O Senhor da Chuva - Jovem Sul News
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—Onde? — perguntou Khel. —Onde? — indagou Ney. —Foi para Belo Verde, Foi esconder seu rabo sujo naquela cidadezinha. — Os olhos de Pablo chispavam em verdadeira cólera. — Se ele pensa que vai ficar numa boa, que pode deixar barato, está enganado. Ninguém brinca comigo se não for esperto o suficiente para manter-se escondido. —Como descobriu? — Ney perguntou, enquanto manobrava o carro, tentando alcançar a avenida. Pablo atirou o papel em seu colo. — Uma passagem de ônibus. Ney, pelo retrovisor, viu os paramédicos colocarem o corpo de Eloísa dentro da ambulância. — Ei! Morreu alguém naquele prédio! — exclamou para Pablo já saindo com o carro. Khel olhou para o veículo e gargalhou animalescamente, saltando para fora do carro. — É, eu sei. — respondeu Pablo, que gargalhou semelhante à fera, assustando Ney. Khel juntou-se aos outros dois demônios e relatou o que descobrira. — Thal está vivo! Eu posso sentir! O anjo está lá, junto do mortal, o tal Gregório. Vamos a Belo Verde agora! Vamos matar o anjo agora! — Khel rugiu e xingou. Os três demônios partiram galopantes, seguindo para o norte, seguindo para Belo Verde.
Capítulo 09 VERA ENTROU NO QUARTO trazendo uma jarra com água e colocou-a em cima do criado-mudo. Gregório estava deitado na cama de solteiro, envolto em lençóis brancos. Thal estava de pé no quarto, observando a mulher, com sua costumeira expressão serena. Parecia cansado o anjo. Ainda carregava consigo as cicatrizes da última batalha. O demônio praticamente o liquidara. Suas forças extinguiram-se antes que o socorro chegasse. Nem lembrava dele próprio ter efetuado a manobra. Era uma violação apossar-se de um humano. Fora seu instinto de sobrevivência que fizera aquilo. Só podia ser. Vera tomou a temperatura de Gregório. Estava febril desde a chegada, dois dias atrás. Chegada? Deus, o que fora aquilo? Chegada certamente não seria a palavra mais apropriada. Aparição, esta sim, parecia muito mais adequada. O anjo caminhou pelo quarto, cruzando a cama, trespassando a matéria, que para a criatura não consistia em obstáculo. Aproximou-se da janela e trespassou a parede. Thal ficou do lado de fora observando a plantação de milho. Lembrava-se dela. Era noite, era frio, era como se estivesse morto, mas lembrava-se do milharal, lembrava-se da dor e do sangue, sangue de um homem, o sangue sagrado de um mortal. Lá dentro, Vera embebia as ataduras em água morna, passando-as sobre o peito de Gregório, sobre os ferimentos. Esses machucados pareciam bem estranhos. No hospital, examinaram-no declarando ser ferimentos apenas superficiais, e, de fato, não havia nenhum dano interno, nenhuma hemorragia. Gregório ficara um dia inteiro em observação. Apesar de não ter acordado, embora todos os exames dessem resultado normal e condição hemodinâmica estável, o doutor Jessup responsabilizara-se pela remoção do homem para a casa da família. Os ferimentos, na manhã seguinte, já estavam cicatrizados, apesar de inchados. Pareciam machucados à-toa, mas então por que tanto sangue? Tônico ficara muito nervoso naquela noite, após o ocorrido. Contara a Vera que os homens da fazenda tinham levado um cara parecido com o patrão para o hospital. Estava inquieto porque acreditava que o homem estava morto, sangrando demais. Sim, os ferimentos eram bem estranhos. Vera lembrava-se vagamente de Gregório, ainda um rapazola adolescente. Desde aquela época, estava interessada no outro irmão, Samuel. Lembrava-se que Gregório vivia metido em encrencas, confusões. Por muito pouco, não havia sido encaminhado para um internato para rapazes. Samuel sempre fora o mais comportado. Não estava metido em brigas e muito menos com bebida e cigarros. Não era um bolha, isso não era. Sempre fora espirituoso, corajoso, empreendedor. Era o preferido de seu pai. Desde cedo, fora um homem de
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Capítulo 09<br />
VERA ENTROU NO QUARTO trazendo uma jarra com água e colocou-a em<br />
cima do criado-mudo. Gregório estava deitado na cama de solteiro, envolto em<br />
lençóis brancos. Thal estava de pé no quarto, observando a mulher, com sua<br />
costumeira expressão serena. Parecia cansado o anjo. Ain<strong>da</strong> carregava consigo<br />
as cicatrizes <strong>da</strong> última batalha. O demônio praticamente o liqui<strong>da</strong>ra. Suas<br />
forças extinguiram-se antes que o socorro chegasse. Nem lembrava dele<br />
próprio ter efetuado a manobra. Era uma violação apossar-se de um humano.<br />
Fora seu instinto de sobrevivência que fizera aquilo. Só podia ser.<br />
Vera tomou a temperatura de Gregório. Estava febril desde a chega<strong>da</strong>,<br />
dois dias atrás. Chega<strong>da</strong>? Deus, o que fora aquilo? Chega<strong>da</strong> certamente não<br />
seria a palavra mais apropria<strong>da</strong>. Aparição, esta sim, parecia muito mais<br />
adequa<strong>da</strong>.<br />
O anjo caminhou pelo quarto, cruzando a cama, trespassando a matéria,<br />
que para a criatura não consistia em obstáculo. Aproximou-se <strong>da</strong> janela e<br />
trespassou a parede. Thal ficou do lado de fora observando a plantação de<br />
milho. Lembrava-se dela. Era noite, era frio, era como se estivesse morto, mas<br />
lembrava-se do milharal, lembrava-se <strong>da</strong> dor e do sangue, sangue de um<br />
homem, o sangue sagrado de um mortal.<br />
Lá dentro, Vera embebia as ataduras em água morna, passando-as sobre<br />
o peito de Gregório, sobre os ferimentos. Esses machucados pareciam bem<br />
estranhos. No hospital, examinaram-no declarando ser ferimentos apenas<br />
superficiais, e, de fato, não havia nenhum <strong>da</strong>no interno, nenhuma hemorragia.<br />
Gregório ficara um dia inteiro em observação. Apesar de não ter acor<strong>da</strong>do,<br />
embora todos os exames dessem resultado normal e condição hemodinâmica<br />
estável, o doutor Jessup responsabilizara-se pela remoção do homem para a<br />
casa <strong>da</strong> família. Os ferimentos, na manhã seguinte, já estavam cicatrizados,<br />
apesar de inchados. Pareciam machucados à-toa, mas então por que tanto<br />
sangue?<br />
Tônico ficara muito nervoso naquela noite, após o ocorrido. Contara a<br />
Vera que os homens <strong>da</strong> fazen<strong>da</strong> tinham levado um cara parecido com o patrão<br />
para o hospital. Estava inquieto porque acreditava que o homem estava<br />
morto, sangrando demais. Sim, os ferimentos eram bem estranhos. Vera<br />
lembrava-se vagamente de Gregório, ain<strong>da</strong> um rapazola adolescente. Desde<br />
aquela época, estava interessa<strong>da</strong> no outro irmão, Samuel. Lembrava-se que<br />
Gregório vivia metido em encrencas, confusões. Por muito pouco, não havia<br />
sido encaminhado para um internato para rapazes. Samuel sempre fora o mais<br />
comportado. Não estava metido em brigas e muito menos com bebi<strong>da</strong> e<br />
cigarros. Não era um bolha, isso não era. Sempre fora espirituoso, corajoso,<br />
empreendedor. Era o preferido de seu pai. Desde cedo, fora um homem de