UM DIA DA MINHA VIDA Bobby Sands
UM DIA DA MINHA VIDA Bobby Sands
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<strong>Bobby</strong> <strong>Sands</strong><br />
Começárom a abrir as portas e, depois do que pareceu<br />
umha eternidade, com o frio a me calar cada vez mais, a<br />
minha porta abriu-se também e os zeladores guindárom<br />
dentro os três cobertores cotrosos e um colchom esfianhado.<br />
C fitou-me com cara de ódio e fechou a cela de um<br />
golpe. «Eu também te odeio, C» e apanhei os cobertores.<br />
Envolvim-me num de cintura para abaixo e deitei outro sobre<br />
os ombros como se fosse um poncho. Depois coloquei<br />
a toalha arredor do pescoço como um cachecol, pugem o<br />
colchom esfianhado e húmido no chao e sentei sobre ele,<br />
arrombando o terceiro cobertor por volta dos meus pés.<br />
Parecia saído do campo de prisioneiros Stalag 18 ou do mesmo<br />
Dachau e na verdade é que me sentia igual. Picava-me<br />
a barba por causa da toalha e os cobertores de pêlo de cavalo<br />
irritavam o meu corpo maçado. Continuava a fazer<br />
muito frio, um dos companheiros berrou pola janela que<br />
voltava a nevar. Já podia começar a cair-me em cima, como<br />
as duas noites anteriores, que eu nom me pensava mover.<br />
Perguntei-me o que seria de Pee Wee. Provavelmente estaria<br />
meio morto numha das celas do módulo de castigo.<br />
«Meu Deus, que dia levamos...» pensei, e sentim-me muito<br />
canso, como se me vinhesse todo o cansaço das duas noites<br />
que passara de vela. Os pés começárom-me a entrar em<br />
calor e concentrei-me na visita da tarde. O módulo estava<br />
em silêncio, nom sendo polas ocasionais risadas de B e C. B<br />
havia de voltar depois do jantar, bêbado e perigoso. Fechei<br />
os olhos e tentei evadir-me dormindo até a hora do jantar.<br />
Era duro, era-che bem duro.<br />
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