O Senhor da Chuva - Jovem Sul News

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12.04.2013 Views

Alcançou a rua. Estava desesperado. Não vacilou e partiu em direção ao prédio. Fora pego. Pego. Seria morto. Precisava chegar em casa. Precisava. Precisava da mala, das passagens. Não poderia ser pego agora! Renan dependia de sua vida. Correu ainda mais. Num relance, viu o carro sendo cuspido para a avenida, derrapando na pista molhada. Bateu em um Civic e logo endireitou-se. Estavam atrás dele, sem dúvida. Sessenta segundos para sumir e continuar vivo. Cortou caminho por uma viela que cruzava a avenida. O carro não passaria por ali. Thal perseguia o homem freneticamente. Observou o carro, semidesgovernado, atravessar a avenida. Se não tivessem visto Gregório entrar no beco, logo se perderiam, e ele estaria a salvo. Sessenta segundos para estar a salvo. No beco, as bestas se levantaram à passagem do carro. Khel, o cãodemônio, liderava um grupo de feras. Quatro cães e sete demônios alados. Logo alcançaram a avenida. Fora ele quem imbuíra o homem guarda-costas de desconfiança quando o anjo ainda não o vigiava. Tinham uma missão. Caçar e destroçar o anjo Thal. Dentro do carro, os homens consumiam-se em ódio. —Seu idiota! Como pôde ser enganado? — gritava o senhor. —Como se chama o fodido? — perguntou o guarda-costas. —Sei lá! — gritou o cabeludo. — Não conheço traficantes pelo nome. —Gregório. — falou o velho — O nome dele é Gregório. —Vire à esquerda no farol. Ele mora dois quarteirões para cima. Sei onde aquele fodido mora. Já fui lá cobrar dívidas de um outro semvergonha. — O guarda-costas engatilhou a pistola. — Detesto gente safada. Esse aí vai implorar antes de morrer. O carro cantou pneus ao fazer a curva. Gregório chegou à esquina de seu quarteirão. Apavorado. Era assim que estava se sentindo. Já havia passado por situações piores, mas nunca ficara apavorado. Tétrico. Algo estava dando errado. Primeiro, a sensação de que tudo sairia bem... Depois, o negócio no beco... como se soprassem ao seu ouvido. Um pressentimento que sabia não ser seu. Algo estava dando errado. Por que estava correndo para casa? Porque os homens não o conheciam. Não o encontrariam em seu refúgio. As malas... precisava das malas. Thal estava em cima do prédio azul. Avistou o carro entrando na rua em alta velocidade. Gregório acabara de subir. Talvez o carro passasse direto pelo

prédio. E, eles não deveriam saber onde ele morava. Recuperara sua calma aparente. Sobrevoou a avenida parando em cima do prédio. Se os homens parassem, iria socorrer Gregório. Expectativa. Pararam numa freada brusca. Tinha que socorrer. O homem não podia morrer, pois dele dependia a vida de outro rapaz... outra alma que seria perdida sem chance de iluminação. Thal virou-se decidido para o prédio, porém, inesperadamente, foi golpeado no rosto. Um demônio alado o acertara com força concentrada, ferindo sua face. O anjo caiu alguns metros, mas logo recuperou o equilíbrio, restabelecendo-se da surpresa, abordado por novas criaturas. No topo do prédio, avistou Khel, de cujas ventas emanava enxofre, exalando ódio no ar. Entendeu a razão do ataque. O líder maligno queria reparação. Sentia-se afrontado com o ocorrido no apartamento do traficante. Thal retesou os músculos e bufou. Que viessem as feras! Gregório entrou no apartamento às pressas. Era meia-noite e meia. Tinha o dinheiro, mas tinha medo. Precisava fugir. Estava tomado por uma sensação mista de aflição sufocante e de urgência. Aflição. Aflição! Precisava pensar. Porra! Era um homem, não um moleque. Por que estava tão perturbado? Estar perto de morrer faz isso com a gente. Correu ao quarto. Apanhou duas malas. Levou-as para a sala. Pegou a valise e esvaziou-a na cama. Encheu os bolsos da jaqueta com algum dinheiro. Derramou o restante dentro de uma das malas. Dirigiu-se para a sala. Estava com pressa; procurava as passagens compradas há pouco para Belo Verde. Colocara ali, na sala, mas estava nervoso demais para lembrar-se onde. Thal desembainhou a espada ardente, lutando sem medo contra as feras. Um demônio atacou-o por cima, mas foi logo partido pela espada do anjo. Thal atravessou a nuvem de enxofre formada pela morte da fera, deparando-se com outro oponente. Eles o impeliam para o topo do prédio. Golpes fortes, bem medidos, vinham de todos os lados. Precisou evocar sua habilidade de guerreiro, sintonizando-se com a contenda. A espada era seu escudo e sua lança. Os inimigos estavam com medo, mas obedeciam à estratégia; com golpes certeiros, estavam empurrando o guerreiro de luz para o alcance de Khel, o cão. O novo inimigo alado também possuía uma espada, sabia manejá-la bem, retardando Thal. As espadas retiniram no ar, lançando chamas no céu negro, roubando momentaneamente a escuridão. Um outro demônio veio e abocanhou seu calcanhar, puxando-o para baixo, ferindo-o doloridamente. Thal arrancou-lhe a mandíbula, rechaçando o oponente num golpe só. Na primeira distração do rival armado, feriu-o e partiu-o em metades mortas. Sobravam ainda quatro demônios alados, lutando com ódio e maldição, levando-o cada vez mais para perto do topo do prédio. Cada vez mais para perto de Khel. As bestas aladas arranhavam sua pele sagrada, provocando cortes ardidos. Thal não percebia a dor agora, no calor da batalha.

Alcançou a rua. Estava desesperado. Não vacilou e partiu em direção ao prédio.<br />

Fora pego. Pego. Seria morto. Precisava chegar em casa. Precisava. Precisava <strong>da</strong><br />

mala, <strong>da</strong>s passagens. Não poderia ser pego agora! Renan dependia de sua vi<strong>da</strong>.<br />

Correu ain<strong>da</strong> mais. Num relance, viu o carro sendo cuspido para a aveni<strong>da</strong>,<br />

derrapando na pista molha<strong>da</strong>. Bateu em um Civic e logo endireitou-se. Estavam<br />

atrás dele, sem dúvi<strong>da</strong>. Sessenta segundos para sumir e continuar vivo. Cortou<br />

caminho por uma viela que cruzava a aveni<strong>da</strong>. O carro não passaria por ali.<br />

Thal perseguia o homem freneticamente. Observou o carro, semidesgovernado,<br />

atravessar a aveni<strong>da</strong>. Se não tivessem visto Gregório entrar no<br />

beco, logo se perderiam, e ele estaria a salvo. Sessenta segundos para estar a<br />

salvo.<br />

No beco, as bestas se levantaram à passagem do carro. Khel, o cãodemônio,<br />

liderava um grupo de feras. Quatro cães e sete demônios alados.<br />

Logo alcançaram a aveni<strong>da</strong>. Fora ele quem imbuíra o homem guar<strong>da</strong>-costas de<br />

desconfiança quando o anjo ain<strong>da</strong> não o vigiava. Tinham uma missão. Caçar e<br />

destroçar o anjo Thal.<br />

Dentro do carro, os homens consumiam-se em ódio.<br />

—Seu idiota! Como pôde ser enganado? — gritava o senhor.<br />

—Como se chama o fodido? — perguntou o guar<strong>da</strong>-costas.<br />

—Sei lá! — gritou o cabeludo. — Não conheço traficantes pelo nome.<br />

—Gregório. — falou o velho — O nome dele é Gregório.<br />

—Vire à esquer<strong>da</strong> no farol. Ele mora dois quarteirões para cima. Sei<br />

onde aquele fodido mora. Já fui lá cobrar dívi<strong>da</strong>s de um outro semvergonha.<br />

— O guar<strong>da</strong>-costas engatilhou a pistola. — Detesto gente<br />

safa<strong>da</strong>. Esse aí vai implorar antes de morrer.<br />

O carro cantou pneus ao fazer a curva.<br />

Gregório chegou à esquina de seu quarteirão. Apavorado. Era assim que<br />

estava se sentindo. Já havia passado por situações piores, mas nunca ficara<br />

apavorado. Tétrico. Algo estava <strong>da</strong>ndo errado. Primeiro, a sensação de que tudo<br />

sairia bem... Depois, o negócio no beco... como se soprassem ao seu ouvido.<br />

Um pressentimento que sabia não ser seu. Algo estava <strong>da</strong>ndo errado. Por que<br />

estava correndo para casa? Porque os homens não o conheciam. Não o<br />

encontrariam em seu refúgio. As malas... precisava <strong>da</strong>s malas.<br />

Thal estava em cima do prédio azul. Avistou o carro entrando na rua em<br />

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