UM DIA DA MINHA VIDA Bobby Sands
UM DIA DA MINHA VIDA Bobby Sands
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Um dia da minha vida<br />
a morrer nós também? Nom se estavam a consumir pouco<br />
a pouco os nossos corpos? Eu já era um cadáver andante,<br />
que havia de ser ao cabo de seis meses... Nem sequer sabia<br />
se dentro de um ano ia continuar com vida. Era algo que<br />
antes me preocupava, dava-lhe voltas com frequência até<br />
tolear. Agora já nom... O único que me resta, que nom me<br />
podem arrebatar é isso: nom podem matar-me. Há tempo<br />
que compreendim isto e Deus sabe que se até agora nom o<br />
conseguírom com nengum de nós, nom é porque nom o tentassem.<br />
Mas eu nom me rindo, estou decidido. Podem-me<br />
fazer o que lhes pete, mas eu nom me vou humilhar nunca<br />
diante deles, nem lhes vou permitir que me criminalizem.<br />
Surpreende-me descobrir que estou preparado para<br />
morrer antes que sucumbir às suas torturas e opressom,<br />
mas sei que nom estou só, muitos e muitas camaradas<br />
pensam o mesmo. O que me leva a pensar novamente nos<br />
camaradas mortos. Os amigos que estavam junto a mim<br />
um dia e jaziam mortos ao seguinte. Moços e moças como<br />
eu, nascidos e criados nos guetos nacionalistas de Belfast,<br />
só para serem assassinados por soldados estrangeiros e por<br />
mercenários racistas. Quantos morrêrom a maos deles nos<br />
Seis Condados ocupados 19 ? Demasiados. Um só moço ou<br />
umha só moça já era de mais! Quantas vidas mais havíamos<br />
de perder antes de os Britânicos decidirem que já mataram<br />
bastante e deixassem Irlanda tranquila para sempre? Dentro<br />
e fora da prisom era o mesmo, a mesma opressom que<br />
chovia de todos os lados. Em cada cruzamento um soldado<br />
inglês armado, em cada rua umha história de sofrimento e<br />
dor a maos desses soldados.<br />
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