UM DIA DA MINHA VIDA Bobby Sands
UM DIA DA MINHA VIDA Bobby Sands
UM DIA DA MINHA VIDA Bobby Sands
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
Um dia da minha vida<br />
sádicos, seguidos de um ruído de passos que virou cada vez<br />
mais audível, mais golpes e o que soava como um chorro de<br />
água. Quatro uniformes pretos passárom voando por diante<br />
do meu campo de visom, arrastando polos pés um corpo<br />
despido, com a cabeça batendo contra o cemento. Passárom<br />
tam depressa que fum incapaz de o reconhecer. Fosse quem<br />
for, tinha o corpo e a cara cobertos de sangue.<br />
Nos primeiros segundos nom aconteceu nada. Caiu um<br />
silêncio sinistro, cheio de incertezas. Ainda nom se voltaram<br />
a formar as poças quando escuitamos outra vez os mesmos<br />
ruídos. E outra vez o mesmo, som de passos correndo, golpes<br />
e berros violentos, o chorro de água e umha massa de uniformes<br />
pretos que passárom quase voando por diante da minha<br />
cela, arrastando polos pés outro corpo coberto de sangue.<br />
O ruído da água foi parando pouco a pouco e o som<br />
daquele corpo nu sendo arrastado polo pavimento até o<br />
fundo da galeria foi fazendo mais inaudível. Fijo-se outra<br />
vez um silêncio terrível. A tensom que havia no ambiente<br />
pendurava sobre nós como umha guilhotina: ninguém<br />
respirava, por medo a que lhe caísse em cima. Parecia que<br />
aquele silêncio estarrecedor nom ia acabar nunca.<br />
De súpeto, um berro retumbou como um trono por<br />
toda a galeria.<br />
«Tiocfaidh ár lá!». O alarido ressoou contra os muros<br />
e as paredes, rachando com o silêncio como umha pedra<br />
esnaquiçando o vidro de umha janela, alçando os nossos<br />
coraçons, cada sílaba prenhada de xenreira e desespero. «O<br />
nosso dia há de chegar!» Significava isso, e abofé que havia<br />
53