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O Senhor da Chuva - Jovem Sul News

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uma grande surpresa. Como seria!<br />

Anderson já estava pondo fim à esperança de encontrar o pobre Charlie.<br />

Preparava para recolher-se ao barraco próximo à estra<strong>da</strong> de ferro. Os<br />

primeiros pingos de chuva começavam a despencar, e ele não queria uma<br />

pneumonia como a do ano anterior. Apesar do vento e dos trovões, conseguiu<br />

distinguir um ruído, quase imperceptível. Aguçou os sentidos. Havia alguém<br />

se aproximando. Não. Não era uma pessoa. O odor de enxofre inundou seu<br />

nariz.' Era algo movendo-se maldosamente sobre quatro patas. Os dálmatas se<br />

agitaram, começando a ladrar ferozmente.<br />

— Quem está aí? — perguntou o cego, <strong>da</strong>ndo passos para trás em busca<br />

de defesa.<br />

Nenhuma resposta.<br />

Anderson pressentiu um animal. É claro que ele não responderia.<br />

Os cães escaparam descontrolados e latiam enraivecidos em direção à<br />

fera, atacando-a. Sabiam que não era o velho irmão, mas algo mal,<br />

demoníaco. Lowiu foi mordido na garganta, enquanto Joe cravava os caninos<br />

nas costas do cão maligno. Porém, o velho corpo de Charlie não sentia dor e<br />

agora parecia muito maior que o de seus irmãos. Duas vezes maior e mais<br />

poderoso! Khel se instalara, e aquela peleja, para ele, era brincadeira. Sua<br />

fúria ver<strong>da</strong>deira estava reserva<strong>da</strong> para outro adversário. Em um segundo,<br />

rasgou a garganta do outro cachorro. Um pouco de treino, para se a<strong>da</strong>ptar ao<br />

corpo físico, não faria mal.<br />

Anderson se afastava <strong>da</strong>li quão rápido podia. Era algo muito grande e<br />

feroz, não era Charlie, o seu predileto. Por um instante, ouviu a briga dos cães,<br />

logo segui<strong>da</strong> de ganidos. Rápido demais. A besta levou quase um minuto para<br />

derrotá-los. Amava os cães, mas alguma coisa parecia gritar em seu ouvido<br />

para correr. Sua vi<strong>da</strong> estava em perigo. Então ouviu os ganidos de dor.<br />

Primeiro um. A chuva apertara, impiedosa. Depois outro. Então, o silêncio... o<br />

pavor. Estaria a fera satisfeita? Seria ele o próximo? Pavor. Anderson corria<br />

livre. Como se enxergasse ca<strong>da</strong> metro que avançava. Correu, velozmente. Para<br />

frente. Para frente. A chuva preenchia sua audição, infiltrando mais a ca<strong>da</strong><br />

trovão. Era como se a fera gritasse. Era como se ele gritasse. Era o mundo<br />

gritando. CORRE! Corre, cego maldito! Ele está atrás de você, pronto pra<br />

te comer vivo, fazer você sofrer! Sem ver. Sem ouvir. Sem falar. Para frente.<br />

Foge. Um ar quente no rosto. Um dente afiado no pescoço. Para frente. Com<br />

poesia. Para frente. O cego caiu no chão. Sem ver. Dentes selvagens<br />

percorrendo todo o corpo. Para frente! Não era um cão. Sem ouvir. Ele sabia.<br />

Sem falar. Ele sabia. Desesperado, sabia. Eram dois. Para frente, cego idiota.<br />

Era dor. Ou eram mais...

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