UM DIA DA MINHA VIDA Bobby Sands
UM DIA DA MINHA VIDA Bobby Sands
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Um dia da minha vida<br />
o esvaziares». Eu negava-me e a merda acumulava-se no<br />
chao da cela. Chapuzava nela sem me decatar, o importante<br />
era entrar em calor, sempre tinha o corpo arrefecido. Os<br />
dous primeiros dias quase nom pudem mover-me e a dieta<br />
esfameante fazia-me estar ainda mais débil. A minha dose<br />
diária consistia em duas fatias de pam ressesso e mofento,<br />
e um copo de chá preto para o almoço. À hora de jantar<br />
davam-me umha cunca de sopa aguada e, à noite, o mesmo<br />
que no almoço. Ao terceiro dia desmaiei-me e fiquei deitado<br />
no piso de cemento até que acordei.<br />
Quando me devolvêrom ao Módulo H, os próprios carcereiros<br />
surpreenderam-se do meu aspeto, era um cadáver<br />
andante. Estava quebrado física e mentalmente. A fame, os<br />
espancamentos, os banhos forçosos, o fastio e o frio ficárom<br />
gravados na minha mente e enchiam-me de xenreira,<br />
desespero e anseios de vingança. Duas semanas depois daquilo,<br />
tivem de voltar por outros quinze dias. O mesmo<br />
pesadelo, desta vez multiplicado por cinco. Vivia como um<br />
animal encerrado, comendo com as maos. Cada três dias<br />
matavam-me de fame e o tempo todo chapuzava na merda<br />
e o lixo para tentar entrar em calor. Aturei as malheiras<br />
e rezei muito, chorei em sonhos, sempre a luitar contra a<br />
tentaçom de ceder, de me render perante eles.<br />
Mas sobrevivim. Voltei a ganhar a partida. A câmara de<br />
tortura e os sádicos que a dirigiam conseguiram estragar o<br />
meu corpo, mas nom o meu espírito.<br />
Transcorrêrom três semanas até que o meu corpo se<br />
recuperou da experiência, mas a minha mente nunca se<br />
recuperou de todo.<br />
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