UM DIA DA MINHA VIDA Bobby Sands
UM DIA DA MINHA VIDA Bobby Sands
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Um dia da minha vida<br />
que lhe berraram em gaélico doutra galeria. Disque havia<br />
um companheiro muito enfermo ali. Tocaram a campainha<br />
de emergência e os carcereiros desligáram-na e simplesmente<br />
ignoraram o doente. A mae de outro deles morrera<br />
o dia anterior e foi-lhe negada a licença para ir ao enterro,<br />
como lhes figeram a todos os que passaram por essa triste<br />
circunstância.<br />
Erguim-me e subim ao colchom para olhar pola janela.<br />
O arame farpado estava coberto de umha grosa camada de<br />
gelo e recordou-me o interior de um frigorífico. Alguns dos<br />
companheiros dérom-se as boas noites, enquanto outros<br />
comentavam que iam continuar a caminhar todo o que pudessem,<br />
porque tinham os colchons enchoupados. Só uns<br />
poucos ainda falavam pola janela. Seán bateu à parede.<br />
—Oíche mhaith 27 , <strong>Bobby</strong> —berrou.<br />
—Oíche mhaith, Seán —retruquei. —Tés o colchom<br />
molhado?<br />
—Só um pouco... —respondeu. —Vou tentar abrigar-<br />
-me bem com os cobertores.<br />
—Maith thú. Oíche mhaith, a chara 28 —dixem-lhe.<br />
—Oíche mhaith —repetiu.<br />
Já nom nevava e só ia umha suave brisa. A camada de<br />
neve, antes donda e imaculada, estava agora manchada polas<br />
pegadas dos carcereiros. As nuvens brancas inchadas de<br />
neve foram-se do céu, que voltava a estar preto como o carvom.<br />
Algumhas estrelas cintilavam aqui e alá. A maioria das<br />
pessoas estaria já a dormir, nom sabia como se sentiriam<br />
se ao acordar vissem o mesmo que víamos nós. Nom era<br />
nengumha surpresa passar as últimas semanas tendo pesa-<br />
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