UM DIA DA MINHA VIDA Bobby Sands
UM DIA DA MINHA VIDA Bobby Sands
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Um dia da minha vida<br />
Nom era quem nem de tragar saliva por culpa do<br />
pacotinho. Notei a impaciência na sua voz. Nom podia<br />
aguardar a ter-me ali dentro, quase me fai atravessar a<br />
porta. Por dentro, a cabina era tam cinzenta como no exterior.<br />
Vários carcereiros aguardavam, aquecendo as maos<br />
ao redor de um braseiro. Fora ia frio. O chao ainda estava<br />
coberto por umha camada de neve. O pânico apoderou-se<br />
de mim quando cada um me fitou, como era de esperar.<br />
Aguardei polas temíveis palavras, que tés na boca?, mas<br />
nunca chegárom. Fiquei ali de pé, olhando à minha volta.<br />
Passou umha eternidade. O interior da cabina era mais<br />
acolhedor que a tumba gélida à que me dirigia. Havia<br />
algumhas cadeiras e, acima da aquecedor, um balde de<br />
plástico cheio de um desinfetante azul, junto a um feixe<br />
de toalhas de papel. Sobre o piso, um pouco fora de<br />
lugar, havia um grande espelho que tinha um mango de<br />
madeira. Os carcereiros apinhárom-se ao meu redor, com<br />
as porras pendurando da cintura. Por algumha estúpida<br />
razom pensei numha visita ao dentista. Nom sei porquê,<br />
todos os dentistas que visitei na minha vida eram amáveis<br />
e delicados.<br />
—Vamos, despe-te! —rosnou um, bruscamente.<br />
Despim-me e fiquei completamente nu diante deles.<br />
Fitárom o meu corpo malhado. Sentia-me envergonhado e<br />
incapaz de adivinhar as suas intençons. A humilhaçom era<br />
pouca cousa comparada com a gorja seca, com a pequena<br />
bomba de relógio que tinha na boca. A minha cabeça bulia<br />
pensando no que tinha por diante, sobretodo, se me descobriam<br />
o pacotinho.<br />
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