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Por volta <strong>da</strong>s dezessete horas, o veterinário chegou. Vera havia ligado<br />
pela manhã, narrando o estranho acontecido e pedindo que ele viesse examinar<br />
os cadáveres dos animais a fim de saber se Samuel corria perigo de contrair<br />
alguma doença.<br />
O homem encostou a pick-up na frente <strong>da</strong> casa e buzinou. Vera pôs a<br />
delica<strong>da</strong> cabecinha pra fora <strong>da</strong> janela e berrou para o médico:<br />
—Os rapazes estão no celeiro. Chame pelo Gregório, ele vai te mostrar<br />
aqueles bichos mortos.<br />
—Você não vem?<br />
—Ah, não, obriga<strong>da</strong> Ivan, não tenho estômago para olhar aquelas<br />
coisas de novo. — desculpou-se a mulher.<br />
—Quem é esse Gregório?<br />
—É irmão de meu marido, você...<br />
—Como vou saber quem é?<br />
—Eles são gêmeos, pombas. — respondeu Vera, quase rindo.<br />
O veterinário balançou a cabeça. Ele tinha aquele jeitão de bobo que<br />
todo mundo acha engraçado, demorando demais para compreender as coisas<br />
fáceis.<br />
— Eu não sabia que ele tinha um irmão gêmeo...<br />
Apanhou a maleta no carro e tomou o rumo do celeiro.<br />
O galpão perdera bastante <strong>da</strong> aparência fantasmagórica, já que os<br />
homens tinham coberto boa parte <strong>da</strong>s paredes esqueléticas <strong>da</strong> construção.<br />
Provavelmente, estaria forrado no dia seguinte àquela hora.<br />
O veterinário viu Gregório pendurado lá em cima, martelando um prego<br />
numa tábua extensa.<br />
— Você deve ser o Gregório, não é? — perguntou acanhado. — Meu<br />
nome é Ivan; sou veterinário <strong>da</strong> fazen<strong>da</strong>.<br />
— Ô, bem na hora, doutor. Aquele negócio tá fedendo um bocado;<br />
precisamos nos livrar deles rapidinho. — bradou Paulo.<br />
Gregório desceu, apertou a mão do veterinário e convidou-o para<br />
acompanhá-lo. Os homens pararam com as ferramentas e foram ver também.<br />
Todos tinham o desejo mórbido de botar os olhos nos três cães-defuntos.<br />
Gregório estava pouco à vontade com aquelas criaturas. Afinal, enquanto todo<br />
mundo os compreendia como simples cães, ele sabia que eram um pouco mais<br />
que isso. O rapaz sentia-se mergulhando num mundo paralelo, onde os cães