UM DIA DA MINHA VIDA Bobby Sands
UM DIA DA MINHA VIDA Bobby Sands
UM DIA DA MINHA VIDA Bobby Sands
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
<strong>Bobby</strong> <strong>Sands</strong><br />
«Trazem o chá!» gritou alguém em gaélico.<br />
Começárom a abrir e fechar as portas. Passárom por<br />
diante da minha enquanto serviam aos do outro lado do<br />
corredor. Umhas celas mais adiante alguém cantava para<br />
animar um pouco a galeria. O carrinho chegou por fim à<br />
minha porta. Quando a abrírom, fitei aquelas caras odiosas.<br />
O zelador deu-me um copo de chá e umha fatia de pam dobrada<br />
em dous. Surpreendim D aguentando o riso quando<br />
comecei a inspecionar o pam na procura de restos de mofo.<br />
Aquele naco nom tinha.<br />
Fechárom a porta de golpe e voltei para o colchom,<br />
reparando no calor inusual que emanava do copo de chá.<br />
Estava quente! Nom podia acreditar. Sentei e experimentei-no<br />
com cautela. Era como beber água. De facto, do chá<br />
tinha só a cor, mas bebim-no igual. Numha noite como<br />
aquela qualquer cousa quente era um presente do céu, mesmo<br />
a água. Mastiguei a fatia de pam e sorvim o chá quente.<br />
Nom faltava muito para que fechassem com chave. Recreei-<br />
-me pensando no pacotinho e nos cigarros que ia poder<br />
fumar.<br />
Meus pais e minha irmá haviam de estar já na casa e<br />
nom se deviam sentir muito bem. Passaram um dia muito<br />
duro e, após verem o meu aspeto, com certeza estariam<br />
preocupados. Pensei nos pais e as maes de todos os companheiros<br />
que participávamos na greve de higiene ou os que<br />
tinham as filhas no cárcere de Armagh, também em greve.<br />
Devia ser muito duro para todas as famílias. Havia dor<br />
por toda a parte. Isso era todo o que saía daqueles buracos<br />
imundos, dor e sofrimento.<br />
86