UM DIA DA MINHA VIDA Bobby Sands
UM DIA DA MINHA VIDA Bobby Sands
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Um dia da minha vida<br />
que cobria o arame farpado virara mais espessa. Tirei o pacotinho<br />
e estudei-no. Podia ver o que continha através do<br />
celofane: a carta, a mortalha e a tabaco escuro. Ainda nom<br />
era o momento de abrí-lo, portanto, guardei-no de novo<br />
na prega da cobertor. Ter na minha posse umha notinha da<br />
minha irmá, uns quantos papéis de fumar e umhas gramas<br />
de tabaco fazia-me sentir como um rei.<br />
Que aconteceria se abrissem a porta agora mesmo e me<br />
deixassem livre? Acho que nom o suportaria. Meu Deus,<br />
se quase nom podia nem com umha visita! Nom podia<br />
imaginar como me sentiria se de repente me liberassem<br />
daquela tortura. Aprendera a apreciar as pequenas cousas<br />
que pareciam nom ter importância, as que antes dava por<br />
verdadeiras e aquelas das que nem sequer me dava conta.<br />
Quando fora a última vez que comera um prato quente e<br />
decente? Era raro pensar como um se ia adaptando a todo,<br />
especialmente quando estava esfameado. Lembrei os veraos<br />
em que os carcereiros e os zeladores metiam vermes na<br />
comida. Nom havia outra que afastarmo-los e começar a<br />
comer como se nada. Ou isso ou morrer de fame...<br />
O estrondo da máquina parou de súpeto e um silêncio<br />
irreal e terrível caiu sobre o módulo. Sentim os passos do<br />
carcereiro que a apagara, aproximando-se. Olhei pola fenda<br />
da porta, era A. Passou por diante da minha cela até o<br />
escritório. Tinha o televisor aceso, mas nom distinguia o<br />
que diziam porque os zeladores estavam a montar barulho.<br />
Escuitei C berrar: «Vamos!». O ruido cessou no momento<br />
e foi substituído polo som do carrinho do chá, que se<br />
achegava.<br />
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