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O Senhor da Chuva - Jovem Sul News

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pulou para dentro do pomar novamente. O cão mordeu Eric no braço direito. O<br />

menininho gritava apavorado. Jeff gritava lá do outro lado <strong>da</strong> cerca. O velho<br />

gritava: — Larga, Thor! Larga! O cão mordia, mordia, mordia, selvagem.<br />

Nunca mais roubei na<strong>da</strong>. Foi uma lição muito dura para nós. Uma lição muito<br />

cara. Eric nunca mais se levantou. Nunca mais correu. Nunca mais roubou<br />

frutas do pomar. Quando conseguiram chegar ao hospital, o garotinho já<br />

estava muito mal. Morreu dois dias depois. Estava horrível... deformado,<br />

talvez tivesse sido melhor a morte. — Samuel ficou uns instantes calado.<br />

—E. E uma história e tanto. — balbuciou Vera.<br />

—Na semana seguinte ao funeral, o pai de Jeff surrou-o todos os dias.<br />

Culpou Jeff pelo que aconteceu. O velho morreu três anos mais tarde,<br />

de tanto que se embebe<strong>da</strong>va. Na adolescência, Jeff também começou a<br />

beber e a culpar a mim e a meu irmão pelo que havia acontecido.<br />

Tremen<strong>da</strong> besteira. Ninguém teve culpa naquilo.<br />

—Então, meu amor, se você já sabe disso, já aceitou, por que se sente<br />

culpado?<br />

—Sei lá. Sei que não sou culpado, mas sei que não posso bater naquele<br />

idiota... éramos amigos.<br />

—E seu irmão? O que houve com ele?<br />

Samuel tirou o chapéu e ficou brincando com ele, puxando as<br />

costuras. Balançou a cabeça, resignado.<br />

—Meu irmão... Gregório. — suspirou. — Eu sempre fui o santinho, ele<br />

sempre foi o capeta. Quando eu aprontava, estava tudo bem, mas<br />

quando ele aprontava, oh, Deus! Aposto que ele realmente acreditava ser<br />

ruim, tão estigmatizado era. Hoje, analisando, acredito que o pastor,<br />

papai, era um grande e bom implicante. Gregório era apenas um<br />

moleque, infernal, mas um moleque. Adorava traquinagens. Foi sua<br />

escolha, só isso. Eu era quieto, mais responsável, mas um garoto<br />

também. Quando papai morreu, Gregório sentiu-se sem fronteiras,<br />

sem uma cinta de couro no traseiro. Dois anos depois, fugiu de casa,<br />

ain<strong>da</strong> moleque. Não escreveu nunca, não telefonou nunca. Sumiu, Era<br />

um garoto e tanto. Despreparado. — Samuel recolocou o chapéu na<br />

cabeça. Lá na frente, na curvinha, surgiu um carro. Era o doutor.<br />

—Imagina onde seu irmão está hoje? — perguntou Vera interessa<strong>da</strong>.<br />

— Está longe. Talvez vivo, talvez morto. Quem sabe? Olhe, o doutor está<br />

chegando. — O carro vinha na estradinha, levantando um poeirão <strong>da</strong>nado.<br />

— Gregório era do tipo imprevisível. Se estiver vivo, está muito bem. Se não,<br />

já morreu faz tempo.

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