UM DIA DA MINHA VIDA Bobby Sands
UM DIA DA MINHA VIDA Bobby Sands
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<strong>Bobby</strong> <strong>Sands</strong><br />
Meu Deus, um novo dia, pensei, mas nom como louvor.<br />
Despido, erguim-me e cruzei a cela nas sombras para<br />
mijar no recanto. Morria com o frio. Chegou-me o cheiro<br />
e recordou-me a minha situaçom, o piso estava húmido<br />
e peganhento em alguns pontos. Havia pilhas de lixo estradas<br />
pola cela e na escuridom figuras tenebrosas que me<br />
berravam desde as paredes sujas e mutiladas. O cheiro de<br />
excrementos e mijos era forte e abafante 1 . Apanhei a garrafa<br />
de água dentre o lixo e tentei dar o primeiro grolo do dia,<br />
num vao esforço por anular o sabor nojento da minha gorja.<br />
Senhor, estava congelada.<br />
Começava a clarear fora à medida que se fazia dia e os<br />
corvos juntavam-se em fileiras pretas sobre o arame farpado<br />
coberto de neve. Umha manhá vou acordar deste pesadelo,<br />
pensei, enquanto me envolvia outra vez nos cobertores.<br />
Além do grasnido dos corvos, todo ficava sinistramente<br />
quieto. Estava certo de que muitos dos companheiros estavam<br />
despertos, provavelmente encolhidos debaixo dos<br />
cobertores tentando entrar em calor. A ideia de papas de<br />
aveia frias e insípidas com duas fatias de pam e um copo de<br />
chá morno para almoçar era deprimente. Desmoralizava já<br />
só o facto de pensar nisso.<br />
Amanheceu e dentre as trevas da noite morta materializou-se<br />
o pesadelo diurno. A sujidade e o lixo, as paredes<br />
rabunhadas —os lindes da minha tumba fedorenta —recebêrom-me<br />
com o novo dia. Continuei deitado a escuitar a<br />
minha própria respiraçom e os grasnidos dos corvos.<br />
A neve estava muito alta no pátio. Bem o sabia, passara<br />
meia noite acurrunchado debaixo dos cobertores enquanto<br />
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