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Documento (.pdf) - Biblioteca Digital - Universidade do Porto

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22<br />

José Pedro Paiva<br />

que ele foi um «excelente pastor», pois, sen<strong>do</strong> bispo de Lamego, pregou em<br />

todas as paróquias da diocese sen<strong>do</strong> sempre escuta<strong>do</strong> com muita atenção 73 . Já no<br />

século XVIII, e apenas chega<strong>do</strong> ao Maranhão, D. Frei Manuel da Cruz confessa<br />

ter inicia<strong>do</strong> o seu governo da diocese com uma missão, durante a qual e ele e um<br />

jesuíta pregaram alternadamente, fazen<strong>do</strong> o mesmo em visita pastoral iniciada<br />

pouco depois 74 .<br />

Era possível trazer à colação muitos outros exemplos semelhantes. E tal<br />

não deveria espantar. É que não fora apenas Trento a determiná-lo. O próprio<br />

arquétipo <strong>do</strong> bispo que se enraizou a partir da segunda metade <strong>do</strong> século<br />

XVI, o qual tendeu a inspirar e enquadrar a actividade <strong>do</strong> episcopa<strong>do</strong> desde<br />

então, também valorizou esta dimensão apostólica <strong>do</strong>s prela<strong>do</strong>s. Acresce que,<br />

em Portugal, ele teve desde ce<strong>do</strong> a animá-lo e instigá-lo o luzeiro que foi a<br />

actuação e a obra <strong>do</strong> arcebispo bracarense D. Frei Bartolomeu <strong>do</strong>s Márires,<br />

nomeadamente o seu Stymulus pastorum (1565) 75 . Na impossibilidade de aqui<br />

propor uma visão sistémica, ou sequer de elencar to<strong>do</strong>s os bispos que mais<br />

valorizaram esta função, socorramo-nos de um caso concreto, o qual, toma<strong>do</strong> a<br />

título de exemplo, configura um desempenho que não foi seguramente único.<br />

O eleito foi D. Afonso de Castelo Branco, prela<strong>do</strong> <strong>do</strong> Algarve (1581-1585)<br />

e, posteriormente, de Coimbra (1585-1615), o qual pregava muito e em vários<br />

locais 76 . Na Sé catedral, naturalmente, no Colégio da Companhia de Jesus,<br />

em autos-da-fé inquisitoriais. Em 1614 o próprio, que deveria ter o cuida<strong>do</strong><br />

de anotar os sermões por si proferi<strong>do</strong>s, confessa que nesse ano iria pregar na<br />

catedral pela décima quinta vez no dia da purificação de Nossa Senhora 77 .<br />

Anteriormente, no ano de 1602, contabilizara oito sermões por si feitos <strong>do</strong><br />

púlpito da igreja <strong>do</strong> colégio jesuítico 78 . Aos estra<strong>do</strong>s <strong>do</strong>s autos-da-fé já tinha<br />

subi<strong>do</strong> seis vezes até 1596 79 . E conhece-se ainda o texto de um sermão que<br />

73 Cf. IANTT, Manuscritos da Livraria, vol. 619 e 619A, cap. 44, trata-se de Epitome cronologico de varoens<br />

illustres religiosos Trinitarios dignos de eterna memoria pellas dignidades a que subirão por seus eleva<strong>do</strong>s<br />

merecimentos (1760).<br />

74 Ver Museu da Inconfidência (Ouro Preto, Brasil), Copia<strong>do</strong>r de algumas cartas particulares <strong>do</strong> excelentíssimo<br />

e reverendissimo senhor Dom frei Manuel da Cruz, bispo <strong>do</strong> Maranhão e Mariana (1739-1762), carta <strong>do</strong> bispo<br />

para fr. Gaspar da Encarnação, Maranhão, 29 de Agosto de 1740, carta nº5 (cito a partir da transcrição<br />

efectuada por Al<strong>do</strong> Luiz LEONI, [Ouro Preto], [2004], texto policopia<strong>do</strong>. Muito agradeço a Patrícia Ferreira<br />

<strong>do</strong>s Santos, <strong>do</strong>utoranda na <strong>Universidade</strong> de S. Paulo, o ter-me disponibiliza<strong>do</strong> um exemplar).<br />

75 Sobre o assunto remetemos para José Pedro PAIVA, Os bispos de Portugal e <strong>do</strong> império, ed. cit., 132-143.<br />

O Stymulus foi publica<strong>do</strong> em versão bilingue, com introdução de Almeida Rolo, ver Bartolomeu <strong>do</strong>s MÁRTIRES,<br />

Estímulo de pastores, Braga, Movimento Bartolomeano, 1981.<br />

76 Para um melhor enquadramento <strong>do</strong> assunto sugere-se a consulta de José Pedro PAIVA, A diocese de<br />

Coimbra antes e depois <strong>do</strong> Concílio de Trento: D. Jorge de Almeida e D. Afonso Castelo Branco in Sé Velha<br />

de Coimbra. Culto e Cultura. Ciclo de conferências 2003 Coimbra, Coimbra, Gráfica de Coimbra, 2005,<br />

225-253.<br />

77 Ver ASV, Fon<strong>do</strong> Confalonieri, 39, fl. 498-99 (carta de 21 de Janeiro de 1614 a Giovanbattista Confalonieri).<br />

78 Ver ASV, Fon<strong>do</strong> Confalonieri, 39, fl. 107 (carta de 21 de Janeiro de 1602 a Giovanbattista Confalonieri).<br />

79 Ver ASV, Fon<strong>do</strong> Confalonieri, 33, fl. 160 (carta de 6 de Novembro de 1596 a Fabio Bion<strong>do</strong>). Um destes

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