UM DIA DA MINHA VIDA Bobby Sands
UM DIA DA MINHA VIDA Bobby Sands
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Um dia da minha vida<br />
fretasse as partes com a escova. Isso é o último que lembro,<br />
acho que depois me desmaiei.<br />
Levárom-me à enfermaria da prisom envolto num cobertor<br />
enorme de cor clara e ali o doutor examinou-me.<br />
Deixárom-me ali duas horas e depois levárom-me de novo<br />
à cela de castigo, envolto em vendas como umha múmia,<br />
com um olho morado e várias grampas na cabeça. Fiquei<br />
ali, coberto com um cobertor nojento que cheirava a mijos<br />
e a balor. Recuperara a calma, mas ainda estava desorientado.<br />
Procurei ordenar na minha mente todo o que me<br />
acontecera, mas logo me abafou o sentimento de que o pior<br />
ainda nom chegara. Ninguém me podia ajudar. Nom podia<br />
chamar por ninguém porque estava isolado, só e vulnerável.<br />
Estava à sua mercê, mas sabia em excesso que nom conheciam<br />
o significado da palavra compaixom. O pior de todo<br />
era o frio, nom tinha espaço para caminhar e entrar em<br />
calor. Começava a sentir lástima de mim mesmo.<br />
Os carcereiros voltárom mais tarde e arrastárom-me<br />
fora da cela para me guindar despido aos pés do diretor<br />
da prisom. Como de cote, iam representar a farsa de um<br />
julgamento. Fiquei despido face a todos eles, humilhado e<br />
envergonhado, com a cabeça explodindo de dor. Acusárom-<br />
-me de «desobediência», ou o que era o mesmo, negar-me<br />
a cooperar com o carcereiro que se afanara em me foçar no<br />
ânus com o dedo. Noutras palavras, negara-me por completo<br />
a permitir aquilo, mas acusárom-me de desobediência<br />
porque figeram falta três ou mais quatro para segurar-me<br />
e obrigar-me a consentir a exploraçom. O carcereiro em<br />
questom era aquele da bata branca, o qual nom importava<br />
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