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Ele avançou, abraçando fortemente o irmão. Gregório repetiu o gesto,<br />
porém, logo os dois se largaram, ca<strong>da</strong> qual reclamando e gemendo suas dores.<br />
Gregório, com os estranhos caroços, e Samuel, com as costelas dolori<strong>da</strong>s.<br />
Riram.<br />
Vera também entrou na gargalha<strong>da</strong>.<br />
Gregório e Samuel sentaram-se frente a frente, ensaiando uma conversa<br />
emociona<strong>da</strong>. Cinco minutos mais tarde, sentaram-se à mesa <strong>da</strong> cozinha para o<br />
café <strong>da</strong> tarde. Gregório vestia roupas empresta<strong>da</strong>s por Samuel. Calça blue<br />
jeans, botas de fazendeiro e camisa xadrez vermelha.<br />
—Como você veio pra cá? — perguntou Samuel.<br />
—Não sei... estou mais confuso do que vocês, podem crer. —<br />
respondeu, mexendo a xícara cheia de café com leite; leite tirado na<br />
hora. — De ver<strong>da</strong>de, estou confuso. Acho que me preparava para vir<br />
visitá-lo, mas não desta maneira, certamente. Eu estava vindo pra cá...<br />
acho que pra descansar. Eu comprei... eu ia... — Gregório enfiou a mão<br />
no cabelo, como se pudesse extrair alguma coisa <strong>da</strong> cachola. — Estranho...<br />
nem me lembro de tomar o ônibus.<br />
—Você estava bastante ferido; lembra como aconteceu? Quem fez<br />
isso? — perguntou Vera.<br />
—E, são machucados bem estranhos; você sangrou demais. —<br />
emendou Samuel.<br />
Gregório balançou a cabeça negativamente. Não se lembrava de na<strong>da</strong>.<br />
Não se lembrava de ter sido atacado ou assaltado, o que seria uma suposição<br />
normal. Também não se lembrava <strong>da</strong>quela noite terrível. De que não era um<br />
homem de hábitos normais, de ter matado o cabeludo, de ter sido atingido e<br />
morto por vários disparos, do anjo Thal despencando a seu lado. Não<br />
lembrava. Não se lembrava <strong>da</strong>quela noite.<br />
—Como, não sabe?! — perguntou Samuel espantado.<br />
—Não sei. Sei lá... E tudo tão nebuloso. Não me lembro nem <strong>da</strong> minha<br />
última refeição, pra você ter uma idéia.<br />
—Na ver<strong>da</strong>de, isso é bem estranho. Um dos meus homens te<br />
encontrou no meio do milharal. Pensou que você estivesse morto,<br />
mortinho <strong>da</strong> silva. Isso por causa do sangue. — Samuel apanhou mais<br />
café no bule. — Tônico, o filho do Celeste, o homem que te achou, o<br />
mole que chegou aqui branco que nem um osso fresco. Disse que o<br />
pai sumira no milharal no rastro de um bicho. Eu e o Dr. Jessup<br />
partimos pra lá. Tava um temporal <strong>da</strong>nado, muita chuva. Cheguei de