UM DIA DA MINHA VIDA Bobby Sands
UM DIA DA MINHA VIDA Bobby Sands
UM DIA DA MINHA VIDA Bobby Sands
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
Um dia da minha vida<br />
vim-me neles. O chao esbarava e continuava molhado, mas<br />
nom me ia ficar outra que voltar a pôr o colchom, embora<br />
a humidade o enchoupasse e atingisse o meu corpo. A alternativa<br />
a isso era caminhar toda a noite e nom me julgava<br />
capaz. Avizinhava-se umha noite longa e gélida, ninguém<br />
ia dormir muito. Nas janelas, os companheiros explicavam<br />
como estavam as suas celas. Alguns dos colchons assolagaram-se<br />
por completo, o mesmo que os cobertores de outros<br />
companheiros. Eu nom me podia queixar, ao menos só se<br />
molhara o pé da minha cama.<br />
O ruído dos penicos contra o chao cessara e agora<br />
os companheiros procuravam secar os colchons e os cobertores.<br />
Alguém pediu umha cançom, como costumava<br />
acontecer nestes casos. Com a noite que levávamos, tínhamos<br />
de fazer algumha cousa para manter o moral alto<br />
enquanto dávamos voltas dentro das celas. Escuitárom-se<br />
aturujos e aplausos, e o primeiro cantor entoou The Old<br />
Alarm Clock. O seguinte foi um jovem de Derry, cantou My<br />
Old Homem Town on the Foyle. Um a um, os companheiros<br />
fôrom-se achegando às suas portas para cantar quando<br />
lhes tocava. Quando chegou o meu turno aproximei-me da<br />
porta e entoei The Curragh of Kildare. Enquanto cantava,<br />
estava a aguardar a que B voltasse para me atirar um balde<br />
de desinfetante à cara pola fenda da porta. Acabei a cançom<br />
quase sem alento e depois dos aplausos voltei a passear pola<br />
cela. Tinha os pés arrefecidos. O chao quase nom secara<br />
e ainda esbarava. Quando já nom pudem caminhar mais,<br />
deitei o colchom no chao e acobilhei-me sobre a parte seca.<br />
As maçaduras da troca de cela e do registo ainda doíam.<br />
105