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José Pedro Paiva<br />

arcebispo D. Alexandre de Bragança (1602-1608) promovia na catedral pregações<br />

to<strong>do</strong>s os <strong>do</strong>mingos, festas e dias santos de guarda. Além disso, durante to<strong>do</strong> o<br />

ciclo da Quaresma havia pregação todas as Quartas e Sextas-feiras, para o que a<br />

mesa episcopal pagava esmolas e o arcebispo contratava prega<strong>do</strong>res de diversos<br />

institutos religiosos 91 . De igual mo<strong>do</strong>, devia haver sermões to<strong>do</strong>s os <strong>do</strong>mingos<br />

nas igrejas paroquiais, tarefa que o bispo de Lamego, D. Frei Luís da Silva (1677-<br />

1685), assumia ser impraticável, por não haver prega<strong>do</strong>res para todas, pelo que<br />

essa obrigação ficava a cargo <strong>do</strong>s párocos 92 .<br />

Se os prela<strong>do</strong>s contribuíam para alimentar a torrente sermonária, não<br />

deixavam de propor os mo<strong>do</strong>s como se deviam efectuar as pregações. No fun<strong>do</strong>,<br />

estas disposições também constituiriam fonte de aprendizagem e inspiração para<br />

os prega<strong>do</strong>res - tal como os manuais de retórica, os breviários, os Evangelhos, os<br />

textos de padres da Igreja e de santos - nos quais os próprios bispos também se<br />

inspirariam para instruir os prega<strong>do</strong>res das suas dioceses.<br />

Desde mea<strong>do</strong>s <strong>do</strong> século XVI que alguns antístites se empenharam nesta<br />

tarefa. No arcebispa<strong>do</strong> de Évora, por 1551, o cardeal D. Henrique teria mesmo<br />

pedi<strong>do</strong> a Luís de Granada que elaborasse um homiliário acessível aos párocos<br />

menos cultos, onde se reunisse um conjunto de textos adapta<strong>do</strong>s a serem li<strong>do</strong>s<br />

aos fiéis nas missas de Domingo 93 . O <strong>do</strong>minicano solicitou, numa primeira fase,<br />

ao seu correligionário frei Juan de la Cruz que o elaborasse. Tal deu origem aos<br />

Treynta y <strong>do</strong>s sermones en los quales se declaran los mandamientos de la Ley, articulos<br />

de fe y sacramientos con otras cosas provechosas (...) (1558). Numa segunda etapa, o<br />

próprio Granada compôs o Compendio de Doctrina christãa (1559), onde incluíu<br />

treze sermões já prepara<strong>do</strong>s para as principais festas <strong>do</strong> ano 94 .<br />

Por sua vez, em Braga, pela mesma época, e apenas regressa<strong>do</strong> <strong>do</strong> Concílio de<br />

Trento, o arcebispo D. Frei Bartolomeu <strong>do</strong>s Mártires, também ele um <strong>do</strong>minicano,<br />

tomou medidas idênticas, ao preparar e publicar o Cathecismo ou <strong>do</strong>utrina christã<br />

(1564). No Proémio, explicitou os motivos instiga<strong>do</strong>res desta obra. Invocan<strong>do</strong><br />

91 Ver ASV, Congregazioni Concilio, Relationes Dioecesium, vol. 311, fl. 86v (relatório da visita ad limina<br />

de Dezembro de 1605).<br />

92 Ver Constituiçoes synodaes <strong>do</strong> Bispa<strong>do</strong> de Lamego, 219.<br />

93 Sigo Maria Idalina Resina RODRIGUES, Fray Luis de Granada y la literatura de espiritualidad en<br />

Portugal (1554-1632), Madrid, Universidad Pontificia de Salamanca, 1988, 794. Anos depois, a partir de<br />

1572, em Milão, também o famoso arcebispo Carlo Borromeo solicitava a Agostino Valier, bispo de Verona,<br />

uma selecção de homilias <strong>do</strong>minicais que se pudessem publicar e, assim, servir de modelo inspira<strong>do</strong>r ao clero,<br />

e o mesmo arcebispo, no 3º concílio provincial de Milão (1573) ordenou umas Instructiones praedicationes<br />

verbi Dei, que funcionou como pequeno trata<strong>do</strong> modelar da forma de pregar, medida semelhante à tomada<br />

noutras dioceses italianas por vários prela<strong>do</strong>s como Gian Matteo Giberti (Verona), Marcello Cervini<br />

(Gubbio), ou Gabriele Paleotti (Bolonha). Ainda Borromeo, teria solicita<strong>do</strong> a Luis de Granada um conjunto<br />

de sermões para o clero, tal como fez D. Henrique, ver Samuele GIOMBI, La predicazione..., art. cit., 71-73.<br />

94 Para uma análise das temáticas e estratégias de argumentação e persuasão utilizadas pelo <strong>do</strong>minicano nos<br />

sermões ver Maria Idalina Resina RODRIGUES, Frei Luís de Granada. Sermões para o povo português in<br />

Via Spiritus, 11 (2004), sobretu<strong>do</strong> 34-43.<br />

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