UM DIA DA MINHA VIDA Bobby Sands
UM DIA DA MINHA VIDA Bobby Sands
UM DIA DA MINHA VIDA Bobby Sands
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
Um dia da minha vida<br />
Nom pudem acabar o chá. Já estava frio e dava-me<br />
arcadas. Erguim-me e deitei-no pola janela, olhando a nuvenzinha<br />
de vapor que se formou quando o chá tocou a<br />
neve. Deixei o copo na porta e voltei a caminhar pola cela<br />
justo quando as portas começavam a abrir-se e fechar-se.<br />
«Levam os copos!» gritárom.<br />
Tinha os pés congelados. Para entrar em calor, batim-<br />
-nos contra a cobertor que tinha no chao. Prometia ser<br />
umha noite muito fria. O companheiro que estivera a cantar<br />
entoou outra melodia. Nom era que houvesse motivos para<br />
cantar, mas era umha forma de vencer aquela monotonia<br />
terrível. Eu também estava morto de aborrecimento, mas<br />
sobretodo estava impaciente, nom podia aguardar a abrir<br />
o pacotinho.<br />
Entrárom na cela e levárom o copo. Nem sequer levantei<br />
a vista. Carcereiros e zeladores avançavam polo corredor.<br />
Sentei outra vez no colchom para descansar. Do outro lado<br />
do corredor, havia oito rapazes que fumavam e do meu<br />
nove, mas três estavam no módulo de castigo, com o qual<br />
éramos catorze contando-me a mim. Esta noite havia de enrolar<br />
um cigarro para cada um e pode que me sobrasse um<br />
pouco de tabaco. Para lhes dar os cigarros, tinha de passar<br />
umha corda por debaixo da porta com a fenda mais ancha e<br />
fazê-la chegar ao outro lado do corredor. Os companheiros<br />
que estavam naquele lado nom podiam usar as janelas para<br />
mandar o carro, porque estavam fechadas. Amanharam-se<br />
para fazer uns buraquinhos nas paredes, justo por onde baixavam<br />
os canos e passavam por ali os cigarros e o isqueiro,<br />
que se fazia com um pedaço de vidro, umha pedra e um<br />
87