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O Senhor da Chuva - Jovem Sul News

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fera. Fosse o que fosse que estivesse escondido no galpão, não havia gostado<br />

de Samuel. O homem teve a níti<strong>da</strong> impressão de que a coisa partia em seu<br />

encalço. Ele corria, <strong>da</strong>ndo o máximo que podia. Logo atingiu a parte exterior<br />

<strong>da</strong> construção, correndo rente ao milharal. Suas passa<strong>da</strong>s eram engoli<strong>da</strong>s pelo<br />

som do galopar <strong>da</strong> fera perseguidora. Aquele cheiro maldito entrando pelas<br />

narinas... Aquele cheiro era enxofre! O mesmo odor fétido <strong>da</strong> noite no<br />

milharal. O mesmo monstro o perseguia! Samuel sentia o peito sufocado. A<br />

casa. Estava a uns duzentos metros <strong>da</strong> casa. Uma distância infinita para quem<br />

tem um demônio colado aos pés. Samuel não acreditava que conseguiria.<br />

Estava perdendo as forças. Havia alguma coisa maligna em seu encalço. Não<br />

era um cachorro qualquer, pois transpirava algo satânico, implacável. Medo.<br />

Medo absoluto. Era isso que Samuel respirava. Sentiu uma fisga<strong>da</strong> horren<strong>da</strong><br />

no músculo <strong>da</strong> coxa direita. Provavelmente uma distensão. A dor era<br />

agudíssima, to<strong>da</strong>via o medo superava. A casa. Estava bem mais próxima.<br />

Tangível. Samuel arriscou uma olha<strong>da</strong> para trás. Na<strong>da</strong>. Na<strong>da</strong> o perseguia.<br />

Continuou coxeando. Olhou mais uma vez. Na<strong>da</strong>. Ninguém. Nem cão, nem<br />

gato, nem mesmo um mísero coelhinho ou rato. Na<strong>da</strong>.<br />

Samuel desacelerou. Foi parando. Virou para o celeiro. Estaria enlouquecendo?<br />

Não tinha na<strong>da</strong>, nem rastro de na<strong>da</strong>. A respiração continuava<br />

entrecorta<strong>da</strong>. Ofegante. A dor na panturrilha. Era câimbra. Deu alguns passos<br />

na direção do galpão. Ouvia apenas o sibilar do vento frio cortando o<br />

milharal. A porta do celeiro balançava com a passagem brusca de ar,<br />

escancara<strong>da</strong>, como a havia deixado. O vento castigou também seu corpo,<br />

fazendo-o lembrar-se do frio. A madruga<strong>da</strong> começava a ganhar os primeiros<br />

indícios de luminosi<strong>da</strong>de. O céu ia perdendo aos poucos o manto negro <strong>da</strong><br />

noite. Samuel balançou a cabeça de um lado para o outro. Ia tomar a direção<br />

<strong>da</strong> casa quando percebeu. O par de olhos em brasas estava no milharal e vinha<br />

velozmente em sua direção. Tentou gritar, mas não houve tempo. Um cão<br />

disforme pulou, fazendo-o irão chão. A coisa rosnava enfureci<strong>da</strong>. Samuel<br />

tentou livrar-se, em vão. A fera era muito maior que um cão comum, e o hálito<br />

era pútrido, mal-cheiroso. Sentiu ânsias. Lutava para levantar-se. A fera<br />

retrocedeu a cabeça, preparando um bote. Samuel protegeu o rosto com o<br />

braço, pressentindo o ataque inevitável. O cão de pele laranja-avermelha<strong>da</strong><br />

desferiu sua primeira boca<strong>da</strong>, arrancando parte dos músculos do antebraço de<br />

Samuel. A dor foi indescritível, e o homem estourou em grito sofrido. As<br />

presas do demônio cravaram na parte baixa e externa <strong>da</strong>s costelas, arrancando<br />

parte <strong>da</strong> pele do tórax. Virou-se de costas para o cão e, com a dor lancinante<br />

consumindo-o, rastejou, tentando escapar. O cão desferiu uma pata<strong>da</strong>,<br />

rasgando suas costas. A clari<strong>da</strong>de começava a intensificar-se. O sol estava para<br />

raiar. Samuel ouviu um buzinaço. Parecia um caminhão conhecido. Não sabia<br />

se estava delirando ou se realmente era o som <strong>da</strong> buzina de um caminhão<br />

chegando. O som era insistente. O rosto estava tomado por sangue e sujo de

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