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Episcopa<strong>do</strong> e pregação no Portugal Moderno:<br />

Introdução<br />

formas de actuação e de vigilância 1<br />

O estu<strong>do</strong> da actividade <strong>do</strong> episcopa<strong>do</strong> português no âmbito da pregação, na<br />

Época Moderna, não é tarefa fácil. Desde logo, porque a produção historiográfica<br />

prévia nesta matéria é praticamente nula 2 . Em segun<strong>do</strong> lugar, pela escassez de fontes<br />

que o consintam. Núcleos <strong>do</strong>cumentais da maior relevância para o concretizar,<br />

como as cartas pastorais, os registos das licenças para pregar emitidas pelos bispos,<br />

os processos <strong>do</strong>s auditórios episcopais, os sermões proferi<strong>do</strong>s pelos antístites,<br />

rareiam, encontram-se dispersos, em séries muito truncadas e, por norma, mal<br />

cataloga<strong>do</strong>s nos arquivos. Mesmo o inventário das centenas de púlpitos ainda<br />

existentes em igrejas, e que poderiam fornecer utilíssimas informações, se encontra<br />

por fazer 3 .<br />

Daí que seja arrisca<strong>do</strong> o exercício aqui proposto, pelo qual se intentará fornecer<br />

um quadro sistémico e sintético da matéria em análise, a partir <strong>do</strong>s fragmentários<br />

indícios disponíveis. Assume-se a dificuldade e o risco, com a exacta consciência das<br />

limitações <strong>do</strong>s caminhos percorri<strong>do</strong>s e a impossibilidade de sustentar conclusões<br />

seguras relativamente a muitos <strong>do</strong>s aspectos que serão aborda<strong>do</strong>s.<br />

Era o ano de 1743. Já ia bem adianta<strong>do</strong> o século XVIII, quan<strong>do</strong> chegou<br />

à Mesa da Inquisição de Coimbra uma denúncia contra um frade prega<strong>do</strong>r,<br />

oriunda de Santo Tirso, próximo <strong>do</strong> <strong>Porto</strong>. O delator, para além de esclarecer<br />

que este religioso se fazia acompanhar por um músico, o qual tinha a finalidade<br />

de convocar pessoas para ouvirem os sermões, esclarece ainda que ele não escrevia<br />

o texto da pregação «dizen<strong>do</strong> asim tu<strong>do</strong> o que lhe vinha a cabeça». Pior, não<br />

difundia boa <strong>do</strong>utrina, pois, ainda nas palavras <strong>do</strong> denunciante, nas suas prédicas<br />

1 Este estu<strong>do</strong> foi elabora<strong>do</strong> no âmbito <strong>do</strong> Projecto de Investigação Sociedades, Poderes e Culturas: Portugal e<br />

os «Outros», <strong>do</strong> Centro de História da Sociedade e da Cultura da <strong>Universidade</strong> de Coimbra (FCT). Agradeço<br />

ao Prof. Doutor João Marques a leitura e comentários críticos que fez à versão inicial deste texto.<br />

2 É disso testemunho a excelente síntese proposta por João Francisco MARQUES, Pregação in História<br />

Religiosa de Portugal (direcção de Carlos Moreira AZEVEDO), Lisboa, Círculo de Leitores, 2000, vol.<br />

II, 393-447, ou o que sobre a pregação se propõe na mais recente e bem elaborada síntese sobre a reforma<br />

católica em Portugal, Federico PALOMO, A contra-reforma em Portugal 1540-1700, Lisboa, Livros<br />

Horizonte, 2005, 77-81.<br />

3 Uma boa utilização da análise <strong>do</strong>s púlpitos para a história da pregação pode ver-se em Nirit Ben-Aryeh<br />

DEBBY, The Renaissance pulpit: art and preaching in Tuscuny, 1400-1550, Turnhout, Brepols, 2007.<br />

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