UM DIA DA MINHA VIDA Bobby Sands
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Um dia da minha vida<br />
—Nom creio, nom... —dixem, em tom seco.<br />
—Assim nom ides a lado nengum... —dixo, como quem<br />
que me dava um conselho.<br />
—Ninguém vai, até que chegam aonde se propuxeram<br />
—respondim.<br />
—Tés de estar louco. Se estivesse nas vossas condiçons,<br />
eu nom fazia o que estades a fazer vós.<br />
—Estou certo que nom. Se calhar, é por isso que tu és<br />
um carcereiro e eu um preso político.<br />
Nom deveu gostar desse comentário, porque ficou calado<br />
na escuridom. Imaginei que lhe estaria a arder o rosto.<br />
—Além disso, —dixem, metendo o dedo na chaga —no<br />
final do dia o mais prejudicado vás ser tu.<br />
—E isso por que? —rosnou.<br />
—Verás, quando o governo britânico, simplesmente com<br />
pegar numha caneta, nos devolva o status de presos políticos<br />
ou, o que é mais, -acrescentei —quando anunciem a sua retirada,<br />
e nom duvides de que o ham de fazer quando nom lhes<br />
reste outra, vam-vos vender a todos. E daquela que ides fazer?<br />
—Isso nom vai acontecer nunca —dixo, nervoso.<br />
—Vai acontecer tal. De facto, já aconteceu noutros lugares<br />
como Chipre, Adém e Palestina. É claro que o vam<br />
voltar a fazer... —concluím, justo no momento em que o<br />
furgom se detinha.<br />
O carcereiro abriu a porta e saiu, mandando-me seguilo.<br />
Dei-me conta de que já nom estava de tam bom humor,<br />
conseguira assustá-lo. Nengum deles cavilava na possibilidade<br />
de que os abandonassem à sua sorte, nem de que<br />
fossem ter que responder por todas as atrocidades que co-<br />
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