UM DIA DA MINHA VIDA Bobby Sands
UM DIA DA MINHA VIDA Bobby Sands
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Um dia da minha vida<br />
a massa informe de carcereiros passeando de um estremo a<br />
outro, olhando por cima dos ombros, fazendo brincadeiras<br />
entre eles e enchendo o ar todo com as suas risadas, todo<br />
isso golpeou-me como um lôstrego.<br />
Procurei o número das cabinas, 12, 11, 10, 9, e acheguei-<br />
-me à número 7. Enquanto passava polas cabinas abertas,<br />
umha cheia de caras amáveis e compassivas devolvêrom-me<br />
o olhar. Senhoras maduras, viúvas, filhas, irmás e irmaos,<br />
os filhos e pais dos meus camaradas. Esforcei-me por lhes<br />
devolver o sorriso, eu também sentia compaixom por eles.<br />
—Que Deus te abençoe, filho! —berrou umha senhora.<br />
—Mantém a cabeça ergueita!<br />
Deu-me vontade de chorar.<br />
—Move-te! —berrou um dos carcereiros. Como num<br />
sonho, enxerguei o interior das cabinas abertas enquanto<br />
passava. Os meus camaradas e as suas famílias sorriam e<br />
saudavam-me. Cheguei à cabina 7 e, sem o pensar, sentei no<br />
lado equivocado da mesa. Os carcereiros que espreitavam<br />
quase me comem.<br />
—Levanta dessa cadeira já, e vem para este lado da mesa!<br />
—soltárom-me. Competiam para ver qual era o mais duro.<br />
Cabrons. Mudei de lado.<br />
—Como vás, rapaz? -perguntou um companheiro com<br />
sotaque de Derry ao passar por diante da minha cabina.<br />
—Sobrevivo —dixem, que era justo o que fazia.<br />
—Ben por ti. Que Deus vos guarde a todos —dixo ao<br />
passar outra pessoa, umha mulher de mediana idade com<br />
um sotaque que parecia de Tyrone. Era umha viagem longa<br />
para umha visita de meia hora.<br />
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