Mais louco - Cia. Atelie das Artes

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12.04.2013 Views

POUSA A SERINGA E VAI LAVAR AS MÃOS. SRA. PRENTICE ENTRA DO HALL. SRA. PRENTICE (PREOCUPADA) - Ninguém encontra a sta. Barclay. RANCE - Ela tomou uma forte dose de sedativos e não pode ser perturbada. PRENTICE (SORRINDO NERVOSO PARA RANCE) - Minha mulher está falando de minha secretária, doutor. Ela desapareceu há algum tempo. GERALDINE - Eu sou Geraldine Barclay. Estou procurando um emprego de secretária de meio expediente. E fui declarada louca. RANCE (À SRA. PRENTICE) - Por favor não dê ouvidos a essas divagações. Não passam de sintomas do estado da paciente. (A PRENTICE). O nome dela é o mesmo da sua secretária? PRENTICE - Ela tomou o nome da minha secretária como seu “nom de folie”. Apesar de moralmente condenável, receio que não se possa fazer nada a respeito legalmente. RANCE (ENXUGANDO AS MÃOS) - Parece-me um capricho mesquinho, porém os loucos são famosos por seus hábitos desatinados. SRA. PRENTICE - Vou falar para a agência de emprego. A sta. Barclay não pode ter sumido, assim no ar. (SAI PARA O HALL). PRENTICE - Minha esposa não está familiarizada com os hábitos das mocinhas de hoje, doutor. Já conheci várias que desapareceram assim, no ar. E algumas que tinham nisso um prazer todo especial. RANCE (VESTINDO CASACO BRANCO) - Na minha experiência as moças só desaparecem à meia noite ou então após uma refeição pesada. (ABOTOA O CASACO). as suas relações com sua secretária eram normais? PRENTICE - Eram. RANCE - Bem, sua vida particular é problema seu. Mas nem por isso eu deixo de ficar chocado. A paciente tinha conhecimento de sua relação com sua secretária? PRENTICE - É possível que sim. RANCE - Percebo. Um claro quadro sistemático começa a se delinear. ( VOLTA À MACA E FICA DE PÉ OLHANDO GERALDINE) .Sob a influência da droga que lhe ministrei, sta. Barclay, a senhorita está tranquila e confiante. Vou fazer-lhe algumas perguntas que quero que responda em estilo claro, sem termos técnicos. ( A PRENTICE). Ela vai interpretar isso 16

como uma sugestão para o uso de expressões grosseiras. (A GERALDINE). Quem foi o primeiro homem na sua vida? GERALDINE - Meu pai. RANCE - Ele a violentou? GERALDINE - Não. RANCE (A PRENTICE) - Esse “não”pode querer dizer “sim”. É psicologia feminina elementar. (A GERALDINE). A sua madrasta tinha conhecimento de seu amor por seu pai? GERALDINE - Minha família era inteiramente normal. Eu nunca amei meu pai. RANCE (A PRENTICE) - Aposto que foi vítima de uma agressão incestuosa. Ela associa claramente a violência com o ato sexual. A tentativa dela, quando despida, de provocar no senhor uma reação erótica pode ter uma significação mais profunda. (A GERALDINE). Seu pai tinha convicções religiosas? GERALDINE - Eu acho que sim. RANCE (A PRENTICE) - E no entanto ela ainda diz que vivia numa família normal. A gravidade de seu estado pode ser avaliado por uma declaração dessas. ( A GERALDINE). A religião de seu pai aprova o estupro? (A PRENTICE). Há seitas que fecham os olhos ao que quer que seja, desde a coisa não ultrapasse os limites do círculo familiar. (A GERALDINE). Houve alguma cerimônia religiosa antes da senhorita ser atacada? GERALDINE - Não posso responder suas perguntas, doutor. Elas me parecem gratuitas e repugnantes. RANCE - O que me interessa são os estupros, e não a estética dos interrogatórios! Faça o favor de responder! A senhorita foi violentada por seu pai? GERALDINE (COM UM GRITO DE MORRER) - Não, não, não! RANCE EMPERTIGA-SE E ENCARA PRENTICE. RANCE - A veemência dessa negativa é prova de culpa. É um caso ontológico! um homem corrupto, uma jovem sedenta de experiências. A beleza, a confusão e a premência de sua paixão a impeli-los. Atiram-se a um caso amoroso insensato. Ele tem dificuldade em conciliar seu segredo culposo com suas convicções espirituais. É uma tortura mental. Cessa a atividade sexual. Ela, que vivia do amor dele, entra em angústia quando o perde, e busca o conselho de seu sacerdote. A Igreja, fiel a suas antigas tradições, opina pela castidade. Resultado: a loucura. RANCE COLOCA O ALGODÃO E A SERINGA NO RIM. 17

como uma sugestão para o uso de expressões grosseiras. (A<br />

GERALDINE). Quem foi o primeiro homem na sua vida?<br />

GERALDINE - Meu pai.<br />

RANCE - Ele a violentou?<br />

GERALDINE - Não.<br />

RANCE (A PRENTICE) - Esse “não”pode querer dizer “sim”. É<br />

psicologia feminina elementar. (A GERALDINE). A sua madrasta tinha<br />

conhecimento de seu amor por seu pai?<br />

GERALDINE - Minha família era inteiramente normal. Eu nunca amei<br />

meu pai.<br />

RANCE (A PRENTICE) - Aposto que foi vítima de uma agressão<br />

incestuosa. Ela associa claramente a violência com o ato sexual. A tentativa<br />

dela, quando despida, de provocar no senhor uma reação erótica pode ter<br />

uma significação mais profunda. (A GERALDINE). Seu pai tinha<br />

convicções religiosas?<br />

GERALDINE - Eu acho que sim.<br />

RANCE (A PRENTICE) - E no entanto ela ainda diz que vivia numa<br />

família normal. A gravidade de seu estado pode ser avaliado por uma<br />

declaração dessas. ( A GERALDINE). A religião de seu pai aprova o<br />

estupro? (A PRENTICE). Há seitas que fecham os olhos ao que quer que<br />

seja, desde a coisa não ultrapasse os limites do círculo familiar. (A<br />

GERALDINE). Houve alguma cerimônia religiosa antes da senhorita ser<br />

atacada?<br />

GERALDINE - Não posso responder suas perguntas, doutor. Elas me<br />

parecem gratuitas e repugnantes.<br />

RANCE - O que me interessa são os estupros, e não a estética dos<br />

interrogatórios! Faça o favor de responder! A senhorita foi violentada por<br />

seu pai?<br />

GERALDINE (COM UM GRITO DE MORRER) - Não, não, não!<br />

RANCE EMPERTIGA-SE E ENCARA PRENTICE.<br />

RANCE - A veemência dessa negativa é prova de culpa. É um caso<br />

ontológico! um homem corrupto, uma jovem sedenta de experiências. A<br />

beleza, a confusão e a premência de sua paixão a impeli-los. Atiram-se a um<br />

caso amoroso insensato. Ele tem dificuldade em conciliar seu segredo<br />

culposo com suas convicções espirituais. É uma tortura mental. Cessa a<br />

atividade sexual. Ela, que vivia do amor dele, entra em angústia quando o<br />

perde, e busca o conselho de seu sacerdote. A Igreja, fiel a suas antigas<br />

tradições, opina pela castidade. Resultado: a loucura.<br />

RANCE COLOCA O ALGODÃO E A SERINGA NO RIM.<br />

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