Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
Algum tempo depois, Thal decolou rapi<strong>da</strong>mente, perdendo-se na<br />
imensidão celeste. Estava decidido a consultar a Casa Celestial.<br />
Samuel levantou-se; estava com o sono agitado. Vestiu uma calça de<br />
moletom e caminhou em direção à sala. Observou que o sol não havia<br />
nascido ain<strong>da</strong>. Foi até a cozinha e conferiu o relógio: eram quatro e sete.<br />
Calçou um par de havaianas e saiu para a varan<strong>da</strong>. Inspirou o ar, ain<strong>da</strong><br />
gelado, expirou, lançando a característica fumacinha de vapor, e desceu ao pátio<br />
frontal <strong>da</strong> residência. Tudo estava silencioso. Sentiu frio ao ser chicoteado por<br />
uma raja<strong>da</strong> de vento. Os braços ficaram arrepiados. Estava entretido em<br />
pensamentos, caminhando rente ao milharal, em direção ao celeiro. Samuel e<br />
seus homens animaram-se com as chuvas. Precisaria consertar o celeiro mais<br />
que depressa. As madeiras, segundo o combinado, chegariam naquela manhã.<br />
O chão molhado produzia um som pesado a ca<strong>da</strong> passa<strong>da</strong>. Samuel empurrou<br />
a grande porta frontal do armazém, fazendo-a ranger. Silêncio. A escuridão<br />
predominava no interior do cômodo. Não lembrava que impulso o levara até<br />
ali, nem por quê. Parou bem no meio do velho galpão. As paredes de madeira<br />
encontravam-se cheias de falhas, e o silêncio absoluto só era quebrado pelo<br />
som sibilante produzido pelo vento ao encontrar as fissuras. O teto também<br />
estava repleto de buracos.<br />
Absorto com os seus botões, engendrando a melhor maneira de iniciar as<br />
reformas do velho celeiro, ouviu aquela rosnadura.<br />
Imediatamente, Samuel lembrou-se do milharal. Era o mesmo som, o<br />
mesmo grunhido amaldiçoado. Virou rapi<strong>da</strong>mente, assustado. Fixou o olhar no<br />
canto de onde acreditava vir o rosnar. Estava submerso na mais negra<br />
escuridão, numa <strong>da</strong>s extremi<strong>da</strong>des do fundo do celeiro. Convencia-se, aos<br />
poucos, de que havia tido aquela impressão. Virou em direção à porta, a uns<br />
quinze metros <strong>da</strong> saí<strong>da</strong>. Andou naquela direção até ouvir o ruído de novo,<br />
muito mais sinistro desta vez. Alto, feroz, maldoso. Samuel impregnou-se de<br />
receio. O que seria? Voltou para investigar. O episódio do milharal<br />
refrescou-se em sua mente. Não havia visto na<strong>da</strong>, apenas pressentido... uma<br />
presença ruim. Porém, agora, lá no fundo do galpão, no canto mais escuro, via<br />
um par de brasas vermelhas arder, semelhante a olhos satânicos. Um medo<br />
crescente o desorientou, e um calor subiu pela garganta. Medo. Aguçou os<br />
ouvidos. Apesar <strong>da</strong>s brasas não se movimentarem, ouvia pisa<strong>da</strong>s no feno<br />
seco que cobria todo o cômodo. Pisa<strong>da</strong>s de animal. O corpo esquentou<br />
rapi<strong>da</strong>mente. As pulsações dispararam. O que se escondia no celeiro? Decidiu<br />
não descobrir naquele momento, apenas escapar <strong>da</strong>li. Do contrário, estaria<br />
congelado pelo pânico. Ele já experimentava a respiração prolonga<strong>da</strong> e pesa<strong>da</strong>,<br />
resultado do medo que lhe consumia a mente. Ouviu um som diferente. Não<br />
era mais uma rosnadela, mas um furioso rugido, um leão ferido. O teto parecia<br />
prestes a vir abaixo, pois nuvens de poeira desprenderam-se com o grito <strong>da</strong>