UM DIA DA MINHA VIDA Bobby Sands
UM DIA DA MINHA VIDA Bobby Sands
UM DIA DA MINHA VIDA Bobby Sands
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
<strong>Bobby</strong> <strong>Sands</strong><br />
minha família na casa, preparando-se para a visita da tarde,<br />
se nom estavam já a caminho. Decerto estariam tam emocionados<br />
como eu, desejando que o tempo que faltava até a<br />
hora da visita passasse voando.<br />
Para eles ia ser um dia longo e duro, aguardando e fazendo<br />
fila, alindados como gado de umha porta à seguinte.<br />
Passando por inspeçons e registos humilhantes. Aturando<br />
os insultos e as olhadas cheias de desprezo dos carcereiros<br />
até que por fim lhes deixassem entrar no locutório. E depois<br />
volta a passar por todo aquilo para poderem sair.<br />
Um carcereiro começou a berrar e a meter ruído no<br />
alto da galeria para tentar interromper as aulas de gaélico,<br />
mas os companheiros continuavam ao seu, ignorando-o.<br />
Sempre faziam isso e quando viam que nom conseguiam<br />
nada cansavam-se e acabavam indo-se. Voltei a sentar no<br />
colchom com os músculos ainda arrefecidos e as maçaduras<br />
escurecendo-se conforme avançava o dia. Estava muito<br />
derreado, cansava de seguida porque havia muito tempo<br />
que nom fazia exercício nem respirava ar fresco. A ideia da<br />
visita quase nom me deixava pensar noutra cousa. Sempre<br />
me podia consolar pensando que havia cousas piores, pensei<br />
nos camaradas mortos e nas suas famílias.<br />
«Polo menos eu podo-te visitar umha vez ao mês» dizia<br />
sempre a minha mae. «Melhor onde estás agora que o<br />
cemitério de Milltown» 18 .<br />
Porém, havia momentos em que preferiria estar em<br />
Milltown, quando todo se tornava tam insuportável que<br />
já nom importava estar vivo ou morto enquanto pudesse<br />
escapar daquele pesadelo infernal. E logo nom estávamos<br />
48