UM DIA DA MINHA VIDA Bobby Sands
UM DIA DA MINHA VIDA Bobby Sands
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Um dia da minha vida<br />
—Nom chegárom a vir à minha cela —retrucou.<br />
—A quem levárom? —perguntei-lhe.<br />
—Nom che sei —dixo, e explicou-me que já mandara<br />
recado até o final da galeria para ver se alguém o sabia. —<br />
Penso que fôrom C e D os que mais se asanhárom.<br />
—Provavelmente —concordei.<br />
—Oi, Seán! —berrou um dos companheiros. —Eram<br />
Liam Clarke e Seán Hughes. C e D fôrom os que mais malhárom<br />
neles e o zelador do desentupidor bateu-lhes na<br />
cabeça com o mango até que os deixou inconscientes. Sem<br />
motivo nengum, Seán, como sempre... Caírom em cima<br />
deles quando estavam de costas, depois de esvaziarem os<br />
penicos.<br />
Deixei Seán falando pola janela com os outros companheiros,<br />
discutindo o que acontecera, e retomei o meu<br />
passeio pola cela, pensando que me podiam chamar para a<br />
visita em qualquer momento. O espancamento que levaram<br />
os dous moços (e Pee Wee O’Donnell antes do que eles)<br />
apagara o meu entusiasmo. Nom podia evitar imaginá-los<br />
deitados no chao do módulo de castigo, onde provavelmente<br />
sofressem outro espancamento brutal a maos dos<br />
carcereiros sádicos sabiamente escolhidos para se ocuparem<br />
de umha câmara de tortura dentro de outra câmara<br />
de tortura.<br />
Infelizmente, eu já sabia de sobra o que era estar ali.<br />
Era o que mais temíamos todos. O módulo de castigo era<br />
sinónimo de torturas, brutalidade e tratamento desumano<br />
21 . Os próprios carcereiros sabiam-no, mas calavam. Um<br />
tempo atrás, eu estivera três dias ali, os três dias mais lon-<br />
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