UM DIA DA MINHA VIDA Bobby Sands
UM DIA DA MINHA VIDA Bobby Sands
UM DIA DA MINHA VIDA Bobby Sands
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
<strong>Bobby</strong> <strong>Sands</strong><br />
chorros a pressom. Com o frio que ia morreríamos congelados<br />
se os colchons e os cobertores se enchouparem. Era<br />
inútil procurar abeiro num recanto. Sem vidros nas janelas<br />
o chorro chegava a todos os cantos da cela.<br />
Umha fechadura rangeu e abriu-se umha porta.<br />
«Trazem o jantar!» berrou alguém em gaélico.<br />
De súpeto, esquecim-me da mangueira a pressom e<br />
corrim para o meu posto de vigilância na porta. Avançavam<br />
para a parte mais afastada da galeria. Eu ia ser o último em<br />
recolher a comida. Os pratos de plástico estavam amoreados<br />
uns sobre os outros e os zeladores levavam-nos aos<br />
presos. B arrincava nacos de peixe dos pratos e estava a<br />
comê-los. Adoecim da raiva.<br />
—Hoje jantades bife de feniano 11 ! —berrou. Escaralhava-se<br />
ele só com a piada.<br />
—Espero que se lhes atravesse —dixo C para contribuir<br />
à brincadeira. A procissom continou adiante, com A<br />
fechando a comitiva. Chegárom ao final da galeria e dérom<br />
volta. Escuitei as portas do meu corredor abrindo-se e<br />
fechando-se à medida que se aproximavam.<br />
B berrou:<br />
—Oi, A, seica há umha dose de menos!<br />
Assaltou-me umha sensaçom de carragem e impotência<br />
tam forte que quase doía. Eu estava de último. O cabrom<br />
do B comera-o. Ia-o gritar através da porta, mas isso era<br />
justamente o que queriam que figesse.<br />
—Caralho —dixo B —Devim-me enganar ao contar.<br />
Nom falta umha dose...<br />
Recuperei o alento.<br />
40