UM DIA DA MINHA VIDA Bobby Sands
UM DIA DA MINHA VIDA Bobby Sands
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Um dia da minha vida<br />
munho e recordo de outros que estivérom e ainda estavam<br />
nas mesmas condiçons do que eu. Daqueles nomes parecia<br />
desprender-se toda a carragem dos que os gravaram, de<br />
outros que também conheceram as torturas. Tinham todo<br />
o direito a estarem raivosos. Fum-me movendo para ler as<br />
frases e as palavras escritas a traços irregulares no nosso<br />
idioma, reparando no muito em que os companheiros de<br />
outras galerias estavam a progredir com as liçons de gaélico.<br />
Aulas de gaélico. Soava mais bem raro e abofé que o<br />
era. Na realidade, significava aproximar-se da porta da cela<br />
para escuitar um companheiro, o professor, que do fundo<br />
do corredor gritava a liçom do dia o mais alto que podia,<br />
depois de que os guardas se fossem jantar ou cear.<br />
Continuei a caminhar. A geada nom remetia. Se nom<br />
arranjava uns cobertores em breve ia ter problemas. No entanto,<br />
sabia que nom devia pedi-los, aprendera essa liçom<br />
havia tempo. Mostrar o mínimo signo de debilidade significava<br />
cavar a tua própria sepultura. Além disso, havia outros<br />
quarenta e três companheiros naquela galeria que estavam<br />
nas mesmas condiçons.<br />
«Deixa de choromicar e tenta entrar em calor», repreendim-me<br />
por jogar perigosamente com a autocompaixom e<br />
por me recriar demasiado pensando nas minhas privaçons.<br />
Continuar por esse caminho só me levaria à depressom e<br />
a depressom era muito pior do que o frio e a dor juntos.<br />
Voltei a centrar os meus pensamentos na comida. Sexta-feira,<br />
tocava peixe. Peixe, patacas frias e chícharos duros.<br />
Sempre ficava a lene esperança de que desta vez a comida<br />
chegasse quente e com um pouco de sal, nom sei porquê, na<br />
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