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Capítulo 11<br />
DEPOIS DE SERVIDA A bóia, o pessoal se reuniu no alpendre <strong>da</strong> casa para<br />
jogar conversa fora. Uns tagarelavam com Samuel, Vera e Gregório. Outros<br />
preferiam puxar um cochilo antes de prosseguir o trabalho. Em geral, os dias<br />
eram tranqüilos na fazen<strong>da</strong>. Samuel contava com a aju<strong>da</strong> de sete homens para as<br />
tarefas agrícolas. Celeste e Tônico, tinha também o Ramiro e o Teodoro, que<br />
morava na fazen<strong>da</strong> com a esposa e dois filhos pequenos. Além desses quatro,<br />
moravam três irmãos: Jonas, André e Paulo, com vinte e quatro, vinte e um e<br />
dezoito anos respectivamente. Os sete eram suficientes para os serviços rotineiros.<br />
Eventualmente, quando o trabalho aumentava, Samuel ia até a praça<br />
contratar gente extra, paga por dia. Normalmente, acontecia quando a época<br />
<strong>da</strong> colheita chegava. Samuel ain<strong>da</strong> não sabia se a intenção do irmão era ficar na<br />
fazen<strong>da</strong> por muito tempo. Seria excelente. Além de feliz com seu retorno,<br />
poderiam adiantar bastante trabalho com um par de braços a mais. Ficaram<br />
uma hora e meia papeando até voltar ao batente. Apanharam as ferramentas e<br />
colocaram na traseira do trator, pondo-se a caminho do celeiro. Paulo levou o<br />
trator, chegando pouco antes do grupo. Os homens se juntaram, e Samuel<br />
proferiu as ordens iniciais para a tão necessária reforma do galpão de madeira.<br />
— No mês passado, eu e o Genaro verificamos que as colunas e as vigas<br />
estão em boas condições de conservação; por conta disso, não serão<br />
substituí<strong>da</strong>s. Vamos nos preocupar com as tábuas do revestimento. Procurem as<br />
madeiras <strong>da</strong>nifica<strong>da</strong>s e troquem pelas tábuas novas. É bom trabalhar em dupla<br />
para facilitar a tarefa. — Parou de falar para <strong>da</strong>r uma cuspi<strong>da</strong>, estralou os<br />
dedos <strong>da</strong>s mãos e concluiu: — E isso aí, rapazia<strong>da</strong>, mãos à obra.<br />
Assim que os homens iniciaram o trabalho, Samuel e Gregório dirigiramse<br />
para o fundo do celeiro, subiram a esca<strong>da</strong> de madeira até alcançar o<br />
mezanino, ao fundo. A plataforma, também feita de pau, cobria um quarto<br />
do lugar, servindo anteriormente para acomo<strong>da</strong>r sementes e alguns utensílios<br />
agrícolas. Agora, Samuel preferia deixá-la vazia, pois ali concentrava-se a maior<br />
parte <strong>da</strong>s falhas no teto, facilitando a entra<strong>da</strong> <strong>da</strong> chuva com freqüência. Por<br />
outro lado, o mezanino mantinha um quarto do celeiro salvo <strong>da</strong> água no piso<br />
inferior. O pouco milho colhido estava acondicionado ali em baixo, mas logo o<br />
espaço estaria todo ocupado. Os dois não precisaram procurar muito para<br />
encontrar a primeira tábua defeituosa. Conversavam anima<strong>da</strong>mente sobre o<br />
passado, as brincadeiras de infância, os amigos, a escola. Pouco a pouco, os<br />
sons de gente trabalhando foram envolvendo o ambiente. Se fossem rápidos,<br />
talvez conseguissem retirar to<strong>da</strong>s as madeiras irregulares antes do anoitecer.<br />
No final do dia, Gregório estava bastante cansado. Os músculos do<br />
braço foram demasia<strong>da</strong>mente exigidos naquele árduo trabalho. Teve vergonha<br />
de expressar sua fadiga aos companheiros, pois eles, acostumados com o