You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
normali<strong>da</strong>de cabe somente a nós, seres humanos, que hoje não conseguimos<br />
enxergar um palmo adiante do nariz. Não entendemos o que é este universo e<br />
espírito. Vemos somente a matéria. Então, sob essa perspectiva, ela era<br />
comum. Mas para ele, Eloísa era muito especial. Tinha fé. Fé no que não se vê.<br />
Fé nos instintos. Amor pelo Pai Criador e confiança em tudo o que estava<br />
escrito. Simplesmente isso.<br />
O anjo a amava. Um amor fraterno e antigo. A seus olhos, aquela<br />
velhinha permanecia envolta constantemente em uma chama viva de paz,<br />
amor e fé. Eloísa era ilumina<strong>da</strong>! O anjo cor de bronze chama-se Thal. Tem a<br />
forma de guerreiro de luz e fé, dura, como a mais dura rocha do universo.<br />
Thal era amado e respeitado entre os seus. Era um líder bravo.<br />
Com os olhos serenos, ele acompanhava o lento caminhar de Eloísa<br />
pelas calça<strong>da</strong>s. Volta e meia, via um de seus irmãos cruzando os céus, logo<br />
montando sentinela no topo dos outros prédios, com as asas cerra<strong>da</strong>s, imóveis,<br />
concentrados em manter seus protegidos fora do alcance <strong>da</strong>s feras do mundo<br />
inimigo. Se homens comuns pudessem vê-los, poderiam confundi-los com<br />
impressionantes estátuas antigas, contrastando com a arquitetura dos prédios<br />
<strong>da</strong>quela ci<strong>da</strong>de. Dali via dois dos seus. Abriu as asas e arremessou-se. Disparou<br />
em que<strong>da</strong> livre, de encontro ao chão. Pousou em cima de um relógio digital <strong>da</strong><br />
Dimep, que ficava no canteiro central <strong>da</strong> aveni<strong>da</strong> Paulista. Um de seus irmãos<br />
se foi, abrindo as asas, subindo ligeiramente para o céu, transformando-se em<br />
uma bola de luz, desaparecendo nas nuvens. Thal via agora apenas um. Eloísa<br />
realizava lentamente sua caminha<strong>da</strong>, em ritmo de passeio, que durava exatos<br />
vinte minutos. Thal olhou ao redor. A ci<strong>da</strong>de estava calma. Na esquina do<br />
quarteirão, surgiram cinco jovens. Dentre eles, um iluminado também. Thal<br />
olhou para cima e acenou. Taguinel sobrevoava o grupo e desceu ao encontro<br />
de Thal. Pousou em cima do relógio também e cumprimentou.<br />
—Como está, guerreiro?<br />
—Bem. Na<strong>da</strong> de novo até agora? — perguntou Thal. — Eles não<br />
tentaram na<strong>da</strong> hoje. Estão fracos depois <strong>da</strong> última investi<strong>da</strong>. Perderam<br />
muitas criaturas e nos <strong>da</strong>rão alguns dias de sossego por enquanto.<br />
—Lembro-me de poucos anos atrás. O céu permanecia sempre forrado<br />
por nossos irmãos. Eram centenas, milhares por vezes. Todos<br />
acompanhando, protegendo e auxiliando os iluminados. Hoje, chego a<br />
me entristecer. Vê o céu? Onde estão nossos irmãos de luz? A fraqueza <strong>da</strong><br />
fé humana, hoje em dia, nos deixa enfraquecidos também, tornando<br />
nossos corpos penetráveis pelas espa<strong>da</strong>s e dentes inimigos. Eles sabem e<br />
se aproveitam. Pensam que estão vencendo; se fortalecem, se multiplicam<br />
com veloci<strong>da</strong>de assustadora. Os homens começaram a cultiválos<br />
sem saber. — Thal remexeu as asas, empertigando-se.