Mais louco - Cia. Atelie das Artes
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RANCE - Eu gostaria de conhece-lo um pouco melhor antes de arriscar uma resposta. Ele tem tido outras idéias brilhantes além dessa das bruxas? SRA. PRENTICE (BEBENDO) - Ele escreve toneladas de cartas aos jornais. PEGA O SEU COPO E VAI ATÉ A ESTANTE. PEGA, NA PRATELEIRA DE BAIXO, UM ÁLBUM DE RECORTES ENCADERNADO EM COURO. ABRE-O E MOSTRA) Aqui estão, desde a primeira carta, escrita aos doze anos, queixando-se das informações erradas que lhe foram fornecidas por uma criança alemã enquanto brincavam de “mamãe e papai”- o que o levou a uma série de especulações a respeito da natureza e eficácia da propaganda nazista...-RANCE OLHA ATENTAMENTE O ÁLBUM. A SRA PRENTICE VIRA AS PÁGINAS. - Até a mais recente, publicada há um mês, na qual ele chama os lavatórios para cavalheiros de “último reduto do privilégio masculino”... RANCE (DEVOLVENDO O ÁLBUM, DEPOIS DE LER) - O comportamento de seu marido me provoca a mais profunda inquietação. A senhora está pessoalmente convencida de que esses métodos podem resultar na diminuição das tensões entre loucos e não-loucos? SRA. PRENTICE - O objetivo da clínica do meu marido não é o de curar, e sim o de liberar e explorar a loucura. RANCE - No que parece ser extremamente bem sucedida. (ENCARA A FRANCAMENTE). Eu nunca vi nada que se parecesse com o métodos usados nesta casa. (TIRA UM PEDAÇO DE PAPEL DO BOLSO E ENTREGA A ELA). Leia isso. SRA. PRENTICE - (LENDO) - “Fique com a cabeça abaixada e não faça o menor ruído”. (DEVOLVENDO). - O que quer dizer isso? RANCE - Seu marido está usando métodos perigosamente anticonvencionais no tratamento dos loucos. (VAI ATÉ SUA PASTA E GUARDA O PAPEL) SRA. PRENTICE - Não sei se devia dizer isto, doutor - Minha lealdade de esposa ficou em jogo, mas ainda hoje pela manhã meu marido comunicou sua intenção de usar Somerset Maugham para curar uma perturbação da bexiga. RANCE (SOMBRIO) - Como psiquiatra, seu marido me parece não só ineficiente como também indesejável. SRA. PRENTICE LEVA O ÁLBUM DE RECORTES DE VOLTA PARA A ESTANTE E TENTA GUARDA-LO. NÃO CONSEGUE. INVESTIGA. DESCOBRE O SAPATO DE GERALDINE. 22
SRA. PRENTICE (OLHANDO COM ESPANTO) - Que coisa esquisita para se encontrar numa instante! RANCE - É seu? SRA. PRENTICE - Não. RANCE - Deixe-me ver. ELA LHE ENTREGA O SAPATO E ELE EXAMINA? SEGURANDO- O RANCE (LEVANTANDO OS OLHOS APÓS UMA PAUSA) - Tenho de lhe pedir que seja muito franca. A algum momento o Dr. Prentice lhe deu causas para que duvidasse de sua sanidade mental? SRA. PRENTICE - Ele é um membro respeitado de sua profissão. Seu trabalho em todos os campos tem sido altamente elogiado por inúmeros colegas. RANCE - O pensamento radical é sempre fácil para o lunático. SRA. PRENTICE (PAUSA) - O senhor tem toda a razão. (ENXUGA O NARIZ COM UM LENCINHO). Há muito tempo que eu sei que as coisas não andam bem. Mas tentei me convencer de que meus temores eram infundados. Sempre soube que estava querendo enganar a mim mesma. RANCE LEVA-A PARA UMA CADEIRA. ELA SE SENTA, ARRASADA PELO CHOQUE. RANCE (BAIXO) - Como nasceram suas primeiras suspeitas? SRA. PRENTICE - Acho que foi com sua atitude pouco cortês para com minha mãe. Ele costumava telefonar para ela sugerindo métodos dolorosos de suicídio. Afinal, desgastada por aquela perseguição, ela acabou aceitando os conselhos dele. RANCE - E mais recentemente, digamos... a partir desta manhã, o estado dele parece ter-se agravado? SRA. PRENTICE - Ah, sem dúvida, doutor. Ele não mostrou a menor compreensão quando eu lhe contei que havia sido atacada por um boy do Hotel da Estação. RANCE - De que natureza foi o ataque? SRA. PRENTICE - O jovem queria me violar. RANCE - E foi bem sucedido? SRA. PRENTICE - Não. RANCE (SACUDINDO A CABEÇA)- O serviço nos hotéis está cada vez pior. SRA. PRENTICE - E pouco depois da minha volta meu marido começou a ter umas idéias esquisitíssimas, que teria tido o maior prazer em satisfazer, se não tivessem ultrapassado de muito os limites do bom gosto. 23
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SRA. PRENTICE (OLHANDO COM ESPANTO) - Que coisa esquisita<br />
para se encontrar numa instante!<br />
RANCE - É seu?<br />
SRA. PRENTICE - Não.<br />
RANCE - Deixe-me ver.<br />
ELA LHE ENTREGA O SAPATO E ELE EXAMINA? SEGURANDO-<br />
O<br />
RANCE (LEVANTANDO OS OLHOS APÓS UMA PAUSA) - Tenho de<br />
lhe pedir que seja muito franca. A algum momento o Dr. Prentice lhe deu<br />
causas para que duvi<strong>das</strong>se de sua sanidade mental?<br />
SRA. PRENTICE - Ele é um membro respeitado de sua profissão. Seu<br />
trabalho em todos os campos tem sido altamente elogiado por inúmeros<br />
colegas.<br />
RANCE - O pensamento radical é sempre fácil para o lunático.<br />
SRA. PRENTICE (PAUSA) - O senhor tem toda a razão. (ENXUGA O<br />
NARIZ COM UM LENCINHO). Há muito tempo que eu sei que as coisas<br />
não andam bem. Mas tentei me convencer de que meus temores eram<br />
infundados. Sempre soube que estava querendo enganar a mim mesma.<br />
RANCE LEVA-A PARA UMA CADEIRA. ELA SE SENTA,<br />
ARRASADA PELO CHOQUE.<br />
RANCE (BAIXO) - Como nasceram suas primeiras suspeitas?<br />
SRA. PRENTICE - Acho que foi com sua atitude pouco cortês para com<br />
minha mãe. Ele costumava telefonar para ela sugerindo métodos dolorosos<br />
de suicídio. Afinal, desgastada por aquela perseguição, ela acabou aceitando<br />
os conselhos dele.<br />
RANCE - E mais recentemente, digamos... a partir desta manhã, o estado<br />
dele parece ter-se agravado?<br />
SRA. PRENTICE - Ah, sem dúvida, doutor. Ele não mostrou a menor<br />
compreensão quando eu lhe contei que havia sido atacada por um boy do<br />
Hotel da Estação.<br />
RANCE - De que natureza foi o ataque?<br />
SRA. PRENTICE - O jovem queria me violar.<br />
RANCE - E foi bem sucedido?<br />
SRA. PRENTICE - Não.<br />
RANCE (SACUDINDO A CABEÇA)- O serviço nos hotéis está cada vez<br />
pior.<br />
SRA. PRENTICE - E pouco depois da minha volta meu marido começou a<br />
ter umas idéias esquisitíssimas, que teria tido o maior prazer em satisfazer,<br />
se não tivessem ultrapassado de muito os limites do bom gosto.<br />
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