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invadir o cômodo.<br />
—Você sabia, seu bruxo! — brincou Samuel. — Como sabia que ia<br />
chover hoje?<br />
—Só sabia. Só isso. — Gregório aspirava demora<strong>da</strong>mente aquele cheiro<br />
bom de chuva. — Eu adoro chuva! Faz-me forte. Vai ser uma chuva<br />
longa. Boa pra tua plantação. Boa pra mim. Para as energias.<br />
Gregório ficou parado de frente para a janela, vestindo apenas uma<br />
calça jeans. Os calombos ain<strong>da</strong> estavam bem altos, marcando as costas e o<br />
peito.<br />
Samuel ficou junto do irmão. Jogaram alguma conversa fora, lembrando<br />
amigos e situações. Depois, começou a contar a Gregório quão duros estavam<br />
sendo aqueles dias secos e quão feliz foi a chega<strong>da</strong> <strong>da</strong> chuva. Antes,<br />
desesperado, pensara até em arren<strong>da</strong>r parte <strong>da</strong> fazen<strong>da</strong>, mas agora, com as<br />
chuvas agindo na plantação, isso definitivamente não seria preciso.<br />
—Já colhemos bastante milho, o suficiente para segurar as pontas.<br />
Como a safra estava comprometi<strong>da</strong>, vai ser fácil vender o que tem aí.<br />
Amanhã, chega a madeira encomen<strong>da</strong><strong>da</strong> para o conserto do celeiro.<br />
Vai ser uma trabalheira <strong>da</strong>na<strong>da</strong>.<br />
—Oba! Uma boa agitação deverá me fazer muito bem. — empolgou-se<br />
Gregório. — Quero aju<strong>da</strong>r.<br />
—Será bem-vindo, mano. Amanhã te apresento pra turma <strong>da</strong> li<strong>da</strong>.<br />
—Ei, meninos, estão com fominha? — perguntou Vera. — Vamos preparar<br />
um jantar caprichado!<br />
—Boa idéia. — Samuel levantou-se e acompanhou a mulher.<br />
—Se não se importam, eu vou tomar um bom banho. — avisou o gêmeo.<br />
Samuel apanhou uma toalha e arremessou-a ao irmão. Não demorou<br />
muito, e Gregório estava debaixo do chuveiro.<br />
Saindo do beco escuro, o dálmata cruzou a rua. O cão respirava<br />
descompassa<strong>da</strong>mente, entre um rosnar nervoso e outro. A feri<strong>da</strong> pútri<strong>da</strong><br />
adquirira um forte odor de enxofre, e o sangue parará de escorrer<br />
completamente. Não havia mais infecção, não havia mais dor, não havia mais<br />
vi<strong>da</strong> no velho cão. Havia apenas ódio e <strong>da</strong>nação.<br />
O cão farejou o ar. Precisava encontrá-los, seus antigos irmãos, para<br />
tornarem-se novos. Ouviu um assobiar próximo. Um som conhecido do velho<br />
ouvido, um som que despertou o velho instinto. O antigo dono chamava. E ele<br />
iria atendê-lo, não como Charlie, mas como Khel, o demônio <strong>da</strong>s trevas. Seria