UM DIA DA MINHA VIDA Bobby Sands
UM DIA DA MINHA VIDA Bobby Sands
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Um dia da minha vida<br />
A neve começara a cair outra vez e já nom havia corvos<br />
sobre o aramado. Alguns companheiros estavam assomados<br />
às janelas das suas celas no final do corredor e falavam<br />
do que lhes acabavam de fazer e das suas feridas.<br />
Sentim o ruído do carrinho que se aproximava: estava<br />
a chegar o almoço, mas ainda nom trouxérom os colchons<br />
nem os cobertores. «Quando abrirem a porta, nom esqueças<br />
reparar em que guardas estám de serviço hoje», dixem<br />
para mim. Podíamos estar tranquilos um bocado, depois do<br />
desta manhá... A minha porta abriu-se. Com um gesto de<br />
nojo nas caras pouco asseadas, os zeladores deixárom-me<br />
a comida nas maos: um copo de chá numha e umha cunca<br />
de papas com duas fatias de pam na outra.<br />
Um tipo baixinho com cara de rata e umha gorra preta<br />
que estava apoiado na porta achegou-se. Com um sorriso<br />
falso dixo:<br />
—Bom dia! Vás querer pôr o uniforme da prisom, fazer<br />
os trabalhos, limpar a cela, lavar-te ou limpar as minhas<br />
botas...? Nom? Muito bem, daquela já veremos...<br />
Fôrom embora batendo a porta.<br />
—Cabrons! —rosnei e fum para o recuncho a examinar<br />
a segunda catástrofe do dia, o almoço.<br />
Pesquei as duas fatias de pam dentre as papas grumosas,<br />
aproveitei a parte seca e lancei o resto, com as papas e todo,<br />
contra a parede. Dava-me nojo, tivem de forçar literalmente<br />
a boca para aguentar dentro os pedaços miseráveis de pam<br />
e o chá morno. Ia um frio do demo, tanto que entre um<br />
grolo e outro tinha que continuar a caminhar. Pensei nos<br />
três guardas que estavam do outro lado da porta quando<br />
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