O Senhor da Chuva - Jovem Sul News

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12.04.2013 Views

A trombeta soou por todo o campo: um lamento para alguns, uni grito de vitória para outros. O canto do instrumento levava a mensagem "um anjo morreu, um anjo morreu" para todos os ouvidos sobrenaturais do planeta. Vuhtiel estava na Casa Celestial, de onde assistia à terrível batalha que seus irmãos travavam na cidadezinha. Da Casa Celestial, a sete mil metros acima de Belo Verde, podia sentir o calor da batalha queimando-lhe a face. Pelo que observava, logo tudo estaria terminado. Os demônios tinham coberto o reduzido grupo de irmãos de luz. Desde o início, percebera que aquela era uma luta perdida. Ele e seu exército de mil e seiscentos homens chegaram a se emocionar com o excelente desempenho dos anjos de luz, entretanto, quando o mar escarlate deixou seu posto, atacando de uma só vez, as expectativas de um bom desfecho caíram a zero. Restavam mais de sessenta demônios para cada guerreiro de luz. Aguardavam o fim certo com calma, afinal, o desfecho era previsível. Quando o apelo triste tocou seus corações, suas almas se agitaram. Uma trombeta soava no meio do campo clamando por ajuda que nunca chegaria. Clamava por socorro, noticiando a morte de um irmão de luz. Vuhtiel estava amargurado com a decisão. Ouviria a trombeta soar nos ouvidos por toda sua existência quase infinita. Depois de ter recusado a juntarse ao guerreiro Thal, nunca mais poderia voltar... quebraria as regras da batalha e as conseqüências poderiam ser mais terríveis ainda. Vuhtiel baixou a cabeça em pesar; podia ver lágrimas descendo pelo rosto de alguns de seus guerreiros. Isso emocionava-o ainda mais... eram bravos, por que choravam? Foram construídos para lutar e morrer. Por que choravam? Meia-noite e quinze. Dois helicópteros da FAB pousaram no posto-radar dezoito, extremo-oeste do estado de São Paulo. Vários oficiais da Força Aérea desceram e correram para o abrigo mais próximo do precário hangar. A chuva persistia, teimosa. Foram conduzidos para dentro, tornando a sala de radar apertada e desconfortável. O responsável pelo plantão, tenente Celso da Costa, parecia excitadíssirno. Não parava de falar à pequena platéia de oficiais. Com muito custo, voltou ao início, colocando a par da situação os vinte recém-chegados, incluindo o brigadeiro Jair Mendonça. —Por volta das 22 e 30, os instrumentos detectaram "alguma" coisa "realmente" fora dos parâmetros habituais. Fiz e refiz toda a checagem de segurança pelo menos cento e vinte vezes, e eu não estou brincando, só para ter certeza da leitura. Acima de nossas cabeças, o chão brasileiro, há uma "massa" de sessenta metros de largura por duzentos metros de comprimento... e, não sei explicar... essa medida

não é fixa, tem hora que parece maior. —Massa? — perguntou o sargento Lacerda. —Sim. — Celso, agitado como criança, puxou um painel móvel para o centro da pequena convenção. — Vejam estas seis projeções feitas pelo computador. A "coisa" não tem uma forma estável, ela imita os pequenos, veja, mais parece uma nuvem, sei lá. —Pequenos? Celso ligou um monitor de teto e, em poucos segundos, a tela de um dos radares foi reproduzida no monitor de 15 polegadas. Centenas de pontinhos dançarinos divertiam-se na abrangência do aparelho. — Que diabos são essas coisas, tenente? Celso recostou-se e coçou a cabeça, nervoso. —Eu não sei. Apareceram por volta da meia-noite, como assombração. Assombrações é o que não faltou aqui esta noite, senhor. —Onde estão? —Pelos meus cálculos, a cento e vinte quilômetros daqui. Não estão exatamente no céu, vejam. São minúsculos, comparados à mãe. Movem-se muito rápido, voando. Ora tomam forma de esferas, ora são elípticos, com dois, três metros de altura e um metro de largura, às vezes dois. Estão limitados a este perímetro. Pelas coordenadas, aí fica a cidade de Belo Verde. O computador confirmou. —São perigosos? —Não sei; não saíram dali. —Precisamos de um reconhecimento imediato. — advertiu o brigadeiro. —Eu sei. Já preparei tudo. Aguardava os senhores apenas para que autorizassem a operação. Temos três aeronaves Tucano prontas para decolar com equipamento de fotografia, infra e tudo o necessário para registrar e provar que esses negócios estão lá de fato. — informou o tenente Celso. — Quero as naves preparadas para logo pesado, não só olheiros. Pode ser confusão, tenente. Celso aquiesceu. O superior, agora no comando, liberava os pilotos para o vôo através do rádio da sala. Em menos de cinco minutos, os Tucanos estariam no ar rumo a Belo Verde. Celso dirigia-se para o hangar, mas o brigadeiro o deteve.

A trombeta soou por todo o campo: um lamento para alguns, uni grito<br />

de vitória para outros. O canto do instrumento levava a mensagem "um anjo<br />

morreu, um anjo morreu" para todos os ouvidos sobrenaturais do planeta.<br />

Vuhtiel estava na Casa Celestial, de onde assistia à terrível batalha que<br />

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de Belo Verde, podia sentir o calor <strong>da</strong> batalha queimando-lhe a face. Pelo que<br />

observava, logo tudo estaria terminado. Os demônios tinham coberto o<br />

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mar escarlate deixou seu posto, atacando de uma só vez, as expectativas de um<br />

bom desfecho caíram a zero. Restavam mais de sessenta demônios para ca<strong>da</strong><br />

guerreiro de luz.<br />

Aguar<strong>da</strong>vam o fim certo com calma, afinal, o desfecho era previsível.<br />

Quando o apelo triste tocou seus corações, suas almas se agitaram. Uma<br />

trombeta soava no meio do campo clamando por aju<strong>da</strong> que nunca chegaria.<br />

Clamava por socorro, noticiando a morte de um irmão de luz.<br />

Vuhtiel estava amargurado com a decisão. Ouviria a trombeta soar nos<br />

ouvidos por to<strong>da</strong> sua existência quase infinita. Depois de ter recusado a juntarse<br />

ao guerreiro Thal, nunca mais poderia voltar... quebraria as regras <strong>da</strong> batalha<br />

e as conseqüências poderiam ser mais terríveis ain<strong>da</strong>. Vuhtiel baixou a cabeça<br />

em pesar; podia ver lágrimas descendo pelo rosto de alguns de seus<br />

guerreiros. Isso emocionava-o ain<strong>da</strong> mais... eram bravos, por que choravam?<br />

Foram construídos para lutar e morrer. Por que choravam?<br />

Meia-noite e quinze.<br />

Dois helicópteros <strong>da</strong> FAB pousaram no posto-ra<strong>da</strong>r dezoito, extremo-oeste<br />

do estado de São Paulo. Vários oficiais <strong>da</strong> Força Aérea desceram e correram<br />

para o abrigo mais próximo do precário hangar. A chuva persistia,<br />

teimosa. Foram conduzidos para dentro, tornando a sala de ra<strong>da</strong>r aperta<strong>da</strong> e<br />

desconfortável. O responsável pelo plantão, tenente Celso <strong>da</strong> Costa, parecia<br />

excitadíssirno. Não parava de falar à pequena platéia de oficiais. Com muito<br />

custo, voltou ao início, colocando a par <strong>da</strong> situação os vinte recém-chegados,<br />

incluindo o brigadeiro Jair Mendonça.<br />

—Por volta <strong>da</strong>s 22 e 30, os instrumentos detectaram "alguma"<br />

coisa "realmente" fora dos parâmetros habituais. Fiz e refiz to<strong>da</strong> a checagem<br />

de segurança pelo menos cento e vinte vezes, e eu não estou<br />

brincando, só para ter certeza <strong>da</strong> leitura. Acima de nossas cabeças, o<br />

chão brasileiro, há uma "massa" de sessenta metros de largura por<br />

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