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O Senhor da Chuva - Jovem Sul News

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também. Os caras puseram sebo nas canelas, mas pode pintar algum<br />

problema. Tem um cabeludo caído no chão. Gregório o acertou.<br />

Dê uma examina<strong>da</strong> no cara, se ele ain<strong>da</strong> estiver vivo... descarregue<br />

minha arma no peito dele. Eu me viro depois. — deu parti<strong>da</strong> e correu<br />

em direção ao Municipal.<br />

Vera apoiou a cabeça do cunhado sob sua blusa. Ele continuava vivo,<br />

sem expressar sofrimento ou dor. Lutava para sair <strong>da</strong>quele galpão com vi<strong>da</strong>. A<br />

chuva caía em seu peito ensangüentado, forrando o chão de vermelho, que se<br />

misturava com a água. Jessup voltou, tirou o blu-são de náilon a fim de aquecer<br />

e enxugar Gregório.<br />

— Não! — gritou o homem. — Deixem a chuva... deixem me molhar.<br />

Enquanto chover, estarei viga... vivo. — rogou Gregório, apontando para o<br />

buraco aberto pelo anjo.<br />

Mais de vinte minutos se passaram até que a ambulância chegasse ao<br />

local. Primeiro, ouviram a sirene cortante se aproximando. Depois, os faróis<br />

do veículo iluminaram o ambiente, além <strong>da</strong>s cores alternantes do giroflex.<br />

Os paramédicos trouxeram lanternas, uma maleta e também um. maca.<br />

Puseram Gregório na maca e cobriram, afastando-o <strong>da</strong> chuva. Ele tentava<br />

gritar, protestando, mas estava fraco demais para reagir. Não tinha sangue<br />

suficiente para sustentar a vi<strong>da</strong>. As imagens já estavam bastante confusas. Via<br />

pessoas ausentes, ouvia vozes de bocas que não falavam. Espetaram seu corpo,<br />

enfiaram um tubo na boca, passando pela garganta. Recebia oxigênio. Ele sabia<br />

que não voltaria mais para à fazen<strong>da</strong>. Sabia que nunca iria para a Jamaica ou<br />

para o Egito. O corpo estava morto. O coração não batia. A boca não emitiria<br />

nunca mais nem um pio. Não estaria mais com o irmão. O médico <strong>da</strong> UTI móvel<br />

descobriu o peito. Frio. Muito frio. Secaram a água <strong>da</strong> chuva. Apesar do tubo<br />

enfiado em sua traquéia, o ar faltava. Prendiam coisas no peito. A mão enluva<strong>da</strong><br />

espalhava uma espécie de gel.<br />

— Afastem-se. — advertiu o médico, esfregando entre as mãos duas<br />

placas pretas. — Vou aplicar choque.<br />

Empunhou as placas e encostou-as no peito do rapaz. Um disparo, e a<br />

corrente elétrica passou.<br />

Gregório sentiu o corpo pular e a energia percorrer os nervos. Viu a face<br />

do anjo bailando em sua mente... se fosse possível, sorriria. Orou. Orou para<br />

que Thal saísse vitorioso <strong>da</strong> batalha. Naquele instante, um fino facho de luz<br />

desprendeu-se do peito e subiu ao céu em sintonia com as orações humanas. O<br />

fio solitário desapareceu nas nuvens. Gregório, à beira <strong>da</strong> morte, desejava<br />

aju<strong>da</strong>r o anjo guerreiro.

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