UM DIA DA MINHA VIDA Bobby Sands
UM DIA DA MINHA VIDA Bobby Sands
UM DIA DA MINHA VIDA Bobby Sands
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
<strong>Bobby</strong> <strong>Sands</strong><br />
—Bem, tira a mao pola janela e lanço-che os lenços<br />
—dixem.<br />
Tirei o braço pola janela e comecei a cambalear a corda<br />
nos cinco metros de espaço que nos separavam. Roçou a<br />
mao de Seán várias vezes até que conseguiu apanhá-la.<br />
—Já a tenho, <strong>Bobby</strong>!<br />
—Maith thú, Seán. Agora nom a perdas —dixem.<br />
Puxou a corda e agarrou os prezados lenços de papel.<br />
Bateu à parede em sinal de agradecimento. Petei de volta,<br />
e tornei aos meus pensamentos. Nom me tirava da cabeça<br />
a visita, ia ver a minha família outra vez. E também poderia<br />
fumar, estava desesperado por dar umha tragada. Havia<br />
tanto que nom via um cigarro diante... com umha pouca<br />
sorte, aquela noite arranjaria uns poucos para mim e para<br />
os companheiros. Isso sempre ajudava a levantar o moral.<br />
As minhas tripas movérom-se de novo. Aí o vem,<br />
pensei, e de algum jeito foi um alívio, após cinco dias de<br />
dolorosa oclusom intestinal. «Vou ao banho» pensei, e<br />
decatei-me do ridículo da expressom enquanto apanhava<br />
uns lenços de papel e me agachava no recanto da cela que<br />
nom se via desde a fenda da porta. Fijo-me bem aliviar a<br />
pressom no ventre, mas nom pudem deixar de me sentir<br />
como um animal, anicado num recuncho entre lixo e excrementos.<br />
Nom havia que fazer-lhe, por muito humilhante e<br />
degradante que for. Pior o tinham os companheiros que partilhavam<br />
cela, eu polo menos tinha um pouco de intimidade.<br />
Quem de todos os que se consideram «cheios de humanidade»<br />
e depois guardam silêncio sobre os Módulos H é<br />
44