UM DIA DA MINHA VIDA Bobby Sands
UM DIA DA MINHA VIDA Bobby Sands
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Um dia da minha vida<br />
moedura solta. O aroma do tabaco era um contraste agradável<br />
com o fedor insuportável que inundava a cela. Separei<br />
os papéis de fumar um a um até ter para todos e mesmo algum<br />
de mais. Quando estivo todo pronto, comecei a enrolar<br />
os cigarros, com os ouvidos alerta para perceber o mínimo<br />
ruído de passos ou de chaves, repetindo-me o tempo todo<br />
que já nom restava muito para estar deitado no colchom<br />
fumando um dos pitos que estava a preparar.<br />
Cinco prontos. Comecei a enrolar o sexto. Pensei no<br />
importante que chegava a ser um simples cigarro e como podia<br />
ajudar a levantar o moral, mesmo para os companheiros<br />
que nom fumavam. De algum jeito, todos desfrutávamos<br />
sabendo que um de nós conseguira enganar os cabrons de<br />
A e C, isso só já era muito. Apanhei outro papel para enrolar<br />
o sétimo cigarro.<br />
—Mouros na costa!<br />
Escuitei o tilintar de umha chave e cobrim todo com<br />
o cobertor justo no momento em que a minha fechadura<br />
cedia e abriam a porta. Tentei agir com normalidade, mas<br />
estava aterrorizado. A botou um olho dentro da cela.<br />
—Um! -contou, enquanto B fechava de um golpe.<br />
—Reconto! —berrei, com a voz a tremer.<br />
—Dous! —escuitei a voz de A e a porta de Seán.<br />
—Quatro... Seis... Oito... —continuavam a avançar polo<br />
corredor.<br />
Um calafrio percorreu-me o corpo. Pouco faltara. Olhei<br />
para a cobertor que cobria o tabaco e os pitos já enrolados.<br />
Um deles via-se um pouco, mas nom se deram conta. Fiquei<br />
pegado ao colchom enquanto continuava o reconto.<br />
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