UM DIA DA MINHA VIDA Bobby Sands
UM DIA DA MINHA VIDA Bobby Sands
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<strong>Bobby</strong> <strong>Sands</strong><br />
e riam e alguns deles cantavam para adormecerem. Estava<br />
a pique de sentar outra vez quando escuitei um berro de<br />
alerta.<br />
—Mouros na costa! E vêm com a artilharia pesada!<br />
Sabia o que significava. Corrim a pôr o colchom e pugem-no<br />
de pé contra a parede, no recuncho mais afastado.<br />
Metim todos as cobertores detrás e enrolei-me a toalha,<br />
esquecendo por um momento o frio e guardando o que<br />
restava de tabaco contra a minha cintura. Ouvim o ruído do<br />
primeiro chorro de água, justo na cela de enfrente.<br />
E tanto que era a artilharia pesada, cheirava desde a minha<br />
cela: desinfetante com amoníaco, um detergente muito<br />
forte e perigoso para a saúde. Os carcereiros botavam-no<br />
por debaixo das portas e polas fendas dos lados. Arrisquei-<br />
-me a olhar pola fenda quando acendêrom as luzes. Era<br />
um risco estúpido, porque me podia entrar o amoníaco nos<br />
olhos e deixar-me cego em questom de segundos. B estava<br />
a esvaziar um balde cheio de desinfetante por debaixo<br />
da porta de enfrente e berrava aos outros carcereiros para<br />
que lhe levassem mais. Escuitei o preso de enfrente tossir<br />
e cuspir. Os que estavam daquele lado tinham-no mal, as<br />
suas janelas estavam tapadas. Os vapores do desinfetante<br />
eram como o gás lacrimógeno, proíam nos olhos e na gorja,<br />
deixavam-te cego por uns minutos e faziam-che vomitar.<br />
Escuitei como desenrolavam a mangueira.<br />
—Trazem a mangueira! —berrei, e afastei-me da porta.<br />
B ria como um louco botando o desinfetante por debaixo<br />
das portas. Levava umha máscara que o protegia<br />
dos vapores nocivos e decerto todos eles tinham postas as<br />
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