UM DIA DA MINHA VIDA Bobby Sands
UM DIA DA MINHA VIDA Bobby Sands
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<strong>Bobby</strong> <strong>Sands</strong><br />
Dous pares de maos fortes agarrárom-me polos ombros,<br />
retorcêrom os meus braços para atrás e levantárom-me no<br />
ar. Umha massa de uniformes pretos engoliu-me com um<br />
movimento súbito e levou-me arrasto. Quando me voltárom<br />
a deixar no chao, um par de botas de couro preto das<br />
que usavam os oficiais chantárom-se nos meus pés. Um dos<br />
carcereiros da barafunda deu-me umha pancada numha<br />
coxa. Tivem vontade de vomitar e de berrar, mas fiquei mudo.<br />
Diante de mim enxerguei umha mesa e por volta dela<br />
meia dúzia de carcereiros a me fitarem. Era a sua primeira<br />
presa. Deixárom-me no meio daquela horda que aguardava<br />
um sinal do seu capitám.<br />
—Vamos! —berrou o auto-proclamado tirano —Tira<br />
a toalha e dá meia volta. Dobra-te para a frente e toca as<br />
pontas dos pés.<br />
Tirei a toalha, virei-me e fiquei ali, humilhado e despido,<br />
com todos os olhos a inspecionarem o meu corpo.<br />
—Esqueceche umha cousa —dixo o capitám.<br />
—Nom esquecim —soltei, sentindo-me afoutado por<br />
um momento.<br />
—Dobra-te, porco! —murmurou entre dentes, numha<br />
voz que denotava que se estava a esgotar a sua paciência.<br />
«Aí o vem» Pensei.<br />
—Nom quero, nom me vou dobrar —dixem.<br />
Soltárom todos umha risada forçada, enquanto me insultavam<br />
e me sacudiam.<br />
—E di que nom se dobra! —o cabrom escachava a rir<br />
—Nom se dobra! Ah! Ah! Nom quer, meus —dirigia-se à<br />
barafunda já impaciente.<br />
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