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Documento (.pdf) - Biblioteca Digital - Universidade do Porto

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de que serve às pessoas alembrar-se<br />

<strong>do</strong> que passou já, pois tu<strong>do</strong> passa,<br />

senão de entristecer-se e magoar-se?» 45 .<br />

NA ELEGIA DE CAMÕES «O POETA SIMÓNIDES, FALANDO»<br />

Estamos diante de um implicação simples, <strong>do</strong> tipo se p então q, formulada,<br />

porém, num enuncia<strong>do</strong> poético: reconhecida a veracidade das condicionais –<br />

no âmbito de uma <strong>do</strong>xa sobre a condição humana –, a resposta à pergunta<br />

formulada só podia ser concordante.<br />

Esquema idêntico acontece no segun<strong>do</strong> andamento desta argumentação:<br />

«Se noutro corpo ũa alma se traspassa,<br />

não como quis Pitágoras na morte,<br />

mas como manda Amor na vida escassa;<br />

e se este Amor no mun<strong>do</strong> está de sorte<br />

que na virtude só dum lin<strong>do</strong> objecto<br />

tem um corpo sem alma, vivo e forte;<br />

onde este objecto falta, que é defecto<br />

tamanho para a vida, que já nela<br />

m’está chaman<strong>do</strong> à pena a dura Alecto;<br />

[então]<br />

porque me não criara minha estrela<br />

selvático no mun<strong>do</strong>, e habitante<br />

na dura Cítia, ou na aspereza dela?».<br />

As condicionais são também verdadeiras – no quadro de uma dada filosofia<br />

<strong>do</strong> amor –, e o raciocínio implicativo é <strong>do</strong> mesmo tipo, com a diferença de que<br />

a consequência solicitada pela interrogação pertence à categoria <strong>do</strong> impossibile,<br />

na medida em que colide com a admissão da ideia de que o poeta, nasci<strong>do</strong> no<br />

reino de Portugal, num tempo bem determina<strong>do</strong>, pudesse ter nasci<strong>do</strong> na «dura<br />

Cítia», terra de transparente evocação <strong>do</strong>s dramas terríveis de Medeia. O efeito<br />

poético é claramente potencializa<strong>do</strong> pela evocação mitológica.<br />

Mas antes de avançar é preciso observar o terceto em cima cita<strong>do</strong>:<br />

45 A figura da ratiocinatio surge aqui apoiada numa <strong>do</strong>xa desenhada a partir tanto de um saber clássico, como<br />

de uma imagem que o poeta certamente fora dan<strong>do</strong> de si mesmo nos círculos letra<strong>do</strong>s, sobre o qual Wilhelm<br />

STORCK compilou muitos da<strong>do</strong>s, sem, no entanto, ser possível acompanhá-lo totalmente na ideia de que as<br />

obras de Camões são a «fonte mais pura e mais abundante em datas sobre a vida <strong>do</strong> Poeta» (Vida e obras de<br />

Luís de Camões, reimpressão de Lisboa, 1980, 328); que não dispomos de muito mais é verdade, mas fazer<br />

delas um vidro transparente, sobretu<strong>do</strong> no tocante aos amores, é passada longa demais.<br />

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