposto da CPMF era dos sistemas mais perfeitos já criados no mundo, pois sua sistemática <strong>de</strong> cobrança pegava todas as camadas<br />

sem exclusão e era totalmente calcado em nosso sistema bancário financeiro, que é muito bem estruturado. Por conta<br />

disso, o dinheiro circulava na totalida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ntro das agências <strong>de</strong> propaganda, que acabavam por tributar dinheiro próprio e <strong>de</strong><br />

terceiros. A eliminação <strong>de</strong>ste imposto vai manter um benefício importantíssimo para o segmento das agências.<br />

leandro Zancan<br />

Gosto muito do sistema americano e nunca vi uma população tão consciente do imposto que paga, porque em cada compra,<br />

todos conhecem muito bem o que vai além do preço da mercadoria, pelo adicional <strong>de</strong> imposto que vem na nota. Tal fato é extremamente<br />

relevante para a conscientização do quanto é pesada uma carga tributária. Nesta reforma tributária, <strong>de</strong>veríamos<br />

caminhar para um misto <strong>de</strong> sistema europeu com <strong>IV</strong>A – ICMS, IPI e ISS distorcidos. Hoje tudo fica por <strong>de</strong>ntro e o consumidor<br />

não tem noção <strong>de</strong> quanto está pagando em imposto. O sistema brasileiro como um todo vai melhorar no dia em que tiver na<br />

nota fiscal exatamente o imposto que está sendo pago, como no sistema americano.<br />

Ronaldo Rangel<br />

Próxima pergunta do Tiago Ferrentini, dirigida ao Dr. Leandro.<br />

Tendo em vista que a legislação não permite, pelo menos por enquanto, a <strong>de</strong>dução <strong>de</strong> créditos como a folha <strong>de</strong> pagamento,<br />

qual regime atualmente é mais vantajoso em termos <strong>de</strong> menor carga tributária: o lucro presumido ou o lucro real?<br />

leandro Zancan<br />

O lucro presumido tem a limitação <strong>de</strong> receita global até 48 milhões <strong>de</strong> reais. A partir <strong>de</strong>sse valor, <strong>de</strong>ve-se fazer um cálculo, já<br />

que esse tipo <strong>de</strong> lucro acontece sobre a receita e não há permissão <strong>de</strong> <strong>de</strong>sconto a partir das bases <strong>de</strong> cálculos que são feitas<br />

sobre a receita. Daí <strong>de</strong>ve-se fazer uma comparação visando à apuração pelo lucro real.<br />

As gran<strong>de</strong>s agências não têm condições <strong>de</strong> optar pelo lucro presumido, por terem uma receita maior que R$ 48 milhões. As<br />

menores po<strong>de</strong>m e se possível <strong>de</strong>vem até ter mais <strong>de</strong> uma, não no mesmo local, mas especialmente se têm clientes em diferentes<br />

estados. Deve-se tentar fazer e comparar a carga tributária final que, na maioria das vezes, fica em torno <strong>de</strong> 15% sobre a<br />

receita. Para a área <strong>de</strong> publicida<strong>de</strong>, não fiz esse cálculo, então não sei dizer. é 15%, Thiago? Confirmado 15%.<br />

Então, se optar pelo lucro real, o índice <strong>de</strong> 15% vis a vis à rentabilida<strong>de</strong>, porque estão incluídos o PIS e a Cofins, o Imposto <strong>de</strong><br />

Renda e a Contribuição Social 34. Po<strong>de</strong>ndo <strong>de</strong>duzir os custos, vira pura matemática e não tenho nenhum estudo do setor<br />

para saber se é mais vantajoso, até porque nenhum dos dois sistemas tem tributação sobre o lucro distribuído. Tivemos no<br />

passado e não temos mais, porque o lucro está todo tributado e quando vai para a mão dos sócios, não sofre mais nenhuma<br />

tributação.<br />

Cyd Alvarez<br />

O Roberto e o Antonio Lino querem fazer um aparte.<br />

Roberto Tourinho<br />

No caso, a <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> qual mo<strong>de</strong>lo adotar tem a ver com o tamanho da agência e há alguns pontos importantes: se migrar<br />

do lucro presumido para o real, há que se ter muito cuidado no acompanhamento da contabilida<strong>de</strong> e um planejamento fiscal.<br />

Embora o lucro presumido parta <strong>de</strong> uma presunção <strong>de</strong> quase 33% <strong>de</strong> lucro que não existe em uma empresa <strong>de</strong> publicida<strong>de</strong>,<br />

po<strong>de</strong>m haver vantagens ao passar para o lucro real, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que a empresa tenha um <strong>de</strong>terminado volume <strong>de</strong> <strong>de</strong>spesas que<br />

justifiquem essa mudança. O planejamento fiscal tributário do dia-a-dia <strong>de</strong>ve ter uma contabilida<strong>de</strong> fechando logo no inicio<br />

do mês, para que a empresa não venha ao final <strong>de</strong> um trimestre, recolher um imposto que vá compensar só no final do ano<br />

ou no exercício seguinte.<br />

Antonio lino Pinto<br />

Só uma complementação: não tenho certeza, mas duvido que haja alguma agência que possa optar pelo lucro presumido e<br />

ter vantagem só consi<strong>de</strong>rando PIS e Cofins menores. Quem opta pelo lucro presumido paga 3,65% <strong>de</strong> PIS e Cofins e quem é<br />

pelo lucro real tem que usar o não-cumulativo que, nas agências, acaba sendo <strong>de</strong> 7 ou 8%. Essa diferença entre um e outro<br />

não compensa a opção pelo lucro presumido, a não ser uma ou outra agência no Brasil que tenha uma lucrativida<strong>de</strong> acima<br />

<strong>de</strong> 32% sobre a receita.<br />

Outro problema mais complicado é que no começo do ano tem-se que optar pelo lucro presumido. Embora seja possível<br />

fazer contas admitindo que conseguiria essa receita, no final <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro não se tem nenhuma garantia <strong>de</strong> que as previsões<br />

sejam atingidas. Na verda<strong>de</strong>, o custo é muito mais fácil <strong>de</strong> ser atingido, mas normalmente erra-se no custo e na receita: o custo<br />

para cima e a receita para baixo. O i<strong>de</strong>al seria que se mexesse na tabela dos 32%, o que é muito difícil, porque nessa faixa está<br />

enquadrada toda a área e serviço.<br />

Não i<strong>de</strong>ntificado<br />

Com 15% sobre 100%, nós vamos chegar no lucro presumido, a 15%. Se pegarmos os mesmos 100%: a folha <strong>de</strong> pagamento<br />

é <strong>de</strong> 65%, o PIS e a Cofins, em torno <strong>de</strong> 8%. Sobra um lucro <strong>de</strong> 27%. Sem consi<strong>de</strong>rar aluguéis, etc, já dá para ver que não é<br />

vantajoso.<br />

Ronaldo Rangel<br />

Próxima pergunta <strong>de</strong> Mariana Craveiro, da ZAG Comunicação, para o Dr. João: minha agência foi autuada referente à arrecadação<br />

<strong>de</strong> PIS e Cofins pelo anterior a junho <strong>de</strong> 2004, quando da mudança da lei. Como está o processo na justiça on<strong>de</strong> a <strong>Abap</strong><br />

está nos representando?<br />

João luiz faria Netto<br />

Dois processos judiciais estão correndo e temos muita esperança no que foi ajuizado no mês passado, uma ação <strong>de</strong>claratória<br />

tentando <strong>de</strong>finir o que seja a base <strong>de</strong> cálculo – que seja a hipótese tributária –, e temos muita esperança <strong>de</strong> que seja possível<br />

livrar-se das autuações passadas, através <strong>de</strong>ssa ação <strong>de</strong>claratória. é preciso aguardar, porque é o início do processo e vai ser<br />

um longo período <strong>de</strong> discussão.<br />

leandro Zancan<br />

De junho <strong>de</strong> 2004 para cá, estamos resolvidos, mas a legislação nem po<strong>de</strong>ria, pelo menos segundo os legistas, retroagir a<br />

períodos passados. Então, temos até agosto do ano que vem ainda um período <strong>de</strong> riscos, que nós entramos com essa ação<br />

<strong>de</strong>claratória.<br />

João luiz faria Netto<br />

Antes existia um mandato <strong>de</strong> segurança que per<strong>de</strong>u objeto; por isso, é processualmente complicado. A forma que se encontrou<br />

é a da ação <strong>de</strong>claratória, e a esperança <strong>de</strong> que exista alguma jurisprudência neste caso dá certa tranquilida<strong>de</strong>, certa<br />

esperança <strong>de</strong> se conseguir efetivamente um bom resultado.<br />

Ronaldo Rangel<br />

Próxima pergunta <strong>de</strong> Waldir Pislim, da Associação Brasileira <strong>de</strong> Empresas <strong>de</strong> Pesquisas (Abep), em aberto para a mesa: este<br />

<strong>Congresso</strong> tem como proposta e característica abordar todo o setor <strong>de</strong> comunicação a partir <strong>de</strong> uma visão <strong>de</strong> supply chain<br />

integrada. A sugestão ao relator é dar à redação das propostas esta abrangência.<br />

Não i<strong>de</strong>ntificado<br />

Ele está certo e, efetivamente, é esse o objetivo. A pesquisa não estava citada explicitamente aqui e incluirei pesquisa também;<br />

estava faltando apenas a inclusão <strong>de</strong> pesquisa, porque os outros segmentos fornecedores estavam incluídos como fornecedores,<br />

mas vou explicitar e <strong>de</strong>ntre os fornecedores, também está a pesquisa.<br />

Ronaldo Rangel<br />

Estamos juntando as perguntas relacionadas aos mesmo temas, para não ficar repetitivo. Pergunta do Sérgio Molina, da DMV,<br />

ao presi<strong>de</strong>nte da comissão ou aos outros membros da mesa: gostaria que fosse colocada como proposta formal a criação<br />

<strong>de</strong> uma comissão que tivesse como objetivo fazer uma aproximação com o <strong>de</strong>putado que fez o projeto <strong>de</strong> lei que prevê a<br />

inclusão das pequenas e médias empresas no programa Super Simples. Essa comissão seria formada pelas entida<strong>de</strong>s representativas<br />

e representantes das empresas.<br />

Sérgio molina<br />

Está faltando apenas incluir na proposta que vai ser colocada sob índice da votação, que esse esforço seja feito através <strong>de</strong> uma<br />

comissão que reúna todos os segmentos da ativida<strong>de</strong>.<br />

Cyd Alvarez<br />

Isso está relacionado com o que falei no início: o término <strong>de</strong>sta seção é o início <strong>de</strong> uma longa batalha. O trabalho <strong>de</strong>sta Comissão,<br />

que será formada e aparentemente terá eco no <strong>Congresso</strong> através da Frente Parlamentar, vai se iniciar com esse apoio.<br />

Acho que <strong>de</strong>sta vez teremos resultado; nossas propostas estão sendo formalmente ouvidas.<br />

Ronaldo Rangel<br />

Pergunta <strong>de</strong> Adriana Buratto <strong>de</strong> Melo, da Reciclo Comunicação – Minas Gerais: na proposta <strong>de</strong> redução <strong>de</strong> ISS, po<strong>de</strong>ríamos<br />

sugerir a alíquota igualitária <strong>de</strong> 2%, ao invés <strong>de</strong> apenas solicitar a redução e ainda recomendar uma solução quanto ao local<br />

<strong>de</strong> prestação do serviço.<br />

304 305<br />

COMISSÃO 10 - CARGA TRIBUTÁRIA E RENTABILIDADE DE AGÊNCIAS, FORNECEDORES E VEÍCULOS


Não i<strong>de</strong>ntificado<br />

No relatório, já está se estabelecendo que seja 2% que, aliás, é a alíquota <strong>de</strong> Belo Horizonte. A proposta é que se tenha esta<br />

como base nacional. Foi muito bom que você tenha acentuado isso, vamos dar mais <strong>de</strong>staque no relatório final.<br />

Ronaldo Rangel<br />

Pergunta dirigida ao Dr. João Luiz e ao Roberto Tourinho – <strong>de</strong> Jussara Pettini Freire, da Mart Pet Comunicação Ltda., <strong>de</strong> Recife:<br />

a lei <strong>de</strong> responsabilida<strong>de</strong> fiscal limita as prefeituras – Recife já esta nessa condição – a diminuir o ISS e o motivo seria a manutenção<br />

<strong>de</strong> suas receitas. Você tem algum exemplo <strong>de</strong> conquista <strong>de</strong>sta redução em algum município?<br />

João luiz faria Netto<br />

A lei <strong>de</strong> responsabilida<strong>de</strong> fiscal limita a redução, mas é uma redução não amparada em lei. Quando se tem <strong>de</strong> 2 a 5, a possibilida<strong>de</strong><br />

do legislador municipal não tem nenhum tipo <strong>de</strong> restrição e não tem nenhum impeditivo da lei <strong>de</strong> responsabilida<strong>de</strong><br />

fiscal. é importante que se diga que é uma ativida<strong>de</strong> intelectual, <strong>de</strong> produção <strong>de</strong> conteúdo para meios <strong>de</strong> comunicação que<br />

gozam acertadamente <strong>de</strong> uma vedação que propicia a <strong>de</strong>fesa do consumidor final da comunicação. Se nós também estamos<br />

produzindo conteúdo, por que seremos punidos? Queremos que exista um rigor fiscal e a cobrança, mas que esta ocorra <strong>de</strong><br />

acordo com nossa capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> contribuição, com o que achamos que seja justo para uma ativida<strong>de</strong> produtora <strong>de</strong> conteúdo<br />

intelectual, que assegura a circulação das idéias, <strong>de</strong> cultura. E que essa cobrança seja a mínima permitida em lei, que é 2% e<br />

não fere em nada a lei <strong>de</strong> responsabilida<strong>de</strong> fiscal.<br />

Roberto Tourinho<br />

Complementando a resposta do Dr. João Luiz, a lei <strong>de</strong> responsabilida<strong>de</strong> fiscal não vai <strong>de</strong> encontro a uma redução <strong>de</strong> imposto<br />

sobre a nossa área <strong>de</strong> publicida<strong>de</strong>. Uma vez que a Prefeitura cumpra com todas as suas obrigações, essa redução <strong>de</strong> imposto<br />

é perfeitamente <strong>de</strong>fensável.<br />

Ronaldo Rangel<br />

Temos mais uma pergunta sem i<strong>de</strong>ntificação e também vou dirigi-la ao Tourinho: com essa redução significativa na carga<br />

tributária, o Rio <strong>de</strong> Janeiro ten<strong>de</strong> a evoluir com relação a São Paulo no quesito rentabilida<strong>de</strong>? Com a redução da carga do Rio<br />

<strong>de</strong> Janeiro, a diferença <strong>de</strong> 3 e 5% beneficia o Rio?<br />

Roberto Tourinho<br />

Sem dúvida, quem está estabelecido no Rio <strong>de</strong> Janeiro passa a ter uma redução <strong>de</strong> 2% na alíquota do ISS, uma vez que ela já<br />

inci<strong>de</strong> sobre toda a nossa receita. Se conseguíssemos tirar a receita <strong>de</strong> bonificação, como o Dr. Zancan colocou, seria ótimo,<br />

mas sem dúvida, as agências do Rio têm uma vantagem <strong>de</strong> 2% sobre as <strong>de</strong> São Paulo.<br />

Não i<strong>de</strong>ntificado<br />

Porém se a agência for sediada no Rio (on<strong>de</strong> a prestação <strong>de</strong> serviço lá recolhe 3%), prestar um serviço em São Paulo, o que<br />

ocorre?<br />

Roberto Tourinho<br />

Agora entendi a questão. Se você tem uma agência sediada no Rio e que presta serviços a um cliente em São Paulo, ela tem<br />

que se cadastrar na Prefeitura <strong>de</strong> São Paulo. Não sei se é constitucional, mas a Prefeitura <strong>de</strong> São Paulo é violenta. Quando você<br />

se cadastra na Prefeitura, ela faz uma visita à sua se<strong>de</strong> para saber se a se<strong>de</strong> existe e se tem o número <strong>de</strong> funcionários compatível<br />

com ativida<strong>de</strong>; se os equipamentos que estão lá <strong>de</strong>ntro são também compatíveis com a ativida<strong>de</strong>; ela compara o faturamento<br />

daquela filial com aquele número <strong>de</strong> pessoas. Isso não é previsto, mas nós, inclusive, temos a matriz em Barueri e a filial em<br />

São Paulo, e todos os nossos clientes <strong>de</strong> São Paulo são atendidos por São Paulo. De qualquer maneira, recebemos uma visita<br />

como essa para saber se não estávamos em um “paraíso fiscal municipal”. Muitas empresas alugam uma recepção, contratam<br />

uma pessoa e aquilo é, na verda<strong>de</strong>, meramente uma caixa postal.<br />

Não sei se no Rio <strong>de</strong> Janeiro, o fisco municipal paulista iria <strong>de</strong>stacar um fiscal até para ir até lá verificar. Qualquer agência <strong>de</strong><br />

publicida<strong>de</strong> que prestar serviços a um cliente <strong>de</strong> São Paulo po<strong>de</strong> se inscrever e comprovar que tem se<strong>de</strong> em outro município<br />

e que não sofrerá a retenção do cliente no pagamento da fatura.<br />

João luiz faria Netto<br />

O terrível <strong>de</strong>sta história é que a fiscalização vai ao cliente para saber por que ele não recolheu na fonte a tributação <strong>de</strong>vida.<br />

Você tem que fotografar a fachada do seu escritório, para mostrar que tem realmente escritório, secretária. é uma violência.<br />

Acredito que com a reforma tributária, estabelecendo um sistema nacional <strong>de</strong> fixação <strong>de</strong> alíquotas, esse tipo <strong>de</strong> disputa e<br />

contra disputa <strong>de</strong>sagradável, <strong>de</strong>selegante e, às vezes, até ilegal, <strong>de</strong>sapareça.<br />

Ronaldo Rangel<br />

Pergunta do Roberto Hilton <strong>de</strong> Minas Gerais – J-Bis: estamos sendo fiscalizados e os fiscais insistem em não aceitar o freelancer,<br />

tentando criar vínculos. Gostaria que incluíssem essa questão.<br />

Roberto Hilton<br />

Estou incluindo a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> contratação <strong>de</strong> free-lancer para serviços publicitários não passiveis <strong>de</strong> vinculação trabalhista.<br />

João luiz faria Netto<br />

O que acontece com a questão do freelancer é que a ativida<strong>de</strong> publicitária faz trabalhos essencialmente taylor-ma<strong>de</strong>; cada folheto<br />

é um folheto, cada anúncio é um anúncio, cada filme é um filme, porém, tudo precisa ter a velocida<strong>de</strong> <strong>de</strong> produção industrial.<br />

Nós nos <strong>de</strong>paramos diariamente com essa questão: temos que ser absolutamente eficazes e eficientes para atingir prazos, man-<br />

tendo o altíssimo padrão <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> que exigimos <strong>de</strong> nós mesmos, e que o consumidor e o cliente também exigem.<br />

Assim, é impossível prever qual a estrutura necessária, porque não sabemos que <strong>de</strong>manda ocorrerá em meia hora.<br />

Temos uma idéia, mas se acontece um incêndio, um problema no cliente A ou no cliente B, a estrutura para isso tem que<br />

ser ágil. Geralmente, a maior parte das agências <strong>de</strong> propaganda ou dos prestadores <strong>de</strong> serviços tem a sua estrutura-padrão<br />

montada, porém em alguns casos – e isso ocorre com alguma freqüência –, é preciso buscar o trabalho do free-lancer, o que,<br />

é obvio, todos fazemos nas nossas ativida<strong>de</strong>s.<br />

Quando remuneramos os free-lancers seja por um dia, por dois, seja por uma semana, ou até um mês <strong>de</strong> trabalho, o pagamento<br />

é feito através <strong>de</strong> um recibo <strong>de</strong> autônomo feito pelo free-lancer, ou, em alguns casos, alguns free-lancers têm suas próprias<br />

empresas <strong>de</strong> prestação <strong>de</strong> serviço. Nesse caso, eles são remunerados como uma empresa prestadora <strong>de</strong> serviços que resolve<br />

aquele problema pontual das agências.<br />

Não i<strong>de</strong>ntificado<br />

é preciso ter cuidado para não ter habitualida<strong>de</strong> ou subordinação. Se tiver, o fiscal vai pegar vocês. Se o profissional estiver<br />

trabalhando diariamente <strong>de</strong>ntro da empresa, se cumprir um horário, assinar o ponto, não será caracterizado como o free-lancer<br />

que vai eventualmente à empresa prestar um serviço.<br />

Ronaldo Rangel<br />

A próxima pergunta tem ligação direta com a anterior. é feita pela Olívia, <strong>de</strong> São Paulo: como fica a questão legal, o recolhimento<br />

<strong>de</strong> impostos trabalhistas com relação ao número cada vez maior <strong>de</strong> profissionais, entre eles ex-funcionários, atuando<br />

como prestadores <strong>de</strong> serviços? Qual o risco para a agência?<br />

João luiz faria Netto<br />

é a resposta anterior. O risco é total: o prestador <strong>de</strong> serviços tem habitualida<strong>de</strong>, tem subordinação, <strong>de</strong>ixou <strong>de</strong> ser prestador <strong>de</strong><br />

serviços e passa a ser um empregado. São dois pontos básicos que não passam pela peneira da fiscalização.<br />

Não i<strong>de</strong>ntificado<br />

Há uma parte da pergunta que diz “com relação ao número cada vez maior <strong>de</strong> profissionais atuando como prestadores <strong>de</strong><br />

serviços”. Tenho dúvidas: não dá para saber, não há uma estatística, mas eu suspeito que esse número não seja cada vez maior.<br />

Já foi assim; houve um boom <strong>de</strong> prestadores <strong>de</strong> serviços trabalhando como funcionários, e acho que boa parte das empresas<br />

estão mudando seus formatos para evitar cada vez mais o trabalho <strong>de</strong> pessoas físicas como se fossem jurídicas e utilizando<br />

esse procedimento para pagamentos <strong>de</strong> free-lancers, entre outras coisas.<br />

.<br />

leandro Zancan<br />

Eu também tenho sido consultado sobre isso e a minha impressão é como a sua. Sempre há o risco <strong>de</strong> a prestação <strong>de</strong> serviço<br />

tornar-se <strong>de</strong>pois uma reclamação trabalhista <strong>de</strong> vínculo empregatício do próprio profissional que fez a emissão da nota fiscal.<br />

Quando há uma disputa trabalhista, a tendência é ser favorável ao prestador <strong>de</strong> serviços, portanto, o risco é razoavelmente<br />

significativo, razão pela qual tenho visto as empresas tentando diminuir esse tipo <strong>de</strong> situação e <strong>de</strong>ixando aquelas on<strong>de</strong> o<br />

profissional efetivamente presta serviços não tem, como dito pelo Dr. João, habitualida<strong>de</strong> e subordinação. Nessas situações é<br />

plenamente <strong>de</strong>fensável ou é free-lancer por natureza.<br />

Ronaldo Rangel<br />

Pergunta da Aline, da MC Comunicação - Minas Gerais, que retrata essencialmente o objetivo da Comissão: não caberia nesta<br />

proposta a redução <strong>de</strong> encargos trabalhistas como forma <strong>de</strong> incentivos à criação <strong>de</strong> novos empregos?<br />

João Luiz Faria Netto<br />

Estou incluindo a redução <strong>de</strong> encargos trabalhistas para facilitar a geração <strong>de</strong> novos empregos na área <strong>de</strong> comunicação.<br />

Ronaldo Rangel<br />

Pergunta do Luiz Roberto Valente, <strong>de</strong> São Paulo, da Central <strong>de</strong> Outdoor e da Associação Brasileira <strong>de</strong> Mídia Digital Out of Home,<br />

dirigida à mesa e uma menção ao fato <strong>de</strong> o Dr. João Luiz ter conhecimento <strong>de</strong>ste assunto: diversos estados estão tentando<br />

cobrar o ICMS sobre a veiculação <strong>de</strong> anúncios. A tese é que as empresas exibidoras prestam serviços <strong>de</strong> comunicação e eles<br />

são tributáveis. Temos na Central <strong>de</strong> Outdoor um associado do estado <strong>de</strong> São Paulo que foi autuado em R$50 milhões com<br />

cinco anos retroativos <strong>de</strong> multa. Como a mesa enten<strong>de</strong> essa posição e como po<strong>de</strong>mos propor a <strong>de</strong>fesa <strong>de</strong> uma tese contrária<br />

no relatório <strong>de</strong>sta Comissão?<br />

João luiz faria Netto<br />

Este é um antigo problema e tenho minhas dúvidas. Acho que a vedação da Cida<strong>de</strong> Limpa <strong>de</strong> São Paulo é uma consequência<br />

direta <strong>de</strong>sta dúvida que veio <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a constituição <strong>de</strong> 88.<br />

Quando se criou e se incluiu no imposto <strong>de</strong> circulação <strong>de</strong> mercadoria, a comunicação, estabelecia-se e pensava-se em tributar<br />

veículos <strong>de</strong> comunicação, não conseguiram <strong>de</strong>rrubar a imunida<strong>de</strong> tributária.<br />

Há uma história que é a alma brasileira: a imunida<strong>de</strong> tributária dos veículos <strong>de</strong> comunicação foi concedida e inspirada na<br />

emenda nº 1 da constituição americana – olhem que coisa curiosa! – e apresentada por um <strong>de</strong>putado intelectual do partido<br />

comunista em 1946, Jorge Amado.<br />

Essa imunida<strong>de</strong> tributária que assegura a circulação não é imunida<strong>de</strong> para empresa, é imunida<strong>de</strong> para coisa: livro, jornal, periódico.<br />

Acho que é a imunida<strong>de</strong> mais correta que existe na história do homem, porque possibilitou, na minha opinião, toda<br />

a gran<strong>de</strong>za do século XX: que as idéias circulassem, que prosperasse a <strong>de</strong>mocracia, que se <strong>de</strong>rrubassem estados fechados, a<br />

ditadura. Ela é extremamente importante, pois assegura a qualquer um o acesso aos meios <strong>de</strong> comunicação. Essa imunida<strong>de</strong><br />

é legitima e <strong>de</strong>ve ser <strong>de</strong>fendida. Tentaram <strong>de</strong>rrubá-la na constituição <strong>de</strong> 88, <strong>de</strong> forma “escondida”, e a comunicação foi incluída<br />

no ICMS, por uma razão simples: anteriormente, havia uma discussão que o tribunal tinha resolvido, sobre a territorialida<strong>de</strong><br />

do meio rádio, por exemplo. O sinal subia aqui e o serviço era prestado on<strong>de</strong>? Essa é uma longa história. Isso atingiu a publi-<br />

306 307<br />

COMISSÃO 10 - CARGA TRIBUTÁRIA E RENTABILIDADE DE AGÊNCIAS, FORNECEDORES E VEÍCULOS


cida<strong>de</strong> externa. Acho que a coisa é perigosa e é importante apoiar um projeto <strong>de</strong> lei complementar que está no <strong>Congresso</strong>,<br />

no projeto <strong>de</strong> um <strong>de</strong>putado <strong>de</strong> São Paulo, incluindo novamente a ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> iniciação e a publicida<strong>de</strong> externa na relação<br />

das prestadoras <strong>de</strong> serviço.<br />

Ronaldo Rangel<br />

Se não me engano, a autoria do projeto é <strong>de</strong> Ramez Tebet.<br />

Cyd Alvarez<br />

Passamos agora para uma fase <strong>de</strong> votação. Estou impressionado com a dinâmica <strong>de</strong>sta Comissão, porque as perguntas foram<br />

absolutamente relevantes. Reunimos-nos durante dois meses e meio, discutindo o que iríamos propor aqui, as questões, pontos<br />

<strong>de</strong> vista, idéias, e vejo que conseguimos convergir, o que acho espetacular.<br />

Vamos ter que trabalhar muito esse tema daqui para frente, porque a nossa rentabilida<strong>de</strong>, como vocês sabem, está diminuindo<br />

cada vez mais. Os clientes estão no papel <strong>de</strong> exigir mais serviços, melhor serviço por um melhor preço. Cabe a nós buscarmos rentabilida<strong>de</strong><br />

através da otimização <strong>de</strong> nossas empresas, <strong>de</strong> uma tributação justa, para que nossos serviços sejam cada vez melhores<br />

e os clientes entendam que somos parceiros, construtores das suas marcas, incentivadores dos seus negócios. Muito bem!<br />

Vamos agora para a votação.<br />

João luiz faria Netto<br />

Para simplificar o processo <strong>de</strong> votação, vou sugerir ao presi<strong>de</strong>nte colocar em votação o relatório. Aprovado o relatório, nós<br />

então passamos por <strong>de</strong>staque, por emenda, por sugestão apresentada, uma por uma.<br />

Como não houve nenhuma proposta que pedisse alteração do relatório, peço ao presi<strong>de</strong>nte que coloque o relatório em<br />

votação.<br />

Ronaldo Rangel<br />

São estes pontos aqui no PowerPoint. O relatório foi lido e está resumido para facilitar a visualização <strong>de</strong> todos. Então, se esses<br />

pontos estiverem certos para vocês, nós passamos para os pontos que foram acrescentados. O formato estipulado pelo <strong>Congresso</strong><br />

é quem concordar, fica como está; quem não concordar, <strong>de</strong>ve se levantar.<br />

Então, estão colocados em votação os pontos apresentados. OK, aprovados!<br />

Vamos para o segundo ponto.<br />

Não i<strong>de</strong>ntificado<br />

Proposta nº 1<br />

Incluir no relatório a <strong>de</strong>dução do valor da folha e pagamento na base <strong>de</strong> cálculo do PIS/Cofins.<br />

Aqueles que estiverem <strong>de</strong> acordo permaneçam como estão e os que discordarem, levantem-se. Proposta aprovada!<br />

Proposta nº 2<br />

Apoio ao projeto <strong>de</strong> lei complementar <strong>de</strong> Luiz Carlos Hauly, que trata da inclusão <strong>de</strong> empresas <strong>de</strong> assessorias <strong>de</strong> imprensa e<br />

agências <strong>de</strong> publicida<strong>de</strong> no programa do Super Simples.<br />

Aqueles que estiverem <strong>de</strong> acordo permaneçam como estão e os que discordarem, levantem-se. Proposta aprovada!<br />

Proposta nº 3<br />

A inclusão no relatório da pesquisa como ativida<strong>de</strong> fornecedora dos meios <strong>de</strong> comunicação, que merece o tratamento igualitário<br />

daquilo que está sendo reclamado e pedido no relatório final.<br />

Aqueles que estiverem <strong>de</strong> acordo permaneçam como estão e os que discordarem, levantem-se.<br />

Não i<strong>de</strong>ntificado<br />

Sou autor da sugestão: ao invés <strong>de</strong> fechar esta redação no sentido <strong>de</strong> dizer “as pequenas agências <strong>de</strong> publicida<strong>de</strong> e assessoria<br />

<strong>de</strong> imprensa”, dar uma redação que inclua toda a ca<strong>de</strong>ia. Temos os produtores <strong>de</strong> som, <strong>de</strong> imagem, gráficas e acho que todos<br />

<strong>de</strong>veriam estar incluídos neste sentido. Eu não quis obter um privilégio para a pesquisa.<br />

Não i<strong>de</strong>ntificado<br />

Então vou refazer e recolocar em votação com nova redação: apoiar a proposta do Luiz Carlos Hauly <strong>de</strong> inclusão das ativida<strong>de</strong>s<br />

<strong>de</strong> comunicação em todo seu aspecto nos benefícios do Super Simples. Se alguma <strong>de</strong>las não estiver incluída, solicitar<br />

inclusão.<br />

Aqueles que estiverem <strong>de</strong> acordo permaneçam como estão. Proposta aprovada<br />

Proposta nº 4<br />

Apoio à ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> free-lancer em agências <strong>de</strong> publicida<strong>de</strong>.<br />

Aqueles que estiverem <strong>de</strong> acordo permaneçam como estão e os que discordarem, levantem-se. Proposta aprovada!<br />

Proposta nº 5<br />

Apelo congressual para redução da carga <strong>de</strong> tributos sobre a folha <strong>de</strong> pagamento trabalhista, como forma <strong>de</strong> aumento <strong>de</strong><br />

ativida<strong>de</strong> e geração <strong>de</strong> empregos.<br />

Aqueles que estiverem <strong>de</strong> acordo permaneçam como estão e os que discordarem, levantem-se. Proposta aprovada!<br />

E finalmente, a última proposta.<br />

Proposta nº 6<br />

Apoio ao projeto do Deputado Ramez Tebet, <strong>de</strong> reinclusão da ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> veiculação <strong>de</strong> publicida<strong>de</strong> externa na relação do<br />

ISS (Imposto Sobre Serviços). Uma lei complementar já em tramitação no <strong>Congresso</strong> Nacional.<br />

Aqueles que estiverem <strong>de</strong> acordo permaneçam como estão e os que discordarem, levantem-se. Proposta aprovada! Sr. presi<strong>de</strong>nte,<br />

nada mais a ser colocado em votação.<br />

Cyd Alvarez<br />

Realmente ninguém tem mais nada a colocar?<br />

Como disse, acho que fomos extremamente convergentes, mas isso não é por acaso.<br />

Não i<strong>de</strong>ntificado<br />

Um a<strong>de</strong>ndo em relação aos free-lancers: colocar aqui recomendação <strong>de</strong> que eles sejam reconhecidos não só nas agências <strong>de</strong><br />

propaganda, mas em todo o espectro da comunicação. Pelo que ouvi, salvo engano, seriam só as agências <strong>de</strong> propaganda,<br />

mas <strong>de</strong>vemos consi<strong>de</strong>rar todo o espectro da comunicação, assim como produtoras e veículos <strong>de</strong> comunicação. Todos usam<br />

os serviços dos free-lancers e a fiscalização teima em não reconhecê-los, teima em consi<strong>de</strong>rá-los como empregados da empresa,<br />

seja ela da área jornalística, uma agência <strong>de</strong> propaganda ou uma produtora. Que todo o mercado da comunicação tenha<br />

reconhecido pelo po<strong>de</strong>r público a figura do free-lancer.<br />

Cyd Alvarez<br />

Des<strong>de</strong> que <strong>de</strong>ntro das regras normais.<br />

Não i<strong>de</strong>ntificado<br />

Recolocado como a redação final que seja consi<strong>de</strong>rado todo aspecto da comunicação na utilização do free-lancer. Aprovado.<br />

Não i<strong>de</strong>ntificado<br />

Sou o autor da primeira consulta, que foi <strong>de</strong>spachada rapidamente e não achei que era o caso <strong>de</strong> se <strong>de</strong>stacar, mas no <strong>de</strong>correr do<br />

<strong>de</strong>bate, notei alguma contradição com o que foi dito. O Dr. Leandro mencionou que seria esticar <strong>de</strong>mais a obra intelectual que é<br />

regida, mas o Dr. João Luís insistiu que parte da luta que se tem para diminuir a tributação tem a ver com o trabalho intelectual.<br />

Quando mencionei que existe um transitado em julgado, uma sentença isentando <strong>de</strong> ISS, PIS e Cofins, é porque essa legislação<br />

equipara direito autoral a bem móvel. Isso veio <strong>de</strong> uma sentença relativa a um software Acho que o relacionamento do<br />

fornecedor com as agências e o cliente se baseia na lei do direito autoral e não sei se não é uma contradição nós simplesmente<br />

jogarmos fora, porque parte do nosso trabalho tem a ver com direito autoral e o Supremo analisa o que é locação <strong>de</strong> bem<br />

imóvel. Não sei se não vale um <strong>de</strong>staque <strong>de</strong> que tudo isso também <strong>de</strong>veria se a<strong>de</strong>quar <strong>de</strong> alguma maneira. Evi<strong>de</strong>ntemente,<br />

não é todo o nosso trabalho que <strong>de</strong>ve se adaptar a isso, mas em parte ele é <strong>de</strong> direito autoral – no caso <strong>de</strong> música, tem a ver<br />

com direito autoral, é criação. Ficamos sempre muito focados nas agências e no finalzinho do <strong>de</strong>bate falamos do espectro<br />

todo e essa é uma questão que <strong>de</strong>veria ser <strong>de</strong>stacada. O direito autoral e sua fundamentação para a tributação.<br />

Não i<strong>de</strong>ntificado<br />

Sim, mas <strong>de</strong>ixe-me explicar uma coisa básica. Não conheço a sentença do software, não sei o que é. Temos que partir <strong>de</strong> dois<br />

princípios: quando a agência paga, a 9.610 fala em criação artística, <strong>de</strong> pessoa física. Agência é organizadora <strong>de</strong> obra coletiva<br />

e quem organiza obra coletiva não está isento <strong>de</strong> imposto. Quem explora obra individual e obra coletiva não está isento do<br />

pagamento <strong>de</strong> imposto. Quando a obra intelectual é utilizada pela pessoa coletiva, ela não é isenta; tanto não é que a inclusão<br />

da publicida<strong>de</strong> já está na relação do ISS por uma lei complementar da constituição, como ativida<strong>de</strong> publicitária, <strong>de</strong> criação,<br />

etc. – está especificado o que é. Você teria que discutir a constitucionalida<strong>de</strong> da lei do ISS. Acho que é impossível, porque a<br />

hipótese tributária está muito clara. Não conheço a sentença e gostaria muito <strong>de</strong> lê-la.<br />

Acho muito interessante, mas acho impossível levantar uma tese sobre o que seja direito autoral em ativida<strong>de</strong> da agência <strong>de</strong><br />

publicida<strong>de</strong>. A publicida<strong>de</strong> não estava na lei anterior <strong>de</strong> direitos autorais; a expressão “propaganda” estava incluída como um<br />

capítulo da lei <strong>de</strong> proprieda<strong>de</strong> industrial e até com registro no INPI. Foi retirada <strong>de</strong> lá por uma razão simples: o INPI não tinha<br />

condição física <strong>de</strong> aten<strong>de</strong>r registro da ativida<strong>de</strong> publicitária, o que não exclui a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> dizer que o trabalho publicitário,<br />

embora a expressão publicitária seja uma obra protegida pela legislação <strong>de</strong> direito industrial, tem conteúdo <strong>de</strong> direitos<br />

autorais. A música é um conteúdo; a fotografia é um conteúdo; o traço é um conteúdo; o texto é um conteúdo. São conteúdos<br />

que se juntam para uma obra coletiva, enten<strong>de</strong>?<br />

Não i<strong>de</strong>ntificado<br />

Gostaria <strong>de</strong> dividir a minha pergunta em duas partes. Uma <strong>de</strong>las é justamente como veria o trabalho da agência neste sentido<br />

e o senhor está respon<strong>de</strong>ndo. Perfeito! A outra questão é como as agências vêem o fornecedor que não emite nota, porque,<br />

por exemplo, uma gravadora <strong>de</strong> uma editora, quando licencia uma música para um comercial, não manda nota fiscal, porque<br />

elas simplesmente não têm. E é música, é direito autoral. Esse associado nosso tem a sentença e não está mais emitindo nota<br />

fiscal. Como isso funcionaria?<br />

Não i<strong>de</strong>ntificado<br />

Mas ele é um criador, é uma pessoa física que cria trabalho intelectual e que está protegida, não é alguém que precisa fazer<br />

nota fiscal.<br />

Não i<strong>de</strong>ntificado<br />

Mas é uma produtora <strong>de</strong> som!<br />

Não i<strong>de</strong>ntificado<br />

Se ele tem obra, se faz obra coletiva, se tem uma ativida<strong>de</strong> industrial, vejo pouco sucesso... não conheço a sentença e não<br />

gosto <strong>de</strong> discutir coisas que não conheço, enten<strong>de</strong>? Mas sob ponto <strong>de</strong> vista legal, sobre a hipótese tributária, acho muito<br />

difícil. Eu gostaria <strong>de</strong> ver a sentença.<br />

308 309<br />

COMISSÃO 10 - CARGA TRIBUTÁRIA E RENTABILIDADE DE AGÊNCIAS, FORNECEDORES E VEÍCULOS


Ronaldo Rangel<br />

Nossa agência aten<strong>de</strong> a Petrobrás e nós estamos vivendo agora um caso assim. Uma empresa chamada Irmãos Vitali tem o<br />

direito <strong>de</strong> várias músicas e eles emitem nota <strong>de</strong> débito. Embora não estejam isentos da tributação do PIS e da Cofins, eles estão<br />

isentos da emissão <strong>de</strong> uma nota fiscal-fatura, mas po<strong>de</strong>m emitir uma nota <strong>de</strong> débito e recolhem o PIS e o ISS.<br />

Hoje, há uma gran<strong>de</strong> controvérsia sobre o ISS<br />

Eles pagam o ISS.<br />

Não i<strong>de</strong>ntificado<br />

Eles têm que pagar, são proprietários materiais <strong>de</strong> obras <strong>de</strong> pessoas físicas. Aliás, é uma questão que vai ser discutida e rediscutida<br />

em breve. A 9.610 é bastante clara, só a pessoa física po<strong>de</strong> ser autora; a pessoa jurídica não po<strong>de</strong>. Ele é cessionário<br />

<strong>de</strong> uma obra <strong>de</strong> um autor pessoa física. Ele explora uma ativida<strong>de</strong> comercial, não é criador. São duas coisas completamente<br />

diferentes. A lei é bastante clara e a constituição no 5º ou 12º, se não me engano, é bastante clara: protege o criador, a pessoa<br />

física, aquela que cria, porque é criação <strong>de</strong> espírito.<br />

Po<strong>de</strong> ser gran<strong>de</strong>, po<strong>de</strong> ser pequena, ruim ou boa, mas é criação <strong>de</strong> espírito e é ativida<strong>de</strong>. Isso não é criação <strong>de</strong> espírito, é uma<br />

ativida<strong>de</strong> comercial; está explorando comercialmente a criação <strong>de</strong> espírito <strong>de</strong> diversas pessoas; é diferente. Não conheço esse<br />

caso do software, que <strong>de</strong>ve ser muito interessante <strong>de</strong> se ler e analisar. Quanto a transitar em julgado, a outra parte po<strong>de</strong> não<br />

ter recorrido e transita em julgado em 1ª.<br />

Não i<strong>de</strong>ntificado<br />

Foi no supremo.<br />

Não i<strong>de</strong>ntificado<br />

Não seria o caso <strong>de</strong> incluir uma menção só a respeito do criador individual, mas vamos falar da música, que é a minha especialida<strong>de</strong>,<br />

para também ser incluído como a folha <strong>de</strong> pagamento, isenta <strong>de</strong> ISS. Quando você paga uma trilha sonora, você paga<br />

uma fatura completa e a maior parte do custo é justamente com o criador, o músico, que não gera nota fiscal.<br />

Não i<strong>de</strong>ntificado<br />

Estou tentando enten<strong>de</strong>r on<strong>de</strong> você quer chegar. Você quer incluir a criação não faturada também naquele item da isenção.<br />

Acho que é perfeito.<br />

Estou refazendo e incluindo a parte relativa às criações <strong>de</strong> espírito que são adquiridas para formulação da obra publicitária. Eu<br />

agra<strong>de</strong>ço e peço <strong>de</strong>sculpas.<br />

Não i<strong>de</strong>ntificado<br />

Eu é que agra<strong>de</strong>ço, obrigado!<br />

Cyd Alvarez<br />

Quer ler a forma final da redação? Acrescentar? Perguntas? Apartes?<br />

Estávamos dizendo aqui que a ativida<strong>de</strong> publicitária ao longo dos anos sempre valorizou – e esse é o centro da nossa ativida<strong>de</strong><br />

– a área <strong>de</strong> criação. Depois da criação, o planejamento, a área <strong>de</strong> mídia e a área financeira, que sempre ficou como a área<br />

administrativa, seu quintal. Hoje o negócio já não é mais assim: a época das “gorduras” acabou há muito tempo e hoje, mais do<br />

que nunca, parte ou ponto fundamental do sucesso das empresas – seja <strong>de</strong> produção, seja <strong>de</strong> pesquisas, seja <strong>de</strong> publicida<strong>de</strong>,<br />

<strong>de</strong> eventos –, sem dúvida, é planejamento, criação <strong>de</strong> ponta, mas, fundamentalmente, uma ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> controle, <strong>de</strong> gestão<br />

cada vez mais afiada, mo<strong>de</strong>rna. Se as agências, as empresas <strong>de</strong> comunicação não pensarem assim, o futuro é negro. é um<br />

ponto importante e a prova é vocês estarem aqui, sentados para discutir a questão tributária enquanto o Nizan Guanaes está<br />

aqui ao lado, falando <strong>de</strong> criação.<br />

A palavra que eu tinha na cabeça quando vim para o <strong>Congresso</strong> ontem era “transparência”. Eu estava muito concentrado nesta<br />

Comissão e acho que, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente <strong>de</strong> ela ter sido <strong>de</strong>mocrática, propositiva, sempre pensei que o fundamental do<br />

<strong>Congresso</strong> como um todo e o objetivo <strong>de</strong>sta comissão seria a transparência, fundamental dos dois lados. Quando entrei ontem<br />

no Gran<strong>de</strong> Salão e as luzes apagaram, mesmo antes do Kofi Annan subir ao palco, mudou a palavra, ou seja, acrescentouse<br />

a palavra “orgulho” na minha cabeça. Eu não sei quanto a vocês, mas eu fiquei muito, muito, muito orgulhoso <strong>de</strong> pertencer a<br />

esta categoria, fazer parte <strong>de</strong>sta profissão. Sou administrador <strong>de</strong> empresas e escolhi a área <strong>de</strong> comunicação para trabalhar. Por<br />

uma série <strong>de</strong> fatos que ocorreram ao longo <strong>de</strong>stes últimos anos, houve um momento em que nós não fazíamos muita questão<br />

<strong>de</strong> dizer que trabalhávamos na área <strong>de</strong> comunicação.<br />

Um dos objetivos <strong>de</strong>ste <strong>Congresso</strong>, além <strong>de</strong> todas essas questões propositivas às quais vamos dar andamento, é também<br />

recuperar – não só para nós, mas para o gran<strong>de</strong> público – a nossa capacida<strong>de</strong>, a nossa importância no cenário brasileiro. Não<br />

sei se compartilham, ou não, mas eu gostaria <strong>de</strong> <strong>de</strong>ixar para vocês o orgulho que tenho hoje <strong>de</strong> fazer parte <strong>de</strong>ssa categoria.<br />

Muito bem! Obrigado!<br />

Temos a nossa tese. Vamos acrescentar todos estes pontos, elaborar uma proposta final, encaminhar para a secretaria do<br />

evento e essa proposta, com o que vocês acrescentaram, ficará à disposição, não sei exatamente até quando, para que sejam<br />

acrescentados alguns pontos. No Plenário final, teremos <strong>de</strong> 12 a 15 minutos para ler resumidamente o que ficou combinado.<br />

Sendo assim, queria agra<strong>de</strong>cer <strong>de</strong> coração a presença e o empenho <strong>de</strong> vocês. Muito obrigado! Vamos trabalhar!<br />

Comissão 11<br />

A VAlORIZAçãO, A PROSPERIDADE E A RENTAbIlIDADE DA INDúSTRIA DA COmuNICAçãO<br />

Nota: Os trabalhos <strong>de</strong>sta Comissão<br />

não estão reproduzidos na íntegra<br />

por problemas técnicos <strong>de</strong> gravação.<br />

luiz lara<br />

O <strong>IV</strong> <strong>Congresso</strong> <strong>Brasileiro</strong> <strong>de</strong> Publicida<strong>de</strong> começou a ser <strong>de</strong>senhado muito antes da sua realização. O primeiro passo certamente<br />

foi o 6º EBAP, que aconteceu em Brasília, em 2005. já sob a li<strong>de</strong>rança do Dalton Pastore. Ao término do evento, eu me lembro<br />

bem do <strong>de</strong>sejo do Dalton <strong>de</strong> já lançar ali a realização do <strong>IV</strong> <strong>Congresso</strong>. Mas o mercado ainda não estava pronto. E o incansável<br />

Dalton começou ali o trabalho <strong>de</strong> alinhamento das principais li<strong>de</strong>ranças.<br />

O segundo passo foi a criação do Conselho Consultivo da <strong>Abap</strong> no qual li<strong>de</strong>ranças que até então pouco se falavam e nunca<br />

se reuniam, começaram a discutir juntos os principais temas do nosso mercado. Aju<strong>de</strong>i o Dalton nesta articulação junto aos<br />

principais publicitários do mercado, costurando alianças para que todos percebessem que, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> disputarmos<br />

contas, tínhamos a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> criar uma nova mentalida<strong>de</strong> para pensar nosso negócio.<br />

Todos passaram a discutir juntos questões importantes, e não só a remuneração. Começamos a <strong>de</strong>bater questões como a<br />

valorização da nossa ativida<strong>de</strong>, a rentabilida<strong>de</strong> da relação com os clientes e parceiros, a construção <strong>de</strong> uma governança, com<br />

regras éticas que garantam a prosperida<strong>de</strong> da nossa indústria da comunicação.<br />

Ali percebemos que nós - especialistas na construção e na gestão das marcas <strong>de</strong> nossos clientes - estávamos cuidando muito<br />

mal da nossa indústria. Aliás, pertenço a uma geração que nunca participou <strong>de</strong> um <strong>Congresso</strong>, um hiato <strong>de</strong> 30 anos que simboliza<br />

a falta <strong>de</strong> compromisso <strong>de</strong> cada um com o fortalecimento da nossa indústria. Era chegado o momento <strong>de</strong> aplicarmos<br />

nosso talento, <strong>de</strong> colocarmos nossa criativida<strong>de</strong> a serviço do nosso negócio.<br />

As reuniões do Conselho Consultivo ajudaram na percepção <strong>de</strong> que o momento exigia a união, não apenas das agências <strong>de</strong><br />

propaganda, mas <strong>de</strong> todos os agentes da comunicação, agindo <strong>de</strong> forma integrada em cada uma <strong>de</strong> suas disciplinas, para,<br />

juntos, criarmos uma re<strong>de</strong> <strong>de</strong> valor e melhorarmos os resultados oferecidos aos clientes.<br />

Hoje, o Brasil é uma economia emergente, um mercado fundamental para toda e qualquer marca internacional po<strong>de</strong>r crescer.<br />

Isto está abrindo uma janela <strong>de</strong> oportunida<strong>de</strong>s para o talento criativo brasileiro ser protagonista na conquista <strong>de</strong> novas contas.<br />

Nenhuma empresa po<strong>de</strong> prescindir da ferramenta da comunicação, <strong>de</strong> uma publicida<strong>de</strong> criativa para posicionar sua marca<br />

e se conectar com milhões <strong>de</strong> consumidores brasileiros. Temos tradição <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> na nossa indústria e creio que este<br />

<strong>Congresso</strong> mostrou a importância <strong>de</strong> preservarmos este mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> negócio vencedor, que privilegia o talento, com mídia,<br />

planejamento, atendimento, criação e produção juntos nas agências <strong>de</strong> propaganda e com plena integração entre todos os<br />

parceiros do negócio.<br />

Nossa melhor idéia foi a <strong>de</strong> fazer este <strong>Congresso</strong>. Nosso maior mérito foi <strong>de</strong> ter a coragem <strong>de</strong> realizá-lo, vencendo resistências<br />

pautadas no medo e até na falta <strong>de</strong> prática <strong>de</strong> um setor até então <strong>de</strong>sunido. Nosso gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>safio é, num mundo em plena<br />

transição, potencializar o valor que todos os agentes da nossa indústria po<strong>de</strong>m gerar. E conseguiremos isso com dinamismo e<br />

integrida<strong>de</strong>. Transformando conflitos em conciliação <strong>de</strong> interesses e, assim, garantindo a rentabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> todos e os melhores<br />

resultados nas campanhas e esforços <strong>de</strong> comunicação para nossos clientes.<br />

Antônio Jacinto matias<br />

Bom dia senhores, vamos conversar um pouco sobre os fatores-chave para a valorização, prosperida<strong>de</strong> e rentabilida<strong>de</strong> da<br />

indústria da comunicação, sendo que o tema também se esten<strong>de</strong> naturalmente para qualquer indústria prestadora <strong>de</strong> serviços.<br />

Empresas fortes constroem indústrias fortes e esse alinhamento está relacionado a fatores como: visão e missão claras e valores<br />

já internalizados; proposta <strong>de</strong> valor <strong>de</strong>finida, estratégia <strong>de</strong> negócios sustentável, gestão consistente <strong>de</strong> pessoas, processos<br />

e custos, foco no cliente e na qualida<strong>de</strong> do atendimento e articulação e auto-regulamentação do setor.<br />

Quando falamos em proposta <strong>de</strong> valor <strong>de</strong>finida, estamos nos referindo a Governança Corporativa que se traduz pela transparência<br />

em todos os relacionamentos (stakehol<strong>de</strong>rs), ética e profissionalização e pela criação <strong>de</strong> diferencial competitivo. A<br />

estratégia <strong>de</strong> negócios sustentável se resume em planejamento <strong>de</strong> curto, médio e longo prazo, antecipação <strong>de</strong> cenários e foco<br />

em resultados, com metas claras e compartilhadas.<br />

Concluindo, temos que a construção <strong>de</strong> uma indústria forte é o resultado <strong>de</strong> empresas fortes que integram no seu dia-a-dia<br />

todos esses fatores.<br />

Empresas fortes, indústrias fortes. O que estas marcas têm em comum? Lojas Americanas, Skol, Itaú, Gol, Unibanco, Vivo, Natura,<br />

Banco do Brasil, Vale, Bra<strong>de</strong>sco, Perdigão, Antártica, Banco Real, Pão <strong>de</strong> Açúcar, Brahma, Petrobras, Extra, Sadia, Embraer, TAM e Oi.<br />

Elas têm as marcas mais valiosas do país, são empresas fortes em seus segmentos (bancos, bebidas, transporte aéreo, alimentos,<br />

telecomunicações e varejo) e fazem parte <strong>de</strong> indústrias fortes. E há uma indústria presente em todas estas histórias <strong>de</strong> sucesso.<br />

O caso Itaú – empresa que investiu e investe na comunicação e teve resultados. A visão <strong>de</strong> futuro do banco, seus valores e cultura<br />

po<strong>de</strong>m ser assim traduzidos: ‘’Ser o banco lí<strong>de</strong>r em performance e perene reconhecidamente sólido e ético, <strong>de</strong>stacandose<br />

por equipes motivadas, comprometidas com a satisfação dos clientes, com a comunida<strong>de</strong> e com a criação <strong>de</strong> diferenciais<br />

competitivos’’.<br />

O valores do banco são compartilhados, fruto <strong>de</strong> construção coletiva por mais <strong>de</strong> 60 anos. Sua trajetória foi marcada por conquistas<br />

e por pioneirismo. Cada década contribuiu para o amadurecimento <strong>de</strong> um banco focado em tecnologia e inovação,<br />

sem <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> lado um patrimônio fundamental: as pessoas e a socieda<strong>de</strong> na qual está inserido.<br />

Já a cultura organizacional gera diferenciais competitivos como li<strong>de</strong>rança em performance; postura ética; eficiência continuamente<br />

perseguida; satisfação dos clientes; benefícios a todos os públicos estratégicos e perenida<strong>de</strong>.<br />

310 311<br />

COMISSÃO 11 - A VALORIZAÇÃO, A PROSPERIDADE E A RENTABILIDADE DA INDÚSTRIA DA COMUNICAÇÃO


A segmentação do negócio é dividida em Corporate e Varejo, sendo representada pela pirâmi<strong>de</strong> projetada, na qual temos:<br />

• corporate: micro-empresas, com faturamento anual abaixo <strong>de</strong> R$ 500 mil;<br />

• pequenas empresas, com faturamento anual entre R$ 500 mil e R$ 10 milhões;<br />

• médias empresas, com faturamento anual entre R$ 10 milhões e R$ 100 milhões;<br />

• po<strong>de</strong>r público;<br />

• investidores institucionais e gran<strong>de</strong>s corporações.<br />

Já para varejo, o banco está segmentado da seguinte forma:<br />

• Taií – crédito;<br />

• Agências-Individual, renda acima <strong>de</strong> R$ 3.200,00;<br />

• Agências-Gerenciado, renda acima <strong>de</strong> R$ 3.200,00;<br />

• Itaú Personalité, renda acima <strong>de</strong> R$ 5.000,00;<br />

• Itaú Private Bank para investimentos acima <strong>de</strong> R$ 2 milhões. Além disso, a segmentação é complementada pelos<br />

Cartões <strong>de</strong> Financiamento e Seguros e Previdência.<br />

O quadro a seguir <strong>de</strong>monstra como é tratada internamente a questão da sustentabilida<strong>de</strong>. Na busca pela i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>, perguntamos:<br />

quem sou?; ao evoluirmos para a governança, perguntamos: como faço?; para as finanças sustentáveis: o que faço?;<br />

no relacionamento, perguntamos: com quem faço?; e, por fim, na construção e manutenção da imagem, perguntamos: como<br />

sou visto?<br />

O Itaú está hoje entre as maiores empresas do Brasil, com patrimônio líquido <strong>de</strong> R$ 29 bilhões, ativos <strong>de</strong> R$ 295 bilhões e valor<br />

<strong>de</strong> mercado <strong>de</strong> R$ 111 bilhões. Segundo a Standard & Poor’s, está entre os 20 maiores bancos do mundo, ocupando a 18a<br />

colocação e com valor <strong>de</strong> mercado <strong>de</strong> US$ 64 bilhões.<br />

Está presente em todo o país com 3.528 agências e postos <strong>de</strong> atendimento bancário, mais <strong>de</strong> 24 mil caixas e pontos <strong>de</strong><br />

atendimentos eletrônicos e mais <strong>de</strong> 4,7 milhões <strong>de</strong> interações diárias (BIHF), agregando a tudo isso um forte processo <strong>de</strong><br />

internacionalização.<br />

O banco exerce forte influência nos âmbitos econômico, social e ambiental, com mais <strong>de</strong> 60 mil acionistas, mais <strong>de</strong> 24 milhões<br />

<strong>de</strong> clientes, mais <strong>de</strong> 65 mil colaboradores e mais <strong>de</strong> 30 mil fornecedores.<br />

Em ações <strong>de</strong> cidadania nas comunida<strong>de</strong>s, o Itaú soma 25 projetos <strong>de</strong>senvolvidos pela Fundação Itaú Social e mais <strong>de</strong> 165<br />

parcerias e apoios a instituições. Através do Itaú Cultural, já são 219 eventos realizados com mais <strong>de</strong> 279 mil pessoas nas ações<br />

em sua se<strong>de</strong> em São Paulo. Ainda <strong>de</strong>stacam-se mais <strong>de</strong> 200 eventos comunitários e mais <strong>de</strong> R$ 105 milhões investidos em<br />

programas e iniciativas ligadas à área socioambiental.<br />

Alguns reconhecimentos valem ser <strong>de</strong>stacados. Quanto à soli<strong>de</strong>z e perenida<strong>de</strong> da instituição, o DJSI World <strong>de</strong>stacou o Itaú<br />

como o único banco latino-americano a figurar em sua lista <strong>de</strong>s<strong>de</strong> sua criação (1999). Como integrante dos índices <strong>de</strong> sustentabilida<strong>de</strong><br />

da Bovespa (ISE – Índice <strong>de</strong> Sustentabilida<strong>de</strong> Empresarial) e da Bolsa <strong>de</strong> Valores <strong>de</strong> Nova York.<br />

Pela Interbrand, como a marca mais valiosa do Brasil <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 2002, com valor <strong>de</strong> R$ 8, 076 bilhões em 2007.<br />

Além <strong>de</strong>sses reconhecimentos, em 2007 o Itaú recebeu mais <strong>de</strong> 50 prêmios, com <strong>de</strong>staque para:<br />

Melhor banco da América Latina – Revista Euromoney<br />

Melhor banco brasileiro - Revista Euromoney (10º ano consecutivo)<br />

Banco mais sustentável e ético da América Latina – Revista Latin Finance e Consultoria Management & Excellence – 3º ano<br />

consecutivo<br />

Empresa referência em sustentabilida<strong>de</strong> no Brasil – Guia Exame <strong>de</strong> Sustentabilida<strong>de</strong> 2007<br />

As mais admiradas do Brasil – 1º lugar categorias Banco <strong>de</strong> Varejo e Previdência Privada – Carta Capital e TNS InterScience<br />

Como a indústria da comunicação ajudou o Itaú a se consolidar no mercado financeiro.<br />

A estratégia do Itaú entre 1971 e 1984 levou em consi<strong>de</strong>ração a análise <strong>de</strong> três cenários: político, econômico e bancário.<br />

No cenário político, o fato mais relevante foi a ditadura militar. No econômico <strong>de</strong>stacaram-se o alto crescimento, a inflação<br />

crescente e a gran<strong>de</strong> intervenção governamental. No cenário bancário a consolidação <strong>de</strong> fusões e aquisições e a expansão<br />

da re<strong>de</strong>.<br />

Na linha do tempo que aparece na tela, <strong>de</strong>stacamos alguns fatos relevantes:<br />

1971: Itaú América – segundo maior banco privado do país;<br />

1973: aquisição do Banco Português do Brasil;<br />

1974: aquisição do BUC e criação da ITAÚSA;<br />

1979: início da segmentação corporate e varejo, criação da Itautec e início da operação na Argentina;<br />

1980: primeira agência fora do Brasil – Nova York;<br />

1981: nasce o Banco Eletrônico.<br />

Da comunicação na estratégia do Itaú, consi<strong>de</strong>rando a mesma linha do tempo do sli<strong>de</strong> anterior (1971 a 1984), <strong>de</strong>stacamos:<br />

1971: contratada a DPZ para <strong>de</strong>senvolver a primeira campanha do banco com o tema ‘’Aju<strong>de</strong> o Itaú a ser o primeiro’’. A campanha<br />

informava ao público que o Itaú era a segunda instituição financeira do país e criava coesão entre bancários <strong>de</strong> várias<br />

origens, para gerar um sentimento <strong>de</strong> orgulho em busca da li<strong>de</strong>rança;<br />

1972: com a campanha ‘’O Banco que luta por você’’ a mensagem <strong>de</strong>stacava o banco participando do dia-a-dia nas comunida<strong>de</strong>s,<br />

com um marketing voltado para os eventos esportivos. O banco patrocinou a transmissão da Olimpíada <strong>de</strong> Munique pela<br />

TV e tornou-se a empresa anunciante a apoiar, <strong>de</strong>cisivamente, o tênis do Brasil, criando a Copa Itaú <strong>de</strong> Tênis; nasce a marca Itaú<br />

que em Tupi-guarani significa Pedra Preta. ‘’Um nome simples <strong>de</strong> quatro letras é uma marca’’;<br />

1973: O Itaú passa a valorizar a cultura nacional com uma série <strong>de</strong> capas <strong>de</strong> cheques que homenageavam a arte, diversida<strong>de</strong><br />

e belezas naturais brasileiras;<br />

1973 – 1975: criada a campanha ‘’Seja cliente <strong>de</strong> um banco só’’. Rodolfo e Anita formaram o primeiro casal <strong>de</strong> propaganda dos<br />

bancos brasileiros e esta foi uma das campanhas mais importantes da publicida<strong>de</strong> brasileira – Itaú solucionando seus problemas.<br />

Em 1973 o Itaú era o segundo maior banco por volume <strong>de</strong> <strong>de</strong>pósitos e tinha 480 agências;<br />

1976: com o lançamento do Cheque Estrela Itaú, a comunicação valorizou a importância <strong>de</strong> criar e comunicar novos produtos<br />

para os clientes Itaú – ‘’Agora você vai ter todas as estrelas <strong>de</strong> um cliente especial’’ e ‘’As 5 do seu cheque e as 5 do cartão que<br />

você vai receber’’ foram os títulos dos anúncios impressos; neste ano o banco contava com 667 agências e 27 mil funcionários;<br />

1979: ‘’Po<strong>de</strong> entrar que a casa é sua’’ foi o título da campanha do ano que valorizava a integração do banco com a comunida<strong>de</strong>,<br />

o banco das pessoas, com foco nos clientes e pronto para servir;<br />

1980: a marca é re<strong>de</strong>senhada e o sistema <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> do banco recebe a cor laranja, reforçando sua presença na paisagem<br />

urbana. Com campanhas marcantes, a nova marca reforça a competitivida<strong>de</strong> do Itaú: ‘’Banco que vira casa’’ foi um dos títulos<br />

dos anúncios veiculados;<br />

1981: nasce o Banco Eletrônico, o banco presente na comunida<strong>de</strong> e no dia-a-dia dos clientes cria um gran<strong>de</strong> diferencial. ‘’O<br />

Itaú transforma em re<strong>de</strong> eletrônica a maior re<strong>de</strong> <strong>de</strong> agências bancárias <strong>de</strong> São Paulo’’, ‘’Você acaba <strong>de</strong> ganhar um computador’’<br />

e ‘’Pixel’’ (ousando na forma), foram os títulos das principais peças publicitárias;<br />

1983: as Cinco Estrelas passam a i<strong>de</strong>ntificar as agências com atendimento online, ao lado da marca Itaú. ‘’ Abra uma conta no<br />

Itaú e ganhe 973 agências em todo o Brasil’’, ‘’Abra uma conta numa agência do primeiro banco eletrônico do país e fique<br />

cliente <strong>de</strong> todas’’ e ‘’TV Itaú – um homem e uma mulher’’ foram os títulos das peças <strong>de</strong> comunicação.<br />

A estratégia do Itaú no período compreendido entre 1985 e 1994 manteve a análise dos cenários político, econômico e bancário<br />

brasileiros. No cenário político, <strong>de</strong>stacou-se a transição <strong>de</strong>mocrática; no econômico a inflação alta, a economia fechada,<br />

os planos econômicos e a moratória. No cenário bancário, a administração em ambiente inflacionário, os investimentos em<br />

tecnologia e o foco em serviços.<br />

Neste período <strong>de</strong>stacamos como fatos relevantes:<br />

1985: investimento em tecnologia e agências com foco no atendimento/serviços;<br />

1986: Plano Cruzado – administração em planos <strong>de</strong> estabilização;<br />

1987: criação do Itaú Cultural;<br />

1991: ampliação da segmentação - criação do Private Bank;<br />

1992: reformulação da marca;<br />

1993: criação do Programa Itaú Social.<br />

Da comunicação na estratégia do Itaú, consi<strong>de</strong>rando a mesma linha do tempo do sli<strong>de</strong> anterior (1985 a 1994), <strong>de</strong>stacamos:<br />

1985: evolução do Banco Eletrônico – o Itaú consolida a re<strong>de</strong> <strong>de</strong> auto-atendimento e os caixas eletrônicos oferecem aos<br />

clientes a comodida<strong>de</strong> <strong>de</strong> realizarem operações fora do horário <strong>de</strong> expediente bancário e em locais <strong>de</strong> fácil acesso. ‘’Hoje 1º <strong>de</strong><br />

maio, o Caixa Eletrônico Itaú estará trabalhando normalmente como se fosse 7 <strong>de</strong> setembro, 15 <strong>de</strong> novembro, 25 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro<br />

ou 1º <strong>de</strong> janeiro’’ e ‘’Night and Day’’ foram os títulos dos anúncios impressos;<br />

1988: criada a campanha ‘’O Itaú está on<strong>de</strong> você precisa’’ <strong>de</strong>stacando a re<strong>de</strong> <strong>de</strong> atendimento Itaú presente em todo o país, com<br />

produtos e serviços inovadores. Os títulos ‘’ Sr. Gorbatchev, parabéns pela introdução do cheque na Rússia. Quando o senhor<br />

quiser implantar também o Cheque Estrela, o Cartão Estrela, o Itaufone e o Caixa Eletrônico, é só falar com o Itaú’’ e ‘’Avião’’<br />

li<strong>de</strong>raram a campanha do ano;<br />

1992: com a campanha ‘’Itaú: todo dia um banco melhor para você’’, a marca Itaú ganha cor e o banco aprofunda-se na segmentação<br />

<strong>de</strong> mercado. A cor laranja passa a ser utilizada na mídia.<br />

No período compreendido entre 1995 e 2008, a estratégia do Itaú <strong>de</strong>stacou em sua análise do cenário político a consolidação<br />

<strong>de</strong>mocrática; no cenário econômico, o baixo crescimento, o controle da inflação, a volatilida<strong>de</strong> do mercado, os juros altos e<br />

a globalização. No cenário bancário brasileiro, <strong>de</strong>stacaram-se os bancos estrangeiros/privatizações, a especialização, o crescimento<br />

da re<strong>de</strong> eletrônica, o aumento da competitivida<strong>de</strong> e a consolidação do sistema.<br />

Os fatos relevantes <strong>de</strong>sse período são:<br />

1995: compra do BFB;<br />

1997: aquisição do Banerj;<br />

1998: aquisição do Bemge;<br />

2000: aquisição do Banestado;<br />

2001: aquisição do BEG;<br />

2002: aquisição do BBA e Banco FIAT;<br />

2003: criação da Banco Itaú Holding Financeira;<br />

2004: Criação da Taií, Itaú CDB, entrada no Japão e Credicard;<br />

2005: parceria BPI (Portugal), Unicredito (Itália) e La Caixa (Espanha) e Lojas Americanas;<br />

2006: aquisição do Bank Boston – Brasil, Chile e Uruguai.<br />

Da comunicação na estratégia do Itaú, no mesmo período <strong>de</strong>stacamos:<br />

1995: campanha ‘’Itaú. Pronto para o futuro’’. Comemorando 50 anos com maturida<strong>de</strong>, experiência e ao mesmo tempo juventu<strong>de</strong>,<br />

disposição, força, renovação constante, <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> revolucionar, inquietação. Um Banco à frente <strong>de</strong> seu tempo, antecipando<br />

o futuro. O título da campanha foi ‘’ Itaú 50 anos. Pronto para o futuro. Neste ano o Itaú contava com 1.901 pontos <strong>de</strong><br />

atendimento e 6.556 caixas eletrônicos;<br />

1999: com a campanha ‘’Bem-vindo ao ano 2000’’, o banco enfatizou que estar à frente do seu tempo é mais que investir em<br />

tecnologia. é ouvir, respeitar e apren<strong>de</strong>r com os clientes. ‘’Bem-vindo ao ano 2000’’, ‘’Habitantes do Século XXI, Bem-vindos’’,<br />

‘’Amanhã’’ e ‘’Milênio’’, foram os títulos da campanha. Neste ano o banco contava com 2.462 pontos <strong>de</strong> atendimento, 11.361<br />

caixas eletrônicos e 6,9 milhões <strong>de</strong> clientes;<br />

2000: com o tema ‘’Seu banco da era digital’’, o Itaú colocou lado a lado, <strong>de</strong> forma positiva, o binômio tecnologia x humano,<br />

<strong>de</strong>stacando que os fatores proximida<strong>de</strong> e tecnologia são importantes para se ter mais tempo para aproveitar a vida, enquanto<br />

o banco trabalha para seus clientes. O i-digital sintetizou calor humano, proximida<strong>de</strong> e uma forma <strong>de</strong> interação com as pessoas.<br />

A trilha que virou hino: Itaú, rápido, simples, confiável;<br />

2001: o tema ‘’Itaú. Feito para você’’ levou o conceito <strong>de</strong> um banco feito para você, do jeito que você é, a qualquer hora, em<br />

312 313<br />

COMISSÃO 11 - A VALORIZAÇÃO, A PROSPERIDADE E A RENTABILIDADE DA INDÚSTRIA DA COMUNICAÇÃO


qualquer lugar. Cliente: priorida<strong>de</strong> absoluta. A presença urbana potencializou a experiência <strong>de</strong> marca;<br />

2003: foi dado um toque <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong> na tipologia da Marca Itaú. O título ‘’A marca Itaú mudou. Uma mudança sutil, porque<br />

o Itaú muda todo dia para continuar a ser cada vez mais o Itaú feito para você.’’ li<strong>de</strong>rou a campanha impressa. Neste ano<br />

o banco somava mais <strong>de</strong> 2.300 pontos <strong>de</strong> atendimento e mais <strong>de</strong> 20.000 caixas eletrônicos; Veja personalizada: na edição <strong>de</strong><br />

aniversário <strong>de</strong> 35 anos <strong>de</strong> Veja, o Itaú inovou, veiculando anúncio com o nome do assinante como título. ‘’Antonio Paulo Pereira<br />

Arantes, guar<strong>de</strong> este anúncio como mais uma prova <strong>de</strong> que o Itaú foi feito para você’’ é um exemplo;<br />

2005: neste ano o tema foi Itaú. 60 anos sendo feito para você. ‘’Tinha tudo para virar um banco senhor. Mas virou um senhor<br />

banco’’. O banco continuou a ouvir seus clientes com o ‘’Ouvir você’’, reafirmou sua vocação para a cidadania e o crescimento<br />

sustentável com o ‘’Uso Consciente do Crédito’’ e tornou-se mais que um banco, um grupo financeiro <strong>de</strong> múltiplos relacionamentos;<br />

2006: ocorre a ampliação do conceito com os temas: ‘’Itaú. Feito para você’’. Um banco acessível, com produtos e serviços feitos<br />

para facilitar a vida dos clientes. E ‘’O Itaú quer você’’, reforçando a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> um banco <strong>de</strong> serviços, com muitas portas <strong>de</strong> entrada<br />

para os mais diferentes perfis <strong>de</strong> clientes;<br />

2007: o conceito é ainda mais ampliado com o tema: ‘’Itaú. Ontem, hoje e amanhã feito para você’’. Preparado para aten<strong>de</strong>r<br />

com agilida<strong>de</strong> o cliente em suas necessida<strong>de</strong>s imediatas, ao mesmo tempo em que trabalha, pensando no amanhã. O título<br />

<strong>de</strong> um dos anúncios impressos foi ‘’Não é <strong>de</strong> hoje que o Itaú pensa no amanhã’’.<br />

2008: o tema foi ‘’Itaú. A melhor relação custo-benefício para você. Nem o mais caro, nem o mais barato, o melhor para você’’ foi<br />

o título <strong>de</strong> um dos anúncios. Neste ano o banco contava com mais <strong>de</strong> 2.700 pontos <strong>de</strong> atendimento e mais <strong>de</strong> 23.800 caixas<br />

eletrônicos. Comemorou também os 50 anos da Bossa Nova com o tema Itaú Brasil 2008 e os 50 anos da Bossa Nova.<br />

Valor <strong>de</strong> Mercado<br />

No período compreendido entre 1998 e 2008 (base maio), o valor <strong>de</strong> mercado do Itaú evoluiu <strong>de</strong> US$ 5,8 bilhões para US$ 67,2<br />

bilhões, um crescimento <strong>de</strong> mais <strong>de</strong> 11 vezes em apenas 10 anos e meio.<br />

Itaú no Mercado <strong>de</strong> Capitais<br />

Consi<strong>de</strong>rando a evolução <strong>de</strong> US$ 100 investidos em 23 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 1998 até 23 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 2008, tem-se:<br />

Valorização média em US$<br />

Itaú (1) Itaú (2) Ibovespa (3)<br />

10 anos 29,79% 25,19% 16,65%<br />

5 anos 55,24% 50,56% 54,80%<br />

12 meses 22,89% 19,47% 42,89%<br />

(1) Com reinvestimento dos divi<strong>de</strong>ndos – crescimento <strong>de</strong> 1.356 vezes<br />

(2) Sem reinvestimento dos divi<strong>de</strong>ndos – crescimento <strong>de</strong> 946 vezes<br />

(3) Bovespa – crescimento <strong>de</strong> 466 vezes<br />

Durante este período, vale <strong>de</strong>stacar alguns fatos relevantes, como a crise russa e a <strong>de</strong>svalorização do Real em 1998, a crise<br />

argentina em 2000, o ataque ao WTC em 2001, o período eleitoral brasileiro em 2002, o aumento da taxa <strong>de</strong> juros americana<br />

no final <strong>de</strong> 2005 e a crise do subprime em setembro <strong>de</strong> 2008.<br />

A trajetória <strong>de</strong> sucesso do Itaú é a síntese <strong>de</strong> uma gestão consistente com a crença na comunicação <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong>. A história<br />

do Itaú e dos gran<strong>de</strong>s anunciantes se mistura com a da indústria da comunicação, que não só acompanha os movimentos<br />

estratégicos das empresas, como os potencializa, os influencia, os eterniza.<br />

Essa parceria ajudou e ajuda o Itaú a consolidar cada novo passo em sua história, estabelecendo o mais eficiente diálogo com<br />

o consumidor:<br />

agências <strong>de</strong> propaganda com idéias brilhantes, uso inteligente das mídias e campanhas memoráveis;<br />

veículos com parceria, credibilida<strong>de</strong>, inovação em projetos arrojados que fazem a diferença;<br />

produtoras <strong>de</strong> filmes e fotógrafos com qualida<strong>de</strong> e talento em concretizar as idéias em emoção;<br />

agências <strong>de</strong> marketing direto com o conhecimento do consumidor, a segmentação e o diálogo mais próximo e mensurável;<br />

produtoras <strong>de</strong> promoções e eventos com a experiência da marca ao extremo.<br />

Os principais <strong>de</strong>safios da indústria da comunicação são:<br />

a indústria da comunicação tem necessida<strong>de</strong>s e <strong>de</strong>safios similares aos <strong>de</strong> outras categorias.<br />

O primeiro <strong>de</strong>les é se enxergar nesse contexto;<br />

indústrias fortes são resultado <strong>de</strong> empresas fortes e com articulação eficiente entre si (concorrência leal, ética e autorregulação);<br />

governança corporativa;<br />

a. Gestão com foco em resultados e <strong>de</strong>sempenho:<br />

maior engajamento com as metas empresariais dos anunciantes;<br />

crescimento sustentável;<br />

busca <strong>de</strong> lucro sustentável.<br />

b. Diversificação dos negócios:<br />

entendimento do mercado e das necessida<strong>de</strong>s dos clientes;<br />

inovação e criativida<strong>de</strong> na hora <strong>de</strong> aten<strong>de</strong>r e na oferta <strong>de</strong> serviços.<br />

c. Gestão empresarial eficiente:<br />

mapeamento, <strong>de</strong>senvolvimento e retenção <strong>de</strong> talentos<br />

profissionalização.<br />

Roberto lima<br />

È preciso comtemplar a comunicação integral das empresas. Falei dos acionistas controladores. Comunicação para os acionistas<br />

e investidores, que compram as nossas ações no mercado. Eles precisam ter uma boa comunicação. Ela po<strong>de</strong> ser diferente<br />

do que nós estamos mostrando para os outros públicos? De jeito nenhum! Tem que ser uma mensagem <strong>de</strong> confiança. Quanta<br />

gente investe nessa comunicação hoje? No momento, é uma área <strong>de</strong> relações com investidores muito valorizada internamente<br />

nas empresas, que usa as técnicas <strong>de</strong> comunicação normalmente <strong>de</strong>senvolvidas nas áreas financeiras, baseadas em<br />

relatórios. Não criam emoções e muitas vezes as pessoas <strong>de</strong>ci<strong>de</strong>m pela compra por sentirem que existe um pouco mais por<br />

trás daquele número: há uma equipe, vibração, ambição. Vocês po<strong>de</strong>m nos ajudar a criar esse tipo <strong>de</strong> reação em acionistas<br />

que, muitas vezes, po<strong>de</strong>m ser mais frios.<br />

Os parceiros, os fornecedores, enfim, todos <strong>de</strong>vem estar integrados à nossa maneira <strong>de</strong> pensar. Eles precisam ver na nossa<br />

empresa uma oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> progredir também, pensando que se a empresa crescer, eles crescerão junto com ela. Eles<br />

apostarão na empresa por ela ter propósitos sociais a<strong>de</strong>quados.<br />

Precisamos fazer um trabalho <strong>de</strong> vendas da nossa empresa para os nossos parceiros, porque no momento em que surge uma<br />

novida<strong>de</strong> no mercado, queremos ser escolhidos. Que empresa <strong>de</strong> telecomunicações não gostaria <strong>de</strong> ser a primeira a lançar o<br />

iPhone? (Todo mundo vai lançá-lo junto. Existem muitas <strong>de</strong>sinformações sobre o assunto.)<br />

No lançamento <strong>de</strong> um produto como este, todas as empresas gostariam <strong>de</strong> ser escolhidas pela Apple, por serem as melhores,<br />

por ela confiar em nós. Para isso, também temos que fazer um trabalho <strong>de</strong> comunicação com os nossos parceiros. Precisamos<br />

nos ven<strong>de</strong>r para eles. E, por fim, é importante a relação com a socieda<strong>de</strong> em geral: <strong>de</strong> nada adianta se essa empresa não for<br />

comprada pela socieda<strong>de</strong> em geral e eu voltarei ao assunto <strong>de</strong>pois.<br />

Tudo isso tem funcionado bem <strong>de</strong> uma maneira ou <strong>de</strong> outra. Com um pouco mais <strong>de</strong> ênfase na comunicação com o público,<br />

com um pouco mais <strong>de</strong> criativida<strong>de</strong>, as coisas andam bem. As nossas indústrias vão bem, o país vai bem, porém, algumas<br />

coisas po<strong>de</strong>rão mudar e temos que imaginar o que po<strong>de</strong> mudar, como será esse novo cenário, o que hoje nos preocupa e<br />

<strong>de</strong>sestrutura um pouco na maneira <strong>de</strong> pensar.<br />

O Luiz Lara, na abertura, falou como serão as coisas nesse rumo ao mundo digitalizado. é o que estamos estudando hoje, baseados<br />

nessa teoria da socieda<strong>de</strong> em re<strong>de</strong>, segundo a qual os indivíduos conectados valem mais, produzem mais, são melhores,<br />

têm mais chance <strong>de</strong> progresso pessoal, profissional e material. Além <strong>de</strong> mais valiosos, esses indivíduos conectados também<br />

provocam mais mudanças <strong>de</strong> comportamento.<br />

Vou dar alguns exemplos para mostrar que isso já está acontecendo com muita rapi<strong>de</strong>z. Na Argentina, após um pronunciamento<br />

da presi<strong>de</strong>nte Cristina Kirchner, algumas pessoas se revoltaram com o que ela disse e enviaram mensagens umas às<br />

outras, através <strong>de</strong> SMS e em menos <strong>de</strong> uma hora e meia, já se formara uma movimentação na Praça <strong>de</strong> Maio com <strong>de</strong>zenas<br />

<strong>de</strong> milhares <strong>de</strong> pessoas convocadas através <strong>de</strong> uma re<strong>de</strong> <strong>de</strong> SMS. Tudo começou com a reação <strong>de</strong> uma ou duas pessoas que<br />

iniciaram aquela re<strong>de</strong>. O comportamento foi como um rastro <strong>de</strong> pólvora e imediatamente, foi criado um movimento.<br />

O segundo exemplo é o fenômeno Barak Obama nos Estados Unidos. Surgiu uma marca <strong>de</strong> um nome estranho, quando já<br />

existia uma marca do Partido Democrata, Hillary Clinton, com uma história, um passado, conhecida. Aí, começa a se ver como<br />

essa marca foi vendida ou criada. Alguns números, para dar uma idéia: a contribuição média para uma campanha da Hillary<br />

Clinton se conta acima das <strong>de</strong>zenas <strong>de</strong> milhões <strong>de</strong> dólares feitas por gran<strong>de</strong>s corporações. A contribuição média para Barak<br />

Obama foi <strong>de</strong> US$ 200, feita pela internet. Ele conseguiu mexer com os indivíduos.<br />

Dei um exemplo com SMS e outro com internet, que cria comportamentos numa socieda<strong>de</strong> que começa a se mover em re<strong>de</strong>,<br />

a partir <strong>de</strong> iniciativas <strong>de</strong> individuos.<br />

O terceiro exemplo: a rádio Sul América, em São Paulo, fica no ar o dia inteiro recebendo informações <strong>de</strong> pessoas que estão em<br />

<strong>de</strong>slocamento no trânsito e dizem on<strong>de</strong> estão e quais são as condições do trânsito, sugerindo outras opções <strong>de</strong> trajetos. Elas<br />

estão prestando dois serviços. Primeiro, elas são beneficiadas, porque se menos pessoas forem para o local on<strong>de</strong> elas estão,<br />

menos congestionado ficará, e outras não pegarão o congestionamento. São pessoas agindo individualmente para resolver<br />

problemas sociais que elas mesmas criam.<br />

Esse exemplo é muito interessante, pois mostra que elas estão criando conteúdos, aquela característica dos indivíduos conectados.<br />

Elas estão no rádio criando conteúdo jornalístico; estão dando a informação na hora, no ato, e ninguém vai perguntar<br />

se po<strong>de</strong>m ou não produzir conteúdo – se elas têm passaportes estrangeiros, não po<strong>de</strong>rão produzir conteúdo no Brasil. Não é<br />

hora <strong>de</strong> perguntar essas coisas, porque todos na re<strong>de</strong> po<strong>de</strong>rão contribuir.<br />

E se no momento em que a pessoa estiver dando sua contribuição sobre o trânsito, ela se distrair, não <strong>de</strong>sligar o telefone e<br />

cantar uma parte da música “Garota <strong>de</strong> Ipanema”? Assim, essa pessoa acabou <strong>de</strong> colocar outro conteúdo no ar, uma música.<br />

Alguém po<strong>de</strong>rá reclamar direitos autorais pelo fato <strong>de</strong> ela estar fazendo uma exposição pública? Ninguém controla mais a<br />

relação entre as pessoas, a informação, porque todos serão capazes <strong>de</strong> criar e distribuir conteúdo <strong>de</strong> uma forma muito mais<br />

rápida e ampla do que aquilo que é feito hoje em dia. Será impossível estabelecer regulamentos que possam controlar esse<br />

tipo <strong>de</strong> manifestação. Os indivíduos estão iniciando comportamentos que mudam completamente as coisas.<br />

Vou dar um último exemplo, que vem da natureza. Todos já viram um enxame <strong>de</strong> abelhas, muitas vezes em filme. Ele se<br />

movimenta como uma massa, uma bola meio disforme e em <strong>de</strong>terminado momento, muda completamente <strong>de</strong> rumo, <strong>de</strong><br />

uma hora para a outra. Isso não ocorre porque o lí<strong>de</strong>r mudou <strong>de</strong> rumo, mas porque no meio daquele grupo, um indivíduo<br />

igual aos outros percebeu alguma coisa que os outros não perceberam e consegue transmitir alguns conteúdos relevantes<br />

para o grupo todo, que fazem com que o grupo se movimente atrás <strong>de</strong>le; um novo lí<strong>de</strong>r assume e ele muda a direção do seu<br />

movimento.<br />

Assim agem os grupos que hoje funcionam em re<strong>de</strong>. Esses serão os nossos clientes, os nossos consumidores. Eles serão influenciados<br />

por coisas que não são somente o que nós queremos dizer; são criadores <strong>de</strong> conteúdo, ouvem uns aos outros.<br />

Conclusão: hoje, nas nossas empresas, gastamos muito dinheiro com pesquisas fantásticas – é a fonte <strong>de</strong> informação da qual<br />

dispomos para saber como nossos produtos são percebidos, como os nossos clientes nos vêem, o que po<strong>de</strong>mos fazer para<br />

melhorar, o que não vai bem. A partir <strong>de</strong>ssas pesquisas, começamos a integrar uma série <strong>de</strong> diagnósticos, propor soluções e<br />

mudanças <strong>de</strong> rumo.<br />

Essas pesquisas já não serão mais feitas assim. Os blogs estão aí, as pessoas estão se manifestando a todo momento sobre o<br />

que acham <strong>de</strong> nossas empresas. E <strong>de</strong> nada adianta eu criar um blog. Se eu fizer isso na tentativa <strong>de</strong> controlar o que vai se passar<br />

nessa re<strong>de</strong>, será uma tentativa frustrada. Isso <strong>de</strong>ve ser criado espontaneamente; as pessoas criam essas re<strong>de</strong>s e começam a se<br />

314 315<br />

COMISSÃO 11 - A VALORIZAÇÃO, A PROSPERIDADE E A RENTABILIDADE DA INDÚSTRIA DA COMUNICAÇÃO


manifestar. A gran<strong>de</strong> diferença entre o que está acontecendo nos blogs e as pesquisas que fazemos é que quando as pesquisas<br />

são feitas, eu recebo essa informação, tenho como processá-la e como encontrar caminhos. Nos blogs, no momento em que a<br />

informação é produzida e eu tomo conhecimento <strong>de</strong>la, todos os outros também já sabem. O tempo que me resta para reagir<br />

é muito curto e isso complica muito o nosso cenário.<br />

Como será a indústria da comunicação num cenário como este, on<strong>de</strong> tudo vai se passar em re<strong>de</strong>? Parace futurologia, parece<br />

distante, mas não está. Quem diria, há <strong>de</strong>z anos, que esse país teria, hoje, 130 milhões <strong>de</strong> acessos ao celular? Em <strong>de</strong>z anos, foi<br />

uma gran<strong>de</strong> revolução, mas esperem pelo próximo ano. Estamos iniciando a conexão <strong>de</strong> internet <strong>de</strong> terceira geração entre<br />

pessoas, para atingir a banda larga, móvel, nos celulares, com as placas ligadas a laptops.<br />

A socieda<strong>de</strong> reagirá imediatamente; surgirão novas formas <strong>de</strong> organização; o uso da internet será cada vez mais intenso; as<br />

re<strong>de</strong>s <strong>de</strong> internet terão que ser superdimensionadas a partir <strong>de</strong> agora, sob o risco <strong>de</strong> caos na internet por excesso <strong>de</strong> <strong>de</strong>manda<br />

e as pessoas farão cada vez mais esse uso, pois é a forma <strong>de</strong> incluí-las digital, social e economicamente. As pessoas conectadas<br />

têm cada vez mais capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> progresso material.<br />

Isso é como estamos vendo nesse cenário a situação das nossas empresas, as agências. Talvez não tenhamos toda a certeza<br />

do mundo sobre como vamos nos posicionar, sobre quais serão os mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong> negócios possíveis, como vamos ganhar<br />

dinheiro.<br />

Temos que <strong>de</strong>scobrir, temos que discutir e a melhor maneira <strong>de</strong> fazermos isso é juntos. A indústria da comunicação tem todas<br />

as competências às quais eu me referi no início, pois tem uma contribuição individual muito forte, é <strong>de</strong>spojada, muda comportamentos<br />

e cria mudanças na nossa socieda<strong>de</strong>. Precisamos saber aproveitar isso para também provocar as mudanças nas<br />

nossas empresas. Porém, nada disso po<strong>de</strong> ser feito se não tivermos um propósito muito claro e todos temos que olhar para o<br />

mesmo objetivo: procurar o <strong>de</strong>senvolvimento social para o nosso país que tanto amamos. Muito obrigado.<br />

luiz lara<br />

Parabéns ao Roberto Lima. Sua admiração pelo trabalho das agências, sua crença na criativida<strong>de</strong> – muitas vezes, uma gran<strong>de</strong><br />

idéia po<strong>de</strong> surgir a partir <strong>de</strong> uma imersão em 24 horas, com gran<strong>de</strong> índice <strong>de</strong> acerto. Você nos <strong>de</strong>u uma aula <strong>de</strong> como<br />

gerenciar e posicionar uma marca, interagindo com todos os stakehol<strong>de</strong>rs, todos os públicos, mostrando que uma marca é<br />

construída <strong>de</strong> <strong>de</strong>ntro para fora <strong>de</strong> uma empresa, a partir da comunicação interna, do compartilhamento <strong>de</strong> valores <strong>de</strong> forma<br />

horizontalizada, com funcioários, colaboradores, distribuidores, clientes, acionistas, investidores, toda a socieda<strong>de</strong> em geral.<br />

Você também mostrou esse passo para o futuro, esse salto que daremos na direção <strong>de</strong> um mundo digitalizado, da socieda<strong>de</strong><br />

em re<strong>de</strong>, com gran<strong>de</strong>s exemplos, mostrando efetivamente que seremos atores em cena aberta. Com os blogs sobre os quais<br />

você comentou, uma empresa precisará saber se comunicar, interagir e se relacionar com os consumidores, produzindo e recebendo<br />

conteúdo em experiências sucessivas. Estaremos aqui para discutir e gerenciar tudo isso. Muito obrigado. Vou passar<br />

a palavra ao presi<strong>de</strong>nte do Conselho Executivo das Normas-Padrão, o Cenp, Petrônio Corrêa.<br />

Petrônio Corrêa<br />

Muito boa tar<strong>de</strong>, é um prazer estar aqui. Participei, na ABI, no Rio <strong>de</strong> Janeiro, aos 28 anos, do I <strong>Congresso</strong> <strong>Brasileiro</strong> <strong>de</strong> Propaganda.<br />

Na ocasião, eu era funcionário em Porto Alegre da Grant Advertising e vi naquele congresso as pessoas fantásticas que<br />

trabalhavam na nossa profissão.<br />

Na ocasião, em 1957, foi criado e redigido – lembro-me que várias pessoas trabalharam nessa redação – um Código <strong>de</strong> ética<br />

Publicitário, que foi a base da Lei 4.680, que rege as relações <strong>de</strong> toda a indústria da propaganda. Essa lei foi apresentada ao<br />

Deputado Almino Affonso e aprovada no dia 18 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 1965. Eu estava presente e me lembro perfeitamente que no dia<br />

em que essa lei foi aprovada, o lí<strong>de</strong>r <strong>de</strong> um partido <strong>de</strong> Jânio Quadros <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>u no <strong>Congresso</strong> a lei. Nesse dia, nós estávamos<br />

tomando um café na Câmara e ele abriu o jornal. Lá, havia uma notícia <strong>de</strong> que o Jânio tinha perdido um olho. Ele disse: “Puxa<br />

vida, agora o Jânio vai ganhar, porque no país <strong>de</strong> cegos, quem tem um olho é rei!”.<br />

Depois, participei dos congressos <strong>de</strong> 1969 e <strong>de</strong> 1978 (que estudou as bases do Cenp, que hoje eu presido). Sou um velho<br />

no meio <strong>de</strong> vocês e tenho uma gran<strong>de</strong> satisfação por estar entre os jovens que operam e trabalham em propaganda, uma<br />

profissão característica dos jovens. A Lei 4.680, hoje a base <strong>de</strong> todo o relacionamento cliente–agência e agência-veículo, teve<br />

um <strong>de</strong>senvolvimento no ano <strong>de</strong> 1957, quando foi redigido o primeiro documento.<br />

A Lei 4.680 incluiu o Código <strong>de</strong> Auto-Regulamentação da época, que está na lei brasileira, porque ela citou e os <strong>de</strong>putados,<br />

na época, anexaram o Código <strong>Brasileiro</strong> dos Publicitários. Não sei por que estou contando algo que ocorreu há 30 anos atrás.<br />

Depois da palestra dos dois que me antece<strong>de</strong>ram, não tenho muito a falar.<br />

Sou presi<strong>de</strong>nte do Conselho Executivo <strong>de</strong> Normas-Padrão, que nasceu no <strong>Congresso</strong> <strong>de</strong> 1957 e isso me dá gran<strong>de</strong> satisfação,<br />

pois continuo ligado a essa profissão. Trabalhei 62 anos da minha vida sempre em propaganda, não tive outra profissão. Quando<br />

comecei, trabalhava como agenciador <strong>de</strong> publicida<strong>de</strong> <strong>de</strong> um jornal meio “picareta” e <strong>de</strong>pois fui trabalhar em uma agência<br />

<strong>de</strong> propaganda. Tive uma com meus sócios – a MPM Propaganda –, que graças a Deus, hoje está em muito boas mãos. Eu<br />

cobro sempre, dizendo que eles têm uma gran<strong>de</strong> responsabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> continuar a <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r essa marca que construímos em<br />

35 anos. Eles têm tanta sorte, que não precisam construir essa marca, pois ela já foi construída por nós.<br />

Enfim, essa é a minha mensagem. Sou um operário da propaganda. Não sei falar muito bem em público e acho que o fato <strong>de</strong><br />

me escalarem para ser o penúltimo me <strong>de</strong>u uma gran<strong>de</strong> oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> pedir a vocês <strong>de</strong>sculpas pelas bobagens que eu<br />

disse aqui. Muito obrigado.<br />

Raul Dória<br />

Conheço bem o Petrônio. Ele foi meu primeiro patrão em 1979, quando eu tinha apenas 16 anos e fui contratado por ele para<br />

ser gerente <strong>de</strong> comunicação social da MPM – na época, era uma casa branca, a maior agência da América Latina – e sei muito<br />

bem os recados que ele me mandou <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o começo: <strong>de</strong>vo ser muito breve, pois todos estão cansados. O primeiro patrão a<br />

gente nunca esquece!<br />

Queria agra<strong>de</strong>cer pelo “rabo <strong>de</strong> foguete”. Depois <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s oradores, você me <strong>de</strong>ixou por último.<br />

luiz lara<br />

Mas é on<strong>de</strong> entram mesmo os parceiros <strong>de</strong> produção: o prazo é sempre pequeno e a magia da idéia tem que ser mantida.<br />

Raul Dória<br />

Reconheço sua afirmação como verda<strong>de</strong> e estou numa posição <strong>de</strong> certa forma confortável, porque ontem, no painel <strong>de</strong> Prestadores<br />

<strong>de</strong> Serviços Especializados e sua Relação com Agências e Clientes, presidido pelo Zezinho Mutarelli – um trabalho muito<br />

bem feito pela Apro, Aprosom, Thomas Roth, pela equipe toda, Sônia, Leyla, Abrafoto, Abigraf –, as teses foram aprovadas.<br />

Trago uma reflexão breve sobre o quanto é sensível ser o “rabo do foguete”. Não sei se você me colocou aqui <strong>de</strong> propósito, mas<br />

é assim que acontece no nosso caso mesmo.<br />

Passamos um dia magnífico. Começamos com o brilhante painel do Nizan Guanaes <strong>de</strong> manhã, <strong>de</strong>pois com o João Roberto<br />

Marinho e, agora, mais este, com essa palestra brilhante do Antônio Jacinto Matias, a do Roberto Lima. é muito difícil falar<br />

sobre um assunto tão <strong>de</strong>licado e tão rapidamente, que é a produção <strong>de</strong> som, imagem, fotos, on<strong>de</strong> todo o processo <strong>de</strong> comunicação<br />

acaba sintetizado.<br />

Quero fazer uma provocação e tenho um filme que vai me apoiar. Eu sou melhor <strong>de</strong> metáfora do que <strong>de</strong> PowerPoint, mas<br />

vou fazer o contrário: pouca metáfora e mais PowerPoint. Para ficar mais didático, sempre comparo a <strong>de</strong>lica<strong>de</strong>za da escolha<br />

<strong>de</strong> uma produtora com a escolha <strong>de</strong> um restaurante e sempre me lembro <strong>de</strong> quão sábio é o nosso amigo Rogério Fasano,<br />

por ter quatro casas: a Forneria, o Gero, o Parigi e o Fasano, cada uma <strong>de</strong>las para um caso. São todas no mesmo bairro, têm<br />

o mesmo excelente atendimento, são todas muito bonitas. O que muda é o preço, <strong>de</strong>terminado pela maestria do chefe <strong>de</strong><br />

cozinha e pelos ingredientes. Escolhemos um dos quatro pela nossa pertinência e pelo programa. Qual é a preferência do dia?<br />

Um lanche rápido ou um jantar breve no Gero? Uma coisa mais comemorativa no Pariggi, ou é um aniversário <strong>de</strong> casamento<br />

a ser comemorado no Fasano?<br />

Escolher produtora é mais ou menos assim: é preciso saber qual é o caso para escolhê-la. Aí entra uma questão muito <strong>de</strong>licada:<br />

a compra <strong>de</strong> produção pelos clientes. Eu continuo achando que a agência <strong>de</strong> propaganda é mais habilitada para fazer isso do<br />

que o cliente, mas já reconheço que é um direito legítimo do anunciante, da boa governança, que <strong>de</strong>ve o seu resultado aos<br />

seus acionistas, a comprar através da mesa <strong>de</strong> compras.<br />

Esse <strong>Congresso</strong> fará com que o barco com oito remadores, que vinha meio em curva na raia, saia daqui na reta, colocando<br />

essa indústria numa velocida<strong>de</strong> muito maior do que ela vinha tendo até agora. E o que falta para isso são pequenos acertos<br />

<strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s novida<strong>de</strong>s, como a compra direta pelo anunciante. Estou nesse setor <strong>de</strong>s<strong>de</strong>1979 e isso não existia. No começo<br />

estranhei e hoje reconheço como legítimo, mas peço somente que reflitam sobre um ponto bastante sensível: é preciso que<br />

haja uma pessoa ou consultoria especializada no assunto <strong>de</strong>ntro do cliente para fazer essa compra.<br />

Não <strong>de</strong>vemos tratar esse assunto como commodity, pois assim, corremos o risco <strong>de</strong> todo o esforço <strong>de</strong> planejamento, <strong>de</strong><br />

pesquisa, <strong>de</strong> paixão e envolvimento da equipe <strong>de</strong> marketing e da equipe do cliente, da agência, das empresas correlatas que<br />

fizeram um trabalho e tiveram uma idéia brilhante para agregar valor à marca – um valor que se refletirá nas ações na Bolsa <strong>de</strong><br />

Valores – ser <strong>de</strong>struído na hora da produção, por um processo <strong>de</strong> compra equivocado, ou que em algum momento escolheu<br />

o fornecedor errado.<br />

Fiz um pequeno ví<strong>de</strong>o, uma provocação e peço que vocês não consi<strong>de</strong>rem as cifras como verda<strong>de</strong>iras. é quase uma ironia, só<br />

para vocês verem a minha situação e a pergunta que se sugere no final é exatamente esta: ter uma pessoa ou uma consultoria,<br />

alguém na mesa <strong>de</strong> compras que entenda das peculiarida<strong>de</strong>s do negócio, para benefício do anunciante, da agência, da marca,<br />

da indústria da comunicação.<br />

Depois do ví<strong>de</strong>o, que tem dois minutos, encerrarei com um pequeno comentário. Não sou especialista em mídia, nem em<br />

planejamento, nem em pesquisa, por isso, se aparecer algum número errado, peço <strong>de</strong>sculpas. Eu estimei alguns números só<br />

para fazer uma provocação.<br />

Apresentação audiovisual<br />

Deixo essa reflexão. Não sou contra a mesa <strong>de</strong> compras, mas a favor da sua qualificação, a favor dos próprios clientes. Muito<br />

obrigado.<br />

luiz lara<br />

Está aí uma belíssima provocação do Raul Dória, mostrando como fazer, o olhar que é colocado na magia da execução da idéia.<br />

A boa aplicabilida<strong>de</strong> nessa execução é fundamental para o êxito e para que realmente o talento e a criativida<strong>de</strong> permaneçam.<br />

Propaganda não é qualquer commodity.<br />

é hora <strong>de</strong> votarmos, a palavra está aberta. Todos os que quiserem se manifestar terão 90 segundos. Nós já recebemos quatro teses<br />

antes <strong>de</strong> começar este fórum. Vamos projetar a primeira na tela. As meninas já estão circulando e eu estou vendo vários papéis.<br />

Peço a vocês um pouco <strong>de</strong> paciência, porque 20 minutos a mais do tempo <strong>de</strong> vocês nos ajudarão a construir o futuro. Nós já<br />

tivemos o privilégio <strong>de</strong> contar com a experiência <strong>de</strong> alguns anos do Antônio Jacinto Matias, do Roberto Lima, dos muitos anos do<br />

Petrônio Corrêa e nós, que tanto tivemos <strong>de</strong>ssa profissão, temos só que dar agora um pouco da nossa experiência.<br />

Aqui vai a primeira tese, que recebi antes, do Julio Ribeiro. Vou ler rapidamente:<br />

A relação cliente–agência é uma relação <strong>de</strong> troca, na qual a competência <strong>de</strong>veria ser o principal foco da revisão. Na verda<strong>de</strong>,<br />

as empresas não compram das agências anúncios, planos <strong>de</strong> mídia, etc. Eles compram competência, capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ativar<br />

negócios, <strong>de</strong> resolver problemas, proativida<strong>de</strong> e capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> inovar.<br />

A relação cliente–agência se enriquece ou <strong>de</strong>finha na razão direta da existência ou não <strong>de</strong>ssa capacida<strong>de</strong>. Uma agência competente<br />

sempre tem um bom relacionamento com o cliente.<br />

Para se conseguir um bom termo na equação que começa no controle mais severo do anunciante sobre seus investimentos<br />

e termina na garantia <strong>de</strong> boa rentabilida<strong>de</strong> para as agências, é preciso encontrar o equilíbrio a<strong>de</strong>quado entre preço e valor.<br />

Preço é o que está na etiqueta dos produtos ou na proposta <strong>de</strong> remuneração. Valor é aquilo que o cliente está disposto a pagar<br />

para obter a qualida<strong>de</strong> do trabalho <strong>de</strong> uma <strong>de</strong>terminada agência.<br />

As agências <strong>de</strong> valor raramente têm problemas nessa área. Geralmente, o preço <strong>de</strong> remuneração <strong>de</strong> uma boa agência é mais<br />

caro, porque é mais barato. Explico: as estratégias competentes da mídia diminuem os custos <strong>de</strong> mídia; a competência criativa<br />

permite a criação <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s marcas; o planejamento estratégico a<strong>de</strong>quado provoca aumento <strong>de</strong> resultados nas empresas.<br />

Na maioria dos casos, trabalhar com uma boa agência é muito mais barato para as empresas do que trabalhar com uma agência<br />

<strong>de</strong> competência marginal, que cobra taxas iníquas.<br />

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COMISSÃO 11 - A VALORIZAÇÃO, A PROSPERIDADE E A RENTABILIDADE DA INDÚSTRIA DA COMUNICAÇÃO


No que diz respeito à Talent e à QG, sentimos que planejamento estratégico, qualida<strong>de</strong> criativa e competência <strong>de</strong> mídia nunca<br />

foram tão valorizados como atualmente.<br />

Para mim, no que se refere ao tema <strong>de</strong>ste painel, a principal proposição <strong>de</strong>veria ser um pacto da prosperida<strong>de</strong>, o crescimento<br />

das agências, dos veículos e dos fornecedores gerando prosperida<strong>de</strong> e crescimento para as empresas anunciantes.<br />

Não existe, na interação <strong>de</strong> negócios, uma fórmula que possa dar certo se apenas uma das partes ganhar dinheiro. Esse pacto<br />

tem sido responsável pela prosperida<strong>de</strong>, pelo aumento <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> e crescimento dos resultados <strong>de</strong>stes setores.<br />

Palmas para o Julio Ribeiro.<br />

Temos outra tese para projetar, do Agnelo Pacheco:<br />

Propostas<br />

1. Fiscalizar <strong>de</strong> formas rígidas as agências <strong>de</strong> comunicação, para que as normas do Cenp <strong>de</strong> fato sejam cumpridas.<br />

2. Estabelecer novos procedimentos <strong>de</strong> cobrança <strong>de</strong> custos <strong>de</strong> criação e planejamento pelas agências que aten<strong>de</strong>m clientes<br />

que realizam a veiculação direta por suas houses.<br />

3. Criar regras para punir os veículos que não preservam o percentual <strong>de</strong> <strong>de</strong>sconto das agências.<br />

4. Proibir o trabalho não remunerado das agências para <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> campanhas para clientes, com exceção <strong>de</strong> comunicação<br />

com caráter social e <strong>de</strong> interesse público.<br />

5. Formatar novos pisos <strong>de</strong> repasses <strong>de</strong> <strong>de</strong>scontos, preservando o equilíbrio financeiro das agências.<br />

6. Determinar limites para o <strong>de</strong>sconto cedido pelas agências sobre custos referenciais, como os da tabela da Sinapro.<br />

Uma salva <strong>de</strong> palmas.<br />

Mais uma tese do Walter Zagari, da TV Record.<br />

Para criarmos o futuro, é fundamental valorizarmos o papel <strong>de</strong> cada parceiro da nossa indústria da comunicação. é importante<br />

preservarmos o talento e a criativida<strong>de</strong> da publicida<strong>de</strong> brasileira, que garanta a qualida<strong>de</strong> da nossa programação e a liberda<strong>de</strong><br />

editorial dos veículos <strong>de</strong> comunicação. Por isso, propomos que conquistas como o Cenp e o Conar sejam mantidas. E a melhor<br />

evolução para garantirmos a rentabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> cada parceiro e a prosperida<strong>de</strong> <strong>de</strong> todos é aperfeiçoarmos os processos <strong>de</strong><br />

escolha e seleção <strong>de</strong> agências, garantindo maior transparência nas licitações públicas e privadas.<br />

Nossa tese é <strong>de</strong> nos unirmos, dando total apoio ao Projeto <strong>de</strong> Lei 3305, <strong>de</strong> 2008, apresentado pelo <strong>de</strong>putado José Eduardo<br />

Cardozo, cujo texto contempla as normas do Cenp e preserva a in<strong>de</strong>pendência dos veículos <strong>de</strong> comunicação.<br />

Tenho aqui uma tese <strong>de</strong> Roberto Duailibi, que está aqui e escreveu sobre a preservação do mercado brasileiro a partir da<br />

concessão dos intervalos comerciais.<br />

Roberto Duailibi<br />

A tese é um pouco controversa, como não po<strong>de</strong>ria <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> ser. Estamos num <strong>Congresso</strong> on<strong>de</strong> todas as reflexões <strong>de</strong>vem vir<br />

à tona. é a respeito da commoditização da propaganda, exatamente através das campanhas globais e da utilização <strong>de</strong> comerciais<br />

internacionais nos intervalos brasileiros.<br />

Antigamente tínhamos uma Portaria que reservava o intervalo comercial das televisões apenas a produtoras brasileiras, filmes<br />

feitos no Brasil. Isso gerou uma indústria importante — o Walter Salles , o Cao Hamburguer, o Meirelles são consequências disso.<br />

Hoje esta portaria caiu e apenas nesse fim-<strong>de</strong>-semana, <strong>de</strong> 69 anunciantes da Globo, SBT, Record, Ban<strong>de</strong>irantes e Re<strong>de</strong>TV, 39<br />

são nacionais e 30 são estrangeiros, dos quais 12 utilizam comerciais feitos fora do Brasil.<br />

A minha tese é para que a legislação volte – sei que é controversa, parece dinossáurica até, mas penso nas 470 escolas <strong>de</strong><br />

comunicação que estão formando quase 90 mil jovens nos próximos anos e que precisam ter um mercado <strong>de</strong> trabalho.<br />

Na minha opinião, hoje em dia, estamos face a uma <strong>de</strong>sglobalização. O preço do petróleo, os novos biocombustíveis, estão<br />

fazendo com que as gran<strong>de</strong>s indústrias pensem menos no transporte, que está muito caro, e mais em ter a produção local, o<br />

que significa que veremos mudanças muito gran<strong>de</strong>s, caso o preço do petróleo continue como está. Devemos estar preparados<br />

para essa <strong>de</strong>sglobalização.<br />

Essa tese <strong>de</strong>veria ser aprsentada muito mais pelas associações dos produtores. As agências teriam até interesse <strong>de</strong> usar comerciais<br />

já produzidos, mas senti que tinha o <strong>de</strong>ver <strong>de</strong> apresentar a tese, em nome do <strong>de</strong>senvolvimento do mercado brasileiro.<br />

Muito obrigado.<br />

luiz lara<br />

Roberto Duailibi apresenta uma clara tese, na qual recomenda que as produtoras nacionais voltem a lutar pela vigência da<br />

Portaria que consi<strong>de</strong>ra o intervalo comercial uma concessão do Governo e que esse intervalo comercial seja produzido aqui<br />

no Brasil, por profissionais brasileiros – diretores, atores, cenógrafos, iluminadores, marceneiros, eletricistas, câmeras e outros<br />

profissionais <strong>de</strong>ssa indústria que inclusive prepararam a base da atual indústria cinematográfica brasileira, que, assim como o<br />

nosso <strong>de</strong>sign, a nossa estética e a nossa economia, estão ganhando cada vez mais inserção no mercado internacional, graças<br />

à propaganda.<br />

Temos duas teses muito interessantes: uma apresentada pelo Sérgio Molina, da DMV e a outra, por Alessandro Prado, da Vitamina<br />

A, dizendo que “este fórum permamente <strong>de</strong> comunicação aqui proposto tenha a representação e a participação ativa das<br />

pequenas e médias agências.” Acho muito importante, asim como o Alessandro Prado <strong>de</strong>fen<strong>de</strong> isso.<br />

São 3.900 agências certificadas no Cenp hoje. é importante realçar que a propaganda brasileira – estou com a maioria dos<br />

presi<strong>de</strong>ntes dos capítulos regionais da <strong>Abap</strong> – é feita regionalmente, em cida<strong>de</strong>s pequenas, médias e gran<strong>de</strong>s, nos quatro<br />

cantos <strong>de</strong>ste país, e que o brasileiro é talentoso em todas as regiões do Brasil.<br />

As pequenas e médias agências <strong>de</strong>vem estar presentes em qualquer discussão neste fórum permanente <strong>de</strong> comunicação,<br />

e <strong>de</strong>vem estar representadas no âmbito da <strong>Abap</strong>, da Fenapro e das entida<strong>de</strong>s do setor. A <strong>Abap</strong> fez um programa chamado<br />

“Comunicar e crescer”, mostrando ao pequeno e médio anunciante que nenhum anunciante nasce gran<strong>de</strong> – o Matias mostrou<br />

que em 1971, quando ele começou a anunciar, a sua verba não era necessariamente tão gran<strong>de</strong> – e que a comunicação tem<br />

o papel <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolver marca e criar anunciantes. Esse é um papel fundamental, como disse o Matias, “com ciência e arte”, ou<br />

seja, com criativida<strong>de</strong>, mas com resultado e engajamento pleno com as metas do cliente.<br />

A Nádia Rebouças tem uma tese: quando ela fala em melhorar a gestão da indústria e dos parceiros, não basta investir nos estudantes.<br />

Esse fórum permanente <strong>de</strong>veria estudar rapidamente a reciclagem do mercado. Essa reciclagem é tão fundamental,<br />

que é importante para que a propaganda se profissionalize cada vez mais. E ela, a partir da menção do Matias sobre o papel da<br />

responsabilida<strong>de</strong> socioambiental da propaganda, fala da importância <strong>de</strong> ter um trabalho <strong>de</strong> responsabilida<strong>de</strong> socioambiental<br />

e <strong>de</strong> voluntariado na propaganda.<br />

O Emmanuel Publio Dias tem uma tese em que ele sugere a inclusão, entre as sugestões da Comissão, da criação, <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>sse<br />

fórum permanente que nós propusemos, <strong>de</strong> um fórum provisório do V <strong>Congresso</strong>, funcionando virtual e permanentemente<br />

como um centro <strong>de</strong> discussões e contribuições <strong>de</strong> todos os setores da indústria da comunicação. Neste fórum, o V <strong>Congresso</strong><br />

amadureceria naturalmente, e ele já propõe o tema do V <strong>Congresso</strong>: a internacionalização da indústria da comunicação<br />

brasileira.<br />

Emmanuel Publio Dias<br />

Ou nós fazemos isso, ou iremos atrás dos anunciantes. Eu estava viajando, cheguei há pouco tempo e vi duas coisas absolutamente<br />

fantásticas. Primeira: o principal espaço do Festival <strong>de</strong> Cannes estava ocupado por uma iniciativa empresarial brasileira,<br />

a Film Brazil. Nesse final <strong>de</strong> semana, um grupo belgo-brasileiro comprou a maior cervejaria americana. São duas coisas absolutamente<br />

impensáveis há três ou quatro anos atrás.<br />

Li num editorial do Financial Times, no último fim-<strong>de</strong>-semana, um jornalista propondo a entrada do Brasil no G-8. O Brasil já está<br />

lá fora. A indústria da propaganda precisa acompanhá-lo – e, neste caso, acho que os nossos estudantes ficarão muito mais à<br />

vonta<strong>de</strong> produzindo filmes para Dubai do que, eventualmente, brigando aqui <strong>de</strong>ntro por um mercado que já está saturado.<br />

luiz lara<br />

Já conseguimos ler a maior parte das manifestações e é hora <strong>de</strong> votar. Neste painel, já houve <strong>de</strong> tudo, até faltou luz.<br />

Temos o que já havia sido proposto com antecedência e a partir disso, houve várias manifestações.<br />

Foi proposta a criação do Fórum Anual da Indústria da Comunicação, do qual vão participar todas as entida<strong>de</strong>s organizadoras<br />

<strong>de</strong>ste evento, com o objetivo <strong>de</strong> dar continuida<strong>de</strong> às <strong>de</strong>cisões e recomendações surgidas durante este <strong>IV</strong> <strong>Congresso</strong>, no<br />

sentido <strong>de</strong> valorizar a indústria e cuidar <strong>de</strong> sua prosperida<strong>de</strong>, abrangendo a sugestão do Emmanuel <strong>de</strong> que seja um fórum<br />

permanente <strong>de</strong> instalação do V <strong>Congresso</strong>, cujo tema po<strong>de</strong> ser a internacionalização da indústria da comunicação. Se todos<br />

estiverem <strong>de</strong> acordo, peço que levantem as mãos. Uma salva <strong>de</strong> palmas. Está votada a primeira tese.<br />

Como bem disse o Matias, uma indústria forte precisa <strong>de</strong> empresas fortes, precisa <strong>de</strong> governança e está na hora <strong>de</strong> sabermos<br />

construir essa governança formando uma re<strong>de</strong> <strong>de</strong> valor.<br />

Segundo item a ser votado, a partir <strong>de</strong> uma sugestão <strong>de</strong> tese apresentada pelo Salles Neto, do Meio & Mensagem e pelo<br />

Roberto Justus, da Young & Rubicam: a nomeação <strong>de</strong> um comitê executivo comandado pela <strong>Abap</strong>, com a participação das<br />

<strong>de</strong>mais entida<strong>de</strong>s, para elaborar um plano estratégico, visando valorizar a comunicação comercial e a marca da indústria da<br />

comunicação, inclusive o papel <strong>de</strong> todos os parceiros da nossa indústria. Aquilo que fazemos brilhantemente como gestão <strong>de</strong><br />

marca, como o Itaú fez com a ajuda das agências DPZ, DM9 e África; como a Vivo vem fazendo com a ajuda <strong>de</strong> suas agências,<br />

nós temos que fazer com a nossa indústria. Isso é um <strong>de</strong>safio e não <strong>de</strong>vemos pensar apenas em fazer internamente, mas fazer<br />

também fora do Brasil.<br />

Proponho essa tese a todos e se estiverem <strong>de</strong> acordo, por favor, levantem as mãos. Uma salva <strong>de</strong> palmas para a tese.<br />

E, finalmente, a partir da criação dos diversos códigos <strong>de</strong> ética já existentes –<strong>Abap</strong>, ABP, Fenapro, Apro, Abrafoto –, que consigamos<br />

criar um código <strong>de</strong> ética comum a todas as entida<strong>de</strong>s e empresas componentes da indústria da comunicação, elaborado<br />

a partir dos códigos <strong>de</strong> ética já existentes em cada segmento. Não é uma política comercial específica para cada setor, pois<br />

disso cada setor vai cuidar in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente. No caso específico das agências <strong>de</strong> publicida<strong>de</strong>, temos o Cenp, mas temos<br />

que ter um código <strong>de</strong> conduta ética comum, estabelecendo princípios <strong>de</strong> conduta unificados e capazes <strong>de</strong> bem zelar pela<br />

imagem da comunicação. Quem estiver <strong>de</strong> acordo com esta tese, por favor, levante a mão. Uma salva <strong>de</strong> palmas.<br />

A tese do Julio Ribeiro já está contemplada aqui e existe também a do Roberto Duailibi, <strong>de</strong> voltar a consi<strong>de</strong>rar o nosso intervalo<br />

comercial – assim como a concessão da programação <strong>de</strong> um veículo <strong>de</strong> comunicação é uma concessão do Governo — também<br />

como uma concessão do Governo e privilegiar que esses comerciais sejam ocupados a partir da criação e da produção<br />

<strong>de</strong> peças publicitárias feitas aqui, por agências e profissionais brasileiros. Quem estiver <strong>de</strong> acordo, levante as mãos.<br />

Qual é a polêmica? Alcir, você é absolutamente contra? Por quê? Você tem 90 segundos.<br />

Alcir<br />

Eu sou contrário, porque prefiro disputar lá fora. Os nossos estudantes vão ganhar mais se disputarem lá fora. Por que limitar<br />

o mercado aqui? Este <strong>Congresso</strong> mostrou isso: nós vamos disputar o mercado lá fora. Acabamos <strong>de</strong> aprovar a tese da internacionalização<br />

da comunicação brasileira para o exterior. Como po<strong>de</strong>mos votar numa coisa assim? Peço <strong>de</strong>sculpas, mas sou<br />

contra, por esse motivo.<br />

Não i<strong>de</strong>ntificado<br />

Acho que precisamos ter, sim, a proteção. Eu não iria para essa lei tão antiga que o Duailibi citou, mas hoje nós temos a Ancine,<br />

uma agência regulamentadora. Temos a proteção da obra importada, da obra adaptada e temos que continuar, sim, fazendo<br />

com que as nossas produtoras continuem andando bem das pernas. Não adianta entrarem 243 comerciais/ano neste país<br />

e se fazer três comerciais lá fora. A lei da reciprocida<strong>de</strong> tem que existir e nós temos que ser protecionistas, temos que fazer<br />

da mesma forma que eles fazem conosco. Não po<strong>de</strong>mos estar para o mundo <strong>de</strong> uma forma tão aberta e o mundo estar se<br />

fechando. Foram 243 comerciais contra 72.<br />

Roberto Duailibi<br />

Vocês ficam pensando em fazer comerciais em Dubai e esquecem do mercado brasileiro. é wishful thinking! Vocês não po<strong>de</strong>m<br />

confundir uma coisa com a outra.<br />

318 319<br />

COMISSÃO 11 - A VALORIZAÇÃO, A PROSPERIDADE E A RENTABILIDADE DA INDÚSTRIA DA COMUNICAÇÃO


Thomas Roth<br />

Eu concordo totalmente com o seu direito e a sua opinião. Cada um sabe on<strong>de</strong> o seu calo aperta. Quem milita na área <strong>de</strong><br />

produção, como nós, sabe rigorosamente o que está acontecendo com a pseudoglobalização, palavra mágica que, na verda<strong>de</strong>,<br />

faz com que infelizmente não exista uma estrada <strong>de</strong> mão dupla, porque nós não estamos preparados para isso por várias<br />

razões.<br />

é evi<strong>de</strong>nte que estamos falando <strong>de</strong> nos prepararmos. Este <strong>Congresso</strong> existe exatamente para nos instrumentalizarmos, para<br />

nos apoimarmos, reatarmos o diálogo e construirmos essa estrada, para não só sedimentarmos, solidificarmos, trabalharmos<br />

pelo crescimento do nosso mercado interno, como, também, para trabalharmos para fora também no nosso segmento, como<br />

outros segmentos já estão dando o exemplo da capacida<strong>de</strong> do brasileiro.<br />

Porém, não po<strong>de</strong>mos nos esquecer <strong>de</strong> que temos um custo brasil com impostos altíssimos, importações proibitivas – porque<br />

não existe indústria nacional <strong>de</strong> equipamentos e somos obrigados a comprar lá fora por custos muito mais caros e temos,<br />

na contramão, um achatamento absolutamente gigantesco por bancas <strong>de</strong> compra que <strong>de</strong>sconhecem o nosso trabalho e<br />

praticamente impossibilitam que trabalhemos.<br />

Fernando Meirelles e outros não foram para o cinema apenas por uma questão natural <strong>de</strong> vocação, mas também porque estão<br />

sendo gradativamente achatados pelo mercado publicitário e não é isso o que nós queremos.<br />

Não são coisas exclu<strong>de</strong>ntes. Eu concordo que temos que batalhar pelo crescimento do nosso mercado e por medidas protecionistas<br />

que não sejam retrógradas, mas que possam fazer com que nosso mercado cresça. Na nossa tese <strong>de</strong> prestadores <strong>de</strong><br />

serviços, temos essa proposta. Obrigado.<br />

luiz lara<br />

Aprovada por unanimida<strong>de</strong>, então, amanhã vai para a gran<strong>de</strong> Plenária como tese. Se vai como tese, não precisamos nem votála<br />

aqui. Caso haja alguma emenda, alguma sugestão, nós po<strong>de</strong>mos fazê-la aqui, agora. O <strong>Congresso</strong> é <strong>de</strong>mocrático.<br />

Não i<strong>de</strong>ntificado<br />

Eu fiz uma sugestão para que se tirasse da segunda tese o termo “interesse público” em relação ao trabalho gratuito, que <strong>de</strong>ixassem<br />

só o caráter social, porque o interesse público, quando colocado nessa tese, mantém a brecha para que se continue<br />

a praticar os <strong>de</strong>scontos <strong>de</strong> 100% que, infelizmente, permeiam o mercado regional nas concorrências públicas e mesmo nos<br />

clientes privados.<br />

Penso que <strong>de</strong>ve sair <strong>de</strong>ste <strong>Congresso</strong> uma <strong>de</strong>terminação da criação <strong>de</strong> parâmetros <strong>de</strong> <strong>de</strong>scontos a serem praticados nessas<br />

concorrências do nosso pequeno mercado do interior e dos clientes públicos principamente – infelizmente, pelo que se<br />

pratica na área pública.<br />

é importante que este <strong>Congresso</strong> sinalize nesse sentido, que se recomen<strong>de</strong>m os parâmetros. Sabemos que não se po<strong>de</strong> ditar<br />

quais serão esses parâmetros, mas que pelo menos haja uma recomendação. Se o prefeito ou o secretário <strong>de</strong> comunicação<br />

forem sérios, eles refletirão sobre a agência que estiver conce<strong>de</strong>ndo 100% <strong>de</strong> <strong>de</strong>sconto na criação, como ocorre em 70 ou 80%<br />

das concorrências públicas pelo país afora. Obrigado.<br />

luiz lara<br />

Perfeito. Com relação à tese da produção, como vocês querem dar o encaminhamento? Ela já está na conclusão do <strong>Congresso</strong>,<br />

já é uma tese apresentada por unanimida<strong>de</strong>, fruto do painel <strong>de</strong> ontem <strong>de</strong> serviços especializados. Naturalmente, teremos que<br />

“casar” aqui, pois faz parte da valorização da prosperida<strong>de</strong> da nossa indústria ter os parceiros <strong>de</strong> produção, os fornecedores<br />

especializados absolutamente integrados com as agências e com os veículos <strong>de</strong> comunicação, para oferecer um serviço <strong>de</strong><br />

qualida<strong>de</strong> para os nossos anunciantes e construir cases como o do Itaú.<br />

Vocês querem votar alguma emenda, colocar alguma questão?<br />

Não i<strong>de</strong>ntificado<br />

Complementando a pergunta que o colega fez sobre os <strong>de</strong>scontos <strong>de</strong> 100% concedidos aos órgãos públicos, isso está <strong>de</strong>ntro<br />

da regra do Cenp e precisa mudar essa norma. é ele que faz com que isso aconteça e prejudica a própria iniciativa privada. As<br />

agências fazem o custo-zero, para ganhar a conta, porque a regra do Cenp permite. Nós temos que fazer uma alteração e rever<br />

essa regra do Cenp, que está prejudicando o mercado.<br />

luiz lara<br />

Para finalizar uma questão anterior, as duas teses – a do Roberto Duailibi e a <strong>de</strong> vocês – serão encaminhadas.<br />

Não i<strong>de</strong>ntificado<br />

O que nós aprovamos na tese do nosso painel foi não proibir efetivamente a importação <strong>de</strong> filmes publicitários, pois aí estaríamos<br />

jogando contra. Queremos avançar com o nosso projeto <strong>de</strong> um Brasil para cativar anunciantes. Não po<strong>de</strong>mos ser<br />

retrógrados e proibir isso.<br />

No entanto, o que aprovamos foi que houvesse uma melhoria dos mecanismos <strong>de</strong> importação. A obra adaptada, por exemplo,<br />

<strong>de</strong> alguma forma tem que gerar algum trabalho para a produtora, para o diretor, para os profissionais brasileiros.<br />

A obra importada, na sua concepção mais simples, sem qualquer legenda, sem qualquer tradução, também tem que melhorar<br />

a contribuição que <strong>de</strong>ixa para a própria indústria. Aprovamos uma melhoria <strong>de</strong>sses mecanismos e não a proibição, pois assim,<br />

estaríamos jogando contra nossos interesses.<br />

luiz lara<br />

Vocês querem votar a tese do Roberto Duailibi? Vamos votar, então. Aqueles que estiverem <strong>de</strong> acordo com a tese, levantem a<br />

mão. Não é a maioria, então, não vamos apresentar essa tese amanhã.<br />

Com relação à questão do Cenp, Petrônio, há duas colocações na sala, para po<strong>de</strong>rmos encerrar, votando a tese proposta pelo<br />

Walter Zagari <strong>de</strong> que nas concorrências públicas, as agências estão oferecendo 100% <strong>de</strong> <strong>de</strong>sconto nos custos <strong>de</strong> criação na<br />

tabela da Sinapro. Isso prejudica a valorização da criativida<strong>de</strong>, especialmente nas concorrências locais e regionais. Eles pe<strong>de</strong>m<br />

um aperfeiçoamento <strong>de</strong>ssa norma do Cenp, para evitar que as agências pratiquem esse <strong>de</strong>sconto que, inclusive, é algo que<br />

fere a concorrência com a iniciativa privada, que não pratica isso.<br />

Petrônio Corrêa<br />

Teremos uma reunião no dia 6 e po<strong>de</strong>mos colocar essas regras, mas isso não vai adiantar nada, porque o Governo vai continuar<br />

pedindo <strong>de</strong>sconto e esse é um negócio comercial.<br />

Nós conseguimos um acordo por meio do qual eles não mexem na comissão <strong>de</strong> veiculação, mas na produção eles querem<br />

mexer.<br />

Estou falando com toda a sincerida<strong>de</strong>: tomamos <strong>de</strong>cisões aqui e <strong>de</strong>pois, não conseguimos aplicá-las e eu quero discutir um<br />

pouco mais o assunto.<br />

luiz lara<br />

Acredito que po<strong>de</strong>mos colocar como uma tese, <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>sse espírito <strong>de</strong> criar uma re<strong>de</strong> <strong>de</strong> valor, que as agências <strong>de</strong> publicida<strong>de</strong><br />

que participam das concorrências públicas não façam mais a cessão <strong>de</strong> 100% <strong>de</strong> seus direitos <strong>de</strong> criação, abrindo mão<br />

da sua rentabilida<strong>de</strong> e criando uma concorrência predatória que não valoriza o trabalho criativo.<br />

Vamos votar esta tese como uma recomendação, uma prática a ser adotada nas concorrências públicas. Quem estiver <strong>de</strong><br />

acordo, levante a mão. Alguma manifestação?<br />

Cabe a nós <strong>de</strong>ixarmos <strong>de</strong> ser caudatários dos clientes e fazermos uma recomendação, nos unirmos numa prática <strong>de</strong> governança<br />

e criarmos <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>ste Conselho <strong>de</strong> ética único uma recomendação específica para nós não propormos mais isso, pois<br />

estamos fazendo uma concorrência comercial predatória para nós mesmos. é esta a recomendação que colocaremos como<br />

tese no <strong>Congresso</strong>.<br />

Não i<strong>de</strong>ntificado<br />

Na votação do Duailibi, só fizemos uma votação favorável. A outra, que era contrária, não tivemos. Po<strong>de</strong> ser que algumas pessoas<br />

não tenham se manifestado. Acho que <strong>de</strong>vemos colocar uma e outra. Não ficou claro se foi aprovado ou não.<br />

luiz lara<br />

A tese aprovada é a do Roberto Duailibi, sobre consi<strong>de</strong>rar o intervalo comercial como uma concessão do Governo, restabelecendo<br />

uma parceria, para que ele seja feito apenas por produtoras brasileiras, com profissionais brasileiros.<br />

Houve outra proposição <strong>de</strong> pessoas que discordavam <strong>de</strong>sta tese e não votaram porque não chegaram a fazer uma outra<br />

proposição, apenas <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>m uma maior abertura.<br />

Não temos tempo e condições <strong>de</strong> <strong>de</strong>finir e votar uma tese sobre como <strong>de</strong>verá ser esta maior abertura, pois entraremos num<br />

nível muito gran<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>talhamento. Foi votada esta tese e ela não teve apoio. Este painel não era para entrar especificamente<br />

na remuneração <strong>de</strong> agências <strong>de</strong> publicida<strong>de</strong> e <strong>de</strong> marketing direto. Já houve um painel específico sobre isso. Houve algumas<br />

colocações, mas como <strong>de</strong>ve ser essa abertura, uma vez que não se concordou com essa tese? Isso <strong>de</strong>ve ser <strong>de</strong>talhado. Acredito<br />

que qualquer discussão será insuficiente neste momento. Sugiro que o painel <strong>de</strong> prestadores <strong>de</strong> serviços especializados,<br />

realizado ontem, seja tema do Fórum Permanente <strong>de</strong> Comunicação. Todos estamos <strong>de</strong> acordo?<br />

Thomas Roth<br />

Eu gostaria <strong>de</strong> fazer uma colocação sobre essa questão da concorrência pública. é uma coisa muito simples, que traria gran<strong>de</strong><br />

benefício: a eliminação do edital <strong>de</strong> técnica e preço, porque publicida<strong>de</strong> não po<strong>de</strong> ser cobrada por preço. O melhor preço é<br />

avaliado após as agências terem sido qualificadas na parte técnica. é este edital que precisa ser trabalhado nestas distorções<br />

malucas. Precisamos lutar contra esse acórdão do TCU que estabeleceu esta questão <strong>de</strong> técnica e preço, pois aí nasce a distorção<br />

e a guerra vai para o “envelope 3”, on<strong>de</strong> os preços vão quase a zero.<br />

luiz lara<br />

Com relação a essa questão do edital <strong>de</strong> técnica e preço e das licitações públicas, amanhã, no fórum, teremos oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

votar essas questões, porque ontem, comandada pelo Bob Vieira da Costa, foi realizado um painel específico sobre licitações<br />

e concorrênias privadas, com uma série <strong>de</strong> recomendações e amanhã, na gran<strong>de</strong> Plenária, peço que você se manifeste mais<br />

uma vez, porque ali ocorrerá uma oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> votação.<br />

Estamos falando em re<strong>de</strong> <strong>de</strong> valor. Sua recomendação será levada ao Bob Vieira da Costa para ser falada amanhã, mas não<br />

creio que tenhamos um tema <strong>de</strong> votação específico.<br />

Temos uma última tese a ser votada, para encerrar, do Walter Zagari, da Re<strong>de</strong> Record, que propõe que as normas do Cenp, que<br />

estão hoje contempladas sejam evoluídas na lei 3305, datada <strong>de</strong> 2008, apresentada pelo <strong>de</strong>putado José Eduardo Cardozo —<br />

é a lei que está em votação agora no <strong>Congresso</strong>. Isso também foi discutido no painel do Bob Vieira da Costa e foi aprovado.<br />

Então, creio que nós não precisamos votar esse tema.<br />

Nádia Rebouças<br />

Temos um Brasil que não está preparado para fazer o que precisa ser feito em termos <strong>de</strong> propaganda e que foi sugerido<br />

na brilhante palestra do Alcir. Nós precisamos reciclar o pessoal <strong>de</strong> comunicação e eu fiz uma sugestão muito simples: que<br />

esse comitê, que já foi votado e aplaudido por todos nós crie uma coisa que nos ensine o que é a governança corporativa,<br />

a sustentabilida<strong>de</strong>. Conheço as agências <strong>de</strong> publicida<strong>de</strong> do Brasil inteiro e existem milhares <strong>de</strong> publicitários que não sabem<br />

do que estamos falando. As escolas não formaram essas pessoas e nós precisamos <strong>de</strong> muita rapi<strong>de</strong>z. Não basta investir nas<br />

universida<strong>de</strong>s: temos que reciclar quem nós temos.<br />

Outra sugestão <strong>de</strong>le, para ser muito rápida, é que nós temos que resguardar a nossa reputação <strong>de</strong> marca, como publicitários.<br />

Estou sugerindo que <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>ste fórum seja discutida uma maneira <strong>de</strong> termos um fundo on<strong>de</strong> nós, publicitários, vamos<br />

eleger um tema que nos interesse para fazer ações <strong>de</strong> responsabilida<strong>de</strong> socioambiental, on<strong>de</strong> possamos usar o que melhor<br />

sabemos para mudar este país.<br />

320 321<br />

COMISSÃO 11 - A VALORIZAÇÃO, A PROSPERIDADE E A RENTABILIDADE DA INDÚSTRIA DA COMUNICAÇÃO


luiz lara<br />

Se todos estiverem <strong>de</strong> acordo, sugiro que na tese 2, sobre a nomeação <strong>de</strong> um comitê executivo para elaborar um plano estratégico<br />

visando valorizar a comunicação comercial, a marca da indústria da comunicação e o papel <strong>de</strong> todos os parceiros,<br />

coloquemos esta questão da necessária reciclagem dos nossos profissionais, do necessário estabelecimento <strong>de</strong> regras <strong>de</strong><br />

governança buscando as boas práticas entre todos os parceiros da nossa indústria, <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> uma gestão sustentável, ou seja,<br />

que se busque a equação entre os recursos sociais, econômicos e ambientais.<br />

Se vocês estiverem <strong>de</strong> acordo, com a ajuda do meu secretário Ivan Marques e do relator Abaete Azevedo, vamos colocar isso<br />

no item 2. Estamos <strong>de</strong> acordo? Muito obrigado.<br />

Falta a votação da tese proposta pela Agnelo Pacheco, que está, <strong>de</strong> certa maneira, na criação do código <strong>de</strong> ética daqui e <strong>de</strong><br />

uma reafirmação das normas do Cenp que, como eu disse, está contemplada neste projeto <strong>de</strong> lei 3305, <strong>de</strong> 2008, votado ontem.<br />

Po<strong>de</strong>mos votar a tese do Agnelo Pacheco, que reafirma a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> seguirmos rigorosamente as normas do Cenp<br />

e, também, a recomendação que já foi colocada <strong>de</strong> não aplicar 100% na tabela <strong>de</strong> <strong>de</strong>sconto da criação.<br />

luiz lara<br />

Vamos colocar isso na redação final da tese, que será lida amanhã em plenária. Se houver qualquer problema, por favor, po<strong>de</strong>m<br />

se manifestar, ou procurar o Abaete, o Ivan e eu; vamos fazer isso. Há mais alguma manifestação?<br />

luiz lara<br />

As pequenas e médias? Perfeito, elas precisam viver, comunicar e crescer.<br />

Este é o pacto da agenda positiva, da prosperida<strong>de</strong>, do crescimento. Temos a criação <strong>de</strong>ste fórum; a nomeação <strong>de</strong>ste comitê<br />

executivo <strong>de</strong>ntro das melhores regras <strong>de</strong> governança, buscando a reciclagem <strong>de</strong> profissionais e a valorização <strong>de</strong> todos os<br />

parceiros; uma visão sustentável; a criação <strong>de</strong>ste código <strong>de</strong> ética comum; a valorização das pequenas e médias agências inseridas<br />

neste fórum, na busca <strong>de</strong> uma comunicação que zele pela imagem <strong>de</strong> todos e que realmente construa marcas para os<br />

nossos clientes e, finalizando, a valorização das normas do Cenp; que ele seja o exemplo inspirador para os códigos <strong>de</strong> ética<br />

<strong>de</strong> todos nós.<br />

Agra<strong>de</strong>ço ao Matias pela maravilhosa exposição. Peço <strong>de</strong>sculpas pela falha técnica. Ficou um gostinho <strong>de</strong> “quero mais”, nós<br />

queremos ver os <strong>de</strong>mais comerciais, as <strong>de</strong>mais peças, mas temos certeza <strong>de</strong> que o Itaú continuará fazendo comunicação <strong>de</strong><br />

primeira linha.<br />

Agra<strong>de</strong>ço também ao Roberto Lima, que nos levou para um salto no futuro. Tenho certeza <strong>de</strong> que vamos contar com ele no<br />

V <strong>Congresso</strong>, para falar um pouco do papel da comunicação nessas re<strong>de</strong>s sociais.<br />

O Raul Dória, que fez uma brilhante palestra, colocando uma discussão sobre a qual temos que refletir e, principalmente, a<br />

participação <strong>de</strong> todos vocês. Espero que aqui comece uma agenda positiva; que nós paremos <strong>de</strong> reclamar e <strong>de</strong> nos sentirmos<br />

caudatários e sejamos agentes ativos <strong>de</strong> uma indústria próspera, em que o papel <strong>de</strong> cada parceiro seja valorizado e rentabilizado.<br />

Aproveito para convidar todos a não irem embora e se dirigirem ao Gol<strong>de</strong>n Hall, no andar superior, on<strong>de</strong> vai começar a palestra<br />

<strong>de</strong> Judith Miller, a jornalista do New York Times que vai falar sobre os limites da liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> imprensa, tema que se tornou<br />

emblemático para a sua carreira, principalmente após passar 88 dias presa por se recusar a revelar a fonte que contou quem<br />

era o agente da CIA. Ela vai dar um show, fez uma brilhante entrevista no último domingo no jornal Folha <strong>de</strong> S.Paulo. Não<br />

percam Judith Miller.<br />

E todos os congressistas que se inscreveram até 10 <strong>de</strong> julho já po<strong>de</strong>m pegar seus certificados hoje, das 18h00 às 21h00 no<br />

cre<strong>de</strong>nciamento, no piso 4.<br />

Viva a propaganda, viva a comunicação e muito obrigado pela presença <strong>de</strong> todos vocês<br />

Comissão 12<br />

míDIA E CONTEúDO<br />

Nota: Os trabalhos <strong>de</strong>sta Comissão<br />

não estão reproduzidos na íntegra<br />

por problemas técnicos <strong>de</strong> gravação.<br />

Conclusões da comissão:<br />

1. Não é permissível que o interesse comercial participe da gestão do conteúdo jornalístico, aquele que tem como missão<br />

informar e formar a opinião pública. Deve haver uma clara separação entre entretenimento e informação. O trabalho primordial<br />

se foca na relação <strong>de</strong>licada entre a formação editorial da área jornalística e os interesses comerciais publicitários.<br />

2. é fundamental a busca pela união entre agências, clientes e veículos. é preciso juntar as estruturas para que se trave um<br />

<strong>de</strong>bate unificado contra tudo aquilo que afeta o setor.<br />

PARTE DOS DEbATES<br />

Edilberto <strong>de</strong> Paula Ribeiro<br />

Sou presi<strong>de</strong>nte da Aesp e quero dizer que é importante trabalharmos junto ao Governo para que essa censura <strong>de</strong>ixe <strong>de</strong> existir.<br />

Já passamos por um período <strong>de</strong> censura muito gran<strong>de</strong> sobre a música na época da revolução e agora essa <strong>de</strong>mocracia existente<br />

está querendo censurar a publicida<strong>de</strong>.<br />

Tudo aquilo que é produzido e tem autorização <strong>de</strong> ser produzido no país, po<strong>de</strong> ser divulgado, porque se isso gera impostos e<br />

receita para o Governo, <strong>de</strong>veria ter o direito <strong>de</strong> exposição junto à população.<br />

Se o produto faz algum mal à população, sua produção <strong>de</strong>veria ser proibida e o Governo <strong>de</strong>veria tomar uma atitu<strong>de</strong> para isso.<br />

Esse <strong>de</strong>ve ser um dos temas que precisamos colocar: o que se produz po<strong>de</strong> ser divulgado. Acho também que o nosso setor<br />

precisa criar um mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> negócio com rapi<strong>de</strong>z para alinhar o que cada setor <strong>de</strong> comunicação po<strong>de</strong> fazer, porque e com 8<br />

bilhões <strong>de</strong> canais, se todos vão fazer tudo, nada será bem feito.<br />

Johnny Saad<br />

O Walter quer fazer uma pergunta.<br />

Walter <strong>de</strong> mattos Jr .<br />

Sou editor e presi<strong>de</strong>nte dos veículos Lance. As propostas estão muito bem encaminhadas no sentido <strong>de</strong> se antecipar, a autoregulamentação<br />

<strong>de</strong>u resultados muito bons. Po<strong>de</strong>mos citar o Conar, um exemplo muito bem-sucedido.<br />

Quero fazer uma provocação à comissão. Como conteúdo é uma palavra em que cabe tudo e já que vocês tiveram a responsabilida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> propor essa as primeiras idéias <strong>de</strong>sta tese, eu pergunto como ficaria a questão do jornalismo? Embora o Johnny<br />

tenha citado um exemplo sensacional e oportuno sobre como seria visto o Repórter Esso hoje, temos uma necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ao<br />

menos separar um pouco, pois são coisas bastante diferentes. As propostas do Orlando Lopes e do José Francisco Eustáchio<br />

vão na direção correta, mas até para concordarmos ou discordarmos, precisamos enten<strong>de</strong>r um pouco, pelo menos as questões<br />

fundamentais. Essa eu consi<strong>de</strong>ro como uma das fundamentais.<br />

Johnny Saad<br />

Obrigado Walter, vou passar a resposta para o Joelmir, mas em minha opinião, e como eu já disse, o jornalismo é o tema mais<br />

<strong>de</strong>licado, porém, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo da forma como ele for feito, po<strong>de</strong> ser algo natural e o exemplo que me ocorreu — somente<br />

maliciei no <strong>de</strong>bate que tivemos no café da manhã, quando discutíamos esse tema e surgiu a discussão da Rádio Trânsito, um<br />

conteúdo jornalístico, patrocinado pela SulAmérica.<br />

Até então, não tinha sequer maliciado porque não existe a condição <strong>de</strong> bater o carro e dizer: “se tivesse o seguro da SulAmérica,<br />

não teria batido’’. Como isso na prática não existe, e ninguém concebeu uma aberração <strong>de</strong>ssa <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> um conteúdo<br />

jornalístico, não vi nenhum problema da ligação <strong>de</strong>ssa marca, que está relacionada a trânsito, automóvel e, obviamente, a<br />

outros seguros, em relação a esse conteúdo. Mas isso é um exemplo da nossa empresa e quero <strong>de</strong>ixar aberto para que outras<br />

pessoas coloquem bons ou maus exemplos a esse respeito.<br />

Mas com certeza, você tocou no ponto mais <strong>de</strong>licado, o conteúdo editorial: até on<strong>de</strong> se po<strong>de</strong> ir sem afetar o que está sendo<br />

colocado, ou gerar um conflito <strong>de</strong> interesses que vá truncar a informação e sua veracida<strong>de</strong> ao público.<br />

Joelmir betting<br />

Na minha condição <strong>de</strong> jornalista econômico, que já fez até publicida<strong>de</strong> <strong>de</strong> banco, <strong>de</strong>vo dizer que a questão da ética é na<br />

verda<strong>de</strong> muito mais cultural do que ética, em seu sentido lato.<br />

Quando comecei a fazer noticiário econômico, fui editor <strong>de</strong> economia da Folha <strong>de</strong> S.Paulo e nos anos 1960, tive a ousadia<br />

<strong>de</strong> criar uma coluna chamada Empresas e Negócios. Foi o maior escândalo na imprensa e na própria Aca<strong>de</strong>mia, porque uma<br />

coluna como essa seria um favor <strong>de</strong> redação faturado pelo <strong>de</strong>partamento comercial em seguida, ou antes, sei lá.<br />

Foi uma luta, até porque o próprio ca<strong>de</strong>rno <strong>de</strong> economia vinha <strong>de</strong>pois do futebol e do turfe, colado na seção <strong>de</strong> classificados.<br />

A informação econômica citaria a empresa <strong>de</strong> qualquer natureza e citaria também negócios, conflitos e interesses <strong>de</strong> todo<br />

tipo. Não existia sequer a editoria <strong>de</strong> economia por causa disso. Criei a editoria <strong>de</strong> economia da Folha, que além <strong>de</strong> ter sido<br />

uma gran<strong>de</strong> briga, foi bancada pessoalmente pelo Sr. Otávio Frias <strong>de</strong> Oliveira, na redação. Ele <strong>de</strong>scia lá e brigava com todo<br />

mundo, para tentar fazer uma editoria <strong>de</strong> economia nos padrões que hoje temos. Atualmente, existem jornais e revistas especializados<br />

em economia, mas naquela época não havia nada disso.<br />

Também recordo-me do efeito Repórter Esso. Temos há muito tempo programas jornalísticos e telejornais patrocinados em<br />

todos os canais, sendo que em sua abertura já aparece o patrocínio e nunca isso trouxe para o público a idéia <strong>de</strong> que aquele<br />

322 323<br />

COMISSÃO 12 - MÍDIA E CONTEÚDO


telejornal estaria comprometido. Temos o patrocínio <strong>de</strong> uma <strong>de</strong>terminada empresa que está todo dia no noticiário do Brasil e<br />

do mundo. No programa jornalístico, tratamos <strong>de</strong>la <strong>de</strong> uma maneira completamente in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte, porque a empresa sabe<br />

que, nesse relacionamento, temos que ter esse crachá <strong>de</strong> jornalismo ou editorial in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte em relação ao patrocínio <strong>de</strong>la,<br />

senão ela estraga todo o patrocínio, saindo mais prejudicada que a própria mídia. é uma questão cultural e a cultura está<br />

evoluindo nessa direção.<br />

Lembro-me também quando lancei uma coluna semanal <strong>de</strong> automóveis. Eu não ia fazer em Interlagos; queria fazer em São<br />

Bernardo do Campo e fiz para tratar do automóvel como um produto <strong>de</strong> consumo e até <strong>de</strong> Ibope, e a redação me jogou lá nos<br />

classificados. Para espanto geral, foi lá nos classificados <strong>de</strong> automóveis que com uma matéria chamada “Vida, Paixão e Morte<br />

da FNM”, ganhei o Prêmio Esso <strong>de</strong> Jornalismo. Essa mudança vem acontecendo lentamente e como se trata <strong>de</strong> um problema<br />

mais cultural do que propriamente ético, a mudança é muito mais complicada e mais retardada. Mudar o padrão cultural <strong>de</strong><br />

qualquer coisa é muito complicado e arrastado.<br />

Orlando lopes<br />

Acho que essa questão <strong>de</strong> clareza, <strong>de</strong> separar o joio do trigo, é fundamental. Por isso, precisamos do código e <strong>de</strong> uma entida<strong>de</strong><br />

para discutir o assunto. O que chamamos <strong>de</strong> editorial, o que é relevante ou não, o que é aceito ou não? Repudio totalmente<br />

qualquer tipo <strong>de</strong> interferência sobre a opinião editorial <strong>de</strong> um veículo. Isso é sagrado, tem que ser mantido, respeitado e <strong>de</strong>fendido<br />

até o fim, por quem quer que seja.<br />

Quando falamos <strong>de</strong> integração <strong>de</strong> conteúdo editorial, falamos da importância do momento, da revista <strong>de</strong> entertainment, <strong>de</strong><br />

programas gerados com conteúdo, <strong>de</strong> conversar com a pessoa que é editora <strong>de</strong> moda que passa seu conhecimento para<br />

integrar a comunicação que será feita. é uma junção <strong>de</strong> conteúdo editorial, que <strong>de</strong> forma alguma vai fazer com que o jornalista<br />

distorça sua opinião, ludibriando o consumidor.<br />

Também há o outro lado do jornalismo, que é uma questão muito complicada: quando são investidos milhões em equipes<br />

esportivas — como a Unilever faz no Centro Rexona <strong>de</strong> Voleibol, on<strong>de</strong> treina 3 mil crianças por dia com um projeto social —,<br />

o jornalismo cobre o evento, mas fala Rio <strong>de</strong> Janeiro, porque a equipe é <strong>de</strong> lá e é proibido falar a marca. Nesse momento está<br />

sendo passada ao consumidor uma informação não fi<strong>de</strong>digna e é uma questão <strong>de</strong> integração <strong>de</strong> conteúdo com o editorial.<br />

Minha opinião do processo é: a verda<strong>de</strong> até o final e separar o joio do trigo em qualquer circunstância.<br />

Johnny Saad<br />

Você tem razão.<br />

Joelmir betting<br />

Quando fui questionado publicamente por ter feito um anúncio isolado <strong>de</strong> um banco e <strong>de</strong> um produto sério, eu disse: como<br />

fica, por exemplo, o merchandising i<strong>de</strong>ológico <strong>de</strong> todas as coisas que o jornalismo pratica escondido? Dei minha voz e minha<br />

cara para fazer o anúncio <strong>de</strong> um produto <strong>de</strong> um banco sério, que não danificou a vida <strong>de</strong> ninguém neste país, porque sempre<br />

entendi que publicida<strong>de</strong> e jornalismo são irmãos siameses. Na questão fundamental da liberda<strong>de</strong> editorial, ela exige autosuficiência<br />

econômica. Resumindo, a publicida<strong>de</strong> é a fiadora da liberda<strong>de</strong>.<br />

Johnny Saad<br />

Acabamos <strong>de</strong> achar a capa <strong>de</strong> nossa tese.<br />

José Francisco Eustáchio<br />

Falei sobre a importância <strong>de</strong> cuidarmos para que não se estabeleça a promiscuida<strong>de</strong>. Tem um tipo <strong>de</strong> conteúdo — aquele que<br />

forma a opinião pública e cria juízo — característico do programa <strong>de</strong> jornalismo que, quando está tratando <strong>de</strong> uma questão<br />

chamada institucional, não po<strong>de</strong> transigir.<br />

Existe uma gran<strong>de</strong> diferença entre se ter um programa jornalístico patrocinado por uma empresa, ou mesmo contratar um<br />

profissional que trabalha no jornalismo, como foi o caso do Joelmir, que sai do contexto <strong>de</strong> ser uma autorida<strong>de</strong>, passando<br />

uma informação sobre uma questão institucional, para colocá-lo no Jornal da Band, Jornal Nacional, ou mesmo da Record,<br />

se insinuando com uma informação <strong>de</strong> caráter comercial. é quando se transgri<strong>de</strong>, se estabelece a promiscuida<strong>de</strong> e as coisas<br />

começam a ficar perigosas. Se quisermos ter autorida<strong>de</strong> para discutir nossa maturida<strong>de</strong> com autorida<strong>de</strong>s do Governo, precisamos<br />

cuidar disso, porque senão, se vale tudo e se é assim, não sabemos cuidar do próprio business, e então alguém precisa<br />

tutelar.<br />

é preciso colocar limites e não transgredi-los.<br />

Orlando lopes ???<br />

Quero fazer um pedido <strong>de</strong> <strong>de</strong>sculpas ao Walter. Citei o exemplo esportivo, mas não estou me referindo ao Lance, pelo contrário,<br />

vocês têm dado um tratamento muito carinhoso à Unilever.<br />

Walter <strong>de</strong> mattos Junior<br />

O exemplo do Orlando não se aplica à nossa prática. O esporte está em alta e é sempre bom ser citado. Quanto aos exemplos<br />

que o Joelmir citou, concordo totalmente com o José Eustáchio. O que precisamos discutir é o seguinte: uma questão é patrocinar<br />

um programa — como já houve vários, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o Repórter Esso —, mas estamos discutindo isso porque está havendo<br />

um certo casamento em áreas <strong>de</strong> conteúdo não jornalístico. O problema é quando essa questão passa do patrocínio para<br />

certa simbiose <strong>de</strong>ntro do conteúdo. Então, neste <strong>de</strong>bate que po<strong>de</strong> gerar uma carta <strong>de</strong> princípios, vamos precisar discutir se o<br />

‘’Repórter Esso’’ vai até ali e acabou ou se ele vai entrar no noticiário, ele ou qualquer outra marca, por mais digna e responsável<br />

que seja.<br />

Antonio Jorge Pinheiro<br />

Sou vice-presi<strong>de</strong>nte do Grupo <strong>de</strong> Mídia do Rio <strong>de</strong> Janeiro, tenho uma empresa <strong>de</strong> consultoria <strong>de</strong> mídia e sou professor da PUC<br />

e ESPM do Rio. Comungo com tudo que está sendo colocado e quero dividir com vocês uma experiência que temos lá no Rio,<br />

da qual o Orlando já teve a oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> participar várias vezes. Há <strong>de</strong>z anos atuamos em um segmento extremamente<br />

<strong>de</strong>licado, que é o <strong>de</strong> cinema: durante o Festival <strong>de</strong> Cinema do Rio, eu coor<strong>de</strong>no um painel chamado “Cinema, que mídia é essa?”.<br />

Esse painel tenta aproximar o cinema do mercado publicitário e verificamos que o pessoal mais antigo <strong>de</strong> cinema, como alguns<br />

jornalistas e políticos, são “reaça” <strong>de</strong>mais.<br />

Ao longo do tempo, nosso trabalho tem sido fazer com que essa aproximação fosse a mais brilhante possível, tanto que criamos<br />

o prêmio ‘’Melhor ação <strong>de</strong> product placement do cinema brasileiro’’, que este ano será entregue pela quinta vez. Estamos também<br />

tentando criar um novo nome para product placement, porque ele foi usado para fugir do termo merchandising, que seria<br />

impossível <strong>de</strong> ser aceito, e também porque o pessoal tem bastante dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong> pronunciá-lo.<br />

Acho perfeito que se tenha um código <strong>de</strong> ética, porque daí fica mais fácil <strong>de</strong> se assimilar em todas as áreas. Coloco-me à disposição,<br />

porque este é um assunto que venho estudando há algum tempo e o Orlando vem dividindo comigo.<br />

Johnny Saad<br />

Obrigado. Uma moça ali quer fazer uma pergunta.<br />

Rosana Polachini<br />

Sou gerente comercial do jornal Diário da Região, <strong>de</strong> São José do Rio Preto, São Paulo, e concordo com a criação <strong>de</strong>sse código<br />

<strong>de</strong> ética, pois algumas vezes nos <strong>de</strong>paramos com a situação <strong>de</strong> uma agência <strong>de</strong> publicida<strong>de</strong> e/ou anunciantes, que contratam<br />

uma veiculação <strong>de</strong> um anúncio normal — institucional ou <strong>de</strong> varejo, <strong>de</strong> acordo com o seu ramo <strong>de</strong> atuação — e já no final da<br />

tar<strong>de</strong>, no caso <strong>de</strong> jornal, quando chega a arte <strong>de</strong>sse anúncio no veículo, tem-se, na verda<strong>de</strong>, um release “maquiado <strong>de</strong> anúncio”.<br />

Informe publicitário é aquele que tem cara <strong>de</strong> matéria, com foto, tentando imitar o jornal, mas algumas vezes nos <strong>de</strong>paramos<br />

com a situação <strong>de</strong> um anúncio, com fundo colorido, logomarca, mas cujo conteúdo nada mais é do que um release ou até<br />

mesmo uma expressão <strong>de</strong> opinião. Esse código <strong>de</strong> ética ajudaria a preservar o leitor. Até que ponto esse conteúdo se mescla<br />

e se confun<strong>de</strong> entre editorial e publicitário? Po<strong>de</strong> acontecer <strong>de</strong> aquele release não ter emplacado na redação — po<strong>de</strong> ter sido<br />

uma sugestão <strong>de</strong> pauta infeliz — e, então, ele se “traveste” <strong>de</strong> anúncio. A criação <strong>de</strong>sse código <strong>de</strong> ética é importante para regulamentar<br />

tudo isso e colocar parâmetros para se preservar tanto o leitor como o consumidor.<br />

Johnny Saad<br />

Obrigado. Vamos levar isso em conta e acho que se você <strong>de</strong>ixar claramente caracterizado, não vejo nenhum problema. O problema<br />

é o leitor, o ouvinte, o telespectador, o internauta se sentir enganado. Essa é a barreira.<br />

Rosana Polachini<br />

Só para concluir, muitas vezes a agência ou o anunciante se negam a fazer isso, porque a veiculação <strong>de</strong>sse tipo <strong>de</strong> anúncio<br />

é legítima, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que esteja i<strong>de</strong>ntificada como Informe Publicitário e muitas vezes a agência argumenta que é um anúncio<br />

normal. Essa é a indagação: até que ponto isso se mescla e se confun<strong>de</strong>? Se houver essa <strong>de</strong>limitação <strong>de</strong> Informe Publicitário,<br />

sem problema nenhum.<br />

luziane Colino<br />

Boa tar<strong>de</strong>. Trabalho no Terra, uma empresa <strong>de</strong> internet e conheço bem a anarquia da qual estamos falando, sobre mistura <strong>de</strong><br />

conteúdo, publicida<strong>de</strong> e tudo o mais.<br />

Quando vejo a agenda <strong>de</strong> que temos que criar um código <strong>de</strong> ética, concordo e quando vejo o Governo tentando regulamentar,<br />

penso que <strong>de</strong>veríamos usar nossa força para ajudar o Governo a educar a pessoa.<br />

Hoje <strong>de</strong> manhã ouvi uma frase interessante, dizendo: esperança não é estratégia, mas minha esperança é a <strong>de</strong> que tenhamos<br />

um país com pessoas mais educadas, porque quando isso acontecer, elas terão o discernimento para enten<strong>de</strong>r o que estamos<br />

informando e ven<strong>de</strong>ndo, quando estamos mesclando com ética ou sem ética. Aí elas po<strong>de</strong>rão rejeitar ou aceitar e nossas<br />

marcas viverão melhor na vida das pessoas. Não é uma estratégia, mas não po<strong>de</strong>mos <strong>de</strong>ixar nas mãos do Governo uma regulamentação<br />

que vai ser um corte <strong>de</strong> facão, como vemos nas plantações <strong>de</strong> cana-<strong>de</strong>-açúcar.<br />

Formamos um grupo <strong>de</strong> elite com força suficiente para trabalhar mais na educação das pessoas, para que elas tenham o discernimento<br />

do que é e do que não é ético. Não <strong>de</strong>vemos nos proteger num casulo, nem ficar <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>ndo tanto a população, pois<br />

são seres absolutamente capacitados, que merecem nosso respeito como consumidores; esse respeito passa pela educação.<br />

O governo ganharia muito mais se, para conseguir esse discernimento, direcionasse seus esforços para a educação e não na<br />

regulamentação para <strong>de</strong>fesa dos consumidores porque eles não são uns “pobres coitados”. Obrigada.<br />

Johnny Saad<br />

Muito obrigado.<br />

Sandro Aloísio<br />

Sou do Grupo Escala e na linha do que ela acabou <strong>de</strong> expor, também acredito que o código <strong>de</strong> ética seja importante, mas que<br />

não dá conta <strong>de</strong> todas as realida<strong>de</strong>s que possam advir <strong>de</strong>ssa nova realida<strong>de</strong>, já praticamente consolidada.<br />

Não po<strong>de</strong>mos esquecer que o indivíduo tem a sua própria ética e nem sempre ela dialoga com o código <strong>de</strong> ética estabelecido<br />

por uma instituição, uma classe ou um segmento. Nessa linha, tomo emprestada uma idéia do seminário <strong>de</strong> criativida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

hoje <strong>de</strong> manhã com o Nizan e sugiro que façamos gestões junto ao MEC ou a quem <strong>de</strong> direito, para que na ca<strong>de</strong>ira <strong>de</strong> ética das<br />

escolas <strong>de</strong> comunicação, essa nova realida<strong>de</strong> seja evi<strong>de</strong>nciada.<br />

Por outro lado, também sugiro que a indústria da comunicação invista na formação e no treinamento <strong>de</strong> seus profissionais, para<br />

que consigam atuar com essa nova realida<strong>de</strong> preservando todos os valores que a nossa indústria e os anunciantes preservam.<br />

Johnny Saad<br />

Muito obrigado.<br />

324 325<br />

COMISSÃO 12 - MÍDIA E CONTEÚDO


frank Silva<br />

Sou <strong>de</strong> Maringá e sugiro que esse código <strong>de</strong> ética seja aprovado o mais rapidamente possível, pelo fato <strong>de</strong> estarmos vivendo<br />

um momento político em que os políticos forçam, até <strong>de</strong> uma maneira contun<strong>de</strong>nte, para que façamos no jornal matérias elogiosas<br />

a eles, sem nenhuma característica <strong>de</strong> informe publicitário. Portanto, temos que ver isso com a maior brevida<strong>de</strong> possível.<br />

Johnny Saad<br />

Isso é uma tentativa <strong>de</strong> séculos, portanto, não fique achando que é só um momento político, pois continuará sendo. Cabe<br />

aos veículos e a todos nós participarmos mais politicamente. Aliás, acho que há um <strong>de</strong>sserviço da mídia quando ela bate na<br />

instituição política e não nomina mais claramente o “político fulano <strong>de</strong> tal que fez aquela coisa errada”. Bater somente na instituição<br />

não resolve, mas somente agrava o problema, porque gera nessa juventu<strong>de</strong> um distanciamento para entrar e competir<br />

politicamente, para ser um vereador, um <strong>de</strong>putado ou disputar para ser prefeito <strong>de</strong> sua cida<strong>de</strong>.<br />

Essa é a escola que <strong>de</strong>veria existir, porque ética a gente apren<strong>de</strong> em casa, na escola e em muitos outros lugares. Gostaria que,<br />

ao contrário, tivéssemos formas <strong>de</strong> eleições nas classes para que as pessoas aprendam a falar, a se expressar, a <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r seus<br />

pontos <strong>de</strong> vista, a estudar melhor o Brasil, conhecer melhor a nossa nação e participar.<br />

Essa nossa ausência, <strong>de</strong> só ficarmos reclamando, é a consequência do que estamos tendo hoje. Não vamos esquecer que nós<br />

<strong>de</strong> São Paulo não elegemos o Delfim Netto — sem nenhum elogio ou crítica — e elegemos o Clodovil. é fácil ficar só criticando<br />

e é difícil pegar um espelho, olhar bem para a nossa cara e admitir que estamos sendo omissos.<br />

O brasileiro gosta <strong>de</strong> reclamar do elevador, do pátio, da garagem, da coluna, etc., mas não quer ir nem na reunião <strong>de</strong> síndico do<br />

prédio. é uma atitu<strong>de</strong> que todos temos que mudar. Não sei se esse vazio vem da revolução, que gerou um medo <strong>de</strong> se discutir,<br />

mas as pessoas têm que voltar a discutir política; essa é a essência do jogo e nós temos que entrar e não fugir <strong>de</strong>le, elogiando<br />

quando estiver certo e criticando quando estiver errado, sem medo.<br />

Joelmir beting<br />

O problema é que estamos passando muito rapidamente da indignação para a resignação, incluída a questão fundamental na<br />

vida <strong>de</strong> todo mundo, da qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida em todas as classes, que é a questão da violência, que se coloca com irmã siamesa<br />

da corrupção. Eu diria até que a corrupção é quem patrocina a violência no Brasil, <strong>de</strong> cima para baixo.<br />

Se não me engano, a proposta do Orlando foi a criação <strong>de</strong> uma entida<strong>de</strong> para gerenciar esse tema e <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>ssa entida<strong>de</strong>,<br />

po<strong>de</strong>ria ocorrer a gestação do código <strong>de</strong> ética, lembrando também que com 30 anos <strong>de</strong> atraso, foi criada aqui, na véspera do<br />

evento, a Frente Parlamentar <strong>de</strong> Comunicação Social, o que seria nosso primeiro atalho até chegar lá na Brasília <strong>de</strong> todos nós,<br />

ou melhor, na Brasília <strong>de</strong>les.<br />

Johnny Saad<br />

Vamos lutar para que seja nossa também. Po<strong>de</strong>mos encerrar ou alguém tem mais perguntas? Então, passo a palavra ao José<br />

Roberto Maluf, para que faça um resumo do que falamos, das idéias que surgiram, para que apresentemos nossa tese final<br />

sobre esse tema. Obrigado a todos vocês, especialmente àqueles que se expuseram, colocando suas idéias, expondo seus<br />

pontos <strong>de</strong> vista sem medo.<br />

José Roberto maluf<br />

Na verda<strong>de</strong>, eu nem <strong>de</strong>veria falar agora, porque tenho que apresentar um relatório junto à comissão, mas vou antecipar que<br />

estou plenamente <strong>de</strong> acordo com tudo o que foi dito aqui, em especial com a criação da entida<strong>de</strong> proposta pelo Orlando e<br />

com o código que essa entida<strong>de</strong> fará.<br />

Estamos no limiar <strong>de</strong> uma nova vida em que publicida<strong>de</strong> e conteúdo vão andar mais próximos do que vinham andando até<br />

agora. Todavia, quero dizer que, no que diz respeito ao entretenimento, não trazendo maiores problemas à política <strong>de</strong> uma<br />

empresa e à sua capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> informar, estou <strong>de</strong> acordo com o Walter <strong>de</strong> que temos que ter preocupação em saber qual é<br />

o limite em que po<strong>de</strong>mos chegar <strong>de</strong>ntro do jornalismo. Repórter Esso, SulAmérica Trânsito, são nomes que dão o nome do<br />

patrocinador para programa, produto ou emissora, mas não interferem no conteúdo e é nesse sentido que temos que lutar.<br />

Quero lembrar apenas dois ou três exemplos, que inclusive fizeram parte <strong>de</strong> uma apresentação antiga minha, que ilustram<br />

quando essa participação é danosa para o leitor, telespectador e o anunciante. O primeiro é o clássico do Los Angeles Times <strong>de</strong><br />

1999, em que o jornal se aliou ao Staples Center, uma arena <strong>de</strong> torneios <strong>de</strong> basquete, e anunciou a seus leitores que <strong>de</strong>veriam<br />

comprar títulos <strong>de</strong>sse novo centro esportivo, porque teriam vantagens <strong>de</strong> menor pagamento <strong>de</strong> entrada, etc. O que o jornal<br />

não informou a seus leitores foi que tinha 50% do controle social do Staples Center.<br />

Não é preciso dizer que os inimigos e competidores do jornal informaram isso na primeira página 15 ou 20 dias <strong>de</strong>pois e o<br />

jornal teve que escrever 14 páginas pedindo <strong>de</strong>sculpas a seus leitores, dizendo que isso jamais aconteceria, que realmente<br />

tinham passado dos limites, mas que o jornal continuava sério e que não iria per<strong>de</strong>r a sua credibilida<strong>de</strong>. O jornal teve um bom<br />

baque naquela época e per<strong>de</strong>u logo em seguida o seu editor chefe.<br />

O outro exemplo foi da CBS americana que, em um “60 Minutes’’, não queria exibir a entrevista feita por um repórter seu, com<br />

um ex-vice-presi<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> uma companhia <strong>de</strong> cigarros, porque ele contava que a empresa tinha colocado um fumo com<br />

enorme po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> nicotina e alcatrão, que viciava as crianças <strong>de</strong> imediato.<br />

Hoje sabemos que a CBS é da Viacom, mas na época, era da Westinghouse e o conselho <strong>de</strong> administração <strong>de</strong>sta <strong>de</strong>cidiu não<br />

colocar o programa no ar, porque o anunciante po<strong>de</strong>ria <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> anunciar. Mais uma vez a concorrência ficou sabendo, porque<br />

o repórter contou, e o programa teve que ir ao ar. A CBS amargou um gran<strong>de</strong> problema, com queda em suas ações, em seu<br />

faturamento, e logo em seguida sendo vendida para a Viacom, embora não se possa dizer que tenha sido por esse motivo.<br />

Tivemos também um exemplo na Ban<strong>de</strong>irantes, no tempo em que eu trabalhava lá. Uma das empreiteiras brasileiras estava<br />

comprando o complexo da Petrobras em Paulínia. O contrato chegou às nossas mãos por uma concorrente que não queria<br />

<strong>de</strong>ixar que aquela empreiteira realizasse a compra. Resolvemos colocar no ar esse assunto e recebemos várias ameaças, telefonemas<br />

e recusas <strong>de</strong> anunciar na Ban<strong>de</strong>irantes. Na época, conversando com o Johnny e com o Sr. João, resolvemos colocar<br />

no ar, per<strong>de</strong>mos o anunciante por um bom tempo e não sei se ele já voltou.<br />

Posso dar outros exemplos não só da comercialização, mas da manipulação do jornalismo, que muitas vezes tem ou po<strong>de</strong> vir<br />

a ter a questão comercial por trás. No caso específico do mês passado, não teve.<br />

Uma nova TV brasileira, chamada TV Brasil, per<strong>de</strong>u seu diretor executivo, porque a Secom dizia o que ele podia ou não podia<br />

exibir como matéria. Nesse caso não tinha comercialização envolvida, mas serve para ilustrar como a manipulação po<strong>de</strong><br />

ocorrer <strong>de</strong> várias formas.<br />

Apesar <strong>de</strong> nós todos lembrarmos que a comercialização e o conteúdo <strong>de</strong>vem andar juntos — até porque, em alguns casos,<br />

há uma exigência do anunciante, como discutimos em nossa reunião da comissão ontem —, o diretor geral da TV Globo há<br />

pouco tempo <strong>de</strong>u uma entrevista dizendo que 90 a 92% <strong>de</strong> seu faturamento ainda é <strong>de</strong> 30 segundos. Isso quer dizer que ou<br />

ainda estamos caminhando <strong>de</strong>vagar, ou, como comentou o Orlando Lopes, os 30 segundos são uma maneira extraordinária<br />

<strong>de</strong> anunciar nos nossos negócios.<br />

Também vale lembrar que temos nosso “pecadinho” em jornalismo. Em 2001, aniversário <strong>de</strong> 7 anos do Plano Real, o Secretário<br />

Geral da Secom, que tem status <strong>de</strong> Ministro, fez comerciais em emissoras <strong>de</strong> rádio, televisão e em algumas revistas. Todavia, ele<br />

comprou páginas em 11 jornais, mas os jornais diagramaram as informações conforme o seu projeto gráfico respectivo. Estou<br />

falando dos maiores jornais brasileiros. Aparentemente, isso passaria <strong>de</strong>spercebido por muitos <strong>de</strong> nós, parecendo apenas uma<br />

informação da editoria do jornal, mas é bem verda<strong>de</strong> que na maioria <strong>de</strong>les tinha Informe Publicitário. O fato foi <strong>de</strong>nunciado<br />

apenas por um jornal, a Folha <strong>de</strong> S.Paulo, através <strong>de</strong> seu ombudsman da época, Bernardo Aizemberg, cujo título era o seguinte:<br />

‘’Gato por lebre: você, leitor, comprou gato por lebre; fizeram sua cabeça em 11 jornais brasileiros”. Estampou uma página <strong>de</strong><br />

cada jornal mostrando que eram as mesmas informações com diagramação diferente. No final, o diretor editorial do jornal<br />

foi chamado e teve que se explicar. Quero <strong>de</strong>ixar duas frases para os senhores <strong>de</strong>ssa antiga apresentação. Uma <strong>de</strong>las: o meio<br />

<strong>de</strong> comunicação é caro e paradoxal, só consegue florescer quando dá lucro, mas fica muito suspeito quando busca o lucro a<br />

qualquer preço. Por último, duas frases do Eugênio Bucci comentando esse assunto dos jornais da época: “um engano bastante<br />

comum entre leitores, telespectadores, ouvintes e mesmo jornalistas <strong>de</strong> marketing e publicida<strong>de</strong> é supor que a publicida<strong>de</strong><br />

garante o sustento dos veículos <strong>de</strong> imprensa. Não há uma única publicação jornalística bem sucedida no longo prazo que<br />

tenha <strong>de</strong>scuidado por muito tempo da confiança do público e se <strong>de</strong>dicado a bajular anunciantes”. Muito obrigado e espero<br />

fazer um bom relatório.<br />

Johnny Saad<br />

Antes <strong>de</strong> colocar em votação, peço que cada um faça uma reflexão e veja se está <strong>de</strong> acordo com o que foi aqui discutido, se<br />

tem algo que incomoda. E antes <strong>de</strong> encerrar minha parte, gostaria <strong>de</strong> contar uma historinha singela que vivi há alguns anos<br />

atrás, quando meu pai já estava bem velhinho e teve que fazer um tratamento em Pittsburgh, uma cida<strong>de</strong>zinha muito calma e<br />

pacata da Filadélfia. O time <strong>de</strong> futebol americano “queridinho da cida<strong>de</strong>” estava quebrado e a Prefeitura ia muito bem <strong>de</strong> caixa.<br />

Numa bela noite, o prefeito <strong>de</strong>ve ter tido uma idéia <strong>de</strong> gênio <strong>de</strong> salvar o clube e ‘’enfiou’’ US$ 10 milhões <strong>de</strong>ntro do clube para<br />

sanear o seu passivo.<br />

Quando amanheceu o dia naquela cida<strong>de</strong>zinha, pensei estar no Vietnã: todos, inclusive os velhinhos, foram para o meio da<br />

rua, incendiaram carros, brigaram e xingaram o prefeito, cercaram a casa <strong>de</strong>le a tal ponto que <strong>de</strong> noite ele pediu uma re<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

emissoras locais para pse <strong>de</strong>sculpar e foi buscar o dinheiro <strong>de</strong> volta.<br />

Aquela população pacata soube lutar pelo que queria: continuou gostando do clube, mas tinha a consciência <strong>de</strong> que aquele<br />

dinheiro era <strong>de</strong>la e da Prefeitura e que o prefeito era apenas um funcionário. Acho que esse tipo <strong>de</strong> reação po<strong>de</strong> ser útil para<br />

os dias que estamos vivendo, on<strong>de</strong> vamos ter que, qualquer dia <strong>de</strong>sses, fazer o papel dos velhinhos <strong>de</strong> Pittsburgh e reclamar<br />

ao não gostar das coisas.<br />

Quando vejo isso no jornalismo, sempre falo com o Mitre e meu pessoal: mostrem através <strong>de</strong>ssa matéria que alguém ficou<br />

indignado. Está faltando gente indignada. Muito obrigado, vou colocar em votação e em tese e vou consi<strong>de</strong>rar que se estivermos<br />

em silêncio, todos estão <strong>de</strong> acordo com o que foi aqui discutido e que não tem nenhuma gran<strong>de</strong> aberração no que<br />

colocamos. Depois, vamos redigir a nossa tese. Muito obrigado a todos.<br />

326 327<br />

COMISSÃO 12 - MÍDIA E CONTEÚDO


Comissão 13<br />

mARKETING DE RElACIONAmENTO<br />

Nota: Os trabalhos <strong>de</strong>sta Comissão<br />

não estão reproduzidos na íntegra<br />

por problemas técnicos <strong>de</strong> gravação.<br />

Efraim Kapulski<br />

Boa tar<strong>de</strong>. Farei uma breve apresentação, mas não precisam anotar nada, pois tudo estará registrado no site da<br />

Abemd.<br />

Em qualquer investimento em uma marca, ação, campanha, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente da mídia, da disciplina, cada<br />

vez mais o mercado exige e você é pressionado a garantir performance. Quando se fala em performance, palavras<br />

como eficiência, eficácia e resultado financeiro estão por trás do que a mensuração tem como objetivo.<br />

Há uma passagem histórica <strong>de</strong> um famoso diretor <strong>de</strong> marketing: “Não acha que estamos gastando o dobro do<br />

que precisaríamos gastar? Se gastássemos meta<strong>de</strong>, teríamos o mesmo resultado? Então vamos fazer isso, reduzir<br />

os custos pela meta<strong>de</strong>.” Existe uma gran<strong>de</strong> dificulda<strong>de</strong> para <strong>de</strong>scobrir o que realmente é preciso fazer ou não,<br />

para medir o que é eficiente, o que dá retorno, porque muitas vezes, acabamos por optar por ações maiores<br />

do que o necessário, ações com performance sem condições <strong>de</strong> avaliação, medição. Mesmo nos dias <strong>de</strong> hoje,<br />

com toda a tecnologia, existem ações que não fazem sentido, pois serão mais caras do que a própria ação do<br />

processo inicial.<br />

Vamos <strong>de</strong>bater um pouco esse assunto hoje. Para começarmos a falar sobre isso, faço a seguinte pergunta: em<br />

que mundo estamos vivendo? Eu trouxe quatro charts que mostram um pouco esse momento complexo do<br />

cenário em que vivemos hoje. é um mundo mais complexo, com pessoas mais complexas. Tudo é interligado;<br />

tudo significa algo diferente para pessoas diferentes. A realida<strong>de</strong> é ambígua. Uma frase ótima do Oscar Wil<strong>de</strong> diz:<br />

“Consistency is the last refuge of the unimaginative’’ (a consistência é o último refúgio dos sem imaginação).<br />

Fala-se muito em re<strong>de</strong>s sociais. Quem esteve em Cannes e acompanhou <strong>de</strong> perto, viu que elas tomaram conta<br />

do festival; fala-se em 100 milhões <strong>de</strong> pessoas envolvidas e esses números continuam crescendo. é um processo<br />

complicado e, cada vez mais, vocês têm que <strong>de</strong>ixar o consumidor ter controle e assumir que vocês, como anunciantes,<br />

per<strong>de</strong>ram esse controle. Por mais que estejamos em um momento <strong>de</strong> buscar rentabilida<strong>de</strong>, estabilida<strong>de</strong>,<br />

vocês vivem uma impossibilida<strong>de</strong> enorme <strong>de</strong> controlar o que fazem. O consumidor tem o po<strong>de</strong>r, assume a direção<br />

e é ele quem <strong>de</strong>fine os rumos.<br />

Durante décadas, o curso <strong>de</strong> marketing foi baseado em um posicionamento e hoje não é mais suficiente se<br />

apoiar nele para fazer sua marca se diferenciar. Nós, cada vez mais, temos que interferir positivamente na vida<br />

do consumidor — obviamente com respeito à privacida<strong>de</strong> —, para que ele também possa fazer parte da nossa<br />

vida como marca. Falava-se em monólogo há alguns anos; <strong>de</strong>pois, em diálogo, mas ele não é mais eficiente.<br />

O processo <strong>de</strong> interferir, <strong>de</strong> vivenciar a experiência, faz parte do mundo <strong>de</strong> hoje e continuará a fazer parte do<br />

mundo <strong>de</strong> amanhã.<br />

é nesse cenário complexo que se fala em performance e, obviamente, isso vai além das promessas vazias. é<br />

preciso ter propósitos, causas, crenças a compartilhar e uma das coisas que mais têm sido faladas — e que, infelizmente,<br />

ainda são poucos que conseguem praticar — é sobre o marketing como um serviço. Muitos <strong>de</strong> vocês<br />

<strong>de</strong>vem estar lembrados que há décadas, no Brasil, o Shell Respon<strong>de</strong> era um serviço; o Guia Michelin até hoje é<br />

uma referência <strong>de</strong> boas recomendações. O Nike +, no ano passado, surgiu como um dos cases mais importantes<br />

do mundo global e se valorizou. Lá é possível compartilhar suas experiências com o mundo todo.<br />

Cada vez mais, o processo <strong>de</strong> comunicação não está mais limitado a uma agência que tem i<strong>de</strong>ias criativas e<br />

coloca essas i<strong>de</strong>ias em prática. O mundo está mudando e é preciso acompanhar essas mudanças da melhor maneira<br />

possível. é preciso, <strong>de</strong> fato, interagir, interferir na vida do consumidor. O público-alvo, hoje, é uma plateia,<br />

ele vive ao vivo e em cores a experiência; ele participa do processo <strong>de</strong> construir uma marca. Temos dito que a<br />

comunicação está per<strong>de</strong>ndo o controle hoje, mas acho que já per<strong>de</strong>u há muito tempo.<br />

A pessoa ia para o bar, tomar chop com um amigo e contar as experiências positivas, as negativas. Hoje ela vai<br />

para a internet, entra num site, num chat, participa <strong>de</strong> comunida<strong>de</strong>s. O fato é que as pessoas vão esquecer o que<br />

você diz; talvez até esqueçam o que você fez, mas certamente vão lembrar a sensação, o sentimento, a experiência<br />

daquele momento.<br />

Este é um cenário complexo, um cenário no qual precisamos avaliar o que fazer, <strong>de</strong> que forma interagir. Vivemos<br />

a chamada fragmentação da mídia. Se há alguns anos atrás, conseguíamos ter uma série enorme <strong>de</strong> especialistas<br />

no mercado, na verda<strong>de</strong> <strong>de</strong>veríamos ter, cada vez mais, um elenco pequeno. Essa é uma realida<strong>de</strong> que precisamos<br />

enfrentar. Talvez vocês não consigam ter autossuficiência interna como uma agência para prover serviços,<br />

mas é preciso ter a responsabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> buscar uma solução. Obviamente, os especialistas vão continuar no seu<br />

campo, mas sabemos que ter um especialista, no fundo, coloca em risco a nossa capacida<strong>de</strong> real <strong>de</strong> solucionar<br />

os problemas do cliente, que também <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>de</strong> nós.<br />

Não basta ter integração. Isso não tem nada a ver com harmonizar, tentar otimizar as disciplinas todas o tempo<br />

todo. Integração, no fundo, para nós, passa por conseguir <strong>de</strong>scobrir realmente qual é o problema e buscar uma<br />

solução in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte dos seus interesses, do seu know-how principal; é a intenção da recomendação. O mo<strong>de</strong>lo<br />

<strong>de</strong> hoje <strong>de</strong>ntro das agências é muito complexo e outras comissões estão discutindo esse tema. A verda<strong>de</strong> é que<br />

é muito difícil, nesse mercado, recomendar o que faz sentido para o seu cliente e não para a sua agência.<br />

Obviamente sinergia é fundamental, mas você precisa garantir que o raciocínio para encontrar a solução não<br />

parta sempre do mesmo caminho. A maioria das agências acaba tendo o vício <strong>de</strong> começar com uma campanha<br />

não muito cara e <strong>de</strong>rivar para as outras pequenas, mas é parte do processo. A i<strong>de</strong>ia nasce em qualquer lugar.<br />

Parte do nosso sucesso vem do esforço <strong>de</strong> marcas, fazendo com que nossos produtos venham performar melhor<br />

e essas empresas evoluírem como negócios. Mas a verda<strong>de</strong> é que as métricas tradicionais <strong>de</strong> marketing direto<br />

que se usaram até aqui, contendo estatísticas e dados, as várias ferramentas <strong>de</strong> apoio <strong>de</strong> mídia <strong>de</strong> marca, que<br />

datam <strong>de</strong> cinco, <strong>de</strong>z anos ou mais, não são mais eficientes para medir o que acontece no mundo real. é preciso<br />

aceitar essas limitações e repensar como você vai garantir se o que está fazendo faz sentido ou não.<br />

Quanto vale o cliente falar bem ou mal <strong>de</strong> você em relação ao que você faz como uma empresa ou na área <strong>de</strong><br />

comunicação? Re<strong>de</strong>s sociais.<br />

Como você consegue, nesse momento absolutamente inimaginável há cinco ou <strong>de</strong>z anos atrás, avaliar se faz<br />

sentido investir ou não? A resposta é: continue investindo, porque o seu consumidor está lá, vivendo a vida <strong>de</strong>le,<br />

você vai conhecer um pouco mais sobre ele e não existe, hoje, espaço melhor para isso. Uma das coisas que eu<br />

aprendi neste ano, acompanhando os números, é que a internet não é mais isso; a internet já tomou conta <strong>de</strong><br />

números monstruosos. Estamos falando <strong>de</strong> centenas <strong>de</strong> milhões <strong>de</strong> pessoas, isso é marketing e o mercado já está<br />

lá. Isso não reflete o momento, por mais que, obviamente, <strong>de</strong> indústria para indústria, <strong>de</strong> empresa para empresa,<br />

esses números possam mudar, possam ser maiores ou menores.<br />

Esta é a nova vida das pessoas.<br />

Acompanho esse mercado há mais <strong>de</strong> quinze anos e está acontecendo uma gran<strong>de</strong> discussão. Nosso país está<br />

crescendo, está <strong>de</strong>scobrindo mais uma vez a sua veia <strong>de</strong> um crescimento mais forte que sua história e ao crescer,<br />

corre o risco <strong>de</strong> abandonar seus afazeres que pagam a conta, sabendo que o processo <strong>de</strong> aquisição po<strong>de</strong> custar<br />

até <strong>de</strong>z vezes mais, em economia histórica, do que o processo <strong>de</strong> retenção. Com ter equilíbrio? Como as gran<strong>de</strong>s<br />

empresas estão lidando com isso? Como atingir o equilíbrio buscando realmente os seus interesses diretos naquele<br />

assunto? Em algumas empresas, o processo <strong>de</strong> fi<strong>de</strong>lização peca na relevância quando se compara com a<br />

necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> crescimento. Algumas empresas estão em um estágio mais maduro e precisam trabalhar melhor<br />

a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> reter clientes.<br />

O fato é que a maior parte dos anunciantes ainda não dá atenção a isso. A boa notícia é que as pessoas acordaram<br />

para a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> usar a tecnologia disponível hoje em nossas mãos, para que possamos acompanhar<br />

os nossos clientes e ter a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificá-los e evoluir junto com eles, acompanhando, assim, o que<br />

acontece. Esse cenário favorece claramente o chamado marketing direto ou marketing <strong>de</strong> relacionamento, um<br />

cenário que a Abemd está vivendo no processo <strong>de</strong> integração. E ele é talvez o principal motor <strong>de</strong>sse momento,<br />

porque é um segmento mais acostumado com o processo <strong>de</strong> avaliar, testar, medir e apren<strong>de</strong>r. Uma máxima<br />

que usamos na agência é que ou a correlação do marketing direto com você tem resultado direto positivo, ou<br />

você vai apren<strong>de</strong>r alguma coisa. Se você não apren<strong>de</strong>u nada e per<strong>de</strong>u dinheiro, é um fracassado. Se ao menos<br />

conseguiu apren<strong>de</strong>r, <strong>de</strong>ve melhorar na próxima. O segmento, a cabeça do marketing direto, permite prever cenários<br />

que, com técnicas <strong>de</strong> análise da informação e principalmente a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> testar e medir, e, portanto,<br />

apren<strong>de</strong>r, tem sido talvez a melhor oportunida<strong>de</strong> nesse momento <strong>de</strong> integração.<br />

Claramente, o marketing direto tem sido uma experiência muito positiva para a Giovanni, pois tem dado uma<br />

liga muito importante nessa questão <strong>de</strong> marca, que obriga a buscar uma maior sinergia com os atuais clientes.<br />

Neste cenário que estamos vivendo, tem sido muito útil este conceito <strong>de</strong> marketing direto, esse know-how,<br />

<strong>de</strong>ntro do processo <strong>de</strong> integração. Há outro fenômeno por trás <strong>de</strong>ssa evolução, e como estamos falando que as<br />

barreiras caíram, os muros foram <strong>de</strong>rrubados e à medida que o tempo passa, estamos falando em administração<br />

e negócios. Assim, cada vez mais as agências estão se posicionando como parceiros estratégicos, os clientes<br />

estão encolhendo suas estruturas, per<strong>de</strong>ndo tempo e cada vez mais estão sendo obrigados a contar com seus<br />

parceiros para solucionar os problemas, que não necessariamente passam por comunicação. Alguns <strong>de</strong>les até<br />

têm comunicação no final, mas vários incluem expedição, prazo, <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> produto e a verda<strong>de</strong> é que<br />

temos que aproveitar o momento e evoluir como empresas, como segmento, e estarmos prontos para aten<strong>de</strong>r<br />

essa necessida<strong>de</strong> neste momento — uma necessida<strong>de</strong> muito mais estratégica e menos técnica do que era há<br />

tempos atrás.<br />

O <strong>de</strong>safio é muito maior, é lógico que algumas empresas têm know-how do processo <strong>de</strong> performance e, então, o<br />

<strong>de</strong>safio aumenta, mas algo nos favorece: a credibilida<strong>de</strong> do próprio consumidor. O processo é <strong>de</strong>le, <strong>de</strong> julgar o<br />

tempo todo os nossos esforços. Algumas premissas nos ajudam a balizar e não per<strong>de</strong>r o trilho: condicionar o consumidor<br />

<strong>de</strong>ntro do processo ético, ter uma capacida<strong>de</strong> contínua <strong>de</strong> enten<strong>de</strong>r o cenário, pois é uma dificulda<strong>de</strong><br />

quando o cliente é um alvo ambulante. A dificulda<strong>de</strong> que as áreas <strong>de</strong> mídia têm para atingir o consumidor com<br />

eficiência, no trabalho feito nesse segmento, é enorme, e o consumidor está o tempo todo em <strong>de</strong>slocamento.<br />

O celular, talvez a mídia mais eficiente e que está próximo do consumidor, ainda tem uma série <strong>de</strong> restrições<br />

técnicas, éticas e <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong>.<br />

Se capacitar <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>sse cenário do consumidor e do mercado, buscar a solução i<strong>de</strong>al — a solução <strong>de</strong> venda é<br />

a solução da melhor atitu<strong>de</strong> o tempo todo e não a que mais nos interessa. Cada vez mais, talento é fundamental.<br />

Na minha opinião, a aposta é ler o pensamento do consumidor, enten<strong>de</strong>r pesquisas que muitas vezes são feitas<br />

e serão utilizadas após setenta dias, quando as informações já estão <strong>de</strong>fasadas. é importante testar, incrementar<br />

tudo o que pu<strong>de</strong>r no momento da experimentação nesse cenário eletrônico, para apren<strong>de</strong>r.<br />

Enfim, o marketing direto tem essa característica e uma gran<strong>de</strong> possibilida<strong>de</strong> no processo <strong>de</strong> integração. Esse é<br />

o principal ponto do nosso <strong>de</strong>bate <strong>de</strong> hoje. Lembo que cada setor tem a sua competência — o call center po<strong>de</strong><br />

trazer conhecimento e opinião; uma mala direta tradicional permite a aproximação do consumidor com a sua<br />

marca.<br />

Apesar dos vários números do marketing direto, não po<strong>de</strong>mos acreditar que a criação tenha importância menor.<br />

é a criação que faz o consumidor se mexer, é ela que faz a comunicação ser bem entendida — muitas vezes, mal<br />

entendida, porque não se faz o trabalho direito. Por mais que algumas pessoas possam insistir em acreditar que a<br />

criação em si no marketing direto não tem valida<strong>de</strong>, nem importância, isso é uma estupi<strong>de</strong>z <strong>de</strong> marca maior: ela<br />

é tão importante quanto qualquer processo <strong>de</strong> informação. Quem tem a responsabilida<strong>de</strong> pela informação ser<br />

entendida é o emissor e não o receptor da informação. O emissor consegue dar o seu recado em uma campanha,<br />

em sete segundos, sete palavras, num banner em qualquer outra mídia.<br />

328 329<br />

COMISSÃO 13 - MARKETING DE RELACIONAMENTO


Enfim, quanto mais você conhecer o consumidor, melhor será. Daí a importância das ferramentas <strong>de</strong> informação<br />

e bancos <strong>de</strong> dados; melhor será a chance <strong>de</strong> limitar a dispersão e <strong>de</strong> aumentar a pertinência no que faz,<br />

acreditando no marketing direto. é preciso acompanhar as transformações e incorporar isso no seu sistema <strong>de</strong><br />

pensamento, permitir a evolução.<br />

Essas mudanças certamente fazem parte dos <strong>de</strong>bates que estão acontecendo hoje pela manhã no 4º <strong>Congresso</strong>.<br />

Muito obrigado.<br />

Antonio Rosa<br />

Não se po<strong>de</strong> mais falar uma linguagem geral para todos do mesmo jeito, sem correr o risco das responsabilida<strong>de</strong>s finais. O<br />

primeiro sli<strong>de</strong>, por favor. O João Roberto Marinho, estava assistindo lá em baixo no plenário, ele falou: ‘’Não há país livre sem a<br />

liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> expressão do cidadão’’; achei muito legal a apresentação <strong>de</strong>le, partindo do princípio da liberda<strong>de</strong>, e quero falar<br />

um pouco sobre isso. Convergência <strong>de</strong> mídia é o que está pontuando todo esse nosso processo, e vai provocar toda mudança<br />

da propaganda com o marketing direto e as disciplinas chamadas comunicação integrada. Por isso, o Brasil está <strong>de</strong>satento,<br />

pois chega a Cannes, no Festival Mundial da Publicida<strong>de</strong>, on<strong>de</strong> éramos os melhores, e agora somos praticamente nada. Quem<br />

esteve lá sabe que fizemos feio, porque Cannes está falando <strong>de</strong> comunicação integrada, que é a categoria Titanium.<br />

Não é o anúncio <strong>de</strong> televisão nem o <strong>de</strong> jornal, nem uma peça ou uma mala-direta. é tudo isso junto, muito bem feito e não<br />

sabemos fazer; faremos em função da tecnologia e a convergência vai gerar esse mo<strong>de</strong>lo que está nos faltando. Estou fazendo<br />

um trabalho muito legal <strong>de</strong> digitalização na Re<strong>de</strong> TV. São coisas que só quem é rápido faria, não quem é gran<strong>de</strong>. Surpreen<strong>de</strong>nos<br />

que a apresentação que vimos lá em baixo do gran<strong>de</strong> <strong>Congresso</strong> da Propaganda, não tenha terminado com um filme<br />

publicitário em HD! Se começou mostrando o início da propaganda nos jornais, com os gran<strong>de</strong>s autores da literatura fazendo<br />

anúncio, porque não terminou mostrando como é um comercial em HD? Já viram um comercial em HD na TV? No Brasil não<br />

tem! Trabalho numa re<strong>de</strong> <strong>de</strong> TV em que 100% da programação é em HD, mas quando entra o intervalo, a propaganda é SD!<br />

Nenhum cliente ou agência tem a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> imaginar o ônus que é se locomover e apren<strong>de</strong>r como se faz um comercial<br />

em HD. E para provocar o mercado, comemoramos seis meses com 100% <strong>de</strong> programação HD e nossos acionistas, o Marcelo<br />

e o Amílcare, fizeram uma proposta para todos dizendo: se alguém tem um filme publicitário, bancamos convertê-lo em HD.<br />

Entramos na interativida<strong>de</strong>, porque a TV digital é interativa. O Ginga não está lá <strong>de</strong>ntro e muita gente não quer que ele entre<br />

já. Se clicar no comercial, como fica a audiência do segundo comercial? Talvez o Marcelo nos fale para cobrar o click-through,<br />

mas só quem sabe disso po<strong>de</strong> falar.<br />

Quem enten<strong>de</strong> <strong>de</strong> comércio eletrônico é o profissional <strong>de</strong> marketing direto e às vezes me incomoda pensar que o pessoal<br />

<strong>de</strong>ssa área, que enten<strong>de</strong> muito <strong>de</strong> interativida<strong>de</strong>, já o faz <strong>de</strong> várias maneiras pelo correio, internet, por e-mail, telefone, e não<br />

faz na TV. Por que não fazer nas novas mídias? O tCommerce é legal, e não o eCommerce.<br />

Falamos aqui dos <strong>de</strong>safios da internet e fiquei imaginando quando não for a internet, e sim a TV. Imagine alguém assistindo<br />

um programa <strong>de</strong> TV, daí surge uma proposta da Abril e ele interage na hora e compra: convergência <strong>de</strong> mídia. Se o anúncio<br />

po<strong>de</strong> ser interativo, então quero mandar e também ven<strong>de</strong>r. Em 1998, escrevi um livro chamado “Atração Global”, que falava da<br />

convergência da mídia com a tecnologia, há 10 anos publicado e esgotado e dizia lá que o anúncio ia ser interativo e a TV ia<br />

chamar HDTV - essa eu acertei sem querer.<br />

Efraim Kapulski<br />

Não sei, não consigo controlar você, só mensurar os resultados.<br />

Antonio Rosa<br />

Quero mostrar para vocês um jornal interativo. Tem-se lido que os jornais estão caindo <strong>de</strong> circulação no mundo inteiro e não<br />

vão longe também as revistas, por falta <strong>de</strong> tempo ou praticida<strong>de</strong>, mas ninguém está falando que já tem um jornal com o a<br />

tecnologia e Ink. e Ink é uma tecnologia do M.I.T., que está fazendo um jornal <strong>de</strong> papel on-line e, com ele, po<strong>de</strong>-se interagir.<br />

Imagine lá um anúncio. Entrei hoje no site do e Ink e se vocês entrarem, verão que acima do painel da Coca-Cola há outro<br />

painel que vai fazer vocês morrerem <strong>de</strong> rir: é um display <strong>de</strong> ponto-<strong>de</strong>-venda interativo que tem cores e é um papel! Imagine<br />

na padaria, no mercado ou nos correios algo assim pendurado com a sua marca!<br />

Há outra tecnologia que também faz um jornal digital, que é o OLED – Organic Light Emiting Dio<strong>de</strong>. No site da Sony você po<strong>de</strong><br />

comprar uma TV <strong>de</strong> 3 mm <strong>de</strong> espessura por US$ 2.500.<br />

A NDS, empresa <strong>de</strong> tecnologia do grupo News Corporation, faz a B Sky B da Inglaterra, que faz t Commerce. Na Inglaterra, toda<br />

programação da Sky é feita com tecnologia <strong>de</strong> interativida<strong>de</strong>: ven<strong>de</strong> anúncios e inclusive faz um chamado dizendo como se<br />

faz propaganda interativa. Lá já está em operação e nós estamos achando que isso não vai acontecer e que vamos ficar só na<br />

internet ou no bloco comercial <strong>de</strong> cinco minutos <strong>de</strong> anúncios, sem vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> ficar esperando a volta da programação.<br />

Ainda não se enten<strong>de</strong> <strong>de</strong> TV on <strong>de</strong>mand. E já que falei <strong>de</strong> Sky, quero falar da Sky Brasil, <strong>de</strong> tecnologia e <strong>de</strong> que já era previsível<br />

po<strong>de</strong>r comprar na TV com o controle remoto. Existem várias experiências como o IPTV - Internet Protocol Television -, no Google.<br />

A televisão vai pela internet, mas não é um computador. Não vamos ligar a TV e ver YouTube. A televisão estará ligada numa<br />

banda larga, numa ADSL, Speedy ou um cable mo<strong>de</strong>m, que está ligado num servidor e que vai passar programação on <strong>de</strong>mand:<br />

po<strong>de</strong>remos assistir o filme na hora em que quisermos.<br />

Em 2009, vai acontecer no IPTV o World Forum Latin America. A IPTV está investindo perto <strong>de</strong> US$ 1 bilhão nesse projeto no<br />

Brasil e em mais alguns países da América do Sul.<br />

Outra surpresa é o WIMAX. Se já existe o wi-fi e a banda larga, imagine que um dia po<strong>de</strong>mos ter isso na rua, gerado em todos<br />

os lugares, no automóvel, na estrada, num ônibus, e não mais num hot spot, <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> um prédio, <strong>de</strong> um café ou aeroporto.<br />

Chega a 50 megabits, e quem está à frente disso é a Intel. Tendo tudo isso à mão, vou fazer essa interativida<strong>de</strong> na rua, no<br />

ponto <strong>de</strong> venda, no correio, e, evi<strong>de</strong>ntemente, integrar todas as fases da comunicação interativa. O WIMAX no Brasil já é uma<br />

realida<strong>de</strong>: <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o ano passado, já está operando em uma cida<strong>de</strong>-piloto, Mangaratiba (Rio <strong>de</strong> Janeiro).<br />

Conclusão: a essa altura, espero que tenham percebido o imenso perigo que as pessoas e empresas estão correndo! Incomoda-me<br />

alguns colegas falando do futuro da propaganda, da publicida<strong>de</strong>, mas que publicida<strong>de</strong>? Haverá publicida<strong>de</strong> nos<br />

padrões tradicionais?<br />

Para muitos isto está trazendo dificulda<strong>de</strong>s, para outros, claro, oportunida<strong>de</strong>s e acho que é on<strong>de</strong> <strong>de</strong>veríamos nos focar. Escrevi<br />

certa vez um artigo, publicado na revista da Abemd, e usei a palavra protagonista dizendo: “Eu acredito que o protagonista<br />

<strong>de</strong>ssa comunicação integrada do futuro será oriundo do marketing direto, porque ele é mais instigante, e mais ‘’fuçador´”; não<br />

que o outro seja preguiçoso, mas está mais acomodado numa ação que termina e não tem feedback. Como o marketing direto<br />

tem, é por isso que provavelmente isso vai acontecer.<br />

Cabe a cada um se posicionar diante <strong>de</strong>sse futuro imprevisível; não adianta chegar aqui e dizer que vai ser “assim”. Dá para dizer<br />

que vai ser diferente, mas não dá para dizer como vai ser.<br />

Vocês já perceberam em três ou quatro sli<strong>de</strong>s o quanto essa tecnologia não pára <strong>de</strong> evoluir e o quanto ela já está perto <strong>de</strong><br />

nós? Se estão sentados confortavelmente do outro lado, abram bem os olhos para não sumirem do mapa amanhã, porque<br />

essa é a gran<strong>de</strong> realida<strong>de</strong>.<br />

Essa é a última frase do meu livro e finalizando, só para provocar, acho que não po<strong>de</strong>mos nos acomodar. Eu, o Cláudio, o Buono,<br />

entre outros colegas, já participamos <strong>de</strong> tantos trabalhos, e <strong>de</strong> tantas situações tão previsíveis, que púnhamos o negócio<br />

para andar e <strong>de</strong>ixávamos correr. Agora não vai mais ser assim; quem fizer mais ou fizer <strong>de</strong> forma integrada vai levar o quinhão.<br />

Não vamos nos esquecer que duas megacompanhias <strong>de</strong> tecnologia, a Microsoft e a Yahoo, compraram e estão <strong>de</strong>senvolvendo<br />

sistemas <strong>de</strong> medição <strong>de</strong> publicida<strong>de</strong> na televisão e não na web, porque afinal, o cliente quer saber se o anúncio pelo qual ele<br />

pagou R$ 300 mil por 30 segundos teve eficácia ou não; acho que já acabou a fase <strong>de</strong> não saber da eficácia. Muito obrigado.<br />

Efraim Kapulski<br />

Muito obrigado, Toninho, você sempre me surpreen<strong>de</strong>. Aumenta a adrenalina, mas vale a pena. Quero passar agora a palavra<br />

para o Márcio Salem.<br />

Só lembrando, por favor, não se esqueçam das perguntas. Está no regulamento interno, que não somos organizadores, só<br />

cuidamos <strong>de</strong>ssa Comissão, e a regra é a seguinte: não terão direito a voto os professores <strong>de</strong> comunicação, os estudantes <strong>de</strong><br />

comunicação e os jornalistas como tais inscritos. Qualquer pergunta feita e que tenha sido selecionada, a pessoa será chamada<br />

e terá 90 segundos para fazer a colocação que fez por escrito anteriormente.<br />

márcio Salem<br />

Boa tar<strong>de</strong>. Serei breve, levarei mais ou menos cinco minutos para apresentar meus pontos, trazendo um pouco da experiência<br />

como jurado sobre o que ouvi <strong>de</strong> 30 agências no mundo inteiro a respeito da questão da integração, dos <strong>de</strong>safios <strong>de</strong> mensuração<br />

e do papel da agência frente às novas <strong>de</strong>mandas <strong>de</strong> comunicação. Com os 30 jurados, o marketing direto é o maior corpo<br />

<strong>de</strong> jurados do festival <strong>de</strong> Cannes; são 30 pessoas <strong>de</strong> sete países diferentes e é impressionante vermos como o mundo fica cada<br />

vez menor quando constatamos que os problemas e as angústias são os mesmos, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente do local.<br />

Sobre mensuração e integração, tendo ouvido todos os jurados, afirmo que muitas vezes a integração dificulta o processo <strong>de</strong><br />

mensuração, que po<strong>de</strong> ser avaliado como um todo, mas <strong>de</strong> forma mais complicada, nos permite i<strong>de</strong>ntificar que meio foi o<br />

gran<strong>de</strong> responsável pela resposta.<br />

A integração proporciona mais eficiência no resultado final, mas dificulta isolar o meio do qual po<strong>de</strong>mos indicar isoladamente<br />

<strong>de</strong> on<strong>de</strong> veio a resposta. E estamos falando <strong>de</strong> interferência e engajamento e com isso, a força das mídias se torna muito mais<br />

eficiente do que apenas um esforço isolado.<br />

Nós, das agências tradicionais – não mais tradicionais porque estamos nos reinventando –, somos sempre chamados para<br />

fazer ações below the line, o BTL, ficando com as agências tradicionais o ATL, o above the line. Na verda<strong>de</strong>, não existe mais linha;<br />

estamos indo além da linha, nem abaixo e nem acima e esse é o gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>safio agora. Que agência li<strong>de</strong>rará esse processo? As<br />

gran<strong>de</strong>s marcas, hoje estão fragmentando os chamados fornecedores <strong>de</strong> comunicação e quando surgir a gran<strong>de</strong> idéia, quem<br />

vai li<strong>de</strong>rar esse processo?<br />

Temos que pensar como generalistas, mas executar como especialistas, mas quem será o protagonista <strong>de</strong>ssa integração <strong>de</strong> comunicação?<br />

Acredito que os clientes anunciantes, para maximizar os resultados, concentrarão suas agências, porque a gran<strong>de</strong><br />

idéia será responsável por permear todas as ferramentas <strong>de</strong> comunicação, e assim, quem quiser fazer um gran<strong>de</strong> trabalho para<br />

uma marca, dificilmente ficará atrelado ao in e ao out da sua ferramenta. Acredito que teremos uma li<strong>de</strong>rança cada vez maior<br />

<strong>de</strong> concentração <strong>de</strong> fornecedores <strong>de</strong> comunicação, como dizem as gran<strong>de</strong>s marcas. Portanto, a integração, sendo fruto <strong>de</strong><br />

uma gran<strong>de</strong> idéia, também estará caminhando para uma gran<strong>de</strong> agência <strong>de</strong> comunicação. Esse é nosso <strong>de</strong>safio como agência<br />

<strong>de</strong> marketing <strong>de</strong> relacionamento, pois não existirá mais a linha que nos separa; estamos preparados, muito mais próximos do<br />

mundo digital e muito mais relacionados com o assunto <strong>de</strong> mensuração, resultado e mudança <strong>de</strong> comportamento. Portanto,<br />

se nos reinventarmos, estaremos cada vez mais prontos para li<strong>de</strong>rar esse processo <strong>de</strong> integração da comunicação, mensuração<br />

<strong>de</strong> resultados e a busca da melhor idéia. Muito obrigado.<br />

Efraim Kapulski<br />

Para aten<strong>de</strong>r ao regimento, vamos proce<strong>de</strong>r agora à leitura da tese. Vou passar a palavra para o relator, e <strong>de</strong>pois vamos partir<br />

para as perguntas.<br />

Fernando Guimarães<br />

A tese que apresentamos ao <strong>Congresso</strong> tem como título “A busca da mensuração, principal motor do processo <strong>de</strong> integração”.<br />

Os muros que historicamente separavam as disciplinas <strong>de</strong> marketing da <strong>de</strong> comunicação estão ruindo. A causa principal é<br />

a necessida<strong>de</strong> que os anunciantes sentem e que expressam cada vez com mais vigor, <strong>de</strong> mensurar seus esforços buscando<br />

otimizar recursos que, pela ótica <strong>de</strong>les, são inevitavelmente escassos, e também otimizar a eficácia no atingimento do target<br />

group, minimizando a dispersão da comunicação.<br />

Assim, assistimos ao surgimento no mundo inteiro <strong>de</strong> um tipo <strong>de</strong> fornecedor que não funciona mais como um prestador<br />

<strong>de</strong> serviços apenas, <strong>de</strong>scompromissado com os resultados e com o que ocorre pós-veiculação, e sim, como um autêntico<br />

parceiro estratégico, com capacida<strong>de</strong>, competência e vonta<strong>de</strong> para interferir em todo o processo, do <strong>de</strong>senvolvimento do<br />

produto ao gerenciamento do relacionamento com o cliente, passando pela distribuição, precificação e, last but not least, pela<br />

comunicação.<br />

Profissionais e empresas que estiveram até agora alocados no marketing direto, <strong>de</strong> relacionamento e digital, por dominarem<br />

as técnicas <strong>de</strong> diálogo e <strong>de</strong> análise <strong>de</strong> dados, informações e conhecimento e por terem a disciplina <strong>de</strong> testar e medir todas as<br />

330 331<br />

COMISSÃO 13 - MARKETING DE RELACIONAMENTO


suas ações, po<strong>de</strong>m <strong>de</strong>sempenhar um papel crucial nesse processo, mostrando o caminho e assumindo até sua condução em<br />

alguns casos. Essa é a tese.<br />

Efraim Kapulski<br />

Temos aqui uma pergunta do Chan Wook Min, presi<strong>de</strong>nte do Popai Brasil, dirigida ao Toninho Rosa: você prevê a aproximação<br />

do marketing direto com o marketing no ponto <strong>de</strong> venda, merchandising?<br />

Antonio Rosa<br />

Claro, se você entrar no e Ink, verá que ele mostra a utilização do Popai, point-of-purchase. Tem algo novo na comunicação<br />

integrada chamado Recency, a comunicação recente não é share of mind: não é você ir para a loja, padaria, supermercado e no<br />

ponto-<strong>de</strong>-venda e consumir o produto que está no seu share of mind. Você não lembra da marca que está mais <strong>de</strong>ntro da sua<br />

cabeça, e consome. Você chega lá e muda <strong>de</strong> opinião pela “recenticida<strong>de</strong>”. O Popai sabe muito bem que até 70% da <strong>de</strong>cisão<br />

num ponto <strong>de</strong> venda acontece na hora, estimulada no ambiente. Quem iria prever que no filme Minority Report, quando o<br />

personagem entra na loja da Gap, é chamado pelo nome e o cartaz apresenta uma nova oferta para ele? O Spielberg já tinha<br />

contratado sete especialistas do M.I.T. para assessorá-lo. No trem, quando o Tom Cruise está fugindo, o jornal muda e entra<br />

um breaking news do USA Today. Como isso é possível? E tudo monitorado com tecnologias que ‘’sabem’’ possivelmente quem<br />

olhou, quem clicou, quem pediu mais e se integrando com as outras mídias.<br />

O Márcio falou sobre below the line e acho isso bárbaro, porque below the line era um termo utilizado quando a propaganda era<br />

gran<strong>de</strong>; agora ela representa menos que 47% da disciplina do marketing do cliente, da comunicação. Agora é o below the line<br />

e outras disciplinas são above the line. Então, vamos inverter o critério: quando falarmos <strong>de</strong> below the line, estaremos falando<br />

<strong>de</strong> propaganda. Obrigado.<br />

Efraim Kapulski<br />

Obrigado, Toninho.<br />

Não i<strong>de</strong>ntificado<br />

Lutei para sair do below the line e você me colocou <strong>de</strong> volta.<br />

Efraim Kapulski<br />

Pergunta do Joaci Pedro Macedo Me<strong>de</strong>iros para o Eduardo Souza Aranha: em previsão <strong>de</strong> vendas, você interliga todo o processo<br />

produtivo. Não está na hora <strong>de</strong> unificar a codificação <strong>de</strong> produtos <strong>de</strong> forma a se po<strong>de</strong>r quantificá-los física e monetariamente,<br />

aumentando a precisão do que se produz, se ven<strong>de</strong> e do que vai ser produzido? Haveria menos <strong>de</strong>sperdícios, frustrações e<br />

se otimizariam recursos e benefícios, não acha? A hora da massificação da nota fiscal e eletrônica é o momento.<br />

Eduardo Souza Aranha<br />

Concordo, mas o objetivo era termos uma visão mais estratégica do que é operacional; era <strong>de</strong>monstrar que o gran<strong>de</strong> objetivo da<br />

mensuração é melhorar a qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> previsibilida<strong>de</strong> da empresa, porque a mensuração é uma ativida<strong>de</strong> e a previsibilida<strong>de</strong> é<br />

uma visão estratégica do processo. Ter uma campanha <strong>de</strong> comunicação com informações que permitam prever melhor o que<br />

po<strong>de</strong> acontecer com ela e ainda ter uma informação muito clara a respeito do perfil do cliente e da segmentação, é isso que<br />

estamos querendo buscar: maior eficácia através <strong>de</strong> uma comunicação que esteja orientada por algum sistema <strong>de</strong> informação.<br />

Outro ponto importante a <strong>de</strong>stacar nesse processo é o gran<strong>de</strong> problema da comunicação integrada: para atingir relevância,<br />

basicamente, é preciso que haja uma visão única do cliente, senão não será relevante e a comunicação não surtirá efeito.<br />

Como po<strong>de</strong>mos ser eficazes na comunicação, se não temos uma visão única do cliente e sim uma visão fragmentada? A<br />

internet está vendo <strong>de</strong> um lado, o call center e a propaganda <strong>de</strong> outro e cada um tem uma visão totalmente fragmentada do<br />

cliente. Uma discussão: o que vem antes, integrar a comunicação ou primeiro integrar como uma plataforma a informação<br />

sobre o cliente, para <strong>de</strong>pois termos sucesso numa comunicação integrada?<br />

Efraim Kapulski<br />

Chegou a hora <strong>de</strong> lermos <strong>de</strong> novo a tese e submetermos à aprovação <strong>de</strong> vocês; antes queremos propor um texto da apresentação<br />

do Eduardo Souza Aranha, que foi transformado num 4º parágrafo, que não constava da tese.<br />

fernando Costa<br />

Quando ler outra vez, vou numerar os parágrafos.<br />

“Por fim, acreditamos que uma visão única do cliente <strong>de</strong>veria até antece<strong>de</strong>r o processo <strong>de</strong> integração da comunicação, pois<br />

só assim teríamos um aumento da previsibilida<strong>de</strong>, que é o objetivo da mensuração. E a visão única do cliente é a filha dileta<br />

das arquiteturas vencedoras <strong>de</strong> CRM.”<br />

Efraim Kapulski<br />

Primeiro tenho que submeter à votação do plenário. Se todos concordam com a inserção <strong>de</strong>sse parágrafo, a regra do jogo para<br />

se fazer a votação é a seguinte: quem não concordar com a inclusão <strong>de</strong>sse parágrafo precisa levantar. Alguém não concorda?<br />

Está aprovada a inserção.<br />

Agora vamos submeter a tese à votação:<br />

fernando Costa<br />

A tese é: “A busca da mensuração, principal motor do processo <strong>de</strong> integração”.<br />

1 Os muros que historicamente separavam as disciplinas <strong>de</strong> marketing e <strong>de</strong> comunicação estão ruindo, e a principal causa<br />

é a necessida<strong>de</strong> que os anunciantes sentem e expressam cada vez com mais vigor <strong>de</strong> mensurar seus esforços, buscando<br />

otimizar recursos que, pela sua ótica, são inevitavelmente escassos e a eficácia no atingimento do target group, minimizando<br />

a dispersão da comunicação.<br />

2 Assim, assistimos no mundo inteiro ao surgimento <strong>de</strong> um novo tipo <strong>de</strong> fornecedor, que funciona não mais apenas como<br />

um prestador <strong>de</strong> serviços, às vezes <strong>de</strong>scompromissado com os resultados e com o que ocorre pós-veiculação, e sim, como<br />

um autêntico parceiro estratégico com a capacida<strong>de</strong>, competência e vonta<strong>de</strong> para interferir em todo o processo do <strong>de</strong>senvolvimento<br />

do produto ao gerenciamento do relacionamento com o cliente, passando pela distribuição, precificação, e, last<br />

but not least, pela comunicação.<br />

3 Profissionais e empresas que estiveram até agora preferencialmente alocados nos territórios chamados <strong>de</strong> marketing direto<br />

e marketing <strong>de</strong> relacionamento, assim como naqueles <strong>de</strong>finidos como marketing digital, por terem a vocação e o treino das<br />

técnicas <strong>de</strong> diálogo e <strong>de</strong> análise <strong>de</strong> dados, informações e conhecimento, e, principalmente por terem a disciplina <strong>de</strong> testar e<br />

medir todas suas ações, po<strong>de</strong>m <strong>de</strong>sempenhar um papel crucial em todo processo, até assumindo sua condução, e em alguns<br />

casos no mínimo mostrando o “caminho das pedras”.<br />

4 Por fim, acreditamos que uma visão única do cliente <strong>de</strong>veria até antece<strong>de</strong>r o processo da comunicação, pois só assim teríamos<br />

um aumento da previsibilida<strong>de</strong>, que é o objetivo da mensuração. E a visão única do cliente é filha dileta das arquiteturas<br />

vencedoras <strong>de</strong> CRM.<br />

Efraim Kapulski<br />

Quem tem algo contra a aprovação da tese, que se levante. Nesse caso, por aclamação, a tese está aprovada.<br />

Deixei uma última pergunta para a mesa, do Luiz Buono, da Fábrica, que, embora seja pertinente, do ponto <strong>de</strong> vista do regimento<br />

não tem a ver com a tese propriamente dita: a propaganda conseguiu ter uma remuneração a<strong>de</strong>quada através do<br />

comissionamento <strong>de</strong> mídia. Qual a contribuição <strong>de</strong>ste <strong>Congresso</strong> para a remuneração mais justa dos serviços <strong>de</strong> marketing<br />

direto?<br />

Quem quer começar a falar? Talvez o cliente? Não, não vou fazer isso com o Fernando, porque ele é presi<strong>de</strong>nte do conselho.<br />

Então, Aurélio e <strong>de</strong>pois o Eduardo, e <strong>de</strong>pois o Marcio, <strong>de</strong>pois eu não sei se alguém se inscreve.<br />

Aurélio lopes<br />

Eu não sei se vai interessar ao <strong>Congresso</strong> uma ajuda para as outras agências, mas, <strong>de</strong> modo geral, o processo <strong>de</strong> remuneração<br />

tem mudado, está mudando, e ainda pelos próximos anos vai sofrer uma série <strong>de</strong> modificações. De fato, as agências <strong>de</strong> publicida<strong>de</strong><br />

trabalhavam mídia e eram remuneradas através da mídia até alguns anos atrás.<br />

Nos últimos <strong>de</strong>z anos, começaram a absorver tanto serviço sem correlação com mídia e a concorrência ficou tão forte, que começou<br />

a <strong>de</strong>teriorar suas margens. A maioria das gran<strong>de</strong>s agências ainda vive altos e baixos do ponto <strong>de</strong> vista <strong>de</strong> performance<br />

e rentabilida<strong>de</strong>. O que tem surgido <strong>de</strong> remuneração no mercado – e isso po<strong>de</strong> ser extrapolado para as outras disciplinas além<br />

da publicida<strong>de</strong> – é a remuneração baseada em performance, em resultado. Cada vez mais, a variável tem um peso maior no<br />

composto da remuneração.<br />

Ontem fomos anunciados como a agência da UNICSUL, uma das maiores universida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> São Paulo, com cerca <strong>de</strong> 40.000<br />

alunos e a composição da negociação foi baseada em resultado. Curiosamente, ao mesmo tempo em que se coloca performance<br />

na balança, é preciso ter simplicida<strong>de</strong> e medir performance é complexo, porque tem uma série <strong>de</strong> variáveis que<br />

interferem nesse mo<strong>de</strong>lo.<br />

Respon<strong>de</strong>ndo à sua pergunta, é a única forma que será convergente. In<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente da disciplina, é o sucesso ou o insucesso<br />

das ações que você realiza, e se você aposta no que está recomendando, a única forma é você se comprometer com<br />

o resultado. Obviamente, não <strong>de</strong>ve comprometer 100% da remuneração, mas uma parte significativa, talvez 1/3 <strong>de</strong>la; você faz<br />

sua parte e se <strong>de</strong>r certo, ótimo; se não, foi um problema <strong>de</strong> distribuição, <strong>de</strong> venda ou qualquer outra coisa.<br />

Cada vez mais, paramos <strong>de</strong> acumular informação no processo, pois o banco <strong>de</strong> dados fica enriquecendo, capturando dados<br />

e passamos a apren<strong>de</strong>r no caminho. Um exemplo muito simples que vivo todos os dias é que fazer um plano <strong>de</strong> mídia era<br />

tão somente um estudo monstruoso <strong>de</strong> freqüências e impactos, públicos-alvo e performance esperada daquela mídia; uma<br />

vez que comprou a mídia e a colocou no ar, resta rezar para que ela dê certo. Na mídia on-line, isso tudo é feito e <strong>de</strong>pois <strong>de</strong><br />

colocado no ar, começa-se a trabalhar, porque é possível mudar horas, minutos <strong>de</strong>pois. O número <strong>de</strong> horas que se envolve<br />

num trabalho é muito maior, e as taxas diminuíram nos últimos anos; para sobreviver, não adianta mudar <strong>de</strong> variável para fixo.<br />

Com alguns clientes que temos, na performance chegamos a ganhar cinco ou seis vezes o básico. Obviamente, não precificamos<br />

para isso, mas quando dá sorte, Deus ajuda e nós agra<strong>de</strong>cemos. Não existem outros caminhos além <strong>de</strong> acreditar no seu<br />

sucesso, no que você recomenda e seguir em frente.<br />

Efraim Kapulski<br />

O Aurélio se comprometeu comigo a assumir a diretoria <strong>de</strong> agências da Abemd. Temos um sistema há quase <strong>de</strong>z anos que<br />

se chama diretrizes setoriais, muito bem aceito pelo mercado, mas que exige uma certa revisão, e faz algum tempo que não<br />

é revisto. O Aurélio aceitou o encargo <strong>de</strong> rever esse processo junto com o mercado. Então, Buono, você vai precisar ajudar<br />

também, mas acho que vamos ter que aprimorar esse processo.<br />

Eduardo Souza Aranha<br />

Acho uma excelente indicação. Esse ponto que o Buono levantou também é muito pertinente ao <strong>Congresso</strong>, por duas razões:<br />

do ponto <strong>de</strong> vista <strong>de</strong> processos, a remuneração <strong>de</strong> uma agência <strong>de</strong> propaganda é algo que tem balizamentos muito claros e<br />

é baseado numa mídia; você po<strong>de</strong> discutir a taxa, mas o conceito sobre mídia é extremamente consolidado.<br />

As agências <strong>de</strong> relacionamento ou <strong>de</strong> marketing direto têm o processo completamente diferente, porque po<strong>de</strong>m usar qualquer<br />

mídia. Temos exemplos <strong>de</strong> campanhas <strong>de</strong> enorme sucesso na televisão; a própria Editora Abril é um exemplo clássico do<br />

uso da mídia <strong>de</strong> marketing direto. O que percebemos claramente é que não é sustentável cobrar baseando-se em mídia. Ao<br />

longo dos anos, as agências <strong>de</strong> marketing direto <strong>de</strong>senvolveram todo um conceito baseado em cobrar fee e o valor <strong>de</strong>sse fee<br />

tem sido calculado em função <strong>de</strong> algo preocupante, com base em horas trabalhadas. Isso é extremamente limitado, porque<br />

a remuneração tem que contemplar o valor que se gera para o anunciante e este valor baseado em horas fica muito relativo,<br />

pois menos horas po<strong>de</strong> ser razão <strong>de</strong> sucesso. Nem sempre mais horas significa sucesso; po<strong>de</strong> significar improdutivida<strong>de</strong> e<br />

po<strong>de</strong>-se estar transferindo essa improdutivida<strong>de</strong> para o cliente. Temos então dois pontos fundamentais: primeiro, a composi-<br />

332 333<br />

COMISSÃO 13 - MARKETING DE RELACIONAMENTO


ção <strong>de</strong> fee po<strong>de</strong> ser baseada num conceito <strong>de</strong> <strong>de</strong>dicação, mas acima <strong>de</strong> tudo, <strong>de</strong> resultados; temos a questão da mensuração,<br />

que é ter previsibilida<strong>de</strong>, saber o que está sendo proposto para o cliente, que resultado isso po<strong>de</strong> gerar e essa seria a melhor<br />

forma <strong>de</strong> transformar a sua contribuição em remuneração. Segundo ponto: sistemas baseados em variáveis <strong>de</strong> sucesso exigem<br />

integração espiritual entre cliente e agência, não só pelo aspecto ético, mas principalmente porque ambos passam a<br />

ser parceiros. Aí, a agência tem que ter um papel e o cliente tem que aceitar que ela também tem influência no processo <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>finição da estratégia. Ocorre um ganho muito gran<strong>de</strong> quando atingimos esse objetivo e mudamos essa relação fornecedorcliente,<br />

prestador <strong>de</strong> serviço-anunciante, para uma relação <strong>de</strong> parceria estratégica, on<strong>de</strong> a agência tem um papel fundamental<br />

na <strong>de</strong>finição do produto ou do resultado final. Daí a razão da participação no resultado.<br />

Efraim Kapulski<br />

Quero fazer uma referência ao Roberto Corrêa, da ESPM. Essa sua pergunta é pertinente, tem a ver com call center, mas está<br />

fora <strong>de</strong> contexto em relação à tese. Tem um programa chamado probare.org que é muito importante e vale a pena entrar no<br />

site, pois se refere à auto-regulamentação do call center.<br />

Agra<strong>de</strong>ço a todos pela paciência e pela presença, sinto-me muito gratificado que tenhamos discutido tão filosoficamente, e<br />

que operacionalmente vamos continuar tocando nossa vida.<br />

Muito obrigado e parabéns.<br />

Comissão 14<br />

NOVAS míDIAS<br />

Nota: Os trabalhos <strong>de</strong>sta Comissão<br />

não estão reproduzidos na íntegra<br />

por problemas técnicos <strong>de</strong> gravação.<br />

Conclusões da Comissão:<br />

1- A criação <strong>de</strong> um Comitê Permanente <strong>de</strong> Novas Mídias em Plataformas Digitais<br />

2- A construção do Portal das Novas Mídias<br />

3- A realização do primeiro estudo <strong>de</strong> crossmídia do país<br />

4- A criação <strong>de</strong> um Comitê Permanente <strong>de</strong> Educação para Novas Mídias Digitais<br />

PARTE DOS DEbATES<br />

flávio Rezen<strong>de</strong><br />

Sou da DPZ e estou muito feliz por estar aqui com vocês. Adorei as apresentações e entendo que o que estamos discutindo<br />

é uma nova linguagem universal urbana, avançando continuamente para os mais surpreen<strong>de</strong>ntes locais, mas talvez essa<br />

contribuição possa ser simplesmente modificada, pois, apesar dos avanços <strong>de</strong> tecnologia e da digitalização, vocês não são<br />

proprietários da digitalização.<br />

Quando se fala em uma dicotomia e em mídia tradicional, isso me preocupa um pouco. Há uma questão complementar dos<br />

360º, para a qual temos que ficar atentos, porque sem isso a ansieda<strong>de</strong> e os pontos <strong>de</strong> contato diminuirão, e teremos que<br />

fazer sempre o diário do nosso consumidor. Temos que encontrar o consumidor em todos os pontos e vocês são os melhores<br />

para isso. Através da mobilida<strong>de</strong>, das telas digitais, da segmentação. O que me preocupa é o fato <strong>de</strong> vocês se apropriarem<br />

da tecnologia digital disponível para a televisão e o rádio. O termo tradicional me preocupa, porque os avanços nessa área<br />

clássica off-line são muito gran<strong>de</strong>s.<br />

Não i<strong>de</strong>ntificado<br />

Mas dá para esclarecer melhor, Flávio. Não estamos nos apropriando da área digital, estamos colocando como regra do jogo<br />

que qualquer meio <strong>de</strong> comunicação que trabalhar na área digital, está no conceito <strong>de</strong> novas mídias.<br />

flávio Rezen<strong>de</strong><br />

Quando se compara com o tradicional, me incomoda um pouco.<br />

Não i<strong>de</strong>ntificado<br />

Com a nossa proposta da tese, queremos fazer a ponte entre esses lados que hoje conversam pouco e construir um mercado<br />

mais rico, que saiba levar para a gran<strong>de</strong> maioria da população e das campanhas <strong>de</strong>senvolvidas, na medida do possível, acesso<br />

integrado do ponto <strong>de</strong> vista da comunicação.<br />

flávio Rezen<strong>de</strong><br />

Separadamente ou no conjunto, <strong>de</strong> alguma forma vocês já são até medidos pelo Ipsos. No conjunto, vocês são imbatíveis e<br />

complementares. é só uma questão <strong>de</strong> adaptação <strong>de</strong> linguagem. Vocês vieram com uma linguagem nova contribuindo para<br />

o nosso mercado.<br />

Não i<strong>de</strong>ntificado<br />

Surgiu aqui uma idéia boa: vamos passar essa conversa para os <strong>de</strong>batedores e <strong>de</strong>pois, quando voltar alguma forma <strong>de</strong> apresentação,<br />

repassamos para a conclusão do Mason. O Waltely dá uma visão geral <strong>de</strong> mídia digital out of home e o Ary comenta<br />

sobre a questão da internet.<br />

Vamos começar pelo primeiro <strong>de</strong>batedor, Mário Castelar.<br />

mário Castelar<br />

Estava aqui prestando atenção e, em linhas gerais, acho que a Comissão <strong>de</strong>senvolveu uma boa tese, com propostas que me<br />

parecem a<strong>de</strong>quadas, <strong>de</strong> reunir o mercado para discutir e encaminhar a formação <strong>de</strong> profissionais. Em linhas gerais, concordo<br />

com a tese. A única observação que faço é que essa discussão que vai acontecer se dê mais em torno das pessoas do que da<br />

tecnologia. Não importa se consigo falar com a minha avó em Rio Bonito usando o Wap. O que importa é que eu consiga falar<br />

com ela. Não preciso ser engenheiro da Nasa para me comunicar um a um, isso não tem importância do ponto <strong>de</strong> vista da<br />

construção <strong>de</strong> plataformas <strong>de</strong> comunicação.<br />

Acredito que existe uma discussão mais séria, que é a do vocabulário. Será justo chamar <strong>de</strong> audiência um grupo <strong>de</strong> pessoas<br />

que cria conteúdo? Será que a palavra audiência não está carregada daquela passivida<strong>de</strong> dos tempos em que o sujeito ficava<br />

lá recebendo informação? Será que não precisamos fazer consi<strong>de</strong>rações, emitir conceitos ou criar vocabulários que nos permitam<br />

lidar conceitualmente com o fato <strong>de</strong> que não existem mais dois canais?<br />

Antigamente o sujeito recebia informação publicitária por um canal e precisava sair <strong>de</strong> casa para fazer a compra. Nós, publicitários,<br />

dizíamos: “criamos o good-will e construímos imagem”, porque a compra se dá via outro canal. Agora a compra po<strong>de</strong><br />

se dar pelo mesmo canal no canal em que a pessoa recebe a informação. Do ponto <strong>de</strong> vista das pessoas, essa discussão<br />

parece fundamental e acredito que po<strong>de</strong>ríamos começar a discutir conceito e ética, por exemplo. Será justo que eu receba<br />

mensagens que não quero? O mo<strong>de</strong>lo mental que nós construímos pressupunha a invasão como norma. Uma música do Billy<br />

Blanco, dos anos 1950, diz: “Camelô, esse dono da calçada com a conversa bem jogada, ven<strong>de</strong> a quem não quer comprar”.<br />

334 335<br />

COMISSÃO 14 - NOVAS MÍDIAS


O mo<strong>de</strong>lo mental nessa música é o <strong>de</strong> que o bom ven<strong>de</strong>dor é aquele que ven<strong>de</strong> a quem não quer comprar, e isso nos guia<br />

quando assistimos a uma página <strong>de</strong> internet e entra um pop-up no meio da notícia. Esse é o mo<strong>de</strong>lo mental do ven<strong>de</strong>dor que<br />

punha o pé na porta, <strong>de</strong> não aceitar o “não” como resposta. Eu tive um chefe que dizia: “Nós ven<strong>de</strong>mos, quem entrega, é outra<br />

pessoa! Nem importa se vai entregar ou não, interessa é que vai ven<strong>de</strong>r!’’ Esse mo<strong>de</strong>lo mental não po<strong>de</strong> migrar para o mundo<br />

novo, não convive com ele.<br />

Quando se formarem as Comissões, quando os grupos se reunirem, acho que <strong>de</strong>vemos primeiro a<strong>de</strong>quar o nosso vocabulário.<br />

Confúcio dizia que a harmonia do mundo <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> da retificação dos nomes, porque se chamarmos as coisas <strong>de</strong> qualquer<br />

nome — e me parece que é o que estamos começando a fazer, encantados com a tecnologia — estamos per<strong>de</strong>ndo essas<br />

noções. Achamos legal invadir e que o pop-up apareça ali no meio do texto. Estamos trabalhando com essas mídias novas e<br />

com conceitos antigos como opportunity to see, reach e frequence. Precisamos rever isso e encontrar juntos uma maneira <strong>de</strong><br />

pensar, até porque, com certeza, seremos encaminhados para a tal “sustentabilida<strong>de</strong>”. é preciso que as nossas ações sejam<br />

sustentáveis, socialmente justas e respeitáveis. Quando falamos em 130 milhões <strong>de</strong> celulares, quantas crianças têm celular? é<br />

justo que elas recebam qualquer tipo <strong>de</strong> mensagem até que o Governo nos proíba?<br />

A outra coisa é do ponto <strong>de</strong> vista <strong>de</strong> eficiência; quando as pessoas começam a gerar conteúdo, elas têm acesso aos truques,<br />

seja lá qual for o nome que <strong>de</strong>rmos às nossas saudáveis hipérboles ou às nossas mentiras. Está chegando a hora em que não<br />

vamos po<strong>de</strong>r mentir mais. E aí, o que será <strong>de</strong> nós? Minha contribuição é que quando a Comissão se reúna, crie primeiro um<br />

código conceitual, um vocabulário a<strong>de</strong>quado para <strong>de</strong>pois comentar os aspectos mais operacionais.<br />

Daniel barbará<br />

O próximo a fazer comentário é o João Ciaco.<br />

João Ciaco<br />

Boa tar<strong>de</strong>! Em linhas gerais tendo a concordar bastante com a tese apresentada, mas, ouvindo as apresentações e a colocação<br />

do Castelar, talvez uma forma interessante <strong>de</strong> contribuir para a Comissão seja contar um pouco da nossa experiência na Fiat e<br />

trazer um pouco do caráter prático das coisas que vivenciamos e que precisam ser enfrentadas <strong>de</strong> maneira tranqüila. Quando, há<br />

seis anos, começamos a trabalhar com internet e meios digitais na Fiat, encontramos uma resistência fenomenal, principalmente<br />

porque tínhamos uma formação em mídia clássica, com uma abordagem tradicional e, do ponto <strong>de</strong> vista dos nossos clientes,<br />

a internet era um enorme concorrente para as concessionárias, pois era uma forma <strong>de</strong> ven<strong>de</strong>r carro fora <strong>de</strong> uma indústria tão<br />

tradicional como a automobilística.<br />

Acho que o movimento foi muito saudável, porque começamos a construir um ativo digital na Fiat, primeiro pensando no consumidor<br />

e em como criar experiências novas e interessantes a partir das mídias, sejam elas quais forem. E a mídia digital veio<br />

exatamente neste momento, casando um pouco do entendimento e do mapeamento <strong>de</strong>sse consumidor através do CRM.<br />

Inicialmente, criamos uma área <strong>de</strong> internet <strong>de</strong>ntro da Fiat, que nos permitiu difundir a cultura digital na própria fábrica, lidar<br />

e discutir internamente. Foi uma forma <strong>de</strong> trazer para <strong>de</strong>ntro da organização um pouco <strong>de</strong>ste pensamento, <strong>de</strong> romper essas<br />

barreiras que existiam — e que continuam a existir. Trabalhamos inicialmente assim.<br />

Concordo bastante com o Castelar: a questão <strong>de</strong> pensar <strong>de</strong> forma humana é fundamental e foi fundamental para que nós<br />

pudéssemos mapear essas relações.<br />

Des<strong>de</strong> então, estamos construindo experiências positivas na internet, que possam complementar a experiência real, apren<strong>de</strong>ndo,<br />

mapeando, marcando, documentando e, do ponto <strong>de</strong> vista <strong>de</strong> CRM, construindo bancos <strong>de</strong> dados efetivos, que nos<br />

aju<strong>de</strong>m a <strong>de</strong>cidir.<br />

Hoje, sei que meu consumidor fica na internet 12,5 minutos, 25 vezes mais tempo em contato comigo do que minhas chances<br />

<strong>de</strong> falar com ele na televisão. Significa que preciso falar com ele na internet diferentemente do jeito que falo na televisão ou<br />

nos meios tradicionais, e é isso que a experiência vem nos ensinando. Como consigo utilizar os meios novos para fazer com<br />

que a experiência inteira do consumidor na relação com a minha marca seja maior? Não dá para prescindir dos meios tradicionais,<br />

tenho que fazer com que cada um <strong>de</strong>les traga a sua contribuição importante e, no todo, eu tenha uma maximização<br />

maior <strong>de</strong>ssa possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> exposição da mídia. Temos trabalhado assim.<br />

Devemos colocar os meios tradicionais junto dos novos — aliás, eu não gosto <strong>de</strong>ssa nomenclatura e é justamente a minha<br />

crítica a esta tese. Temos o conjunto <strong>de</strong>sses meios todos e essa abordagem em conjunto é que vai permitir uma experiência<br />

maior e mais efetiva <strong>de</strong> se chegar a esse consumidor.<br />

Falamos do “novo” e do “velho” consumidor. O que está na internet é absolutamente o mesmo consumidor que está sentado<br />

no sofá <strong>de</strong> chinelo assistindo a TV. Não dá para pensar em ter estruturações diferentes na internet e na mídia tradicional. Tenho<br />

que pensar no consumidor único, que vai ser acessado <strong>de</strong> diversas formas e enten<strong>de</strong>r e mapear as melhores formas. A idéia <strong>de</strong><br />

criar a cultura <strong>de</strong> enten<strong>de</strong>r essa mídias, combiná-las, fazer com que se tenha uma visão do antigo e do novo e na totalida<strong>de</strong>,<br />

conseguir um abordagem mais efetiva e ampla, me parece um caminho bem a<strong>de</strong>quado e interessante para discutirmos.<br />

Daniel barbará<br />

As próximas consi<strong>de</strong>rações serão do Abel Reis, da agência Click.<br />

Abel Reis<br />

Vou chamar a nossa indústria <strong>de</strong> indústria da mídia digital, mas a indústria da mídia <strong>de</strong> uma maneira geral nasce sobre outra<br />

indústria, que é a <strong>de</strong> tecnologia da informação (TI). Temos que concordar que esta última se move por uma lógica <strong>de</strong> obsolescência<br />

contínua, ou seja, daqui a 18 meses, todos os chipsets <strong>de</strong> todas as máquinas do planeta estarão em xeque por um novo<br />

processador que a Intel e a AMD vão lançar e, com isso, ocorrerá toda uma avalanche <strong>de</strong> inovações em software. O impactante<br />

para o negócio das mídias digitais é a impossibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se passar incólume a essa lógica <strong>de</strong> obsolescência contínua dos<br />

meios técnicos utilizados para fazer a comunicação.<br />

O que po<strong>de</strong>mos ver, como consequência imediata <strong>de</strong> estarmos apoiados numa indústria cuja lógica é a obsolescência contínua,<br />

é que o mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> negócios <strong>de</strong> agências <strong>de</strong> comunicação está sendo fortemente impactado e será dramaticamente<br />

impactado nos próximos anos — não po<strong>de</strong>mos mais duvidar disso. Os impactos envolvem três aspectos. O primeiro é operacional:<br />

a forma como se opera o negócio <strong>de</strong> comunicação em agências será dramaticamente alterada. O segundo aspecto<br />

recai na remuneração. Os meios digitais interativos são meios <strong>de</strong> tempo real e isso significa que a interação construída, provocada,<br />

propiciada ou que se tem com o consumidor, retorna como em um relógio, gerando uma série <strong>de</strong> implicações. Fazer<br />

campanha promocional num meio <strong>de</strong> tempo real significa corrigir, em tempo real, a rota <strong>de</strong> qualquer promoção. Isto tem<br />

implicações incríveis para o varejo e do ponto <strong>de</strong> vista <strong>de</strong> como se planeja e opera a mídia. Não fomos treinados e ainda não<br />

sabemos direito como é que se opera uma mídia <strong>de</strong> tempo real, tanto do ponto <strong>de</strong> vista operacional como <strong>de</strong> remuneração,<br />

já que as consequências são inevitáveis — como me remunero num mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> mídia cuja gestão é <strong>de</strong> tempo real e, portanto,<br />

mensurável e fortemente orientada para a performance?<br />

O terceiro aspecto é o do talento dos profissionais. Nós, na Agência Click, vivemos semanalmente o drama da escassez <strong>de</strong><br />

talentos e <strong>de</strong> pessoas formadas nos meios digitais. Particularmente na área <strong>de</strong> planejamento e gestão <strong>de</strong> mídia, a coisa é dramática.<br />

Não é à toa que algumas iniciativas estão sendo adotadas — o IAB, a FGV e a agência Click participam no sentido <strong>de</strong><br />

criar um curso formal <strong>de</strong> 160 horas, para formar talentos capazes <strong>de</strong> atuar nas agências, veículos e anunciantes e suprir essa<br />

<strong>de</strong>manda incrível que começa a criar distorções bizarras nos padrões <strong>de</strong> remuneração e <strong>de</strong> atuação dos profissionais nesse<br />

mercado. Essa questão <strong>de</strong> talentos é muito importante e me leva a uma tese, que não está incorporada às teses apresentadas,<br />

mas que eu gostaria <strong>de</strong> dividir com vocês: o fato <strong>de</strong> estarmos apoiados numa indústria <strong>de</strong> tecnologia da informação faz com<br />

que não seja mais possível pensar na mídia como hardware. A mídia está virando software, um negócio líquido e, o que é mais<br />

incrível, programável não pelos especialistas, mas pelo consumidor. Quando ele cria um blog e injeta lá <strong>de</strong>ntro um mecanismo<br />

capaz <strong>de</strong> capturar links patrocinados do Google, cortado pelo tema do blog da pessoa, ela está, <strong>de</strong> alguma maneira, programando<br />

essa mídia no sentido técnico e no sentido mais amplo que esse termo possa ter.<br />

Eu gostaria <strong>de</strong> colocar um ponto particularmente importante para finalizar a minha intervenção. Me preocupa muito a questão<br />

das métricas; eu não sei como o assunto está en<strong>de</strong>reçado <strong>de</strong>ntro das teses. é preciso que o mercado amadureça uma visão<br />

<strong>de</strong> como se mensura a ativida<strong>de</strong> e a performance <strong>de</strong> mídia nos meios digitais.<br />

Outro aspecto é o da remuneração e acho que precisamos pensar <strong>de</strong> forma mais ampla. As formas <strong>de</strong> remuneração propiciadas<br />

nos meios digitais são mais amplas e variadas, pois o comissionamento, o incentivo e a performance funcionam. é possível<br />

ter um mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> remuneração baseado no sucesso da comunicação que se faz em tempo real e, por fim, ter um mo<strong>de</strong>lo<br />

muito parecido com a indústria <strong>de</strong> serviços profissionais, as consultorias, a remuneração por alocação <strong>de</strong> profissionais e <strong>de</strong><br />

hora/homem, um formato legítimo também.<br />

Outra coisa que me preocupa é a zona cinzenta entre tecnologia da informação e mídia, que ocorre muitas vezes, e que nos<br />

leva a algumas situações como as que enfrentamos hoje, por exemplo, em concorrências <strong>de</strong> governo: ver serviços profissionais<br />

<strong>de</strong> mídia digital sujeitos ao mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> contratação por pregão, como se fosse parafuso ou prego. Nada contra os fabricantes<br />

<strong>de</strong>sses recursos, mas estou falando claramente <strong>de</strong> excelência, talento e competência intelectual, portanto, não faz o<br />

menor sentido ter um mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> contratação nestas bases. é preocupante e é fruto <strong>de</strong> uma confusão que ocorre na indústria.<br />

é importante a abordagem <strong>de</strong>ste ponto.<br />

Daniel barbará<br />

Orlando Marques, por favor.<br />

Orlando marques<br />

Não era só o Billy Blanco que estava certo; outra música mais recente diz um pouco do que estamos vivendo: “Nada do que<br />

foi será <strong>de</strong> novo do jeito que já foi um dia”. O que está acontecendo aqui hoje vai mudar e não será daqui a <strong>de</strong>z anos, mas já.<br />

Esse negócio não é evolução, não é a TV preto e branco que ficou TV em cores e, <strong>de</strong>pois, LCD. é uma revolução; e revolução<br />

tem paredão, paredão tem mortos e vamos morrer no meio do caminho, mas não há outro jeito para acharmos um novo<br />

caminho melhor do que este que estamos trilhando agora. E é bom que nesta platéia, tenhamos <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o Altino, que educou<br />

e criou a sua família na mídia tradicional, até gente <strong>de</strong> menos <strong>de</strong> 20 anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>. Estamos todos no meio <strong>de</strong> uma revolução,<br />

procurando um jeito <strong>de</strong> sair <strong>de</strong>la vivos. Alguns vão <strong>de</strong>ixar as pernas pelo caminho, mas vamos achar um novo caminho, que<br />

será mais completo do que o que estamos trilhando.<br />

Quando falamos em ter um estudo <strong>de</strong> cross media no país, trata-se <strong>de</strong> avaliar melhor o jeito <strong>de</strong> se programar e medir essas<br />

mídias e isso vai ser bom para a televisão, o jornal, a revista e o elevador <strong>de</strong> hoje, e para a internet <strong>de</strong> amanhã. é assim que<br />

vamos achar um caminho confortável e útil para toda a indústria e todos nós.<br />

Voltando às teses apresentadas, quando criamos um comitê <strong>de</strong> novas mídias digitais interativas, estamos buscando uma saída;<br />

se vamos criar um portal para trocar idéias, estamos procurando soluções e tudo isso vai nos levar a uma nova realida<strong>de</strong>. Não<br />

há outra maneira <strong>de</strong> nós nos comportarmos que não seja buscar uma saída.<br />

Nesta mesa, tem gente que não enten<strong>de</strong> quase nada <strong>de</strong> internet, como é o meu caso, e tem craques como o Abel, o Tiago, um<br />

usuário há muito tempo com sucesso. Tudo isso vai nos levar a uma nova realida<strong>de</strong>.<br />

A agência formal que só faz páginas duplas e comerciais <strong>de</strong> 30 segundos vai ter que fazer alguma coisa para competir e aten<strong>de</strong>r<br />

a <strong>de</strong>manda do cliente. Temos clientes em comum e às vezes eles estão mais perdidos que as agências, porque também<br />

não sabem direito para on<strong>de</strong> correr. Talvez eles tenham uma saída e nós tenhamos outra e se nos juntarmos, é possível que<br />

sejamos melhores do que a <strong>de</strong> um só.<br />

Waltely longo<br />

Vim preparado para mostrar um filme <strong>de</strong> televisão, mas vou <strong>de</strong> spot <strong>de</strong> rádio. A idéia é a mesma, mas estou um pouco prejudicado.<br />

Antes <strong>de</strong> mais nada quero agra<strong>de</strong>cer em nome da Associação Brasileira <strong>de</strong> Mídia Digital Out-of-Home (ABDOH), a<br />

mais jovem das associações nos meios <strong>de</strong> comunicação. Estou falando em nome <strong>de</strong> alguns companheiros associados aqui<br />

presentes. Estamos conversando neste fórum para esclarecer, tentar estimular uma discussão e uma análise sobre estes novos<br />

caminhos que aparecem pela frente.<br />

Sobre mídia digital out of home, existe um pouco <strong>de</strong> confusão e nesse sentido estamos falando <strong>de</strong> monitores <strong>de</strong> alta <strong>de</strong>finição,<br />

normalmente LCDs, posicionados em lugares estratégicos e que têm transmissão digital. Muita gente acredita que o gran<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>senvolvimento que todos estão acompanhando se <strong>de</strong>veu ao Projeto Cida<strong>de</strong> Limpa, quando na realida<strong>de</strong> é um processo<br />

estrutural mais amplo ocorrido nos últimos cinco anos. Houve uma convergência <strong>de</strong> fatores, sendo o primeiro <strong>de</strong>les a gran<strong>de</strong><br />

expansão digital, no sentido <strong>de</strong> barateamento e acessibilida<strong>de</strong>.<br />

336 337<br />

COMISSÃO 14 - NOVAS MÍDIAS


No início, os primeiros painéis <strong>de</strong> aeroporto custavam US$ 30 mil e agora um painel <strong>de</strong> plasma <strong>de</strong> 42 polegadas, vendido nas<br />

Casas Bahia, sai por US$ 3 ou 4 mil. Esse barateamento fez com que houvesse uma expansão muito gran<strong>de</strong> do setor <strong>de</strong> mídia<br />

digital out of home, juntamente com a fragmentação do consumo <strong>de</strong> mídia indoor in-house. Isso é uma realida<strong>de</strong>, pois os<br />

estudos disponíveis nos Estados Unidos mostram e confirmam que cada vez mais o público está em movimento fora <strong>de</strong> casa<br />

e mostram, também, que da década <strong>de</strong> 1970 para os dias <strong>de</strong> hoje, as pessoas ficam em média o dobro do tempo fora <strong>de</strong> casa,<br />

em função <strong>de</strong> uma série <strong>de</strong> aspectos, como <strong>de</strong>morar mais para se locomover até o trabalho ou morar mais nos subúrbios.<br />

Essa conjuntura toda fez surgir a nova mídia digital out of home, painéis encontrados em supermercados, cafés, shopping<br />

centers, drogarias, farmácias, aeroportos, trens, ônibus, metrôs, aca<strong>de</strong>mias, elevadores, consultórios, maternida<strong>de</strong>s, bares, restaurantes,<br />

etc., com conteúdo dirigido para cada momento da vida do consumidor.<br />

Estamos falando <strong>de</strong> um processo que em muito pouco tempo apareceu por aqui e esse crescimento foi tão rápido que permitiu<br />

que criássemos a ABDOH, uma associação composta no Brasil por três empresas, semelhante ao que já existe nos Estados<br />

Unidos, Inglaterra, Canadá e outros países, e que aglutina empresas em torno <strong>de</strong> métricas e mensurações iguais, códigos <strong>de</strong><br />

ética e assim por diante.<br />

Quando se fala em mídia digital out of home, vale <strong>de</strong>stacar a diferença entre a audiência e a atenção. Quando se tem uma mídia<br />

no elevador, um painel num ônibus, num trem ou numa sala <strong>de</strong> espera <strong>de</strong> um consultório, isso permite levar um conteúdo<br />

mais relevante, pela sincronia do momento e falar com certo número <strong>de</strong> pessoas. Po<strong>de</strong> ser uma comunicação massiva ou personalizada,<br />

falando especificamente na hora do almoço sobre um tema que será completamente diferente do abordado em<br />

uma véspera <strong>de</strong> fim <strong>de</strong> semana. A segmentação é pelo momento <strong>de</strong> vida que está ocorrendo e essa sincronia, essa relevâmcia,<br />

pega o público sempre em ativida<strong>de</strong>, a<strong>de</strong>quando o local, o momento e a mensagem.<br />

Quero finalizar falando <strong>de</strong> quatro <strong>de</strong>safios e oportunida<strong>de</strong>s da mídia digital out of home i<strong>de</strong>ntificados como oportunida<strong>de</strong>s a<br />

ser enfrentadas. O primeiro é: quanto maior for o acesso à tecnologia, mais fragmentada será a mídia. Tem re<strong>de</strong> <strong>de</strong> supermercado<br />

no Kentucky com emissora <strong>de</strong> mídia digital out of home e já surgem empresas agregadoras <strong>de</strong>sse tipo <strong>de</strong> mídia, porque<br />

ela ten<strong>de</strong> a ser otimizada para agregar, passando sempre pelo dia-a-dia da performance e do perfil do público consumidor.<br />

O segundo ponto é a varieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> plataformas que já existe e que exige um padrão <strong>de</strong> controle e métricas similares para<br />

divulgar <strong>de</strong> uma maneira nacional e massiva. O terceiro ponto é que a gran<strong>de</strong> força da mídia digital out of home está na sua<br />

linguagem segmentada e sincronizada com o momento do público. Colocar um comercial que funciona na Globo numa<br />

mídia <strong>de</strong> ônibus ou metrô é um <strong>de</strong>sperdício <strong>de</strong> relevância. Pegando um exemplo específico <strong>de</strong> três mulheres e mães, quando<br />

se estiver falando com a que acabou <strong>de</strong> dar à luz, tem que se falar <strong>de</strong> forma muito mais dirigida ao momento do que <strong>de</strong> forma<br />

generalista. Isto leva a um <strong>de</strong>safio <strong>de</strong> criação <strong>de</strong> conteúdos mais específicos, além <strong>de</strong> ser uma oportunida<strong>de</strong>.<br />

E, por último, vou falar num assunto que todos mencionaram aqui, a mudança <strong>de</strong> cultura e o problema <strong>de</strong> formação profissional.<br />

é gran<strong>de</strong> a dificulda<strong>de</strong> que temos hoje <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>sse novo mo<strong>de</strong>lo. Em relação a tudo o que comentei com vocês <strong>de</strong><br />

oportunida<strong>de</strong>s e <strong>de</strong>safios, a ABDOH está <strong>de</strong> alguma forma contribuindo, buscando, através <strong>de</strong> seus vice-presi<strong>de</strong>ntes, ocupar<br />

exatamente esse espaço.<br />

Ary meneghini<br />

O Interactive Advertising Bureau (IAB) é uma associação que no Brasil reúne cerca <strong>de</strong> 91 sócios, veículos, gran<strong>de</strong>s portais, portais<br />

verticais como o Guia da Semana, Oba Oba, agências <strong>de</strong> publicida<strong>de</strong>, e fornecedores <strong>de</strong> pesquisa como o Ibope. Os banners<br />

que vocês vêem nos sites não são fornecidos por um software do provedor, mas por um software <strong>de</strong> terceiros. Isso gera certa<br />

discussão.<br />

No ano passado, o IAB, preocupado com o total <strong>de</strong> investimento feito em publicida<strong>de</strong> on-line, já que a internet é o segundo<br />

meio <strong>de</strong> acesso no país – estamos falando em 50 milhões <strong>de</strong> pessoas –, fez uma pesquisa qualitativa, pois acreditava-se que<br />

um dos gran<strong>de</strong>s entraves era a falta <strong>de</strong> cobertura e o fato <strong>de</strong> não ser uma mídia <strong>de</strong> massa.<br />

A internet não é uma mídia <strong>de</strong> massa no sentido tradicional. A pesquisa qualitativa feita pelo Ibope buscou i<strong>de</strong>ntificar quais<br />

eram os limites e por que os anunciantes e as agências investem tão pouco em internet, já que é uma mídia relevante, abrangente<br />

e com gran<strong>de</strong> capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> segmentação. Por meio <strong>de</strong> amostragem, foram consultadas agências e anunciantes e<br />

i<strong>de</strong>ntificados alguns pontos. O primeiro <strong>de</strong>les é a cobertura. O segundo é que temos muitos termos. Por volta do ano 2000,<br />

falávamos em unique visitor, page view, impressões, click through, uma série <strong>de</strong> termos que a maioria das agências e anunciantes<br />

não compreendiam e tinham dificulda<strong>de</strong> para operacionalizar e indicar para o seu cliente.<br />

Surgiu o ví<strong>de</strong>o-cassete e todo mundo achou que ele ia acabar com o cinema, mas não acabou e quando nasce outra mídia,<br />

fala-se que vai acabar com a anterior, como o rádio e a TV, mas nunca acabou. Quando as mídias surgem e são boas, elas se<br />

somam; cabe às agências e aos anunciantes fazer um programa <strong>de</strong> comunicação <strong>de</strong> 360°. Este é o <strong>de</strong>safio. Descobrimos nas<br />

entrevistas que existe uma geração <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisores nas empresas e nas agências que não foi formada no meio da internet e sem<br />

essa formação, fica mais fácil trabalhar com a inércia do que já se está fazendo, do que fazer algo novo.<br />

A internet tem um componente diferente para se fazer mídia, chamado tecnologia, que envolve outro tipo <strong>de</strong> profissional. Se<br />

o profissional <strong>de</strong> atendimento <strong>de</strong> uma agência full service não tiver um pouco <strong>de</strong> conhecimento <strong>de</strong> tecnologia, não leva um<br />

briefing correto para a agência e não faz esse “leva e traz” entre a agência e criação e tecnologia — que é um <strong>de</strong>partamento<br />

novo nas agências do tipo Click. Isso mjuda completamente a forma <strong>de</strong> se fazer a mídia.<br />

Estou no mercado <strong>de</strong>s<strong>de</strong>1995, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o início da internet. Às vezes o cliente pe<strong>de</strong> e a agência informa que está fazendo um<br />

filme ou campanha, tem duas pessoas que trabalham com internet e recomenda que o cliente faça um banner. Em geral esse<br />

banner é uma reprodução <strong>de</strong> um filme que foi feito off-line e colocado na internet, quando se usa reach media. Isso não funciona<br />

e todas as experiências no sentido <strong>de</strong> tentar reproduzir o que é off-line para on-line têm sido <strong>de</strong>sastrosas.<br />

Esta pesquisa foi feita em outubro do ano passado e todos os estrevistados que usaram a internet ficaram muito satisfeitos.<br />

Quando compuseram a internet com o rádio, a internet com jornal e a internet com televisão, os resultados foram aumentados<br />

em comparação ao trabalho só com uma mídia. O que o IAB recomenda é fazer um mix <strong>de</strong> mídia, tratando com uma<br />

agência que tenha essa experiência, para que faça a comunicação na internet <strong>de</strong> forma interativa e voltada para esse tipo <strong>de</strong><br />

linguagem.<br />

Uma das gran<strong>de</strong>s mudanças <strong>de</strong> comportamento que a internet trouxe é o meio digital torrance que é, por exemplo, a fotografia<br />

digital. Hoje todo mundo tem a ferramenta <strong>de</strong> fotografia digital, seja na câmara ou no celular. Antes tirávamos a foto e<br />

esperávamos uma ou duas semanas para buscá-la revelada e mostrar para os amigos, fazendo aquelas seções intermináveis<br />

<strong>de</strong> sli<strong>de</strong>s das viagens. Hoje a foto é feita na hora e aquelas pessoas que estão ao seu lado já fazem a fruição estética no momento<br />

em que a foto é feita; isso é uma mudança total <strong>de</strong> comportamento.<br />

Temos aqui como proposta do IAB — falando especificamente do mercado <strong>de</strong> trabalho — uma das reivindicações das agências<br />

digitais – e não só <strong>de</strong>las: que as concorrências privadas sejam feitas <strong>de</strong> uma maneira menos custosa para as agências,<br />

porque participam em média <strong>de</strong> uma concorrência cinco agências e às vezes mais. Elas fornecem idéias e a agência que ganha<br />

acaba aproveitando as idéias <strong>de</strong> outras. A recomendação é que os anunciantes, ao fazerem estas concorrências, tenham um<br />

briefing mais claro e caso sejam utilizadas idéias das que não ganharam, que sejam pagas ou que, se na concorrência, o cliente<br />

pedir muita coisa, que também haja uma remuneração do trabalho feito para participação na concorrência, porque há horas<br />

<strong>de</strong> trabalho, idéias, pensamentos.<br />

Daniel barbará<br />

Quero pedir <strong>de</strong>sculpas por acelerar as apresentações e para os que não conseguiram fazer as apresentações planejadas, mas<br />

estamos com problema <strong>de</strong> tempo. Tivemos também o problema da falta <strong>de</strong> luz, que atrasou tudo. Temos um objetivo maior,<br />

que é conseguir viabilizar esta tese. O roteiro normal do <strong>Congresso</strong> é o seguinte: as pessoas mandam as propostas por escrito,<br />

liberamos para apresentar e elas são votadas. Não haverá tempo para essas leituras e nas propostas que vieram, nós já avaliamos<br />

quais po<strong>de</strong>riam ser recuperadas. Nós recebemos parte <strong>de</strong> consi<strong>de</strong>rações que, por vezes, eram perguntas. E quando este<br />

era o caso, elas foram encaminhadas para quem <strong>de</strong> direito.<br />

Nosso objetivo é obter as recomendações <strong>de</strong> vocês, algumas inclusive entrando em temas que não abordamos, quando o<br />

nosso objetivo, <strong>de</strong> fato, é focar na tese.<br />

Parte das questões que foram colocadas já foram contempladas e também vieram algumas que não mudam o espírito da tese,<br />

mas são recomendações, questões que po<strong>de</strong>m ser incorporadas como tal e não vão mudar a tese, mas vão servir para o grupo<br />

que for criado, <strong>de</strong>senvolver melhor e ter cuidado com estas questões.<br />

Então vou passar a questão para o Pyr para retomarmos a idéia da tese e ver se concordam que ela seja aprovada <strong>de</strong>sse jeito.<br />

Pyr marcon<strong>de</strong>s<br />

1. Que seja criado um Comitê Permanente <strong>de</strong> Novas Mídias em Plataformas Digitais, composto por membros <strong>de</strong> todas as<br />

entida<strong>de</strong>s e grupos representados neste <strong>IV</strong> <strong>Congresso</strong>.<br />

2. Como primeiro projeto <strong>de</strong>ste Comitê, que seja construído um Portal das Novas Mídias, um repositório <strong>de</strong> informações permanentemente<br />

atualizadas sobre as novas conquistas do setor.<br />

3. A realização do primeiro estudo <strong>de</strong> cross media do país, a exemplo <strong>de</strong> como citamos do pioneiro X-MOS realizado nos Estados<br />

Unidos na primeira meta<strong>de</strong> dos anos 2000.<br />

4. Criação <strong>de</strong> um Comitê Permanente <strong>de</strong> Educação para as Novas Mídias Digitais, com o objetivo <strong>de</strong> realizar junto às escolas<br />

do setor a formação <strong>de</strong> novos profissionais com expertise nesta nova área <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>.<br />

Este é o corpo principal da nossa tese e não recebemos aqui nenhuma idéia que se contraponha a isso. Temos três recomendações<br />

relevantes e o processo <strong>de</strong> votação seria o seguinte: o corpo da tese vocês já conhecem. Eu vou colocar em votação as<br />

três recomendações. O sistema <strong>de</strong> votação é um exercício físico; quem for contra a inclusão <strong>de</strong>ssa recomendação se levante<br />

e quem for a favor fique sentado. Vou ler as três recomendações e <strong>de</strong>pois, uma a uma, pedirei que votem para colocá-las no<br />

corpo da tese ou não.<br />

Recomendação número um: esta tese pressupõe que um Comitê seja criado e esta recomendação pe<strong>de</strong> que sejam <strong>de</strong>senvolvidas<br />

ferramentas técnicas para a mensuração das novas mídias digitais, buscando padronização <strong>de</strong>ssas métricas <strong>de</strong> medição.<br />

é uma recomendação preocupada em criar mecanismos <strong>de</strong> mensuração para o sistema como um todo e não só para<br />

a internet.<br />

Recomendação número dois: orientar o Comitê para que se paute pela responsabilida<strong>de</strong> socioambiental e ética com relação<br />

ao uso das novas mídias.<br />

Recomendação número três: que todas as ações e projetos <strong>de</strong>senvolvidos pelo Comitê incluam também os mercados regionais;<br />

recebemos várias idéias e recomendações neste sentido. O objetivo <strong>de</strong>ste Comitê é que ele encare o país como um todo<br />

e acolha as pertinências e as contribuições regionais.<br />

Alguém é contra a inclusão <strong>de</strong>ssas recomendações? Então elas estão incorporadas ao corpo da tese e <strong>de</strong>pois vamos dar uma<br />

redação final.<br />

Passo finalmente à votação da tese – aqueles quatro pontos que já falamos, mais estas recomendações. Pelo mesmo sistema,<br />

aqueles que são contra a aprovação <strong>de</strong>sta tese com as três recomendações, por favor, se levantem. Tivemos uma unanimida<strong>de</strong>.<br />

A tese está aprovada com as três recomendações.<br />

Quero agra<strong>de</strong>cer a todos pela presença, pela paciência e sobretudo pelo entusiasmo com que permaneceram aqui até agora.<br />

Um agra<strong>de</strong>cimento especial ao João Ciaco, que saiu <strong>de</strong> Betim para participar <strong>de</strong>ssa apresentação calorosa. Muito obrigado e<br />

boa noite a todos.<br />

338 339<br />

COMISSÃO 14 - NOVAS MÍDIAS


Comissão 15<br />

lIbERDADE DE ExPRESSãO COmERCIAl<br />

Gilberto leifert<br />

No Brasil, um jovem <strong>de</strong> 16 anos está apto a escolher os representantes políticos, eleger o presi<strong>de</strong>nte da república,<br />

prefeito, governador, senador ou <strong>de</strong>putado.<br />

Em propostas que tramitam na Anvisa, aos 16 anos esse jovem não po<strong>de</strong>rá ver antes das 21h00 uma propaganda<br />

<strong>de</strong> refrigerantes e biscoitos. Não estão respeitando a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong>sses jovens cidadãos. O Bolsa Família repassa às<br />

donas <strong>de</strong> casa, mães <strong>de</strong> família contempladas pelo programa, recursos <strong>de</strong> que po<strong>de</strong>rão dispor com absoluta liberda<strong>de</strong>.<br />

Com o dinheiro que recebem, po<strong>de</strong>rão comprar arroz, feijão, macarrão, verduras, frutas, produtos industrializados em<br />

geral, ou gastar na loteria, no telefone celular, no cigarro ou na cachaça. O dinheiro não é carimbado e elas não têm<br />

nenhuma limitação legal para a aplicação <strong>de</strong>sses recursos. O estado brasileiro, ao repassar os recursos a uma mãe <strong>de</strong><br />

família habilitada no programa, confia plenamente no discernimento <strong>de</strong>sta senhora.<br />

Parece estranho, no entanto, que elas estejam aptas a receber o dinheiro para comprar os produtos anunciados<br />

na televisão, no rádio, no jornal, na revista, mostrados no outdoor , disponíveis no mercadinho da esquina e no<br />

supermercado, já que são produtos sempre lícitos e seguros para o consumo, por serem licenciados pela autorida<strong>de</strong><br />

pública e po<strong>de</strong>m, sim, ser adquiridos e consumidos. No entanto, na visão <strong>de</strong> alguns legisladores e da atual gestão da<br />

Anvisa, o que po<strong>de</strong> fazer mal é a publicida<strong>de</strong> e não o consumo, confundindo produto e consumo com publicida<strong>de</strong>.<br />

O Ministro Toffoli fez referência ao repertório <strong>de</strong> jurisprudência do Supremo Tribunal Fe<strong>de</strong>ral e me ocorre lembrar que<br />

nos Estados Unidos, através da 1ª Emenda da Constituição, existe a mais ampla proteção aos direitos dos cidadãos à<br />

liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> expressão em tal medida que, em uma reunião <strong>de</strong> condomínio, se uma pessoa mandar a outra calar a<br />

boca, provavelmente esta vai se erguer, invocar a 1ª Emenda e completar o discurso ou a crítica, porque os americanos<br />

têm na ponta da língua seus direitos constitucionais.<br />

Entretanto, nos Estados Unidos que têm o famoso FDA, uma referência para as autorida<strong>de</strong>s sanitárias do Brasil e do<br />

mundo, a propaganda <strong>de</strong> cigarros é anunciada na mídia impressa — não sou um nostálgico; estou fazendo apenas um<br />

registro factual. A propaganda <strong>de</strong> bebidas alcoólicas em televisão não está regulada em lei, é auto-regulamentação. A<br />

re<strong>de</strong> que enten<strong>de</strong> que po<strong>de</strong> e <strong>de</strong>ve exibir, o faz; aquela que enten<strong>de</strong> que <strong>de</strong>ve regular por horários, também o faz e o<br />

Superbowl, tradicionalmente a maior audiência da América, é patrocinado por um marca <strong>de</strong> cerveja.<br />

Um país tradicionalmente preocupado com a saú<strong>de</strong> da população não levou ao Supremo Tribunal Fe<strong>de</strong>ral essas<br />

questões por sabedoria e isso não significa que eles não tenham as mesmas preocupações, pois eles as têm, mas<br />

não provocaram a manifestação do Supremo, pois este, talvez, ao julgar uma questão relacionada à propaganda <strong>de</strong><br />

cigarros ou <strong>de</strong> bebidas, impusesse restrições, ferindo o espírito e a letra da 1ª Emenda.<br />

é melhor <strong>de</strong>ixar que a socieda<strong>de</strong> encontre seus caminhos do que a Suprema Corte da América impor limites à<br />

socieda<strong>de</strong>.<br />

Também aqui, o Conar tem repetido em audiências públicas sempre hostis. Nos <strong>de</strong>bates no <strong>Congresso</strong>, temos visto<br />

que acredita-se que é a propaganda <strong>de</strong> bebidas alcoólicas a causa do alcoolismo e dos aci<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> trânsito e<br />

frequentemente são mencionadas estatísticas e invocado em vão o nome da Organização Mundial da Saú<strong>de</strong>.<br />

Tivemos o cuidado <strong>de</strong> buscar esta informação atualizada para dividir com vocês. A Organização Mundial da Saú<strong>de</strong><br />

não reconhece o chamado nexo <strong>de</strong> causalida<strong>de</strong> entre publicida<strong>de</strong> e alcoolismo. é uma conclusão tupiniquim; os<br />

estudiosos, cientistas e sanitaristas na OMS não chegaram a essa conclusão. Também não é verda<strong>de</strong> que a OMS tenha<br />

emitido diretiva aos estados membros no sentido <strong>de</strong> restringir a propaganda <strong>de</strong> bebidas para diminuir o risco <strong>de</strong><br />

aci<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> trânsito, violência e outros males.<br />

O Conar dizia: é importante que as leis existentes, que já são muitas, sejam aplicadas no Brasil, pois existe um excesso<br />

<strong>de</strong> legislação e <strong>de</strong> impunida<strong>de</strong>. A lei que proibia a ingestão <strong>de</strong> álcool e a direção <strong>de</strong> veículos existia e não era aplicada<br />

porque não existia fiscalização. Nada tenho contra a nova (sou a favor, pois consi<strong>de</strong>ro que beber e dirigir colocam em<br />

risco a família, a socieda<strong>de</strong> e o patrimônio), mas agora há a fiscalização e o respeito à lei.<br />

As estatísticas estão <strong>de</strong>monstrando que faltava o guarda da esquina exercer o controle sobre o consumo da bebida.<br />

O produto é lícito e po<strong>de</strong> ser anunciado, mas o consumo é que comporta atenção e posição <strong>de</strong> respeito individual à<br />

própria saú<strong>de</strong> e à socieda<strong>de</strong>.<br />

Em relação aos menores <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>, vocês estão cansados <strong>de</strong> ouvir a repetição <strong>de</strong>ssa premissa: no Brasil, a venda <strong>de</strong><br />

bebidas alcoólicas é proibida aos menores <strong>de</strong> ida<strong>de</strong> <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1940. Não conhecemos nenhum estabelecimento que<br />

tenha sido fechado ou tido seu alvará cassado pela venda <strong>de</strong> bebidas alcoólicas a menores <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>.<br />

A proibição foi repetida pelo Estatuto da Criança e do Adolescente, portanto, crianças e jovens eventualmente<br />

expostos à publicida<strong>de</strong> <strong>de</strong> produtos <strong>de</strong>stinados a adultos não po<strong>de</strong>rão ter acesso ao produto, fato que ocorre, por<br />

exemplo, em relação aos medicamentos vendidos sob prescrição médica, os <strong>de</strong> tarjas vermelha e preta. No Brasil,<br />

esses medicamentos não po<strong>de</strong>m ser anunciados, mas infelizmente po<strong>de</strong>m ser comprados na farmácia da esquina.<br />

Nos Estados Unidos, os medicamentos <strong>de</strong> tarja vermelha po<strong>de</strong>m ser anunciados, porque o guarda da esquina, a<br />

Anvisa <strong>de</strong>les, não permite que o cidadão, o paciente ou o hipocondríaco, por mais respeitável que seja, compre na<br />

farmácia um medicamento que <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>de</strong> prescrição médica. é ótimo que seja assim.<br />

No Brasil não po<strong>de</strong>mos adotar a mesma prática, porque a farmácia ven<strong>de</strong> medicamentos sem receita médica. A<br />

propaganda não foi acusada ainda em relação aos <strong>de</strong> tarjas vermelha e preta, mas já querem dizer que ela causa as<br />

intoxicações registradas pelo excesso <strong>de</strong> automedicação.<br />

Falamos <strong>de</strong> todas as categorias <strong>de</strong> produtos e serviços sujeitos a restrições legais.<br />

Sabemos que os cidadãos responsáveis e os consumidores conscientes <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m <strong>de</strong> informação, <strong>de</strong> liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

circulação <strong>de</strong>sta informação a respeito <strong>de</strong> produtos e serviços lícitos.<br />

Passo a palavra ao Ministro José Antonio Dias Toffoli e, na seqüência, peço ao Dr. Vecina e ao Ancelmo que façam as<br />

consi<strong>de</strong>rações finais e peço que sejam breves para, em seguida, abrirmos os <strong>de</strong>bates.<br />

José Antonio Dias Toffoli<br />

O que acho extremamente importante nessa discussão é que temos que consi<strong>de</strong>rar como acabado o tipo <strong>de</strong> relação estadosocieda<strong>de</strong><br />

paternalista, que conduz e supre a orientação do cidadão e este olha para o estado, o governante, o po<strong>de</strong>r executivo<br />

como aquele que vai dar as soluções e resolver os seus problemas. Precisamos pensar cada vez mais em um outro tipo <strong>de</strong><br />

relação entre a socieda<strong>de</strong> e o estado.<br />

A maneira como se dá o estabelecimento <strong>de</strong> certas regrações, <strong>de</strong> certas <strong>de</strong>cisões em que o estado, <strong>de</strong> uma hora para outra,<br />

assume <strong>de</strong>terminadas posturas e estabelece certas regras e <strong>de</strong>cisões que afetam a realida<strong>de</strong> dos cidadãos, não po<strong>de</strong> se dar<br />

como vem se dando. é necessário que o estado dialogue com a socieda<strong>de</strong> e que a socieda<strong>de</strong> dialogue com o estado.<br />

Já estamos distantes do fim do governo militar. A socieda<strong>de</strong> tem que parar <strong>de</strong> ver o estado como um monstro e aqueles que<br />

estão no estado têm que parar <strong>de</strong> ver a socieda<strong>de</strong> civil como um adversário. Hoje estou no Governo, mas amanhã posso não<br />

estar e voltar a ser cidadão. Temos que manter outro parâmetro <strong>de</strong> relacionamento. Hoje em dia ainda é muito comum ver<br />

pessoas no Governo com medo <strong>de</strong> receber o cidadão ou uma entida<strong>de</strong>.<br />

A Anvisa quer fazer algo ilegal – regulamentar a propaganda <strong>de</strong> bebida alcoólica – sendo que, pela Constituição, isso só po<strong>de</strong><br />

ser feito por lei. Foi feito o pedido para a AGU, que disse ser ilegal. Até o Conar ficou perplexo: mas então não é preciso recorrer<br />

à Justiça? Não, e é assim que tem que funcionar! Os parâmetros legais têm que ser verificados pelo próprio agente do Po<strong>de</strong>r<br />

Executivo e não se <strong>de</strong>vem tomar atitu<strong>de</strong>s que <strong>de</strong>ixem a socieda<strong>de</strong> perplexa.<br />

Nesse sentido, é fundamental uma área jurídica forte; o procurador da Anvisa sabia que era inconstitucional, mas não <strong>de</strong>u<br />

parecer sobre o assunto, porque não queria colocar o seu nome em algo ilegal. Esse tipo <strong>de</strong> atuação do estado e do agente<br />

jurídico tem que parar; se existe um marco legal, ele tem que ser respeitado e a socieda<strong>de</strong> e o estado têm que tratar das<br />

questões importantes e que afetam toda a socieda<strong>de</strong> com maior maturida<strong>de</strong>. Não vou entrar em juízo <strong>de</strong> valor, até porque<br />

tenho por obrigação constitucional do meu cargo <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r a constitucionalida<strong>de</strong> e a legalida<strong>de</strong> da lei que estabeleceu os<br />

limites atuais <strong>de</strong> tolerância zero para a direção com bebida alcoólica. Porém, não po<strong>de</strong>mos <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> refletir: mesmo esta lei<br />

sendo justa, correta, <strong>de</strong>fensável, fazer isso <strong>de</strong> uma hora para outra é correto? Ela atingiu, <strong>de</strong> uma hora para outra, um mercado<br />

extremamente gran<strong>de</strong> <strong>de</strong> bares e restaurantes.<br />

Analisar esse tipo <strong>de</strong> relação do estado com a socieda<strong>de</strong> não é, a meu ver, a melhor forma <strong>de</strong> legislar e <strong>de</strong> estabelecer regramentos<br />

no Brasil. A socieda<strong>de</strong> elogiou essa lei; também concordo que beber e dirigir não é compatível, mas temos que tirar<br />

daí uma lição: parar <strong>de</strong> aplaudir a forma <strong>de</strong> se estabelecer a legislação no Brasil, quando ela é feita sem o diálogo com aqueles<br />

que serão atingidos na socieda<strong>de</strong>.<br />

é nesse sentido que fóruns <strong>de</strong> discussão como esse e como esses <strong>de</strong>bates que se dão na socieda<strong>de</strong>, muitas vezes, partem da<br />

premissa e <strong>de</strong> um preconceito <strong>de</strong> que o estado está contra eles. Quando se tem uma discussão no <strong>Congresso</strong> Nacional, no<br />

Po<strong>de</strong>r Executivo, também se parte <strong>de</strong> uma premissa em que o setor A, B ou C é contra. Aí damos um jeito <strong>de</strong> aprovar por meio<br />

<strong>de</strong> uma emenda a plenário, sem maiores <strong>de</strong>bates, e <strong>de</strong>pois vamos brigar para o Presi<strong>de</strong>nte sancionar.<br />

Temos que superar esse tipo <strong>de</strong> relacionamento e estabelecer um novo tipo <strong>de</strong> discussão. Eu jamais faltaria a este <strong>Congresso</strong>.<br />

Eventos como este são muito importantes para quebrar preconceitos e ter um diálogo mais direto. O juiz e o Legislativo têm<br />

que ouvir mais a socieda<strong>de</strong>; o Po<strong>de</strong>r Executivo, as agências reguladoras e a socieda<strong>de</strong> também têm que interagir mais com o<br />

estado. Temos que alterar este parâmetro <strong>de</strong> discussão em que a socieda<strong>de</strong> discute <strong>de</strong> um lado e o estado do outro, já que o<br />

estado é formado para ser o gran<strong>de</strong> indutor e mediador da socieda<strong>de</strong>.<br />

O que fica <strong>de</strong>ste painel é a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> maior diálogo, pois a ditadura acabou faz tempo e o estado e a socieda<strong>de</strong> não têm<br />

mais que ficar disputando e divergindo: têm que estabelecer um novo parâmetro <strong>de</strong> relacionamento. A socieda<strong>de</strong> também<br />

não po<strong>de</strong> achar que quem vai para o Governo, vai para se locupletar e ser corrupto, embora hoje isso seja um senso comum.<br />

Temos que imaginar que a maioria das pessoas ou a quase totalida<strong>de</strong> <strong>de</strong>las vai para o Governo com espírito público, com<br />

sacrifício e elas às vezes ficam intimidadas <strong>de</strong> receber a socieda<strong>de</strong>. Por ter um código <strong>de</strong> ética, para receber alguém da socieda<strong>de</strong><br />

civil é preciso ter <strong>de</strong>z testemunhas, fazer um relatório e esse tipo <strong>de</strong> situação intimida o governante a dialogar com<br />

a socieda<strong>de</strong>. Tem servidor público que não recebe o cidadão. Sei que a minha fala ficou um pouco “lateral”, mas é um ponto<br />

fundamental. Temos juntos que mudar esse parâmetro <strong>de</strong> diálogo, Governo e socieda<strong>de</strong>.<br />

Professor Gonzalo Vecina Neto<br />

Tenho 30 anos <strong>de</strong> serviço público e uma série <strong>de</strong> processos. Ontem eu estava na Polícia Fe<strong>de</strong>ral respon<strong>de</strong>ndo a um <strong>de</strong>sses<br />

processos, pelo fato <strong>de</strong> ter recebido, junto com um lobista chamado Alexandre P. dos Santos, presi<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> indústrias que se<br />

faziam valer <strong>de</strong> lobistas, porque acreditavam ser impossível chegar até uma autorida<strong>de</strong> pública — que é a regra.<br />

Temos que repensar a socieda<strong>de</strong> e o estado brasileiro, pois a socieda<strong>de</strong> sofreu transformações fantásticas nestes últimos 20<br />

anos e o estado é ainda o da década <strong>de</strong> 40. A administração do serviço <strong>de</strong> pessoal se baseia na legislação <strong>de</strong> Getúlio Vargas,<br />

<strong>de</strong> 1944, com a criação do Departamento <strong>de</strong> Administração do Serviço Público, o Dasp.<br />

A legislação sobre a administração pública brasileira remonta ao ano <strong>de</strong> 1967, com o Decreto Lei 200. Na gestão Fernando<br />

Henrique, algo foi feito com a PEC, Emenda Constitucional 19, mas não produziu efeitos porque temos ainda um estado encanecido,<br />

que não está a serviço do novo país que estamos criando.<br />

Os Estados Unidos são um país on<strong>de</strong> o direito tem tradição <strong>de</strong> direito diferente do direito positivo, o que não significa ser melhor,<br />

mas não dá para fazer certas coisas se não criarmos uma nova tradição jurídica como esta que estamos começando a criar.<br />

Não existe socieda<strong>de</strong> sem estado; o que existe é o estado necessário para regular as negociações entre a socieda<strong>de</strong>. Que<br />

estado é esse? O Brasil tem que enfrentar essa discussão. Temos que mudar muito nossa capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> dialogar, para que<br />

consigamos construir. Repito: o que importa é jogar o jogo da construção <strong>de</strong> uma nova nação, <strong>de</strong> um novo mundo, e nós<br />

somos capazes <strong>de</strong> fazer.<br />

Ancelmo Góis<br />

Torço para que a indústria da propaganda seja saudável, porque é uma fonte limpa <strong>de</strong> financiamento da minha profissão.<br />

O estado, principalmente no Brasil, regula, tutela, faz portaria e inventa <strong>de</strong>mais. O estado <strong>de</strong>veria recuar um pouco e <strong>de</strong>ixar<br />

avançar mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong> auto-regulamentação tão vitoriosos como o Conar, aproximando-se mais e tentando diminuir um pouco<br />

esse po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> interferência na vida <strong>de</strong> todos.<br />

Ao mesmo tempo, o estado é fundamental; temos que ter um estado essencial. Quando se coloca essa questão das bebidas e<br />

340 341<br />

COMISSÃO 15 - LIBERDADE DE EXPRESSÃO COMERCIAL


outras <strong>de</strong>sse tipo, é legítimo que o estado queira opinar, pois ele tem um mandato das urnas para optar sobre esse assunto. O<br />

estado po<strong>de</strong> prosperar <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> um clima <strong>de</strong> bom-senso, e, principalmente, se for predominantemente pelo espírito público<br />

e que não seja da alma pequena. Quando a alma é gran<strong>de</strong>, dá para avançar e os dois lados têm direito à palavra.<br />

Gilberto leifert<br />

Muito obrigado, Ancelmo. Vamos passar agora para as respostas das perguntas encaminhadas. Vou pedir ao Edney que faça<br />

a leitura.<br />

Edney Narchi<br />

Solicito o encerramento das inscrições <strong>de</strong> perguntas e também peço aos expositores que utilizem seu po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> síntese, pois<br />

estamos avançando no horário.<br />

Primeira pergunta <strong>de</strong> Alberto Cavalcante, consultor da <strong>Abap</strong> para o Dr. Toffoli.<br />

Há projetos <strong>de</strong> lei tramitando no <strong>Congresso</strong>, obrigando que os anúncios <strong>de</strong> fabricantes <strong>de</strong> veículos contenham advertências<br />

contra a direção irresponsável. Ao mesmo tempo, há a legislação em vigor que <strong>de</strong>stina parte da arrecadação com multas para<br />

a realização <strong>de</strong> campanhas <strong>de</strong> educação no trânsito, não realizadas pelo Governo. Como o senhor vê esse paradoxo?<br />

José Antonio Dias Tofolli<br />

A possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> advertência na propaganda <strong>de</strong> cigarros e bebidas é uma contrapartida da liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong>ssa propaganda.<br />

Não é uma sanção, pois fazendo essa advertência, não se está punindo e sim fazendo o que prevê a própria Constituição, no<br />

parágrafo 3º do Artigo 220, que é estabelecer informação para a proteção da pessoa e da família em <strong>de</strong>terminadas situações<br />

que possam colocar em risco a saú<strong>de</strong> e o meio ambiente. Não vejo como algo incorreto a advertência em si.<br />

O que vejo como equivocada é a ausência <strong>de</strong> maior propaganda educativa. Proíbe-se qualquer propaganda <strong>de</strong> cigarros e bebida<br />

alcoólica, só que são drogas lícitas, que po<strong>de</strong>m ser compradas e a criança e o adolescente vêem o pai e a mãe fumando<br />

e bebendo. A propaganda em si realmente não é o vilão e é muito mais correto o estado fazer propaganda educativa. Em<br />

matéria <strong>de</strong> trânsito, quem conhece Brasília sabe que no Governo Cristóvão, se fez uma propaganda sobre direção responsável<br />

e até hoje, em uma faixa <strong>de</strong> pe<strong>de</strong>stres, esten<strong>de</strong>-se a mão e o condutor do veículo pára para o pe<strong>de</strong>stre passar. Posteriormente,<br />

à medida que diminuiu a propaganda, aumentou o número <strong>de</strong> aci<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> trânsito e o número <strong>de</strong> mortos. Quando o po<strong>de</strong>r<br />

político, estatal, <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> fazer a propaganda educativa, isso tem reflexos imediatos. Quando a cida<strong>de</strong> ficou cheia <strong>de</strong> radares, e<br />

quando se passou para a indústria da multa, a consequência não foi a diminuição do número <strong>de</strong> mortos com o aumento da<br />

punição. A ausência <strong>de</strong> propaganda educativa é um <strong>de</strong>feito do estado e da socieda<strong>de</strong> brasileira.<br />

O Vecina falou <strong>de</strong> quatro “bestas apocalípticas” na área <strong>de</strong> alimentos. Quantos <strong>de</strong> nós <strong>de</strong>sconhecem os malefícios <strong>de</strong>ste ou<br />

daquele alimento? Imaginem a socieda<strong>de</strong> como um todo! De que adianta proibir propaganda do alimento A, B ou C, se a dona<br />

<strong>de</strong> casa vai continuar comprando, se o pai vai continuar levando a filha ao McDonalds? Não é esse o tipo <strong>de</strong> política pública<br />

que resolve o problema.<br />

A advertência, do ponto <strong>de</strong> vista jurídico, é absolutamente legal e não é consi<strong>de</strong>rada sanção, mas parte <strong>de</strong> uma política educativa.<br />

Por outro lado, entendo que o estado <strong>de</strong>veria fazer mais política educativa <strong>de</strong> todas essas matérias.<br />

Edney Narchi<br />

Mais uma pergunta para o Ministro Toffoli, <strong>de</strong> Tiago Ferrentini, Editora Referência.<br />

O artigo 278 do Código Penal diz ser crime produzir ou ven<strong>de</strong>r produtos nocivos à saú<strong>de</strong>. Por que, então, com base no referido<br />

artigo da Lei Penal, o Po<strong>de</strong>r Público nada faz contra os fabricantes <strong>de</strong> cigarros, até fechando suas fábricas? No entanto, consi<strong>de</strong>ra<br />

este produto nocivo à saú<strong>de</strong> e impinge avisos nas embalagens, restringindo a propaganda do produto.<br />

José Antonio Dias Tofolli<br />

Porque a Lei Penal aberta, esse dispositivo é colocado pelo questionador, ou seja, não <strong>de</strong>fine o que é nocivo e o que não é<br />

nocivo. é entendimento do meio jurídico que toda norma restritiva tem que ser explícita (não po<strong>de</strong> ser aberta), porque o juiz<br />

“A” não po<strong>de</strong> enten<strong>de</strong>r que o cigarro é nocivo, e o juiz “B” enten<strong>de</strong>r que não é.<br />

Temos entre 10 e 15 mil juízes no Brasil. O cigarro é consi<strong>de</strong>rado uma droga lícita e comercializável e a própria Constituição<br />

assim o consi<strong>de</strong>ra.<br />

Uma lei infraconstitucional não po<strong>de</strong>ria impedir a venda <strong>de</strong> tabaco. Se a lei constitucional permite a propaganda <strong>de</strong> tabaco,<br />

significa que a Constituição enten<strong>de</strong>u que é um produto lícito e comercializável. Então, do ponto <strong>de</strong> vista da técnica jurídica,<br />

não há fundamento com base neste dispositivo para se fechar a indústria <strong>de</strong> tabaco no Brasil, nem proibir ou vetar, através <strong>de</strong><br />

uma <strong>de</strong>cisão judicial, a sua comercialização.<br />

Gilberto leifert<br />

Recebo da coor<strong>de</strong>nação um apelo para que sejamos pontuais, para a ativida<strong>de</strong> que se <strong>de</strong>senvolverá no plenário, logo a<br />

seguir. Invertendo os trabalhos, vamos passar à votação e à <strong>de</strong>liberação a respeito das teses e em seguida, se houver tempo,<br />

voltaremos aos <strong>de</strong>bates. Vou pedir ao Edney que faça a leitura das teses; elas estavam disponíveis no site do <strong>Congresso</strong> e aqui<br />

também, ontem e hoje.<br />

Edney Narchi<br />

Primeira tese: que esta Comissão faça a proclamação das prerrogativas constitucionais da comunicação social: aos operadores,<br />

as liberda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> criação, expressão e informação, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente <strong>de</strong> licença; aos cidadãos, o direito <strong>de</strong> receber informação,<br />

in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente <strong>de</strong> censura. é a proteção assegurada à informação pela Constituição Brasileira. Talvez, outras cartas<br />

admitam o banimento <strong>de</strong> publicida<strong>de</strong>, a nossa, não.<br />

Segunda tese: reconhecer que cidadãos responsáveis e consumidores conscientes <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m <strong>de</strong> informação. Viver é fazer<br />

escolhas. Com informação e educação, a socieda<strong>de</strong> estará apta a tomar melhores <strong>de</strong>cisões.<br />

Terceira tese: reconhecer a publicida<strong>de</strong> como valor social, político e econômico; o seu papel no estado <strong>de</strong>mocrático, na sustentação<br />

da liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> imprensa e na economia <strong>de</strong> mercado.<br />

Quarta tese: reconhecer o vitorioso sistema misto <strong>de</strong> controle da publicida<strong>de</strong> no Brasil, referência internacional. O sistema<br />

misto adotado no Brasil para o controle da publicida<strong>de</strong> prevê a convivência harmoniosa entre a legislação e a auto-regulamentação.<br />

Quinta tese: restrições legais e a auto-regulamentação <strong>de</strong>vem aten<strong>de</strong>r aos princípios jurídicos da necessida<strong>de</strong>, a<strong>de</strong>quação,<br />

razoabilida<strong>de</strong> e proporcionalida<strong>de</strong>. Por exemplo, não se obrigará o anunciante a falar mal <strong>de</strong> seus produtos.<br />

Estas são as cinco teses que <strong>de</strong>verão ser votadas pela Comissão <strong>de</strong> Liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Expressão Comercial. Lembro que no período<br />

das inscrições prévias, recebemos outra proposta <strong>de</strong> tese, subscrita pelo Professor José Roberto Whitaker Penteado Filho, que<br />

foi redistribuída à Comissão <strong>de</strong> Responsabilida<strong>de</strong> Socioambiental da propaganda, e, aliás, aprovada ontem naquele plenário.<br />

Além <strong>de</strong>stas cinco, o relator Ricardo Kotscho toma a iniciativa <strong>de</strong> apresentar mais uma tese:<br />

Ricardo Kotscho<br />

Que tenhamos mais campanhas educativas tanto do estado como da socieda<strong>de</strong>; não <strong>de</strong>vemos esperar que o estado faça<br />

tudo, como um estímulo para o consumo responsável.<br />

Ao invés <strong>de</strong> ter mais restrições e novas leis, estimular iniciativas como a do Conar, e um dos caminhos concretos que po<strong>de</strong>mos<br />

recomendar ao <strong>Congresso</strong> é que se façam mais campanhas educativas em todas as áreas, tanto por parte do estado como<br />

da socieda<strong>de</strong>.<br />

Gilberto leifert<br />

Estão em votação as teses aqui apresentadas. Os que estiverem <strong>de</strong> acordo, por favor, permaneçam como estão. Temos aprovadas<br />

as cinco teses anteriormente submetidas ao <strong>Congresso</strong>, e também a sexta tese, apresentada pelo relator Ricardo Kotscho.<br />

Edney Narchi<br />

Senhor presi<strong>de</strong>nte, só para esclarecer, a primeira tese aprovada ontem na Comissão <strong>de</strong> Responsabilida<strong>de</strong> Socioambiental<br />

tinha o seguinte enunciado: intensificar o trabalho voluntário <strong>de</strong> criação <strong>de</strong> campanhas educacionais em favor <strong>de</strong> causas comunitárias<br />

e <strong>de</strong> utilida<strong>de</strong> pública. Claro que falou em trabalho voluntário <strong>de</strong> criação se dirigindo ao trabalho dos profissionais<br />

e das agências <strong>de</strong> propaganda, mas creio que são co-irmãs.<br />

Gilberto leifert<br />

Não são exclu<strong>de</strong>ntes, mas entendo que seria uma boa oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> incumbir o estado — que arrecada tributos e possui<br />

fundos vinculados a <strong>de</strong>terminadas ativida<strong>de</strong>s — <strong>de</strong>, em lugar <strong>de</strong> apenas exercer controle sobre a publicida<strong>de</strong> ou imposições<br />

<strong>de</strong> restrições e proibições, exerça seu papel <strong>de</strong> informar e educar a socieda<strong>de</strong> a respeito <strong>de</strong> eventuais riscos, com a finalida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> reduzir danos.<br />

Muito obrigado! Agra<strong>de</strong>ço a presença <strong>de</strong> todos, especialmente dos <strong>de</strong>batedores convidados. Boa noite.<br />

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COMISSÃO 15 - LIBERDADE DE EXPRESSÃO COMERCIAL


lenárias<br />

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Plenárias<br />

Carlos Nascimento<br />

Senhoras e senhores, bom dia. Hoje, está chegando ao fim o <strong>IV</strong> Congreso <strong>Brasileiro</strong> <strong>de</strong> Publicida<strong>de</strong>. Como nós pu<strong>de</strong>mos acompanhar,<br />

é um evento que está certamente fazendo história pela riqueza dos <strong>de</strong>bates promovidos e também pelas propostas<br />

<strong>de</strong> mudanças na legislação, que vão dar um novo rumo à nossa indústria.<br />

A partir <strong>de</strong> hoje, a comunicação brasileira não será a mesma e todos sentiremos os reflexos do que estamos discutindo e <strong>de</strong>cidindo<br />

aqui. Como jornalista, sinto-me extremamente gratificado por participar <strong>de</strong> um evento que está <strong>de</strong>finindo os novos<br />

rumos da nossa profissão. é com gran<strong>de</strong> satisfação que vamos compartilhar agora as conclusões das primeiras oito comissões<br />

constituídas. Para conduzir a aprovação dos relatórios, convido ao palco o presi<strong>de</strong>nte do <strong>IV</strong> <strong>Congresso</strong> <strong>Brasileiro</strong> <strong>de</strong> Publicida<strong>de</strong>,<br />

Dalton Pastore.<br />

Dalton Pastore<br />

Estamos conseguindo fazer o <strong>Congresso</strong> que imaginamos. Tenho conversado com muitas pessoas e todas parecem estar felizes<br />

com o andamento dos trabalhos e creio que estamos realizando um evento à altura <strong>de</strong>ste plenário e do que é a indústria<br />

da comunicação no Brasil. Tentaremos terminar o <strong>Congresso</strong> nesse mesmo nível, pois temos um volume gran<strong>de</strong> <strong>de</strong> recomendações<br />

e <strong>de</strong>cisões importantes tomadas pelas 15 comissões. Vamos adotar o seguinte procedimento, para não acabar muito<br />

tar<strong>de</strong> e não per<strong>de</strong>r essa qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> plenária que temos nesse momento. Seguiremos rigorosamente o regimento que todos<br />

receberam e leram. Pegaremos um resumo, comissão por comissão, das principais conclusões <strong>de</strong> cada comissão, para colocálas<br />

em plenário.<br />

Estou partindo do princípio que todos tiveram acesso a todas as teses <strong>de</strong> todas as comissões e que pu<strong>de</strong>ram fazer suas<br />

propostas <strong>de</strong> emenda – tivemos diversas hoje <strong>de</strong> manhã – e já discutimos quando estavam presentes todos os presi<strong>de</strong>ntes<br />

<strong>de</strong> comissão. Depois <strong>de</strong> todo esse trabalho, acredito que vamos ter um material extremamente rico como resultado <strong>de</strong>ste<br />

<strong>Congresso</strong>. Vamos fazer tudo da forma mais rápida e objetiva possível, para po<strong>de</strong>rmos comemorar o resultado e apresentar<br />

a carta final, resumo <strong>de</strong>ste <strong>Congresso</strong>. Chamarei à mesa, pelos números das comissões, cada um dos presi<strong>de</strong>ntes. Convoco o<br />

presi<strong>de</strong>nte da Comissão 1, que po<strong>de</strong> ficar à vonta<strong>de</strong> para trazer para a mesa os membros que <strong>de</strong>sejar.<br />

Eduardo fischer<br />

Bom dia a todos. Esse é o momento da vingança dos congressistas, pois agora são os presi<strong>de</strong>ntes que vão ter 90 segundos<br />

para sintetizar sua tese. Nossa tese tratou <strong>de</strong> um item superimportante que tem sido atualmente discutido no Brasil e em todo<br />

o mundo.<br />

é uma tendência que vem se consolidando cada vez mais, existindo bastante teorias sobre o assunto, inclusive nos EUA, on<strong>de</strong> há<br />

pouco tempo estive em um <strong>Congresso</strong> da Comunicação Integrada. O que tentamos fazer nestes últimos dois meses foi extrair a<br />

essência das novas regras da comunicação integrada, essa gran<strong>de</strong> novida<strong>de</strong> que vai se consolidar, tenho certeza absoluta.<br />

A integração harmônica das diversas disciplinas <strong>de</strong> comunicação é cada vez mais necessária para os clientes da indústria e,<br />

para ser efetiva, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> fundamentalmente <strong>de</strong> capital humano, cujo <strong>de</strong>senvolvimento baseia-se em três pilares. O primeiro<br />

é a competência: precisamos formar e treinar. O segundo, avaliar essa competência, ou seja, a avaliação <strong>de</strong>sse <strong>de</strong>sempenho.<br />

Para isso, um sistema <strong>de</strong> remuneração a<strong>de</strong>quado, principalmente para as empresas que não compram mídia. Sendo assim, a<br />

Comissão 1 da Comunicação Integrada recomenda:<br />

1 A criação <strong>de</strong> uma ca<strong>de</strong>ira <strong>de</strong> comunicação integrada, a ser adotada por todas as instituições <strong>de</strong> ensino <strong>de</strong> comunicação social.<br />

Para isso, sugerimos a formação <strong>de</strong> uma comissão mista que vai <strong>de</strong>finir os critérios, padrões e diretrizes <strong>de</strong>ssa disciplina;<br />

2 Todo esse esforço <strong>de</strong> comunicação integrada <strong>de</strong>ve ser precedido do estabelecimento <strong>de</strong> objetivos claros, com o intuito <strong>de</strong><br />

serem mensuradas, não isoladamente, mas integradamente.<br />

3 Remuneração a<strong>de</strong>quada: sem abdicar dos critérios <strong>de</strong> remuneração já existentes como o Cenp, por exemplo — e que<br />

apoiamos rigorosamente —, mas consi<strong>de</strong>rando que este novo mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> comunicação <strong>de</strong>ve estimular a integração entre<br />

processos, serviços e empresas — principalmente empresas que não compram mídia —, é fundamental adotar um mo<strong>de</strong>lo<br />

que remuneração para os projetos <strong>de</strong> comunicação integrada, baseados em resultado, success fee como quiserem. Presi<strong>de</strong>nte<br />

essas são as três recomendações da Comissão 1 <strong>de</strong> Comunicação Integrada. Parabéns a todos nós, esse é o dia mais importante<br />

<strong>de</strong> nosso currículo profissional.<br />

Dalton Pastore<br />

Muito obrigado, Eduardo. Quero colocar esta tese à disposição do plenário para votação. Peço que todos os que estiverem <strong>de</strong><br />

acordo com a tese proposta e aprovada na comissão que permaneçam como estão. Aprovada por unanimida<strong>de</strong>.<br />

A Comissão número 2, por favor. Hiran Castello Branco, presi<strong>de</strong>nte da Comissão <strong>de</strong> Responsabilida<strong>de</strong> Sociombiental<br />

Hiran Castello branco<br />

Bom dia a todos, a nossa Comissão <strong>de</strong> Responsabilida<strong>de</strong> Socioambiental da Indústria da Propaganda trabalhou a partir <strong>de</strong><br />

uma <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento sustentável que é <strong>de</strong>scrito como aquele que satisfaz as necessida<strong>de</strong>s do presente sem<br />

comprometer a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> as futuras gerações satisfazerem suas próprias necessida<strong>de</strong>s.<br />

A síntese das recomendações da nossa comissão são as que se seguem. Primeiro, incentivar as campanhas voluntárias, educacionais,<br />

comunitárias e <strong>de</strong> utilida<strong>de</strong> pública. Segundo, adotar em nossas empresas as melhores práticas <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento<br />

sustentável, a<strong>de</strong>rindo a pactos socioambientais. Terceiro, estimular nossos parceiros comerciais e inspirar nossos clientes a<br />

fazerem o mesmo. Quarto — e o mais importante—, fomentar a cultura <strong>de</strong> consumo consciente e responsável. Quinto, apoio<br />

ao código <strong>de</strong> ética dos profissionais <strong>de</strong> marketing da ABMN/ESPM. E sexto, apoio à adoção <strong>de</strong> um código <strong>de</strong> ética e um pacto<br />

que <strong>de</strong>fina responsabilida<strong>de</strong>s socioambientais para a indústria da comunicação. São estas, presi<strong>de</strong>nte, as recomendações da<br />

Comissão <strong>de</strong> Responsabilida<strong>de</strong> Social.<br />

Dalton Pastore<br />

Muito obrigado. Esta comissão, assim como a anterior, trabalhou muito tempo antes do <strong>Congresso</strong>, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> janeiro. Novamente,<br />

coloco à disposição da audiência. Os que estiverem <strong>de</strong> acordo, permaneçam como estão. Mais uma aprovação por unanimida<strong>de</strong>.<br />

Por favor, Comissão 3, Zezinho Mutarelli, Serviços Especializados.<br />

Zezinho mutarelli<br />

Nossa Comissão é a <strong>de</strong> Prestadores <strong>de</strong> Serviços e sua Relação com Agências e Clientes. O presente relatório foi aprovado por<br />

unanimida<strong>de</strong> pelos congressistas que participaram do painel. Vamos às recomendações:<br />

1 Recomenda-se que nas contratações através das mesas <strong>de</strong> compras e pools, as mesmas sempre sejam acompanhadas pelas<br />

agências <strong>de</strong> publicida<strong>de</strong> e por profissionais que tenham conhecimento e expertise sobre os trabalhos contratados, e <strong>de</strong>verão<br />

seguir as leis vigentes, as normas da Ancine e as normas do II e III Fórum <strong>de</strong> Produção Publicitária;<br />

2 Pleiteia-se que o relacionamento comercial entre produtores <strong>de</strong> serviços especiais, agências e anunciantes, seja também<br />

regulamentado e fiscalizado pelo Cenp, que <strong>de</strong>verá conce<strong>de</strong>r aos prestadores <strong>de</strong> serviços especiais, assento no órgão diretivo<br />

da entida<strong>de</strong>;<br />

3 Recomenda-se que qualquer obra publicitária adaptada e veiculada no Brasil <strong>de</strong>verá obrigatoriamente fomentar, no mínimo,<br />

uma diária <strong>de</strong> filmagem, que <strong>de</strong>verá ser realizada por produtora brasileira, cadastrada na Ancine e uma nova trilha sonora<br />

realizada por produtora <strong>de</strong> som brasileira. Obrigatoriamente, a adaptação <strong>de</strong>verá contemplar os aspectos <strong>de</strong> imagem e <strong>de</strong><br />

som;<br />

4 Para as obras publicitárias importadas, recomenda-se o aumento real do Con<strong>de</strong>cine – contribuição para o <strong>de</strong>senvolvimento<br />

da indústria cinematográfica nacional;<br />

5 Recomenda-se que as agências <strong>de</strong> publicida<strong>de</strong> forneçam aos prestadores <strong>de</strong> serviços especializados toda informação, o<br />

briefing necessário e condições para uma boa realização dos trabalhos, inclusive em relação a prazos, e ainda <strong>de</strong>vem ser pagos<br />

em dia e a justo preço. Os pedidos <strong>de</strong> trabalho e/ou orçamento <strong>de</strong>verão ser necessariamente formulados por escrito;<br />

6 Reconhece-se a titularida<strong>de</strong> dos direitos autorais e conexos das agências, produtores <strong>de</strong> serviços especializados, técnicos<br />

e atores;<br />

7 Em relação aos direitos das produtoras <strong>de</strong> imagem, <strong>de</strong> som, dos fotógrafos e elenco, recomenda-se que os mesmos sejam<br />

negociados e remunerados pelo prazo inicial <strong>de</strong> até 180 dias;<br />

8 não será admitido pedido <strong>de</strong> orçamento ou qualquer outra solicitação <strong>de</strong> serviços que exclua direitos das agências e dos<br />

prestadores <strong>de</strong> serviços especializados;<br />

9 Recomenda-se que os direitos emergentes das trilhas sonoras sejam também pagos em <strong>de</strong>corrência da execução pública,<br />

por número <strong>de</strong> inserções, e sejam recolhidos através das socieda<strong>de</strong>s arrecadadoras nos termos da lei autoral;<br />

10 Recomenda-se que os litígios <strong>de</strong>correntes da relação comercial entre os players da indústria <strong>de</strong> comunicação sejam levados<br />

para <strong>de</strong>cisão à Câmara Nacional <strong>de</strong> Arbitragem na Comunicação;<br />

11 Recomenda-se que se atue junto ao po<strong>de</strong>r legislativo, bem como às agências reguladoras, inclusive Ancine, para que as<br />

normas legais que digam respeito, <strong>de</strong> forma direta ou indireta, à ativida<strong>de</strong> publicitária sejam revistas e aprimoradas <strong>de</strong> forma<br />

a: a) incentivar a produção nacional, incrementar o trabalho criativo e <strong>de</strong> produção especializada; b) impedir ou restringir que<br />

obras publicitárias <strong>de</strong>stinadas à veiculação no Brasil sejam criadas e/ou produzidas no exterior; c) reduzir encargos fiscais,<br />

tributários e sociais relativamente à prestação <strong>de</strong> serviços publicitários <strong>de</strong> forma geral, à contratação <strong>de</strong> profissionais especializados,<br />

à importação <strong>de</strong> equipamentos <strong>de</strong>stinados à produção cinematográfica, fotografia e <strong>de</strong> som. Obrigado.<br />

Dalton Pastore<br />

Novamente, vamos colocar em votação.<br />

Zezinho mutarelli<br />

Vou ler <strong>de</strong> novo o 11.<br />

Não i<strong>de</strong>ntificado<br />

Na verda<strong>de</strong> foi inserido um item que não foi repassado no site. Po<strong>de</strong>m me trazer por favor?<br />

Zezinho mutarelli<br />

As entida<strong>de</strong>s representativas das agências e dos prestadores <strong>de</strong> serviços especializados elaborarão em conjunto tabelas referenciais<br />

<strong>de</strong> preços para a produção e obtenção <strong>de</strong> cópias, tabelas essas que terão versões aplicáveis para diversas regiões<br />

do país.<br />

Dalton Pastore<br />

Completo? Po<strong>de</strong>mos colocar em votação agora? Todos <strong>de</strong> acordo? Aprovado por maioria. Comissão 4 - Marketing Promocional,<br />

presidida por João Carlos Zicard. Vamos ouvir o sumário das recomendações feitas pela Comissão 4.<br />

João Carlos Zicard<br />

Bom dia a todos, a nossa Comissão 4 trata do Marketing Promocional, <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>sse <strong>Congresso</strong> <strong>de</strong>mocrático e histórico. A relatoria<br />

foi feita pela Elza Tsumori, presi<strong>de</strong>nte da Ampro com o secreteriado <strong>de</strong> José Gaspar Brandão, diretor executivo da Ampro.<br />

Tivemos apenas um voto contra em nossa proposta e ganhamos a tese por maioria absoluta.<br />

A tese do marketing promocional apoiou-se em quatro pontos básicos, tentando mudar um pouco o cenário do que se apresenta<br />

hoje com relação ao relacionamento entre agências, clientes, fornecedores, veículos e produtores. Os quatro pontos são:<br />

a certificação por competência das agências, o padrão <strong>de</strong> remuneração, a concorrência e o direito autoral para as agências do<br />

marketing promocional.<br />

O primeiro item da tese: consi<strong>de</strong>ra <strong>de</strong> fundamental importância oferecer ao mercado uma chancela aceita pelos anunciantes<br />

e agências <strong>de</strong> marketing promocional sobre a competência na sua área <strong>de</strong> atuação e que a sua legitimida<strong>de</strong> seja conseguida<br />

346 347<br />

PLENÁRIAS


através da observância rigorosa aos padrões <strong>de</strong> ética e qualida<strong>de</strong> criativa e <strong>de</strong> execução. Essa certificação será constituída<br />

inicialmente por cinco disciplinas básicas: promoção e merchandising, marketing <strong>de</strong> incentivo, marketing <strong>de</strong> relacionamento<br />

e fi<strong>de</strong>lida<strong>de</strong>, evento e web promotions. A certificação está disponível <strong>de</strong>s<strong>de</strong> março <strong>de</strong>ste ano, com uma associação entre a<br />

Ampro e a SGS, a maior certificadora <strong>de</strong> processos do mundo. Está disponível no site da Ampro para qualquer agência interessada,<br />

po<strong>de</strong>ndo fazer um download para esse processo <strong>de</strong> certificação. Temos já 13 agências em processo <strong>de</strong> certificação <strong>de</strong><br />

competência pelo marketing promocional no Brasil.<br />

O segundo item <strong>de</strong> nossa tese é o padrão <strong>de</strong> remuneração da agências: um bom planejamento e uma idéia bem executada<br />

gera benefícios <strong>de</strong> venda e imagem, e a agência <strong>de</strong>ve ser proporcionalmente bem remunerada pelo seu trabalho. A proposta<br />

é obter um padrão <strong>de</strong> remuneração que <strong>de</strong>ve partir <strong>de</strong> 15% sobre o investimento do anunciante no projeto – 15% do budget<br />

–, porém o success fee po<strong>de</strong> ser instituído quando a agência for completamente envolvida nos processos, sendo peça fundamental<br />

para o sucesso ou fracasso <strong>de</strong> uma ação, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que respeite como piso mínimo os 15% mencionados. A partir daí<br />

po<strong>de</strong>-se negociar o success fee.<br />

Concorrências, terceiro item da tese: as concorrências <strong>de</strong>vem ser estabelecidas para criar relacionamento duradouro entre<br />

agência e cliente. Isto representará <strong>de</strong>dicação e profundida<strong>de</strong> no planejamento e aprimoramento do mercado e para que esse<br />

processo seja legítimo e saudável para ambas as partes, estabeleceremos alguns pontos como recomendação <strong>de</strong> um número<br />

mínimo <strong>de</strong> três e no máximo <strong>de</strong> cinco agências em concorrências, com remuneração concorrencial.<br />

Direito autoral, o quarto e último item da tese: a idéia criada e planejada pela agência é sua por direito e <strong>de</strong>ve ser reconhecida<br />

pelo mercado. Por toda criação <strong>de</strong>senvolvida pela agência e apresentada ao cliente, <strong>de</strong>verá ser assinado, por ambas as partes,<br />

o documento <strong>de</strong>nominado Protocolo <strong>de</strong> Criação, a ser disponibilizado no site da Ampro com a <strong>de</strong>scrição da idéia criativa<br />

apresentada, que garante à agência a reserva <strong>de</strong> direitos autorais e intelectuais daquilo que foi apresentado. Neste protocolo<br />

<strong>de</strong> criação <strong>de</strong>verão constar as penalida<strong>de</strong>s pelo uso in<strong>de</strong>vido pelos clientes das idéias criativas das agências. Assim termina a<br />

nossa tese. Muito obrigado.<br />

Dalton Pastore<br />

Votação: os que estiverem <strong>de</strong> acordo, permaneçam sentados. Aprovada por unanimida<strong>de</strong>. Antes <strong>de</strong> chamar a Comissão 5,<br />

quero corrigir um agra<strong>de</strong>cimento que na abertura esqueci <strong>de</strong> fazer à equipe da Aprosom, comandada pelo Thomas Roth e<br />

que fez a trilha sonora <strong>de</strong> nosso <strong>Congresso</strong>. Eles tiveram “bastante prazo’’ para fazer, porque me lembrei no domingo às 11h00<br />

que não tínhamos uma trilha sonora. Quem quiser cópia, está disponível.<br />

Também quero colocar em votação algumas propostas que apareceram em diversas comissões ou que foram manifestadas ao<br />

longo <strong>de</strong> todo o <strong>Congresso</strong>. Para evitar que sejam repetidas outras vezes, quero fazer esse intervalo e colocá-las em votação,<br />

porque <strong>de</strong>sejo ter também a aprovação <strong>de</strong>ste plenário para dar maior legitimida<strong>de</strong> a elas.<br />

O gran<strong>de</strong> pano <strong>de</strong> fundo <strong>de</strong>ste <strong>Congresso</strong> foi a liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> expressão comercial e para isso, tivemos as palestras do Kofi<br />

Annan, do Roberto Civita, do João Roberto Marinho, da Judith Miller e uma comissão específica. Então quero colocar em<br />

votação e pedir o apoio <strong>de</strong>sse plenário ao Projeto <strong>de</strong> Lei 3305, do <strong>de</strong>putado José Eduardo Cardozo. Aprovado também por<br />

unanimida<strong>de</strong>. Vamos colocar em votação e receber o apoio <strong>de</strong>sse plenário para a criação <strong>de</strong> um Fórum Anual da Indústria da<br />

Comunicação e propor que a primeira reunião <strong>de</strong>sse Fórum aconteça em maio <strong>de</strong> 2009. Aprovado.<br />

Adriana Cury<br />

Sou a Adriana Cury. Desculpe interromper, mas tem muita gente confusa com a proposta do Zezinho Mutarelli sobre a produção<br />

<strong>de</strong> comerciais, rádio, etc. Não sabemos o que estamos votando, foram muitos pontos. Já que a apresentação das teses foi<br />

muito rápida, po<strong>de</strong>ríamos rever para analisar efetivamente o que estamos votando, ponto por ponto.<br />

Dalton Pastore<br />

Essa tese estava no site junto com as outras e não recebemos nenhum pedido <strong>de</strong> emenda. Não sei se há necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

voltarmos a votar ponto por ponto, porque o regimento foi feito <strong>de</strong> forma que as teses estivessem disponíveis para que todos<br />

pu<strong>de</strong>ssem ter conhecimento e existiam durante todo o <strong>Congresso</strong>, formulários <strong>de</strong> apresentação <strong>de</strong> emendas para que qualquer<br />

pessoa que não estivesse satisfeita com qualquer ponto, pu<strong>de</strong>sse apresentar emenda e tivemos hoje <strong>de</strong> manhã avaliação<br />

<strong>de</strong> diversas emendas. Não está previsto no regulamento que tenhamos que rever a tese.<br />

Adriana Cury<br />

Compreendo as regras, mas nem sempre dá tempo <strong>de</strong> avaliarmos tudo, conciliar agenda <strong>de</strong> trabalho. Acho que muita gente<br />

per<strong>de</strong>u muitos pontos.<br />

Dalton Pastore<br />

Vou abrir uma exceção e propor que quem não teve tempo <strong>de</strong> avaliar esta tese, proponha emendas e vamos avaliá-las.<br />

Somente <strong>de</strong>sta vez, senão não chegaremos a lugar nenhum. Comissão 5, Bob Vieira da Costa – Licitações Públicas e Concorrências<br />

Privadas.<br />

bob Vieira da Costa<br />

Foi uma comissão bastante ativa, com quatro horas <strong>de</strong> <strong>de</strong>bate, oito teses apresentadas, algumas aprovações por unanimida<strong>de</strong>,<br />

outras por maioria, mas conseguimos ter um trabalho bastante objetivo ao término da comissão. A íntegra das teses está<br />

postada no site à disposição. Vou fazer uma síntese <strong>de</strong>ssas teses, consi<strong>de</strong>rando também a reunião <strong>de</strong> hoje dos presi<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong><br />

comissão, on<strong>de</strong> houve os acertos dos pontos convergentes que po<strong>de</strong>riam ser contemplados por esta ou outras comissões.<br />

No nosso caso, especificamente, um item que havia sido aprovado, vai ser contemplado na comissão do Nabhan, que trata<br />

dos mercados regionais.<br />

Em primeiro lugar vou repetir um dos pontos consi<strong>de</strong>rados em mais <strong>de</strong> uma comissão e que já foi aprovado pela manifestação<br />

formal do <strong>Congresso</strong>. Trata-se do projeto <strong>de</strong> lei do <strong>de</strong>putado José Eduardo Cardozo, já votado pelo nosso presi<strong>de</strong>nte.<br />

O segundo ponto recomenda a consolidação <strong>de</strong> um único e amplo Conselho <strong>de</strong> ética para toda a ca<strong>de</strong>ia da comunicação<br />

publicitária, e que este Conselho venha fazer parte do Cenp. Se para os advogados existe uma OAB, se para os engenheiros<br />

existe um Crea, para as agências e para toda comunicação publicitária teríamos um Cenp mais fortalecido neste sentido.<br />

Terceiro ponto: não se recomenda a prática do alinhamento.<br />

No quarto ponto, recomenda-se que, nas concorrências privadas: possam ser convidadas no máximo cinco empresas; que o<br />

briefing eventualmente fornecido contenha o que se espera da agência, serviços, abrangência, os critérios que serão adotados<br />

na avaliação <strong>de</strong>sta concorrência, a verba disponível e que haja a <strong>de</strong>finição dos critérios <strong>de</strong> remuneração no início do processo<br />

das concorrências privadas. Por fim, que haja total respeito aos direitos autorais, po<strong>de</strong>ndo até ser prevista a remuneração <strong>de</strong><br />

uma idéia que eventualmente não tenha sido a vencedora, mas que possa vir a ser adotada <strong>de</strong>ntro da campanha. Sumariamente,<br />

são esses os quatro pontos apresentados.<br />

Dalton Pastore<br />

Obrigado Bob, votação. Aprovada por unanimida<strong>de</strong>.<br />

Voltando à comissão do Zezinho Mutarelli, <strong>de</strong>vo essa explicação a ele e sua equipe sobre essa exceção, porque temos trabalhado<br />

arduamente nesse <strong>Congresso</strong> para fazê-lo <strong>de</strong>mocrático e transparente. Não queremos que saia nenhuma mancha <strong>de</strong><br />

um assunto que não foi discutido ou <strong>de</strong> alguém que não teve a oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> falar. Peço que quaisquer propostas <strong>de</strong> alteração<br />

<strong>de</strong> tese ou <strong>de</strong> emendas sejam apresentadas a essa comissão nos próximos minutos. Antes do final <strong>de</strong>ssa sessão, quero<br />

voltar e avaliar essas propostas com a comissão do Zezinho e com os presi<strong>de</strong>ntes das <strong>de</strong>mais comissões.<br />

Estamos insistindo muito que o <strong>Congresso</strong> seja absolutamente transparente e <strong>de</strong>mocrático, mas também, que nos mantenhamos<br />

fiéis ao regimento.<br />

Antes <strong>de</strong> passar para a Comissão 6, quero pedir o apoio <strong>de</strong>sta sessão plenária para mais um ponto importante trazido por<br />

este <strong>Congresso</strong>, o apoio à Frente Parlamentar da Comunicação Social. Obrigado. Comissão 6, por favor. Nizan Guanaes, A<br />

Criativida<strong>de</strong> Brasileira.<br />

Nizan Guanaes<br />

Dalton, bom dia, bom dia a todos. Parabéns, estamos saindo daqui com uma série <strong>de</strong> conquistas, com temas consistentes.<br />

Somente quero fazer uma pon<strong>de</strong>ração para o pessoal da área <strong>de</strong> produção cujas reivindicações são justíssimas, mas <strong>de</strong>veríamos<br />

tomar cuidado com o fato <strong>de</strong> se evitar a produção no exterior, pois vai acabar batendo no calcanhar <strong>de</strong> vocês. Todas<br />

as reivindicações são legítimas, <strong>de</strong>vem ter todo o nosso apoio, mas vale essa pon<strong>de</strong>ração, embora não tenha nenhuma força<br />

regimental.<br />

O que estamos propondo e que foi aprovado por aclamação é o “manifesto bossa nova por uma criativida<strong>de</strong> brasileira mundial”.<br />

Não é só para sermos exportadores. Quando um banco brasileiro achar que <strong>de</strong>ve fazer uma mudança <strong>de</strong> logotipia, ele<br />

não <strong>de</strong>ve buscar esse serviço só porque é internacional, porque sabe que é bom aqui. Não é só exportar, é evitar que marcas<br />

mundiais busquem lá fora soluções que já existem aqui em toda a ca<strong>de</strong>ia, em marketing direto, em eventos, em tudo. Estamos<br />

propondo que a criativida<strong>de</strong> brasileira <strong>de</strong>ve <strong>de</strong>rrubar fronteiras, sair da reação para a ação, sair da <strong>de</strong>fesa para o ataque.<br />

Devemos <strong>de</strong>rrubar a fronteira que limita a publicida<strong>de</strong> em ser somente publicida<strong>de</strong>, e o publicitário <strong>de</strong> pensar somente como<br />

publicitário. Geramos idéias e elas não têm fronteiras e temos inclusive que romper com a fronteira do comando que leva o<br />

publicitário a pensar que está no comando das outras disciplinas, quando quem na verda<strong>de</strong> está no comando e on <strong>de</strong>mand<br />

é o próprio consumidor.<br />

Devemos superar a fronteira que limita a remuneração <strong>de</strong> nossas idéias somente à mídia, porque uma idéia po<strong>de</strong> não ter<br />

mídia; po<strong>de</strong> ser um prédio, um <strong>de</strong>sign, um buzz, uma garrafa — como a <strong>de</strong> Coca-Cola, que ganhou o Grand Prix <strong>de</strong> <strong>de</strong>sign <strong>de</strong><br />

Cannes e o iPhone que foi a idéia do ano da Creative Magazine.<br />

Romper a falsa barreira da língua. Não po<strong>de</strong>mos nos escon<strong>de</strong>r atrás <strong>de</strong>ssa barreira imaginária. O redator mais premiado <strong>de</strong><br />

2007 trabalha em Londres e é brasileiro. Design, evento não precisam <strong>de</strong> língua e o principal centro <strong>de</strong> Call Center do mundo<br />

fica em Bagalore, na Índia.<br />

Devemos transpor a fronteira que limita a nossa ambição e nosso pensamento <strong>de</strong> negócio ao mercado brasileiro, quando o<br />

talento e as gran<strong>de</strong>s empresas brasileiras estão conquistando o mundo como a Vale, AmBev, Petrobras, Embraer, Havaianas,<br />

Irmãos Campana, Roberto Medina, e quando Marcelo Serpa recebe o Lifetime Achievement do Clio.<br />

Devemos abrir nossas fronteiras para a diversida<strong>de</strong> <strong>de</strong> olhares, atraindo profissionais do mundo inteiro, porque isso, em vez <strong>de</strong><br />

gerar <strong>de</strong>semprego, vai gerar emprego. Esse olhar estrangeiro do Zaragoza, do Petit, do Hans Donner, da Maggy Imoberdorf,<br />

da Helga Miethke, agregou no passado e ele, misturado ao talento brasileiro, po<strong>de</strong> ajudar a dar um novo salto mundial na<br />

escala do tamanho do Bric.<br />

Devemos preparar profissionais sem barreiras. As melhores escolas criativas do mundo estimulam seus alunos a passar pelo<br />

menos seis meses em outros países e nossa aca<strong>de</strong>mia já <strong>de</strong>ve preparar profissionais mundiais <strong>de</strong> fábrica. Devemos ter processos<br />

e produtos compatíveis e competitivos com os padrões <strong>de</strong> negócio do mundo. Devemos quebrar a barreira da inércia. O<br />

que faz a diferença entre ser ou não ser mundial é achar que a gente po<strong>de</strong> e o Brasil po<strong>de</strong>.<br />

Estamos pregando a mundialização da criativida<strong>de</strong> brasileira, que é um passo à frente da globalização. A globalização é centrípeta,<br />

a mundialização é distributiva, po<strong>de</strong>ndo estar em qualquer canto do planeta, e o Brasil tem condições que nunca teve<br />

em sua história, ou seja, ao invés da nostalgia com os velhos tempos, otimismo com as possibilida<strong>de</strong>s dos novos tempos.<br />

Este <strong>Congresso</strong> não po<strong>de</strong>, não vai e, até por suas propostas avançadas, não é o congresso do pânico, da <strong>de</strong>fesa e da cerceamento<br />

da liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> expressão, <strong>de</strong> idéias ou <strong>de</strong> comércio, e sim o <strong>Congresso</strong> do avanço e do otimismo. Por isso, propomos<br />

construir através <strong>de</strong> uma <strong>Abap</strong> forte e <strong>de</strong> entida<strong>de</strong>s como Cenp, Conar, ABA, Clube <strong>de</strong> Criação, ANJ, Abert e Grupo <strong>de</strong> Mídia,<br />

um mercado com esta visão, esta ambição mundial e preparado para ela. Articular com a área acadêmica a revisão dos currículos,<br />

a padronização das disciplinas básicas à luz das necessida<strong>de</strong>s mundiais.<br />

Criar programas <strong>de</strong> estágio garantindo a formação <strong>de</strong> novos talentos e a remuneração justa, já que o nosso trabalho é atrair<br />

talentos e pessoas.<br />

Estimular o intercâmbio nacional e internacional <strong>de</strong> talentos <strong>de</strong> profissionais <strong>de</strong> comunicação. Atrair para o mercado outros<br />

talentos como antropólogos, sociólogos, historiadores, que contribuam para turbinar a nossa criativida<strong>de</strong>.<br />

Articular com órgãos como Apex, Ministério das Relações Exteriores, Ministério da indústria e Comércio, a venda da criativida<strong>de</strong><br />

brasileira como um todo: moda, <strong>de</strong>sign, propaganda, música, eventos, marketing direto, enfim, todas as formas para o Brasil<br />

ser visto como um emerging creative lea<strong>de</strong>r.<br />

348 349<br />

PLENÁRIAS


Da mesma forma que a Itália abraçou a palavra <strong>de</strong>sign, o Brasil <strong>de</strong>ve abraçar a palavra criativida<strong>de</strong>. E pela idéia brilhante do<br />

Armando Strozemberg, criar um selo brasileiro <strong>de</strong> criativida<strong>de</strong> que substitua o Ma<strong>de</strong> in Brazil por Created in Brazil, que possa ser<br />

usado ampla e gratuitamente nos produtos pelo mercado.<br />

Dar uma agenda mundial à <strong>Abap</strong> e às nossas principais entida<strong>de</strong>s, <strong>de</strong> forma que elas não só <strong>de</strong>fendam nossos interesses no<br />

Brasil, mas construam nossa imagem e oportunida<strong>de</strong>s para a nossa criativida<strong>de</strong> lá fora. Por exemplo, temos que mostrar nossos<br />

trabalhos, o nosso avanço e o quanto o Conar é importante, na se<strong>de</strong> da Unesco, em Paris, e não somente conversando aqui. é<br />

dar amplitu<strong>de</strong> e ambição às nossas idéias.<br />

Conscientizar e mobilizar redatores, diretores <strong>de</strong> arte, sobretudo as áreas mais jovens — porque minha geração foi extremamente<br />

omissa em relação às entida<strong>de</strong>s —, na <strong>de</strong>fesa intransigente <strong>de</strong> todas as entida<strong>de</strong>s que evitam a commoditização da<br />

criativida<strong>de</strong> e garantem nossa liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> expressão, como <strong>Abap</strong>, ABA, Cenp, Conar, inclusive mobilizando a publicida<strong>de</strong>,<br />

para que ela seja engajada na justa remuneração <strong>de</strong> toda a ca<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> comunicação integrada e dos prestadores <strong>de</strong> serviços<br />

especializados. A propaganda não po<strong>de</strong> ficar só cuidando <strong>de</strong> sua remuneração e <strong>de</strong>ixar os prestadores <strong>de</strong> serviços especializados,<br />

as produtoras, o pessoal da área <strong>de</strong> comunicação integrada sem nossa solidarieda<strong>de</strong>. Se a comunicação é 350, o respeito<br />

profissional e a remuneração <strong>de</strong>vem ser 360.<br />

Por último, <strong>de</strong>senhar um projeto <strong>de</strong> conscientização do empresário brasileiro, mostrando que a força da criativida<strong>de</strong> – estou<br />

falando dos clientes – é um instrumento fundamental para construir marcas mundiais e preços premium. Afinal, o Brasil não<br />

po<strong>de</strong> ser só um país da commodity. Temos que usar a criativida<strong>de</strong> brasileira para dar valor agregado ao produto nacional. Essa<br />

é a recomendação da nossa comissão.<br />

Dalton Pastore<br />

Vou colocar em votação a tese da Comissão <strong>de</strong> Criativida<strong>de</strong> presidida pelo Nizan. Os que estiverem <strong>de</strong> acordo, permaneçam<br />

sentados. Temos aprovação por unanimida<strong>de</strong>, parabéns. Comisssão 7, A Eficácia no Planejamento e Compra <strong>de</strong> Mídia, presidida<br />

por Ângelo Franzão.<br />

Ângelo franzão<br />

Presi<strong>de</strong>nte, plenário, falando em eficácia no planejamento como em negociação <strong>de</strong> mídia, concluiu a Comissão que para se<br />

atingir esses objetivos, tudo começa obrigatoriamente no melhor entendimento do briefing, nas informações do consumidor,<br />

na geografia da marca, na análise da atuação da concorrência, oportunida<strong>de</strong>s do período da campanha, na eventual receptivida<strong>de</strong><br />

da comunicação à marca, entre outras informações que certamente vão consolidar a recomendação <strong>de</strong> mídia.<br />

A Comissão abomina o “chartinho” <strong>de</strong> mídia que, infelizmente, ainda é comum em muitas agências e ativida<strong>de</strong>s. Conclui a<br />

Comissão que a maior eficácia nas negociações <strong>de</strong> compra <strong>de</strong> mídia só po<strong>de</strong>rá ser adquirida por meio da <strong>de</strong>talhada análise do<br />

potencial <strong>de</strong> distribuição da marca, da avaliação dos custos absolutos e relativos <strong>de</strong> mídia, da consi<strong>de</strong>ração das oportunida<strong>de</strong>s<br />

e propostas específicas para a marca.<br />

Conclui ainda a Comissão que a maior eficácia nas negociações <strong>de</strong> compra <strong>de</strong> mídia ocorre exatamente no atual mo<strong>de</strong>lo brasileiro<br />

<strong>de</strong> agências <strong>de</strong> publicida<strong>de</strong>, com mídia e integração trabalhando juntas. Enten<strong>de</strong> a Comissão que tanto o planejamento<br />

como a negociação <strong>de</strong> mídia, para que sejam realmente eficazes, <strong>de</strong>vem consi<strong>de</strong>rar o instrumental básico <strong>de</strong> mídia, levando<br />

em conta as pesquisas <strong>de</strong> mídia existentes no mercado, informações proprietárias, ferramentas, avaliações pertinentes aos<br />

objetivos mercadológicos da marca em ativida<strong>de</strong>. Enten<strong>de</strong> ainda que o aperfeiçoamento da ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> mídia exige maior<br />

conscientização da importância do valor do profissional <strong>de</strong> mídia e a sua integral participação no processo da comunicação<br />

e do marketing.<br />

Portanto, os princípios básicos que a comissão <strong>de</strong>termina são:<br />

1 A obrigatorieda<strong>de</strong> da existência <strong>de</strong> um profissional ou área <strong>de</strong> mídia nas agências <strong>de</strong> publicida<strong>de</strong>, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente <strong>de</strong><br />

seu raio <strong>de</strong> atuação em qualquer mercado brasileiro;<br />

2 A certificação formal e oficial do profissional <strong>de</strong> mídia, a ser feita pelo Grupo <strong>de</strong> Mídia <strong>de</strong> São Paulo, em acordo com os<br />

<strong>de</strong>mais Grupos <strong>de</strong> Mídia <strong>de</strong> outros estados e eventuais associações, como <strong>Abap</strong>, APP, etc.;<br />

3 Que pelo menos um entre os profissionais <strong>de</strong> mídia que trabalham nos anunciantes seja certificado pelo Grupo <strong>de</strong> Mídia e<br />

outras entida<strong>de</strong>s ligadas ao setor. Também é feita uma referência a muitos profissionais <strong>de</strong> mídia que atuam na área <strong>de</strong> anunciantes<br />

e que, infelizmente, confun<strong>de</strong>m com a missão <strong>de</strong> auditoria e nem sempre colaboram para a maior eficácia, tanto do<br />

planejamento como da negociação;<br />

4 Aplicação mínima <strong>de</strong> pelo menos 1% das receitas das agências <strong>de</strong> propaganda em pesquisa e ferramentas <strong>de</strong> mídia, excluindo<br />

aqui material <strong>de</strong> checking e controle. Este 1% refere-se às informações estratégicas para o <strong>de</strong>senvolvimento do plano<br />

<strong>de</strong> mídia;<br />

5 Unificação dos currículos dos cursos <strong>de</strong> mídia realizados nas universida<strong>de</strong>s e faculda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> comunicação social em todo o<br />

país, com a inclusão <strong>de</strong> matérias como tecnologia, serviços básicos <strong>de</strong> marketing, etc.;<br />

6 Maior intercâmbio do Grupo <strong>de</strong> Mídia <strong>de</strong> São Paulo com os <strong>de</strong>mais grupos estaduais e também internacionais, como o<br />

Grupo <strong>de</strong> Mídia já vem fazendo — este ponto seria intensificado.<br />

São estes os seis princípios básicos que a nossa Comissão conclui para maior eficácia no planejamento e na negociação <strong>de</strong><br />

mídia.<br />

Dalton Pastore<br />

Obrigado. Gostei mais agora do que quando li pela primeira vez, às 4h30. Vamos colocar em votação: aprovado por maioria.<br />

Fizemos sete comissões em uma hora. Po<strong>de</strong>ríamos tentar continuar direto e terminar às 12h30? A próxima é a Comissão 8, A<br />

Realida<strong>de</strong> dos Mercados Regionais.<br />

Ricardo Nabhan<br />

Bom dia a todos. A Comissão A Realida<strong>de</strong> dos Mercados Regionais extrapolou o seu tempo e se esten<strong>de</strong>u muito. Foram <strong>de</strong>bates<br />

extremamente proveitosos. Tivemos a aprovação <strong>de</strong> 21 recomendações por unanimida<strong>de</strong> e, também, uma grata notícia<br />

trazida pelo Deputado Cláudio Vignatti, <strong>de</strong> que o PL 02 incluirá — vai <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>r, logicamente, da aprovação do <strong>Congresso</strong><br />

Nacional — as agências <strong>de</strong> propaganda nas micro, pequenas e médias empresas. é uma grata notícia, que beneficiará a<br />

gran<strong>de</strong> maioria das agências <strong>de</strong> propaganda no país. Nós não esperávamos por isso, mas estamos trazendo uma notícia que<br />

extrapola as questões do <strong>Congresso</strong>.<br />

Em função do tempo, o presi<strong>de</strong>nte do <strong>Congresso</strong> pediu que sintetizássemos. Vou ler a síntese:<br />

1 A Comissão A Realida<strong>de</strong> dos Mercados Regionais busca neste <strong>Congresso</strong> que se promova o <strong>de</strong>senvolvimento, o crescimento<br />

e a valorização regional da indústria da propaganda em todo o Brasil.<br />

2 Aproveitar as oportunida<strong>de</strong>s que cada região do país oferece para acelerar o <strong>de</strong>senvolvimento do mercado publicitário<br />

regional.<br />

3 Promover o estímulo, a profissionalização e a organização <strong>de</strong>sses mercados.<br />

4 Ampliar a presença efetiva das entida<strong>de</strong>s representativas do setor em todos os estados do país, com a presença mais efetiva<br />

do Cenp, do Conar, dos Capítulos da <strong>Abap</strong>, do Sindicato das Agências, das entida<strong>de</strong>s representativas dos anunciantes, enfim,<br />

<strong>de</strong> todo o tra<strong>de</strong>, para que possamos avançar nos mercados regionais e dar assim uma profissionalização ainda maior.<br />

5 Defesa <strong>de</strong> critérios técnicos e éticos na distribuição das verbas públicas e na contratação das agências <strong>de</strong> propaganda.<br />

6 Incentivar os anunciantes a otimizar suas verbas <strong>de</strong> comunicação em todos os mercados, utilizando os serviços regionais<br />

que valorizam a linguagem local.<br />

Citarei mais alguns itens encaminhados a pedido <strong>de</strong> uma Comissão do Nor<strong>de</strong>ste. Que a Associação Brasileira <strong>de</strong> Anunciantes,<br />

a Fenapro e outras entida<strong>de</strong>s do setor realizem um amplo seminário nacional, para discutir a regionalização da ativida<strong>de</strong> publicitária<br />

e os clientes privados que operam em mercados regionais.<br />

Que as universida<strong>de</strong>s e faculda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> comunicação incluam em sua gra<strong>de</strong> curricular o estudo sobre a legislação da ativida<strong>de</strong><br />

publicitária brasileira.<br />

Eu po<strong>de</strong>ria citar os 21 itens, mas creio que essa síntese contempla todos e estão disponíveis no site todas as 21 recomendações<br />

aprovadas por unanimida<strong>de</strong> no painel A Realida<strong>de</strong> dos Mercados Regionais.<br />

Dalton Pastore<br />

Em votação, por favor. Aprovado por unanimida<strong>de</strong>.<br />

Há uma proposta <strong>de</strong> emenda para a Comissão 3, <strong>de</strong> Zezinho Mutarelli. Vou ler e oferecer a palavra a ele, para que possa <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r<br />

o ponto <strong>de</strong> vista da Comissão. Já que isso foi colocado <strong>de</strong> última hora, quero dar a ele a mesma oportunida<strong>de</strong>. A proposta<br />

é eliminar o item “b” da tese 12, ou seja, “impedir ou restringir que obras publicitárias <strong>de</strong>stinadas a veiculação no Brasil sejam<br />

criadas ou produzidas no exterior”. A proposta <strong>de</strong> emenda é para eliminar esse item.<br />

Zezinho mutarelli<br />

Em primeiro lugar, quero agra<strong>de</strong>cer à Adriana. Estamos precisando <strong>de</strong> parcerias e a colocação <strong>de</strong>les foi muito boa, pertinente.<br />

Explico: na nossa Comissão, lemos a nossa tese e o Dr. Paulo Gomes leu o que seria um complemento <strong>de</strong>la. Ficou <strong>de</strong>cidido que<br />

era pertinente que todos os itens fossem agregados na nossa tese.<br />

Peço que o Dr. João Paulo e o Dr. Paulo Gomes venham explicar a colocação. Ao mesmo tempo, sabendo que é um “tiro no<br />

pé”, como disse o Nizan, e, também, a posição da Adriana (que, <strong>de</strong>pois, terá a palavra), concordamos plenamente que não<br />

queremos restringir nem impedir que a produção e a criação sejam feitas no exterior.<br />

Dalton Pastore<br />

Vocês estão acolhendo a proposta <strong>de</strong> emenda?<br />

Zezinho mutarelli<br />

Sim, mas não sei se é só este item; estamos abertos. Se houver algum outro, ou se alguém quiser discutir, estamos à disposição.<br />

Dalton Pastore<br />

Só consta este item. Se a Comissão acolheu, está aprovado por unanimida<strong>de</strong>.<br />

Comissão 9, A Educação, a Profissão e o Mercado, presi<strong>de</strong>nte, Prof. Francisco Gracioso; relator, José Roberto Whitaker Penteado.<br />

José Roberto Whitaker Penteado<br />

Muito bom dia. O professor Gracioso não estava muito bem hoje e me pediu para representá-lo como relator; o professor Luiz<br />

Garcia, ao meu lado, foi o secretário da Comissão.<br />

Em nome do professor Gracioso, do professor Garcia e em meu próprio — todos começamos como publicitários e somos<br />

educadores por opção —, digo que <strong>de</strong>veríamos, em nome dos educadores, assumir o compromisso <strong>de</strong> ler cuidadosamente<br />

as conclusões e as recomendações das outras 14 Comissões, com especial carinho pelas recomendações do Nizan; com muito<br />

carinho pelas recomendações da primeira Comissão sobre a Comunicação Integrada e, é claro, as seis que virão, que nós ainda<br />

não ouvimos.<br />

Isso é o que temos que nos comprometer a ensinar aos nossos jovens e espero que os <strong>de</strong>mais professores, agora e no futuro,<br />

o façam também. Aqui vai o nosso resumo:<br />

1 O atual mercado <strong>de</strong> trabalho ultrapassa o segmento tradicionalmente ocupado pelas agências. Foi falado por todas as<br />

Comissões sobre como esta gran<strong>de</strong> ca<strong>de</strong>ia produtiva da comunicação com o mercado ocupou o espaço do que antes chamávamos<br />

<strong>de</strong> propaganda, na qual ouvimos nossos pais — até nossos avós — realizarem o primeiro, o segundo, o terceiro<br />

<strong>Congresso</strong>s, e agora vemos como esta ativida<strong>de</strong> da publicida<strong>de</strong> abarca tantas ativida<strong>de</strong>s novas.<br />

2 Há gran<strong>de</strong> diversida<strong>de</strong> na natureza e na qualida<strong>de</strong> entre as centenas <strong>de</strong> escolas que em todo o país se <strong>de</strong>dicam a ensinar<br />

comunicação. Essas escolas <strong>de</strong>vem aproximar-se do mercado, das entida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> classe. Devem adotar mo<strong>de</strong>los pedagógicos<br />

que tenham embasamento teórico e prático; que enfrentem os <strong>de</strong>safios da socieda<strong>de</strong>, da economia, do ambiente, da cultura;<br />

que levem em conta as diferenças dos mercados regionais; que valorizem a função do professor em todas as fases do processo;<br />

que levem em conta o novo papel do nosso país, internacionalizando os currículos e as ativida<strong>de</strong>s acadêmicas.<br />

350 351<br />

PLENÁRIAS


3 A Comissão reconhece a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> que não só as agências, como todos os <strong>de</strong>mais protagonistas <strong>de</strong>sses serviços <strong>de</strong><br />

comunicação com o mercado trabalhem em parceria próxima e harmoniosa com os seus clientes, no sentido <strong>de</strong> que os seus<br />

valores profissionais sejam elevados e equiparados.<br />

A Comissão recebeu Julio Ribeiro, que fez uma palestra eloqüente e inspirada e falou da natureza eminentemente criativa do<br />

processo formativo na área <strong>de</strong> comunicação, mostrando como a comunicação é <strong>de</strong>terminante — Kofi Annan fez o mesmo —<br />

na criação das gran<strong>de</strong>s mudanças necessárias para assegurar um futuro à humanida<strong>de</strong>.<br />

4 Os membros da Comissão, que eram pessoalmente contrários a uma regulamentação única para a profissão <strong>de</strong> publicitário,<br />

diante da vertiginosa diversificação das ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> comunicação com o mercado e a exigência <strong>de</strong> capacitações variadas,<br />

que tornam complexa esta questão, acolheram, entretanto, as propostas <strong>de</strong> diversos profissionais, que recomendaram que o<br />

assunto importante continue a ser estudado pela <strong>Abap</strong> e por outros órgãos associativos.<br />

5 A Comissão recomenda à <strong>Abap</strong> que mantenha a Comissão, ou crie uma nova, como instituição permanente, que tenha por<br />

objetivo o estudo da regulamentação, assim como dos temas aqui levantados para as agências, os prestadores <strong>de</strong> serviços,<br />

veículos e os outros participantes do universo da comunicação com o mercado.<br />

Dalton Pastore<br />

Estão em votação as recomendações da Comissão. Aprovadas por unanimida<strong>de</strong>, obrigado.<br />

A Comissão 10, presidida por Cyd Alvarez, Carga Tributária e Rentabilida<strong>de</strong> das Agências, Fornecedores e Veículos.<br />

Cyd Alvarez<br />

Bom dia. O assunto é específico, técnico e resumirei em 15 segundos um comercial <strong>de</strong> 60. O trabalho <strong>de</strong>talhado está no site.<br />

Relatório da Comissão Carga Tributária e Rentabilida<strong>de</strong> das Agências, Fornecedores e Veículos:<br />

A Comissãao enten<strong>de</strong>u que o sistema tributário nacional penaliza as empresas prestadoras <strong>de</strong> serviços, como é o caso específico<br />

das agências <strong>de</strong> publicida<strong>de</strong>, produtoras e fornecedores <strong>de</strong>ssa área em geral.<br />

A chamada reforma tributária, que começa a ser discutida no <strong>Congresso</strong> Nacional, é a oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> inclusão no novo texto<br />

legal, a ser discutido após a criação do Imposto <strong>de</strong> Valor Agregado (<strong>IV</strong>A), a conseqüente eliminação das chamadas contribuições<br />

sociais (PIS, Cofins, contribuição social sobre o lucro líquido) e a resistência legítima da socieda<strong>de</strong> à recriação <strong>de</strong> contribuições<br />

sobre movimentações financeiras (como a que foi extinta, mas está em curso uma nova, a CSS) — somos contra — e<br />

a favor <strong>de</strong> normas que não gerem mais dúvidas <strong>de</strong> interpretação.<br />

é fundamental que continuemos na <strong>de</strong>fesa da manutenção, sem restrições da imunida<strong>de</strong> tributária que protége os meios<br />

impressos <strong>de</strong> comunicação e dos benefícios <strong>de</strong> isenção <strong>de</strong> impostos dos meios eletrônicos, o que assegura a circulação <strong>de</strong><br />

idéias, informações e difusão cultural.<br />

O setor <strong>de</strong> publicida<strong>de</strong> <strong>de</strong>seja, sim, ser tributado, mas <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>, como outros setores da socieda<strong>de</strong> brasileira, que os impostos<br />

tenham óbvia relação com a sua capacida<strong>de</strong> contributiva, que, neste momento, no enten<strong>de</strong>r <strong>de</strong>sta Comissão e <strong>de</strong> boa parte<br />

da socieda<strong>de</strong> brasileira, estão muito acima da nossa capacida<strong>de</strong> contributiva.<br />

A Comissão recomenda o rigor contábil fiscal às empresas do setor <strong>de</strong> comunicação, <strong>de</strong>monstrando, sim, que <strong>de</strong>sejamos ser<br />

espelhos <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> também nesta área.<br />

A Comissão recomenda, ainda por ser atribuição dos sindicatos e das <strong>Abap</strong>s regionais, a luta pela redução da alíquota <strong>de</strong> ISS<br />

<strong>de</strong> 5% para 2% em todos os municípios brasileiros.<br />

Recomenda também a luta pela inclusão das pequenas e médias empresas <strong>de</strong>ssa área <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong> nos programas <strong>de</strong> Simples<br />

Nacional e nos <strong>de</strong> micro-empresas, porque talento também merece reconhecimento tributário.<br />

Alguns pontos foram acrescentados além da tese inicial e aprovados por unanimida<strong>de</strong>. Recomenda:<br />

1 A permissão legal <strong>de</strong> <strong>de</strong>dução do valor da folha <strong>de</strong> pessoal na base <strong>de</strong> cálculo para o recolhimento do PIS/Cofins. Da mesma<br />

forma, a permissão legal da <strong>de</strong>dução dos valores pagos por obras protegidas pela lei <strong>de</strong> direitos autorais na mesma base <strong>de</strong><br />

cálculo.<br />

2 Apoiar a aprovação do projeto <strong>de</strong> lei complementar, <strong>de</strong> autoria do <strong>de</strong>putado Luis Carlos Hauly, que altera a legislação do<br />

Super Simples com a inclusão da área <strong>de</strong> publicida<strong>de</strong>. O projeto <strong>de</strong>ve ser estudado para que contemple todos os espectros da<br />

nossa área, inclusive produtores e fornecedores.<br />

3 Respeito às empresas da área <strong>de</strong> comunicação que legitimamente contratem os chamados freelancers em trabalhos efetivamente<br />

pontuais, sem que sofram punições como se estivessem burlando a CLT.<br />

4 Redução da carga tributária que inci<strong>de</strong> sobre a folha <strong>de</strong> salários. Salário foi criado para remunerar ativida<strong>de</strong> laboral e não<br />

po<strong>de</strong> ser fonte <strong>de</strong> receita, mesmo que se <strong>de</strong>stine aos fins sociais.<br />

5 Apoio ao projeto <strong>de</strong> lei complementar <strong>de</strong> autoria do <strong>de</strong>putado Antonio Carlos Men<strong>de</strong>s Thame, que volta a incluir na relação<br />

do ISS a ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> veiculação <strong>de</strong> publicida<strong>de</strong> exterior.<br />

O relatório foi submetido ao plenário e aprovado por unanimida<strong>de</strong>.<br />

Dalton Pastore<br />

Coloco em votação. Todos os que estiverem <strong>de</strong> acordo <strong>de</strong>vem permanecer como estão. Tese aprovada por unanimida<strong>de</strong>.<br />

Comissão 11, A Valorização, a Prosperida<strong>de</strong> e a Rentabilida<strong>de</strong> da Indústria da Comunicação, presidida por Luiz Lara.<br />

luiz lara<br />

Bom dia a todos. A nossa Comissão sobre a Valorização, a Prosperida<strong>de</strong> e a Rentabilida<strong>de</strong> da Indústria da Comunicação teve<br />

ampla participação e como já disse o presi<strong>de</strong>nte Dalton Pastore, <strong>de</strong>liberamos as seguintes teses:<br />

1 Criação do Fórum Annual da Indústria da Comunicação, do qual participarão todas as entida<strong>de</strong>s organizadoras <strong>de</strong>ste evento,<br />

com o objetivo <strong>de</strong> dar continuida<strong>de</strong> às <strong>de</strong>cisões e recomendações surgidas durante este <strong>IV</strong> <strong>Congresso</strong>, <strong>de</strong>senvolvendo<br />

uma estratégia sustentável, uma governança articulada, com foco em resultados, que valorize as especificida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> cada um<br />

e <strong>de</strong> cada parceiro.<br />

Não po<strong>de</strong>mos <strong>de</strong>ixar que esta quarta-feira seja uma “quarta-feira <strong>de</strong> Carnaval”. Esta mobilização que aconteceu na manhã <strong>de</strong><br />

hoje e com as 31 entida<strong>de</strong>s participantes <strong>de</strong>ste <strong>IV</strong> <strong>Congresso</strong> <strong>de</strong>ve permanecer e, por isso, achei muito positivo o Dalton convocar<br />

uma reunião do Fórum para 2009. No nosso painel, Antônio Jacinto Matias, vice-presi<strong>de</strong>nte do Banco Itaú, fez uma bela<br />

palestra dizendo: “vocês precisam fazer uma governança articulada, pois são indústria <strong>de</strong> ponta e todas as agências <strong>de</strong> todas as<br />

disciplinas, parceiros da área <strong>de</strong> produção, fornecedores <strong>de</strong> serviços especializados e veículos <strong>de</strong> comunicação <strong>de</strong>vem se unir,<br />

montando uma estratégia sustentável, uma governança articulada, para buscar os melhores resultados para cada um, numa<br />

agenda positiva, para parar <strong>de</strong> se atropelar uns aos outros e ser caudatários daquilo que muitas vezes é imposto para cada um<br />

<strong>de</strong> vocês, montando essa agenda positiva, num pacto da prosperida<strong>de</strong>”.<br />

2 Nomeação <strong>de</strong> um comitê executivo comandado pela <strong>Abap</strong>, também com a participação <strong>de</strong> todas as entida<strong>de</strong>s do setor,<br />

para elaborar um plano estratégico visando valorizar a comunicação comercial e o papel <strong>de</strong> todos os parceiros da nossa<br />

indústria.<br />

Hoje, é impossível uma empresa viver sem uma comunicação clara, não só com os consumidores, mas com todos os seus<br />

stakehol<strong>de</strong>rs, começando pelos seus funcionários, colaboradores, fornecedores, parceiros, distribuidores, clientes, consumidores,<br />

acionistas, investidores, imprensa, autorida<strong>de</strong>s, socieda<strong>de</strong>, o mercado em geral.<br />

Portanto, se a comunicação é imprescindível e se marca, hoje, é um ativo que, num momento <strong>de</strong> tanta abertura <strong>de</strong> capital,<br />

vale — e vale muito; representa boa parte do valor da empresa na Bolsa <strong>de</strong> Valores —, temos que valorizar mais o papel<br />

da comunicação comercial, abrangendo todos os parceiros <strong>de</strong> toda a indústria. Nenhuma empresa vive sem comunicação;<br />

nenhuma empresa vive sem o nosso trabalho, portanto, nós, artesãos e gestores das marcas dos nossos clientes, com ciência<br />

e arte, temos que montar uma governança para criar a marca da indústria da comunicação e valorizar o nosso trabalho, o<br />

trabalho <strong>de</strong> cada parceiro.<br />

Este plano será implementado para utilizarmos todas as disciplinas num gran<strong>de</strong> composto <strong>de</strong> comunicação e construirmos<br />

<strong>de</strong> forma integrada e coor<strong>de</strong>nada, como fazemos para os nossos clientes, um plano estratégico <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa da comunicação<br />

comercial e da indústria da comunicação.<br />

3 (Corroborada no painel comandado pelo Bob Vieira da Costa) Criação <strong>de</strong> um código <strong>de</strong> ética comum a todas as entida<strong>de</strong>s e<br />

empresas componentes da indústria da comunicação, que será elaborado a partir dos códigos <strong>de</strong> ética já existentes em cada<br />

segmento, estabelecendo princípios <strong>de</strong> conduta unificados e capazes <strong>de</strong> bem zelar pela imagem da comunicação.<br />

Muitos <strong>de</strong> vocês já sabem que a <strong>Abap</strong>, APP, Fenapro, ABP, Abracom, Ampro, Abra, Abrafoto, Apro, Aprosom têm códigos <strong>de</strong><br />

ética. Já conversamos com o Dr. Paulo Gomes <strong>de</strong> Oliveira Filho e é possível buscarmos um código <strong>de</strong> conduta ética unificado,<br />

com princípios rigorosos e procedimentos para todos os parceiros do setor.<br />

4 Talento e criativida<strong>de</strong>, que compõem a matéria-prima da comunicação (como já foi dito pelo Nizan, propaganda não é nem<br />

po<strong>de</strong> ser commodity), exigem a permanente atualização e reciclagem dos profissionais <strong>de</strong> todos os parceiros, valorizando a<br />

diversida<strong>de</strong> e assegurando a prosperida<strong>de</strong> para todos.<br />

Nosso negócio está alicerçado na idéia; nosso negócio é gente. Talento e criativida<strong>de</strong> custam e precisam ser reciclados, para<br />

que a propaganda brasileira continue a ser uma indústria <strong>de</strong> ponta no mundo.<br />

5 é <strong>de</strong>ver fundamental da nossa indústria incentivar o crescimento das pequenas e médias agências <strong>de</strong> todas as disciplinas,<br />

para <strong>de</strong>senvolverem clientes, inclusive nos mercados regionais.<br />

A <strong>Abap</strong> vem fazendo um trabalho brilhante sob o comando do Dalton, com a participação ativa do Stalimir. é fundamental<br />

que possamos continuar criando clientes e neste aspecto, o papel das pequenas e médias agências e dos mercados regionais<br />

é fundamental, porque criam e <strong>de</strong>senvolvem clientes, fazendo da comunicação uma alavanca <strong>de</strong> negócios para as empresas.<br />

6 Nesta agenda positiva, é fundamental — isso teve apoio unânime do Plenário — nosso apoio ao Projeto <strong>de</strong> Lei 3305, <strong>de</strong><br />

2008, do Deputado José Eduardo Cardozo, que regulamenta as Normas-Padrão do Conselho Executivo <strong>de</strong> Normas-Padrão, o<br />

Cenp, comandado pelo nosso querido Petrônio Corrêa, que nos honrou com a sua participação no nosso painel, a quem eu<br />

peço uma salva <strong>de</strong> palmas, e que o Cenp seja um mo<strong>de</strong>lo inspirador para esse código <strong>de</strong> conduta unificado e para as práticas<br />

comerciais das <strong>de</strong>mais disciplinas <strong>de</strong> todos os parceiros da comunicação.<br />

Estas foram as seis teses apresentadas no nosso painel e temos certeza <strong>de</strong> que hoje, nasce aqui uma agenda positiva — não<br />

reativa, mas positiva —, porque seremos agentes da valorização, da prosperida<strong>de</strong> e da rentabilida<strong>de</strong> da indústria da comunicação.<br />

Muito obrigado.<br />

Dalton Pastore<br />

Em votação a proposta da Comissão 11. Aprovada por unanimida<strong>de</strong>, parabéns.<br />

Comissão 12, com o tema Mídia e Conteúdo, presidida por João Carlos Saad.<br />

João Carlos Saad<br />

Bom dia a todos. A nossa Comissão <strong>de</strong> Mídia e Conteúdo foi mais suave, on<strong>de</strong> um bom grupo se envolveu. Das conclusões a<br />

que chegamos, há uma clara separação entre o que é entretenimento e o que é informação. Em tudo o que é entretenimento,<br />

<strong>de</strong>s<strong>de</strong> que faça parte do contexto, nenhum <strong>de</strong> nós viu absolutamente nada — aconteceu até o contrário, Vivemos num mundo<br />

com marcas, objetos, serviços, nomes. Isso é absolutamente natural e po<strong>de</strong> ser até <strong>de</strong>sejável no nosso dia-a-dia.<br />

O ponto <strong>de</strong>licado é na área jornalística, especialmente na formação editorial. Discutimos e chegamos à conclusão <strong>de</strong> que é<br />

preciso ter alguns cuidados. Fizemos três recomendações e um encaminhamento.<br />

1 Resolvemos instituir normas-padrão <strong>de</strong> ética, para estabelecer diretrizes <strong>de</strong> produtos e marcas ao conteúdo.<br />

2 Que essas normas-padrão passem a fazer parte do código <strong>de</strong> ética do Conselho <strong>de</strong> Auto-Regulamentação Publicitária.<br />

3 Que seja constituída uma comissão formada por todo o conjunto <strong>de</strong>sse nosso negócio, que <strong>de</strong>verá prever os limites da<br />

convivência entre a informação comercial e o conteúdo, e as penalida<strong>de</strong>s para as infrações.<br />

Se não tivermos penalida<strong>de</strong>s, nenhum <strong>de</strong> nós faz nada.<br />

4 Que fortaleçamos o setor: ao invés <strong>de</strong> criarmos novas áreas, a idéia seria colocarmos isso como uma das áreas do Conar.<br />

Esse é o nosso resumo e antes <strong>de</strong> encerrar, faço uma sugestão absolutamente fora <strong>de</strong> pauta. Po<strong>de</strong>ndo assistir à apresentação<br />

<strong>de</strong> todos os painéis — coisa que não acontece ao longo do <strong>Congresso</strong> e normalmente, ficamos com uma visão fragmentada<br />

—, o que ficou muito claro para mim é que <strong>de</strong>veríamos estudar <strong>de</strong>, especialmente em Brasília, buscar uma união <strong>de</strong> forças<br />

entre os clientes, as agências e os veículos. Estamos jogando totalmente <strong>de</strong>sarticulados, o que enfraquece a todos. Temos<br />

associações, estruturas montadas, vocês também têm, os clientes também. Porém, cada um <strong>de</strong> nós tem a sua. Deveríamos<br />

juntar essas estruturas e travar um combate unificado contra o que afetar o nosso setor. O que afeta o nosso cliente, afeta a<br />

agência e o veículo.<br />

352 353<br />

PLENÁRIAS


Às vezes, o nosso cliente é proibido ou restringido <strong>de</strong> anunciar alguma coisa — aconteceu há pouco tempo com o leite: há<br />

uma indicação para escrever que ele não é recomendável para crianças — e isso é uma maluquice.<br />

Deixo essa sugestão <strong>de</strong> buscarmos fórmulas <strong>de</strong> unir forças para <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r melhor esse setor, o tripé. Nenhuma das peças funciona<br />

sozinha. Muito obrigado, foi uma honra ter participado <strong>de</strong>ste <strong>Congresso</strong>.<br />

Dalton Pastore<br />

Inicialmente, vou colocar em votação a tese original da Comissão. Os que estiverem <strong>de</strong> acordo, permaneçam sentados. Aprovada<br />

por unanimida<strong>de</strong>. Aproveito para colocar em votação também esta proposta que o Johnny acabou <strong>de</strong> fazer e que não<br />

estava prevista.<br />

Nós passamos este <strong>Congresso</strong> inteiro — aliás, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a sua preparação, em novembro — falando que é o <strong>Congresso</strong> da indústria<br />

da comunicação. Por isso, acho pertinente a proposta <strong>de</strong> que unamos as forças entre agências, veículos e inclusive clientes<br />

da indústria na <strong>de</strong>fesa dos nossos interesses.<br />

Vamos colocar em votação. Se o plenário aprovar, já po<strong>de</strong>rá fazer parte das recomendações e entrar nos anais do <strong>Congresso</strong>.<br />

Aprovado por unanimida<strong>de</strong>.<br />

Comissão 13, Marketing <strong>de</strong> Relacionamento, presidida por Efraim Kapulski.<br />

Efraim Kapulski<br />

Bom dia a todos. Antes <strong>de</strong> mais nada, eu gostaria <strong>de</strong> dizer que o <strong>IV</strong> <strong>Congresso</strong> <strong>de</strong> Publicida<strong>de</strong> já foi um congresso da indústria<br />

da comunicação. Parabéns, Dalton! Quando vocês fizeram aquele jantar em novembro, parecia impossível. Estou contente e<br />

orgulhoso por ter participado. Todas as ativida<strong>de</strong>s foram contempladas e todas são importantes.<br />

No caso específico da minha Comissão, optamos por uma tese mais conceitual. A Abemd tem uma miniconstituição <strong>de</strong> quatro<br />

itens e o primeiro é: proteger e <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r os associados através da auto-regulamentação; formar concursos, eventos, palestras<br />

e seminários, <strong>de</strong>ntre os quais um curso <strong>de</strong> especialização, que já está em sua 13ª turma (é um curso <strong>de</strong> 80 horas por semestre);<br />

informar, por meio dos seus veículos <strong>de</strong> comunicação; promover o setor através <strong>de</strong> campanhas <strong>de</strong> valorização; a criação dos<br />

“indicadores Abemd”, que mensuram os serviços <strong>de</strong> terceiros da ativida<strong>de</strong>. Esses serviços, com seus oito segmentos, representam<br />

0,7% do PIB.<br />

No nosso dia-a-dia, já cuidamos <strong>de</strong>sses <strong>de</strong>talhes e resolvemos trazer para o <strong>Congresso</strong> algo conceitual. Esse conceito está<br />

relacionado à mensuração dos resultados.<br />

A busca da mensuração é o principal motor do processo <strong>de</strong> integração.<br />

1 Os muros que historicamente separavam as disciplinas <strong>de</strong> marketing e comunicação estão ruindo e a causa principal é a<br />

necessida<strong>de</strong> que os anunciantes sentem — e expressam cada vez com mais vigor — <strong>de</strong> mensurar seus esforços, buscando<br />

otimizar recursos que, pela ótica <strong>de</strong>les, são inevitavelmente escassos, e a eficácia no atingimento do target group, minimizando<br />

a dispersão da comunicação.<br />

2 Assim, assistimos no mundo inteiro ao surgimento <strong>de</strong> um novo tipo <strong>de</strong> fornecedor, que funciona não mais apenas como<br />

um prestador <strong>de</strong> serviços, <strong>de</strong>scompromissado às vezes com os resultados e com o que acontece pós-veiculação, e sim como<br />

um autêntico parceiro estratégico, com a capacida<strong>de</strong>, a competência e a vonta<strong>de</strong> para interferir em todo o processo, do <strong>de</strong>senvolvimento<br />

do produto ao gerenciamento do relacionamento com o cliente, passando pela distribuição, pela precificação<br />

e pela comunicação.<br />

3 Profissionais e empresas que estiveram até agora preferencialmente alocados nos territórios chamados <strong>de</strong> marketing direto<br />

e marketing <strong>de</strong> relacionamento, assim como naqueles <strong>de</strong>finidos como marketing digital, por terem a vocação e o treino das<br />

técnicas <strong>de</strong> diálogo e <strong>de</strong> análises <strong>de</strong> dados, informações e conhecimento e, principalmente, por terem a disciplina <strong>de</strong> testar e<br />

medir todas as suas ações, po<strong>de</strong>m <strong>de</strong>sempenhar um papel crucial neste processo, até assumindo sua condução, em alguns<br />

casos; no mínimo, mostrando o caminho das pedras.<br />

4 Por fim, acreditamos que uma visão única do cliente <strong>de</strong>veria até antece<strong>de</strong>r o processo <strong>de</strong> integração da comunicação,<br />

pois só assim teríamos um aumento da previsibilida<strong>de</strong>, o objetivo da mensuração. A visão única do cliente é filha dileta das<br />

arquiteturas vencedoras <strong>de</strong> CRM.<br />

Dalton Pastore<br />

Em votação. Aprovado por unanimida<strong>de</strong>.<br />

Recebi um pedido para esclarecer <strong>de</strong>finitivamente o assunto da Comissão 3. A proposta <strong>de</strong> emenda que recebi foi feita pela<br />

própria Comissão, ou seja, ela mesma corrigiu um mal-entendido da redação anterior. Foi aprovada por unanimida<strong>de</strong>.<br />

Comissão 14, <strong>de</strong> Novas Mídias, presidida por Daniel Barbará.<br />

Daniel barbará<br />

Bom dia a todos. Nossa Comissão enten<strong>de</strong>u que, dada a novida<strong>de</strong> interminável <strong>de</strong> meios que surgem nessa área, ela <strong>de</strong>veria<br />

trabalhar no sentido <strong>de</strong> ser uma ponte entre as <strong>de</strong>mandas <strong>de</strong> anunciantes dos mais variados setores da economia e a oferta<br />

ainda um pouco <strong>de</strong>sorganizada, na nossa opinião, <strong>de</strong>sta ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> meios digitais.<br />

Neste sentido, trabalhamos para que não fosse algo pontual, mas que tivesse um maior caráter <strong>de</strong> perenida<strong>de</strong> a organização<br />

<strong>de</strong>sse meio e a mais fácil digestão do mercado pelas ofertas. Temos quatro conclusões e três recomendações.<br />

Conclusões:<br />

1 Que seja criado um comitê permanente <strong>de</strong> novas mídias em plataformas digitais, composto por membros <strong>de</strong> todas as<br />

entida<strong>de</strong>s e grupos representados neste <strong>IV</strong> <strong>Congresso</strong>.<br />

2 Como primeiro projeto <strong>de</strong>ste Comitê — importante, inclusive —, que seja construído o Portal das Novas Mídias, um repertório<br />

<strong>de</strong> informações permanentemente atualizadas sobre as novas conquistas do setor.<br />

3 Repetir no Brasil um estudo feito no início dos anos 2000, nos Estados Unidos, o X-MOS, um cross-media <strong>de</strong> mídia digital<br />

muito útil para o amadurecimento do mercado americano.<br />

4 Criação <strong>de</strong> um Comitê Permanente <strong>de</strong> Educação para as Novas Mídias Digitais, com o objetivo <strong>de</strong>, junto às escolas do setor,<br />

formar novos profissionais com esta mentalida<strong>de</strong> e este entendimento, com esta visão e, por último, com este apetite <strong>de</strong><br />

criarmos uma nova ativida<strong>de</strong> profissional.<br />

Recomendações:<br />

1 Que se criem rapidamente no mercado brasileiro ferramentas técnicas que permitam a experimentação <strong>de</strong> todos esses<br />

meios <strong>de</strong> uma forma uniforme, regular, padronizando essas métricas <strong>de</strong> medição.<br />

2 Que se privilegie a responsabilida<strong>de</strong> socioambiental e ética em relação ao uso das novas mídias.<br />

3 Que todas as ações e projetos <strong>de</strong>senvolvidos pelo Comitê contemplem também os mercados regionais<br />

Essas são as conclusões e as recomendações da nossa Comissão.<br />

Dalton Pastore<br />

Em votação, as recomendações e conclusões da Comissão Novas Mídias. Aprovadas por unanimida<strong>de</strong>.<br />

Finalmente, a Comissão 15, sobre Liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Expressão Comercial, presidida por Gilberto Leifert.<br />

Gilberto leifert<br />

Bom dia. Estão aqui à mesa o nosso secretário, Edney Narchi e o relator dos trabalhos, o jornalista Ricardo Kotscho. Vamos ler<br />

o sumário das teses aprovadas ontem pela Comissão Liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Expressão Comercial:<br />

1 Proclamação das prerrogativas constitucionais da comunicação social, a saber:<br />

• aos operadores, liberda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> criação, expressão e informação, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente <strong>de</strong> licença;<br />

• aos cidadãos, o direito <strong>de</strong> receber informação, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente <strong>de</strong> censura;<br />

• a proteção assegurada à informação pela Constituição do Brasil (outras Constituições admitem o banimento e a proibição;<br />

a do Brasil não, apenas restrições legais).<br />

2 Cidadãos responsáveis e consumidores conscientes <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m <strong>de</strong> informação. Viver é fazer escolhas; com informação e<br />

educação, a socieda<strong>de</strong> estará apta a tomar melhores <strong>de</strong>cisões.<br />

3 Publicida<strong>de</strong> como valor social, político e econômico. Seu papel no estado <strong>de</strong>mocrático, na sustentação da liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

imprensa e na economia <strong>de</strong> mercado. Ela garante a pluralida<strong>de</strong> e diversida<strong>de</strong> dos meios <strong>de</strong> comunicação.<br />

4 O vitorioso sistema misto <strong>de</strong> controle da publicida<strong>de</strong> no Brasil — referência internacional.<br />

Como sabem, no Brasil, a publicida<strong>de</strong> está submetida a um sistema <strong>de</strong> controle da lei e da auto-regulamentação.<br />

5 As restrições legais e por auto-regulamentação <strong>de</strong>vem aten<strong>de</strong>r aos princípios jurídicos <strong>de</strong> necessida<strong>de</strong>, a<strong>de</strong>quação, razoabilida<strong>de</strong><br />

e proporcionalida<strong>de</strong>. Exemplo: não se obrigará o anunciante a falar mal <strong>de</strong> seu produto por meio <strong>de</strong> advertências, ou<br />

<strong>de</strong> qualquer outra forma.<br />

6 Recomendar aos órgãos do estado e às empresas da indústria da comunicação o estabelecimento <strong>de</strong> um diálogo permanente,<br />

para a produção <strong>de</strong> campanhas educativas e informativas que estimulem o consumo responsável <strong>de</strong> produtos e<br />

serviços, em lugar da criação <strong>de</strong> novas leis e mais restrições à ativida<strong>de</strong> publicitária.<br />

Peço licença ao presi<strong>de</strong>nte para fazer a leitura <strong>de</strong> uma carta dos membros da mesa da Comissão da Liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Expressão<br />

Comercial, dirigida aos membros do <strong>Congresso</strong>, que não foi submetida ontem à Comissão:<br />

Criativa, bonita, responsável, premiada, alto-astral, inteligente, livre, mo<strong>de</strong>rna, inspiradora. Foi assim, com liberda<strong>de</strong> para criar,<br />

que a publicida<strong>de</strong> brasileira se tornou conhecida no mundo inteiro. Agora, querem cortar as suas asas, como se ela fosse a<br />

culpada por tudo <strong>de</strong> ruim que acontece.<br />

Há, no momento, mais <strong>de</strong> 200 propostas no <strong>Congresso</strong> Nacional e outras em estudos na Anvisa para restringir a propaganda<br />

<strong>de</strong> bebidas, remédios, alimentos, refrigerantes, automóveis, produtos para crianças, entre outras. Tem sentido isso?<br />

A publicida<strong>de</strong> não causa obesida<strong>de</strong>, alcoolismo, aci<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> trânsito. é a publicida<strong>de</strong> que viabiliza, do ponto <strong>de</strong> vista financeiro,<br />

a liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> imprensa e a difusão <strong>de</strong> cultura e entretenimento para toda a população. é a publicida<strong>de</strong> que torna possível<br />

a existência <strong>de</strong> milhares <strong>de</strong> jornais, revistas, emissoras <strong>de</strong> rádio e televisão, assim como outras expressões da mídia.<br />

As leis existentes já são suficientes para garantir ampla proteção ao consumidor.<br />

354 355<br />

PLENÁRIAS


atrocinadores&Entida<strong>de</strong>s<br />

356 357


PATROCINADORES<br />

358 359


ENTIDADES<br />

360 361


362 363


Arte<br />

Túlio Fagim<br />

fotógrafos<br />

Daniel Castro<br />

Fred Chalub<br />

Felipe Oliveira<br />

Marcos Rosa<br />

Antonio Sobral<br />

Impressão<br />

Igil Indústria Gráfica Itú<br />

Textos<br />

Laura Gillon<br />

Mari Marinaro<br />

Stalimir Vieira<br />

Máquina<br />

364 365


366 367


A S S O C I A Ç Ã O B R A S I L E I R A D E A G Ê N C I A S D E P U B L I C I D A D E<br />

R u a P e d r o s o A l v a r e n g a , 1 2 0 8 - 8 º a n d a r<br />

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