12.04.2013 Views

O Senhor da Chuva - Jovem Sul News

O Senhor da Chuva - Jovem Sul News

O Senhor da Chuva - Jovem Sul News

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Capítulo 02<br />

FALTAVAM APENAS DOIS minutos para a meia-noite. Estendendo o<br />

magnífico par de asas, a criatura decolou. Observou o quarteirão. Deserto.<br />

Pousou no topo de um prédio vermelho. Dali, poderia observá-la<br />

perfeitamente. Permaneceu de pé, em cima do parapeito <strong>da</strong> cobertura, e olhou<br />

para baixo. Era uma que<strong>da</strong> e tanto. Sorriu. Aspirou fundo o ar noturno. Estava<br />

plena de felici<strong>da</strong>de. A chuva fizera bem à ci<strong>da</strong>de. Era como se a redimisse <strong>da</strong>s<br />

tensões e insani<strong>da</strong>des. Estava limpa outra vez, refresca<strong>da</strong>. Estranhamente<br />

quieta, como se a noite conspirasse. Ela sentia-se bem. A chuva lhe <strong>da</strong>va vigor e<br />

energia. Sentia-se em paz. Com a bendita gota vin<strong>da</strong> do céu, tinha a força<br />

redobra<strong>da</strong>. Concentrou-se nessas sensações. As gotas penetravam em sua pele<br />

acobrea<strong>da</strong>. Era um ser divino, abençoado. Possuía asas brancas, de alvura<br />

impecável. Sua pele. tinha a cor de cobre, envolta num leve luzir vivo. O corpo<br />

era robusto, grande, francamente um guerreiro. A face transpirava energia e<br />

tranqüili<strong>da</strong>de, num despertar de confiança. Os olhos eram duas brasas vivas,<br />

feitas de fogo amarelo. A túnica era tão branca quanto as asas. Uma espa<strong>da</strong><br />

longa e embainha<strong>da</strong> descansava na cintura, junto a uma trombeta curta, que<br />

parecia feita de chifre retorcido. Sua silhueta no topo do prédio poderia ser<br />

facilmente confundi<strong>da</strong> com a sombra de um homem alto não fosse o gritante<br />

par de asas, que volta e meia farfalhava, movendo-se impaciente. Há muito, os<br />

homens haviam perdido aquela pureza feroz, aquela autori<strong>da</strong>de favoreci<strong>da</strong> por<br />

Deus. A figura, lá no topo, não era um homem... era um guerreiro de luz, destinado<br />

a lutar pelos seres de alma pura. Empertigava-se com a presença do<br />

inimigo, <strong>da</strong>s forças <strong>da</strong>s trevas. Combatia demônios quando aquela espa<strong>da</strong><br />

voava para fora de sua bainha e cortava o ar, partindo feras malditas, salvando<br />

as almas ameaça<strong>da</strong>s. Pelos inimigos era temido. Dos exércitos <strong>da</strong> luz era um<br />

encorajador. O rosto reto e vincado, a pele cor de cobre, os olhos chamejantes<br />

e vivazes como os de uma águia lhe conferiam uma imponência<br />

impressionante. A criatura era o que os humanos chamam de anjo... um anjo<br />

<strong>da</strong> luz.<br />

* * *<br />

Ela sempre deixava o emprego por volta <strong>da</strong> meia-noite. Saiu pela frente<br />

do estabelecimento, um bar-lanchonete pequenino, encravado bem no meio de<br />

uma <strong>da</strong>s maiores aveni<strong>da</strong>s <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de. Ela era Eloísa, a protegi<strong>da</strong>. Não era rica<br />

nem bonita. Trabalhava de segun<strong>da</strong> a sábado, folgando aos domingos.<br />

Ganhava pouco, mas era o suficiente para se manter com a mínima digni<strong>da</strong>de.<br />

Com seus 59 anos, solitária, cativava por não ser amarga nem rabugenta.<br />

Mantinha o apartamento de um quarto, sala e cozinha, sem esperar visitas dos<br />

filhos ou dos pequenos netos. Aparentemente, um tipo normal, cumprindo<br />

mecânica e biologicamente suas funções no conturbado quadro social <strong>da</strong><br />

metrópole. Contas para pagar, dinheirinho apertado. Entretanto, essa

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!