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UM DIA DA MINHA VIDA Bobby Sands

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Um dia da minha vida<br />

Erguim-me com tento do colchom, forçando cada movi-<br />

mento. Já de pé, coloquei o colchom contra a parede. Estendim<br />

um cobertor no chao e, com o outro por volta da<br />

cintura e a toalha deitada polos ombros, comecei outra vez<br />

a minha viagem sem fim, o mesmo que um nómade.<br />

Ainda fazia frio, mas nom era tam duro como a primeira<br />

hora da manhá. O pátio estava coberto de umha camada<br />

de neve. Havia pouca luz, embora já fosse meio-dia.<br />

«Ham de trazer-nos a comida de seguida», pensei.<br />

Restavam poucas horas para a minha visita. Era reconfortante<br />

pensar em ver a minha família. Aquele era o<br />

momento mais importante de cada longo e tortuoso mês.<br />

Só doce visitas ao ano! Meia hora de umha relativa felicidade<br />

por visita ou, o que era o mesmo, seis horas de umha<br />

relativa felicidade ao ano. Figem um cálculo mental: seis<br />

horas de 8760. Seis horas mesquinhas, entretanto eles te<br />

perseguiam a ti e à tua família cada minuto, cada puto minuto<br />

do ano! Continuei a caminhar, enquanto a xenreira<br />

aninhava no meu interior. Cabrons. Pugem-me a olhar entre<br />

as barras de cemento da minha janela sem vidros.<br />

«Nem sequer vou conservar isto por muito tempo...»,<br />

lembrei-me, pensando que já começaram a cegar as janelas<br />

das outras galerias com tábuas e chapa ondulada, para<br />

impedir que entrasse a luz e que víssemos o que havia fora.<br />

Também nom havia muito que ver, além dos pássaros, o céu<br />

noturno e as nuvens. O resto era bastante deprimente, ainda<br />

que a neve dos últimos dias era umha cousa fora do quotidiano.<br />

Estava suspensa sobre todos aqueles quilómetros<br />

de arame farpado e colava-se à chapa, em geral tam triste e<br />

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