12.04.2013 Views

Mudanças Climáticas: os dois lados da questão - Inpa

Mudanças Climáticas: os dois lados da questão - Inpa

Mudanças Climáticas: os dois lados da questão - Inpa

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Revista de divulgação científica do<br />

INPA<br />

Ciência para tod<strong>os</strong><br />

nº 03, ano 1 (distribuição gratuita) ISSN 19847653<br />

<strong>Mu<strong>da</strong>nças</strong> climáticas<br />

Peixe agrega valor em<br />

aliment<strong>os</strong> e vestuário<br />

<strong>os</strong> <strong>dois</strong> lad<strong>os</strong> <strong>da</strong> <strong>questão</strong><br />

Hortaliças: alimentação<br />

saudável a baixo custo<br />

Construção <strong>da</strong> BR-319<br />

e o impacto ambiental


The Evolution of Biological Organization<br />

as a Function of Information<br />

Ilse Walker<br />

Editora INPA, 2004<br />

Assunto: Theoretical biology-Evolution-Biological Organization<br />

ISBN: 85-211-0021-3<br />

Formato: 21x14 • Páginas: 380 • Peso: 0,415<br />

A Floresta Amazônica nas <strong>Mu<strong>da</strong>nças</strong> Globais<br />

Philip M. Fearnside<br />

Editora INPA, 2003<br />

Assunto: Floresta Amazônica – ec<strong>os</strong>sistema<br />

ISBN: 85-211-0019-1<br />

Formato: 16x23 • Páginas: 134 • Peso: 0,265<br />

Guia de Identificação de Palmeiras de um Fragmento Florestal Urbano<br />

Ires Paula de Andrade Miran<strong>da</strong>, Afonso Rabelo<br />

Editora INPA/ EDUA, 2005<br />

Assunto: Guia de palmeiras no perímetro urbano de Manaus<br />

ISBN: 85-7401-156-8<br />

Formato: 14x16 • Páginas: 228<br />

Biotupé: Meio Físico, Diversi<strong>da</strong>de Biológica e Socio Cultural do<br />

Baixo Rio Negro, Amazônia Central<br />

Organizadores: Edinaldo Nelson, Fábio Aprile, Veridiana Scudeller e Sergio Melo<br />

Editora INPA, 2005<br />

Assunto: Águas pretas, biodiversi<strong>da</strong>de Amazônica, recurs<strong>os</strong> naturais<br />

ISBN: 85-7401-156-8<br />

Formato: 20,5x22,5 • Páginas: 246<br />

Conheça outras publicações em:<br />

http://acta.inpa.gov.br e-mail: editora@inpa.gov.br<br />

fale con<strong>os</strong>co:<br />

fone 92 3643 3030/ 3643 3223 fax 92 3642 3438<br />

Assinatura on line disponível no endereço<br />

http://acta.inpa.gov.br


EDITORIAL<br />

Pesquisas em prol do homem amazônico<br />

G arantir<br />

que a socie<strong>da</strong>de tenha melhor quali<strong>da</strong>de<br />

de vi<strong>da</strong> é uma permanente busca n<strong>os</strong> resultad<strong>os</strong><br />

d<strong>os</strong> estud<strong>os</strong> realizad<strong>os</strong> pel<strong>os</strong> cientistas do Instituto<br />

Nacional de Pesquisas <strong>da</strong> Amazônia (<strong>Inpa</strong>).<br />

Você, nesta terceira edição <strong>da</strong> revista Ciência para<br />

tod<strong>os</strong>, passa a ter conhecimento de uma pequena<br />

m<strong>os</strong>tra do que é feito n<strong>os</strong> laboratóri<strong>os</strong> <strong>da</strong> Instituição.<br />

Exempl<strong>os</strong> disso são <strong>os</strong> projet<strong>os</strong> voltad<strong>os</strong> para ampliar<br />

a quanti<strong>da</strong>de de aliment<strong>os</strong> que vão à mesa d<strong>os</strong> ribeirinh<strong>os</strong>.<br />

Há o estudo com hortaliças não-convencionais,<br />

cultiva<strong>da</strong>s sem agrotóxic<strong>os</strong> e que cabem no orçamento<br />

d<strong>os</strong> amazôni<strong>da</strong>s. Você sabia que existe um projeto de<br />

criação de peixes em cativeiro que apresenta uma tecnologia<br />

de subsistência de cunho social? E que está<br />

sendo implantado em comuni<strong>da</strong>des ribeirinhas e indígenas<br />

<strong>da</strong> região Norte? Pois é, o projeto consiste na<br />

escolha de uma pequena seção de canal de um igarapé<br />

que serve como viveiro para peixes que podem<br />

chegar a atingir 1 kg, em um período de 12 meses.<br />

Falando em pescado, o <strong>Inpa</strong> vem fazendo pesquisas<br />

para aproveitar esse alimento <strong>da</strong> forma mais varia<strong>da</strong> p<strong>os</strong>sível.<br />

Nesse caso, o peixe toma a forma de hambúrguer,<br />

sopa, quibe, linguiça e até picles. Além disso, ao ser<br />

curtido o couro do peixe pode ser utilizado para produzir<br />

roupas, sapat<strong>os</strong>, chapeus, bolsas e outr<strong>os</strong> acessóri<strong>os</strong>.<br />

A prestação de serviç<strong>os</strong> encontra espaço também no<br />

Laboratório de Tubercul<strong>os</strong>e e Hanseníase <strong>da</strong> Instituição,<br />

que funciona como parceiro <strong>da</strong> rede de saúde estadual<br />

e municipal. No laboratório são realiza<strong>da</strong>s análises<br />

de cas<strong>os</strong> de tubercul<strong>os</strong>e de difícil diagn<strong>os</strong>ticação.<br />

Essa edição traz ain<strong>da</strong> uma fotoreportagem sobre<br />

EXPEDIENTE<br />

A<strong>da</strong>lberto Luis Val<br />

Diretor do INPA<br />

Wanderli Pedro Tadei<br />

Vice-diretor do INPA<br />

Sérgio Fonseca Guimarães<br />

Chefe de Gabinete<br />

Estevão Monteiro de Paula<br />

Coordenador de Ações Estratégicas<br />

- COAE<br />

Beatriz Ronchi Teles<br />

Coordenadora de Capacitação<br />

- COCP<br />

Lúcia Yuyama<br />

Coordenadora de Pesquisas e<br />

Projet<strong>os</strong> - COPE<br />

Carl<strong>os</strong> Roberto Bueno<br />

Coordenador de Extensão -<br />

COXT<br />

Tatiana Lima<br />

Coordenação<br />

de Comunicação Social<br />

Leila Ronize (MTB 179/AM)<br />

Jornalista Responsável<br />

Re<strong>da</strong>ção<br />

Ana Célia Ossame<br />

Annyelle Bezerra<br />

Daniel Jor<strong>da</strong>no<br />

Eduardo Gomes<br />

Leila Ronize<br />

Mário Bentes<br />

Tabajara Moreno<br />

Tharcila Martins<br />

Fotografias<br />

Anselmo D’Affonseca<br />

Alberto César Araújo<br />

Eduardo Gomes<br />

Mário Bentes<br />

Tabajara Moreno<br />

alguns d<strong>os</strong> animais mais estranh<strong>os</strong> <strong>da</strong> Amazônia. São<br />

espécimes cataloga<strong>da</strong>s pelo <strong>Inpa</strong>, encontra<strong>da</strong>s em diferentes<br />

partes <strong>da</strong> região e que podem ser vistas, pelo<br />

men<strong>os</strong> boa parte, na Coleção de Invertebrad<strong>os</strong> <strong>da</strong> Coordenação<br />

de Pesquisas em Entomologia, onde são mantid<strong>os</strong>,<br />

com fins de pesquisa, cerca de cinco milhões de<br />

exemplares de inset<strong>os</strong> de dez mil espécies diferentes.<br />

Um alerta para a preservação <strong>da</strong> região vem por meio<br />

de um estudo que avaliou <strong>os</strong> impact<strong>os</strong> ao meio ambiente<br />

na área de influência direta <strong>da</strong> rodovia BR-319. A<br />

pesquisa revela que, devido à migração de pessoas e a<br />

intensificação de ativi<strong>da</strong>des econômicas como a exploração<br />

madeireira e agropecuária, áreas de cinco municípi<strong>os</strong><br />

do sul de Roraima, e também a capital do Estado,<br />

Boa Vista, devem sofrer um crescimento no índice de<br />

desmatamento em função <strong>da</strong> reconstrução <strong>da</strong> estra<strong>da</strong>.<br />

Por outro lado, estud<strong>os</strong> sobre mu<strong>da</strong>nças climáticas<br />

globais estão contribuindo para que as pessoas repensem<br />

seu modo de vi<strong>da</strong> e a maneira como está se<br />

<strong>da</strong>ndo o desenvolvimento <strong>da</strong> humani<strong>da</strong>de, levando à<br />

conclusão de que o modelo de desenvolvimento econômico<br />

e social adotado não é bom para o planeta.<br />

Estud<strong>os</strong> para melhorar a quali<strong>da</strong>de d<strong>os</strong> produt<strong>os</strong><br />

utilizad<strong>os</strong> na alimentação d<strong>os</strong> ribeirinh<strong>os</strong>, projet<strong>os</strong><br />

que atuam no beneficiamento do pescado, seja<br />

na industrialização de nov<strong>os</strong> produt<strong>os</strong> alimentíci<strong>os</strong><br />

ou na curtição de couro, realização de análise de<br />

cas<strong>os</strong> de tubercul<strong>os</strong>e, principalmente em crianças,<br />

alerta para medi<strong>da</strong>s que venham agredir ao meio<br />

ambiente. To<strong>da</strong>s essas contribuições confirmam<br />

o importante papel do <strong>Inpa</strong> no desenvolvimento<br />

<strong>da</strong> região e na valorização do homem amazônico.<br />

Projeto Gráfico<br />

Leila Ronize<br />

Rildo Carneiro<br />

Diagramação<br />

Rildo Carneiro (DRT-004/AM)<br />

Publici<strong>da</strong>de<br />

Márcio Alexandre<br />

Leandro Mery<br />

Fot<strong>os</strong> <strong>da</strong> capa:<br />

Anselmo D’Affonseca<br />

e Tabajara Moreno<br />

3


Sumário<br />

4<br />

Meio ambiente em alerta<br />

O termo mu<strong>da</strong>nças climáticas globais ganhou<br />

destaque no início de 2007, quando saiu o último<br />

relatório do Painel Intergovernamental de<br />

<strong>Mu<strong>da</strong>nças</strong> <strong>Climáticas</strong>. Ele contribui para repensarm<strong>os</strong><br />

n<strong>os</strong>so modo de vi<strong>da</strong>, a maneira como<br />

está se <strong>da</strong>ndo o desenvolvimento <strong>da</strong> humani<strong>da</strong>de.<br />

Segundo o pesquisador Antonio Ocimar<br />

Manzi, isso n<strong>os</strong> faz concluir que o modelo de<br />

desenvolvimento econômico e social que adotam<strong>os</strong><br />

não é sustentável para o planeta. Tem<strong>os</strong><br />

que mu<strong>da</strong>r a maneira com que tratam<strong>os</strong> o meio<br />

ambiente, inclusive para sobrevivência de muitas<br />

espécies. O lado p<strong>os</strong>itivo desse cenário é o<br />

fato desses estud<strong>os</strong> gerarem pressões sociais<br />

pela conservação <strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> Amazônia<br />

e provocarem uma nova atitude governamental<br />

e empresarial sobre a n<strong>os</strong>sa região.<br />

Peixe n<strong>os</strong>so de todo dia<br />

O pescado que vai à mesa d<strong>os</strong> ribeirinh<strong>os</strong><br />

foi objeto de estudo d<strong>os</strong> pesquisadores<br />

do <strong>Inpa</strong> que vislumbraram<br />

a p<strong>os</strong>sibili<strong>da</strong>de de transformar <strong>os</strong> peixes<br />

d<strong>os</strong> ri<strong>os</strong> amazônic<strong>os</strong> em produt<strong>os</strong><br />

industrializad<strong>os</strong>. A iniciativa fez parte<br />

do projeto “Alternativas de utilização<br />

de pescado na Amazônia” cuja ideia<br />

genuína era <strong>da</strong>r finali<strong>da</strong>de comercial a<br />

peixes regionais de baixo valor financeiro.<br />

14<br />

40<br />

10<br />

Hortaliças do bem<br />

Há mais de três déca<strong>da</strong>s, o <strong>Inpa</strong> desenvolve<br />

estud<strong>os</strong> com hortaliças não-convencionais.<br />

As hortaliças são consumi<strong>da</strong>s em<br />

comuni<strong>da</strong>des indígenas e, além de serem<br />

mais nutritivas, p<strong>os</strong>suem proprie<strong>da</strong>des<br />

medicinais. O consumo desse produto ultrapassa<br />

oito milhões de tonela<strong>da</strong>s anuais<br />

no Brasil, exige mão-de-obra especializa<strong>da</strong>,<br />

o que encarece o produto.


26<br />

30<br />

46<br />

18<br />

22<br />

Programa de Criação<br />

Intensiva de Matrinxã em<br />

Igarapés garante alimento<br />

e ren<strong>da</strong> para ribeirinh<strong>os</strong> e<br />

indígenas do Amazonas<br />

Laboratório de Tubercul<strong>os</strong>e e<br />

Hanseníase do <strong>Inpa</strong> trabalha<br />

como parceiro <strong>da</strong> rede de saúde<br />

estadual e municipal<br />

Lei regulamenta ética no uso de<br />

animais para experimentação em<br />

laboratório<br />

Coleção de Invertebrad<strong>os</strong> <strong>da</strong><br />

Coordenação de Pesquisas em<br />

Entomologia mantém cinco milhões<br />

de exemplares de inset<strong>os</strong><br />

<strong>Inpa</strong> contabiliza 40 pedid<strong>os</strong> de patentes em<br />

an<strong>da</strong>mento junto ao Instituto Nacional <strong>da</strong><br />

Proprie<strong>da</strong>de Industrial (INPI)<br />

5


Ecologia<br />

6<br />

Amazônia ain<strong>da</strong><br />

grande floresta<br />

TABAJARA MORENO<br />

Raio X<br />

A pesquisadora Ilse Walker p<strong>os</strong>sui graduação<br />

em Zoologia, pela Universitat Zurich (1953),<br />

mestrado em Genética Dr<strong>os</strong>ophila, pela Universitat<br />

Zurich (1955) e doutorado em Genética<br />

(Dr<strong>os</strong>ophila), pela Universitat Zurich (1959).<br />

Atualmente é Pesquisadora do Instituto Nacional<br />

de Pesquisas <strong>da</strong> Amazônia (<strong>Inpa</strong>). Tem<br />

experiência na área de Ecologia , com ênfase<br />

em Ecologia Aquática. É autora do livro “The<br />

evolution of biological organization as a function<br />

of information”, editado pelo <strong>Inpa</strong>. A obra<br />

O<br />

imenso desejo de<br />

conhecer as florestas<br />

tropicais trouxe<br />

essa suíça a desbravar<br />

a Floresta Amazônica.<br />

Hoje, 33 an<strong>os</strong> após ter<br />

escolhido viajar pelo<br />

mundo e estu<strong>da</strong>r a evolução<br />

<strong>da</strong>s espécies em<br />

seu habitat, a pesquisadora<br />

Ilse Walker resolveu<br />

se ap<strong>os</strong>entar <strong>da</strong> “vi<strong>da</strong><br />

aventureira”, fincar<br />

raiz no Amazonas e se<br />

dedicar a colocar no papel<br />

o resultado de seus<br />

estud<strong>os</strong>. Mas, continuar<br />

na ativa é uma reali<strong>da</strong>de<br />

para essa pesquisadora,<br />

tanto que ela aproveita<br />

para man<strong>da</strong>r seu recado,<br />

nessa entrevista exclusiva,<br />

concedi<strong>da</strong> à repórter<br />

Leila Ronize, em sua<br />

sala, rodea<strong>da</strong> por livr<strong>os</strong><br />

e papeis, que guar<strong>da</strong>m<br />

resultad<strong>os</strong> inédit<strong>os</strong> de<br />

an<strong>os</strong> de pesquisa.<br />

discute o papel <strong>da</strong> informação n<strong>os</strong> estud<strong>os</strong> <strong>da</strong><br />

evolução <strong>da</strong> espécie e destaca a importância<br />

<strong>da</strong> cooperação nesse processo, embora também<br />

reconheça o papel <strong>da</strong> competição, como<br />

propunha a síntese neo<strong>da</strong>rwinista. Surge dessa<br />

maneira, na Amazônia, um avanço no debate<br />

sobre a teoria <strong>da</strong> evolução onde a simples<br />

competição (usa<strong>da</strong> como exemplo pel<strong>os</strong> neoliberais<br />

que defendem o ajuste <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de<br />

apenas pelo mercado) não justifica mais<br />

a fantástica complexi<strong>da</strong>de do mundo vivo.<br />

P


é a única<br />

rotegi<strong>da</strong><br />

Revista do <strong>Inpa</strong>: São mais de 30 an<strong>os</strong> de serviç<strong>os</strong><br />

prestad<strong>os</strong> ao <strong>Inpa</strong>. A senhora poderia<br />

n<strong>os</strong> elencar quais foram em sua opinião seus<br />

trabalh<strong>os</strong> mais importantes nesse período?<br />

Ilse Walker: Tem o livro, que resume todo<br />

o trabalho teórico, fruto de minhas pesquisas.<br />

Sempre publiquei trabalh<strong>os</strong> teóric<strong>os</strong> ao lado<br />

do trabalho do campo <strong>da</strong> ecologia, como é o<br />

caso do estudo sobre Tarumã-Mirim. Concentrei<br />

minha pesquisa na teoria <strong>da</strong> evolução, ou<br />

seja, descobrir como funciona a mecânica <strong>da</strong><br />

evolução. Quis saber como funcionava. Seleção<br />

é básica para tudo, sempre tem que ter. [O<br />

livro foi publicado no final de 2005, no <strong>Inpa</strong>].<br />

Revista do <strong>Inpa</strong>: Desde a publicação<br />

do seu livro houve mu<strong>da</strong>nças<br />

n<strong>os</strong> resultad<strong>os</strong> de seus estud<strong>os</strong>?<br />

Ilse Walker: A ciência não é tão rápi<strong>da</strong>,<br />

você precisa em geral de uma geração,<br />

até que alguma coisa tenha raiz. Estava incluindo,<br />

além de Charles Darwin, o Lamarck<br />

e outr<strong>os</strong> pesquisadores [tod<strong>os</strong> trabalham a<br />

teoria <strong>da</strong> Evolução]. Hoje em dia tem<strong>os</strong> um<br />

dogma <strong>da</strong>rwinista. Só existe Darwin. Entender<br />

e ampliar as teorias, principalmente a mecânica<br />

de como funciona é muito importante.<br />

A evolução é uma mecânica extremamente<br />

sofistica<strong>da</strong>. Foi isso que eu quis investigar.<br />

Revista do <strong>Inpa</strong>: A Amazônia sempre é<br />

vista com fascínio por aquelas pessoas<br />

que ouvem falar de suas riquezas. A senhora<br />

conheceu de perto essa biodiversi<strong>da</strong>de.<br />

Na sua opinião, quais foram as<br />

suas maiores descobertas na Amazônia?<br />

Ilse Walker: Eu estive quatro an<strong>os</strong> na África,<br />

lá fiz biologia marítima, trabalhando com<br />

microorganism<strong>os</strong> marítim<strong>os</strong> que criei no laboratório.<br />

Já estava ac<strong>os</strong>tuma<strong>da</strong> à floresta tropical,<br />

mas, mesmo assim, quando cheguei aqui,<br />

foi uma fascinação, uma maravilha trabalhar<br />

com faunas e igarapés. A Amazônia é a única<br />

grande floresta que ain<strong>da</strong> existe, por isso é<br />

a única que aparentemente é suficientemente<br />

protegi<strong>da</strong>. Tudo era praticamente floresta<br />

alta antes que o ser humano descobrisse o<br />

fogo e queimasse as florestas para criar gado.<br />

Revista do <strong>Inpa</strong>: O que fazer para garantir<br />

que a beleza e o fascínio continuem?<br />

Ilse Walker: O povo tem participação importante<br />

nesse futuro. Há duas saí<strong>da</strong>s: ou<br />

você precisa de uma ditadura com um serviço<br />

militar muito severo para proteger a floresta<br />

ou você vive em uma democracia e consegue<br />

convencer a população. Essa segun<strong>da</strong><br />

é a opção. Deveríam<strong>os</strong> gritar para o povo no<br />

centro de Manaus, nas ci<strong>da</strong>des, n<strong>os</strong> mei<strong>os</strong> de<br />

comunicação. Você sabe por que não chove<br />

mais? Por que desmatam<strong>os</strong> tudo. Onde tem<br />

asfalto e cimento não se formam nuvens, que<br />

só estão em cima de florestas e vegetações.<br />

Revista do <strong>Inpa</strong>: A senhora falou que<br />

as pessoas precisam gritar para tentar<br />

parar algumas ações que estão agredindo<br />

ao meio ambiente. Como m<strong>os</strong>trar<br />

para elas que a situação é preocupante?<br />

Ilse Walker: To<strong>da</strong> a ci<strong>da</strong>de está crescendo.<br />

A floresta está emitindo água o dia inteiro, é<br />

só perceber as nuvens se formando em cima<br />

<strong>da</strong> floresta. A metade do peso de uma árvore é<br />

água. Então, a floresta está estocando milhões<br />

de litr<strong>os</strong> de água. É só parar e observar na Ponta<br />

Negra para verificarm<strong>os</strong> que as primeiras<br />

nuvens sempre se formam em cima <strong>da</strong> mata,<br />

mas sobre a ci<strong>da</strong>de não tem essas nuvens.<br />

Revista do <strong>Inpa</strong>: Então ca<strong>da</strong> um tem que<br />

fazer sua parte: o povo precisa gritar, <strong>os</strong><br />

mei<strong>os</strong> de comunicação denunciar, o governo<br />

executar. E qual o papel do pesquisador?<br />

Ilse Walker: O pesquisador faz pesquisa,<br />

por isso é preciso ter uma interação<br />

forte entre <strong>os</strong> representantes do povo e <strong>os</strong><br />

7


8<br />

pesquisadores. Jornalistas e polític<strong>os</strong> deveriam<br />

ouvir <strong>os</strong> pesquisadores que têm as informações<br />

e aju<strong>da</strong>riam com seus estud<strong>os</strong>. O<br />

problema é que o pesquisador usa uma linguagem<br />

que o povo não consegue ler, afinal<br />

ciência é trabalhar com física, matemática,<br />

anatomia, fisiologia. Cabe a<strong>os</strong> polític<strong>os</strong> procurar<br />

informação mais clara sobre como proteger<br />

a floresta e a<strong>os</strong> mei<strong>os</strong> de comunicação<br />

traduzir esse conhecimento à população.<br />

Revista do <strong>Inpa</strong>: Há falta de valorização<br />

do pesquisador e quais as dificul<strong>da</strong>des<br />

para desenvolver a pesquisa?<br />

Ilse Walker: Não há falta de valorização geral<br />

<strong>da</strong> pesquisa, mas o mundo é complexo, o<br />

ser humano é complexo. Uma socie<strong>da</strong>de hoje<br />

em dia, com to<strong>da</strong> essa tecnologia torna a situação<br />

ain<strong>da</strong> mais complexa. Por exemplo, o<br />

computador que vi é tão grande como um prédio<br />

e agora é do tamanho de um chip ou um<br />

pen drive. Hoje em dia to<strong>da</strong><br />

a bíblia pode ser coloca<strong>da</strong> em<br />

um chip e tudo aconteceu em<br />

uma geração. Até <strong>os</strong> pesquisadores<br />

especializad<strong>os</strong> acabam<br />

não tendo como seguir<br />

isso. Até por que a pesquisa<br />

é desenvolvia no campo, onde<br />

se gasta mais tempo. Além<br />

disso, hoje ninguém tem uma<br />

visão geral de tudo, pois isso<br />

significa não saber na<strong>da</strong> sobre<br />

<strong>os</strong> detalhes. A vi<strong>da</strong> é limita<strong>da</strong>,<br />

a movimentação e<br />

o cérebro são limitad<strong>os</strong>, por<br />

isso há uma necessi<strong>da</strong>de de<br />

se especializar em um assunto.<br />

Você precisa estu<strong>da</strong>r<br />

a matéria em sua profundi<strong>da</strong>de<br />

e não um pouquinho ali ou aqui.<br />

Revista do <strong>Inpa</strong>: Quais as consequências<br />

mais diretas de não ter<br />

acesso às explicações científicas?<br />

Ilse Walker: Quando as pessoas não têm<br />

domínio sobre to<strong>da</strong>s informações, voltam-se<br />

contra elas. É o que acontece com <strong>os</strong> fanátic<strong>os</strong><br />

<strong>da</strong> religião. Ca<strong>da</strong> vez mais religiões e teorias<br />

tentam buscar uma resp<strong>os</strong>ta mais fácil. Viajei<br />

na Etiópia, no Egito, no Iraque e, como mulher,<br />

sozinha, podia an<strong>da</strong>r em qualquer lugar,<br />

não lembro de mulher com burca. Hoje tudo<br />

mudou. N<strong>os</strong> Estad<strong>os</strong> Unid<strong>os</strong> há <strong>os</strong> evangélic<strong>os</strong><br />

contra a evolução, que não aceitam falar em<br />

moléculas, manejar moléculas. Quando não se<br />

tem resp<strong>os</strong>tas racionais se buscam resp<strong>os</strong>tas<br />

em outr<strong>os</strong> lugares ou se criam resp<strong>os</strong>tas místicas.<br />

Você sabe o que é um dia? Ora é a rotação<br />

<strong>da</strong> terra em seu eixo. Tem um sistema<br />

matemático para fazer esses cálcul<strong>os</strong>. Então,<br />

Você sabe por que<br />

não chove mais?<br />

Por que desmatam<strong>os</strong><br />

tudo. Onde<br />

tem asfalto e<br />

cimento não se<br />

forma nuvens, que<br />

só estão em cima<br />

de florestas e<br />

vegetações<br />

um dia é definido pela rotação <strong>da</strong> terra ao redor<br />

do seu eixo. Sete dias é sete vezes a terra<br />

fazendo essa rotação. O criacionista acredita<br />

que todo mundo foi feito em seis dias. O dia<br />

do Deus pode ser alguns milhões de an<strong>os</strong>. Se<br />

você é religi<strong>os</strong>a um dia pode ser milhões de<br />

an<strong>os</strong>, um dia de quem busca uma informação<br />

racional tem relação com a rotação <strong>da</strong> terra.<br />

Revista do <strong>Inpa</strong>: Muitas pessoas reconhecem<br />

a riqueza <strong>da</strong> Amazônia, mas criticam<br />

a “intocabili<strong>da</strong>de” <strong>da</strong> floresta. Como<br />

explorar a Amazônia sem depredá-la?<br />

Ilse Walker: Acho a ideia erra<strong>da</strong>. N<strong>os</strong>sa espécie<br />

já registra mais de um milhão de an<strong>os</strong>.<br />

E sempre estava dominando <strong>os</strong> ec<strong>os</strong>sistemas.<br />

Agora, realmente há queima<strong>da</strong>s de grandes<br />

florestas no mundo inteiro. A Amazônia ain<strong>da</strong><br />

é a última que não foi queima<strong>da</strong>, por conta<br />

de esforç<strong>os</strong> de preservação, caso contrário seria<br />

a metade. Além disso há um esforço mundial,<br />

a globalização trouxe<br />

um avanço e o que acontece<br />

em qualquer lugar, tod<strong>os</strong> sabem.<br />

Mas, se você tira o ser<br />

humano não é mais normal.<br />

O ser humano caça cutias e<br />

se não caça, vai ter cutias<br />

demais e isso vai mexer no<br />

equilíbrio, e as plantas serão<br />

destruí<strong>da</strong>s. Outro exemplo:<br />

o papagaio vive 50 an<strong>os</strong> ou<br />

mais até, ele é territorial,<br />

só pode botar o ovo se tem<br />

território. Se você não mata<br />

nenhum papagaio, ele vive<br />

60 an<strong>os</strong> e aí não haverá território<br />

para tod<strong>os</strong>. Isso não<br />

é natural. Você tem que proteger<br />

as espécies ameaça<strong>da</strong>s,<br />

as plantas, <strong>os</strong> animais. Mas não retirar o<br />

ser humano como aconteceu com o caboclo,<br />

que de um dia para outro não teve mais ren<strong>da</strong>.<br />

O ser humano faz parte do ec<strong>os</strong>sistema.<br />

Revista do <strong>Inpa</strong>: A senhora tem uma história<br />

incrível de coragem e ousadia. Saiu<br />

<strong>da</strong> Suíça em busca de aventura. Viajou por<br />

muit<strong>os</strong> lugares. Veio parar na Amazônia, por<br />

onde se apaixonou e resolveu abraçar a pesquisa<br />

para o resto <strong>da</strong> sua vi<strong>da</strong>, contribuindo<br />

para o desenvolvimento <strong>da</strong> região. Quais<br />

seus plan<strong>os</strong> “aventureir<strong>os</strong>” para o futuro?<br />

Ilse Walker: G<strong>os</strong>to muito de viajar de vez<br />

em quando, g<strong>os</strong>to de saber como funciona a<br />

natureza. Mas não tenho mais plan<strong>os</strong> aventureir<strong>os</strong>,<br />

quero escrever o que está na gaveta, o<br />

resultado de pesquisas que já existem e devem<br />

ser publica<strong>da</strong>s. P<strong>os</strong>so dizer que talvez venha a<br />

fazer uma nova edição do livro, mas na minha<br />

i<strong>da</strong>de a gente pensa em ficar mais tranquila.


ParaíSo do PEScado<br />

10<br />

Incrementando o<br />

cardápio regional<br />

FOTOS: TABAJARA MORENO<br />

> Por Tabajara Moreno<br />

Frito, cozido, assado e até mesmo cru. O<br />

peixe é um alimento que atende a muit<strong>os</strong><br />

pala<strong>da</strong>res. Em todo o Brasil, a média de<br />

consumo por pessoa é de 20g ao dia, enquanto<br />

na região amazônica é de 369g. O hábito e as<br />

receitas com o pescado ocupam lugar de destaque<br />

à mesa. Quem nunca ouviu falar <strong>da</strong>s caldeira<strong>da</strong>s<br />

de tucunaré e tambaqui? Do matrinxã<br />

assado na brasa e comido com farinha do uarini?<br />

Ou do pacu frito? As receitas são diversas<br />

e bem sucedi<strong>da</strong>s e foi, justamente, esse sabor<strong>os</strong>o<br />

sucesso que instigou cientistas do Instituto<br />

Nacional de Pesquisas <strong>da</strong> Amazônia (<strong>Inpa</strong>)<br />

a estu<strong>da</strong>r novas maneiras de consumir o peixe.<br />

O beneficiamento do<br />

pescado desenvolvido<br />

n<strong>os</strong> laboratóri<strong>os</strong> do <strong>Inpa</strong>,<br />

agrega um valor muito<br />

grande ao alimento<br />

Já não bastasse ter o pescado servido à mo<strong>da</strong><br />

tradicional, <strong>os</strong> pesquisadores Edson Lessi, Nilson<br />

Carvalho, Paulo Falcão e Rogério de Jesus, <strong>da</strong> Coordenação<br />

de Pesquisas em Tecnologia de Alimento<br />

(CPTA) do <strong>Inpa</strong>, vislumbraram a p<strong>os</strong>sibili<strong>da</strong>de<br />

de transformar <strong>os</strong> peixes d<strong>os</strong> ri<strong>os</strong> amazônic<strong>os</strong> em<br />

produt<strong>os</strong> industrializad<strong>os</strong>. A iniciativa fez parte do<br />

projeto “Alternativas de utilização de pescado na<br />

Amazônia” cuja ideia genuína era <strong>da</strong>r finali<strong>da</strong>de comercial<br />

a peixes regionais de baixo valor financeiro.<br />

A desvalorização desses peixes se deve a presença<br />

excessiva de espinhas. Na lista, inclui-se espécies<br />

como o aracu. “Tratam<strong>os</strong> o peixe de baixo valor comercial<br />

no laboratório e estu<strong>da</strong>m<strong>os</strong> a melhor maneira<br />

de transformá-lo em um produto que tenha mercado


de consumo. Com isso, o peixe que é pouco consumido<br />

pela população, ou desperdiçado na época de<br />

abundância, pode ser convertido em um produto industrial<br />

valorizado financeiramente”, conta Carvalho.<br />

Mas além <strong>da</strong>s espécies de baixo valor comercial,<br />

o estudo também desenvolveu produt<strong>os</strong> a partir<br />

de peixes de grande aceitação popular, como<br />

o tambaqui. “Nesse caso, o produto deve ser feito<br />

com animais criad<strong>os</strong> em cativeiro”, explica Carvalho.<br />

Desde 1987, quando o projeto começou,<br />

até hoje já foram elaborad<strong>os</strong> mais de 12 produt<strong>os</strong><br />

com potencial de industrialização, derivad<strong>os</strong> do<br />

músculo separado mecanicamente, o filé do peixe.<br />

Entre <strong>os</strong> quitutes elaborad<strong>os</strong> com o pescado amazônico<br />

estão o picadinho, o fishburguer, o palito,<br />

a linguiça, o surubim defumado, o pirarucu defumado<br />

a frio, a sopa desidrata<strong>da</strong> de piranha, o macarrão<br />

de farinha de peixe e <strong>os</strong> derivad<strong>os</strong> congelad<strong>os</strong>:<br />

quibe, picles, bife e “nugguetes” empanad<strong>os</strong>.<br />

“Tod<strong>os</strong> esses produt<strong>os</strong> industrializad<strong>os</strong> são feit<strong>os</strong><br />

depois que a espinha é separa<strong>da</strong> do peixe. Esse traba-<br />

Jorge<br />

Rebello, que<br />

trabalha com<br />

curtimento de<br />

pele há mais<br />

de 62 an<strong>os</strong>.<br />

Os ri<strong>os</strong> <strong>da</strong> Amazônia<br />

p<strong>os</strong>suem cerca de cinco<br />

mil espécies de peixes.<br />

Apenas dez delas concentram<br />

90% do consumo na<br />

região Norte. Para ampliar<br />

esse mercado, um<br />

projeto de pesquisa do<br />

<strong>Inpa</strong> criou produt<strong>os</strong> industrializad<strong>os</strong><br />

feit<strong>os</strong> com<br />

peixes amazônic<strong>os</strong><br />

lho de beneficiamento do pescado, que desenvolvem<strong>os</strong><br />

n<strong>os</strong> laboratóri<strong>os</strong> do <strong>Inpa</strong>, agrega um valor muito<br />

grande ao alimento. O quilo do pirarucu, por exemplo,<br />

que é comercializado por cerca de R$ 17 a R$ 20, in<br />

natura após o beneficiamento defumado, pode passar<br />

a ser comercializado por até R$ 40”, diz Carvalho.<br />

Os process<strong>os</strong> de industrialização do peixe seguem<br />

model<strong>os</strong> consagrad<strong>os</strong> pela indústria alimentícia<br />

mundial, mas o projeto de pesquisa realizado pelo<br />

CPTA inovou ao inserir na receita industrial o cardume<br />

amazônico bem avaliado pelo g<strong>os</strong>to popular.<br />

Além disso, o alimento convertido em produto<br />

de consumo tem aceitação para um mercado<br />

diferenciado. “O peixe é um alimento<br />

cuja comercialização é bastante delica<strong>da</strong>. Ele<br />

estraga com relativa facili<strong>da</strong>de. Dependendo<br />

<strong>da</strong>s condições de captura, manuseio e armazenamento,<br />

o pescado pode deteriorar mais<br />

rapi<strong>da</strong>mente diminuindo a vi<strong>da</strong> útil para o<br />

seu consumo. Quando ele sofre o processo de<br />

industrialização e é congelado ganha uma durabili<strong>da</strong>de<br />

bem maior”, ressalta o pesquisador.<br />

11


12<br />

Estudo aponta restrição no consumo do peixe<br />

Dad<strong>os</strong> oriund<strong>os</strong> de estud<strong>os</strong> produzid<strong>os</strong> <strong>Inpa</strong>, na<br />

Universi<strong>da</strong>de Federal do Amazonas (Ufam) e no Instituto<br />

Brasileiro do Meio Ambiente e d<strong>os</strong> Recurs<strong>os</strong> Naturais<br />

Renováveis (IBAMA) demonstram que, apesar<br />

de o rio Amazonas p<strong>os</strong>suir cerca de três mil diferentes<br />

tip<strong>os</strong> de peixes, o consumo deles como alimento<br />

na região norte, é restrito a apenas 36 espécies.<br />

As dez espécies de peixe mais importantes: jaraqui,<br />

tambaqui, curimatã, pacu, matrinxã, piramutaba,<br />

aracu, sardinha, tucunaré e mapará, respondem a<br />

90% <strong>da</strong> produção que chega a mesa d<strong>os</strong> amazôni<strong>da</strong>s.<br />

Conforme <strong>da</strong>d<strong>os</strong> do IBAMA, cerca de 210 mil pescadores<br />

profissionais trabalham com a ativi<strong>da</strong>de<br />

Linha de produção<br />

pesqueira na Amazônia. Os númer<strong>os</strong> também indicam<br />

que 10% <strong>da</strong> população ribeirinha usa a pesca de<br />

subsistência para obter sua alimentação diária, o que<br />

corresponde, aproxima<strong>da</strong>mente, a um milhão de pessoas<br />

trabalhando, direta ou indiretamente, no setor.<br />

Do total de 51.000 tonela<strong>da</strong>s produzi<strong>da</strong>s anualmente<br />

na região, quase 70% tem como destino<br />

Manaus, sendo que o consumo do alimento<br />

na ci<strong>da</strong>de <strong>os</strong>cila entre 100g e 200g por pessoa<br />

diariamente. Número alto, mas ain<strong>da</strong> assim, inferior<br />

ao registrado em algumas comuni<strong>da</strong>des<br />

ribeirinhas do interior do Amazonas, onde o<br />

peixe tem importância superior, atingindo a<br />

marca de consumo de 300g por pessoa ao dia.<br />

Picadinho de peixe: As espinhas do peixe são separa<strong>da</strong>s mecanicamente por uma máquina<br />

industrial, o filé é moído e embalado em porções de 1kg, e depois congelado.<br />

Fishburguer: Feito com carne de peixe tritura<strong>da</strong> e condiment<strong>os</strong> selecionad<strong>os</strong> em quanti<strong>da</strong>des<br />

predetermina<strong>da</strong>s, o fishburguer é semelhante ao hambúrguer de carne.<br />

Palito de Peixe: O filé do peixe é triturado e temperado. Depois de mol<strong>da</strong>d<strong>os</strong> <strong>os</strong> palit<strong>os</strong><br />

são apresentad<strong>os</strong> em pequenas tiras de 2 x 10 centímetr<strong>os</strong>, empanad<strong>os</strong> em clara de ov<strong>os</strong><br />

e farinha de pão torrado, sendo em segui<strong>da</strong> congelado.<br />

Quibe de Peixe: Elaborado a partir <strong>da</strong> carne de pescado tritura<strong>da</strong>, adiciona<strong>da</strong> de condiment<strong>os</strong><br />

apropriad<strong>os</strong>, o quibe de peixe é semelhante ao tradicional quibe de carne.<br />

Bife de Peixe: O Bife é feito a partir <strong>da</strong> carne tritura<strong>da</strong>, condimenta<strong>da</strong>, mol<strong>da</strong><strong>da</strong> e<br />

congela<strong>da</strong>. Assim como <strong>os</strong> demais produt<strong>os</strong>, pode ser consumido juntamente com arroz,<br />

feijão e sala<strong>da</strong>.<br />

“Nugguetes” Empanad<strong>os</strong>: Carne tritura<strong>da</strong> de peixe e alguns condiment<strong>os</strong>. Mol<strong>da</strong>do na<br />

forma de pequen<strong>os</strong> quadrad<strong>os</strong> de 7 x 5 centímetr<strong>os</strong>, <strong>os</strong> empanad<strong>os</strong> sofrem uma pré-fritura<br />

por cerca de 30 segund<strong>os</strong> e depois são congelad<strong>os</strong>.<br />

Sopa desidrata<strong>da</strong> de piranha: A sopa é um alimento em pó instantâneo preparado a<br />

partir de carne de piranha. A sopa instantânea é elabora<strong>da</strong> com ingredientes desidratad<strong>os</strong><br />

<strong>da</strong> região amazônica, sem conservantes e sem glúten.<br />

Pirarucu defumado a frio: Produto feito a partir do filé de pirarucu proveniente d<strong>os</strong><br />

plan<strong>os</strong> de manejo comunitári<strong>os</strong> <strong>da</strong> Amazônia. O processo é realizado em forno de defumação<br />

dotado com controle de temperatura e veloci<strong>da</strong>de <strong>da</strong> fumaça.<br />

Surubim defumado: Filé de surubim sem pele, salmourado, drenado e defumado a frio<br />

durante três horas em defumador industrial com temperatura controla<strong>da</strong> de 42 o C.<br />

Linguiça: Feito a partir de peixes cuja característica proteica consegue a formação de<br />

gel “kamaboko”, assemelhando-se a<strong>os</strong> produt<strong>os</strong> japoneses como “kani-kama”. Pode ser<br />

servido como petisco e em sala<strong>da</strong>s.<br />

Picles: Peixes como sardinha, jaraqui, curimatã, branquinha, aracu dentre outr<strong>os</strong>, são<br />

submetid<strong>os</strong> ao processo de conservação sob o efeito <strong>da</strong> combinação sal e ácido acético<br />

contido no vinagre. Ele é embalado dentro de recipientes adequad<strong>os</strong> de vidro e adicionado<br />

de uma salmoura quente feita com vinagre comum de cozinha, água e sal.


Carvalho lembra que graças ao estudo do <strong>Inpa</strong> o peixe que<br />

é pouco consumido pela população, pode ser convertido em<br />

um produto industrial valorizado financeiramente<br />

O couro do peixe também pode ser utilizado para produzir<br />

roupas, sapat<strong>os</strong>, chapeus e outr<strong>os</strong> acessóri<strong>os</strong><br />

Na mo<strong>da</strong> com<br />

Couro de Peixe<br />

Destaque <strong>da</strong> gastronomia na região Norte<br />

do Brasil, o peixe também pode brilhar<br />

em outras mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>des. Ao ser curtido,<br />

o couro do peixe pode ser utilizado para<br />

produzir roupas, sapat<strong>os</strong>, chapeus e outr<strong>os</strong><br />

acessóri<strong>os</strong>. As primeiras am<strong>os</strong>tras disso integraram<br />

o projeto “Utilização de pele de<br />

peixe de água doce para curtimento”, desenvolvido<br />

há 15 an<strong>os</strong> na CPTA do <strong>Inpa</strong>.<br />

Quem teme usar algum objeto ou acessório<br />

que remeta ao pitiú do peixe, pode<br />

se tranquilizar. No decorrer do processo<br />

de curtimento, o cheiro característico do<br />

pescado vai se diluindo até desaparecer.<br />

Dependendo <strong>da</strong> espécie, o curtimento do<br />

couro pode demorar um período de quatro<br />

a quarenta dias para ser finalizado.<br />

N<strong>os</strong> process<strong>os</strong> padrões, a pele é submeti<strong>da</strong><br />

a 14 etapas de curtimento, mas algumas<br />

experimentações feitas no <strong>Inpa</strong> já<br />

conseguiram reduzir essas etapas em sete.<br />

“A redução foi alcança<strong>da</strong> apenas com a eliminação<br />

de alguns tip<strong>os</strong> de reagentes de<br />

produt<strong>os</strong> químic<strong>os</strong> e acrescentando outr<strong>os</strong>.<br />

Com a pirarara conseguim<strong>os</strong> reduzir o curtimento<br />

em apenas quatro etapas”, relata<br />

o técnico Jorge Rebello, que trabalha com<br />

curtimento de pele há mais de 62 an<strong>os</strong>.<br />

O curtimento de couro de peixe no <strong>Inpa</strong><br />

começou com o propósito de <strong>da</strong>r utili<strong>da</strong>de<br />

a uma matéria prima a qual é despeja<strong>da</strong><br />

em tonela<strong>da</strong>s n<strong>os</strong> ri<strong>os</strong> e lixões <strong>da</strong>s ci<strong>da</strong>des<br />

<strong>da</strong> região amazônica. Em Manaus, onde<br />

o projeto começou, a ativi<strong>da</strong>de pesqueira<br />

é responsável pelo despejo de cerca de<br />

500 kg por dia de pele de peixe no rio.<br />

Além de prejudicial ao meio ambiente,<br />

o despejo ignora o potencial econômico<br />

de geração de emprego e ren<strong>da</strong> a partir <strong>da</strong><br />

exploração comercial do couro de peixe.<br />

Contudo, isso está prestes a mu<strong>da</strong>r com a<br />

implantação, em Manaus, de um Centro Tecnológico<br />

Piloto em Curtimento de Cour<strong>os</strong>.<br />

O projeto foi aprovado pela Superintendência<br />

<strong>da</strong> Zona Franca de Manaus (Suframa)<br />

em outubro de 2007 e deve entrar em<br />

funcionamento em julho de 2010. O trabalho<br />

de implantação do centro será coordenado<br />

pelo pesquisador <strong>da</strong> CPTA do <strong>Inpa</strong>,<br />

Nilson Carvalho, e será feito em parceria<br />

com a Secretaria de Estado de Produção<br />

Rural do Amazonas (Sepror/AM) e empresári<strong>os</strong><br />

do setor pesqueiro do Amazonas.<br />

13


HortaliçaS altErnativaS<br />

14<br />

Potencial nutricional e<br />

medicinal ao alcance <strong>da</strong>s<br />

> Por annyelle bezerra e eduardo GoMes<br />

No cenário atual, onde a luta “contra a balança” se<br />

contrasta com a corri<strong>da</strong> pela erradicação <strong>da</strong> desnutrição,<br />

surge na Amazônia uma p<strong>os</strong>sibili<strong>da</strong>de<br />

de alimentação saudável e a baixo custo. Hortaliças<br />

cultiva<strong>da</strong>s sem agrotóxic<strong>os</strong> e que cabem no orçamento<br />

d<strong>os</strong> amazôni<strong>da</strong>s. Pode parecer comercial de supermercado,<br />

mas não é. Trata-se <strong>da</strong>s hortaliças alternativas,<br />

ou não-convencionais, como são mais conheci<strong>da</strong>s,<br />

detentoras de elevado valor nutricional, baixo custo<br />

de produção e muito a<strong>da</strong>ptáveis ao clima amazônico.<br />

Há mais de três déca<strong>da</strong>s o Instituto Nacional de<br />

Pesquisas <strong>da</strong> Amazônia (<strong>Inpa</strong>), desenvolve estud<strong>os</strong><br />

com hortaliças não-convencionais. Riqueza nutricio-<br />

nal e proprie<strong>da</strong>des medicinais são algumas <strong>da</strong>s vantagens<br />

apresenta<strong>da</strong>s pelas hortaliças alternativas, pouco<br />

conheci<strong>da</strong>s pela população urbana <strong>da</strong> região Amazônica.<br />

Essas hortaliças c<strong>os</strong>tumam ser mais consumi<strong>da</strong>s<br />

em comuni<strong>da</strong>des indígenas e pela população ribeirinha.<br />

Apesar <strong>da</strong> acessibili<strong>da</strong>de financeira e capaci<strong>da</strong>de<br />

de a<strong>da</strong>ptação, as hortaliças não-convencionais - algumas<br />

provenientes de outr<strong>os</strong> países - são cultiva<strong>da</strong>s<br />

apenas para fins de subsistência, prevalecendo, em<br />

larga escala, a produção <strong>da</strong>s hortaliças tradicionais.<br />

Segundo <strong>da</strong>d<strong>os</strong> coletad<strong>os</strong> em 2000, pela Food and<br />

Agriculture Organization (FAO) e pelo Instituto Brasileiro<br />

de Geografia e Estatísticas (IBGE), o cultivo de<br />

hortaliças convencionais no Brasil ultrapassa oito mi-


mã<strong>os</strong><br />

lhões de tonela<strong>da</strong>s anuais. Estão entre as mais cultiva<strong>da</strong>s<br />

o tomate, a batata, a cenoura, a cebola, a melancia,<br />

a batata-doce, o inhame, o melão e o alho.<br />

O pesquisador do <strong>Inpa</strong>, Hir<strong>os</strong>hi No<strong>da</strong>, explica que<br />

as hortaliças não-convencionais são to<strong>da</strong>s aquelas<br />

que apresentam valor nutritivo significativo, boa<br />

a<strong>da</strong>ptação ao local de cultivo e distribuição restrita.<br />

Segundo ele, o cultivo <strong>da</strong>s hortaliças convencionais<br />

- mais conheci<strong>da</strong>s e consumi<strong>da</strong>s pela população<br />

a nível nacional - exigem mão-de-obra especializa<strong>da</strong>,<br />

o que acaba encarecendo o produto.<br />

“Muitas vezes, as convencionais são cultiva<strong>da</strong>s em<br />

um ambiente artificial onde é necessário utilizar muito<br />

Riqueza nutricional<br />

e proprie<strong>da</strong>des<br />

medicinais<br />

são algumas <strong>da</strong>s<br />

vantagens apresenta<strong>da</strong>s<br />

pelas hortaliças<br />

alternativas,<br />

pouco conheci<strong>da</strong>s<br />

pela população<br />

urbana <strong>da</strong> região<br />

Amazônica<br />

adubo químico e agrotóxico para combater as várias<br />

doenças e pragas que atacam essas hortaliças, elevando,<br />

assim o custo de produção”, esclarece No<strong>da</strong>.<br />

Exemplo disso, segundo No<strong>da</strong>, são o tomate, a batata,<br />

a alface e a cebola, que apresentam inúmeras dificul<strong>da</strong>des<br />

de a<strong>da</strong>ptação às condições <strong>da</strong> região Amazônica. “O<br />

tomate, domesticado no México e espalhado pelo mundo<br />

todo, exige que haja um processo de melhoramento”.<br />

O mesmo ocorre com a batata, domestica<strong>da</strong> no Peru,<br />

e a cebola. “No caso <strong>da</strong> alface, que em Manaus é produzi<strong>da</strong><br />

em ambiente protegido – mais especificamente em<br />

estufas plásticas - , e na maioria <strong>da</strong>s vezes é planta<strong>da</strong> na<br />

água, sem contato com o solo, há uma redução <strong>da</strong> produção<br />

e <strong>da</strong> quali<strong>da</strong>de do produto”, explica o pesquisador.<br />

ACERVO LABORATóRIO DE GENÉTICA E MELHORAMENTO DE HORTALIçAS<br />

15


16<br />

EDUARDO GOMES<br />

Hir<strong>os</strong>hi No<strong>da</strong> explica que as hortaliças não-convencionais são<br />

to<strong>da</strong>s aquelas que apresentam valor nutritivo significativo,<br />

boa a<strong>da</strong>ptação ao local de cultivo e distribuição restrita<br />

P<strong>os</strong>sível aliado no combate ao colesterol<br />

Uma <strong>da</strong>s hortaliças introduzi<strong>da</strong>s na região Amazônica<br />

e que ganhou força no cultivo, por parte <strong>da</strong>s<br />

populações tradicionais foi o cubiu (Solanum sessiliflorum).<br />

Conheci<strong>da</strong> popularmente por uma vasta<br />

diversi<strong>da</strong>de de nomes como topiro, cocona, tomate<br />

de índio, orinoço-apple, maná, cubiu-maná, a hortaliça<br />

é um arbusto nativo <strong>da</strong> Amazônia ocidental<br />

que foi domesticado por indígenas pré-colombian<strong>os</strong>.<br />

Pertencendo a mesma família do tomate e do pimentão,<br />

o cubiu pode chegar a medir até <strong>dois</strong> metr<strong>os</strong><br />

de altura. Os frut<strong>os</strong> são ric<strong>os</strong> em ferro, vitaminas<br />

(principalmente do complexo B5) e pectina ( substância<br />

que dá o ponto de geléia). São utilizad<strong>os</strong> como<br />

alimento, consumid<strong>os</strong> ao natural ou processad<strong>os</strong>, não<br />

só na forma de geleias, doces, suc<strong>os</strong>, mas também<br />

como medicamento, já que o cubiu pode reduzir <strong>os</strong><br />

níveis de diabetes, ácido úrico e alguns problemas relacionad<strong>os</strong><br />

ao mau funcionamento d<strong>os</strong> rins e fígado.<br />

Vale ressaltar que esta planta p<strong>os</strong>sui boa produtivi<strong>da</strong>de<br />

e que pode ser cultiva<strong>da</strong> até mesmo no quintal<br />

de casa. É isso mesmo, a facili<strong>da</strong>de de cultivar<br />

EDUARDO GOMES<br />

Para Carl<strong>os</strong> Bueno, o convênio é uma forma de conciliar o<br />

conhecimento desenvolvido pel<strong>os</strong> pesquisadores a partir de<br />

estud<strong>os</strong> realizad<strong>os</strong> no próprio município<br />

o cubiu está à disp<strong>os</strong>ição de tod<strong>os</strong>, porém, hoje<br />

esse hábito de consumir alimentações alternativas,<br />

é conservado apenas pelas populações ribeirinhas<br />

e por parte <strong>da</strong> população urbana que conhece e<br />

entende a varie<strong>da</strong>de de riquezas nutricionais que<br />

podem ser encontra<strong>da</strong>s nesse tipo de alimentação.<br />

Para produção <strong>da</strong>s mu<strong>da</strong>s, as sementes devem ser<br />

planta<strong>da</strong>s em cop<strong>os</strong> ou sac<strong>os</strong> de plástico, bandejas<br />

de isopor ou canteir<strong>os</strong> comuns, porém para plantio<br />

comercial, o espaçamento entre as plantas pode<br />

ser entre 1,0 x 1,0 até 1,5 x 1,5 metr<strong>os</strong> conforme<br />

a varie<strong>da</strong>de utiliza<strong>da</strong>. Ca<strong>da</strong> planta pode produzir<br />

em média mais de oito quilogramas de frut<strong>os</strong> em<br />

seis meses de produção, já que a planta responde<br />

muito bem a adubação orgânica e nutrientes.<br />

Você pode até não conhecer estas hortaliças,<br />

mas elas encontram-se hoje disponíveis nas feiras<br />

mais populares de n<strong>os</strong>sa ci<strong>da</strong>de, como no<br />

caso <strong>da</strong> feira do Coroado, zona Leste de Manaus,<br />

que tem como diferencial a oferta de produt<strong>os</strong><br />

alternativ<strong>os</strong> trazid<strong>os</strong> do interior do Estado.


Cubiu no combate a desnutrição<br />

Objetivando explorar a potenciali<strong>da</strong>de do<br />

cubiu como p<strong>os</strong>sível fonte de suplementação<br />

alimentar <strong>da</strong> população amazôni<strong>da</strong>, o<br />

<strong>Inpa</strong> vem desenvolvendo estud<strong>os</strong> com o fruto.<br />

Segundo a responsável pela Coordenação de<br />

Pesquisas (COPE) do <strong>Inpa</strong>, Lucia Yuyama, a desnutrição<br />

gera<strong>da</strong> em torno <strong>da</strong>s populações ribeirinhas<br />

se dá pela falta de consumo de energia.<br />

“Não adianta <strong>os</strong> ribeirinh<strong>os</strong> consumirem apenas<br />

a farinha e o peixe, pois embora o peixe seja de<br />

boa quali<strong>da</strong>de, com fonte de proteínas altamente<br />

biodisponíveis, fonte de minerais e vitaminas,<br />

há a necessi<strong>da</strong>de do consumo de energias para<br />

atender as necessi<strong>da</strong>des nutricionais, para que<br />

haja o aproveitamento pleno <strong>da</strong>s proteínas de<br />

alto valor biológico”, ressalta a pesquisadora.<br />

Um d<strong>os</strong> destaques do estudo realizado no <strong>Inpa</strong><br />

com o cubiu é a “farinha de cubiu” que, segundo<br />

Yuyama, tem o objetivo de responder a questionament<strong>os</strong><br />

sobre a p<strong>os</strong>sibili<strong>da</strong>de de p<strong>os</strong>suir uma<br />

ação hipocolesterolêmica, ou seja, aju<strong>da</strong> a reduzir<br />

o colesterol. Mas por que utilizar a farinha<br />

como base para introdução desse produto<br />

na mesa <strong>da</strong>s famílias amazôni<strong>da</strong>s? A pesquisadora<br />

explica que o hábito alimentar influencia<br />

e pode ser a melhor maneira de agregar <strong>os</strong> valores<br />

nutricionais do cubiu na refeição familiar.<br />

“O hábito alimentar <strong>da</strong> população do Ama-<br />

zonas é consumir farinha de mandioca, então<br />

por que não agregar valor a essa farinha de<br />

mandioca utilizando uma mistura, a base de<br />

farinhas de cubiu, pupunha, tucumã, ou buriti<br />

e agregar valor as preparações. Além disso,<br />

essa é uma forma de resgatarm<strong>os</strong> uma cultura,<br />

uma vez que o cubiu era muito utilizado pelas<br />

populações tradicionais”, enfatiza Yuyama.<br />

Desta forma, segundo a pesquisadora, a expectativa<br />

é que o uso <strong>da</strong> farinha de cubiu contribua<br />

para a redução d<strong>os</strong> índices de colesterol<br />

na população e que seja um benéfico como fonte<br />

de fibra alimentar e principalmente na saúde.<br />

O cubiu pode reduzir <strong>os</strong> níveis de diabetes, ácido úrico e<br />

alguns problemas relacionad<strong>os</strong> ao mau funcionamento d<strong>os</strong> rins<br />

e fígado<br />

Hortaliças não-convencionais a<strong>da</strong>pta<strong>da</strong>s à região<br />

A hortaliça conheci<strong>da</strong> como Feijão-de-Asa<br />

(Psophcarpus tetragonolobus), por ter as folhas<br />

semelhantes a asas, é uma <strong>da</strong>s espécies trazi<strong>da</strong>s<br />

para a Amazônia que apresenta alto índice<br />

de a<strong>da</strong>ptação e aceitabili<strong>da</strong>de de consumo.<br />

A hortaliça de origem africana conta com um elevado<br />

índice de aproveitamento, podendo ser consumi<strong>da</strong><br />

<strong>da</strong> vagem até a raiz. A vagem, ain<strong>da</strong> verde,<br />

é a parte mais consumi<strong>da</strong> pela população amazônica.<br />

Previamente cozi<strong>da</strong>, ela é muito utiliza<strong>da</strong> no<br />

preparo de sala<strong>da</strong>s, cremes, entre outr<strong>os</strong> prat<strong>os</strong>.<br />

Na Nova Guiné, a população c<strong>os</strong>tuma consumir as<br />

sementes secas <strong>da</strong> hortaliça (como se f<strong>os</strong>se soja),<br />

além <strong>da</strong>s folhas e flores. A raiz tuber<strong>os</strong>a, muito<br />

semelhante a batatas, é muito consumi<strong>da</strong> em caldeira<strong>da</strong>s,<br />

por ser importante fonte de proteínas.<br />

Outra hortaliça proveniente <strong>da</strong> África muito<br />

bem a<strong>da</strong>pta<strong>da</strong> à região amazônica é o Espinafre<br />

(Spinacia oleracea L.). O fruto é rico<br />

em proteínas e sais minerais, suas folhas<br />

representam ingrediente bastante apreciado<br />

em sala<strong>da</strong>s, refogad<strong>os</strong>, cozid<strong>os</strong> e suflês.<br />

LUCIA YUYAMA<br />

Parcerias<br />

Em fevereiro deste ano, o <strong>Inpa</strong> fechou convênio<br />

com a Prefeitura Municipal de Parintins<br />

com o objetivo de aliar ciência e desenvolvimento.<br />

Entre <strong>os</strong> projet<strong>os</strong> desenvolvid<strong>os</strong><br />

pelo Instituto e implantad<strong>os</strong> no município<br />

está o de utilização de hortaliças alternativas.<br />

De acordo com o pesquisador do <strong>Inpa</strong>, Carl<strong>os</strong> Bueno,<br />

o convênio é uma forma de conciliar o conhecimento<br />

desenvolvido pel<strong>os</strong> pesquisadores a partir de<br />

estud<strong>os</strong> realizad<strong>os</strong> no próprio município que, por<br />

uma falta de comunicação entre as partes, acaba não<br />

sendo empregado em benefício <strong>da</strong> população local.<br />

“É importante que as prefeituras sejam parceiras<br />

desse projeto, porque geralmente o pesquisador<br />

vai ao município e tem que alugar carro,<br />

ou barco o que acaba dificultando a prestação<br />

de contas no final do projeto, devido a<strong>os</strong> inúmer<strong>os</strong><br />

cust<strong>os</strong>. E muitas vezes a Prefeitura tem<br />

essa estrutura lá. Então a ideia é inserir o governo<br />

municipal nas ações que o <strong>Inpa</strong> tem desenvolvido<br />

em vári<strong>os</strong> locais”, explica Bueno.<br />

17


tEcnologia dE SubSiStência<br />

18<br />

Projeto alimenta<br />

ribeirinh<strong>os</strong><br />

e indígenas<br />

A construção do canal<br />

e sua manutenção é de<br />

baixo custo e um ano<br />

de acompanhamento é<br />

suficiente para tornar o<br />

agricultor independente<br />

> Por ana Célia <strong>os</strong>saMe<br />

Um projeto do Instituto Nacional de<br />

Pesquisas <strong>da</strong> Amazônia (<strong>Inpa</strong>) capaz<br />

de abrir um universo para o desenvolvimento<br />

<strong>da</strong> pesquisa na área de criação de<br />

peixes, indicado entre <strong>os</strong> finalistas do concurso<br />

<strong>da</strong> Fun<strong>da</strong>ção Banco do Brasil (FBB) de<br />

Tecnologia Social, já está mu<strong>da</strong>ndo, para<br />

melhor, a vi<strong>da</strong> de dezenas famílias <strong>da</strong> zona<br />

FOTOS: JORGE FIM<br />

rural do Estado. O Programa de Criação Intensiva<br />

de Matrinxã em Igarapés (Procima),<br />

desenvolvido pelo pesquisador Jorge Fim, 53,<br />

especialista em zootecnia, apresenta uma<br />

tecnologia de subsistência de cunho social<br />

importante já replica<strong>da</strong> com sucesso em comuni<strong>da</strong>des<br />

ribeirinhas e indígenas do Amazonas<br />

e de outr<strong>os</strong> Estad<strong>os</strong> <strong>da</strong> região Norte.<br />

“O projeto deu muito certo, tanto que em<br />

cinco an<strong>os</strong> tem<strong>os</strong> mais de 100 canais de cria


ção no Tarumã-Mirim, localizado no Ramal do<br />

Pau R<strong>os</strong>a, quilômetr o 21 <strong>da</strong> BR 174”, revela.<br />

A tecnologia cria<strong>da</strong> por<br />

Jorge Fim que é desenvolvi<strong>da</strong><br />

desde 2003 vem acontecendo<br />

no assentamento de trabalhadores<br />

rurais do Igarapé do Tarumã-Mirim,<br />

onde ocupa área<br />

aproxima<strong>da</strong> de 42 mil hectares<br />

e onde vivem atualmente<br />

cerca de 1.160 famílias, ca<strong>da</strong><br />

uma ocupando lotes que variam<br />

entre 25 e 40 ha de terra.<br />

Lá, o projeto acontece sem<br />

impact<strong>os</strong> ambientais, pois<br />

não provoca desmatamento<br />

e nem altera a quali<strong>da</strong>de <strong>da</strong><br />

água. O melhor de tudo é que<br />

<strong>os</strong> agricultores além de consumir<br />

o produto, ain<strong>da</strong> têm<br />

sobras para comercializar.<br />

Ain<strong>da</strong> que em pequena escala,<br />

a tecnologia de subsistência<br />

desenvolvi<strong>da</strong> por ele<br />

adquiriu um cunho social importante. O pesquisador<br />

comemora e vê com otimismo<br />

a ideia sendo multiplica<strong>da</strong> para<br />

comuni<strong>da</strong>des indígenas de<br />

São Gabriel <strong>da</strong> Cachoeira<br />

(a 858 quilômetr<strong>os</strong><br />

de Manaus),<br />

na região do<br />

Alto Rio Negro.<br />

O projeto,<br />

que prioriza<br />

a criação<br />

para subs<br />

i s t ê n c i a ,<br />

consiste na<br />

escolha de<br />

uma pequena<br />

seção do canal<br />

de um igarapé,<br />

com cerca<br />

de quatro metr<strong>os</strong><br />

de largura onde<br />

pode ser feito um<br />

viveiro de madeira<br />

ou tela suficiente<br />

para receber até 15 peixes/m³.<br />

De acordo com Fim,<br />

as medi<strong>da</strong>s recomen<strong>da</strong><strong>da</strong>s<br />

atualmente para <strong>os</strong><br />

viveir<strong>os</strong> são de<br />

30m x 4,0m<br />

ANTONIO MENEZES<br />

O projeto, que prioriza<br />

a criação para<br />

subsistência, consiste<br />

na escolha de<br />

uma pequena seção<br />

do canal de um<br />

igarapé, com cerca<br />

de quatro metr<strong>os</strong><br />

de largura onde<br />

pode ser feito um<br />

viveiro de madeira<br />

ou tela suficiente<br />

para receber até 15<br />

peixes por m³<br />

x 0,70m, ou seja, 84m³, e a vazão de água<br />

deverá ser acima de 10 litr<strong>os</strong>/segundo.<br />

“Com estas características<br />

podem ser criad<strong>os</strong> até 1.250<br />

peixes, que podem atingir 1<br />

kg de peso (peso de mercado)<br />

em um período de 12 meses”,<br />

revela o pesquisador, explicando<br />

que essa quanti<strong>da</strong>de<br />

m<strong>os</strong>trou-se suficiente para<br />

alimentar uma família por<br />

todo o ano. Isso, emen<strong>da</strong> ele,<br />

torna o projeto uma contribuição<br />

significativa para a melhoria<br />

do padrão de vi<strong>da</strong> familiar<br />

na região <strong>da</strong><strong>da</strong> pelo <strong>Inpa</strong>.<br />

INOVAÇÃO<br />

Ao lembrar que a criação<br />

de peixe em canal não<br />

é uma prop<strong>os</strong>ta nova, Jorge<br />

Fim destaca a inovação do<br />

projeto que desenvolve uma<br />

tecnologia própria que torna<br />

todo o ambiente o mais natural<br />

p<strong>os</strong>sível, sem alteração<br />

<strong>da</strong> quali<strong>da</strong>de <strong>da</strong> água, seja na limpidez ou na<br />

química, razão pela qual peixes como o matrinxã<br />

se deram muito bem. Há cui<strong>da</strong>d<strong>os</strong><br />

a serem tomad<strong>os</strong> com outras espécies<br />

como o tambaqui, que não pode<br />

ser colocado muito jovem, <strong>da</strong>d<strong>os</strong><br />

<strong>os</strong> seus hábit<strong>os</strong> alimentares.<br />

“Mas a experiência<br />

pode ser feita com bagre<br />

e tucunaré”, sugere.<br />

Para um Estado<br />

como o Amazonas,<br />

entrecortado por<br />

igarapés, não existe<br />

melhor alternativa<br />

do que criar peixes<br />

em canais, assegura o<br />

pesquisador, comparando<br />

essa estrutura<br />

à <strong>da</strong> criação em barragens<br />

e viveir<strong>os</strong>. “Pode<br />

haver a<strong>da</strong>ptações no<br />

futuro, para aperfeiçoá-lo,<br />

mas hoje esse<br />

é o melhor sistema”,<br />

garante ele, interessado<br />

em<br />

multi-<br />

Jorge Fim destaca a inovação<br />

do projeto que desenvolve uma<br />

tecnologia própria que torna<br />

todo o ambiente o mais natural<br />

p<strong>os</strong>sível, sem alteração <strong>da</strong><br />

quali<strong>da</strong>de <strong>da</strong> água<br />

19


20<br />

plicar a experiência para outras comuni<strong>da</strong>des<br />

<strong>da</strong>do o cunho social do projeto e a deman<strong>da</strong><br />

por aliment<strong>os</strong> em muitas comuni<strong>da</strong>des.<br />

No Tarumã-Mirim, a experiência envolveu o<br />

assentado que participa desde o início, com<br />

a construção do criadouro, passando depois<br />

pela criação d<strong>os</strong> peixes. Ao final de um ano<br />

recebendo acompanhamento, a pessoa já está<br />

prepara<strong>da</strong> para multiplicar. Segundo Jorge, a<br />

construção do canal e sua manutenção é de bai-<br />

SOBRE O PRÊMIO<br />

Realizado a ca<strong>da</strong> <strong>dois</strong> an<strong>os</strong>, o Prêmio Fun<strong>da</strong>ção<br />

Banco do Brasil de Tecnologia Social tem o<br />

objetivo de identificar, certificar, premiar e difundir<br />

produt<strong>os</strong>, técnicas ou metodologias que<br />

se enquadrem no conceito de ‘tecnologia social’<br />

- uma prop<strong>os</strong>ta inovadora de desenvolvimento,<br />

que considera a participação <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong>de<br />

no processo. O prêmio é nacional e, em ca<strong>da</strong><br />

evento, seleciona 20 projet<strong>os</strong> concorrentes.<br />

xo custo e um ano de acompanhamento é suficiente<br />

para tornar o agricultor independente.<br />

A tecnologia abriu caminh<strong>os</strong> também para<br />

o desenvolvimento <strong>da</strong> pesquisa. Há três<br />

dissertações de mestrado e uma de doutorado<br />

com esse tema. “Com o conhecimento<br />

acumulado, estam<strong>os</strong> partindo para outr<strong>os</strong><br />

projet<strong>os</strong> como o desenvolvimento de<br />

uma alimentação alternativa, de fácil acesso<br />

para as comuni<strong>da</strong>des no interior”, finaliza.<br />

ANTONIO MENEZES<br />

N<strong>os</strong> canais de igarapés de águas claras, é p<strong>os</strong>sível até acompanhar mais facilmente o crescimento do peixe para, em caso de necessi<strong>da</strong>de, manejá-lo<br />

O conceito de tecnologia social está baseado<br />

na multiplicação de soluções sociais em<br />

áreas como alimentação, educação, energia,<br />

habitação, meio ambiente, recurs<strong>os</strong> hídric<strong>os</strong>,<br />

ren<strong>da</strong> e saúde. As tecnologias podem aliar<br />

saber popular, organização social e conhecimento<br />

técnico-científico. O importante é<br />

que sejam efetivas, reaplicáveis e que propiciem<br />

desenvolvimento social em escala.


Expansão já é reali<strong>da</strong>de<br />

A eficiência e <strong>os</strong> resultad<strong>os</strong> do Procima já o levaram<br />

a expandir as fronteiras do Amazonas. Técnic<strong>os</strong><br />

do Estado do Pará, comuni<strong>da</strong>des, programas<br />

de televisão de vári<strong>os</strong> Estad<strong>os</strong>, além do Projeto<br />

Fronteiras em São Gabriel <strong>da</strong> Cachoeira, onde a<br />

maioria <strong>da</strong> população é indígena. “Em locais onde<br />

as pessoas passam fome por falta de aliment<strong>os</strong>,<br />

esse projeto será de extrema viabili<strong>da</strong>de social”,<br />

afirmou o pesquisador Jorge Fim, indicando a necessi<strong>da</strong>de<br />

<strong>da</strong> implantação de infra-estrutura em<br />

comuni<strong>da</strong>des onde não existe luz elétrica, estra<strong>da</strong>s,<br />

assim como de suporte financeiro e técnico.<br />

Pel<strong>os</strong> cálcul<strong>os</strong> dele, o agricultor pode buscar<br />

financiamento público, pois no período de<br />

carência, de cerca de <strong>dois</strong> an<strong>os</strong>, vai reaver não<br />

só o que gastar na compra d<strong>os</strong> alevin<strong>os</strong> e com<br />

a manutenção, mas também com o que vender.<br />

O melhor é que poderá consumir um alimento<br />

rico e tradicional <strong>da</strong> dieta alimentar <strong>da</strong> região.<br />

Para a comercialização, Jorge destaca o fato<br />

de que a carne desse peixe criado num ambiente<br />

o mais natural p<strong>os</strong>sível será mais sabor<strong>os</strong>a,<br />

o que deverá ser notado pel<strong>os</strong> consumidores.<br />

N<strong>os</strong> canais de igarapés de águas claras é p<strong>os</strong>sível<br />

até acompanhar mais facilmente o crescimento<br />

do peixe para, em caso de necessi<strong>da</strong>de,<br />

manejá-lo. Uma <strong>questão</strong> importante é a observação<br />

de uma distância mínima entre <strong>os</strong> canais<br />

de criação para evitar a retenção de resídu<strong>os</strong>.<br />

Para tanto, existe até uma Resolução <strong>da</strong> Conselho<br />

Estadual do Meio Ambiente (Ceman) regulamentando<br />

a criacão de peixe em igarapés<br />

através <strong>da</strong> Resolução N. 08/08, explica. Na<br />

Resolução do Ceman está previsto que a distância<br />

entre um e outro seja pelo men<strong>os</strong> três<br />

vezes o tamanho do criatório para facilitar que<br />

a água saí<strong>da</strong> do criatório elimine <strong>os</strong> resídu<strong>os</strong>.<br />

O canal pode ser feito em água de qualquer<br />

igarapé, outra felici<strong>da</strong>de do projeto. Daí ele garantir<br />

que essa é uma <strong>da</strong>s melhores alternativas<br />

para se desenvolver no interior do Estado<br />

e em assentament<strong>os</strong>. “Por uma coincidência,<br />

nessas áreas existem muit<strong>os</strong> igarapés e muitas<br />

pessoas passando fome”, finaliza ele, empenhado<br />

na elaboração de um manual de orientação<br />

a<strong>os</strong> interessad<strong>os</strong> em desenvolver o projeto.<br />

ANTONIO MENEZES<br />

Jorge destaca o fato de<br />

que a carne desse peixe<br />

criado num ambiente o<br />

mais natural p<strong>os</strong>sível será<br />

mais sabor<strong>os</strong>a<br />

21


PrEStação dE SErviço<br />

22<br />

TABAJARA MORENO<br />

O Laboratório de<br />

Tubercul<strong>os</strong>e e Hanseníase<br />

figura como importante<br />

parceiro <strong>da</strong> rede de saúde<br />

estadual e municipal,<br />

realizando análise de<br />

cas<strong>os</strong> de tubercul<strong>os</strong>e de<br />

difícil diagn<strong>os</strong>ticação


Um<br />

> Por annyelle bezerra<br />

Atualmente, segundo <strong>da</strong>d<strong>os</strong> <strong>da</strong> Organização<br />

Mundial de Saúde (OMS), o Amazonas,<br />

com 67 cas<strong>os</strong> para ca<strong>da</strong> 100 mil<br />

habitantes, ocupa o segundo lugar entre <strong>os</strong><br />

Estad<strong>os</strong> com maior incidência de Tubercul<strong>os</strong>e<br />

Pulmonar (TbPul), perdendo apenas para o Estado<br />

do Rio de Janeiro, com 73 diagnóstic<strong>os</strong><br />

para ca<strong>da</strong> 100 mil habitantes. Em 1982 a tubercul<strong>os</strong>e<br />

era responsável por 85% d<strong>os</strong> cas<strong>os</strong><br />

no Estado, índice que levou o Instituto Nacional<br />

de Pesquisas <strong>da</strong> Amazônia (<strong>Inpa</strong>) a implantar,<br />

naquele ano, o Laboratório de Tubercul<strong>os</strong>e<br />

e Hanseníase, sob a tutela<br />

<strong>da</strong> Coordenação de Pesquisa<br />

em Ciência <strong>da</strong> Saúde (CPCS).<br />

O laboratório, hoje, figura<br />

como importante parceiro<br />

<strong>da</strong> rede de saúde estadual e<br />

municipal, realizando análise<br />

de cas<strong>os</strong> de tubercul<strong>os</strong>e de<br />

difícil diagn<strong>os</strong>ticação. Para a<br />

coordenadora <strong>da</strong> CPCS, pesquisadora<br />

Júlia Salem, além<br />

<strong>da</strong> contribuição na análise<br />

de diagnóstic<strong>os</strong> de (TbPul), o<br />

laboratório que conta com estu<strong>da</strong>ntes,<br />

voluntári<strong>os</strong> e profissionais,<br />

é uma <strong>da</strong>s provas<br />

de que o <strong>Inpa</strong> está sempre de<br />

portas abertas para a socie<strong>da</strong>de<br />

civil, e para a comuni<strong>da</strong>de<br />

acadêmica, independente <strong>da</strong>s<br />

instituições a que pertençam.<br />

parceiro<br />

na busca pela saúde<br />

“O <strong>Inpa</strong> reconhece a necessi<strong>da</strong>de de formar<br />

profissionais, priorizando sempre o desenvolvimento<br />

de estud<strong>os</strong> que contribuam para a descoberta<br />

de nov<strong>os</strong> conheciment<strong>os</strong>”, afirma ela.<br />

Entre <strong>os</strong> trabalh<strong>os</strong> realizad<strong>os</strong> no <strong>Inpa</strong>, com<br />

o objetivo de gerar conheciment<strong>os</strong> sobre a<br />

tubercul<strong>os</strong>e, destaca-se o método de triagem<br />

baseado em um questionário, desenvolvido<br />

em 2005, pelo pediatra <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de<br />

Estadual do Amazonas (UEA), Gastão Dias.<br />

O pediatra atua no tratamento de Tubercul<strong>os</strong>e<br />

Pulmonar na rede de saúde do Esta-<br />

Entre <strong>os</strong> trabalh<strong>os</strong><br />

realizad<strong>os</strong> no <strong>Inpa</strong>,<br />

com o objetivo<br />

de gerar conheciment<strong>os</strong><br />

sobre a<br />

tubercul<strong>os</strong>e, está o<br />

método de triagem,<br />

pioneiro na região,<br />

pois trabalha com<br />

a tubercul<strong>os</strong>e em<br />

crianças, algo até<br />

então nunca realizado<br />

do e relata haver grande dificul<strong>da</strong>de no fechamento<br />

do diagnóstico em crianças. “Isso<br />

acontece não por falha do sistema, apesar<br />

de haverem algumas, mas porque não há um<br />

sistema que tenha sensibili<strong>da</strong>de e especifici<strong>da</strong>de<br />

para fechar um diagnóstico”, ressalta.<br />

Além disso, segundo o médico, outro ponto<br />

que prejudica a diagn<strong>os</strong>ticação <strong>da</strong> doença em<br />

crianças são as peculiari<strong>da</strong>des que <strong>os</strong> pacientes<br />

infantis apresentam como a dificul<strong>da</strong>de em<br />

expelir o material utilizado na bacil<strong>os</strong>copia –<br />

exame laboratorial que analisa o muco do paciente<br />

– em busca do bacilo <strong>da</strong> tubercul<strong>os</strong>e.<br />

Em crianças o exame geralmente<br />

é feito <strong>da</strong> secreção<br />

retira<strong>da</strong> do estômago do paciente,<br />

mas a p<strong>os</strong>itivi<strong>da</strong>de<br />

que em adult<strong>os</strong> alcança 90%,<br />

no caso <strong>da</strong>s crianças não ultrapassa<br />

<strong>os</strong> 20% de eficácia.<br />

O Ministério <strong>da</strong> Saúde (MS),<br />

segundo Dias, não considera a<br />

bacil<strong>os</strong>copia e, o cultivo – método<br />

de estocagem em estufa<br />

para verificação do desenvolvimento<br />

do bacilo - como fontes<br />

confiáveis de diagnóstico<br />

em crianças, devido a<strong>os</strong> alt<strong>os</strong><br />

índices de falha d<strong>os</strong> métod<strong>os</strong>.<br />

Sendo mais segur<strong>os</strong> <strong>os</strong> exames<br />

de rai<strong>os</strong>-X, a presença do<br />

histórico de não melhora do<br />

paciente frente ao tratamento<br />

de doença respiratória, a prova<br />

tuberculínica (método auxiliar no diagnóstico<br />

de tubercule), a <strong>questão</strong> nutricional do<br />

paciente e o sistema de contágio com o doente.<br />

O questionário desenvolvido durante o estudo<br />

utiliza um método de pontuação que<br />

varia de 5 a 30 pont<strong>os</strong> na escala de gravi<strong>da</strong>de.<br />

Entre <strong>os</strong> critéri<strong>os</strong> abor<strong>da</strong>d<strong>os</strong> no questionário,<br />

para identificação de um paciente<br />

com suspeita de tubercul<strong>os</strong>e está t<strong>os</strong>se por<br />

períod<strong>os</strong> prolongad<strong>os</strong>, febre, emagrecimento,<br />

utilização de antibiótico para germes<br />

comuns, por no mínimo dez dias, sem ocasionar<br />

melhora <strong>da</strong> patologia respiratória<br />

23


24<br />

EDUARDO GOMES<br />

Gastão Dias comenta que quando uma crianças vai ao<br />

consultório com a patologia pulmonar, alguns médic<strong>os</strong><br />

tendem a tratar como se f<strong>os</strong>se uma pneumonia, ou uma<br />

alergia respiratória, não pensando na tubercul<strong>os</strong>e<br />

Onde buscar tratamento<br />

Manaus conta com 230 Uni<strong>da</strong>des Básicas<br />

de Saúde (UBS), incluindo as casas de<br />

saúde <strong>da</strong> família, to<strong>da</strong>s com sistema de tratamento<br />

<strong>da</strong> tubercul<strong>os</strong>e já implantado.<br />

A Policlínica Card<strong>os</strong>o Fontes (antigo Dispensário),<br />

localiza<strong>da</strong> na Rua Lobo D’alma<strong>da</strong>, nº 222,<br />

Centro de Manaus, é um centro de referência em<br />

pneumologia sanitária no Amazonas, sendo seu<br />

carro-chefe de atuação, o tratamento, e o diagnóstico<br />

<strong>da</strong> tubercul<strong>os</strong>e. A Uni<strong>da</strong>de atende cas<strong>os</strong><br />

provenientes d<strong>os</strong> 62 municípi<strong>os</strong> do Estado.<br />

De acordo com a diretora <strong>da</strong> policlínica, Irineide<br />

Assumpção, <strong>os</strong> cas<strong>os</strong> com complexi<strong>da</strong>de de diagnóstico<br />

são a priori<strong>da</strong>de <strong>da</strong> Uni<strong>da</strong>de. “Os cas<strong>os</strong> suspeit<strong>os</strong><br />

que a rede não consegue diagn<strong>os</strong>ticar, então<br />

ou febre, sudorese noturna, entre outr<strong>os</strong>.<br />

Após o preenchimento do questionário, se<br />

constata<strong>da</strong> uma pontuação igual ou superior<br />

a 50%, o paciente é orientado a realizar<br />

exames complementares. O médico explica<br />

que o objetivo principal do método de triagem,<br />

não é modificar o sistema de diagnóstico<br />

empregado pelo MS, mas fazer com que<br />

<strong>os</strong> médic<strong>os</strong> <strong>da</strong>s uni<strong>da</strong>des de saúde cogitem a<br />

suspeita de tubercul<strong>os</strong>e. “O que nós percebem<strong>os</strong><br />

é que às vezes <strong>os</strong> colegas não pensam<br />

no diagnóstico de tubercul<strong>os</strong>e. Então vem<br />

aquela criança com a patologia pulmonar, e<br />

ele fica tratando como se f<strong>os</strong>se uma pneumonia,<br />

ou uma alergia respiratória, e não pensa<br />

no diagnóstico <strong>da</strong> tubercul<strong>os</strong>e”, afirma.<br />

Para a pesquisadora do <strong>Inpa</strong>, e orientadora<br />

do estudo, Júlia Salem, o modelo de triagem é<br />

pioneiro na região, pois trabalha com a tubercul<strong>os</strong>e<br />

em crianças, algo até então nunca realizado.<br />

“Nós nunca havíam<strong>os</strong> conseguido trabalhar<br />

com crianças e o Gastão foi uma pessoa muito<br />

séria no trabalho que desenvolveu”, afirmou.<br />

Segundo o pesquisador do <strong>Inpa</strong>, e coordenador<br />

do estudo, Maurício Ogusku, o método<br />

é diferente e pode contribuir para o aumento<br />

do número de diagnóstic<strong>os</strong> em crianças com<br />

maior rapidez. “O Ministério <strong>da</strong> Saúde já tem<br />

um sistema de diagnóstico por meio de pontuação,<br />

mas é um sistema mais complexo, que<br />

precisa de alguns exames laboratoriais. O método<br />

prop<strong>os</strong>to, por ser um sistema de triagem<br />

pontua informações clínicas, epidemiológicas,<br />

e vacinais que por si só são capazes de revelar<br />

a necessi<strong>da</strong>de de realização de exames<br />

complementares, ou não”, ressalta Ogusku.<br />

são encaminhad<strong>os</strong> para nós”, explica Assumpção.<br />

Outra priori<strong>da</strong>de do centro é receber tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> cas<strong>os</strong><br />

<strong>da</strong> rede estadual e municipal que se enquadram n<strong>os</strong><br />

cas<strong>os</strong> de falência de tratamento, retorno após abandono<br />

e, reincidência <strong>da</strong> doença. Os pacientes são<br />

encaminhad<strong>os</strong> à policlínica, segundo Assumpção,<br />

para que sejam feit<strong>os</strong> <strong>os</strong> exames de cultura, bacil<strong>os</strong>copia<br />

concentra<strong>da</strong> e, radiografia computadoriza<strong>da</strong>.<br />

Nestes cas<strong>os</strong>, o tratamento é realizado na policlínica<br />

onde o paciente recebe todo o acompanhamento<br />

necessário. Os demais cas<strong>os</strong> de tubercul<strong>os</strong>e<br />

pulmonar com bacil<strong>os</strong>copia p<strong>os</strong>itiva são<br />

diagn<strong>os</strong>ticad<strong>os</strong> na policlínica e depois encaminhad<strong>os</strong><br />

a rede básica de saúde. “Isso acontece porque<br />

o programa de tubercul<strong>os</strong>e está descentralizado<br />

para <strong>os</strong> 62 municípi<strong>os</strong>, uma vez que, tod<strong>os</strong> têm o


programa de tubercul<strong>os</strong>e implantado“, esclarece.<br />

A diretora ressalta, porém, que grande parte<br />

d<strong>os</strong> pacientes abandona o tratamento antes<br />

do período estimado de cura, que é de seis<br />

meses, o que ocasiona a recaí<strong>da</strong> <strong>da</strong> doença.<br />

Estima-se que o Card<strong>os</strong>o Fontes, receba em<br />

O Ministério <strong>da</strong> Saúde considera como fontes confiáveis de diagnóstico <strong>os</strong> exames de rai<strong>os</strong>-X e a presença do histórico de não<br />

melhora do paciente frente ao tratamento de doença respiratória.<br />

Resgate de informação<br />

Estima-se que <strong>os</strong> primeir<strong>os</strong> cas<strong>os</strong> de Tubercul<strong>os</strong>e<br />

Pulmonar (TB) no estado do<br />

Amazonas - ou “peste branca” como era<br />

designa<strong>da</strong> no passado - <strong>da</strong>tem de 1800,<br />

período referente ao Ciclo <strong>da</strong> Borracha,<br />

quando uma grande quanti<strong>da</strong>de de pessoas,<br />

provenientes de diferentes regiões<br />

adentraram o estado em busca de<br />

emprego e, melhores condições de vi<strong>da</strong>.<br />

Segundo <strong>da</strong>d<strong>os</strong> <strong>da</strong> dissertação de mestra-<br />

média cem pessoas diariamente em busca do<br />

diagnóstico de tubercul<strong>os</strong>e, contabilizando um<br />

fluxo de mais de duas mil pessoas por mês nas<br />

dependências <strong>da</strong> Uni<strong>da</strong>de. “É claro que dessas<br />

cem pessoas que passam por aqui tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> dias,<br />

nem to<strong>da</strong>s estão doentes, mas eles vêm porque<br />

tem algum sintoma respiratório”, frisa a diretora.<br />

TABAJARA MORENO<br />

do <strong>da</strong> acadêmica <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de Federal<br />

do Amazonas (Ufam), Luciana Botinelly,<br />

basead<strong>os</strong> nas obras de Djalma <strong>da</strong> Cunha<br />

Batista, médico tisiologista, e autor <strong>da</strong><br />

maioria d<strong>os</strong> registr<strong>os</strong> técnic<strong>os</strong> e científic<strong>os</strong><br />

referentes à TB no Amazonas, <strong>os</strong> primeir<strong>os</strong><br />

índices oficiais de morte por tubercul<strong>os</strong>e<br />

são de 1900, período em que Manaus<br />

registrou um aumento absoluto do número<br />

de mortes decorrentes <strong>da</strong> doença, chegando<br />

a 44, em 1900 e, a 121 em 1905.<br />

25


ExPErimEntação<br />

26<br />

Lei regulamenta ética<br />

no uso de animais para<br />

experimentação<br />

> Por eduardo GoMes<br />

Alguma vez você já parou para pensar<br />

e se questionou se é contra ou a favor<br />

ao uso de animais em experiment<strong>os</strong><br />

científic<strong>os</strong>? Ou até mesmo como são feit<strong>os</strong><br />

<strong>os</strong> diagnóstic<strong>os</strong> para algumas doenças? E de<br />

que forma eles são testad<strong>os</strong>? Não é de hoje<br />

que este assunto gera polêmica e levanta séri<strong>os</strong><br />

questionament<strong>os</strong> em torno <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de.<br />

A importância d<strong>os</strong> experiment<strong>os</strong> científic<strong>os</strong> no<br />

mundo contemporâneo resulta do fato de que,<br />

a princípio, tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> seres human<strong>os</strong> estão envolvid<strong>os</strong><br />

n<strong>os</strong> seus efeit<strong>os</strong>. Diante disso podemse<br />

citar divers<strong>os</strong> process<strong>os</strong> como a fecun<strong>da</strong>ção,<br />

transferência de embriões, fármac<strong>os</strong> obtid<strong>os</strong><br />

através <strong>da</strong>s biotecnologias, combates a grandes<br />

endemias e até mesmo o tratamento de doen-<br />

FOTOS: EDUARDO GOMES<br />

O biotério do <strong>Inpa</strong> existe há 15 an<strong>os</strong> e p<strong>os</strong>sui seis salas, distribuí<strong>da</strong>s entre salas de criação, lavatório e salas de experimentação<br />

ças como o câncer e a Aids, que dependem de<br />

estud<strong>os</strong> para que p<strong>os</strong>sam ser diagn<strong>os</strong>ticad<strong>os</strong>.<br />

To<strong>da</strong>s essas ativi<strong>da</strong>des envolvem o uso detécnicas<br />

de biologia molecular, que utilizammedicament<strong>os</strong><br />

ou células vivas de animais.<br />

Talvez você não saiba, mas existe uma lei queregulamenta<br />

a ética no uso de cobaias, ouseja,<br />

estabelece condições para que animaisp<strong>os</strong>sam<br />

ou não serem usad<strong>os</strong> em experiment<strong>os</strong>,<br />

e define de que forma isso pode ser feito.<br />

A lei Arouca, nº 11.794, entrou em vigor em<br />

outubro de 2008, revogando a lei de vivissecção<br />

(operação feita em animais viv<strong>os</strong> para estudo de<br />

fenômen<strong>os</strong> fisiológic<strong>os</strong>) de 1979, tomando nov<strong>os</strong><br />

critéri<strong>os</strong> e principalmente avaliando <strong>os</strong> cui<strong>da</strong>d<strong>os</strong><br />

necessári<strong>os</strong> para o uso <strong>da</strong>s espécies em experimento<br />

científico, de acordo com suas necessi<strong>da</strong>des.


Dentro d<strong>os</strong> critéri<strong>os</strong> citad<strong>os</strong> na legislação,<br />

fica claro que a utilização de animais em<br />

ativi<strong>da</strong>des de pesquisas educacionais fica<br />

restrita a estabeleciment<strong>os</strong> de ensino superior,<br />

e de educação profissional técnica de<br />

nível médio, na área biomédica. Mas como<br />

avaliar dentro desses estabeleciment<strong>os</strong> de<br />

ensino, o que de fato pode ser considerado<br />

como ativi<strong>da</strong>de de pesquisa científica?<br />

De acordo com a lei<br />

Arouca, as práticas<br />

de ensino devem ser<br />

fotografa<strong>da</strong>s, filma<strong>da</strong>s<br />

ou grava<strong>da</strong>s,permitindo<br />

reprodução para ilustrar<br />

futuras práticas,<br />

evitando a repetição.<br />

Já em vigor, a lei nº 11.794/08 de outubro<br />

de 2008, estabeleceu que podem ser<br />

considera<strong>da</strong>s como ativi<strong>da</strong>des de pesquisa<br />

científica to<strong>da</strong>s aquelas relaciona<strong>da</strong>s<br />

com a ciência básica, aplica<strong>da</strong>, desenvolvimento<br />

tecnológico, produção e controle de<br />

quali<strong>da</strong>de de drogas, medicament<strong>os</strong>. Além<br />

disso, a lei explica que práticas zootécnicas<br />

relaciona<strong>da</strong>s a agropecuária não são<br />

considera<strong>da</strong>s como ativi<strong>da</strong>des de pesquisa.<br />

Nova regulamentação<br />

explica que<br />

experiment<strong>os</strong> que,<br />

por acaso, p<strong>os</strong>sam<br />

ocasionar dor devem<br />

ser desenvolvid<strong>os</strong><br />

sob se<strong>da</strong>ção, ou<br />

anestesia adequa<strong>da</strong><br />

27


28<br />

Conselho de Experimentação<br />

Outro grande destaque <strong>da</strong>s novas providências<br />

<strong>da</strong><strong>da</strong>s pela lei Arouca, foi a criação do<br />

Conselho Nacional de Controle de Experimentação<br />

Animal (CONCEA). Agora você deve estar se<br />

perguntando, para que serve o CONCEA? De que<br />

forma ele pode contribuir para que a utilização<br />

<strong>da</strong>s cobaias p<strong>os</strong>sa ser feita de maneira correta?<br />

Cabe ao CONCEA credenciar as instituições para<br />

criação ou utilização de animais em ensino e pesquisas<br />

científicas, além de submeter <strong>os</strong> estud<strong>os</strong><br />

ao Ministério de Estado <strong>da</strong> Ciência e Tecnologia<br />

(MCT) para aprovação. Com isso a regulamentação<br />

evidencia que o uso de animais em experiment<strong>os</strong><br />

não é feito de qualquer maneira e que<br />

antes, durante e após o experimento, existe uma<br />

grande preocupação com o estado do animal.<br />

Para que as instituições p<strong>os</strong>sam fazer seu credenciamento<br />

é necessário também que ca<strong>da</strong><br />

uma delas crie uma comissão, intitula<strong>da</strong> Comissão<br />

de Ética no Uso de Animais (CEUAs). As<br />

comissões devem ser integra<strong>da</strong>s por médic<strong>os</strong><br />

veterinári<strong>os</strong> e biólog<strong>os</strong>, docentes e pesquisadores<br />

na área específica <strong>da</strong> pesquisa e um representante<br />

de alguma <strong>da</strong>s socie<strong>da</strong>des protetoras<br />

de animais, legalmente estabeleci<strong>da</strong>s no país.<br />

Um d<strong>os</strong> deveres que devem ser cumprid<strong>os</strong> por estas<br />

comissões é informar ao CONCEA e às autori<strong>da</strong>des<br />

sanitárias, a ocorrência de quaisquer acidentes<br />

com animais nas instituições credencia<strong>da</strong>s, fornecendo<br />

informações que permitam ações saneadoras.<br />

Sabe-se que a grande preocupação <strong>da</strong>s pessoas<br />

que são contra o uso de animais nesses experiment<strong>os</strong><br />

está relaciona<strong>da</strong> diretamente as condições de<br />

vi<strong>da</strong> do animal, visto que dessa forma p<strong>os</strong>sam ser<br />

evita<strong>da</strong>s dores e angústias sofri<strong>da</strong>s pelas cobaias.<br />

Segundo o médico veterinário do <strong>Inpa</strong>, Anselmo<br />

D’Affonseca, a criação <strong>da</strong>s comissões significa analisar<br />

tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> projet<strong>os</strong> de pesquisa, visando manter<br />

<strong>os</strong> princípi<strong>os</strong> étic<strong>os</strong> que norteiam a lei Arouca.<br />

“Gr<strong>os</strong>so modo, significa evitar procediment<strong>os</strong> que<br />

resultem em sofrimento desnecessário e injustificado<br />

a<strong>os</strong> animais de experimentação”, explicou.<br />

A lei Arouca explica que experiment<strong>os</strong> que por<br />

acaso p<strong>os</strong>sam ocasionar dor, devem ser desenvolvid<strong>os</strong><br />

sob se<strong>da</strong>ção ou anestesia adequa<strong>da</strong>. Sempre que<br />

p<strong>os</strong>sível as práticas de ensino devem ser fotografa<strong>da</strong>s,<br />

filma<strong>da</strong>s ou grava<strong>da</strong>s, permitindo reprodução<br />

para ilustrar futuras práticas, evitando a repetição<br />

desnecessária de procediment<strong>os</strong> com animais.<br />

Em julho deste ano, criou-se o decreto Nº 6.899<br />

para regulamentar a lei, tendo como uma de suas<br />

atribuições estabelecer as infrações administra-<br />

tivas relaciona<strong>da</strong>s ao tema. Entre<br />

elas, pode-se citar a proibição<br />

<strong>da</strong> reutilização do mesmo<br />

animal depois de alcançado o<br />

objetivo principal do projeto<br />

de pesquisa.<br />

Mas você deve estar curi<strong>os</strong>o<br />

para descobrir qual a<br />

penali<strong>da</strong>de para quem não<br />

cumprir com <strong>os</strong> deveres<br />

incluíd<strong>os</strong> na legislação<br />

e supervisionado<br />

pelo<br />

C O N C E A ,<br />

não é?<br />

Em caso<br />

de transgressões ao regulamento,<br />

as instituições estão<br />

sujeitas a advertências, multas que vão de R$<br />

5 à R$ 20 mil, interdição temporária, suspensão<br />

de financiament<strong>os</strong> de crédit<strong>os</strong> de fomento<br />

científico e até mesmo interdição definitiva.<br />

Para entender melhor quais <strong>os</strong> procediment<strong>os</strong><br />

tomad<strong>os</strong> em pesquisas e como são cui<strong>da</strong>d<strong>os</strong> <strong>os</strong><br />

animais , é preciso conhecer o lugar onde são<br />

criad<strong>os</strong> e experimentad<strong>os</strong>, ou seja, o biotério.


O que é um biotério?<br />

Biotéri<strong>os</strong> são instalações capazes de produzir<br />

e manter espécies de animais destinad<strong>os</strong><br />

a servir como reagentes biológic<strong>os</strong> em divers<strong>os</strong><br />

tip<strong>os</strong> de ensai<strong>os</strong> controlad<strong>os</strong> para atender<br />

as necessi<strong>da</strong>des d<strong>os</strong> programas de pesquisas,<br />

ensino, produção e controle de quali<strong>da</strong>de nas<br />

áreas biomédicas, ciências humanas<br />

e tecnológicas de acordo com<br />

a finali<strong>da</strong>de <strong>da</strong> instituição.<br />

Process<strong>os</strong> como<br />

fecun<strong>da</strong>ção,<br />

transferência de<br />

embriões, fármac<strong>os</strong><br />

obtid<strong>os</strong> através<br />

<strong>da</strong>s biotecnologias,<br />

envolvem o uso de<br />

técnicas de biologia<br />

molecular, que utilizam<br />

medicament<strong>os</strong> ou<br />

células vivas de<br />

animais<br />

Exemplo de um<br />

deles é o biotério do Instituto<br />

Nacional de Pesquisas <strong>da</strong> Amazônia<br />

(<strong>Inpa</strong>). Existente há 15 an<strong>os</strong>, ele p<strong>os</strong>sui<br />

seis salas, distribuí<strong>da</strong>s entre salas de criação,<br />

lavatório e salas de experimentação.<br />

De acordo com a zootecnista, Risonilce Fernandes,<br />

que atua diretamente no biotério<br />

do Instituto, existem algumas áreas de<br />

pesquisa que realizam mais trabalh<strong>os</strong>, que<br />

necessitam de experiment<strong>os</strong> com animais.<br />

“Os trabalh<strong>os</strong> mais realizad<strong>os</strong> são nas<br />

áreas de nutrição, medicina e biologia”,<br />

disse. Ela destacou que o numero<br />

de animais utilizad<strong>os</strong> em estud<strong>os</strong>, depende<br />

sempre <strong>da</strong> necessi<strong>da</strong>de solicita<strong>da</strong><br />

pel<strong>os</strong> pesquisadores responsáveis pelo estudo.<br />

A zootecnista explicou alguns cui<strong>da</strong>d<strong>os</strong><br />

tid<strong>os</strong> com <strong>os</strong> animais no biotério do <strong>Inpa</strong>.<br />

“Diariamente é feita a alimentação e troca<br />

de água, duas vezes na semana é feita a troca<br />

de serragem (cama), além de um disp<strong>os</strong>itivo<br />

que controla a luz, apagando e acendendo-a<br />

na hora certa, pois isso influencia<br />

no comportamento do animal”, ressaltou.<br />

No dia-a-dia de um biotério, to<strong>da</strong>s as ativi<strong>da</strong>des<br />

exigem uma programação para que<br />

na<strong>da</strong> p<strong>os</strong>sa interferir no resultado <strong>da</strong> pesquisa.<br />

Os animais são cruzad<strong>os</strong> , e logo<br />

após é feito a “sexagem”, ou seja, separação<br />

entre mach<strong>os</strong> e fêmeas, o desmame e<br />

feito somente após 21 dias de nascid<strong>os</strong>.<br />

O <strong>Inpa</strong> criou uma comissão no dia 13 de<br />

novembro de 2008, com a priori<strong>da</strong>de de elaborar<br />

o regimento que pudesse direcionar as<br />

ações de seu comitê de ética. O objetivo <strong>da</strong><br />

comissão, é evitar o abuso ou o excesso no<br />

uso de animais para experimentação e principalmente<br />

orientar <strong>os</strong> projet<strong>os</strong> de pesquisa, no<br />

sentido de evitar conflit<strong>os</strong> com a lei Arouca.<br />

Risonilce Fernandes, conta que tod<strong>os</strong><br />

<strong>os</strong> experiment<strong>os</strong> feit<strong>os</strong> com animais, baseiam-se<br />

também em critéri<strong>os</strong> pel<strong>os</strong> quais<br />

<strong>os</strong> animais precisam passar. “O experimento<br />

só pode ser feito desde que o animal<br />

esteja dentro d<strong>os</strong> critári<strong>os</strong> necessári<strong>os</strong><br />

como, por exemplo, o peso”, ponderou.<br />

Para Anselmo d’Affonseca, a expectativa é<br />

que a relação entre a lei e <strong>os</strong> experiment<strong>os</strong><br />

realizad<strong>os</strong> no biotério do <strong>Inpa</strong>, assim como<br />

em tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> outr<strong>os</strong>, aconteça por meio de<br />

uma adequação que valorize o princípio ético<br />

no uso de animais, já que estes contribuem<br />

para o bem estar e saúde humana. “O<br />

que se espera é a adequação a referi<strong>da</strong> lei<br />

visando <strong>os</strong> princípi<strong>os</strong> étic<strong>os</strong> no uso de animais<br />

em experiment<strong>os</strong>, tornando <strong>os</strong> process<strong>os</strong><br />

científic<strong>os</strong> mais human<strong>os</strong> e responsáveis no<br />

que se refere ao uso consciente d<strong>os</strong> animais,<br />

<strong>os</strong> quais prestam grande serviço ao bem estar<br />

<strong>da</strong> n<strong>os</strong>sa espécie”, disse o veterinário.<br />

29


colEção<br />

30<br />

Inseto <strong>da</strong> espécie Pepsis her<strong>os</strong>


FOTOS: MÁRIO BENTES<br />

Monstr<strong>os</strong> S.A.<br />

> Por Mário benTes<br />

agora mesmo, bem próximo a um desses titãs.<br />

Em março deste ano, <strong>os</strong> proprietári<strong>os</strong> de um<br />

estabelecimento comercial situado no município<br />

de Co<strong>da</strong>jás, distante 297 quilômetr<strong>os</strong><br />

de Manaus (AM), tiveram um grande susto<br />

ao se deparar com o que parecia ser um tipo<br />

de “barata super-nutri<strong>da</strong>”, segundo informou a<br />

um site de notícias uma <strong>da</strong>s donas <strong>da</strong> loja onde<br />

o bicho foi encontrado. Em Coari, também no<br />

Amazonas, um inseto com chifres, do tamanho<br />

de uma caneta esferográfica – aproxima<strong>da</strong>mente<br />

15 centímetr<strong>os</strong> – foi encontrado por trabalhadores<br />

de uma obra. Caso semelhante aconteceu<br />

em Novo Progresso, no Pará, quando um “besouro<br />

gigante” foi encontrado<br />

dentro de uma residência.<br />

A tal barata de “tamanho-família”<br />

era, na ver<strong>da</strong>de, um inseto<br />

<strong>da</strong> espécie Callipogon armillatus<br />

– um tipo de besouro<br />

de grande porte muito comum<br />

na Amazônia. Também conhecido<br />

como “Serra-pau” ou<br />

“Serrador”, este besouro tem<br />

hábit<strong>os</strong> noturn<strong>os</strong> e geralmente<br />

é atraído por foc<strong>os</strong> de luz<br />

– como lâmpa<strong>da</strong>s incandescentes.<br />

Os outr<strong>os</strong> inset<strong>os</strong> citad<strong>os</strong><br />

n<strong>os</strong> cas<strong>os</strong> acima também eram<br />

besour<strong>os</strong>, mas do gênero Megasoma<br />

actaeon. Sua característica<br />

mais marcante é a presença<br />

do grande chifre n<strong>os</strong> mach<strong>os</strong>,<br />

o que levou ao sugestivo apelido<br />

de “Besouro de Chifre”.<br />

“Você não me vê.<br />

Eu vejo você”<br />

Com exceção <strong>da</strong> mandíbula forte do Callipogon<br />

armillatus, que pode morder quem se arriscar a<br />

tocá-lo, tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> inset<strong>os</strong> descrit<strong>os</strong> acima são<br />

inofensiv<strong>os</strong>, alimentando-se basicamente de<br />

seiva que escorre d<strong>os</strong> tronc<strong>os</strong> de árvores. Porém,<br />

como foi p<strong>os</strong>sível observar, o porte “avantajado”<br />

e as aparências esquisitas assustaram<br />

as pessoas que <strong>os</strong> encontraram. Apesar de não<br />

serem vist<strong>os</strong> com muita frequência, salvo quando<br />

cometem a gafe de adentrar nas residências<br />

sem convite, estes pequen<strong>os</strong> gigantes são<br />

comuns, principalmente em locais próxim<strong>os</strong> a<br />

áreas de florestas. Se você, que lê esta edição<br />

de Ciência para tod<strong>os</strong>, mora em alguma ci<strong>da</strong>de<br />

<strong>da</strong> região Norte, saiba que você pode estar,<br />

O <strong>Inpa</strong> p<strong>os</strong>sui cinco<br />

milhões de inset<strong>os</strong><br />

de dez mil espécies<br />

diferentes armazenad<strong>os</strong><br />

em sua<br />

coleção de invertebrad<strong>os</strong>.<br />

São quatro<br />

milhões armazenad<strong>os</strong><br />

em álcool, 450<br />

mil alfinetad<strong>os</strong> e<br />

outr<strong>os</strong> 400 disp<strong>os</strong>t<strong>os</strong><br />

nas chama<strong>da</strong>s<br />

“mantas”.<br />

Mas como você, prezado leitor, provavelmente<br />

não vai querer esperar pacientemente<br />

pela p<strong>os</strong>sibili<strong>da</strong>de de se deparar acidentalmente<br />

com um desses seres atrás <strong>da</strong> porta do<br />

banheiro, entre as roupas de cama dentro do<br />

guar<strong>da</strong>-roupa ou subindo lentamente pelas suas<br />

pernas logo abaixo do edredom que lhe cobre<br />

enquanto você descansa, a reportagem de Ciência<br />

para tod<strong>os</strong> resolveu trazê-l<strong>os</strong> até você.<br />

Para isso, visitam<strong>os</strong> a Coleção de Invertebrad<strong>os</strong><br />

<strong>da</strong> Coordenação de Pesquisas em Entomologia<br />

do Instituto Nacional de Pesquisas <strong>da</strong><br />

Amazônia (<strong>Inpa</strong>), em Manaus,<br />

onde são mantid<strong>os</strong>, com fins<br />

de pesquisa, cerca de cinco<br />

milhões de exemplares de inset<strong>os</strong><br />

de dez mil espécies diferentes.<br />

Segundo o cientista<br />

Augusto Loureiro Henriques,<br />

curador-chefe <strong>da</strong> coleção, são<br />

quatro milhões de espécimes<br />

armazenad<strong>os</strong> em álcool,<br />

450 mil alfinetad<strong>os</strong> e outr<strong>os</strong><br />

400 mil disp<strong>os</strong>t<strong>os</strong> nas chama<strong>da</strong>s<br />

“mantas” – um tipo de<br />

“cama” de papel coberta com<br />

uma fina cama<strong>da</strong> de algodão.<br />

“Tod<strong>os</strong> (<strong>os</strong> inset<strong>os</strong>), sem<br />

exceção, têm papel fun<strong>da</strong>mental<br />

na manutenção do<br />

equilíbrio <strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong>de<br />

<strong>da</strong> região amazônica, seja por<br />

participarem na polinização<br />

de flores ou por aju<strong>da</strong>rem <strong>os</strong><br />

cientistas a compreender <strong>os</strong><br />

process<strong>os</strong> de transmissão de<br />

algumas doenças típicas <strong>da</strong> região, como malária,<br />

dengue, leishmani<strong>os</strong>e e mal de chagas”,<br />

explica Henriques, falando sobre a importância<br />

do acervo para a comuni<strong>da</strong>de científica.<br />

Se você quiser conhecê-l<strong>os</strong> de perto e, mais<br />

importante, se tiver estômago para isso, vire<br />

as páginas a seguir. A partir de agora, você<br />

será apresentado a alguns d<strong>os</strong> mais estranh<strong>os</strong>,<br />

grandes e inacreditavelmente bel<strong>os</strong><br />

seres <strong>da</strong> fauna <strong>da</strong> S.A. – Selva Amazônica.<br />

Com colaboração de Francisco Felipe Xavier,<br />

Augusto Loureiro Henriques e Jacob Leonardo.<br />

As fot<strong>os</strong> a seguir estão em tamanho real.<br />

31


32<br />

Serra-pau ou Serrador 1<br />

Nome Científico: Callipogon<br />

(Enoplocerus) armillatus (Linneus,<br />

1767).<br />

Ocorrência: To<strong>da</strong> a região<br />

amazônica.<br />

Hábit<strong>os</strong> Alimentares:<br />

Seiva de tronc<strong>os</strong> de árvores.<br />

Venen<strong>os</strong>o: Não.<br />

Pericul<strong>os</strong>i<strong>da</strong>de: Médio. P<strong>os</strong>sui<br />

mandíbulas fortes e pode<br />

morder com facili<strong>da</strong>de.<br />

Curi<strong>os</strong>i<strong>da</strong>des: As larvas deste<br />

grande besouro de hábit<strong>os</strong><br />

noturn<strong>os</strong> vivem em tronco de<br />

árvores mortas. Os adult<strong>os</strong><br />

são atraíd<strong>os</strong> por foc<strong>os</strong> de<br />

luz, principalmente em locais<br />

próximo de florestas. A bela<br />

coloração deste besouro o torna<br />

alvo do tráfico ilegal de inset<strong>os</strong> <strong>da</strong><br />

floresta amazônica. É a “barata supernutri<strong>da</strong>”<br />

cita<strong>da</strong> no início <strong>da</strong> reportagem.<br />

Dad<strong>os</strong> do exemplar: Coletado em Presidente<br />

Figueiredo, Julho de 2005.<br />

Nome Científico: Dynastes hercules (Linneus,<br />

1758)<br />

Ocorrência: Em alguns pont<strong>os</strong> <strong>da</strong> região amazônica.<br />

Hábit<strong>os</strong> alimentares: Seiva de tronc<strong>os</strong> de árvores e<br />

frut<strong>os</strong> fermentad<strong>os</strong>.<br />

Venen<strong>os</strong>o: Não<br />

Besouro de Chifre ou<br />

Besouro-rinoceronte 1<br />

Pericul<strong>os</strong>i<strong>da</strong>de: Nenhuma<br />

Curi<strong>os</strong>i<strong>da</strong>des: O hércules é considerando um d<strong>os</strong><br />

maiores besour<strong>os</strong> do mundo, sendo superado apenas<br />

pelo Tytanus – embora existam relat<strong>os</strong> de ser até<br />

mesmo superior em tamanho. É muito apreciado<br />

pel<strong>os</strong> colecionadores de inset<strong>os</strong>. Quanto maior e<br />

perfeito for o exemplar, mais vali<strong>os</strong>o ele é considerado.<br />

Têm hábit<strong>os</strong> noturn<strong>os</strong> e suas larvas vivem de<br />

três a cinco an<strong>os</strong> em tronc<strong>os</strong> apodrecid<strong>os</strong>. Os mach<strong>os</strong><br />

p<strong>os</strong>suem long<strong>os</strong> chifres.<br />

Dad<strong>os</strong> do Exemplar: Coletado em Roraima, em julho<br />

de 1991.


(?)<br />

Arlequim <strong>da</strong> mata, serrador ou besouro <strong>da</strong> jaqueira<br />

Nome Científico: Acrocinus longimanus<br />

(Linneus, 1758).<br />

Ocorrência: To<strong>da</strong> região amazônica.<br />

Hábit<strong>os</strong> alimentares: Seiva de tronco de<br />

árvores, madeira.<br />

Venen<strong>os</strong>o: Não<br />

Pericul<strong>os</strong>i<strong>da</strong>de: Nenhum<br />

Curi<strong>os</strong>i<strong>da</strong>des: O macho se distingue <strong>da</strong><br />

Nome científico: Gauromy<strong>da</strong>s her<strong>os</strong><br />

(Perty, 1883).<br />

Ocorrência: To<strong>da</strong> a região amazônica.<br />

Hábit<strong>os</strong> alimentares: Há relat<strong>os</strong> de<br />

se alimentarem de néctar <strong>da</strong>s flores.<br />

Venen<strong>os</strong>o: Não.<br />

Pericul<strong>os</strong>i<strong>da</strong>de: Nenhuma.<br />

Curi<strong>os</strong>i<strong>da</strong>des: Pouco se<br />

sabe sobre a vi<strong>da</strong> dessas<br />

m<strong>os</strong>cas gigantes. Suas larvas<br />

vivem em formigueir<strong>os</strong> como<br />

pre<strong>da</strong>dora. Os adult<strong>os</strong> medem<br />

até 90 milímetr<strong>os</strong><br />

e acredita-se que<br />

seja a maior<br />

entre to<strong>da</strong>s<br />

as m<strong>os</strong>cas<br />

do mundo.<br />

Se parecem<br />

com vespas <strong>da</strong>s quais são excelentes<br />

imitadoras (mimetismo) – não só<br />

na forma e na cor, mas também no<br />

comportamento de defesa, produzindo<br />

zumbid<strong>os</strong> ameaçadores e fals<strong>os</strong><br />

intent<strong>os</strong> de picar.<br />

Dad<strong>os</strong> do exemplar: Coletado em<br />

Presidente Figueiredo, em julho de<br />

2005.<br />

fêmea pelo extraordinário desenvolvimento<br />

<strong>da</strong>s pernas anteriores. Além de espécies<br />

botânicas nativas, suas larvas atacam a<br />

jaqueira. As fêmeas fazem pequenas incisões<br />

no tronco e dep<strong>os</strong>itam seus ov<strong>os</strong>. Ao<br />

nascerem, as larvas penetram no interior<br />

do tronco. Outro fato curi<strong>os</strong>o são que<br />

pequen<strong>os</strong> aracníde<strong>os</strong>, conhecid<strong>os</strong> como<br />

“pseudo-escorpiões”, pegam “carona”<br />

embaixo <strong>da</strong>s asas deste besouro.<br />

Dad<strong>os</strong> do Exemplar: Coletado em Presidente<br />

Figueiredo, ag<strong>os</strong>to de 2005.<br />

Mãe do Sol<br />

Nome Científico: Euchroma gigantea<br />

(Linneus, 1758).<br />

Ocorrência: To<strong>da</strong> a região amazônica.<br />

Hábit<strong>os</strong> alimentares: Seiva de tronco de<br />

árvores e madeira.<br />

Venen<strong>os</strong>o: Não.<br />

Pericul<strong>os</strong>i<strong>da</strong>de: Nenhum.<br />

Curi<strong>os</strong>i<strong>da</strong>des: Este besouro metálico é usado<br />

como enfeite pel<strong>os</strong> índi<strong>os</strong>. É o gigante<br />

d<strong>os</strong> Buprestíde<strong>os</strong> <strong>da</strong> América do Sul, pois<br />

alguns exemplares atingem 80 milímetr<strong>os</strong><br />

de comprimento. Este coleóptero é comum<br />

em áreas recém desmata<strong>da</strong>s, onde mach<strong>os</strong><br />

e fêmeas dominam as clareiras, <strong>da</strong>í o<br />

nome popular de Mãe do Sol – neste local<br />

é onde se acasalam<br />

e p<strong>os</strong>teriormente<br />

as fêmeas dep<strong>os</strong>itam<br />

seus ov<strong>os</strong><br />

nas arvores recém<br />

derruba<strong>da</strong>s.<br />

Dad<strong>os</strong> do Exemplar:<br />

Coletado em<br />

Presidente Figueiredo,<br />

em ag<strong>os</strong>to de 2005.<br />

Besouro de Chifre ou Besouro Rinoceronte 1<br />

Nome científico: Megasoma mars (Reiche, 1852).<br />

Ocorrência: To<strong>da</strong> a região amazônica.<br />

Hábit<strong>os</strong> alimentares: Observou-se, em espécies semelhantes,<br />

que eles se alimentam de seiva que escorre d<strong>os</strong><br />

tronc<strong>os</strong> de algumas árvores.<br />

Venen<strong>os</strong>o: Não.<br />

Pericul<strong>os</strong>i<strong>da</strong>de: Nenhum.<br />

Curi<strong>os</strong>i<strong>da</strong>des: As espécies deste gênero são marca<strong>da</strong>s pela<br />

presença de grandes chifres n<strong>os</strong> mach<strong>os</strong>. As larvas chegam<br />

a viver cinco an<strong>os</strong> n<strong>os</strong> tronc<strong>os</strong> de árvores apodreci<strong>da</strong>s, sendo<br />

que quando adulto vive poucas semanas. Seus chifres eram<br />

usad<strong>os</strong> como jóias – as pessoas pegavam o chifre e man<strong>da</strong>vam<br />

encastoar em ouro para fazer parte de uma me<strong>da</strong>lha. Também<br />

são alvo do comércio ilegal de inset<strong>os</strong>.<br />

Dad<strong>os</strong> do Exemplar: Coletado em Manaus, Julho de 1990.<br />

33


34<br />

Besourão ou Baratão<br />

Nome científico: Titanus giganteus (Linneus,1771)<br />

Ocorrência: To<strong>da</strong> a região amazônica.<br />

Hábit<strong>os</strong> alimentares: Segundo pesquisadores,<br />

alimentam-se de madeira apodreci<strong>da</strong><br />

Venen<strong>os</strong>o: Não.<br />

Pericul<strong>os</strong>i<strong>da</strong>de: Médio. Tem uma<br />

mordi<strong>da</strong> poder<strong>os</strong>a se manuseado<br />

incorretamente.<br />

Curi<strong>os</strong>i<strong>da</strong>des: Dentre <strong>os</strong> besour<strong>os</strong>,<br />

o Titanus é o maior do mundo,<br />

chegando a medir 20 centímetr<strong>os</strong> de<br />

comprimento. São extremamente rar<strong>os</strong><br />

e suas mandíbulas, segundo especialistas,<br />

são poder<strong>os</strong>as a ponto de quebrar um lápis. Estes<br />

inset<strong>os</strong> se tornaram lendári<strong>os</strong> pois, embora tenham<br />

sido descrit<strong>os</strong> e denominad<strong>os</strong> por Linneus em 1771,<br />

com base em pouc<strong>os</strong> fragment<strong>os</strong> existentes em museus na Europa,<br />

foi somente quase um século e meio depois que<br />

foram descobert<strong>os</strong> exemplares viv<strong>os</strong> ou<br />

perfeit<strong>os</strong>. Até o século XVIII, o melhor<br />

espécime conhecido foi encontrado<br />

parcialmente digerido no interior do<br />

estômago de um peixe, que havia<br />

sido capturado na bacia amazônica e<br />

levado até a Europa. Assim como<br />

outras espécies, este besouro<br />

pode atingir grandes preç<strong>os</strong> no<br />

comércio ilegal de inset<strong>os</strong>.<br />

Nome científico: Macrodontia cervicornis<br />

(Linneus, 1758).<br />

Ocorrência: To<strong>da</strong> a região amazônica.<br />

Hábit<strong>os</strong> alimentares: Segundo pesquisadores,<br />

assim como outr<strong>os</strong> inset<strong>os</strong>, eles se alimentam<br />

de seiva do tronco de árvores.<br />

Venen<strong>os</strong>o: Não.<br />

Serra-pau<br />

ou Serrador 1<br />

Pericul<strong>os</strong>i<strong>da</strong>de: Médio. Suas<br />

mandíbulas são desenvolvi<strong>da</strong>s e<br />

pode morder.<br />

Curi<strong>os</strong>i<strong>da</strong>des: Começa a vi<strong>da</strong> em<br />

forma de larva (Foto superior). Os mach<strong>os</strong><br />

desta espécie de besouro gigante p<strong>os</strong>suem<br />

mandíbulas enormes. Este coleóptero noturno<br />

é tido como um d<strong>os</strong> maiores besour<strong>os</strong> do<br />

mundo, chegando alcançar 16 centímetr<strong>os</strong><br />

de comprimento. Passa <strong>os</strong> dias descansando<br />

n<strong>os</strong> tronc<strong>os</strong> <strong>da</strong>s árvores, sendo camuflado<br />

pela coloração. É alvo do comércio ilegal de<br />

inset<strong>os</strong> <strong>da</strong> Amazônia.<br />

Dad<strong>os</strong> do exemplar: Não disponível.


Nome Científico: Theraph<strong>os</strong>a<br />

blondi (Letreiller, 1804).<br />

Ocorrência: To<strong>da</strong> a região amazônica,<br />

com exceção <strong>da</strong>s matas<br />

inun<strong>da</strong><strong>da</strong>s.<br />

Hábit<strong>os</strong> alimentares: Todo<br />

tipo de pequen<strong>os</strong> animais, de<br />

inset<strong>os</strong> e pequen<strong>os</strong> vertebrad<strong>os</strong>.<br />

Venen<strong>os</strong>o: Sim.<br />

Pericul<strong>os</strong>i<strong>da</strong>de: Baixo a médio. O veneno<br />

não é mortífero para o homem, mas seus pel<strong>os</strong><br />

podem causar irritação na pele e n<strong>os</strong> olh<strong>os</strong>.<br />

Curi<strong>os</strong>i<strong>da</strong>des: Essa espécie é a<br />

maior aranha do mundo<br />

em comprimento<br />

de pernas<br />

– um exemplar<br />

capturado na Venezuela<br />

ultrapassou 28 centímetr<strong>os</strong><br />

e está entre as aranhas mais<br />

pesa<strong>da</strong>s (as fêmeas são mais<br />

volum<strong>os</strong>as que <strong>os</strong> mach<strong>os</strong>). Vive nas<br />

florestas de terra firme, como na<br />

Reserva Florestal Adolpho Ducke, em<br />

Manaus. Elas utilizam seus “pel<strong>os</strong><br />

urticantes” como defesa. Acidentes<br />

com caranguejeiras ocorrem por<br />

contato entre a pele humana<br />

e <strong>os</strong> pel<strong>os</strong> quando a mesma é<br />

molesta<strong>da</strong>. Os pel<strong>os</strong> são muito<br />

pequen<strong>os</strong> e leves, capazes de<br />

flutuar, e são liberad<strong>os</strong> com<br />

um rápido esfregão pelas<br />

pernas traseiras sobre o abdômen<br />

– ao atingir a pele,<br />

pode causar alergias simples<br />

ou graves, principalmente<br />

se aspirad<strong>os</strong>. A reação à<br />

pica<strong>da</strong> pode ser forte ou<br />

fraca, dependendo <strong>da</strong><br />

pessoa. Algumas espécies<br />

não estu<strong>da</strong><strong>da</strong>s podem<br />

p<strong>os</strong>suir um veneno mais<br />

potente.<br />

Exemplar mais antigo: Um m<strong>os</strong>quito, coletado em 1929<br />

Exemplar considerado mais raro: O besouro <strong>da</strong> espécie<br />

Titanus giganteus – inseto com a maior massa corpórea do<br />

planeta, quando alcança <strong>os</strong> 17 centímetr<strong>os</strong> de comprimento<br />

máximo. Chega a custar U$ 5 mil no mercado clandestino.<br />

Exemplar mais perig<strong>os</strong>o: As aranhas do gênero Phoneutria,<br />

que são popularmente conheci<strong>da</strong>s como aranhasmacacas<br />

ou aranhas-armadeiras. Dependendo <strong>da</strong> sensibili<strong>da</strong>de<br />

de quem for picado, o veneno pode causar para<strong>da</strong><br />

Aranhaçu, Aranha Macaco<br />

ou Caranguejeira<br />

Dad<strong>os</strong> do Exemplar:<br />

Coleta<strong>da</strong> em<br />

Manaus, Reserva<br />

Ducke, em dezembro<br />

de 1999.<br />

Dad<strong>os</strong> <strong>da</strong> Coleção de Invertebrad<strong>os</strong> do <strong>Inpa</strong><br />

cárdio-respiratória.<br />

1 - Algumas espécies p<strong>os</strong>suem o mesmo nome popular<br />

Cientistas envolvid<strong>os</strong> na manutenção do acervo:<br />

Augusto Loureiro Henriques, Célio Magalhães, J<strong>os</strong>é<br />

Albertino Rafael, Márcio Oliveira, Catarina Motta, R<strong>os</strong>a Sá<br />

Hutchings (<strong>Inpa</strong>); Francisco Felipe Xavier Filho, Alexandre<br />

Silva Filho (CPBA/<strong>Inpa</strong>); Bolsistas: Ana Tourinho (PPBiogerência),Tiago<br />

Krolow (PPBio), Érika Portela (PCI),<br />

Rafaela Santo (PBIC), Walter Botelho (PPBio),Kelve Sousa<br />

(voluntária), Fabrício Baccaro (Pós-Graduação), Jessica<br />

Albuquerque (PPBio),Daniele Moraes (PPBio), Beatriz<br />

Coelho (Fapeam) e Herbert Guariento (Fapeam).<br />

35


imPacto ambiEntal<br />

36<br />

Construção <strong>da</strong> BR 319 po<br />

> Por <strong>da</strong>niel jor<strong>da</strong>no<br />

Grandes construções na Amazônia devem<br />

levar em consideração to<strong>da</strong>s as questões<br />

liga<strong>da</strong>s a<strong>os</strong> impact<strong>os</strong> ambientais. O caso<br />

<strong>da</strong> BR-319, que liga Manaus à capital de Rondônia,<br />

Porto Velho, não é diferente, uma vez que<br />

ela deve cruzar o estado do Amazonas e servir<br />

de porta de entra<strong>da</strong> do desmatamento para uma<br />

<strong>da</strong>s áreas de floresta mais preserva<strong>da</strong>s do País.<br />

É por isso que o grupo de pesquisadores do<br />

Instituto Nacional de Pesquisas <strong>da</strong> Amazônia<br />

(<strong>Inpa</strong>) coordenou um estudo para avaliar <strong>os</strong><br />

impact<strong>os</strong> ao meio ambiente na área de influência<br />

direta <strong>da</strong> rodovia. A pesquisa vai ser


de causar desmatamento<br />

em Roraima<br />

apresenta<strong>da</strong> à comuni<strong>da</strong>de científica no 13º<br />

Congresso Florestal Mundial que acontece em<br />

outubro próximo, em Buen<strong>os</strong> Aires, Argentina,<br />

e foi tema de dissertação de mestrado <strong>da</strong> pósgraduação<br />

em Ciências de Florestas Tropicais.<br />

O estudo revela que, devido à migração de<br />

pessoas e a intensificação de ativi<strong>da</strong>des eco-<br />

Os govern<strong>os</strong> federal e estadual<br />

promoveram a criação de reservas<br />

ambientais ao longo <strong>da</strong> BR 319 para<br />

evitar a criação de ramais ao longo<br />

<strong>da</strong> rodovia, o que amplia ain<strong>da</strong> mais o<br />

desmatamento, mas não foram toma<strong>da</strong>s<br />

medi<strong>da</strong>s que impedissem que o entorno<br />

<strong>da</strong>s áreas <strong>da</strong> região metropolitana de<br />

Manaus e <strong>da</strong> região do Sul de Roraima<br />

f<strong>os</strong>sem atingi<strong>da</strong>s<br />

nômicas como a exploração madeireira e agropecuária,<br />

áreas de cinco municípi<strong>os</strong> do sul<br />

de Roraima, e também de Boa Vista, devem<br />

sofrer um crescimento no índice de desmatamento<br />

em função <strong>da</strong> reconstrução <strong>da</strong> estra<strong>da</strong>.<br />

Segundo o pesquisador Paulo Eduardo Barni,<br />

que realizou o estudo, a rodovia pavimenta-<br />

ALBERTO CÉSAR ARAúJO/EM TEMPO<br />

37


38<br />

Apesar <strong>da</strong> pesquisa se referir ao sul do Estado vizinho,<br />

Paulo Barni não descarta a p<strong>os</strong>sibili<strong>da</strong>de do índice de<br />

desmatamento crescer também em Manaus e em municípi<strong>os</strong><br />

próxim<strong>os</strong><br />

<strong>da</strong> vai ligar o Amazonas às áreas do chamado<br />

arco do desmatamento, onde está incluído<br />

o estado de Rondônia. “A BR ligará o sul<br />

<strong>da</strong> região Amazônica ao que<br />

podem<strong>os</strong> chamar de centro<br />

<strong>da</strong> floresta. A bor<strong>da</strong> sul está<br />

mais desmata<strong>da</strong> e totalmente<br />

ocupa<strong>da</strong> pelo agronegócio e<br />

pastagens e nessas áreas há a<br />

pressão de pessoas que já não<br />

p<strong>os</strong>suem terras. Com a rodovia<br />

pavimenta<strong>da</strong>, o fluxo migratório<br />

vem até Manaus seguindo<br />

a BR-319 e vai até o sul de<br />

Roraima pela BR-174, onde as<br />

terras são relativamente melhores<br />

e mais baratas”, disse.<br />

Os govern<strong>os</strong> federal e estadual<br />

promoveram a criação de<br />

reservas ambientais ao longo<br />

<strong>da</strong> BR 319 para evitar o que <strong>os</strong><br />

especialistas chamam de espinha<br />

de peixe, ou seja, a criação<br />

de ramais ao longo <strong>da</strong> rodovia,<br />

o que amplia ain<strong>da</strong> mais o<br />

desmatamento. Mas segundo Barni, não foram<br />

toma<strong>da</strong>s medi<strong>da</strong>s para evitar o desmatamento<br />

Estudo coordenado<br />

pelo grupo<br />

de pesquisas do<br />

Laboratório de<br />

Agroecologia do<br />

<strong>Inpa</strong> indica que a<br />

reconstrução <strong>da</strong><br />

rodovia pode gerar<br />

aumento no desmatamento<br />

e nas<br />

emissões de gases<br />

de efeito estufa até<br />

no sul de Roraima<br />

no entorno <strong>da</strong>s áreas <strong>da</strong> região metropolitana<br />

de Manaus, em áreas ao longo <strong>da</strong> BR 174 (que<br />

liga Manaus à Boa Vista) e na região do Sul de<br />

Roraima. “É preciso fazer um ca<strong>da</strong>stramento<br />

<strong>da</strong>s áreas que poderão sofrer desmatamento em<br />

função <strong>da</strong> reconstrução <strong>da</strong> BR 319”, informou.<br />

Ain<strong>da</strong> de acordo com o estudo, o índice de<br />

desmatamento em cinco municípi<strong>os</strong> roraimenses<br />

deve crescer entre 20 e 42% até 2030.<br />

“O estudo está limitado ao sul de Roraima e<br />

avalia o efeito <strong>da</strong>s rodovias federais (BR’s 174<br />

e 210) sendo conecta<strong>da</strong>s ao ‘arco do desmatamento’<br />

através <strong>da</strong> BR-319. Os municípi<strong>os</strong> são<br />

Roraimópolis, Caroebe, Caracaraí, São João<br />

<strong>da</strong> Baliza e São Luiz do Anauá, totalizando<br />

uma área de 100 mil quilômetr<strong>os</strong> quadrad<strong>os</strong>,<br />

<strong>os</strong> quais foram modelad<strong>os</strong> em minha dissertação.<br />

Se houver um forte fluxo migratório,<br />

como é esperado com a reconstrução <strong>da</strong> BR-<br />

319, o desmatamento e a emissão de carbono<br />

deve subir entre 20 e 42 % acima do<br />

cenário de linha de base, ou seja, o cenário<br />

sem a reconstrução <strong>da</strong> rodovia’’, declarou.<br />

Intitula<strong>da</strong> “Reconstrução e asfaltamento <strong>da</strong><br />

rodovia BR 319: Efeito dominó pode elevar as<br />

taxas de desmatamento no sul do Estado de<br />

Roraima”, a pesquisa do <strong>Inpa</strong> coloca a BR-319<br />

como uma primeira peça de dominó a ser derruba<strong>da</strong>.<br />

Apesar <strong>da</strong> pesquisa se referir ao sul<br />

do Estado vizinho, Paulo Barni não descarta<br />

a p<strong>os</strong>sibili<strong>da</strong>de do índice de desmatamento<br />

crescer também em Manaus e em municípi<strong>os</strong><br />

vizinh<strong>os</strong>. “No caso <strong>da</strong> BR-319 e o desmatamento<br />

resultante, é como se a gente colocasse<br />

peças do dominó em pé e o<br />

asfaltamento <strong>da</strong> BR-319 seria<br />

a primeira peça a ser derruba<strong>da</strong>.<br />

Os arredores de Manaus,<br />

com o distrito agropecuário<br />

<strong>da</strong> Superintendência <strong>da</strong> Zona<br />

Franca de Manaus (Suframa)<br />

- há an<strong>os</strong> abandonado - seria<br />

a segun<strong>da</strong> peça a cair, Presidente<br />

Figueiredo e Itacoatiara<br />

também sentiriam esse<br />

efeito. A sequência do efeito<br />

e o espalhamento do desmatamento<br />

se estenderiam ao<br />

longo <strong>da</strong> BR 174 chegando<br />

até Roraima”, reforça Barni.<br />

Fatores como o agronegócio<br />

e a pecuária extensiva no<br />

chamado “arco do desmatamento”<br />

deslocam populações<br />

d<strong>os</strong> locais onde se instalam,<br />

<strong>os</strong> flux<strong>os</strong> migratóri<strong>os</strong> através<br />

<strong>da</strong> BR 319 reconstruí<strong>da</strong>, principalmente após<br />

a provável dispensa de trabalhadores ao final


de obras importantes no Estado de Rondônia,<br />

como a construção <strong>da</strong>s usinas hidrelétricas de<br />

Jirau e Santo Antônio, poderão causar também<br />

uma pressão social maior sobre o Amazonas.<br />

De acordo com o pesquisador, a rodovia pode<br />

servir como via de acesso a moviment<strong>os</strong> até<br />

então inexistentes no Amazonas, como Moviment<strong>os</strong><br />

de Sem Terras. “Com a chega<strong>da</strong> do agronegócio<br />

no norte do Mato Gr<strong>os</strong>so, sul do Pará<br />

e agora em Rondônia, essas ativi<strong>da</strong>des requerem<br />

muita área de terra e com poucas pessoas<br />

trabalhando. Isso elimina p<strong>os</strong>t<strong>os</strong> de trabalho<br />

e “expulsa” população. Além <strong>da</strong> <strong>questão</strong> de<br />

Jirau e Santo Antônio que devem atrair aproxima<strong>da</strong>mente<br />

cem mil pessoas para suas obras<br />

de construção. Ao fim <strong>da</strong>s obras, parte dessas<br />

pessoas, provavelmente, irão engr<strong>os</strong>sar o fluxo<br />

migratório para Manaus e Roraima”, disse.<br />

Avaliação <strong>da</strong> rodovia<br />

Para o coordenador do grupo de Pesquisa em<br />

Agroecologia do <strong>Inpa</strong>, Philip Martin Fearnside,<br />

é necessário fazer to<strong>da</strong>s as análises sobre<br />

<strong>os</strong> impact<strong>os</strong> ambientais antes <strong>da</strong> realização <strong>da</strong><br />

obra. “Tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> impact<strong>os</strong> ambientais devem<br />

ser levad<strong>os</strong> em consideração na toma<strong>da</strong> inicial<br />

de decisões para que depois não se tenha<br />

que consertar <strong>os</strong> <strong>da</strong>n<strong>os</strong>. Você deve avaliar <strong>os</strong><br />

impact<strong>os</strong> e ponderar <strong>os</strong> benefíci<strong>os</strong> para tomar<br />

uma decisão racional, o que não aconteceu,<br />

pois nem <strong>os</strong> impact<strong>os</strong> fora <strong>da</strong> área do EIA/<br />

RIMA <strong>da</strong> BR 319 foram avaliad<strong>os</strong>”, afirmou.<br />

Fearnside disse ain<strong>da</strong> que a BR 319, <strong>da</strong> forma<br />

como está, não é viável ambientalmente. “Ela<br />

não é viável, gera um impacto ambiental muito<br />

grande abrindo ao desmatamento, praticamente,<br />

a metade <strong>da</strong> floresta Amazônica. Até hoje,<br />

80% do desmatamento brasileiro restringiu-se<br />

ao arco do desmatamento, em torno <strong>da</strong>s áreas<br />

ao leste e ao sul <strong>da</strong> Amazônia. Manaus vai ser<br />

liga<strong>da</strong>, via BR 319, a esse arco”, declarou. O<br />

pesquisador fez ain<strong>da</strong> uma avaliação econômica<br />

<strong>da</strong> BR 319 e declarou. “Ela também não<br />

é viável economicamente para levar <strong>os</strong> produt<strong>os</strong><br />

para São Paulo via Rodovia”, acrescentou.<br />

Soluções<br />

Segundo Philip Fearnside, a prop<strong>os</strong>ta <strong>da</strong><br />

pesquisa para evitar o desmatamento no sul<br />

de Roraima é a criação de áreas protegi<strong>da</strong>s.<br />

”Também dá para fazer algumas coisas,<br />

o estudo m<strong>os</strong>tra que e uma delas é criando<br />

reservas para assim diminuir o desmatamento<br />

causado pela a abertura <strong>da</strong> BR’, disse.<br />

Já o pesquisador Paulo Barni acredita que<br />

além <strong>da</strong> criação de áreas de proteção, é necessário<br />

ain<strong>da</strong> o emprego de políticas alterna-<br />

FOTOS: TABAJARA MORENO<br />

Philip Fearnside ressalta ser necessário fazer to<strong>da</strong>s as<br />

análises sobre <strong>os</strong> impact<strong>os</strong> ambientais antes <strong>da</strong> realização <strong>da</strong><br />

obra, para que depois não se tenha que consertar <strong>os</strong> <strong>da</strong>n<strong>os</strong><br />

tivas de desenvolvimento para assim evitar o<br />

desmatamento futuro e recuperar as áreas já<br />

degra<strong>da</strong><strong>da</strong>s. “É preciso fazer a regularização<br />

fundiária <strong>da</strong>s terras e aumentar a fiscalização,<br />

além de criar linhas de crédit<strong>os</strong> a<strong>os</strong> agricultores<br />

para a implantação de sistemas auto-sustentáveis<br />

como <strong>os</strong> sistemas agro-florestais”, disse.<br />

A rodovia<br />

A BR 319 foi construí<strong>da</strong> na déca<strong>da</strong> de 70, assim<br />

como outras rodovias, na intenção de integrar<br />

a região. Além <strong>da</strong>s obras, o regime militar promoveu<br />

a vin<strong>da</strong> de várias pessoas do sul do país<br />

para a região com a promessa de que elas teriam<br />

to<strong>da</strong> assistência técnica para produzir aqui.<br />

Após an<strong>os</strong> de abandono, surge a prop<strong>os</strong>ta<br />

<strong>da</strong> recuperação completa <strong>da</strong> rodovia. Além <strong>da</strong><br />

<strong>questão</strong> <strong>da</strong> integração de fato <strong>da</strong> Amazônia com<br />

o resto do país, a rodovia recupera<strong>da</strong> representa<br />

uma via de escoamento <strong>da</strong> produção de<br />

produt<strong>os</strong> do Pólo Industrial de Manaus (PIM).<br />

39


a<strong>da</strong>Ptação<br />

40<br />

<strong>Mu<strong>da</strong>nças</strong> climáticas<br />

globais:<br />

> Por TharCila MarTins<br />

A<br />

<strong>questão</strong> do clima no planeta ganhou<br />

maior destaque no início de 2007,<br />

quando saiu o último relatório do<br />

Painel Intergovernamental de <strong>Mu<strong>da</strong>nças</strong><br />

<strong>Climáticas</strong>. Essas informações alertaram a<br />

socie<strong>da</strong>de para as consequências <strong>da</strong>s alterações<br />

climáticas provoca<strong>da</strong>s em função<br />

<strong>da</strong>s ações humanas. A partir <strong>da</strong>í, o assunto<br />

tornou-se uma <strong>da</strong>s principais pautas na imprensa<br />

e ganhou maior destaque nas agen<strong>da</strong>s<br />

governamentais do Brasil e do mundo.<br />

De acordo com o gerente executivo do Programa<br />

de Grande Escala <strong>da</strong> Bi<strong>os</strong>fera-Atm<strong>os</strong>fera na<br />

Amazônia (LBA), Antonio Ocimar Manzi, o termo<br />

<strong>Mu<strong>da</strong>nças</strong> <strong>Climáticas</strong> pode ser atribuído tanto às<br />

mu<strong>da</strong>nças do clima que ocorrem naturalmente,<br />

quanto às alterações no clima provoca<strong>da</strong>s pelas<br />

ativi<strong>da</strong>des do homem. Entretanto, esses term<strong>os</strong><br />

<strong>Mu<strong>da</strong>nças</strong> <strong>Climáticas</strong> Globais ou <strong>Mu<strong>da</strong>nças</strong> Ambientais<br />

Globais são aplicad<strong>os</strong> às alterações climáticas<br />

provoca<strong>da</strong>s pelas ativi<strong>da</strong>des humanas.<br />

Segundo Manzi, a origem desses problemas<br />

está, principalmente, na mu<strong>da</strong>nça <strong>da</strong> compo-


ciência ou<br />

política?<br />

sição <strong>da</strong> atm<strong>os</strong>fera. “Isso acontece com a utilização<br />

de combustíveis fósseis, ou seja, na<br />

transferência de carbono, na maioria <strong>da</strong>s vezes,<br />

do subsolo, que está na forma de carvão mineral,<br />

petróleo e gás natural, que quando são<br />

usad<strong>os</strong> para produzir energia liberam gases de<br />

efeito estufa na atm<strong>os</strong>fera, mas também quando<br />

uma floresta é corta<strong>da</strong> ou queima<strong>da</strong>”, afirma.<br />

De acordo com o pesquisador, <strong>os</strong> estud<strong>os</strong> sobre<br />

mu<strong>da</strong>nças climáticas <strong>da</strong> Amazônia no século<br />

XXI seguem <strong>dois</strong> foc<strong>os</strong>. Um deles continua sendo<br />

o de entender a variabili<strong>da</strong>de natural do clima<br />

FOTOS: TABAJARA MORENO<br />

Estud<strong>os</strong> sobre mu<strong>da</strong>nças climáticas <strong>da</strong> Amazônia<br />

m<strong>os</strong>tram que essas estão associa<strong>da</strong>s tanto a<strong>os</strong><br />

impact<strong>os</strong> climátic<strong>os</strong> <strong>da</strong>s mu<strong>da</strong>nças de us<strong>os</strong> <strong>da</strong> terra na<br />

Amazônia, como à influência <strong>da</strong>s mu<strong>da</strong>nças climáticas<br />

globais n<strong>os</strong> ec<strong>os</strong>sistemas amazônic<strong>os</strong>, assegura o<br />

pesquisador<br />

41


42<br />

e seus efeit<strong>os</strong> n<strong>os</strong> ec<strong>os</strong>sistemas e na hidrologia.<br />

Em geral, a variabili<strong>da</strong>de do clima amazônico<br />

está associa<strong>da</strong> a padrões de variação <strong>da</strong><br />

temperatura <strong>da</strong> superfície d<strong>os</strong> ocean<strong>os</strong>, como<br />

é o caso <strong>da</strong>s alterações do regime de chuvas<br />

sobre a Amazônia em decorrência d<strong>os</strong> fenômen<strong>os</strong><br />

El Niño e La Niña, mas responde também<br />

às grandes erupções vulcânicas e pode ser influencia<strong>da</strong><br />

pela variabili<strong>da</strong>de <strong>da</strong> ativi<strong>da</strong>de solar.<br />

“A literatura especializa<strong>da</strong> apresenta estud<strong>os</strong><br />

sobre a variabili<strong>da</strong>de climática <strong>da</strong> Amazônia<br />

associa<strong>da</strong> às <strong>os</strong>cilações entre déca<strong>da</strong>s n<strong>os</strong> padrões<br />

de distribuição de temperatura <strong>da</strong> superfície<br />

d<strong>os</strong> ocean<strong>os</strong>, especialmente do Pacífico e<br />

do Atlântico, mas também às <strong>os</strong>cilações entre<br />

an<strong>os</strong>, como n<strong>os</strong> event<strong>os</strong> El Niño e La Niña do<br />

oceano Pacífico e n<strong>os</strong> event<strong>os</strong><br />

de mu<strong>da</strong>nça no gradiente<br />

norte-sul de anomalias de temperatura<br />

<strong>da</strong>s águas superficiais<br />

do oceano Atlântico tropical.<br />

Alguns estud<strong>os</strong> abor<strong>da</strong>m <strong>os</strong><br />

efeit<strong>os</strong> de aer<strong>os</strong>sois lançad<strong>os</strong><br />

na atm<strong>os</strong>fera em decorrência<br />

de erupções vulcânicas e outr<strong>os</strong><br />

efeit<strong>os</strong> <strong>da</strong> variabili<strong>da</strong>de<br />

natural <strong>da</strong> intensi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> radiação<br />

solar”, explica Manzi.<br />

Quando ocorrem <strong>os</strong> event<strong>os</strong><br />

El Niño (águas do oceano<br />

Pacífico tropical mais quentes<br />

que na média de longo prazo),<br />

as regiões norte e leste<br />

<strong>da</strong> Amazônia em geral sofrem<br />

com diminuição de chuvas, e<br />

quando ocorrem event<strong>os</strong> La<br />

Niña (águas do oceano Pacífico<br />

mais frias) as chuvas nessas<br />

regiões se intensificam.<br />

Quando o oceano Atlântico<br />

tropical sul está mais quente<br />

do que o normal a tendência<br />

é ter aumento de chuvas no norte do nordeste<br />

brasileiro e numa parte do norte e leste <strong>da</strong><br />

Amazônia; quando ele está mais frio, a tendência<br />

é de diminuição de chuvas nessas regiões.<br />

O segundo foco está associado tanto a<strong>os</strong><br />

impact<strong>os</strong> climátic<strong>os</strong> <strong>da</strong>s mu<strong>da</strong>nças de us<strong>os</strong> <strong>da</strong><br />

terra na Amazônia, como à influência <strong>da</strong>s mu<strong>da</strong>nças<br />

climáticas globais n<strong>os</strong> ec<strong>os</strong>sistemas<br />

amazônic<strong>os</strong>, com ênfase para o aumento <strong>da</strong><br />

concentração de gás carbônico <strong>da</strong> atm<strong>os</strong>fera<br />

(que é o principal alimento <strong>da</strong>s plantas), o<br />

aumento <strong>da</strong> temperatura do ar e as prováveis<br />

mu<strong>da</strong>nças no regime de chuvas <strong>da</strong> região.<br />

O pesquisador do <strong>Inpa</strong> afirma que existe to<strong>da</strong><br />

uma série de estud<strong>os</strong> do clima geral e sua influ-<br />

Afinal, o que são<br />

as fam<strong>os</strong>as mu<strong>da</strong>nças<br />

climáticas? O<br />

que as causa? É<br />

sobre isso que o<br />

pesquisador do<br />

Instituto Nacional<br />

de Pesquisas <strong>da</strong><br />

Amazônia (<strong>Inpa</strong>) e<br />

gerente executivo<br />

do Programa de<br />

Grande Escala <strong>da</strong><br />

Bi<strong>os</strong>fera-Atm<strong>os</strong>fera<br />

na Amazônia<br />

(LBA), Antonio Ocimar<br />

Manzi, explica.<br />

ência na Amazônia. “Nós tivem<strong>os</strong>, principalmente,<br />

no final do século XX, um interesse muito<br />

grande em entender qual o efeito d<strong>os</strong> desmatament<strong>os</strong><br />

<strong>da</strong> Amazônia no clima. Hoje já conhecem<strong>os</strong><br />

muito sobre isso, principalmente, em função<br />

<strong>da</strong>s pesquisas que realizam<strong>os</strong> aqui na Amazônia,<br />

em instituições brasileiras, onde o <strong>Inpa</strong><br />

sempre teve um papel de liderança”, declara.<br />

Desmatament<strong>os</strong><br />

A substituição <strong>da</strong> floresta por pastagem provoca<br />

diminuição de 20% a 30 % <strong>da</strong> evapotranspiração<br />

superficial, com conseqüente aumento <strong>da</strong><br />

temperatura do ar sobre a pastagem. Em um modelo<br />

conceitual de áreas desmata<strong>da</strong>s envoltas por florestas,<br />

a diferença de temperatura do ar entre floresta<br />

e pastagem gera uma circulação atm<strong>os</strong>férica que<br />

propicia aumento <strong>da</strong> nebolusi<strong>da</strong>de<br />

e provável aumento de preci-<br />

pitação sobre a área desmata<strong>da</strong>.<br />

Entretanto, para um desmatamento<br />

em grande escala, acima<br />

de 40% a 50% <strong>da</strong> Amazônia, simulações<br />

com model<strong>os</strong> numéric<strong>os</strong><br />

climátic<strong>os</strong> sugerem que pode<br />

haver uma redução de chuvas na<br />

Amazônia como um todo, mas<br />

principalmente uma redistribuição<br />

<strong>da</strong>s chuvas, na qual a região<br />

leste vai se tornar mais seca e a<br />

parte oeste um pouco mais úmi<strong>da</strong>.<br />

Para Manzi, esse assunto do<br />

desmatamento total foi importante<br />

no final do século XX,<br />

quando a taxa anual de desmatamento<br />

era muito grande e<br />

não havia perspectiva de redução<br />

dessas taxas. Mas, segundo<br />

ele, a situação agora é diferente.<br />

Por conta <strong>da</strong>s mu<strong>da</strong>nças<br />

climáticas globais e <strong>da</strong>s pressões<br />

sociais pela conservação<br />

<strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> Amazônia se passou a ter<br />

uma atitude governamental e, hoje, até empresarial,<br />

com um olhar diferente sobre a Amazônia.<br />

“As taxas de desmatamento reduziram n<strong>os</strong> últim<strong>os</strong><br />

an<strong>os</strong> e a meta do governo brasileiro é<br />

de baixar ain<strong>da</strong> mais n<strong>os</strong> próxim<strong>os</strong>, mas a preocupação,<br />

lógico, continua. Por isso, o cenário<br />

de um desmatamento praticamente total <strong>da</strong><br />

Amazônia é pouco provável. Eu acho que está<br />

ca<strong>da</strong> vez mais distante”, afirma o pesquisador.<br />

Aquecimento global<br />

O aquecimento global é o que leva às mu<strong>da</strong>nças<br />

climáticas globais. A física do efeito estufa/<br />

aquecimento global começou a ser desven<strong>da</strong><strong>da</strong><br />

no século XIX. Segundo Manzi, nessa época,


descobriu-se que existia o efeito estufa na Terra<br />

e que <strong>os</strong> principais gases causadores do efeito<br />

estufa são o vapor de água e o gás carbônico.<br />

Sem esses gases na atm<strong>os</strong>fera, a superfície de<br />

n<strong>os</strong>so planeta seria pelo men<strong>os</strong> 30ºC mais fria.<br />

O aumento <strong>da</strong> concentração d<strong>os</strong> gases de efeito<br />

estufa na atm<strong>os</strong>fera intensifica o efeito estufa<br />

natural <strong>da</strong> Terra e o planeta se aquece. O<br />

termo aquecimento global é atribuído exatamente<br />

a esse aumento de temperatura provocado<br />

pela intensificação do efeito estufa. Os gases<br />

que mais contribuem para o aquecimento global<br />

são o gás carbônico, o metano e o óxido nitr<strong>os</strong>o.<br />

Homem x meio ambiente<br />

Existem mu<strong>da</strong>nças climáticas que são de origens<br />

naturais e o clima está mu<strong>da</strong>ndo o tempo todo.<br />

Mas as mu<strong>da</strong>nças climáticas globais, aquelas<br />

que acontecem com interferência do homem,<br />

se somam às mu<strong>da</strong>nças climáticas naturais.<br />

Para Manzi, as mu<strong>da</strong>nças climáticas globais<br />

podem levar a grandes consequências<br />

Manzi, no alto<br />

<strong>da</strong> torre de<br />

monitoramento do<br />

LBA, na Reserva<br />

Biológica do Cuieiras:<br />

“As taxas de<br />

desmatamento<br />

reduziram n<strong>os</strong><br />

últim<strong>os</strong> an<strong>os</strong>, por<br />

isso o cenário de<br />

um desmatamento<br />

praticamente total<br />

na Amazônia é pouco<br />

provável.“<br />

para <strong>os</strong> ec<strong>os</strong>sistemas. Qualquer mu<strong>da</strong>nça na<br />

temperatura ou na distribuição de chuvas<br />

tem implicação para a vi<strong>da</strong>, favorecendo algumas<br />

espécies em detrimento de outras,<br />

podendo ter efeito ecológico muito grande.<br />

“O mais importante de tudo é que as mu<strong>da</strong>nças<br />

climáticas globais estão contribuindo para<br />

repensarm<strong>os</strong> n<strong>os</strong>so modo de vi<strong>da</strong>, a maneira<br />

como está se <strong>da</strong>ndo o desenvolvimento <strong>da</strong> humani<strong>da</strong>de.<br />

Isso n<strong>os</strong> faz concluir que o modelo<br />

de desenvolvimento econômico e social que<br />

adotam<strong>os</strong> não é sustentável para o planeta.<br />

Tem<strong>os</strong> que mu<strong>da</strong>r a maneira com que tratam<strong>os</strong><br />

o meio ambiente, inclusive para a sobrevivência<br />

de muitas espécies”, declara Manzi.<br />

Atualmente, as mu<strong>da</strong>nças climáticas globais<br />

deixaram de ser um problema técnico e<br />

científico para tornar-se político. Essa situação<br />

está levando a uma mu<strong>da</strong>nça de atitude<br />

e isso levará a uma modificação importante<br />

na maneira com que o homem<br />

explora <strong>os</strong> recurs<strong>os</strong> naturais do planeta.<br />

43


44<br />

Além <strong>da</strong> torre principal de<br />

300 metr<strong>os</strong>, haverá pelo<br />

men<strong>os</strong> outras quatro torres<br />

meteorológicas com cerca de 80<br />

metr<strong>os</strong> ca<strong>da</strong> uma, volta<strong>da</strong>s para<br />

a medição de flux<strong>os</strong> horizontais<br />

de energia e gases


Programa aju<strong>da</strong> a entender o funcionamento<br />

d<strong>os</strong> ec<strong>os</strong>sitemas amazônic<strong>os</strong><br />

Com mais de 10 an<strong>os</strong> do início d<strong>os</strong> trabalh<strong>os</strong> de campo,<br />

o Programa de Grande Escala <strong>da</strong> Bi<strong>os</strong>fera-Atm<strong>os</strong>fera<br />

na Amazônia (LBA), que surgiu como um projeto<br />

científico de cooperação internacional, é desde 2007<br />

um programa do governo brasileiro, coordenado pelo<br />

<strong>Inpa</strong>. De acordo com Manzi, o programa propõe iniciativas<br />

de pesquisas nacionais e internacionais em<br />

que se procura entender o funcionamento d<strong>os</strong> ec<strong>os</strong>sistemas<br />

amazônic<strong>os</strong> e a interação deles com o clima.<br />

O LBA tem o objetivo de tentar responder de uma<br />

maneira científica qual o papel <strong>da</strong> Amazônia no sistema<br />

climático <strong>da</strong> Terra. Como a Amazônia funciona? Qual o<br />

papel dela no sistema climático <strong>da</strong> Terra? “A outra <strong>questão</strong><br />

é entender, realmente, como funcionam <strong>os</strong> n<strong>os</strong>s<strong>os</strong><br />

ec<strong>os</strong>sistemas, mas de uma maneira integra<strong>da</strong>, não só<br />

pensando no ponto de vista físico, químico ou biológico<br />

isola<strong>da</strong>mente, mas integrando tudo isso. O LBA<br />

busca entender como <strong>os</strong> ec<strong>os</strong>sistemas, n<strong>os</strong> ambientes<br />

naturais e também n<strong>os</strong> ambientes já alterad<strong>os</strong>, interagem<br />

com o sistema climático”, afirma o pesquisador.<br />

Além disso, o programa estu<strong>da</strong> como as mu<strong>da</strong>nças<br />

de uso <strong>da</strong> terra na Amazônia afetam o clima em si e o<br />

próprio funcionamento d<strong>os</strong> ec<strong>os</strong>sistemas amazônic<strong>os</strong>.<br />

E, ain<strong>da</strong>, como as mu<strong>da</strong>nças climáticas globais afetarão<br />

<strong>os</strong> ec<strong>os</strong>sistemas amazônic<strong>os</strong>. Tudo ocorrendo dentro<br />

de um quadro cujo objetivo é desenvolver tecnologias<br />

para o desenvolvimento sustentável <strong>da</strong> região.<br />

Manzi afirma que o LBA foi planejado como um<br />

programa científico de ciência básica, no entanto,<br />

incorporou desde o início a preocupação com o desenvolvimento<br />

sustentável <strong>da</strong> região. Daí se tem a<br />

importância <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>des do programa para a socie<strong>da</strong>de.<br />

As ativi<strong>da</strong>des desenvolvi<strong>da</strong>s têm grande relevância,<br />

não só para a Amazônia, como para o mundo.<br />

Monitorando a floresta<br />

Um d<strong>os</strong> projet<strong>os</strong> do LBA que vem ganhando destaque<br />

na Amazônia e no mundo é o <strong>da</strong> rede de monitoramento<br />

ambiental e de gases de efeito estufa, comp<strong>os</strong>ta de 12<br />

torres instala<strong>da</strong>s no meio <strong>da</strong> floresta e áreas altera<strong>da</strong>s,<br />

com o intuito de monitorar as condições meteorológicas<br />

e as trocas gas<strong>os</strong>as entre a atm<strong>os</strong>fera e a floresta.<br />

As torres ergui<strong>da</strong>s no Amazonas estão localiza<strong>da</strong>s<br />

na Reserva Biológica do Cuieiras, do <strong>Inpa</strong>, em Manaus,<br />

no km 14, do ramal ZF2 (denominação d<strong>os</strong> ramais<br />

que se inciam na BR 174 que dá acesso às áreas<br />

do Distrito Agropecuário <strong>da</strong> Superintendência <strong>da</strong> Zona<br />

Franca de Manaus - Suframa), com 57 metr<strong>os</strong> de altura<br />

e no km 34, com 53 metr<strong>os</strong>. Uma terceira torre, de<br />

65 metr<strong>os</strong> de altura, foi ergui<strong>da</strong> na floresta do Parque<br />

Nacional do Pico <strong>da</strong> Neblina em São Gabriel <strong>da</strong><br />

Cachoeira, distante 852 quilometr<strong>os</strong> por via fluvial de<br />

Manaus, há uma torre de 35 metr<strong>os</strong> instala<strong>da</strong> em uma<br />

floresta secundária na Fazen<strong>da</strong> Esteio, no ramal ZF3.<br />

O topo <strong>da</strong>s torres ultrapassam em pelo men<strong>os</strong> 20 metr<strong>os</strong><br />

a copa <strong>da</strong>s árvores. Nelas estão instalad<strong>os</strong> equipament<strong>os</strong><br />

que medem, por exemplo, numa frequência de 10<br />

vezes por segundo a veloci<strong>da</strong>de do vento, a temperatura<br />

do ar e as concentrações de gás carbônico, de metano<br />

e de vapor de água, que p<strong>os</strong>sibilitam calcular <strong>os</strong> flux<strong>os</strong><br />

de energia e massa entre a vegetação e a atm<strong>os</strong>fera.<br />

Element<strong>os</strong> meteorológic<strong>os</strong> convencionais são medid<strong>os</strong><br />

no topo <strong>da</strong> torre, perfis de vento, temperatura e<br />

umi<strong>da</strong>de do ar e concentração de gás carbônico são<br />

medid<strong>os</strong> ao longo <strong>da</strong> torre e perfis de temperatura e de<br />

conteúdo de água são medid<strong>os</strong> no solo. Para 2010 estão<br />

previstas instalações de torres em Humaitá e Tefé.<br />

Novo sítio experimental<br />

Um novo super sítio experimental equipado com<br />

uma torre de monitoramento de mais de 300 metr<strong>os</strong><br />

de altura está previsto para ser implantado em 2010<br />

na Reserva de Desenvolvimento Sustentável do Uatumã,<br />

no município de Presidente Figueiredo, no<br />

âmbito <strong>da</strong> cooperação do Brasil com a Alemanha.<br />

Segundo Manzi, essa torre p<strong>os</strong>sibilitará fazer medi<strong>da</strong>s<br />

de vári<strong>os</strong> constituintes químic<strong>os</strong> que muitas<br />

vezes são produzid<strong>os</strong> pela vegetação e que reagem<br />

rapi<strong>da</strong>mente na atm<strong>os</strong>fera e também d<strong>os</strong> complex<strong>os</strong><br />

mecanism<strong>os</strong> de transporte de energia e matéria<br />

que ocorrem na atm<strong>os</strong>fera acima <strong>da</strong> floresta.<br />

“Poderem<strong>os</strong> medir como esses gases e partículas<br />

são produzid<strong>os</strong> e transportad<strong>os</strong>, e como eles reagem<br />

na atm<strong>os</strong>fera. Há um interesse especial no entendimento<br />

do ciclo do carbono e do papel d<strong>os</strong> aer<strong>os</strong>sois<br />

biogênic<strong>os</strong> na formação de chuvas na Amazônia. O<br />

grande estoque de carbono armazenado nas árvores<br />

e no solo <strong>da</strong> Amazônia faz dela uma região ain<strong>da</strong><br />

mais importante no contexto do clima e <strong>da</strong>s mu<strong>da</strong>nças<br />

climáticas globais”, afirma o pesquisador.<br />

Manzi ain<strong>da</strong> explica que além <strong>da</strong> torre principal de<br />

300 metr<strong>os</strong>, haverá pelo men<strong>os</strong> outras quatro torres<br />

meteorológicas com cerca de 80 metr<strong>os</strong> ca<strong>da</strong> uma, volta<strong>da</strong>s<br />

para a medição de flux<strong>os</strong> horizontais de energia<br />

e gases, medi<strong>da</strong>s essas essenciais para a determinação<br />

completa d<strong>os</strong> balanç<strong>os</strong> de energia e gases <strong>da</strong> floresta.<br />

“Serão monitora<strong>da</strong>s, no interior e acima <strong>da</strong> floresta, as<br />

condições ambientais e as concentrações de dióxido de<br />

carbono, metano e outr<strong>os</strong> gases atm<strong>os</strong>féric<strong>os</strong>. Entender<br />

o papel <strong>da</strong> Amazônia no ciclo global do carbono e de<br />

outr<strong>os</strong> nutrientes, além <strong>da</strong> sua evolução ao longo de algumas<br />

déca<strong>da</strong>s, é um d<strong>os</strong> objetiv<strong>os</strong> do projeto”, afirma.<br />

45


ProtEção<br />

46<br />

<strong>Inpa</strong> garante proteção<br />

às descobertas<br />

amazônicas<br />

> Por annyelle bezerra<br />

O<br />

Instituto Nacional de Pesquisas <strong>da</strong> Amazônia<br />

(<strong>Inpa</strong>) há mais de 50 an<strong>os</strong> se dedica<br />

a estu<strong>da</strong>r sobre a biodiversi<strong>da</strong>de <strong>da</strong><br />

fauna e flora amazônicas. Divers<strong>os</strong> produt<strong>os</strong><br />

ao longo d<strong>os</strong> an<strong>os</strong> foram elaborad<strong>os</strong> a partir<br />

de pesquisas desenvolvi<strong>da</strong>s no instituto, como<br />

a Sopa Desidrata<strong>da</strong> de Piranha (Serrasalmus<br />

spp.), a Pupurola Granola de<br />

Pupunha (Bactris gasipaes), e<br />

a Zerumbona, obti<strong>da</strong> d<strong>os</strong> óle<strong>os</strong><br />

essenciais <strong>da</strong>s raízes de Zingiber<br />

zerumbet (planta herbácea<br />

de fácil cultivo), entre outr<strong>os</strong>.<br />

A Divisão de Proprie<strong>da</strong>de<br />

Intelectual e Negóci<strong>os</strong> (DPIN)<br />

é a responsável pela proteção<br />

d<strong>os</strong> produt<strong>os</strong> gerad<strong>os</strong> a partir<br />

d<strong>os</strong> estud<strong>os</strong> desenvolvid<strong>os</strong><br />

no instituto e, atualmente,<br />

contabiliza 40 pedid<strong>os</strong> de patente<br />

em an<strong>da</strong>mento junto<br />

ao Instituto Nacional <strong>da</strong> Proprie<strong>da</strong>de<br />

Industrial (INPI).<br />

Segundo a coordenadora do<br />

DPIN, R<strong>os</strong>angela Bentes, d<strong>os</strong><br />

40 pedid<strong>os</strong> de patentes feit<strong>os</strong>,<br />

24 já p<strong>os</strong>suem número<br />

de patente em âmbito nacional<br />

e internacional permitind<br />

o com isso que haja negociação<br />

com o mercado produtivo. Outras 16 estão<br />

com a solicitação em an<strong>da</strong>mento, e <strong>da</strong>s 24,<br />

oito se encaixam no chamado Tratado de Cooperação<br />

em Matéria de Patentes (PCT), devendo<br />

adentrar o território brasileiro ain<strong>da</strong> este ano.<br />

O processo de patente<br />

A necessi<strong>da</strong>de de patente, segundo Bentes, é<br />

percebi<strong>da</strong> geralmente na fase inicial <strong>da</strong> pesqui-<br />

Entre <strong>os</strong> produt<strong>os</strong><br />

patentead<strong>os</strong> e<br />

disponíveis para<br />

negociação com<br />

o setor produtivo<br />

regional, nacional<br />

e internacional,<br />

estão aqueles do<br />

setor alimentício,<br />

de c<strong>os</strong>métic<strong>os</strong> e de<br />

bens e serviç<strong>os</strong>.<br />

Atualmente,<br />

existem 40 solicitações<br />

de patentes<br />

em an<strong>da</strong>mento<br />

sa. “Assim que o pesquisador identifica a necessi<strong>da</strong>de<br />

de patente, ele n<strong>os</strong> procura para que a<br />

partir do projeto escrito nós p<strong>os</strong>sam<strong>os</strong> fazer uma<br />

análise de viabili<strong>da</strong>de”, explica a coordenadora.<br />

O segundo passo é a elaboração de um relatório<br />

e a realização de uma reunião interna<br />

na qual são exp<strong>os</strong>t<strong>os</strong> ao pesquisador <strong>os</strong> formulári<strong>os</strong><br />

a serem preenchid<strong>os</strong> com to<strong>da</strong>s as<br />

informações necessárias para<br />

a compreensão do produto.<br />

Bentes ressalta que antes<br />

desse processo é feita a assinatura,<br />

por parte do pesquisador e<br />

sua equipe, do termo de sigilo,<br />

onde as partes se comprometem<br />

a não publicar ou divulgar<br />

a descoberta. “É preciso haver<br />

uma preocupação com a segurança<br />

<strong>da</strong> informação e do processo<br />

do produto para que após<br />

a solicitação, o pesquisador não<br />

venha a perder o direito sobre<br />

a sua descoberta”, enfatiza.<br />

Produt<strong>os</strong> e process<strong>os</strong><br />

O <strong>Inpa</strong> conta com um portfólio,<br />

onde estão exp<strong>os</strong>t<strong>os</strong><br />

<strong>os</strong> mais de 10 produt<strong>os</strong> e<br />

process<strong>os</strong> protegid<strong>os</strong>. Mas,<br />

de acordo com a coordenadora<br />

do DPIN, o portfólio<br />

está em fase de reformulação<br />

para que sejam<br />

integra<strong>da</strong>s as novas patentes adquiri<strong>da</strong>s.<br />

Os produt<strong>os</strong> patentead<strong>os</strong> e disponíveis para<br />

negociação com o setor produtivo regional, nacional<br />

e internacional são direcionad<strong>os</strong> ao setor<br />

alimentício, de c<strong>os</strong>métic<strong>os</strong> e de bens e serviç<strong>os</strong>.<br />

São sabonetes líquid<strong>os</strong> e sólid<strong>os</strong>, cremes<br />

antioxi<strong>da</strong>ntes e emulsões a base de óle-


<strong>os</strong> de Pupunha (Bactris gasipaes H.B.K.),<br />

e Buriti (Mauritia flexu<strong>os</strong>a); produt<strong>os</strong> de<br />

uso doméstico para profilaxia bucal e produt<strong>os</strong><br />

de uso profissional em consultório<br />

odontológico; produção de móveis com madeira<br />

de Pupunha; paineis de folhas de vegetais<br />

para forr<strong>os</strong>, divisórias, móveis e artefat<strong>os</strong><br />

a base de matérias-primas naturais.<br />

A Bebi<strong>da</strong> Fermenta<strong>da</strong> de Pupunha – de autoria<br />

d<strong>os</strong> pesquisadores Nei Junior, Spartaco<br />

De acordo com R<strong>os</strong>angela<br />

Bentes, d<strong>os</strong> 40 pedid<strong>os</strong><br />

de patentes feit<strong>os</strong>, 16<br />

já p<strong>os</strong>suem número de<br />

patente, permitindo<br />

sua negociação com o<br />

mercado produtivo<br />

Filho, Sônia Carvalho, Lílian de Oliveira, Jerusa<br />

Andrade e Roberto Mae<strong>da</strong> - é uma <strong>da</strong>s<br />

peculiari<strong>da</strong>des desenvolvi<strong>da</strong>s no <strong>Inpa</strong>. A bebi<strong>da</strong><br />

é elabora<strong>da</strong> através de um processo semelhante<br />

ao do vinho e consiste na utilização<br />

de açúcares fermentáveis por linhagem de<br />

Sccharomyces cerevisae, formando o etanol.<br />

Além de grande aceitação do produto, a bebi<strong>da</strong><br />

apresenta como vantagens a pratici<strong>da</strong>de<br />

<strong>da</strong> aplicação <strong>da</strong> técnica e o aumento <strong>da</strong><br />

TABAJARA MORENO<br />

47


48<br />

• Sabonete Líquido a Base de óle<strong>os</strong> de Pupunha e Buriti;<br />

• Creme Antioxi<strong>da</strong>nte a Base de óle<strong>os</strong> de Pupunha;<br />

• Emulsão Evanescente a Base de óleo de Pupunha e Buriti;<br />

• Sabonete Sólido a Base de óleo de Pupunha e Buriti;<br />

• Produt<strong>os</strong> de Uso Doméstico para Profilaxia Bucal;<br />

• Produt<strong>os</strong> de Limpeza Pessoal de Uso Doméstico e Profissional;<br />

• Bioci<strong>da</strong> Orgânico como Preservativo <strong>da</strong> Madeira;<br />

• Uso de Derivad<strong>os</strong> Semi-Sintétic<strong>os</strong> no Tratamento <strong>da</strong> Malária;<br />

• Painéis de Folhas de Vegetais para Forr<strong>os</strong>, Divisórias, Móveis e Artefat<strong>os</strong>;<br />

• Produt<strong>os</strong> de Uso Profissional em Consultório Odontológico;<br />

• Comp<strong>os</strong>to Antimicrobiano contra a Murcha Bacteriana;<br />

• Bebi<strong>da</strong> Fermenta<strong>da</strong> de Pupunha (Bactris gasipaes);<br />

• Método de Diagnóstico de Leishmania guyanensis;<br />

• Zerumbona obti<strong>da</strong> d<strong>os</strong> óle<strong>os</strong> essenciais <strong>da</strong>s raízes de Zingiber zerumbet;<br />

• Secador Solar para Produt<strong>os</strong> Madeireir<strong>os</strong>;<br />

• Secador Solar para Produt<strong>os</strong> Naturais e Madeireir<strong>os</strong>;<br />

• Pupurola – Granola de Pupunha (Bactris gasipaes);<br />

• Farinha Integral de Pupunha (Bactris gasipaes);<br />

• Sopa Desidrata<strong>da</strong> de Piranha (Serrasalmus spp.);<br />

deman<strong>da</strong> do fruto, contribuindo para o crescimento<br />

<strong>da</strong> ren<strong>da</strong> <strong>da</strong>s famílias produtoras.<br />

Outro produto também proveniente <strong>da</strong> pupunha<br />

é a Farinha Integral, produto desidratado<br />

para consumo direto ou como ingrediente de<br />

aliment<strong>os</strong>, como doces e salgad<strong>os</strong>. O produto,<br />

em 2008 foi fonte de estudo, em parceria<br />

com o Banco de Leite do Estado do Amazonas<br />

(BLH-AM), sendo comprova<strong>da</strong> sua eficácia no<br />

enriquecimento do leite materno, direcionado<br />

a<strong>os</strong> bebês prematur<strong>os</strong>. A pesquisa,<br />

desenvolvi<strong>da</strong> como dissertação<br />

de mestrado <strong>da</strong> então chefe do<br />

BLH-AM, Tânia Batista, sob a<br />

coordenação <strong>da</strong> pesquisadora do<br />

<strong>Inpa</strong>, Helyde Albuquerque Marinho,<br />

comprovou que pelo alto índice de vitamina<br />

A, existente na pupunha, o<br />

produto é importante na prevenção<br />

de infecções respiratórias, intestinais<br />

e gastrointestinais no bebê.<br />

Produt<strong>os</strong> e<br />

process<strong>os</strong><br />

patentead<strong>os</strong><br />

no <strong>Inpa</strong>


A importância de patentear um produto<br />

Um levantamento realizado pelo Instituto Brasileiro<br />

do Meio Ambiente e d<strong>os</strong> Recurs<strong>os</strong> Naturais<br />

Renováveis (IBAMA), em mead<strong>os</strong> de 2003, revelou<br />

que o Brasil perde US$ 16 milhões diariamente,<br />

em decorrência <strong>da</strong> biopirataria internacional.<br />

Anualmente isso corresponde a mais de US$ 5,7<br />

bilhões que poderiam ser empregad<strong>os</strong> na melhoria<br />

<strong>da</strong> educação e saúde <strong>da</strong> população brasileira.<br />

Um d<strong>os</strong> produt<strong>os</strong> brasileir<strong>os</strong> patentead<strong>os</strong> por<br />

países estrangeir<strong>os</strong> foi o produto a base de Cupuaçu<br />

(Theobroma grandiflorum). A fruta de origem<br />

Amazônica é muito consumi<strong>da</strong> na região e uma<br />

<strong>da</strong>s principais iguarias servi<strong>da</strong>s a<strong>os</strong> turistas, seja<br />

em forma de suc<strong>os</strong>, sorvetes, doces, ou geleias.<br />

A empresa japonesa Asahi Foods conseguiu patentear<br />

o cupulate, chocolate feito a partir do<br />

caroço do fruto, desenvolvido pela Empresa Brasileira<br />

de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). Enquanto<br />

isso, a empresa britânica The Body Shop,<br />

usurpava o direito de patente sobre o extrato <strong>da</strong><br />

fruta, muito eficaz na produção de c<strong>os</strong>métic<strong>os</strong>.<br />

São sabonetes líquid<strong>os</strong> e sólid<strong>os</strong>,<br />

cremes antioxi<strong>da</strong>ntes e<br />

emulsões a base de óle<strong>os</strong> de<br />

Pupunha (Bactris gasipaes<br />

H.B.K.) e Buriti (Mauritia<br />

flexu<strong>os</strong>a); produt<strong>os</strong> de uso<br />

doméstico para proflaxia<br />

bucal e produt<strong>os</strong> de uso<br />

profissional em consultório<br />

odontológico<br />

Inúmer<strong>os</strong> são <strong>os</strong> produt<strong>os</strong> brasileir<strong>os</strong> patentead<strong>os</strong><br />

no exterior. Entre eles, o veneno <strong>da</strong><br />

Jararaca (Bothrops jararaca). Eficiente no controle<br />

<strong>da</strong> hipertensão, o veneno foi patenteado<br />

por um laboratório d<strong>os</strong> Estad<strong>os</strong> Unid<strong>os</strong>. A Andiroba<br />

(Carapa guianensis Aubl), usa<strong>da</strong> na região<br />

norte para o tratamento de febres, como<br />

cicatrizante e repelente de inset<strong>os</strong>, foi patenteado<br />

pela Rocher Yves Vegetale n<strong>os</strong> Estad<strong>os</strong><br />

Unid<strong>os</strong>, Europa e Japão para a produção<br />

de c<strong>os</strong>métic<strong>os</strong> ou remédi<strong>os</strong> a base do extrato.<br />

Além deles, há também o Curare, mistura de ervas<br />

que <strong>os</strong> índi<strong>os</strong> usam na ponta <strong>da</strong>s flechas para<br />

imobilizar a presa, patenteado pel<strong>os</strong> Estad<strong>os</strong><br />

Unid<strong>os</strong> na déca<strong>da</strong> de 40 e aplicado na elaboração<br />

de relaxantes musculares e anestésico cirúrgico.<br />

A árvore amazônica Pau-R<strong>os</strong>a (Aniba r<strong>os</strong>eadora),<br />

registra<strong>da</strong> pela França em 1920 que tem o óleo<br />

usado como fixador de perfumes n<strong>os</strong> Estad<strong>os</strong> Unid<strong>os</strong>,<br />

Bélgica, França, Reino Unido e Alemanha. É<br />

a matéria-prima do perfume Chanel nº 5, considerado<br />

o perfume mais glamour<strong>os</strong>o do mundo.<br />

49


monitoramEnto<br />

50<br />

Gavião-real<br />

De olho no<br />

> Por <strong>da</strong>niel jor<strong>da</strong>no<br />

A<br />

descoberta, na reserva do Instituto Nacional<br />

de Pesquisas <strong>da</strong> Amazônia (<strong>Inpa</strong>)<br />

em 1997, de um ninho de Gavião-real foi<br />

o pontapé inicial para o programa de conservação<br />

<strong>da</strong> ave realizado pelo Instituto. Hoje, o<br />

estudo se expandiu e atua nas áreas de Manacapuru<br />

(distante 84 quilômetr<strong>os</strong> de Manaus) a Parintins<br />

(369 quilômetr<strong>os</strong> <strong>da</strong> capital), Pará, Rondônia<br />

e nas regiões do Pantanal e Mata Atlântica.<br />

O monitoramento via satélite do Gavião-real começou<br />

em Parintins e se expandiu para a Bahia. Segundo<br />

a coordenadora do programa, Tânia Sanaiotti,<br />

o trabalho envolve sensibilização ambiental. “Trabalham<strong>os</strong><br />

para manter síti<strong>os</strong> reprodutiv<strong>os</strong> <strong>da</strong> espécie,<br />

conservá-las em áreas de reserva, até mesmo particulares.<br />

Se preservam<strong>os</strong> esses locais, mantem<strong>os</strong> algumas<br />

populações dessa espécie”, relata Sanaiotti.<br />

As comuni<strong>da</strong>des têm papel importante para o<br />

programa, pois aju<strong>da</strong>m na localização de ninh<strong>os</strong><br />

e no resgate de gaviões ferid<strong>os</strong> ou abandonad<strong>os</strong>.<br />

“N<strong>os</strong>sa ideia é li<strong>da</strong>r com locais de nidificação trabalhando<br />

junto a comuni<strong>da</strong>des por meio <strong>da</strong> sensibilização<br />

ambiental, m<strong>os</strong>tando o uso sustentável d<strong>os</strong><br />

recurs<strong>os</strong>, incluindo mu<strong>da</strong>nças n<strong>os</strong> hábit<strong>os</strong> de caça.<br />

Além de li<strong>da</strong>rm<strong>os</strong> com o monitoramento, ain<strong>da</strong> há<br />

a deman<strong>da</strong> <strong>da</strong>s entregas voluntárias de animais que<br />

perderam seu habitat”, afirmou a pesquisadora.<br />

Para o Gavião-real, assim como para outr<strong>os</strong> animais,<br />

o desmatamento é uma ameaça. A ave precisa<br />

de grandes áreas para caçar e se reproduzir. Na Mata<br />

Atlântica e em regiões degra<strong>da</strong><strong>da</strong>s <strong>da</strong> Amazônia, o<br />

resgate e a reabilitação significam sobrevivência.<br />

“No Amazonas e no leste do Pará, quando a mata<br />

é derruba<strong>da</strong>, em alguns cas<strong>os</strong>, o ninho é removido<br />

e o filhote entregue ao IBAMA. Avaliam<strong>os</strong> a capaci<strong>da</strong>de<br />

<strong>da</strong> ave para que ela retorne ao seu habitat<br />

natural após a reabilitação”, contou a pesquisadora,<br />

afirmando que o programa conseguiu devolver a<br />

natureza quatro gaviões n<strong>os</strong> últim<strong>os</strong> quatro an<strong>os</strong>.<br />

Em 2009, outras áreas de nidificação foram<br />

encontra<strong>da</strong>s, o que amplia a atuação do Programa.<br />

“Encontram<strong>os</strong> nov<strong>os</strong> ninh<strong>os</strong> em diferentes<br />

locais. Vam<strong>os</strong> visitar ninh<strong>os</strong> no Acre e<br />

no Amapá, onde não trabalhávam<strong>os</strong>”, declarou,<br />

informando que <strong>os</strong> nov<strong>os</strong> ninh<strong>os</strong> vão favorecer<br />

estud<strong>os</strong> de fluxo gênico <strong>da</strong> espécie no Brasil.<br />

Olh<strong>os</strong> atent<strong>os</strong><br />

Atualmente o Gavião-real figura na lista internacional<br />

de animais ameaçad<strong>os</strong> de extinção. Considerado<br />

a maior ave de rapina <strong>da</strong>s Américas, o<br />

gavião pode carregar o equivalente ao seu peso.<br />

As fêmeas são maiores e podem medir até 1 metro<br />

de cumprimento e 2 metr<strong>os</strong> de envergadura.<br />

Conforme estudo feito em uma região de Parintins<br />

por Helena Aguiar, pesquisadora do programa,<br />

79% <strong>da</strong> alimentação <strong>da</strong> ave é comp<strong>os</strong>ta por preguiças,<br />

segui<strong>da</strong> por macac<strong>os</strong>, porco espinho e aves .<br />

O Programa de Conservação do Gavião-real é financiado<br />

pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento<br />

Científico e Tecnológico (CNPq), Fun<strong>da</strong>ção de Amparo<br />

à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam),<br />

Fun<strong>da</strong>ção Boticário de Proteção a Natureza, Vale,<br />

Estação Veracel e Parque Nacional do Pau Brasil.<br />

TABAJARA MORENO<br />

ANSELMO D’AFFONSECA<br />

Para Sanaiotti, as<br />

comuni<strong>da</strong>des têm papel<br />

importante para o<br />

programa, pois aju<strong>da</strong>m<br />

na localização de ninh<strong>os</strong><br />

e no resgate de gaviões<br />

ferid<strong>os</strong> ou abandonad<strong>os</strong>

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!