UM DIA DA MINHA VIDA Bobby Sands
UM DIA DA MINHA VIDA Bobby Sands
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Um dia da minha vida<br />
Abrim os olhos. Estava enjoado. A luz brilhante do teito<br />
cegou-me. Doía-me imenso a cabeça e nom podia mover o<br />
corpo polas feridas e as contusons. Fiquei colado ao chao,<br />
sem atrever-me a me mover, sentindo o sabor do sangue<br />
na boca inchada. Procurava compreender onde estava e<br />
o que acontecera. O piso de cemento estava gelado e sabia<br />
que me tinha que erguer se nom queria apanhar umha<br />
pneumonia e passá-lo ainda pior. Erguim-me com tento<br />
sobre os meus joelhos, as paredes começárom a dar-me<br />
voltas ao redor e caím. Depois de umha eternidade tentei<br />
erguer-me outra vez, ainda que os espasmos que me<br />
produzia a dor nom me deixavam mexer-me. Pugem-me<br />
de joelhos. Ardia-me a pele e a carne viva das feridas e os<br />
cortes colavam-se ao chao de cemento. Erguim-me de vez<br />
e conseguim permanecer de pé. Quase caio outra vez, mas<br />
apoiei-me na parede e dei chegado até o bloco de cemento<br />
que fazia de talho. Derrubei-me sobre ele. Sentia-me morrer,<br />
estava tam concentrado na dor e o estupor que nom<br />
sabia o que fazer. Nom era quem de pensar, o mínimo movimento<br />
era umha agonia. Estava a pique de berrar quando<br />
se abriu a porta e apareceu um guarda vestido de branco<br />
que entrou na cela. O carcereiro metido a médico começou<br />
a examinar-me, apalpando o meu corpo, metendo-me<br />
os seus dedos nojentos por toda a parte, pretendendo impressionar<br />
os outros carcereiros que aguardavam na porta<br />
da cela.<br />
Quando acabou o seu exame, ou o que fosse aquilo,<br />
dixo-me com insolência que, para ver um médico e que me<br />
figessem as curas, primeiro tinha de me banhar. Fitei-no<br />
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