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O Senhor da Chuva - Jovem Sul News

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com cara de demônios (ao menos era como lhe pareciam na noite anterior) se<br />

encaixavam melhor. Decidiu que não contaria ao veterinário que aqueles<br />

animais bizarros na ver<strong>da</strong>de eram demônios se fazendo de cães. Seria <strong>da</strong>do<br />

como louco por ele e por todo o pessoal <strong>da</strong> fazen<strong>da</strong>. Não se sentiu atraído<br />

com a idéia de ser apontado como o irmão louquinho do pe<strong>da</strong>ço.<br />

Aproximaram-se de um canto externo do celeiro, onde os cães estavam<br />

cobertos com um encerado. De longe, o odor fétido dos cadáveres já era<br />

insuportável. Paulo e Tônico retiraram a cobertura. O cheiro era pior do que<br />

imaginavam. André afastou-se para vomitar, ajoelhando-se junto ao celeiro.<br />

Ramiro, presenciando a cena, não se conteve, vomitando também. Os homens<br />

protegeram as narinas com lenços, tentando filtrar um pouco de ar livre.<br />

Descrever o estado de putrefação dos cães não seria fácil. Pareciam mortos há<br />

semanas, deixados no tempo para apodrecer e desintegrar por si próprios.<br />

Eram três caricaturas de dálmatas, sem as cores que caracterizavam a raça. O<br />

couro estava rompido em vários pontos, e um bale atropelado de moscas e<br />

vermes trombava a todo instante. O sangue apodrecido formava crostas<br />

marrons-escuras, <strong>da</strong>ndo um tom quase vermelho ao pêlo. Estavam muito<br />

maiores do que os três cães que pertenciam ao cego, talvez porque tinham<br />

inchado até, literalmente, explodir. Uma substância purulenta e rançosa<br />

escorria pelos buracos abertos e parecia ser a grande responsável pelo odor<br />

sufocante.<br />

—Caralho! Que cheiro! — exclamou Gregório.<br />

—Mer<strong>da</strong>...<br />

—Ah? — in<strong>da</strong>gou o rapaz, espantado e retirando-se de perto dos<br />

bichos.<br />

—Eu dizia que eles fedem mais que mer<strong>da</strong>. Estou até tonto.<br />

Blargh! Nunca vi isso. — gemeu o veterinário, afastando-se com Gregório.<br />

Passou o lenço na camisa, <strong>da</strong>ndo a impressão de que sentia-se<br />

impregnado pelo fedor mórbido. — Quando que você disse que eles<br />

morreram? Ontem, é isso?<br />

—Foi, foi ontem, seu Ivan.<br />

— Bem, meu amigo, então tem coisa bem esquisita nesta estória.<br />

— disse o veterinário, coçando a cabeça. — Pelo que eu vi, posso jurar<br />

que estão mortos há mais de quatro dias. No mínimo.<br />

Gregório encostou a cabeça no trator estacionado a poucos metros do<br />

celeiro. Parecia receber a notícia com um desgosto tremendo, como se aquilo<br />

confirmasse um diagnóstico arrasador, como se confirmasse um câncer<br />

cerebral.

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